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Pee er ee ue . Pam) es 20 I MER od OO ea Prete roe autores de livros didaticos, responsa- DT Ce code se divergem, com argumentos CT veis e contrarios a0 uso desse recurso. cs Pe aC 0 uso da calculadora ap EC nos anos iniciais do annie reer ee : ladora na sala de aula é o professor, ensino fundamental Beene erent paeeineren eer ane pase nepe pay nr epee Além de expor a discussao | acerca do uso da calculadora, este li- apeerenner nee te | daticos - uma das principais fontes de | consulta e apoio do professor - tem ee mR oe ab ere eet el Brenner od | if P af aluno o uso de recursos tecnolégicos. i | ANA COELHO VIEIRA SELVA RUTE ELIZABETE S. ROSA BORBA E apresentada, ainda, uma série de ati- OR eco ue Cer cs | auténtica Pent ny noes allcas | DD O uso da calculadora nos anos iniciais do ensino fundamental 1 COLECAO TENDENCIAS-EM EDUCACAO MATEMATICA O uso da calculadora nos anos iniciais do ensino fundamental Ana Coelho Vieira Selva Rute Elizabete S. Rosa Borba auténtica Copyright © 2010 Ana Coelho Vieira Selva e Rute Elizabete S. Rosa Borb: orba oo DA COLEGAO TENDENCIAS EM EDUCAGAO MATEMATICA farcelo de Carvalho Borba - gpimem@rc.unesp.br (CONSELHO EDITORIAL Airton Carrido/Coltec-UFMG; Arthur Powell/Rutgers University, Marcelo Borb, G jorba/ UNESP; Ubiratan D’Ambrosio/UN UNESE: jo/UNIBAN/USP/UNESP; Maria da Conceicao Fonseca/ PROJETO GRAFICO DE CAPA Diogo Droschi EDITORAGAO ELETRONICA Idea info Design REVISAO Rodrigo Mansur evisado conforme o Novo Acordo Ortogrsfico .dos pela Autentica Editora. Nenhuma parte desta Todos 0s direitos reserva iduzida, seja por meios mecanicos, eletrénicos, seja publicacdo poderd ser repro via cOpia xerogrSfica, sem a autorizacao prévia da Editora ‘AUTENTICA EDITORA LTDA. Rua Aimorés, 981, 8° andar. Funcionérios 30140-071. Belo Horizonte. MG Tel: (55 31) 3222 68 19 Teuevenoas: 0800 283 13 22 www. autenticaeditora.com.br Catalogacao na Publicacso (CIP) Dados Internacionais de SP, Brasil) (Camara Brasileira do Livro, Selva, Ana Coelho Vieira (0 uso da calculadora nos anos inic Coelho Vieira Selva, Rute Elizabete de ‘Auténtica Editora, 2010. ~ (Tendencias em Educat iais do ensino fundamental / Ana ‘souza Borba. -- Belo Horizonte .c0o Matemética, 21) Bibliografia. ISBN 978-85-7526-476-8 tal 2. Maquinas de calcular na educaTs® 3. Ma- ano 4, Matematica ~ Formacao de professores 5. ogia educacional |. Borba, Rute Elizabete 1. Ensino fundamet tematica - Estudo € en Sala de aula - Direcdo 6. Tecnol de Souza. Il Titulo. I. Série 10-05813 talogo sistematico Indices para cat Ia do ensino 1. Calculadora nas sala de aul fundarnental: Matematica: Estudo © e802 510. CDD-510.7 Nota do coordenador Embora a produgao na drea de Educacao Matematica tenha crescido substancialmente nos lltimos anos, ainda é presente a sensacao de que ha falta de textos voltados para professores e pesquisadores em fase inicial. Esta colegao surge em 2001 buscando preencher esse vacuo, sentido por diversos matemiaticos e educadores matematicos. Bibliotecas de cursos de licenciatura, que dispunham de titulos em Matematica, nao ofereciam publicacées em Educacao Matematica ou textos de Matematica voltados para 0 professor. Em cursos de especializagao, de mestrado e de doutorado com énfase em Educacao Matematica, ainda ha falta de material que apresente, de forma sucinta, as diversas tendéncias que se consolidam nesse campo de pesquisa. A colegado “Tendéncias em Educacao Matematica” é voltada para futuros professores € para profissionais da area, que buscam, de diversas formas, refletir a respeito desse movimento denominado Educacao Matematica, 0 qual esta embasado no princfpio de que todos podem produzir Matematica, nas suas diferentes expressGes. A colecao busca também apresentar tépicos em Matematica que tenham apresentado desenvolvimentos substanciais nas Ulti- mas décadas e que se possam transformar em novas tendéncias curriculares dos ensinos fundamental, médio e universitdrio. Esta colecao é escrita por pesquisadores em Educacao Mateméatica, ou em dada area da Matematica, com larga ex- periéncia docente, que pretendem estreitar as interacGes entre a Universidade, que produz pesquisa e os diversos cenarios em que se realiza a Educagao. Em alguns livros, professores se tornaram também autores! Cada livro indica uma extensa bibliografia na qual o leitor podera buscar um aprofundamento em certa Tendéncia em Educagao Matematica. Neste livro, Ana Selva e Rute Borba abordam 0 uso da calculadora em sala de aula, desmistificando preconceitos e demonstrando a grande contribuicao desta ferramenta para o processo de aprendizagem da Matematica. As autoras apre- sentam pesquisas, analisam propostas de uso da calculadora em livros didaticos e descrevem experiéncias inovadoras em sala de aula em que a calculadora possibilitou avangos nos conhecimentos matematicos dos estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Trazem também diversas sugestdes de uso da calculadora na sala de aula que podem contribuir para um novo olhar por parte dos professores para 0 uso desta ferramenta no cotidiano da escola. Marcelo de Carvalho Borba* *Coordenador da Colecao “Tendéncias em Educagao Matematica”, éLicenciado em Matematica pela UFRJ, Mestre em Educagao Matematica pela UNESP, Rio Claro/SP, e doutor nessa mesma érea pela Cornell University, Estados Unidos. Atualmente, é professor do Programa de Pés-Graduacaoem Educacao Matemética da UNESP, Rio