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Elio Fazzalari ant la Unversidae de Ro “La Sepia INSTITUIGOES DE DIREITO PROCESSUAL Tradugao da 8* edigao por Elaine Nassif sradora do Trabalho ¢ Pofestora Unvesai, baat GMs Doar Dot Proctsual pla PLC/MG (ahr La Sapienza Rom 1 edigao 2006 BOOKSELLER Caninas ~ SP. Capitulo II Estrutura do Processo Sumédrio: § 1. “Procedimento” e “processo": dois fe- némenos e duas nogées - § 2. O “procedimento” como seqiiéncia de normas, de atos, de posigdes sub- jetivas ~ § 3. Identificacao e reconhecimento dos pro- cedimentos - § 4. Distinggo entre procedimentos — §5. O “processo” ~ § 6. Os contraditores ~ § 7. Ob- jeto do contraditério ~ § 8. Identificagéo dos proces- 505 ~ § 9. Os “atos processus” § L. “Procedimento” e “proceso”: dois fendmenos, duas nogdes Ja tratamos'** das “conexées” entre normas e indicamos o tipo de conexao que existe entre o “procedimento” e o “processo” Precisamos agora aprofundar o discurso. A histéria dos dois fendmenos “procedimento” e “proceso” se descortina, como acontece geralmente, a partir da historia dos dois conceitos, no sentido de que eles ~ os dois nomes e os dois significados ~ surgiram muito recentemente em relagao imemoravel experiencia dos fatos""” (seqiiéncia de normas e de ates que sem 146. V. retro, cap. I, § 10. 147. Mena, Allgemeines Vermwaltungsrecht, Wien u, Berlin, 1927, 213 ss. Saxputu, I! procedimento amministrativo, op. cit, 7; Cannewurn, Teoria generale del diritto, Roma, 1951, 357; Scrama, Compiti e limiti di uma teoria generale dei procedimenti, in Riv. trim. dir proc. clv., op. cit. 762 ss. Borro.orn, Attivté preparatoria e funzione emministrativa, Contributo allo studio del procedimento nel diritto pubblico, Milano, 1984. Interes- sante também a consulta a Kasex M., "Controversiam movere”, in “Studi in onore di C. Sanfilippo”, ct. ll, Milano, 1982, 215 ss.; Bum, II “praetor” € le formalité introduttive del processo formulare, Napoli, 1984; Cannara Violenea fittizia e violenca reale nelle strutture primigente del processo rivoto romano, in “Studi in onore di C. Sanfilippo", cit., IV, 151 ss., e 10 Elio Fezealari pre cxistiram; a realidade que nés hoje concebemos como “proce- dimento” e como “processo”, sempre aconteceu) e no sentido de que a concepgéo e © emprego dos dois esquemas e dos dois termos esto muito atrasados. Por outro lado, a elaboragao teérica foi fruto da necessidade de clareza que os estudiosos procuram, mas também fruto das ex- Plicitas sugestées da normatizacao positiva. Ainda que a atual noc3o de procedimento nao esteja por certo limitada ao ambito da ativida: de administrativa, é neste ultimo que emergiu historicamente a sua disciplina: pensa-se, especialmente, na area latino-germanica, em que ocorrem manifestagées tais como a do Staatsrecht e a da Verwaltungsvereinfachungsgesetz austriaca (1925), que sob a es- colta da lei constitutiva do supremo tribunal administrativo, de 1875, © da obra de Tezner,"* dita regras uniformes sobre procedimento ¢clininistrativo (entretanto, a primeira lei geral sobre processo admi- nistrativo é aquela espanhola de 1889); pensa-se ainda no andlogo requlamento tchecoslovaco (1928), no regulamento polonés sobre proceso administrative (1928), na recepeao da disciplina austriaca por parte do reino da lugoslévia (1930) e, na area de common law i ressaltamos“” — a0 administrative procedure act (1947), re lntivo as Independent Regulatory Commissions dos Estados Uni- dlos (a primeira das quais de 1887, sendo que o seu incremento data do tempo do New Deal roosveltiano), implantado no principio cons- titucional do due process of law; bem como nela fair and proper procedure derivante, na