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ERIC HOBSBAWM ERA DOS EXTREMOS O breve século XX 1914-1991 Trango: MARCOS SANTARRITA Revisin séenien MARIA CELIA POLE P eaigco 28 impress ‘SBD-FFLCH-USP A | 242500 oe ETS Sea book ee, § 2003 3 Gong 21994 by Bike Hopatuam Fata testo ¢ publica por acorn comm Pantheon Books, ama dvéo da Ronde Hesse In “Titulo ogi Age of earemes The shor wench vonouy: 4-199) oe Male de Ameo Propario Stella Wine, Marte Laur Santos Bacto ‘Marc Las Femwines, Spde Maria Pein dos Saas Ince rerisive ‘Gare Ie Aline Sere Lome Resiio, armen $d Casts Touche! Floral Vans ao Ss Si ero ‘a ete Pic she Pin" yn ek Trap cntape acc skit ns Cobaainwned tne Sst a5 DEDALUS - Acervo - FFLCH-Hi ‘Todos odetos desta eagao reservados 8 ‘Rua Bandeits Pass, 702, 32 ‘94552-0812 — Sd Pato — sr “Telefon: (11) 167-0801, ax: (11 4167-0814 ‘wor companhiadaterscom.be INDICE Previn ¢agradecimentos bee 1 O séeulor vista adres. fa Parte um AERA DA CATASTROFE TAL 8 cra da guerra total . 2.4 revolugdo mundial eee 3. Rume ac abismo econémica 4. A queda do liberalismo 5. Contra o inimigo comum 6 Asanes IAS... ccc 7.0 fim dos impérios Parte dois AERA DE OURO. 9.Os anos dourados, 10, Revolugio social H. Revolugao cultural... ceeee 12, 0 Toreeito Mundo 13, "Socialismo real” Parte tres © DESMORONAMENTO 14, As Décadas de Crise : . 18 29 ot 2 144 198 ma - 253 282 2314 2337 363 15, Tereciro Mundo € revolugao 16, Fim do socialismo 17, Morre a vanguastda: ss artes apds 1950 18. Feiticeiros e aprendizes: as cigneias naturals, 19, Rumo go mil : Bibliografia Outras leinuras lusiragies . Indice remissive so... 421 483 504 537 563, 579 583 385 PREFACIO E AGRADECIMENTOS io € possivel escrever a historia do século Xx como ade qualquer outra poe: quando mais nBo fosse porque minguém pode escrever sobre seu pr- ‘0 tempo de vida como pode (c deve) fazer em relago a uma época conhe- is apenas de fora, em segunda ox: terceira mio, por intermédio de fontes dz poca ou obras de historiadores posteriores, Meu tempo de vida coincide com a maior parte da época de que trata este tivro e durante & maior parte ce meu temipo de vida — do inicio da adolescéncia até hoje — tenino tido consciéncta dos assuntos pblicos, ou Sea, acumlei opinives ¢ prevonceitos sobre & po «a, mais come contemporineo que como estudioso. Este & ums dos motives polos guais, enquanto historiador, evited trabalhar sobre a era posterior a 1914 ddarsate quase toda a minha eastcira, embora no me abstivesse de esceever sobse cla em outras eondigdes. “Minka época”, coma se diz no jargic profis- sional, ¢ 0 século xix. Acho que jé € possivel ver o Breve Século xx -= de 1974 até o tim da era soviética — dentro do uma certa perspectiva histériea, mas chego a cle desconhevendo a literatura académica, para nio dizer que desconhego quase todas as fontes primarias acumuladas pelo grande nimero de historiadores do séeulo Xx. Claro, na pritica é completamente impossivel um sé pessous conhecer & historiogeafia do presente século— mesmo em uma snica Lingua importante come, por exemplo, © historiador da Antiguidade classica on do império bizantino conhece tudo o que foi escrito sotme esses longos perfodos, na época e depois. Mesmo pelos padiies de erudigte histéries, contudo, mew conbect- :nento no campo da hisidria contemporfinea & precsrio e inegular. O méxitmo ‘que conseaui fot mergulhar na Titeratura das questées mais espinhowas ¢ con. trovertidas — a histéria da Guerra Fria ou dos anos 30, por exempto— o suf ciente para convencer-me de que as opinides expressas neste livro so defen- saveis 8 fur da pesquisa especiatizade, Claro, posso nao ter conseguido. Deve hhaver iniimeras questOes quanto as quais demonstro ignoraancia ¢ defendo opi- nides polmicas. Bute livma, portanto, assenta-se sobze alicerces estanharpente irregulares, Alem da ampla ¢ variata teitura de mites anos, complerentada por toda a Ieirusa necesséria para dar cursos de hist6ria do sSculo Xx aos pos-sradeiandos da New School for Soctal Research, recor ao conhovimento, is memorias & 4s opinides acumulados por nna pessoa que viveu o Breve Século xx na posi- {30 de "observador participante”, como dizem os antiopdlogos sociais, ou Simptesmente como win Viajante de ols abertos, ou como o que meus ances ‘rals chamatiam kébbirzer — ¢ isso em indmmeros paises, O valor histirico des- sus experiéncias nfo decorre de ter presonciaclo grandes ocasibes historias ow de ter conhecido ou encontrado destacados estadistas ou protagonistas da his- teria, Na verdade, minha experiéncia como jornaista ocasionsl em pesquisas neste ou naguele pais, sobreao da América Latina, em sido a de que em eral as cntrevistas com presidentes