Claro/SP. Por curtos intervalos de tempo, jé fez estégios de pés-doutoramento ou foi professor visitante nos Estados Unidos, Dinamarca, Canada e Nova Zeléndia. Em 2005 se tornou livre docente em Educagao Matematica. E também autor de diversos artigos e livros no Brasil e no exterior e participa de diversas comissdes em nivel nacional e internacional. Sumario CAPITULO I Introdu¢ado CAPITULO II 0 que pensam professores sobre 0 uso da calculadora CAPITULO III 0 que as pesquisas mostram sobre o uso da calculadora em sala de aula CAPITULO IV Usando a calculadora em sala de aula CAPITULO V Como os livros didaticos tém tratado 0 uso da calculadora | | SSP OO PTS) LS ear a CAPITULO VI Outras atividades com a calculadora......... es eeessesseeeeeess 95 CAPITULO VII Finalizando o livro e comegando um trabalho diferente em sala de aula. Referencias .......ssscssscessesssesseesseeeeseesseeeeseeeesseneensees 115 Capitulo I Introdugado A calculadora na sala de aula dos anos iniciais: os atores envolvidos na questao Em estudos educacionais, em particular os que se refe- rem a Educacao Matematica, tem-se debatido a adequacao do uso de ferramentas tecnolégicas contempordneas — tais como computadores e calculadoras — no ensino em sala de aula. Um debate, em particular, refere-se as contribuicgées que estes recursos podem trazer para o desenvolvimento conceitual de alunos. Os atores envolvidos, direta e indiretamente, nesse debate — professores, alunos, pais, editores e autores de livros didaticos, responstveis pela elaboragéo de propostas curriculares e pesqui- sadores, entre outros — apresentam argumentos variados a favor e contra 0 uso de tais recursos em sala de aula dos anos iniciais. O levantamento e as reflexGes sobre os posiciona- mentos desses diferentes atores sao de extrema importancia, pois acreditamos que o que efetivamente ocorre em sala de aula é influenciado pelas opiniGes, decisGes e agdes desses diferentes personagens. Borba e Penteado (2005) argumentam que hd os defensores incondicionais do uso do computador para a solugao de pro- blemas educacionais, embora tais defensores nao especifiquem claramente quais problemas podem ser solucionados e de que Covecho “TeNDENCIAS EM EnucAcdo MaTEMATICA” maneira sao resolvidos por meio do uso desta midia, Por outro lado, esses autores apontam que muitos que sao contrarios ao uso do computador argumentam que a utilizacao dessa Midia pode impedir aprendizados — como a realizacao de contas, 0 tracado de graficos — ou criar dependéncias desse recurso entre os alunos. Outros se posicionam favordaveis ao uso do computador, mas acreditam que ha impedimentos de ordem econémica que inviabilizam 0 uso amplo do computador, em particular nas escolas publicas brasileiras. Borba e Penteado analisam esses argumentos e se posicionam defendendo o uso de computadores na sala de aula como possibilidade de desenvolvimento do(a) professor(a) enquanto profissional da educacao e dos alunos enquanto cidadaos com direito, no minimo, a uma alfabetizagio tecnolégica e, portanto, com direito de acesso a tecnologias desenvolvidas pela sociedade. A discussao sobre 0 uso da calculadora nas salas de aula do Ensino Fundamental — em particular nos anos iniciais de escolarizacao — suscita embates semelhantes. Algumas defe- sas do uso da calculadora séo embasadas no amplo uso dessa ferramenta em situagdes matematicas de fora da sala de aula e 0 fato de que calculadoras simples sao acessiveis as diferen- tes camadas da sociedade. Um argumento desfavoravel é 0 de que criangas novas, que ainda nao aprenderam a realizar as operacoes aritméticas, nao devem ser expostas ao uso da calculadora, pois deixarao, assim, de aprender a realizar as contas basicas — com ntimeros naturais e ntimeros racionais — envolvidas em problemas matematicos. Eevidente que se deve atentar para cuidados no sentido de permitir que alunos de anos iniciais desenvolvam a compreensao das quatro operagoes aritméticas, mas defende-se aqui que, se bem utilizada, a calculadora pode ser uma ferramenta que auxilie os alunos na compreensao do sistema de numeragio decimal, na adicao, na subtracao, na multiplicagao e na divisdo de nu- meros naturais e racionais, entre outros conceitos matematicos. Defendemos que nao é todo uso da calculadora que possibilita exploragGes conceituais, mas, sim, situagdes didaticas bem pla- nejadas com objetivos claros e procedimentos bem selecionados. 10 Introdugao Vale a pena ressaltar, também, que a calculadora nao opera por si mesma e que os alunos precisam decidir 0 que realizarao como auxilio desse recurso e, assim, essa ferramenta nao restringe a autonomia dos alunos em decidirem quais os rocedimentos que adotarao para a resolucao de determinados problemas. Deve-se ter cuidado, entretanto, em possibilitar que os alunos explorem conceitos com 0 uso da calculadora, nao permitindo que a utilizacdo dela se torne um empecilho para ° aprendizado matemiatico. Dessa forma, a atividade realizada com a calculadora é determinante em possibilitar, ou nao, o desenvolvimento matematico dos alunos. Consideramos, assim, importante buscarmos respostas para questionamentos centrais, tais como: O uso da calculadora por alunos de anos iniciais inibe o racio- cinio das mesmas? Este uso pode impedir avangos matematicos futuros? A calculadora pode ser utilizada como um recurso que auxilie o desenvolvimento do raciocinio matemdtico? A proposta deste livro é refletir a respeito dessas questdes