Inglaterra das rule of law." Scamata Fazio, Sul passaggio dalla magistratura unica a quella collegiae. ibidem, Il, 539 ss. Para um excursus histérico sobre “processo” na era moderna v. Picanut, Processo civile (ditto mederno), in "Ene. del dir, XXXV, Milano, sd, ma 1986, 101 ss. 118 Trznen, Das Ostereichische Administratierfahren, Dargerstellt auf Grund der verwattungsgerichtlichen Praxis, op. eit. Sobre a experignca ausriaca Sevan, Compit limiti di una teoria generale dei procedimeni cit, 762 ss 19. V. retro, cap. 1, § 3 150. V Lo procedura amministrativa, org. de Pastori G., op. cit; e acenos in Covrucliss, The structure of procedure, New York, 1979. V. apontamentos em Visor, Due process of kaw, in Dig. tt. 4° ed priv. sez civ., VI, Torino, sd, ma LOT, 228 956 in Dasani Th Process of Law, London, 1980 Instituigbes de Diteito Processual mn Justamente da fonte austriaca, e das fontes dela derivadas, surgiu o jé mencionado Parteiengehdr (entendido como principio da “audie’o” do cidadao interessado) e/ou até mesme o contradi tério dos destinatarios do provimento, perfis que assinalam o iter histérico da passagem do mero procedimento ao processo, ainda que esta iiltima figura tenha sido identificada e denominada “pro cesso” s6 recentemente. A propésito, 0 pensamento uridico per- correu um caminho aparentemente estranho, mas historicamente explicavel. Os processualistas t@m sempre dificuldade, por causa da imponéncia do fendmeno (a trave no proprio olho...), de definir © “processo” (esquema da disciplina de sua competéncia) e perma- neceram ligados, ainda durante alguns decénios do século passado, ao velho e inadequado cliché pandetistico da “relacdo juridica processual”.'5! E quando, finalmente, mudaram o conceito de “procedimento”, oferecido pelos juspublicistas, nao colheram nem aprofundaram, no seu ambito, um conceito completo de “proces- so”. Da sua parte, os administrativistas elaboraram a disciplina 151. A teoria da “relagao juriica processual”, que remonta a Botow, Die Lehre von den Prozesseireden und die Prozesseinreden und di Frozessvoraus setzungen, op. ch, constituiu, por muitas décadas, o esquema em torno do qual se organizou o fendmeno "processo”. Exemplar resta, a propésito, {2 seconstrunio de Cwiovewoa, Principit di diritto processuale civile. op cit, 89 ss, Para uma anise das causas que tém sucessivamente levado ao abancono de tal nogéo ef. Peanol, La sucessione processuale, op. at., 25 58. V. retro, cap. I, §§ 3 ¢ 4. V. também a segunda parte, cap. V, § 6. 152. Fazzatani, Diffusione del processo e compiti della dottrine, cit; Id, Pro cesso (teoria generale), cit, 1068 ss Como dito, Carseuurn, Instituzioni, ete. cit. 1, 262, nio dstingue entre procedimento e processo, ve neste iltimo uma mera sucesso de proce ddimentos; imputa (Sistema del diritto processuale civile, cit, , 44) 0 termo “processo" s operacées destinadas & composi¢ao da lide. Licunan, Manuale di diritto processuale ciuile, I, Milano, 1980, 204 ss. dé ainda destaque 8 “relacio processual”. No assunto, também Renexn, Diritte processuale civile, organizado por T. Carnacini e M. Vellani, |, Milano, 1980, 100 ss. TTentativas de tornar coerente a idéia de processo como fenémeno em si ‘mesmo sao devidas a Bewenun, Funzione amministrativa, procedimento, proceso, in “Riv. Trim. Dir. Pubbl.”, 1952, 118 ss.: a Conso, I fatti giuridiei processuali penali, Milano, 1955, 137 ssa De Cure, La qiusticia del diritto civile fuori del processo e altraverso il processo, in "Giust Ciw.", 1983, 1, 370, ainda, a Benvaren, Semantica di funzione. studi in onore dif, Galateria, Rarity, 1978, 153358 2 Elio Fazzatari © © conceito de “procedimento" partindo