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OSTABUSEAS | DESIGUALDADES QUEAINDA CERCAM A MENSTRUAGAO | MORTALKOMBAT: | OQUEESPERARDA | NOVAADAPTAGKO nm . DOGAME PARA ACIENCIA AJUDA VOCE AMUDARO MUNDO - ED. 349 - ABRIL DE 2021 OGINEMA AGORA OUNUNCA 0 ANO DE 2021 E DECISIVO PARA 0 CUMPRIMENTO DO ACORDO DE PARIS — E 0 BRASIL PRECISA REVER JA SUAS METAS COMPOSIGAD 7 apriezoa Sin ante ee) Sh Ss Sas \ ht > 2 sa PORQUE2021£ DECISIVO PARA O : 4 ACORDO DEPARIS 23 Entrevista com Olga Mecking : ae, 36 ’ P SOCIEDADE \ } aed OIMPACTO DA 52 . Teor NOVO FILME MORTAL KOMBAT PROMETEHONRARGAME = - = Ie | 61 QUER QUE EU DESENHE? CAROLINA DE JESUS PROJETO REUNE, PELA PRIMEIRA VEZ, 19 MARCAS DO PORTFOLIO DE EMPRESAS DO GRUPO GLOBO PARA PROMOVER SUSTENTABILIDADE AEditora Globo, a Globo Condé Nast ea CBN / \ se unem para lancar 0 projeto Um Sé Plane ta, 0 maior movimento editorial brasileiro para promover praticas sustentaveis e enfrentar a crise climatica. Desde fevereiro, os veiculos GA. LILEU, O Globo, Extra, Valor Econdmico, Epoca, Epoca NEGOCIOS, Marie Ciaire, Quem, Crescer, Casa e Jardim, Globo Rural, Pequenas Empresas & Grandes Negécios, AutoEsporte, TechTudo, Vogue, Casa Vogue, GQ, Glamour e CBN se uniram em pro duzir reportagens relevantes sobre o tema mais importante deste século. Uma questao tao séria que impacta diretamente nossa vidas, precisa da mobilizagao de todos. Em um esforgo multiplataforma, as 19 marcas esto publicando conteddos sobre sustentabilidade em jornais, revistas, sites, infograficos, redes sociais, po dcasts e newsletters. E possivel acompanhar a produ (40 do projeto pela pagina umsoplaneta glabo.com e pelas redes sociais (Linkedin, Facebook, Instagram e Twitter). Cada publicagao aborda o tema sob sua perspectiva, garantindo uma viséo ampla e completa de um assunto tao complexo quanto urgente Um Sé Planeta é dirigido pela diretora editorial da Editora Globo, Sandra Boccia. “Esse projeto sera marcado pelo jornalismo construtivo, afinado com © século 21, com curadoria impecével, propostas @ solucées e audigao qualificada. Seré o encontro perfeito entre a reputacio das nossas marcas e a forca da inteligencia coletiva aportada pelas em- presas parceiras e pelo piiblico. Vamos dar voz a0 planeta’, diz. A plataforma tem patrocinio das empresas Ambi par, Braskem, Engie e Natura. Conta ainda com 0 apoio da Iniciativa Verde, organizacao voltada para restauragéo florestal, desenvolvimento rural sus. tentével e combate as mudancas climaticas, e de 0 Mundo Que Queremos, agéncia especializada na idealizago de projetos inovadores de comunicacso com foco em gerar mudanca. Ao final de um ano de projeto, as principais maté. rias, infograficos e dados de Um Sé Planeta serao editados e publicados em um anuario de sustenta- bilidade, que sera veiculado na revista Epoca NE GOCIOS eno jornal Valor Econdmico. #UMSOPLANETA, VEM COM A GENTE. NAO EXISTE PLANETA B. Larissa Lopes Luiza Monteiro Flavia Hashimoto EM UM ANO DECISIVO PARA 0 CUMPRIMENTO DO ACORDO DE PARIS, O BRASIL (E 0 MUNDO) DEVERA SE COMPROMETER COM MEDIDAS E METAS AMBICIOSAS PARA, DE FATO, COMBATER AS MUDANGAS CLIMATICAS. OU ENTAO SERA TARDE DEMAIS Em novembro de 2021, representantes dos paises-mem- bros da Organizagao das NagGes Unidas (ONU) se reunirao por 12 dias para estabelecer novas metas e estratégias ca- pazes de frear o avanco de um inimigo comum: a emergén- cia climatica. Sediada em Glasgow, na Escécia, a 26? Confe- réncia das Partes sobre a Mudanca Climatica (COP26) sera marcada pelo terceiro (e tao aguardado) encontro entre os 195 paises signatarios do Acordo de Paris. O evento, que se- ria realizado em novembro do ano passado, foi adiado por conta da pandemia de Covid-19 e tem gerado ansiedade e preocupacao entre a comunidade cientifica, ativistas do cli- ma e governantes de todo o mundo. Isso porque ja se passaram cinco anos desde a assinatu- ra do acordo climatico e, como determina o documento, esta na hora de fazer um balanco do que foi feito nesses primeiros anos em prol da reducao de emissao de gases do efeito estufa (GEE), aleém de elaborar novas estratégias para mitigar 0 aquecimento global. Até o fim de 2020, 75 signatarios (que representam 30% das emissdes do plane- ta) submeteram a ONU suas Contribuicgées Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglés), documentos em que os governos especificam quais metas e medidas serao implementadas a curto, médio e longo prazo para diminuir as emissdes. Nao bastasse o baixo numero de submissées, as expectativas em relacao a boa parte do que foi propos- to sao desanimadoras. Na avaliacao do orgao, a percepcao geral é de que as inicia- tivas apresentadas pelos paises sao insuficientes para frear 0 aumento da temperatura do planeta. “Os governos estao longe do nivel de ambicao necessario para limitar as mudan- Gas climaticas a 1,5 °C e cumprir os objetivos do Acordo de Paris”, analisa o secretario-geral da ONU, Antonio Guterres, em comunicado publicado no dia 26 de fevereiro de 2021 Por isso, a orientagao dada aos paises que deixaram seus planos a desejar é que, até a realizagao da COP26, as metas nacionais sejam refeitas de modo a contribuir efetivamente para o controle da emergéncia climatica. “A ciéncia é cla- ra: para limitar o aumento da temperatura global em 1,5 °C, devemos cortar as emissées globais em 45% até 2030, em relacdo aos niveis de 2010”, lembra Guterres. Com o prazo final cada vez mais proximo, se antes 0 assunto era urgente, agora agdes pela reducao de emissao sao cru- ciais. Por isso, 2021 é um ano decisivo para o cumprimento do Acordo de Paris e a prevencgao de um verdadeiro cata- clismo, como prevé o Forum Econémico Mundial. A entidade compara 0 cenario atual ao jogo Jenga, em que o desafio é manter uma torre em pé ao mesmo tempo em que se reti- ra os blocos que a sustentam. “Por geracées, tiramos lenta- mente os blocos. Mas, em algum ponto, removeremos um bloco fundamental, como o colapso de um dos principais sistemas de circulagao oceanica global, por exemplo, a Cir- culagao de Revolvimento Meridional do Atlantico (AMOC), que fara com que todo ou parte do sistema climatico global caia em uma emergéncia planetaria’, profetiza Peter Giger, diretor de uma empresa de seguros da Suica, em um artigo publicado em janeiro no site do Forum. Para comecar a dar os primeiros passos em diregao a um futuro mais verde (e otimista), devemos analisar como chegamos até aqui. Nao é de hoje que a comunidade cientifica tem alertado para as consequéncias climaticas induzidas pelo modo de pro- dugéo e consumo impulsionado pela Revolucdo Industrial desde o século 18. O uso em larga escala de combustiveis fdsseis, como 0 carvao e o petrdleo, beneficiou a economia global, mas acarretou uma série de problemas ambientais, como a