e contribuir para o debate sobre como a calculadora pode ser um instrumento util, que auxilie o desenvolvimento de ativi- dades em sala de aula e influencie 0 aprendizado matematico de alunos de anos iniciais. Cysneiros (2003) aponta que a introdu¢ao de novas tecno- logias no Brasil, no inicio da década de 1980, foi concebida como um avanco geral na atividade educativa, desconsiderando-se, muitas vezes, especificidades de disciplinas e de contetidos. Esse autor alerta que “é necessario explorar aspectos da tecno- Jogia que potencializem as atividades de ensinar e de aprender” (p. 37) endo, meramente, utilizar novos recursos como enfeites de técnicas tradicionais de ensino. Assim, novas concepcées de ensinar e de aprender tém que ser apreendidas para que o(a) professor(a) possa utilizar a calculadora de modo eficiente em sua sala de aula. A mera introducao da calculadora, sem reflexao sobre suas possibilidades e seus limites, nao é suficiente para essa midia ser propulsora de desenvolvimento conceitual. Covegdo “Tenpéncias EM Eoucacho MATEMATICA” De modo semelhante, Borba (1999) sugere que a intrody- cao de novas tecnologias na escola deve levar a reflexes sobre mudangas curriculares, novas dinamicas da sala de aula e Novos papéis a serem desempenhados pelo(a) professor(a). Esse autor defende que novas tecnologias nao devem substituir nem, simples- mente, complementar as atividades a serem desenvolvidasem sala de aula. O uso de computadores e de calculadoras pode promover uma reorganizagio da atividade em sala de aula, com novos papéis a serem desempenhados por professores e por alunos. Alunos podem, sob a orientagao do(a) professor(a) ou au- tonomamente, desenvolver exploragées conceituais e construir conhecimentos de forma diferente, a partir do uso do computa- dor ou da calculadora. Respostas serao dadas diretamente por tais recursos aos alunos e estes nao dependerdo exclusivamente de retornos dados pelo(a) professor(a). Esta nova organizacao reflete novas maneiras de aprendizado. Diversos estudos, a serem apresentados e discutidos no Capitulo III deste livro, tm mostrado a importancia, em par- ticular, do uso da calculadora em sala de aula, enfatizando as possibilidades de ampliacao conceitual por parte dos alunos, por meio do desenvolvimento de atividades envolvendo sua utilizag&o. O uso da calculadora também tem sido recomen- dado pelos Parametros Curriculares Nacionais (BrasiL, 1997), que enfatizam a importancia desse instrumento na realizagao de tarefas exploratérias e de investigagdes conceituais, na verificacdo de resultados e na corregao de erros, podendo ser, também, um valioso instrumento de autoavaliagao. Apesar do estimulo ao uso da calculadora — tanto a partir de discuss6es teéricas quanto por meio de observac6es empiri- cas — parece, ainda, haver resisténcias ao uso desse recurso em. sala de aula, o que pode, em parte, ser justificado pela escassez de atividades envolvendo a calculadora encontradas em livros didaticos do Ensino Fundamental. A anialise de livros didaticos de Matematica pode possi- bilitar que se compreenda como vem sendo proposto 0 uso da calculadora em sala de aula, tendo em vista que os livros 12 Introducao diddticos sao instrumentos da atividade docente, seja para a formagao de professores que ensinam Matematica, seja como fonte de difusao de ideias defendidas por segmentos da Educag4o Matematica. Em muitos casos, 0 livro didatico é apontado como 0 principal referencial do trabalho em sala de aula devido,em boa parte, 4 auséncia de outros materiais que orientem os professores em relacdo ao que deve ser ensinado e como fazé-lo. Além de uma orientagao pedagégica geral, os livros podem, também, ajudar professores a enfrentarem suas proprias insegurangas quanto ao ensino e a aprendizagem da Matematica e auxiliarem na organizacao de suas aulas. Neste livro, objetiva-se subsidiar a discussao sobre 0 uso de novas tecnologias, em particular a calculadora, a partir da andlise sobre como a calculadora pode ser um recurso de desenvolvimento dos alunos de anos iniciais. Serao, entdo, apresentados estudos que investigam o papel da calculadora no desenvolvimento matematico, bem como o modo como os livros didaticos destinados a alunos dos anos iniciais tem abordado o uso da calculadora e quais atividades mais fre- quentemente tém sido sugeridas, tais como a exploragao do teclado para o uso da calculadora, a automatizacao de opera- g6es por meio da utilizagao da calculadora, a confirmagao na calculadora de resultados obtidos anteriormente (em cdlculos orais ou escritos) ou a exploracao de conceitos. Sabe-se que mudangas efetivas em sala de aula sé ocor- rerao se os professores se apropriarem dos principios por tras de propostas sugeridas e se estiverem cientes dos riscos que poderdo correr e se, ainda, estiverem dispostos a correr esses riscos e a se empenharem no estudo continuo de como as pro- postas se adequam 4 realidade da sala de aula. Nesse sentido, também discutiremos concep¢ées de professores sobre 0 uso da calculadora em sala de aula e relataremos experiéncias bem sucedidas do uso da calculadora com alunos de anos iniciais. Dessa forma, desejamos, neste livro, dar voz aos diferentes atores envolvidos na questao do uso da calculadora em sala de aula dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Discutiremos 13 Covecdo “TenoéNctas EM Epucacdo MATeMATICA” razoes apresentadas por professores para fazerem uso, ou nao, desse recurso