exatamente do modelo das atividades de justiga, como um arquétipo dbvio, sem, porém, chegarem @ constatacao de que tal modelo nao é exclusive da justica, mas sim um esquema de teoria geral,'®" utilizavel e utiliza- do além da jurisdicao em qualquer setor do ordenamento, como também, justamente, naquele da administracao piiblica Por isso até ontem, e talvez ainda hoje, a caracteristica pro- pria do processo ~ 0 contraditério™* — nao foi tomada por todos 0s processualistas e juspublicistas, e 0 processo foi absolvido na genética fisionomia do procedimento. Somente ontem 0 processo recebeu um significado préprio (significado distinto, mas nao sepa- rado da nogo de procedimento: somente um passo mais adian- te) e se revelou em toda a sua potencialidade de emprego. Na Italia, um concreto reflexo da definicao de “processo” a que se chegou pode ser extraido de uma recente disciplina positiva: a da formacao dos provimeritos administrativos (Lei n® 241, de 7 agosto 1990"), Ali ficou estabelecida, como regra geral, a participacao dos 153, SanouLu A.M., If procedimento amministrativo, op. cit; Id., Procedimento ‘amministrativo, in “Ness. D.I.", XI, 1966, 1022 ss. Id, Manuale di dirito ‘amministrativo, Napoli, 1984, 322 ss; Gani M.S.. Lezioni di ditto amministrativo, I, Milano, 1970, 813 ss. Bern, La struttura procedimentale della pubblica amministrazione, in “Dir. Soc.”, 1980, 437 ss.. Nicto, Decistone amministrativa, in “Enc. del dirtto", Xl, Milano, sd., ma 1962, 880 ss. 1d, Procedimento amministrativa e tutela giuridizionale contro la Publica amministrazione, in “Riv. Dir. Proc.", 1980, 252 ss 151A tespeito v. Fazza.ant, Diffusione del proceso e compiti della dottrina, cit, Id., Appunti di teoria generale del processo, cit; Id, Introduzione alla giurisprudenza, cit., 89 ss. 155. Infra, §§ 5, 6, 7 156, Fazzatam, Diffusioni del processo, etc, cit; Id., Procedimento e processo (teoria gen.}, in Enc. del dir, XXXVIL, Milano, s.d., ma 1987, 821 ss. Um esumo do pensamento do autor sobre nogéo de processo, a seu tempo por cle enucleada, e sobre principios do mesmo, esté in Valort permanenti del rocesso, in Riv. dir proc., 1989, 1 ss; @ no mais recente La dottrina rocessualistica italiana: dal’azione al processo (1865-1994), in Riv. dir Proc., 1994, 911 ss. 197 Sobte a qual, para primeiras informagées, v. Pattont Gruen, Un eontributo ila trasparenza dell azione amministrativa: partecipazione procedimentale * agli att fleage 7 agosto 1990, n° 241) in Dir pow -amm 199: Instituides de Direito Processual 3 interessados no procedimento administrativo, 0 que @ mais do que a mencionada “Parteiengehdr” que se delineia como um embriona rio contradit6rio, colocando-se assim na area do proceso § 2. O “procedimento” como seqtiéncia de normes, de atos, de posigdes subjetivas Detenhamo-nos inicialmente sobre a estrutura procedimental. Como ressaltado, cada norma que concorre para constituir a se- giiéncia chamada “procedimento” descreve - a exemplo de qual- quer norma e do seu modo de apresentar-se na experiéncia huma- na — uma certa conduta (por exemplo, a que consiste em mover uma aco na administracéo piiblica, ou a que consiste na emana- ao do provimento por parte da mesma) e a qualifica como “ inter ional sobre °F modelli stoic della procedina continentale”, Pestisua 0 imarco-2 abril, 1989. 