exploracao indiscriminada de recursos nao renova- veis e a emissao de gases poluentes a partir da queima e extragao de combustiveis. “Os governos estado longe do nivel de ambigao necessario Para limitar as mudangas climaticas a 1,5 °C e cumprir os objetivos do Acordo de Paris.” Anténio Guterres, secretario-geral da ONU, em comunicado Para ter ideia, segundo estimativa publicada em dezembro de 2020 na revista Earth System Science Data pela rede de cientistas Future Earth, 34 bilhGes de toneladas de didxido de carbono (co,) foram emitidas por essas fontes no ano passado. O planeta nao consegue absorver uma quantidade tao grande desse gas, que vai se acumulando na atmosfera e pode permanecer nela por até 150 anos. E nao para por ai: esse e outros gases, como o metano (que pode ficar na atmosfera por uma década), absorvem radiacao infraver- melha, criando o famigerado efeito estufa e aumentando a temperatura global. Os primeiros alertas de que algo nao ia bem com 0 modo de producao que baseia a economia global comecaram a cha- mar atencao na década de 1970, com a publicacao do livro Limites do Crescimento, em 1972. Elaborada por pesquisa- dores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, a obra destaca 0 fato dos combusti- veis fosseis serem recursos finitos e, portanto, de uso in- sustentavel a longo prazo — constatacao apoiada pela crise do petroleo que se alastrava naquela mesma época. “Ali se percebeu que uma economia baseada em um unico subsi- dio, os combustiveis fosseis, tornava o modelo de desenvol- vimento muito vulneravel’, analisa Karen Oliveira, gedloga e gerente de Relacoes Institucionais e Governamentais na The Nature Conservancy (TNC) Brasil. Apublicacao do MIT foi feita a pedido do Clube de Roma, um grupo de intelectuais criado nos anos 1960 que promovia de- bates sobre assuntos que tangiam economia e meio ambien- te. No mesmo ano de seu langamento, o documento embasou discussdes na Conferéncia das Nagdes Unidas sobre 0 Meio Ambiente Humano, também conhecida como Conferéncia de Estocolmo, que foi o primeiro grande encontro promovido pela ONU para discutir questdes ambientais a nivel global. Vinte e cinco anos mais tarde, em 1997, foi assinado o Proto- colo de Quioto, que esteve em vigor entre os anos de 2005 e 2012 e estabelecia pela primeira vez metas de reducao de “O primeiro passo para o Brasil é aumentar a ambigao da meta [do Acordo de Paris] que foi submetida no final do ano passado” Leonardo Nascimento, analista de politicas climaticas do NewCiimate Institute carbono para paises do mundo todo. A proposta era que, entre 2008 e 2012, as emissdes de gases estufa fossem diminuidas em, no minimo, 5,2% em relacéo aos niveis de 1990. A cada pais foram aplicadas metas de reducao dife- rentes, havendo mais cobrancas sobre os paises desenvol- vidos, responsaveis pela maior parte da poluicao. O Protocolo previa ainda 0 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), baseado no cap-and-trade (limitar e negociar). Essa estratégia de flexibilizagdo permite que paises ricos compensem o excedente de emiss6es por créditos de carbo- no gerados a partir de iniciativas verdes de paises em desen- volvimento. “Ainda que seja interessante, a aplicagao desse modelo tem impactos diferentes em nacoes ricas e vulnera- veis, que nao tém as mesmas condicdes de inovacao’, avalia Oliveira. “Comegou-se a perceber que 0 Protocolo limitava 0 crescimento de paises desenvolvidos e nao necessariamente impulsionava a tecnologia dos mais pobres.” Em 2016, foi assinado 0 Acordo de Paris, cujo principal obje- tivo é assegurar que 0 aumento da temperatura média glo- bal nao ultrapasse 2 °C em relacao aos niveis pré-industriais — preferencialmente, o limite deve ser de 1,5 °C. Segundo a especialista da TNC Brasil, uma das maiores novidades tra- zidas por esse documento é a substituig¢ao do modelo MDL pelo mercado de carbono. “Ele deixa de ter um carater mais engessado e passa a trabalhar com o conceito de merca- do: da competitividade e da possibilidade de ter créditos de carbono baratos para poder vender, comprar e investir no meio ambiente”, explica. Com isso, a emissao de carbono passa a ser uma commodity, tendo seu preco determinado pela oferta e demanda internacional. A aplicagao desse modelo, porém, também tem seus desa- fios. Enquanto paises da Unido Europeia e a Nova Zelandia, por exemplo, ja avangaram na discussdo e até mesmo na regulacgdo desse mercado, a maior parte das nac6es ain- da estuda como viabilizar esse novo mecanismo. E 0 caso do Brasil, que além de nao contar com mercado regulado de carbono, também é um dos paises apontados pela ONU como tendo objetivos pouco ambiciosos, que nao refletirao em uma menor emissao do poluente. A orientagao é que essas nacdes devem apresentar novas metas e estratégias até novembro, durante a COP26. Em 8 de dezembro de 2020, 0 governo brasileiro transmitiu sua NDC a ONU. Tendo o ano de 2005 como base, ela propoe reduzir em 43% as emissoes de carbono brasileiras até 2030 e atingir a neutralidade em 2060. Apesar de o governo fede- ral afirmar, em nota, que “a NDC brasileira é uma das mais ambiciosas do mundo’, especialistas do clima logo questiona- ram e se contrapuseram a essa constatacao. O Observatorio do Clima, rede formada por entidades brasi- leiras que discutem e combatem o aquecimento global, clas- sificou a NDC brasileira como “insuficiente e imoral”, em co- municado a imprensa. Na mesma data em que o documento foi submetido as Nacdes Unidas, 0 Observatorio publicou sua propria versao da proposta, mais alinhada com os objetivos do Acordo de Paris e com iniciativas mais robustas no en- frentamento das mudangas climaticas. De acordo com o re- latorio feito pela rede, que também teve 0 ano de 2005 como referéncia, o Brasil deveria reduzir as emissdes em 81% até 2030. Além disso, uma meta verdadeiramente ambiciosa e em concordancia com o restante do planeta seria se compro- meter a zerar as emissdes em 2050, uma década antes do que foi proposto pelo governo. Para Leonardo Nascimento, analista de politicas climaticas do NewClimate Institute, organizagao internacional que mapeia, avalia e compara acoes de mitigacao das mudangas do clima em todo o planeta, uma das falhas do governo bra- sileiro foi se basear em um inventario desatualizado para propor a meta. A base de calculo utilizada foi a do Segundo Inventario de EmissGes de Gases de Efeito Estufa, que es- timava que, em 2005, o valor absoluto dos gases emitidos foi de 2,1 bilhdes de toneladas. Na verdade, de acordo com a terceira edicgdo do inventdrio, sua versao mais atualiza- da, naquele ano foram emitidas 2,8 bilhdes de toneladas. “O primeiro passo para o Brasil é aumentar a ambicao da meta que foi submetida no final do ano passado”, opina Nasci- mento. Ele