em suas salas de aula e apresentaremos exem. plos de uso da calculadora na escola; refletiremos a Tespeito dos argumentos apresentados por pesquisadores dentro de Educacao Matematica que justifiquem 0 uso desse recurso em sala de aula e as evidéncias de estudos empiricos da validade do uso da calculadora para estimular avancos conceituais de alunos; observaremos como recursos pedagégicos, tais como as atividades sugeridas por autores de livros diddticos, adequam-se as recomendacées dos responsdveis pela elaboracao de propostas curriculares. Esperamos, assim, contribuir para o debate desta impor- tante questao — 0 uso da calculadora em sala de aula nos anos iniciais do Ensino Fundamental — que também deve envolver outros atores da sociedade como os pais dos alunos, que, 4 seme- Thanga dos outros personagens envolvidos, também sao desejo- sos de verem as criancas aprendendo Matematica, de modo a fazerem uso de seus conhecimentos dentro e, principalmente, fora da sala de aula. 14 Capitulo II O que pensam professores sobre o uso da calculadora No capitulo introdutério deste livro, afirmou-se que recursos tecnoldgicos contemporaneos - como o computador ea calculadora — serao, ou nao, utilizados em sala de aula como consequéncia de um conjunto de recomendacées, posicionamentos e decis6es de pesquisadores, de responsaveis pela elaborac4o de propostas curriculares, de editores e de autores de livros didaticos e de professores, entre outros atores envolvidos na questao. Possivelmente, o principal responsdvel pelo uso da calculadora em sala de aula é o(a) professor(a), pois mes- mo que propostas curriculares, amparadas em pesquisas dentro da Educag&éo Matematica, recomendem a sua utili- zacao, cabe ao(a) professor(a) a decisao final de elaborar e propor aos seus alunos atividades com recursos variados, em particular com a calculadora. Esta questao de uso, ou nao, em sala de aula de recursos tecnoldgicos da atualidade pode ser, em parte, consequéncia da formacao que o(a) professor(a) vivenciou em sua graduacgao ou da qual participa continuadamente. Mesmo que nao tenha sido t6pico de discussao em cursos de formacio inicial, 0 uso de recursos contemporaneos pode ser ponto de reflexéo em programas de formacao continuada. 15 aT ns CE Te Couegko “Tenptncias em Eoucacio MaTeMATICA”™ Na literatura sobre formagio de professores, tem-se, de modo geral, defendido-a como um Processo continuo, a se. melhanca de outras profissGes para as quais uma atualizagao permanente é imprescindivel ao exercicio Pprofissional. Entre os tedricos que defendem esta Pposicao, destaca-se Schin (1983), que argumenta que os saberes docentes sao evolutivos e 8ressivos, e necessitam, assim, de formacao continua. Se assim a discussao da introdugao de tecnologias con- temporaneas em praticas de ensino esteve, ou nao, presente na formacio inicial de um(a) professor(a), a partir de formagées continuadas ele(a) poder vir a compreender melhor quais 0s possiveis usos desses recursos em sala de aula e podera experimentar, refletir, readaptar e voltar a Propor atividades que auxiliem os alunos em seus desenvolvimentos conceituais por uso de computadores e de calculadoras. pro- A discussao de por que utilizar e como usar a calculadora em sala de aula deve, portanto, ser ponto de andlise entre professores, pois, segundo Tardif (1999), os saberes docentes englobam conhecimentos, habilidades, competéncias e atitudes, estando todos estes associados ao saber ‘fazer da docéncia e ao saber ser docente. Assim, discussées sobre 0 uso de recursos tecnoldgicos em sala, tais como computadores e calculadoras, poderao propiciar aos professores conhecimentos sobre porque utilizar estes recursos como ferramentas de ensino e de apren- dizagem; poderao habilita-los a fazer uso dessas ferramentas de maneira competente; e poderao mudar suas crencas e suas atitudes diante do computador e da calculadora enquanto instrumentos de ensino e de aprendizagem. Pimenta (1996) ressalta a amplitude do saber necessario a pratica docente, destacando a natureza triplice dos saberes da docéncia: saberes pedagégicos, saberes cientificos e saberes da experiéncia. Os saberes pedagégicos referem-se, entre outros aspectos, as formas de ensinar contetidos e disciplinas; os saberes cientificos ao dominio do saber acumulado dentro de uma area de estudo, associado a acées de reflexdo auténomas e criticas; e os saberes da experiéncia devem ser embasados 16 0 que pensam professores sobre o uso da calculadora numa postura ético-pedagégica, possibilitando ao docente utilizar seu saber acumulado como meio de desenvolvimento pleno dos discentes sob a sua responsabilidade e para o seu proprio desenvolvimento profissional. Esses saberes podem ser associados mais especificamente ao uso da calculadora em sala de aula, evidenciando-se a necessidade do(a) professor(a) conhecer formas de uso da calculadora (saber pedagégico); domi- nar os principios, propriedades e relacdes possibilitadas pelo uso da calculadora (saber cientifico matemitico); e de vivenciar, refletir e reorganizar atividades com a calculadora em sala de aula (saber da experiéncia). Moreira e David (2005) apresentam uma rica discussao sobre a tensao entre a Matematica ensinada em sala de aula do Ensino Basico e a Matematica vivenciada pelos futuros professores em seus cursos de graduacao. As discussdes levantadas por esses autores alertam-nos que, além do bom dominio de saberes cientificos, ou Seja, conceitos