1, Napa, 1995.27) 120 Elio Fazzalari lo ato deva prestar contas dos resultados. Veja-se, por exemplo, a fase que precede uma sentenca civil de condenacao e na qual se recolhem os elementos com base nos quais o juiz devera emanar tal sentenca ou ndo: dela participam os destinados a serem beneficiérios da condenagéo € os que sao destinados a submeter-se a cla, em contraditério entre eles, isto @, desenvolvendo simétricas atividades entre eles, destinadas a fornecer ao juiz ~ que no poderé abster- ~ elementos a favor e contrérios aquela emanacdo. Existe, em resumo, 0 “processo”, quando em uma ou mais fases do iter de formagao de um ato é contemplada a patticipagao no s6 - e obviamente ~ do seu autor, mas também dos destina- tarios dos seus efeitos, em contraditério, de modo que eles possam_ desenvolver atividades que o autor do ato deve determinar, e cujos resultados ele pode desatender, mas nao ignorar."®” A referencia a estrutura dialética como a ratio distinguendi permite superar anteriores tentativas de definir 0 “proceso”, como aquele conceito segundo o qual existe processo onde exista, em ato ou em poténcia, um conflito de interesses,"® e aquele segundo ‘© qual existe processo toda vez que participe da formacao do ato lum sujeito portador de um interesse distinto daquele interesse do autor do ato! nos quais os interesses e as suas possiveis combi: nagdes sao dados metaj icos. O conflito de interesses (ou o modo de valorar um interesse) poder constituir a razo pela qual a norma faz com que se desenvolva uma atividade mediante pro- ess0,"” mas no maximo se pode falar de processo enquanto se 107. Fazzatam, Procedimento e processo (teria generale}, op. cit. LOR Cannewurn, Istituzioni, cit, 1, 17. V. Supra, nota n® 7. 169 Buwenun, Funzione amministrativa, procedimento, processo, cit.. 157 ss, Também Guiccanoy, II contraddittorio nel ricorso gerachico, in “Foro 41°, 1943, Ill, 181, aplica um parametro teleologico para distinguir a posigao da parte que age no processo jurisdicional daquela do sujeito que © chamado a participar do procedimento administrative: a presenga do primeiro seria voltada para a protecao de pretenses préprias, enquanto a lo sequndo vila provocada somente para o melhor desenvolvimento da ativilade adininistativa, 170 A consideragio de “processo” como mecanist ranflitos (eno 56 daqueles jicnios) & bern cok rontrole social dos Institugées de Direito Processual 121 constatem ex positivo iure, a estrutura e o desenvolvimento dialético acima ilustrado. Na auséncia de tal estrutura, é vao indagar acerca de um atual ou eventual conflito de interesses: onde é ausente 0 contraditério ~ isto é, onde inexista a possibilidade, prevista pela norma, de que ele se realize ~ nao existe processo. O mesmo se pode dizer sobre a variedade de intevesses que no geram conflito: a sua contemplacdo, além de prescindir do esquema dialético disposto pela norma, constitui um exercicio irrelevante para definicao do processo. Por outro lado, se a ilacao, segundo a qual existe processo na constancia de interesses distin~ tos, fosse traduzida para os termos teleolégicos nos quais ¢ expres- sa em termos de estrutura, de modo a admit, portanto, que existe Processo quando existe a simples participacao de mais interessa dos, ela ficaria um pequeno grau abaixo, j4 que aquela participacdo = como se tentou ilustrar - @ um elemento necessétio, mas nao suficiente para a caracterizagao do processo."”" § 6. Os contraditores E necessério, portanto, para identificar 0 proceso, que haja uma séria de normas (e atos, e posigdes juridicas)"”" que se repor- tem aos destinatarios dos efeitos do provimento, realizando entre eles um contraditério paritario. As normas, os atos ¢ as posigdes sao enderecados a cada um dos participantes do processo que nao constituem procedimento logica, por Lunn, Legitimation durch Verfahren, Berlin, 1959, 38 ss. Para consideragées de ordem geral v. CaPpeiiemn, Spunti in tema di contraddittorio, in “Studi in memoria di S. Satta", Milano, 1982, 1, 211 ss.; Gormwatn, Die