defende que, para isso, 0 governo precisa se comprometer a combater o desmatamento ilegal nos proxi- mos 10 anos — o que, infelizmente, nao deve acontecer, ja que esse compromisso estava presente na NDC anterior e foi retirado do documento submetido no ano passado. E nao so por isso. A recente escalada nos indices de desma- tamento nos afasta de atingir 0 objetivo. S6 na Amazonia, a perda de arvores em 2020 cresceu 30% em comparagao a 2019, segundo levantamento feito pelo Instituto do Ho- mem e Meio Ambiente da Amazénia (Imazon). Em um ano, a floresta tropical perdeu 8.058 km? de area verde, o maior numero da ultima década. Isso somado as queimadas e ao avanco da agropecuéria faz da regido uma preocupante produtora de poluentes. Nao a toa, é la onde esta a maioria das cidades brasileiras campeas em emissao de CO,. Um levantamento do Obser- vatorio do Clima divulgado em marco revela que sete dos dez municipios que mais poluem no pais estao na Amaz6- nia: Sao Félix do Xingu (PA), em primeiro lugar; Altamira (PA), em segundo; Porto Velho, em terceiro; Pacaja (PA), em quinto; Colniza (MT), em sexto; Labrea (AM), em sétimo; e Novo Repartimento (PA), em oitavo. (Foto: Andriy Onutriyenko/Gettyimages) Nascimento sugere que o Brasil deveria seguir 0 exemplo da Costa Rica. Apesar de ser um pais muito menor, que nado tem os desafios de uma nacao continental como a nossa, a Costa Rica também tem uma matriz energética baseada em hidrelétricas — que emitem pouco carbono — e con- ta com uma abundante area verde. “A diferenca é que as florestas costarriquenhas absorvem mais carbono do que emitem, ao contrario das brasileiras. Isso porque o pais faz uma boa gestao e fiscalizacao das suas florestas”, avalia o analista de politicas climaticas. No caso da Costa Rica, 0 setor que mais emite GEE é 0 de transporte. Por isso, a NDC do pais apresenta novos planos para estruturar essa matriz, investindo em veiculos elétri- cos. Ha ainda metas de curto, médio e longo prazo que aju- dam a nacao a cumprir o Acordo de Paris e alcancar a neu- tralidade de carbono até 2050. “Além de ter proposto zerar emiss6es liquidas apenas em 2060, 0 Brasil nao apresentou nenhum detalhe sobre como o governo pretende atingir esse objetivo” acrescenta Nascimento. Outro passo importante que o Brasil precisa dar para se adequar ao Acordo de Paris é a criacao de um marco regula- torio para o mercado de carbono. Uma proposta ja tem sido elaborada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o De- senvolvimento Sustentavel (CEBDS) com apoio do Ministé- rio da Economia. A iniciativa foi aprovada pelo Partnership for Market Readiness (PMR), um projeto do Banco Mundial em parceria com o governo brasileiro em que foram discu- tidas as melhores formas de criar uma legislagao para esse mercado. Agora, a proposta aguarda 0 avanco para uma se- gunda fase, a Partnership for Market Implementation (PMI), que vai ajudar a implementar esse mercado no pais. “O que estamos fazendo é decidir como as emissoes serdo rela- tadas e verificadas, e avaliando quais instituigdes ficaram responsaveis por cada processo”, detalha Karen Tanaka, ge- rente técnica para Energia, Mudanca do Clima e Financas Sustentaveis no CEBDS. Segundo a especialista, a criagao de um marco regulatorio ajudara a institucionalizar a reducao de carbono em grandes empresas brasileiras. ‘Atualmente, ja contamos com um mer- cado voluntario forte no pais — 0 que é muito positivo, mas nao resolvera o problema a longo prazo”, avisa. Por aqui, as empresas ainda nao sao obrigadas a diminuir suas emiss6es. Apenas aquelas que tém interesse, objetivos ou iniciativas verdes procuram negociar créditos de carbono no mercado. Para Tanaka, esse cenario deve mudar logo. “Nao se trata apenas de fazer projetos sociais, é sobre uma total reade- quacao dos negdcios para atender um planeta que ja pas- sou dos limites.” E as empresas ja estao percebendo isso. “A proposta do CEBDS, por exemplo, é feita pelo setor em- presarial, que, apesar de ser o primeiro a ter suas emiss6es limitadas, esta interessado nisso. O setor que vai ser regu- lado esta pedindo para ser regulado. Isso nao é algo muito facil de acontecer.” I i “Nao se trata apenas de fazer pr tos sociais, é sobre uma total readequagao dos negécios para atender um planeta que ja passou dos limites” Karen Tanaka, gerente técnica para Energia, Mudanca do Clima e Financas Sustentaveis no CEBDS Na avaliacao de Gabriel Estevam Domingos, diretor de pes- quisa de desenvolvimento da Ambipar, empresa brasileira que é referéncia internacional em solugdes ambientais, 0 mercado privado exerce um papel fundamental nesta nova pratica econémica enquanto nao ha regulacao pelo Estado. “Se essa falta de definicao no ambito politico prejudica a performance brasileira na reducao de emissoes, por outro lado, 0 mercado voluntario e privado segue a frente nessa iniciativa’, analisa. O interesse vem, afinal, das oportunidades de crescimento que o mercado de carbono tem apresentado. Segundo uma pesquisa da Refinitiv, empresa que avalia o mercado finan- ceiro, em 2020, 0 valor do setor cresceu quase 20%, batendo recorde de 229 bilhdes de euros. Cerca de 90% desse mon- tante esta concentrado no Regime Comunitario de Licengas de Emissao da Uniao Europeia (EU-ETS, na sigla em inglés), o mercado regulado europeu. Isso mostra que paises que ja se prepararam para esse novo mercado estao colhendo os frutos econémicos da reducdo de emissdo de GEEs. “Sem um mercado regulado, o Brasil corre um risco de ficar a mercé de um modelo externo e de ter que atender a cada um desses modelos que vierem de fora, perdendo competitividade no mercado’, adverte a gerente técnica do CEBDS. Por isso, até junho serao definidos os ultimos detalhes para a implementacao do mercado regulado brasileiro, que sera realizado de forma gradual, voltado para insti- tuicgdes dos setores da industria e energia que emitem de 50 a 100 quilotoneladas de carbono. Mudancas estrutu- rais devem ajudar a cumprir as metas do Acordo de Paris e driblar as previsdes cataclismicas em torno das mudangas climaticas. Ou nao. Segundo um estudo publicado em fevereiro na Communi- cations Earth & Environment, periddico de acesso aberto da Nature, se quisermos limitar o aumento da temperatura a2°C, as metas globais deveriam ser 80% mais ambiciosas do que as propostas pelo Acordo de Paris. Isso significa que a redugao média de emissdes de carbono precisaria ser de 1,8% ao ano, e nao de 1%, como proposto. Paises que tém conseguido cumprir 0 acordo teriam novas metas mais bai- xas, como 0 Reino Unido, que precisaria de um crescimento de apenas 17%. Ja aqueles que prometeram cortes mas, na pratica, passaram a emitir mais, caso do Brasil e da Coreia do Sul, precisam de um impulso maior para