matematicos — elementares e avancados -, é preciso que 0 professor se aproprie também de saberes pedagégicos - como conhecimentos sobre formas que os alunos aprendem e de fatores que podem impedir avancos em seus aprendizados. Ao experimentar novas metodologias de ensino, o professor também podera avangar em seus saberes da experiéncia. Cuidados de formagao, no entanto, tornam-se necessirios, Pois nao se desej ja que os professores adotem o uso de novos recursos em suas salas de aula apenas por que tém que fazé-lo, Seja por imposicao de Propostas curriculares, seja por deter- minacao de autores de livros didaticos ou, de dirigentes escolares. Bons usos dessa ferramenta s6 serdio Possiveis se o(a) professor(a) conceber a calculadora como uma ferramenta potente que pode auxili4-lo nas atividades de sala de aula, no sentido de proporcionar ricos aprendizados mateméticos a seus alunos. Niss (2006), (traduzido como ainda, por decisao ao descrever 0 projeto dinamarqués KOM Competéncias e Aprendizagens em Matematica), aponta oito competéncias matemiticas — que podem se aplicar 17 ETF ee Covecdo “Tenpénctas em Epucacio MatemArica” tanto ao saber do aluno, quanto do professor, mas, referente a este ultimo, é preciso que 0 mesmo nao so possua competén- cias, mas saiba efetivamente estimular o desenvolvimento de competéncias matemiaticas em seus estudantes (p.36). Entre as competéncias pedagégicas do professor, portanto, tem-se a de selecionar e criar materiais pedagégicos e justificar atividades de ensino/aprendizagem com os estudantes. Dentro da selegao de material a ser utilizado em sala de aula, o(a) professor(a) pode eleger a calculadora como uma possibilidade, desde que a conceba como um recurso que pode auxiliar os alunos em avancos conceituais matematicos. Segundo Niss, as competéncias matematicas podem ser listadas em dois grupos, sendo o primeiro associado a habilidades para perguntar e responder perguntas em Matematica ecom a Matemitica e o segundo associado a habilidades para lidar com a linguagem matematica e seus instrumentos. Neste segun- do grupo, as competéncias relacionadas a instrumentos e a acessérios sao: ter conhecimento da existéncia e das proprie- dades de diferentes instrumentos e de acessérios relevantes para a atividade matematica, sendo a calculadora um destes instrumentos; ter insights sobre as possibilidades e as limita- cdes de tais instrumentos e usar ferramentas e acessrios de maneira refletida (p. 34). Dessa forma, torna-se essencial que estudantes tenham conhecimento dos usos da calculadora e que professores estejam preparados para discutir estes usos junto a seus alunos. Para isso, os professores devem conceber a calculadora como uma ferramenta ttil e eficaz no aprendizado matematico. Levantamento das concep¢ées de professores sobre o uso da calculadora em sala de aula No sentido de fazer um levantamento de como professores se sentem em relacao ao uso da calculadora nos anos iniciais do Ensino Fundamental (se efetivamente propdem atividades com este recurso e como sao as propostas por eles elaboradas) entre- vistamos 40 professores de 4.°e 5.° ano do Ensino Fundamental. Metade desses professores atuava na rede ptiblica de ensino 18 0 que pensam professores sobre 0 uso da calculadora ea outra metade atuava na rede particular. Dois professores de cada escola foram entrevistados, envolvendo, dessa forma, neste levantamento, 10 escolas ptiblicas e 10 particulares. Apos o levantamento de dados sobre a formacao inicial do(a) professor(a), seu tempo de ensino e sua participacao em atividades de formagao continuada, bem como 0 livro adota- do em sua escola, as seguintes questdes foram colocadas nas entrevistas individuais com os professores: Questées > Que recursos vocé costuma utilizar nas suas aulas de Matematica? > Vocé acredita ser importante usar a calculadora em sala de aula? Por qué? > Vocéalguma vez ja utilizou a calculadora em alguma atividade em sua sala de aula? Por que vocé usou a calculadora? > Vocé seria capaz de dar um(alguns) exemplo(s) de alguma(s) atividade(s) envolvendo a calculadora? > Ha algum(ns) contetido(s) da Matematica no(s) qual(is) vocé acredita que pode ser indicado 0 uso da calculadora? > A utilizagéo da calculadora nas aulas de Matematica pode desenvolver habilidades nos alunos? Quais? » Existem atividades propostas no livro didatico adotado em sua escola que pedem o uso da calculadora? > Vocé realiza as atividades propostas no livro didatico com seus alunos? Vocé propée outras atividades? Se sim, quais? > Vocé percebe alguma vantagem em usar a calculadora em sala de aula? E quais seriam as desvantagens? >» Para vocé, que dificuldade(s) vocé pode encontrar ao usar a calculadora em sala? E 0 que pode ser feito para superar tal(is) dificuldade(s)? 