Bewaltigung Konflikte im gerichtlichen Verfahren, in “Zeitschrift fur Zivilprozeb", 1982, 245 ss; Marnm, Théorie géneral du procés, Semur em Auzois, 1985; AA. VV., L'évolution du droit judiciaire, Paris, 1987; e Duwarco, Teoria geral do processo, So Paulc, 1986: e quanto as relagdes de direito piblico internacional, VawoeRsanben. Contentieux communautoire, Bruxelles, 1977, 171, Frzauaw, Procedimento e proceso (leoria generale), cit: Kd, Processo fteoria generate}, eit: ld 172, Retro, § 2 alori permanenti del processo, cit lee lio Fazzalart em si, ainda que ligados aos outros (isto é, aos dirigidos aos outros sujeitos); s80, pois, partes de uma Gnica estrutura, e € certo que se costuma caracterizar a série que diz respeito a cada um dos suleitos (por exemplo, a série em que consiste a ago da parte em juizo, ou mesmo a série que constitui “fungao” do juiz'”), 0 que acontece por comodidade, ou como se queira, por exigéncia de sintese, no sem a adverténcia de que se trata de séries descontinuas, porque intercaladas por esta ou aquela tranca das outras séries. E dbvio, ¢ talvez supérfluo, ressaltar que os “interessados”, isto @, os destinatarios dos efeitos do ato final, portanto os contra- ditores, so individuados em via hipotética, isto é, estimando a sua posigao, no inicio do processo, com base na hipétese de que, ao final, aquele ato seja emanado e os envolva: no final, pois, © ato ‘a que © processo visa sera criado ou nao, os envolveré ou nao, segundo 0 que ~ pelo desenvolvimento do processo ~ sero ou nao serao emersos os necessérios pressupostos, A participagao dos sujeitos no proceso, enquanto provaveis dlestinatarios da eficdcia do ato emanando, constitui, como se vera,” 9 sua “legitimago para agir’. Onde e quando, ao invés, aquela probabilidade nao aconteca ~ constata-se num processo conereto, em que os participantes no so, nem mesmo hipoteticamente, destinatarios do provimento final ~, sobre tal constatagao 0 proces- 10 se conclui, no podendo prosseguir em direcdo a0 seu éxito institucional; e as atividades processuais j4 desenvolvidas, salvo aquelas que tenham a ver com a questo da “legitimacao para agit’, se consideram inutiliter gestae A propria esséncia do contraditério exige que dele participem no menos dois sujeitos, um “interessado” e um “contra-interessa~ do", sobre um dos quais 0 ato final & destinado a desenvolver leitos favoraveis e, sobre o outro, efeitos prejudiciais. O autor do ato final pode ser um dos contraditores, mas nao » & necessariamente. Em verdade, que 0 autor do provimento 175. Sobre isso, infra, segunda parte, cap. Vil, § 3 e 7 174 Infra, segunda paste, cap. V, § 2 55. V. be Otiuna, O julz € © principio Jo contraditério, in Rev. do advogade, 1993, 35 3s Instituigdes de Diteito Processual 123 esteja sempre, enquanto tal, entre os protagonistas do iter proces sual, e portanto, em regra, quie o desenvolvimento do contradité- rio, possa delimitar-the os objetos e os acolha, enfim até aos re- sultados, nao quer dizer que ele seja “parte” da situacdo para a qual aquele ato destina-se a criar: isso acontece, geralmente, para 08 érgios piblicos em sede de administracio ativa, e em tal hipd- tese 0 autor do ato final se voltaré contra um ou mais sujeitos (quantas outras sejam “partes” daquela situagao) O autor do ato final no é, ao contrario, um contraditor, sendo estranho aos interesses em contenda, nao sendo parte da. quela situagao (como o juiz, 0 arbitro'5) ou ainda que tenha se comportado como tal, mesmo sem sélo efetivamente (como a administragao publica em matéria de controle"). A qualidade de contraditor, onde quer que ela concorra com a do autor do ato, importa, por outro lado, uma