compensar o desperdicio. Os pesquisadores Peiran R. Liu e Adrian E. Raf- tery, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, sugerem que, para garantir mais agilidade nas andlises, as metas sejam reavaliadas anualmente, e nao a cada cinco anos, como orienta 0 Acordo de Paris. Em outro trabalho, orientado por estudiosos da Universida- de de East Anglia, na Inglaterra, a atual taxa de reducao de emiss6es, de 0,16 bilhao de toneladas de CO., precisa aumen- tar em 10 vezes para que as mudancas climaticas sejam mi- tigadas como propée o tratado de Paris. A diminuigao das emissoes deveria ser da ordem de 1a 2 bilhdes de toneladas por ano, de acordo com a investigacao. E uma realidade distante, mas que vale a pena ser alcanca- da. Outro estudo, publicado no The Lancet em fevereiro e li- derado por pesquisadores da Universidade College London, tambem na Inglaterra, indica que milhdes de vidas podem ser salvas com a adocao de politicas alinhadas com o Acor- do de Paris e que priorizem a satide: 6,4 milhGes gracas a uma dieta melhor, 1,6 milhao por um ar mais limpo e 2,1 mi- Ih6es por exercicios. E 0 apoio popular a mais acoes governamentais pelo meio ambiente é “esmagador’, como mostra uma pesquisa da Universidade de Cambridge com mais de 14 mil adultos que vivem no Brasil, na China, na india, na Indonésia, na Polénia, no Reino Unido e nos Estados Unidos. Em seis desses paises, nove a cada 10 pessoas disseram aprovar essas iniciativas. O Brasil teve o maior indice de apoio: de 96 a 98% dos par- ticipantes concordam que os governos devem liderar acdes contra mudancas climaticas. Com apoio da populacao e estratégias eficazes sendo apon- tadas ha décadas por cientistas, a missdo aparentemente impossivel parece ser mais tangivel. Bastam 0 comprome- timento e as acdes de cada um de nos — e das 195 partes que dividem a responsabilidade assumida ha cinco anos de mitigar as mudancas climaticas. E agora ou nunca. @wecse cxseiscncocone Ona 5@ PLANETA _ Movimento editorial brasileiro de maior impacto para enfrentar a crise climatica_ MANIFESTO (0 mundo se transformou em zeros e uns. ‘Mas uma flor nfo 6 um niimero. Uma planta ndo é um nmero, Um animal nibo é um nimer. ‘Uma gota de chuva nao é um numero. ‘Uma pessos no é um ndmero. ‘Ainda que tudo e todos possam ser contades. Como tém sido. Acontagem nos alert, 6 verdade. [Numero de mortos. Nimero de feridos. Percentagem da terra destruida, Percentagem de lorestas que delxam de ser florestas. E viram érea. Construida. Percentagem de particulas. Nocivas. Medimos e contamos a temperatura também. Graus a mais. Graus a menos. Incontaveis danos, incontéveis iscos. Emescala, © problema ndo soos nies: ¢ saber o que fazer com eles. Mas existe esperanca. Oe via: esse jogo, De sair do ‘anestesia. De domonstrar ago. € s6 se dar conta de que todos somas parte de ura hstéia nica. € antiga ‘Mas para ter futuro, essa histéria precisa ser (re)contada, ‘Ano zero de 2021. Outro mundo. A vida pelo avesso. Temos de regener, rejardinar,reflorestar. Sentir o pulso da “Terra. Pegat leve. Construir um novo tempo em que a contagem néo soja regressiva. Seja evolutiva. Esse tempo ¢ agora. Porisso, nos mobiizamos. Formamas uma aang para produ ojomalismo que combate airdiferenga, encorajae gee afaisca que inspira. Estamos aqui par, 90 seu lado, provocar uma real etrensformadara mudanga de padres mentois € comportamentais em relag8o a lugar que moramos. A nossa casa. Hé muito a fazer. Temos de zerar as emissBes de carbono. Zerar odesmatamento. Zerar 0 desperdicio. Zerar nossa tolerancia com quem fere e suja. Urgentemente. Boas histérias curam, geram lucidez. Paraisso, contamos cam voc8. Vern coma gente. ‘Somos Um. $6,Planeta, ACESSE. INFORME-SE. ATUE o @©frwrrorscovo evdes|ciosocomemst CBN — S wou noe ENGIE acim = 9 ques ENTREVISTA “Estamos cada vez mais esgotados e nos culpamos se nao fazemos nada” Em livro recém-lan¢ado no Brasil, autora polonesa defende a importancia dos momentos de 6cio ou, como prefere chamar, niksen, palavra em holandés para “fazer nada” Apolonesa Olga Mecking tem uma missao: conven- cer as pessoas de que elas precisam fazer nada. Ene-a-de-a. Nadinha. Necas de pitibiribas. Ou, para usar um linguajar mais descolado e exético, niksen. A pala- vra em holandés, que significa “fazer algo sem utilidade e aproveitar 0 Ocio’, é titulo do novo livro da autora, langado no Brasil em fevereiro pela Editora Rocco. Em Niksen — Abragando a arte holandesa de nado fazer nada, Mecking retine o que aprendeu nos Ultimos anos so- bre a “técnica”, da qual virou uma espécie de porta-voz apos escrever uma série de artigos sobre o tema para veiculos como New York Times, Washington Post e The Guardian. “Estar ocupado nao é algo ruim por si so, mas acho que avancamos tanto para uma espécie de glorificagao do estar ocupado, que esquecemos de diminuir um pouco 0 ritmo’, diz a escritora. “Sentimos que cada hora da vida deve ser gasta de maneira eficiente, caso contrario estaremos ape- nas perdendo tempo.” Por mais engajada que seja na defesa do fazer nada, a pro- pria autora nao tem a pretensdo em se tornar alguma espé- cie de guru no assunto — alias, ela reconhece no livro que esta longe de dominéa-la. As vezes, a sobrecarga da rotina é tamanha que fazer nada se torna uma missao quase impos- sivel. E esse nao é 0 objetivo do niksen. Ao contrario de outras modas ou tendéncias de bem-estar, que na visdo de Mecking tém nos tornado escravos de ide- ais inalcancaveis e so servem para acrescentar mais tarefas as nossas ja extensas listas de afazeres, a ideia por tras do conceito holandés é tornar o dcio uma pratica novamente aceitavel — e desejavel. “E sempre dito que vocé deve se dedicar mais ao trabalho, aos filhos, a cozinha, as compras... Isso é exaustivo. Talvez seja bom nao fazer nada e deixar de buscar melhorar a si mesmo a cada segundo’, propoe. A seguir, ela fala mais sobre o que torna o niksen tao especial e por que devemos nos dedicar a arte de nao fazer nada. AFINAL, 0 QUE E N/KSEN? E QUAL SERIA A DIFERENGA PARA OUTROS TIPOS DE “NAO FAZER NADA", COMO O DOLCE FAR NIENTE DOS ITALIANOS E LA SIESTA DOS ESPANHOIS? A definigao que eu uso é dividida em duas partes. A primei- ra é “nao fazer nada’. Nao estou falando em nao fazer nada no sentido de assistir a um filme, entrar no Facebook ou ler um livro. Tudo isso € timo, mas nao é “nao fazer nada’, na minha definicao. A outra parte é que seja “sem pro- posito”. Acho que fazemos muitas coisas pensando que trardo algum beneficio. A comida, por exemplo: nao comemos porque tem um gosto bom; comemos porque é saudavel, porque tem nutrientes, fibras, proteinas ou algo assim. E acho que isso é um pou- co vergonhoso. Eu acredito que, de alguma maneira, quase toda cultura ou todo idioma tem algo similar ao