19 Cotecdo “TeNotwcias EM Eoucacho MATEMATICA” > Eem relacao a outros professores, vocé acredita que a calculadora é um recurso de uso frequente nas atividades em sala de aula? » Seestes professores nao utilizam a calculadora, por que vocé acredita que eles nao a utilizam? » Vocé acredita que os professores estao preparados para usar a calculadora em sala de aula? Num outro estudo, anteriormente realizado, também sobre a concepcao de professores quanto ao uso da calcula- dora em sala de aula, Noronha e Sa (2002) observaram que ajustificativa mais frequente para a nao recomendacao do uso da calculadora em sala de aula foi a de que “o aluno ficara dependente da maquina” (justificativa apresentada por 89% dos docentes desfavoraveis ao uso da calculadora). Outras justificativas frequentes, observadas no estudo de Noronha e Sa, foram: “a maquina de calcular tira 0 racioci- nio do aluno” (dada por 84% dos docentes) e “o aluno nao aprendera as quatro operacdes fundamentais” (apresentada por 55% dos professores). Os professores do estudo de Noronha e SA que se po- sicionaram favoravelmente ao uso da calculadora em sala de aula, apenas 0,23% a mais que os que afirmaram serem desfavoraveis, apresentaram como justificativa mais frequen- te (citada por 76% dos professores): “a calculadora ajuda a resolver com maior rapidez as operagdes mais complicadas, deixando mais tempo para 0 raciocinio na resolugao de pro- blemas matematicos”. O levantamento descrito neste capitulo buscou analisar de forma mais ampliada a concepgao de professores sobre a calculadora, nao apenas suas justificativas de uso, mas também a importancia que dao 4 mesma e as vantagens percebidas em sua utilizacdo, as dificuldades e as desvantagens de uso, os contetidos que julgam mais apropriados para serem desenvolvidos com esse recurso didatico, como lidam com as 20 0 que pensam professores sobre o uso da calculadora propostas apresentadas nos livros didaticos, as experiéncias dos docentes utilizando a calculadora em sala de aula e o quanto suas formagées os haviam preparado para este uso. Os resultados obtidos neste levantamento serao apresen- tados a seguir. Qual o perfil dos professores entrevistados? Nas escolas particulares, 18 eram professoras e ape- nas dois professores, enquanto nas escolas puiblicas foram entrevistadas 19 professoras e apenas um professor. Essa amostra retrata a nossa realidade de anos iniciais do Ensino Fundamental na qual ha uma maioria de professoras e muito poucos professores. O tempo de ensino dos professores variou de trés a 28 anos nas escolas particulares e de cinco a 26 anos nas escolas ptiblicas. O tempo médio de ensino dos professores da rede particular era de 17 anos de magistério e de 14 anos na rede publica. Observou-se, assim, que a experiéncia de ensino dos professores — tanto das escolas ptiblicas quanto das particula- res — era basicamente a mesma. Dos professores da rede publica, 19 possuiam for- mac&o superior e apenas trés dos professores das escolas particulares possuiam formacao maxima em nivel médio. Quatro professores da rede particular possufam curso de pos-graduagao e, entre os da rede publica, cinco possufam especializacdes e uma professora era Mestra em Educacao. Todos os professores haviam participado de mais de uma atividade de formagao continuada (capacitagdes, congressos e cursos) nos tltimos trés anos. Observou-se, assim, que, tanto em relagao a formacao ini- cial quanto continuada, os professores das duas redes de ensino possuiam, em sua maioria, formagao superior, sendo que 20% dos professores da rede particular e 30% dos da rede ptiblica tinham continuado seus estudos ao nivel de pds-graduacao e todos haviam, de alguma forma, se envolvido em atividades de formacdo continuada. 21 Cotegdo “Tenpéncras EM Epucacdo MATEMATICA” A calculadora é um recurso usual dos professores dos anos iniciais? Ao responderem sobre quais recursos os professores utilizavam em sua pratica de sala de aula, observou-se que os mesmos listaram uma variedade de materiais — estruturados e nao estruturados. Na Tabela 1, pode-se observar os recursos listados por rede de ensino. Tabela 1. Recursos utilizados por rede de ensino Recursos citados . T Rede particular Rede putiblica pelos professores Material Dourado 11 14 Jogos 10 04 Sucata 04 09 Livro didatico 04 07 L = Abaco 05 06 Figuras geométri- 08 cas/Tangram eaiuaas de 04 03 jornais /revistas é i étri 02 03 Régua/fita métrica Calculadora 03 - Quadro Valor de r 03 Lugar Filmes = 02 Balancga 01 01 Tabuada = o1 Tanto na rede particular quanto na rede publica de ensi- no, o recurso que os professores afirmaram mais utilizar foi o 22 O que pensam professores sobre o uso da calculadora Material Dourado.' Possivelmente este é um recurso bastante utilizado pelas possibilidades que o mesmo oferece em se tra- balhar os calculos numéricos das Operacoes aritméticas. Pela importancia que, em geral, se da ao ensino de ntimeros e de operagdes nos anos iniciais do Ensino Fundamental, 6 coerente que 0s professores utilizem em suas salas de aula um recurso que contribui para a compreensao do Sistema de Numeragao Decimal (SND) e das operagées de adico, subtracao, multipli- cacao e divisdo. Por sua estrutura, na qual estao representadas unidades (blocos isolados), dezenas (10 blocos unidos numa barra), centenas (100 blocos numa placa) e milhares (1.000 blocos num cubo), os professores facilmente identificam o Material Dourado como um recurso ttil ao aprendizado de seus alunos. Esse recurso também pode ser utilizado para o ensino de ntimeros racionais se se considerar, por exemplo, a placa como sendo uma unidade, a barra como representando décimos e os blocos isolados representando centésimos. O abaco foi citado com certa frequéncia, o que também reforga a hipdtese da importancia que se da ao ensino de mi- meros e operagées na sala de aula dos anos iniciais. Da mesma forma que 0 Material Dourado, 0 abaco e 0 Quadro Valor de Lugar possibilitam a compreensao da Tepresentagado numérica e arealizacao de operagGes aritméticas. Esses recursos s40 também *O Material Dourado é um dos materiais idealizados pela médica e