conseqiiéncia essencial: mesmo quando se trate de um érgao piblico, munido de império, 0 autor é colocado, durante a fase preparatéria do ato (salvo sua proeminéncia na sucessiva fase de emanagao do provi- mento), em pé de simétrica paridade em relagao a0 outro ou aos outros contraditores.'”” E nesse diapasao a posicao do autor do 175. Infra, segunda parte, cap. V, § 2, sub B; e terceira parte, 176. infra, quinta parte, cap. Il 177. V. sobre o assunto, as reflexes de Den, Le difesa come diritto e come garanzia (a proposito dell'autodifesa nei processo penele), ‘n “Foro it", 1977, V. 55 ss.; Virto, Processo civile ¢ diritti dell'uomo, in “Riv. trim dir. proc. civ.", 1977, 568 ss; Usextaza, Divieto di discriminazione ¢ tuguaglianza delle arm! ne! processo civile, ibidem, 552 ss.; edi ALcALA Zawonta ¥ Casnito, Liberalismo y autoritarismo en el proceto, in “Studi in onore di Santoro Passarelli", |, cit. E de se ressaltar, entretanto, que © principio do contraditério como garantia de liberdade, constitucionalimen te sancionada, se insere na mais vasta temitica dos direitos do. homem reconhecidos pelas varias convencdes internacionais. Sobre 0 tema v. Citavano, La convenzione europea del dirtti dell’uomo, Milano, 1969. 36 s8.; Id, Processo © granzia della persona. |. Profili istitueionali di diritto processuale; ll Le singole garanzie, Milano, 1982. Para aspecios mais diretamente relacionados a0 processo juriicional, of Mazeaneata, Processo, contraddittorio, norma processuale, in “Ri, Trim di_proc. civ.", 1975; e para consileragoes she orclem genal, v. Lice L'Ewope des juges, Briselles, 1970 124 Elio ato final e a posicao do interessado colocado em contraditério continuam a se distinguir mesmo quando pertencam a mesma pessoa: a estrutura processual fica marcada pela posicao de pari- dade dos interessados no contraditorio, distinta da posicao na qual se coloca érgao pubblico na fase em que ~ tendo conhecimento dos resultados do contraditério ~ executa o ato final. (Por outro, no se pode falar de contraditério entre autor do ato e destinatério dos efeitos deste timo, quando a participagao do interessado seja isédica, quando ocorram somente as figuras da “con- iva” ~ do interessado.) meramente e} testagao” - da Consideragées anélogas so desenvolvidas para a hipétese na qual 0 contraditério se dé entre os componentes de um érgao (piiblico ou privado) em vista da emanagao do ato final: pensa-se nos membros do parlamento, nos sécios de uma sociedade de capitais, Como portadores de posigdes contrastantes, eles desen: volvem, em um momento anterior ao ato final (a lei, a deliberacao assemblear) e em pé de paridade entre eles, o debate sobre a situagao na qual atuar e sobre as escolhas a fazer. A exata fixagao do papel do autor do ato em relacéo a0 contraditério nao recai ~ é ittil repeti-lo ~ sobre a insercao da sua atividade no processo: é dbvio que tal atividade, também na hipo- tese, mais freqiiente, na qual o autor do ato nao seja contraditor, & componente indefectivel do proceso, ¢ que a presenca de con traditores @ caracteristica importante para distinguir © processo do mero procedimento, mas nao 0 exaure E, pois, somente o caso de acrescentar que, mesmo incidindo na fase preparatéria do ato final, 0 contraditério nao se articula, em todos 0s tipos de proceso, mediante normas ~ e faculdades, poderes, deveres, e atos ~ iguais em contetido e néimero, que ao contrario pode, de vez em quando, ser predisposto pela lei em formas qualitativa e quantitativamente diversas, pelo menos em razdo do tipo e da natureza do ato cuja atividade em contraditério poe fim. Todavia, © proceso é reconhecivel cada vez que, mesmo sendo reduzidos os poderes dos “contraditores", so realizadas entre eles posicées simetricamente iguais."”