niksen, apenas varia de acordo com a linguagem. Em inglés, eles falam doing sweet, sweet nothing, que seria “fazer deliciosamente nada”. Entao existe essa associacao de que nao fazer nada pode ser algo bom, mas também uma coisa meio impropria, sabe? O QUE ESPECIFICAMENTE ATRAIU VOCE AO NIKSEN EM VEZ DAS QUTRAS MANEIRAS CULTURAIS DE NAO FAZER NADA? Para mim, foi por causa do meu interesse em idio- mas. Eu falo polonés, alemao, francés, inglés e ho- landés, que é a minha quinta lingua. E achei brilhan- te que na Holanda vocé pode falar “nao fazer nada” em apenas uma palavra. A outra parte que eu achei interessante foi ao ler em uma revista holandesa o titulo Niksen é 0 novo Mindfulness. Eu andava lendo tanto sobre estresse, satide mental e autocuidado, que pensei que se tratava apenas de outra maneira de falar para as pessoas melhorarem a si mesmas OLGA MECKING Apolonesa é escritora, jornalista etradutora, Seus artigos sobrea da prética de nao fazer nada foram publicados em veiculos como New York Times, The Guardian e BBC. Atualmente, vive na Holanda com seu companheiro, que éalemao. 27 o tempo todo. Porque é sempre dito que vocé deve se dedicar mais ao trabalho, aos filhos, a cozinha, as compras, que vocé deve ler todos os rotulos. Isso € exaustivo. Entao eu pensei que, OK, talvez poderia ser bom nao fazer nada e deixar de buscar melhorar asimesmo a cada segundo. EXISTE UMA MANEIRA IDEAL DE PRATICAR NIKSEN? Tendo a acreditar que nao é algo que vocé faz dire- to por uma hora, e sim um pouco aqui, um pouco ali. Por exemplo, tenho uma massa de pao fermen- tando neste momento na minha cozinha. E apenas sigo a receita: preciso esticar e dobrar a massa du- rante 13 minutos, a cada meia hora. No meio disso, tenho algum tempo para nao fazer nada. Acho que acaba sendo algo que vocé faz durante outras ta- refas. Mais um caso: eu leio meu livro, entao coloco ele de lado e penso sobre o que acabei de ler, tento entender o que aconteceu na historia ou apenas paro em uma frase que me chamou atencao. Isso é uma forma de nao fazer nada. Quando as pessoas param para pensar sobre isso, percebem que po- deriam nao fazer nada mais do que imaginavam: NA SUA OPINIAO, POR QUE NAO FAZER NADA E TAO NECESSARIO AO ATUAL ESTILO DE VIDA DA NOSSA SOCIEDADE? Um dos motivos tem a ver com uma mudan¢a na nossa maneira de trabalhar. Houve uma grande re- volucao industrial em que as pessoas comecaram a construir fabricas e a produzir coisas em grandes quantidades. E, pelo menos no Ocidente, isso mu- dou o modo de trabalhar, uma vez que vocé nao precisava mais fabricar seu proprio par de sapa- tos. Por outro lado, passou a ser possivel fabricar milhares de pares ao mesmo tempo. E por causa disso, as pessoas comecaram a acreditar que po- deriam trabalhar menos e ter mais tempo de lazer. Mas, infelizmente, o que aconteceu foi que o tra- balho se tornou uma espécie de simbolo de status. Vocé precisa mostrar que esta ocupado, nao ne- cessariamente trabalhando; que é requisitado pelo mercado; que é uma pessoa muito importante. En- quanto as pessoas que estao sem fazer nada sao vistas como nao requisitadas, como se ninguem quisesse trabalhar com elas. Isso foi uma mudanga total em relagdo ao que acontecia antes, quando coisas como ser gordo ou sedentario e nao fazer nada eram simbolos de riqueza das altas classes. Agora, acho que estamos em uma situacao simi- lar a da Revolucao Industrial, nao com maquinas, mas com computadores. Os computadores estao fazendo cada vez mais e mais 0 nosso trabalho e, claro, surge a ideia de que trabalharemos menos. Mas 0 que eu acho que esta acontecendo é que o trabalho esta se tornando um recurso, como a co- mida ou 0 dinheiro, do qual algumas pessoas tem muito e outras nao tém o suficiente. E vejo que isso é algo global, esta acontecendo na mesma veloci- dade em todo 0 mundo. E POR QUE NAO FAZER NADA PARECE ALGO TAO ASSUSTADOR PARA MUITAS PESSOAS? Aparentemente, fazer nada assusta as pessoas porque elas nao estao mais acostumadas a isso, elas nao tém mais a experiéncia de se sentar e re- almente nao fazer nada. Elas sentem que devem ser ocupadas a todo o tempo. E isso nao acontece somente por causa das expectativas sociais cria- das pelo fato de as maquinas cada vez fazerem mais 0 nosso oficio: nds nos sentimos como se sempre tivéssemos que estar fazendo algo no tra- balho, em casa, cuidando das criancas e que deve- mos gerenciar nosso tempo de maneira eficiente, pois cada segundo conta. 30 EQUAL 0 PROBLEMA DISSO? Acredito que estar ocupado nao é algo ruim por si sO, uma vez que pode significar também que vocé tem uma boa vida e um trabalho que lhe da sus- tento. Significa que vocé tem amigos e familia com quem passa 0 tempo. E isso nao é algo ruim, mas eu acho que avancamos tanto para uma espécie de glorificagao do estar ocupado, que esquecemos de diminuir um pouco 0 ritmo. O que esta acontecen- do — e aparecendo em rankings de bem-estar — é que estamos cada vez mais esgotados e nos sen- tindo culpados quando nao fazemos nada. Vocé acaba sentindo que cada hora de sua vida deve ser gasta de maneira eficiente, caso contrario estara apenas perdendo tempo. “O tempo dos homens é visto como um recurso valioso, eScasso, 20 passo que 0 das mulheres é considerado um grande oceano” Olga Mecking, sobre as mulheres terem menos oportunidade de praticar niksen 31 NO SEU LIVRO, QUANDO VOCE LISTA AS TAREFAS QUE IMPEDEM AS PESSOAS DE NAO FAZER NADA, COMO PLANEJAR O JANTAR, CUIDAR DAS CRIANGAS E LIMPAR A CASA, FIGA EVIDENTE QUE AS MULHERES PARECEM PARTICULARMENTE SOBRECARREGADAS. O NIKSEN E MAIS DIFICIL PARA ELAS DO QUE PARA 0S HOMENS? Acredito que sim, embora nao signifique que para os homens seja facil nao fazer nada. Mas para eles é, sim, mais facil do que para as mulheres. O que acon- tece é que as mulheres gastam mais tempo com ati- vidades nao remuneradas, como fazer faxina, cui- dar dos filhos, dos idosos e dos parentes doentes, além de todas as outras tarefas domésticas. Acho que isso é fruto de uma visao global sobre como as pessoas enxergam o tempo para os homens e para as mulheres. O tempo dos homens é visto como um recurso valioso, escasso, que vocé precisa gastar com muito cuidado, ao passo que o das mulheres é€ considerado um grande oceano. Isso significa que vocé pode interromper uma mulher a qualquer mo- mento e ela tera tempo para vocé. Em Overwhelmed, a autora Brigid Schulte diz que homens sao melhores em proteger seu proprio tempo. Entao é OK para eles dizerem “agora nao, estou ocupado”. E as mulheres nao so nao prote- gem seu proprio tempo, como também protegem o tempo dos homens, 0 que acaba levando a essa sensacao de esgotamento e a necessidade de ser boa e conseguir fazer tudo sozinha. QUAIS FATORES TEM MAIOR INFLUENCIA EM NOSSAS HABILIDA- DES OU MANEIRAS