bu outros tomadores de decisto nao so compensadoras, pela Tazdo dbvia de que a maior parte do que essus pessoas izem é para registro pablico. As pessoas que nos esclarecem de falo sto as, ‘que podem —- ou querem — falar livemente, de preferncia quando nfo tém responsabilidade por grandes questes, Apesar disso, meu conhecimento de pessoas ligares, erobora forgosamiente parcial e enganados, me foi de enor- ime valia, mesmo ‘ratando-se tdo-semente de visiiar & mesma cidade num imervalo de trinta anos — Valencia ou Palermo —, fate que permite com preender a rapidez ¢ o ambito da transformacio social no terceiro quarte! do presente século, ou mesmoo tratando-se t20-sornente da lemibranga de algo di ‘ha muito tempo em algama conversa e guardado, is vezes sem motivo claro, para uso futuro. Se © historiador tem condigées de entender slgame coisa deste século €emm grande parte porque via ouviu. Espero ter transmis wos leitores algo do que aprend por t-20felta Come nao poetia deixar de ser, exte livro também se baseia nas infor- mages obticis junto colezas, estuclantes, ¢ todos @ quem abordei durante sea claboragio. Em aiguns casos a dfvida € sistemiética, O capitulo sobre as cigncias foi submetido 2 meus amigos Alan Mackay FRS ~~ que ulm de cris- taligrafo € enciclopedisia — e John Maddox, Parte do que eserevi sobte desenvolvimento econdimic passou pela leitora de meu colega na New School. Lance Taylor. que foi do nt Massachusetts Institute of Technology —~ Institwio de Tecnologia de Massachusetts}; uma parte muito maior depen- dew da leitura de trabathos, do acompanhamento dos debates e, de um modo eral, da atengio dedicada as conferéncias organizadas sobre varias questes mucroecondmicas no Tnsituto Mundial para Pesquisa de Dasenvoivimento FconGmico da Universidade da ont (uNufwinsse), em Helsing, quando esse Instituto se cansformou num grande vento intemacionsl de posejuisa ¢ deba- tes sob a diregao do dr Lal Jayawardena, Os verdes que tive ccusio de pas. sat nessa admriravel instvuigao, na qualidade de pesquisador visitante com bolsa da MeDonne} Douglas, foram-ae inestimdveis, inclusive por sua proxi- 8 rmidage da uRss e sua preocupagdo intelcetual com os ditimes anos desse pats Nem sempre accitei « concelio daqueles a quem consattei e, mesmo quiindo o fiz, a responsabilidade pelos eros ¢ exclusivamente minha, Beneficiei-me muito das conferéncias ¢ coféquios durante ox quais os acakimicos dedicam ‘boa parte de Seu tempo a encontar seus pares, inclusive com o objetivo de ‘esimular-se unis a0s outros. Nao fenho como agradecer a todos 0s colegas que ine ajudaram ou eorrigiram em ocasides foroais ¢ informais, nem toda a ine Formagio que adquiti por aeaso, por ter # sorte de ensivar a win grupo muito internacional de estudantes na New School, Contudo, penso que deve especl. fear meu reconhecimento para com Fordan Engut ¢ Alex Julca, pelo que aprendi em seus trabalbos sobre a revolugio turca e a natureza da migragdo & ‘obitidade social no Terceiro Mundo, Devo, ainda, & tose de douroramento de minha aluna Margarita Giesecke, sobre 2. APR €0 leva de Trujillo em 1922, ‘A medida que 0 historiador do século Xx se apronimia do presente, fica cada vez mais dependente de dois ipos de fonte: a iprensa didrta ou perié- ica ¢ 08 relatérios econdmivos periddicos e outras pesquisas, compilacdes cstatisticas ¢ outras publicagdes de governos nacionais e institwigbes interna cionais. Minha divida pare com jomals como e Guaniian de Londres, 0 Einancial Times ¢ 0 New York Times & mais que evidente, Minha divide para com as inestimaveis publicagbes das Nagdes Unidas e seus varios organismm0s © para com o Banco Mundial estéregistrada na bibliografia. Hi que lerubra, ‘sinda, a antccessora dostes, a Liga das NagOes, que einbora na pritica Fosse um fracasso quase tol, realizou admirveis posquises ¢ andises, que eulm rnaram no pioneito tndiustrialisation and World Trade (industrializagao € ‘comércio mundial}, de 1945, merecedoras de nossa gratidao. Nenbusna hist tia das mudangas sociais © econdmicas ocorridas neste século poderis ser escrita som essa Fontes, 0s leitores teri de aceitar a maior parte do. que escrevi neste fivre nt base da eonfianga. cam excecdo das Obvias opinides pessoals do autor, Nao bs sentido em sobeecarregar am livro como esie com um enone aparato de refe- réncias ou outras marcas de erudigio. Tenlei restringir minis referencias & fome das citagdes textuais, das estatisticas e outros dados quantita vos — fontes diferentes as veees apresenam mimeres diferentes —¢ # ocasionaljus- bificagio de afirmagies que os leitores possam achar pouco comuns, deseo- hecidas oo inesperadss e de alguns aspectos em que