* 178 Favintam, Procédimento e processo (teoria generale) op. eit Instituigées de Direito Processual 125 § 7. Objeto do contraditério E constituido por “questées” relativas as proprias atividades processuais: se sao admissiveis (rectius, direitos ou obrigacées), pertinentes, dteis, um ou mais atos a desenvolver (por exemplo, no processo jurisdicional civil, a questao da ordem de integracéo do contraditério; a da admisséo de uma prova; a da declaracéo de invalidade de ato processual; a da renovagao). Também as questées chamadas de “mérito” concernem no cumprimento de um ato processual: precisamente, do ato final, do provimento (ainda, no processo civil, a questao “de mérito” culminante é se o juiz deva emitir 0 provimento requerido, ou recusé-lo"™) Em suma ~ mas a constatacao parece dbvia ~ para elaborar ‘0s préprios temas 0 processo deve elaborar a si mesmo Deve-se esclarecer, entretanto, que a quaestio ~ no signifi- cado proprio de “quesito”, de “res dubia” — da subsisténcia dos requisitos deste ou daquele ato do processo, ainda que se coloque para o autor de cada ato processual (como de resto, de qualquer ato juridico), freqiientemente nao emerge no contradit6: tio, porque é resolvida por aquele autor em sede de verificacao prévia, e nao é levantada por ninguém; nos casos em que, ao contratio, a quaestio é levantada, ela pode ser controvertida ou Nao: n&o o é se os participantes do processo concordam sobre a solugao da davida; 0 é se a solucao é disputada. Em razao da disputa, difundiu-se a imprdpria sinonimia entre “questéo” e “questdo controversa”. E, em verdade, a controvérsia € muito freqiiente no concreto: é ela que torna completa a idéia do con- traditério,"®! do “dizer e contradizer"? 179. Infra, segunda parte, cap. VIl, § 5 180. Fazzatani, Lezioni di diritto processuale civile, |. (Processo ordinario di cognizione), op. cit., 42 ss. 181. A possibildade dos destinatérios da eficécia do provimenso de dizer © contradizer é 0 punctum dinstictionis entre procedimento © processo (azzaan, Diffussione del processo e compiti della dottrina op. it. 527 53 ld, Processo (teoria generale), op. cit., 1068 ss. © especialmente 1072; Prcanor, La dichiarazione dt fallimento. Dal procedimento al pro cesso, op. cit. 154 ss.) Sobre 0 assunto, 7110, Le pretese purtecipaitive del private nel proced ordine mento amministrativo, Milano, 1996; Latte, Contraddlitior 126 Elio Fazzalari § 8. Identificagdo dos processos O processo, tal como o procedimento, @ identificado e assim ‘denominado” em fungio do ato final que a ele poe fim, Por exemplo, a sentenca do juiz traz “a seco”, no sentido que a lei exige dela, uma complexa série de atos preparatorios, em contra: ditério dos “interessados”: nés nos encontramos assim diante de tum processo que se distingue e é peculiar como 0 proceso de formagao da sentenca De resto, esse ponto de vista - para o qual o processo se reconhece em funcao do ato final para o qual é destinado a chegar & confirmado, no plano técnico, pelo ja mencionado principio segundo © qual um dos requisites (de validade e de eficécia) daque- le ato consiste, exatamente, em que ele seja 0 epilogo de um proceso regular: de tal modo que o vicio no qual se incorra no cumprimento de uma das atividades preparatorias e que nao seja reparado no curso posterior acabe contaminando, passando de um ato a outro do processo, até o ato final." Identificar 0s processos (nos varios setores: na jurisdicéo, na jurisdig&o voluntétia, etc.), cada um dos processos ou grupo deles © possivel também segundo o contetido da seqiiéncia de atividades ra qual ele