DE PRATICAR NIKSEN? E um conjunto de fatores. Como individuos nds po- demos dizer: “Vou utilizar um pouco mais de tem- po do meu dia para nao fazer nada ou organizar a minha casa. Estou na minha cadeira confortavel e como meu telefone nao fica na minha mesa o tem- po todo, vou deixa-lo de lado.” Isso de forma indivi- dual. Mas penso que uma abordagem hierarquica é também muito importante. Por exemplo, em em- presas norte-americanas, as pessoas perceberam que quando a licenca-paternidade era oferecida aos pais, ninguém a utilizava. No entanto, quando gerentes e chefes passaram a aproveitar seus be- neficios de licenga-paternidade, as pessoas come- Garam a desacelerar e ver que isso era aceitavel. As pessoas se espelham em seus chefes e gestores. Penso que, como sociedade, poderiamos nos tornar mais cientes do nosso tempo de lazer e da forma como 0 utilizamos. Acho que coisas simples, como a infraestrutura, podem ser reorganizadas em nossas cidades para ter mais espacos verdes, bancos ou lu- gares para sentar. Isso nos ajuda a nao fazer nada, alcancando um relaxamento. APRENDER A PRATICAR NIKSEN PODE NOS AJUDAR A LIDAR COM OISOLAMENTO SOCIAL IMPOSTO PELA PANDEMIA DE COVID-197 Depende da situacao. Eu sempre trago 0 exemplo de como é meu dia quando as escolas estao fecha- das ou quando estao abertas. Quando estavamos naquelas primeiras semanas de ensino a distancia, que foram um desastre, eu acabava ficando tao can- sada que nao conseguia fazer mais nada. E, quando as escolas reabriram, foi diferente, porque passei a ter mais espaco para respirar, trabalhar e nao fa- zer nada, ter novas ideias ou simplesmente dar uma pausa do trabalho para caminhar na rua. Sao situa- Ges muito diferentes. Sei que existem pessoas que, de repente, se viram com muito mais tempo livre sobrando e comecaram a aprender coisas como fa- zer pao de fermentacao natural ou grandes proje- tos culinarios. Mas também ha aquelas que apenas estado totalmente exaustas com 0 trabalho, com a escola das criangas, com as atividades domésticas e tudo o mais. Entao devemos sempre especificar sobre qual grupo estamos falando, porque as res- postas serao distintas. 34 COMO CONVENCER AS PESSOAS DE QUE ELAS REALMENTE SE BENEFICIARIAM COM UMA FOLGA OU 0 TEMPO PARA NAO FAZER NADA QUANDO AS VEZES ELAS MAL TEM OS MEIOS PARA SOBRE- VIVER COM TUDO 0 QUE JA FAZEM? Depende do tipo de trabalho que vocé esta fazen- do. O trabalho criativo, por exemplo, tem aquela parte que é muito visivel, quando vocé esta pin- tando ou escrevendo algo. Mas também existe muito do trabalho que vocé faz em siléncio, quan- do esta andando ou fazendo outra coisa. As ve- zes, 6 quando vocé esta tomando banho que as ideias vém, e depois vocé fica refletindo sobre aquilo por um tempo. Tudo acontece na sua cabe- Ga sem que ninguém perceba, mas naquele mo- mento vocé esta meio que trabalhando, mesmo que pareca nao estar fazendo nada. No entanto, esse tempo de incubacao é tao importante quan- to a parte visivel de quando vocé faz algo. O mes- mo acontece no escritorio, quando vocé esta pro- curando uma maneira de melhorar sua empresa. Nem sempre essas respostas virdo em grandes sess6es de brainstorming visiveis, as ideias nao tendem a acontecer quando estamos na correria e tentando nos concentrar nos problemas. HALIMITES PARA O NIKSEN? Tem um capitulo inteiro no meu livro que fala so- bre o que fazer quando o niksen nao esta funcio- nando, mas acho que a depressao é um dos princi- pais fatores. Uma mulher enlutada que conversou comigo disse que todo mundo falava para ela nao fazer nada, mas ela sentiu que sair, fazer coisas e trabalhar a ajudou a passar pelo luto. Esse é ape- nas um exemplo, e ndo quero generaliza-lo para todo mundo que tem depressao, especialmente para aqueles que sofrem tanto que nao encontram forcas para fazer qualquer coisa além de ficar em casa sem fazer nada. Claro, existem outros exem- plos. Alguns trabalhos requerem que vocé esteja sempre fazendo coisas na rua, e vocé nao pode fi- car sem fazer nada, senao é demitido. PARA FINALIZAR, 0 QUE VOCE GOSTARIA QUE AS PESSOAS APRENDESSEM COM SEU LIVRO? Espero que vocé leia o livro, observe as partes que funcionam para vocé e entao as aplique. Absorva tudo 0 que vocé acha que é Util. Feito isso, pode ignorar todo 0 resto. NIKSEN ~ ABRAGANDO A ARTE HOLANDESA. DENAO FAZER NADA Editora Rocco. 192 paginas. R$49,90 APESAR DE MULHERES LIDAREM COM O SANGRAMENTO HA MILHARES DE ANOS, ELE AINDA E CERCADO DE TABUS — E DESIGUALDADES SOCIAIS E ECONGMICAS ACENTUAM UM PROBLEMA COMUM E DEGRADANTE: A POBREZA MENSTRUAL ARTENENSTRUAL Isa Sanz, Julla Larotenda, Marilia Sifian|, Timi Pall Menstruei pela primeira vez aos 12 anos. Por coincidéncia, algumas semanas antes havia as- sistido a uma palestra na escola sobre o assun- to, entao eu estava munida de cartilhas e de um absorvente descartavel que haviamos recebido de brinde. Mas, pelo que tinha aprendido ali, a idade média da primeira menstruacao era 14 anos. E ninguém se aprofundou muito no as- sunto dos outros sintomas fisicos que podem aparecer junto com o sangramento. Entdo, quando acordei uma manha com uma forte dor de barriga e, ao ir ao banheiro, me de- parei com sangue na calcinha, dei um grito de pavor. Algo estava errado. Sera que havia co- mido alguma coisa envenenada que estava me fazendo sangrar? Fui acudida por meus pais, que logo entenderam o que estava acontecen- doe me acalmaram. Mas, por causa da dor — na verdade, a primeira das intmeras colicas mens- truais fortissimas com as quais passei a lidar desde entao —, nao fui a escola naquele dia Aexperiéncia da estudante carioca Beatriz Diniz, de 19 anos, foi bem mais complicada. Ela tam- bém menstruou pela primeira vez aos 12 anos, mas nao tinha tido aulas na escola e estava em uma colénia de férias. Lidou com o sangramento usando papel higi- 6nico e pesquisou na internet sobre o que estava acontecendo com 0 proprio corpo. “No ambiente escolar, isso nao é muito abordado, e € uma materia que costuma ser dada muito depois, la pelo nono ano, quando as meninas ja estao com 14 ou 15 anos”, diz. “Se depen- der da escola, elas so vao entender muito depois. E, quando algo nao é conversado, a gente recorre ao Google.” Por mais traumaticas que tenham sido minha experiéncia e a de Beatriz, nds tivemos sorte, se comparado a outras meninas, mulhe- res e pessoas que menstruam. O Brasil tem 7,5 milhGes de meninas que menstruam na escola, segundo o relatorio Livre para Menstru- ar, divulgado em marco e produzido pelo movimento Girl Up, com apoio da marca de calcinhas menstruais Herself e da organizacao NOSSAS. Em 2015, a Pesquisa Nacional da Satide do Escolar (PEN- SE), do IBGE, estimou que 3% das alunas estudavam em escolas que nao tinham banheiro em condicdes de uso — 0 que