as opinides eonvroverti das do autor possam exigit uma certa corroboragao, Essas referéneias esto ‘eure parénteses no texto. O titulo complete da Fonte encontra-se no final do ‘volume. Essa bibfiografia néo passa cle ume relagio completa de todas as fon- tes ofetivamente citadas ou mencionadas no texto, Ela do é um guia sistemé- tico para outrasIeituras. Depois da bibliogratia hd wm breve indicador de outras Icituras. O conjunto das referencias tainbém foi concebido slo mod a ficar bern sepurado das notas de radapeé, que apenas ampfiam ou restingem 0 texto, 9 Contado, por uma questio de justica, quete indicar alums obras em «que me apoiet bastante oa com que estou particularmente em débito, Eu no ‘gostiria que seus autores defxassem de sentir-se devidamente apreciados, De ‘um modo geral, devo muito i obta de dois amigos: o istoriador economico € infaigivel compilaor de dados quantitatives Paul Bairoch ¢ Ivan Berend, cx- presidente da Academia Hingara de Ciéncias, « quem devo 0 conceito do Breve Século xx. Sobve a bistria politica geral do mundo desde a Segunda Guetta Mundial, 8. Calvocoressi (World polities since £945 {Politica mundial de 1845 em diante}) foi um guia seguro ¢ ds vezes — eampreensivelmente — ‘cistico, Sobre a Segunda Cnera Mundial, muito devo ao soberbo Ria, eco omy and society’ 1929-45 [Guesta, ecoaomia ¢ sociedarle 192985}, de Alan Milward, ¢, sobre a economia pis-1945, achei utilissimos Prosperity and upheaval: The world economy 1945-1980 {Prosperidade € revolt: 8 economia mma! de 1945-1980), d& Herman Van der Wee, © Capitalism since 1945 {[Capitalisme a partir de 1945), de Philip Armstrong. Andrew Glyn ¢ John Harrison. The Cold War [A Guemra Fria], de Martin Walker, merece uma aten~ gio muito maiot do quc a moma recepg#o que lhe reservarant os erikicos Sobre a histéria da esqnerda desde a Segunda Guerra Mundial, muito devo a0 dt, Donald Sassoon, do Queen Mery and Wesificld College, Univessidade de Londres, que teve a bondade ge me deixar ter seu vaxto e esckarecedor estado cdo assumto, ainda incompleto, No que diz respeito & historia da URss, minha ‘ivida principal € para com os textos dz Moshe Lewin, Alec Nove, R. W. Davies e Sheila Fitzpatrick; no que diz respelto & China, pare com os de Benjamin Schwartz ¢ Stuart Schram; e no que diz respeito a0 mundo istimni- co, para com Ira Lapidus © Nikki Keddie, Minhas opinides sobre as artes muito devern &s obras (@ & conversa} de John Willett sobre a cultara de Weimar, bem como a Francis Haskell. No cupstulo 6, penso ser ébvia minha alivida para com 0 Diaghilev de Lynn Garafola. ‘Mens agradecimentos especiats aos que me ajudaram coneretamente a preparar este livro. Sd eles, em primero lugar, minhas zuxiliares de pesqui- sa Joanna Bedford om Londres e Lise Grande em Nova York, Gostaria de acentwar sobretudo minha divida para com esta tltima, sem quem eu nao poderia ter preenchido as enorme lacunas em meu conhecimento nem conle- ido fatos ¢ eeferéncias lembrados apenas pels metade. Também sou muito gato a Ruth Syers, que dutitografou meus rascunhos. et Mariene Hobsbawm, ‘que leu varios caprtulos do ponto de vista do feitor no académico com inte- esse yenrico pelo mundo modemo, « quem este livo se diige Jé mencionei minha divide para com os estudantes da New School, que assistiain 36 aufas nas quaistentei formlarsninhas idsiase interpretagoes. A les dedico este tiveo, Erte Hobshavan Londres — Nova York, 1993-4 10 O SECULO: VISTA AEREA Olhar panorémico DOZE PESSOAS VEEM O SECULD XX Isaiah Berlin (M6sofo, Gra-Bretanha): “Vivi a maior parte do século xx, deve actescentar que nio sofri provagdes pessosis, Lembro-o apenas como 0 século mais terrivel da historia” Julio Caro Baja (antropstogo, Espanha): “Hi uma contradigio pateme entre 9 experigncia de moss propria vida —-infimcia, juventurle ¢ velhice pas- sada trandpiilamente e sem maiores aventuras ~~ ¢ 0§ fatos do séoulo XX.. 05 terriveis acomecimentas por que passou a humanidace”, Primo Lest (esesitor, Iulia): "Ns, que sobrevivemos dos Campos, 10 somos verdacleiras testemunhas, Ea é um idéie ineémods que passe! a0s pou cos a aceitar, ao Ter 0 que outros sobreviventes esereveram — inclusive ew -mesma, quando releio meus textos apos atguns anos. NOs, sobteviventes, somos ‘uma minoria no 86 miniscufa, como também anomata, Somos aqueles que, Por prevaricacdo, habifidade ou sorte, jamais tocaram 0 fundo. Os que tocaram, © ‘que viram a face das Gérgones, no veltarur, ou voltaram sem palavras”. René Dumont (ageOnomo, ecologists, Frangay: “Vejo-o apenas como um seule de massactes ¢ guerras” Rita Levi Momtatcini (Prémio Nobel, ciéncia, Ilia): “Apesar de tudo, neste século houve tevolugbes