consiste. Dado que tal seqiiéncia é destinada a verificar e/ou a por em movimento, no contraditGrio dos inleressados, 03 especificos pressupostos do ato final com o qual a série é destinada a conchiir-se, entao vale dizer que o discernimento do que seja 0 pubblico, in “Studi in onore di C. Sanfilippo", cit, V, 465 ss. MERU, 1 contradditorio nel processo amministrativo, in “Dir proc. amm.”", 1985, 11 ss.; @ Ferrara R., Gli interessi superindividuali fra procedimento ‘amministrativo e processo: problemi e orientamenti ibidem, 1984, 48 35, 182. A uldade pratica da nogdo de “processo” néo é sulicientemente acolhida pela parte da doutrina presa a velhos esquemas. Para a doutrina italiana v. Auiowo, Gli indirizzi recenti della scienza del processa civile , in "Riv trim. dir proc. clv.”, 1984, 1 ss.; para a estrangeira, PeRvor, Institutions judiciaires, Pavis, 1983; Coucnez, Procédure civile Patis, 1984; Vincenr Gumcriano, Procédure civile, Paris, 1981; Vincenr-Mowinensen-Vaninano, La justice et ses institutions, Paris, 1982; CLosser Marcial, L'application dans le temps des lots de droit judiciaire civil, Bruxelles, 1985, 185 Infra, sequnda parte, cap 1X, § 3: € retro, neste capil of Instituigbes de Direito Processual 127 processo é feito principalmente em razdo dos temas e pelo modo de desenvolvimento do contraditério: € portanto o caso de trazer A tona os pardgrafos precedentes!® sobre a variedade daqueles temas e modos nos diferentes processos Deve-se repetir 0 quanto jé ressaltado em relagdo ao iter procedimental: também no processo podem existir mais fases, reportando-se, cada uma, a um provimento (pensa-se na fase do proceso jurisdicional de cognig&o que se conclui com uma senten- ¢a ndo definitiva; a fase de “primeiro grau” do mesmo processo & qual se segue aquela de segundo grau; as fases do processo jurisdicional de expropriagao que deséguam na “venda forcada” dos bens do devedor e, pois, na distribuicao do valor obtido com a venda), ou distinguindo-se cada uma, segundo as alividades que ‘a compéem (como a fase instrutéria na qual se recclhem os ele- mentos para 0 reconhecimento dos pressupostos da sentenca, ¢ a fase deciséria). A unidade entre tais fases ~ portanto, o unus et semper idem processus — permanece assegurada pelo resultado para © qual elas conspiram § 9. Os “atos processuais” O estudo do processo consiste, tal como a propésito do estudo do procedimento, no apreender das normas que o regulam, ou seja, na andlise dos atos que o compéem.} Os principios do proceso 80 aqueles possiveis de serem abstraidos das normas que disciplinam cada atividade que o compée. Deve ser recordado, entretanto, © quanto jé dite em relacio a0 procedimento: a disciplina de cada um dos atos é assinalada em fungao do ato enquanto componente de um processo. Ela, por um lado, determina a colocagao e © papel de cada ato na série e, por outro lado, disciplina validade e eficacia!®* do ato em conexao com toda a série.'*7 184, Retro, § 6° 185. Fazzatan, Appunti di teoria generale del processo, op. «it. 55 § 1066 186, Sobre a nogao ke “eleito” v. retro, cap. H 187 Infro, seguncti pale, cap 1X e VI 128 Elio Fazzalari (Obviamente, também 0 ato processual, além de desenvolver eficacia no seio do processo, pode desenvolver eficacia fora dele:!®* assim, 0 ato introdutério do proceso jurisdicional civil de cognicao, alem de servir como pressuposto para o desenvolvimento de todos 108 atos de tal processo, desenvolve também efeitos para fora dele, sobre direito substancial, por exemplo, interrompe 0 curso da prescrigéo.) 8 Infra, segunda parte, cay IN © X SEGUNDA PARTE Processos Jurisdicionais

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