representa- va 213 mil garotas. De la para ca, esse numero certamente cresceu, ja@ que aumentou também a quantidade de escolas publicas sem banheiro: em 2020, 4,3 mil instituigées nado contavam com um sani- tario, de acordo com 0 ultimo Censo Escolar da Educagao Basica, do Ministério da Educagao. Esse montante é 22,8% maior em relagao ao identificado em 2019. A dificuldade de lidar com o sangramento no ambiente escolar e académico é uma realidade inclusive em paises considerados mais desenvolvidos que o Brasil. Uma pesquisa da Faculdade de Saude e Servicos Humanos da Universidade George Mason, nos Estados Unidos, aponta que 14% das mulheres universitarias no pais nao tém acesso a itens de higiene para lidar com a menstruacao. O problema tem nome e sobrenome: pobreza menstrual Mas isso é so uma das pontas de um iceberg que escancara uma realidade muito preocupante — em diferentes culturas, a mens- truacao ainda é tratada como um tabu. No Reino Unido, 48% das meninas sentem vergonha quando estado menstruadas, segundo dados de 2017 do Plan International UK. Na india, 71% nao sabem 0 que é menstruacao até terem o primeiro ciclo. E na Colémbia, 45% das garotas nado sabem de onde vem o sangue menstrual, e 20% 0 consideram sujo, de acordo com a Unicef. “Quando algo nao é dito, nao é ouvido, é tido como resolvido. Era o que me diziam na universidade, que a questao da menstruacao ja estava resolvida. Mas resolvida para quem?’, questiona a educadora menstrual Raissa Kist, Fundadora da Herself, empresa brasileira que produz solucGes tecnolégicas, acessiveis e seguras para 0 periodo menstrual. “O tabu da menstruacao parte da ideia de que é algo intimo, mas isso nao significa que nao haja uma dimensao publica” UM PROBLEMA DE TODOS Os impactos de nao poder lidar com a menstruacao de forma digna abrangem aspectos econdmicos — uma mulher gasta entre RS 3 mil e RS 8 mil com absorventes ao longo de sua vida menstrual, segun- do o relatorio Livre para Menstruar —, sociais e ambientais. A pes- quisadora Mariana Lopez, do Instituto de Desenvolvimento Global 40 da Universidade de Manchester, na Inglaterra, estima que a India pode enfrentar uma crise de lixo em menos de 50 anos se nada for feito para melhorar 0 acesso de mulheres a produtos menstruais. Em um estudo divulgado no inicio de marco, ela calculou que, até 2030, 0 consumo e manejo desses itens no pais asiatico pode resul- tar em 1,8 milhao de toneladas de plastico e agua descartados por ano. Lopez observou diferentes estratégias adotadas pelas indianas para tentar esconder a menstruacao, como colocar os absorventes em sacolas de plastico individuais ao descarta-los ou até mesmo tentar lava-los, o que gera maior consumo hidrico. Globalmente, cada pessoa que menstrua usa entre 113 e 136 quilos de produtos ao longo da vida — multiplicado por 1,9 bilhao, nime- ro estimado pela ONU de meninas e mulheres que menstruam no mundo, 0 aciimulo de lixo pode ser tornar insustentavel. No Brasil, uma mulher descarta 3 quilos de absorventes a cada ano, segun- do 0 movimento Recicla Sampa. “Para muitas mulheres, pode ser estressante socialmente lidar com a menstruacao. Entao as esco- Ihas que elas fazem sao mais guiadas por normas sociais e fatores como o prego [do que o impacto ambiental)", analisa a pesquisa- dora da Universidade de Manchester, em entrevista a GALILEU “As normas sociais determinam como elas descartam os produtos, porque ainda existe muita vergonha associada a deixar que Os ou- tros saibam que vocé esta menstruada.” Na visdo de Lopez, porém, a sustentabilidade nao deve desviar a atencao do problema principal. “Nos tendemos a focar no lixo, que - + “IN6s nao podemos deixar _de desafiar os tabus, Porque sem isso nunca | wamos de fato empoderar . @s mulheres” Mariana Lopez, pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Global da Universidade de Manchester ~ é um problema grave e sério, mas ha muito mais para falar sobre o tema do que sd isso”, pondera a especialista. “Acho que estamos no ponto de perceber que é um problema muito maior do que imagina- vamos, por isso € 0 momento de resolver essas questdes e de dizer ‘dtimo, agora que estamos finalmente falando disso, vamos fazer da maneira certa. Nao podemos deixar de desafiar os tabus, porque sem isso nunca vamos de fato empoderar as mulheres.” A fundadora da Herself concorda: “Nao existe uma solucao Unica’, opina Kist. Ela destaca que alternativas reutilizaveis, como coleto- res menstruais ou absorventes de panos, tornam-se insustenta- veis na realidade de quem sequer tem acesso a agua ou condicdes a2 de higiene e seguranca para manejar os produtos. E 0 caso de mais de 15 milhdes de brasileiras que nao tém agua tratada em casa, de 26,9 milhdes de mulheres sem coleta de esgoto e 1,6 milhao sem banheiro, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domici- lios Continuada (PNADC) de 2016. “Seria muito massa se pudés- semos combinar 0 acesso a absorventes a sustentabilidade, mas vai muito além disso”, enfatiza a empresaria. “Precisamos comecar com a garantia de que todas nés possamos escolher como quere- mos lidar com a menstruacao.” DEFEITO DA NATUREZA? A menstruacao é parte da vida da maioria das mulheres em idade reprodutiva. Ela nada mais é do que a descamacao das paredes in- ternas do titero, o endométrio, quando um Ovulo nao é fecundado. Ou seja, todo més, 0 corpo feminino se prepara para uma possivel gravidez e, caso ela nao ocorra, elimina 0 tecido que nao sera ne- cessario. “Por milhares de anos, as mulheres deixavam as roupas absorverem 0 sangue ou usavam panos velhos ou outros tecidos para lidar com a menstruacao”, relata a historiadora norte-ameri- cana Lara Freidenfelds, autora do livro The Modern Period: Mens- truation in Twentieth-Century America (Menstruacao Moderna: a menstruacao na America do século 20, em traducao livre, sem edicao no Brasil). “Eram tradigdes muito, muito antigas e formas de pensar sobre 0 corpo da mulher que entaéo mudaram dramati- camente a partir do fim do século 19, quando o que eu chamo de “‘menstruacao moderna’ entrou em cena.” 43 Se no passado muitas culturas enxergavam a menstruacao como uma rotina de eliminagao de sangue ‘ruim” (e algumas o conside- rassem algo sujo), 0 pensamento mudou para o da contencao: do corpo e do sangue. “A mulher entendeu que se ela aprendesse a lidar com 0 sangue de modo que ele nao aparecesse ou tivesse cheiro, ela poderia fazer todas as atividades normais enquanto es- tivesse menstruada’, explica Freidenfelds. Os primeiros produtos criados especificamente para a menstru- acao surgiram nos Estados Unidos entre 1854 e 1915, periodo no qual ao menos 20 patentes foram estabelecidas para esse fim no pais. Entre as inovacées, coletores menstruais (na época, eram fei- tos de aluminio ou