para melhor [..] o sungimento do Quarto Estado ea emergéncla da mulher, apds steulos de repressio! William Golding (Prémio Nobel. esctitor, Gri-Bretanhay. “Nio passo deixar de pensar que este fot 0 séeulo mais violento da historia humana”. Ennst Gombrich (historiador da arte, Grit-Bretaha}: “A principal carac- " teristica do século xX € # tersiyel multiplicagao da populagdo do mundo, B uma ceatdstrofe, uma tragédia, Nao sabemos que fazer a rospeito! Yehudi Menubin (misico, Grs-Bretanh séeulo XX. ditis que despertou as maiores esperangas jd conechidas pela hunaa- nidade ¢ destruiu todss as ilusdes ¢ ideais" Sever Ochoa (Premio Nobel, citncia, Bspanhay:“O mais fundamental & ‘6 progresso du cigncla, que tem sido realmente extraordinéro f..J Eis © que cearacteriza nosso século™ Raymond Firth (antropologo, Gri-Bretantu): “Teenologicamente, eoloce: 0 desenvolvimento da cletrOuics entre 0s fios mais significativos do século Xx; em termos de iddias, destaco & pussagem de uma visio relativamente ‘acional ¢ cientifiea das coisas para outta nto racional e menos cientifica’” Leo Vatiani (historiador, alia}: "Nosso século demonstra que a viteria dos ideais de justiga e igualdade ¢ sempre efemera, mas tambérn que, se con= seguimos mantes i Jiberdade, sempre & possivel recamegat [...] No bd por que desesperar, mesmo nas situagdes mais desesperadas” Franco Venturini (bistoriador, Walia); “Ox Wistoriadores. nie 42m como Responder 9 essa pergnnta, Pars mim, o séeulo Xx é apenas © esforgo sempre renovade de entendé-to" » CAgosti & Borgese, 1992, pp. 42, 210, 154, 78, 4, 8,204, 2,62, 86, 140.€ 160) ’ fn 28 dle junho de 1992 0 presidente Mitterrand, da Franga, apareceu de forma sabita, ado anuncisda e inesperada em Sarajevo, que jé era 0 centro de ‘uma guorra halednica gue ira custar eorca de 150 mil vidas no decorrer daque- Je-ano. Sew objetivo era lembrar& opinigo publiea mundisl a gravidade da crise bosnia. E, de tuto, foi muito observada e admirads a presenga do conhceido estadista — i030 © visivelmemte frig) sob fogo das artaas portals e da aritharia, Um aspocto da vista de Miterrand, contudo, embora claramente Fundamental, passow despereebido: x data. Por que o presidente da Franga escolhera aquele dia espectfico para ir & Sarajevo? Porque 28 de junho ert 0 aniversirio do assassinato, em) Sarajevo, ex 1914, do arquiduyue Francisco -Eendinando da Austris-Hungria, ato que em poucas semynas levon & eclosdo «la Primeirt Guetsa Mundial. Para qualgner ewropen cult da geragéo de 2 Miticerand, sltava aos olhos 3 Tigagio entre data e fugar ¢ a evocagao de uma catistrofe hisidriea precipitads por um erro politico e de ealeulo, Que melbor maneita de dramatizar as implicag6es pocenciais da crise bdsnia que escolhen- do uma dato assim 180 simbolice?” Mas quase ninguém eapton 3 ahasao, exee- to uns poucos historiadores profislonals eidaddos muito idosos. A meni bistérca fa nao estava viva ‘A dostnuigao do passado — ou melts, dox mecanismas socials que vin- ccrlam ors experigncia pessoal a das geragées passadas — é um dos Fentime vnos mais caracteristicos € Togubres do final do séeulo xx, Quase talos os {ovens de hoje exescem mums expécie de presente continuo, sem qualquer rla- cio orginica com o passado publico da epoca em que vivers. Por isso 0s his- toriadores, cujo oficio € lembrar © que outros esquecems, tornam-se mis importantes que nunca no fim do segundo milo, Por esse meine moto, porém, eles tn de ser mais que simples eronistas, memoriulistas e compila- dores. Ein 1989 todos os govenos do raundo.e particularmente txlos 08 ni- nistetis do Exterior do mundo, te-se-fam heneficiado de umn seminainio sobre 6 acordos de par fimados apés as duas guerras imundlais, que a maloriadeles, aparentermente havia esqueci. Contudo, nfo é propésito deste livre contar a hisuiia da Epoca de que trata, 0 Breve Seculo Xx entre 1914.¢ 1991, embora todo aquele que ja tenha ‘ouvido um estudante amerivano inteligente perguntar-the se @fute de falar em Segunda Guotta Mundial” significa gue houve uma “Primeira Guerra Mun- ial” ssiba muito bem que nem sequer o vonhecimento de fates Bisicos do _séeuto pode ser dado por eetto. Meu objetivo ¢ compreender e explicar por gue as coisas deram no que derantc como clus se relacionain ente si, Para qual ‘quer pessoa de minha Wade que tenba vivide todo © Breve Século XX ou a rmator parte dele, isso & tarnbém, inevitayetmeate, uma empresa autobiograti- ca, Trata-se de Comeniar, ampliar (€ eorrigir) nossas proprias memerias, E alamos como homens e muthcres de determrinado terapo e lugar, envolvides de diversas maiieiras em sua historia vomno atones de seus dramas — por mais Insignificantes que sejam nossos