educado- 1a italiana Maria Montessori para o trabalho com Matematica. O mesmo é constituido de cubos isolados — que representam unidades no SND, de barras com dez cubos adjuntos — representando dezenas, de placas constituidas de dez barras adjuntas - representando a centena e de um bloco maior de dez placas adjuntas ~ representando a milhar, como representado a seguir. Covecio “Tewoewctas eM Epucacho MATEMArICA”” muito utilizados em livros didaticos dos anos iniciais, o que pode ter influenciado a indicagao por parte dos professores deles. Pela baixa indicagao da calculadora — apontada espontane- amente por apenas trés professores da rede particular — infere-se que a maioria dos professores nao percebeu que a mesma também pode ser um recurso de ensino para o aprendizado dos significa- dos e das representagGes dos nimeros naturais e racionais. Exploragao de padrées em operacées realizadas na cal- culadora também pode auxiliar os alunos na compreensao do SND. Pode-se, por exemplo, pedir aos alunos que regis- trem os resultados obtidos na calculadora para as operagoes que seguem. 1003 +1 1.003 + 10 1.003 +100 | 1.003 + 1.000 2341+1 2.341 + 10 2.341 +100 | 2.341 + 1.000 999 +1 999 + 10 999 + 100 999 + 1.000 A partir da observacao dos padrées obtidos nos resultados das operagées realizadas na calculadora, os alunos poderao refletir a respeito do valor posicional dos ntimeros no nosso sistema de numeracao. A realizacao das operacGes na calcula- dora teré nesta atividade a fungao de garantir que os resultados obtidos sao corretos (caso contrario, fica impossibilitada a ob- servacao de padrées) e aliviara a carga da operacionalizacao, pois 0 que se deseja focar s4o os resultados obtidos ao se adi- cionar uma unidade, uma dezena, uma centena e uma milhar, e nao propriamente, neste caso, se os alunos sao capazes de realizar corretamente os procedimentos de cdlculo. Semelhantemente, a observagao de padrées das seguin- tes sequéncias de operac6es poderé auxiliar os alunos na compreensao da regularidade do SND, mesmo quando se extrapola o campo dos ntimeros naturais e se trabalha com numeros racionais. 35,25 + 10 35,25 +1 35,25 + 0,1 35,25 + 0,01 70,00 + 10 70,00 + 1 70,00 + 0,1 70,00 + 0,01 24 (0 que pensam professores sobre o uso da calculadora Estas exploracoes podem ser efetuadas tanto utilizando- se nuimeros isolados, como descrito acima, quanto usando-se ntimeros inseridos em contextos de medidas de grandezas, como, 35,25 metros — nos quais se pode explorar, junto aos alunos, © significado de 0,25 metro, ou seja, um quarto de metro, ou ainda, 25 centimetros. Mais um exemplo de exploragao conceitual por uso da calculadora pode ser 0 de atividades envolvendo a divisao com resto. Em estudos anteriores, Borba e Selva (2007) e Selva e Borba (2005), analisaram a compreensao de criancas de 3.*e 5.° série, atuais 4.° e 6.° anos de escolarizagiao, sobre o tratamento a ser dado ao resto em problemas de divisao e propuseram intervengoes no sentido de superar dificuldades evidenciadas. Detalhes desses estudos podem ser vistos no Capitulo II deste livro. A proposta dessas autoras consistia basicamente em solicitar que os alunos comparassem os resultados obtidos em operacGes, como as que seguem, a se- rem realizadas com lapis e papel e por meio da calculadora. 24+2| 2474 3742 37 +4 45 +2 4534 Este outro possivel uso da calculadora— 0 de compara¢gao de resultados obtidos por procedimentos diferentes — possi- bilita que os alunos discutam respostas obtidas por meio de representacées distintas. No caso particular da divisao com resto, as criangas observavam que, no papel, elas obtinham respostas com resto, mas que na calculadora apareciam nui- meros decimais que indicavam a subdivisao dos restos por elas encontrados. Havia também espaco para que as crian- cas discutissem quais as situagdes nas quais fazia sentido subdividir o resto (como nos problemas de distribuigao, tal como: Prof. Marcos recebeu 37 minipizzas e deseja reparti- las igualmente entre as duas turmas de 2° ano de sua escola. Quanto sera dado a cada turma?) e aquelas nas quais nao era possivel a subdivisao, mas era mais adequado fazer 0 acréscimo de uma unidade ao quociente (como no exemplo 25 5a LER Covecho “TENDENCIAS EM Eoucacho MATEMATICA” de divisio por quotas: A diretora da tuantos carros serao necessarios para Se em cada carro que segue de problema escola esta verificando q levar ao zooldgico as 45 criancas do 3.° ano. cabem quatro criangas, quantos carros serao necessarios?). Ainda referente ao Jevantamento realizado, outros recursos que se destacam entre os citados pelos professores sao 0s jogos, 0 uso de sucata e do livro didatico. Esses recursos e os outros citados denotam um aspecto importante, queéo reconhecimento dos professores quanto a necessidade de utilizacao de recursos variados em sala de aula, tanto para o ensino de nuimeros e ope- races, quanto para 0 estudo da geometria (quando do uso de figuras geométricas e do Tangram) e das grandezas e medidas (como na indicagao de réguas, fitas métricas e balangas). Poucos professores dos anos iniciais, entretanto, esponta- neamente reconheceram a calculadora como uma ferramenta que possibilita a exploracio do Sistema de Numeracao Decimal e das operacées dentro do SND, bem como um recurso que pode auniliar o trabalho de outros eixos matematicos, tais como gran- dezas e medidas, geometria e tratamento da informagao. Apesar de nao afirmarem espontaneamente usar a