borracha), calcinhas de borracha e absorventes descartaveis. Esses Ultimos foram popularizados a partir de 1896, com uma versao desenvolvida pela farmacéutica Johnson & John- son chamada Lister's Towels. Ainda assim, a maioria das mulheres tinha vergonha de comprar o produto, o que prejudicou o sucesso comercial. Depois da Primeira Guerra Mundial, enfermeiras perce- beram que a celulose era muito mais eficaz na absorcdo do sangue em comparacao a tecidos. Isso levou a criagéo do Kotex, o primeiro absorvente feito de celulose, com sobras de curativos usados na guerra, que entraram no mercado a partir de 1918. Mas, ainda que o surgimento desses produtos tenha contribuido para modificar a maneira como as mulheres gerenciam a menstru- acao, 0 preconceito em torno dela so cresceu. Em uma analise de anuncios de absorventes veiculados entre 1920 e 2020 em revistas 44 na Australia, a professora de design de comunicacao Jane Connory, da Universidade de Tecnologia de Swinburne, identificou que a ideia em voga era que os produtos eram um tratamento para um proble- ma médico. Em vez de ser considerada algo natural, a menstruagao era tratada como uma doenca. Foi so em 1974 que a palavra mens- truacao passou a ser usada em pecas comerciais no pais no lugar de “defeito da natureza” ou “motivo de acidentes”. E essa nado era uma realidade exclusivamente australiana: nos Estados Unidos, 0 termo comecou a ser veiculado em anuncios de TV apenas em 1985. Segundo Freidenfelds, a popularizacao dos itens de higiene mens- trual coincidiram com o momento em que as mulheres comecaram a ocupar diferentes postos de trabalho, nas fungdes chamadas de “colarinho rosa”. “Passou a haver uma demanda para ter uma espé- cie de apresentacao pessoal, de poder gerenciar 0 proprio corpo, em um ideal de que qualquer um poderia trabalhar para conquis- tar sucesso e que a trajetdria de vida nao depende da classe social e de onde a pessoa nasceu’, relata a historiadora. Mas, ao mesmo tempo que representavam menos empecilhos para lidar com a menstruacao, os absorventes descartaveis também au- mentaram as despesas do lar. E, ainda hoje, o que foi considerado um avanco permanece inacessivel para muitas mulheres — e longe de ser uma solucao definitiva para gerenciar a menstruacao. “Esta- mos falando de problemas que sabemos como resolver, a menstru- acao @ um processo totalmente mapeado, nao tem mais nenhum mistério, mas mesmo assim ele continua enviesando 0 acesso a ae Wa itt CT) Poe escolha, entao Pott. CYC Ty Ca Cot oportunidades para mulheres” Pete Ca Ce) (ore eed oportunidades’, pontua Leticia Bahia, que coordena 0 movimento Girl Up Brasil. Presente no pais desde 2018, a iniciativa global treina, inspira e conecta meninas para que se tornem ativistas pela igual- dade de género — e isso também passa pelo direito de menstruar com dignidade. “A menstruacao nao é uma escolha, entao nado deve- ria enviesar oportunidades para mulheres”, defende Bahia. Em 2020, quando a pandemia de Covid-19 impulsionou acdes de distribuigao de cestas basicas, os clubes do movimento Girl Up no Brasil perceberam a falta de um item fundamental na lista-padrao: absorventes. “Esse ainda é considerado um item cosmético, nao 46 essencial’, observa Beatriz Diniz, que integra o Clube Elza Soares, na capital fluminense, parte do Girl Up. Diante da situac¢ao, as ado- lescentes se mobilizaram para arrecadar o item e inclui-lo nas do- agées. Com o prolongamento da pandemia, porém, as jovens per- ceberam que precisavam fazer algo mais duradouro. O clube decidiu, entao, partir para a esfera publica, a Unica manei- ra de tornar a inclusao de absorventes nas cestas algo garantido. “Descobrimos que isso so aconteceria com um Projeto de Lei (PL), mas nenhuma de nos tinha conhecimento politico”, relata a estu- dante Amanda Sena, de 18 anos, que encabecou 0 movimento pelo PL junto a Diniz. O deputado estadual do Rio de Janeiro Renan Ferreirinha (PSB) se mostrou interessado em representar a causa, @ as jovens escreveram um Projeto de Lei. Em julho de 2020, o PL 8924/2020 se concretizou em lei estadual, que estabelece que ab- sorventes e fraldas devem ser incluidos na cesta basica Essa nao foi a Unica lei que trata do acesso a produtos menstruais a ser aprovada no Brasil, nem no mundo. Em novembro do ano passado, o parlamento da Escécia aprovou por unanimidade uma norma que disponibiliza produtos menstruais gratuitos a todas as mulheres. Por aqui, uma lei promulgada no Distrito Federal em ja- neiro tornou gratuita a distribuigao de absorventes para pessoas de baixa renda e em situacao de vulnerabilidade nas escolas publi- cas e unidades basicas de satide. Ja em Sao Paulo, 0 PL 1177/2019 une representantes femininas de diferentes partidos pela univer- salizacao do acesso a absorventes e a conscientizacao para acabar com o preconceito que ainda cerca a menstruacao. DSS Ih DESCARTAVEIS NTS sg OWS) 0 0) Naar ese rie Gees COM O SANGRAMENTO COMO HOJE. CONHECA ALGUNS DOS ITENS MENSTRUAIS MAIS USADOS STU aren see ne viiae) a a aaa) eee eRe RE Ic) TER eae cc SR etd Cee Re eee ced conhecidos como tampax (nomenclatura americana) ou CPE eue ee Te eRe ce Portugués). Atualmente, um pacote com oito absorventes eee eu Loe ae ea ented Pe Se mae Oe eo Int un ee ee ac De sue ee enc Ta 1937 pela norte-americana Leona Chalmers. Com formato de sino ou taca, sd0 feitos de silicone médico, elastomero Pe menue eee T) Coe eee eC eek es Ut) Quase como uma verso moderna dos panos e tecidos Pee eu Sus cus ea od diversas marcas apostam em tecidos tecnolégicos com Be eee ne Custam a partir de RS 25 e tém, em media, trés anos de Seer Ce oy ‘Ainda na tendéncia de tecidos lavaveis, as calcinhas menstruais vém com o absorvente ja embutido e sdo consideradas uma boa alternativa para pessoas em situacao de vulnerabilidade, pois dispensam 0 uso de Pee ee merece cas de R$ 50 e duram cerca de trés anos. Depois disso, elas eT Ue ed te eee ee Bate eee ead MILENIOS DE HISTORIA AFORMA COMO ENXERGAMOS E LIDAMOS COM A MENSTRUACAO MUDOU MUITO AO LONGO DOS SECULOS, E AINDA VARIA DE ACORDO COM CADA CULTURA Nos tempos biblicos, as mulheres se congregavam para menstruar, e as geracdes mais antigas contavam historias para as mais jovens. Na Roma Antiga, acreditava-se que uma mulher no periodo menstrual tinha o poder de espantar desastres naturais e pestes na lavoura. 0 cheiro de uma mulher durante a menstruacao no século 18 era considerado afrodisiaco, pois era associado a fertilidade. Na Alemanha do inicio do século 19, era normal que as mulheres permitissem que o sangue fluisse livremente pelo vestido. Nos anos 1870, as mulheres usavam suspensorios para manter os absorventes no lugar. Fonte: websérie Period Piece (periedpeceotficoicom)

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