paptis—. como observadores de nossa Spoca €, igmalmente, como pessoas eujas opinides sobre 0 sécoe foram formudas pelo que viemos a considerar acontecimentos cruciais. Somos parte deste século, Ble € parte de nds. Que nao 0 esquegain as feitores que pertencem ‘outa era, por exemplo os estudantes que esto ingressando na universidade 0 ‘momento em que escreve e para quem si¢ a Guerra do Vietnd é pré-histria Para oy historiadores de minha gerasao e oFigem o passado ¢ indestrut vel, no apenas porque pertencemos & geragio ent que Twas e logradouros pubticos ainda tinbam nomes de bomens e zeontecimentes pablicos ts estagio Wilson na Praga de antes da guerra, a estagdo de metré Stulingrido ert Pats) com que os tratados de par ainda eram assinados ¢ portanto tina de ser iden Sificados (Trutado de Versalhes) e 08 memorias de guerra Jemibravam aconte- B c cimestios passadios. como tbe porque os acontecimentos publicas so parte da textura de nossas vidas. Eles no s80 apenas marces om nossas Vidas privadas, mas aquilo gue formou nossas vidas, nto privadas como pabicas, Paraeste aur, o dia 40 de janeito de 1933 nao e simplesmente a data, 9 parte isso avhitrria, om que Hiller se fornous chanceler da Aleman, mas também tuma tarde de inverno em Berlim, quando unm joven de quinge anos © ua iema mais cova voltavam para casa, em Halensee, de suas eseolay vivinhas em Wilmersdorf, em algnm ponto do tajeto viram a manchete. Ainda posso vé- ta, como num sonbo. Mas nio apenas um yelto historiador tem 0 passado como parte de seu presente permanente, Em vastos extenstes do globo codas as pessoas de deter- minds idade, indepeadentemente de origens e histrias pessoais, passaram pelas mesmas expetignelas centrais, Foram experiéncias que mos marcaram 3 todos. en) certs medida da msm Lorma, © mundo que se esTacclou mo fim da décuda de 1980 foi o mundo formado pelo impacto da Revolugio Russa de 19177 Fomos tados marcas por ela, por exemplo na medida em que wos babituamos a peusar na moderva economia industrial ont termos de opostos bindrios, “capitalismo” e “Socialismo™ como ulternativas mnetuamente exclu talistas buscaram solugdes radicais, moitas vezes ouvindo tadlogas seculares do livze mercado irrestito, que rejeiravann as polticas que tio bem haviatn sor- vido 8 economia mundial durante a Era de Ouro e que agora parcciam estar falhanda. Os fansticas do aissez-fore tiveram tanto éxito quaata os demas. Na década de 1980 e infeio da de 1990, a mundo eapitalista viu-se novamen- te 4s voltas com problemas da época do entrogucrras que 2 Bra de Our pare- cia ter eliminade: desemprezo em masse, depiessies cielieas severas, contrar posigo cada vez mais espetacular de mendigos sem feto a nxa abundante, em nei a sencas limitadas de Estado ¢ despesas ilinitedas de Estado. Os pafses sovialisias, agora cam suas ecanamiss desafvindo, vulneravels, fora ienpeli- dos a realizar rupturas igualmente — ou até mais — radicals com seq passado «, como sabemos, ramaram para 0 colapso, Esse colapso pode assinalar 0 fim do Breve Século xx, coma 2 Primeira Guerra Mundial pode assinalar a seu inf cia, Nesse ponto minha histéria cheya ao firm ‘Chega ao fim — como todo livra concluido no inicio da dead de 1990 “com um olhar pera escuridio. O eatapsa de uma parte de munda revelon 9 co malestar do resto, A medida que a década de 1980 passava part de 1990, foi ficando evidente que a crise mandial wi era getal apenas no sentido eco- ndmico, mus tambéin no polfica, O colapse dos regimes. comunistas entre {Istrio ¢ Vladivostok no apenas produziu uma enorme zona de incerteza pot ca, instabilidade, caos ¢ guerra civil, como tembém destruin.o sistema inter nacional que deva estuhilidade 5 relagdes intemacionais durante cerca de {quarente anos. Além disso, esse colapso revelou a precarisdade dos sistemas © politicos intemos apoiadas essenchalmente en tal esthilidade. As tenses das economiay em diffculdades minararn 95 sistemas politicos das demoeraclas Iibetais, parlamnentates ou presidenciais, que desde a Segunda Guerra Mundial vyinhsm funcionando tio bem nos paises capitatisias, assim como minaram todos'os sistemas politices vigentes no Toreeivo Munda. As préprias umidedes bisieas da politica, os "Esiados-navdo” erritoriat, soberanos ¢ indeponden- fes, inclusive 08 mais antigos e estiveis, viram se esfacetados pelas Forgas de sconomia supranacional ou transnacional e pelas Forgas infranacionsa bistria -~-exigiram pata sio status annerdinicoe real de “Estados-nagao" em miniatura, Futuro da politica era obscuro, mas sua erse, no final de Breve Séeulo, patente Alinda mais obvia que as incertezas da economia & da politica mundiais ere a erise seciat e mora, nefletindo as transformagées pos-década de 1950 na ‘ida humana, que tarabém encontraram expressio generalizada, embora con- fusa, nesses Décadas de Crise, Foi uma erise das crengas ¢ spostos sobre os ‘is se apolava a soefedide modeme desde que 0s Modertos ganharam sua famosa bataiha eontra 0s Antigos, no inicio de séoula XV: urna exe das teo- ris sacionatistas & humanists abragadas tanto pelo eapitalsmmo liberal como pelo comnismo ¢ que tormaram possivel a breve mas decisiva alga dos dois, contra o fascismo, que as rejettava, Um observador comenador aleaio, Michuel Siinmer, disse corctamente, cm 1993, que as erenzas do Oriente edo Ocidenie estavam em quest Hid um esranho paraleliano emire Oriente ¢ Osidento, No Oriente, s donttina de ‘Fatado inssta em que a bumanldade ora dona de seu destino, Contad, mesmo nx acredianos nouns. vers40 mepos oficial e extrema do mesmo slogan: @ ‘humane estava para tornar- ix despareceu absolucamente no Oriente, @ $6 yelatiamente ches oH =~ a8 ‘dois Iados nanfragaram. (De Berger. 88, p. 95) Paradoxalmente, ums era cuja nica pretenso de beneficios para humsanida- de se assentava nos enormes tiunios de urn progresso material poiade na cineine tecnologia enceerou-se mum rejeigdo destns por grupos substanciis, {a Opinio priblicw ¢ pessous que se protendiam pensadoras do Ocidente ‘Contndo, 2 cise moral nae diziarespeito apemis aos supostos da cWviiza- 20 de 5 € griipos éinivos secessionistas, alguns des quais — tat & a ironia da ‘80 modoens, mas também is estruturas historicas das relagdes humans que 4 sociedade modema herdara de um passado pre-industrial e pré-capitalista © ‘que, agora vemos, haviam possibilitado seu funcionamento, Nao era a erise de ‘uma forma de organizar sociedades, mas de todas as Formas. Os estranhos ape- los em favor de uma “sociedade civil” néo especiticada, de uma “commnida- de, eram as vozes de geragbes pentidas ct deriva, Blas se Faziam ouvir numa cra em que tals palavras, tendo perdido seus sentidos tradicionais, se Haviam tera frases insides. Ngo restava outa manera de fiir deta de grupo Sendo definir os que nefe no estovam. ‘ Para © poeia“T. §. Eliot, "€ assim que @ mundo aeaba — nao com uma explosio, mas com uma lamaria”. O Breve Século xx se aeabou com 0s dois. m > {Como comparar o mundo da década de 1990 «ao mundo de 1914? Nele vivian $ 6 6 billabes de seres humnanos, talvez trés vezes mais qué wa eclosio dis Primeira Guerrx Mundial, e isso embora no Breve Século xx mais homens tivessem sido mortos ow abandanados & morte por decisio humana que jarvis autos na hist6ria? Uma estimativa recente das “roegamortes” do século mencio- 1g {87 milhoes Breezinski, 1993), 0 equivalonte 2 mais se umm exm der da populace mundial toal de 1900, Na décadt de 1990 a majoria das pessoas era insisaltae pesada que seus pai, mais bem alimicotada ¢ muito mais tongeva cibora talver as catéstrofes das déeadas de 1980 c 1990 na Africa, na América Latina © na ox-U8SS tornem dificil acreditaraisso, O rmndo estava incompa- ravelmente mais rico que jamais em sua eapaetdade de produrir bans ¢ servi- {gs € na intermindvel variedade destes. Nio fore asin, néo teria conseguido ‘rantor uma populagis global maitas vezes maior que jamais antes na Ristori ‘do somndo, Até a décala de 1980 a maiosia das pessoas vivia methor que sous pais ¢, nas econoraias avangadas, melhor que algum dia thaha esperado viver, ‘ou mesmo imaginado possivel viver. Durante shgumas décadss, om meados do séoulo, chegou a parecer que se haviam descoberto maneiras de distribuir pelo menos porte dessa enorme riqueza com unt certo grau de jstign entre os tra buthadores dos passes mais ros, mas no Fim do século a desiguldade volte aa prevalecer ¢ tambxim entrava macigamente nos ex-patses "socialists", ‘onde antes imperava uma cert Igvaldade de pobreza. A hummanidade era muito mais cult que em 1914. Na verdede, talvez pela primeira vex ne historia a maioria dos seres humanos podia ser deserita como alfabetizaca, pelo menos nas extaisticas ofleials, embora o signifieado dessa conguistaestivesse mato menos claro no lina do sScule do que teria estado em 1914, em vista do Foss nore — talvea crescente ~- entte © minimo de competéncia oficialmente accito como sfubetizago, muitas vezes descsito como “analfabetisme funcio- 2 nal”, © 0 dominio di Ieitora © da eserita ainda esperade nas camadas de altima guesra iniciada cou tal declaragao explicita ou imsplicita? Ou que sca- tite bow com um tratado do paz format nlegociado entre os Estados beligerantes? (© mundo estava repleto de uma tecnotogis revolucioniria em avango Durante 6 século Xx as guerras tens sido, cada ¥ez mais, ravadas contra a eco | constante, baseadacm trunfos da eine natural previsiveisemn 1914 max qne soma infeenrutr de Estat econ suas populases cvs, Dee ja epoca mat haviam comegado e euja conseqiéncia poltiea ras impress Primeira Guerm Mundial, © niinero de baixaseivis na guerra tem sido muito {jrumte talvez fosse @ revolugfo nos tnansportes e nas coxmunicagbes, que prati- ios que a6 miliare ez todos os pakesbeligerantes, com excep io dos EUA, | eamventeaulon 0 tempo et distancia, Era um mundo que podia lov a cada Quanios de ns recordam que 2m 1914 se tink por veto que residéncia, todos os das, a qualquer hora, mis informagzo e diverséo do que A puerta cistizada, die-no o manalescoar:Himita-s, a6 onde possve, inca rem ents crteando oceanic conn ao tg dk lgons bates tok ae onetime: fase my ere -quase todas as questées praticas, abotia as vanfagens culmrais da vidade sobre eee ms * campo. 1914, sate: Guerra.) tessa inigualado e maravilhoso, mas num estado de inquictagso? Por gue, Nao & gile ignoremos 0 ressungimento de tortura, ou mesmo do assassinato, como mostram as epigrafes deste capitulo, eantos cérebros pensantes 0 véem ‘como parte normal das operagdes de seguranga piibliea nos Estados moder en retroxpecto sem sutisfugiie, ¢ com certeza sem confiunga no futtro? Nio nos, mas € provavel que mio avaliemos com preciso dramética reviravolta -apenuis porgue sem divide ele foi 0 sécuto mais assassino de que lemos regis. implicita, vonsiderando-se a longa ert de desenvolvimento juridico, desde a _ tv, fanlo na escala, Fregliéncia ¢ extensio da guerra que o preencheu, tual ves- primeira siboligio format da tortura num pais ecidental, na década de 3880, sando por um momento na décacla de 1920, como também pelo volume tinico ale 1944, das catéstrofes humanas que produziy. dese as maiores fomes da historia até Eno entanto niio podewos compara ¢ mundo do final do Breve Seculo © gonocidio sistemético, Ao contrarie do “longo século XIX", que parece, na Xx ao mundo de seu inicio, em termes da contabilidade histérica de “mais” ¢ { verdade foi, um periode de prograsso material, intelectual ¢ moral quase init “menos”, Tratava-se de om mundo qualitativamente diferente em pelo menos! terrupto, quer dizer, de methoris nas condicdes «le. vida civilizada, houve, a tras aspectos, 4 panir de 1914, uma aventusda regressio dos padroes entio tidos camo nor Primeiro, ele tinha doixato de ser eurocéntrico. Trouxera © declinig e | iais nos paises deseavalvidos ¢ nos ambientes cla classe media ¢ que todos queda da Europa, ainda centro inguestionado de poder, riqueza, intelecto € aceeditavam piamente estivessem se espalhando para us regides mais atrasadas “civilizagdo ocidental” quando o século comegou., Os entupeus e seus descen- Visto que este século nos ensinou e continua a ensinar que as seres huma- hnumanidade; uma minoria decrescenic yivendo em paises que mal reprodu- ter mie tipo, ao que moses ines do seete wk ean Seals de 1990 usr Dances sores pena de migrate dat padres de burbarismo. Esguecemos que @ velho sevoluciondrio Friedrich egies pobres, As indistrias, em que a Europa fora pioneira, migravam para, Engels ficou horrorizato cons a explosio de uma bobs sepublicana inande- ‘autras pastes. Os paises do outro lado dos oceanos. que eutrora se voltavam sem Westin Hal — pois com vibe colons, aioe ane pars a'Enmpa aps se seam pace cars ponte Buin Nove Aue Os pogroms ma Russia czarista, que, com justiga, indignaram 4 opinio qual for o significado exate disso, publica ¢ intpetiram milhées de judeus russos para o outny ido do Atlintico: AS “grandes poténeias” de 1914, todas européias, haviam desaparecido, entre 1881 € 1914, eram pequenos, quase insignificantes, pelos padres de como a £RSS, herdeira da Russi czarista, oa sido reduzidas a um starus regio Inte modems. os moro cont so eee ae as pal ourvica com apes try lemanbnO poi efog ara jamais aos millies, Esqnevemos que no passade uma convengio internacional criar uma “Comunidade Européja” supranacioniil Sniea e inveutar um seuso de ‘estuheleveu que as hostitidades da gacrta “nao devem comecia’ sem aviso pre identidade européia a ela correspondente, substituindo as velhus leakdades a vio ¢ explicito, sob « forma de uma wrtazoada declaragio de gnerra ou de umm paises e Estados hisidricos, demonstrava a profundidade desse declinio, rimaian com deehiragtio de guerta condicional”, pois quando Foi mesn¥o & ‘Sena essa ma muclanga de grande significado, a ndo ser para os historia- 2 2B ores potticos? Talvez nio, pois relletia apenan mudancas menons mi confi> uragdo econimica, inteiectsl e eulural do mundo. Mesmo-em 1914, 08 us ‘ei ctam) uma grande econonnia industil, 0 grande pioneiro. modelo ¢ Zorgn propulsora ds prodagao em massa ¢ da csltura de massa que conguistaram o lobo dneance 0 Breve Século Xx, ¢, apesar de suas muitss peceTiaritades. «enum alextensio da Furops no aléin-mar. enquadrande- se no Velho Contineste 50 a denominagio “eivitizagao oeidental”, Quaisaner que fossem saas pers- poctivas Futuris, os 2a da décads de 1990 vieen o "Século Americano" as suas {S0stas, Sus ens de ascensha e triunfo. O conjuato dos paises da industrializa- ‘a0 do seculo 91 contimuava senda, de Jonge, a mbior eoncentrayao de rique- za e poder econémnico © cienifico-eenolégico da globo, alem dagucle cujos povos tinfam, de fonge. 0 mis alto paicio de vide. No fim do sécalo is ssinda compenseva faramente a desindstrilizagao e a mudanga da produgan jaa outros continentes. Nessa media, 9 impressao de um vellio mundo eure- eenitieo o6 “ocidental” er pleno deelinio eta superficial ‘A segunda transformacao foi mais sigpiicativa, Enire 1924 e o inicio da ‘cada de 1990 0 globo foi muito mais wma unidade operacional tnica, como no era ¢ 230 poderia ter sido em 1914. Na ventade, para muitos propdstos, ‘otadamente em quesides ecoadmicas, © globo € agora a unidade opetecional bnisice,¢ atidades mais velhas como as “evonomins nacionais",definidas pelas polhicas de Estados temioriis, esto reduzidas a complicasdes das atividades itansnacionals, Oestigio alcangado ss década de 1990 na comstrugdo da “akleia slobal™ ~~ expresso cunhada na dscads de 1960 (MeLuban, 1962) —-Aao pae- ‘ceri mito adiantado aos observadores de mesos do séawle xt, porém ja ha transformado nif apenas verasatvidades econémicas ¢téeniase ws oporagdes da cigneia, come ainds importantes aspectos de vida privaa, sobretado devido 4 inimazinivel aceleracio das conunieagées e ds wanspertes, Tivee a carac- teristica mais impressionante do fim do séealo Xx seia a tensdo entre cesso de globulizagio eada ver mais acelerado € a ineapacidade conju das / instiigdes publica do compartamento coletivo dos sores hnraanos de s¢ aco-! rnwdarem a ele. E cutioso observar que o comportamente hursano privado teve sens difiel dade para adgptar- se a0 mando da televisdo por satdite. ao come efetronico, as ferias nas Seychelles e ao emprego transoeeénico. A torecira ransformagio, em cettos aspectos & mais perturbadory, 6 a desiniegragdo de velhos padres de relicionamento socia) humano,€ com eh, lids, « quebra dos elos entre as goragies. gues dizer. ene passado e presente nso ficou muito evidente nos paises mais desenvolvidos da versio ocidental de capitalismo, onde predominaram os valores de um individualisae associa! bvoluto, nia nas ideologias offciais come nas née otfcinis, embora muitas eres aquetes que defendem esses valores deploreim suas eonsegigneias sociais. Apesar disso, eneontravare-so as mesma tendéneins em outtas partes, reforgadas pela erosdo cas sociedados e religiges tradicionsis e também pela esituigao, ov auiosestruigio, das sociedades do “socialismo real”. 24 se prof tsa sociedad, formaga por um onjunto de inlivklaos egocentrados sem outra conexdo entre si, em busca spenas da prépria satisfago {o hier. 0 prazcr cu ej i. que for) ,estava sempre implita na earn capitalist, Desde 1'Ere da Revolngin, observadores de todos os mutes ieeolgicos previram a oneejiente desintegragis das velhos agos Sooiais na pratiea © acompanha- ram sev deseavolvimento, E conkecido 0 elogiente iibuto do. Manifesto Comista ao pagel revolvcionéio do capitalism. ¢°A borgvesia [a] despe- dagen impiedosamente os diversas laos Teudais que igavnm 9 homer a seus ‘supariones naturals, ¢ to detxou neahum oatro exo entre hora e home aléin do parointeresse proprio") Mas nie foi cxatomente asim que a nova e revcioniis socedace capitalist funcionou na pritca oo 'Na pritica, a nova Sociedade operou nao pela destruigao maciga de tudo: S: que o herdara da velba sociedad, mas adaptando selesivamente a heranga do ado para iso propria, Nao hi “enigma socieligico” na disposigio da pete burguesa de intzir “um indiviuatismo radial na economia € {uJ despedacar todas as relagde soeiais 20 faré-o" isto é, sempre que ars- palhossem) temendo a0 mesnio (empo o “individualism experimental radi fal" ni enitaa (o1 90 campo do comportamento e da moralidade) (Daniel ‘Bell, 1976, p. 18). A manera mais eficaz de construir uma economia industrial “peseada na empresa prvads era combnd-l om moifvagdes que nada tives [sem a ver com a Mies do five mercado — por exemiplo com a ica protes- Inante; com a’sbstengaa Wa satisfagto imediata: com a ética do trabalho arduo; {com # nogio de devere confianga familiar, mas deeero ndo-com e antin6imi- ‘ca sebetifio dos individaos.”

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