calcula- dora, os professores foram diretamente questionados quanto a utilizagao da calculadora em suas salas de aula e a maioria dos professores particulares indicou que sim. Apenas um afirmou nunca ter usado este recurso em sua sala de aula. No entanto, na esfera ptiblica, apenas cinco professores entrevistados afirmaram ter utilizado a calculadora em atividades na sala de aula. Todos os professores que disseram terem usado a calculadora, afirma- ram que nao o fazem com muita frequéncia. A maioria relatou que a introduz na sala de aula apenas quando a calculadora é solicitada em atividades do livro didatico. Qual a importéncia que os professores percebem do uso da calculadora em sala de aula? Apesar do nao uso frequente da calculadora em suas salas de aula, os professores reconheceram-na como importante e 26 (0 que pensam professores sobre o uso da calculadora apresentaram aspectos diferentes de sua importanci pode ser observado na Tabela 2, a seguir. Este teiiltado, em conjunto como anteriormente discutido, parece evide sion apesar do reconhecimento da importancia da caleulador = professores possuem motivos para nao a utilizarem em suns “ Jas. Possivelmente o motivo mais forte seja o nao corhesime = yr parte do(a) professor(a) e/ou sua inseguranca tanto a formas de trabalhar com a calculadora nos anos inicais aa ensino. Outro motivo poderia ser 0 do(a) professor(a) julgar que, ao trabalhar com a calculadora, cle pode, de alguma for- ma, prejudicar 0 desenvolvimento matematico de seus alunos. Os professores — tanto da rede particular quanto da rede iblica - reconheceram a calculadora como um recurso mui- to utilizado no dia a dia das pessoas e, portanto, nao deveria deixar de fazer parte do trabalho de Matematica em sala de aula. Desta forma, os professores apontaram que os alunos nao podem deixar de aprender a manusear um instrumento presente no cotidiano da maioria das pessoas. Os professores apresentaram vantagens diferenciadas do uso da calculadora no ensino. Praticamente 0 mesmo ntimero de professores da rede particular e da rede publica apontou a uladora, enquanto possibilidade de realizacao de cAlculos, de verificacao de resultados obtidos por outros (como calculos realizados mentalmente ou por uso de imento do raciocinio légico. De onheceram 0 uso da calculadora vantagem da calct meios lapis e papel) e 0 desenvolv! forma igual, os professores rec como uma forma vidvel de se resolver problemas. ‘A fala de uma professora de 4° ano de escolarizacao da rede ptiblica de ensino jlustra como os professores reconhece- rama importancia de se realizar atividades em sala de aula com acalculadora: “...a calculadora é um objeto usual deles ld fora, né? Afa gente na escola ensina o calculo da adigao escrito, mas IK fora ele tem a oportunidade de utilizar a calculadora. (E im- portante) como forma de utilizagao mesmo, de fazer a ligacao do que ele aprende na escola, no escrito, e de como ele se da na calculadora”. 27 Covecho “Tenvenctas EM Epucacao Matemirica”™ Tabela 2. Importancia do uso da calculadora para 0 trabalho em Matematica por rede de ensino Aspectos considerados pelos Rede Rede | professores particular publica = ——_| Dominio de um recurso tecnolégico 15 | presente no dia a dia 10 | Rapidez na realizagao de calculos 09 10 Verificagao de resultados 06 08 Desenvolvimento de raciocinio 07 05 l6gico/auxilio no calculo mental Uso apés apropriacao das estruturas 3 09 matemiaticas Utilizagéo como uma estratégia na 04 04 resolucéo de problemas Exploracao de conceitos matematicos 04 01 Alguns professores - principalmente os da rede publica de ensino—apontaram que a calculadora deve ser utilizada apenas apés a apropriacao dos conceitos por parte dos alunos e muito poucos conceberam a calculadora como fonte de construgao de conceitos matemiticos. Estes resultados parecem indicar que os professores sao capazes de apontar vantagens da calculadora enquanto recurso atual de rapidez de realizacao de calculo ou de conferéncia de resultados, mas ainda nao esté claro para a maioria dos profes- sores dos anos iniciais que a calculadora pode auxiliar no de- senvolvimento conceitual de seus alunos, como nos exemplos citados anteriormente de observacao de regularidades dentro do SND. E como se para esses professores a calculadora fosse um recurso titil para que o aluno aplique os conhecimentos ja possufdos, mas nao percebem ainda que, ao usar a calculadora, o aluno pode refletir a respeito dos resultados obtidos ou, ao se liberar da responsabilidade de realizar célculos, concentrar- se melhor nos procedimentos a serem adotados e analisar a natureza dos resultados obtidos. 28 0 que pensam professores sobre o uso da calculadora Quais conteuidos os professores consideram mais adequados para o trabalho com a calculadora? Os professores apontaram diversos contetidos matematicos comosendo adequados para 0 uso da calculadora, evidenciando ue, embora nao facam uso frequente desse recurso, reconhecem as possibilidades de uso especifico da mesma. Ocontetido mais frequentemente apontado foi a resolugao de problemas aditivos e multiplicativos, como pode ser obser- vado na Tabela 3, a seguir. Se considerado este resultado em conjunto com os anteriormente discutidos, pode-se pressupor que os professores julgam possivel a utilizagao da calculadora para a resolucao de problemas matemiaticos, mas esta utilizagao deve ser feita apds o dominio dos alunos da realizagao das quatro operacoes aritméticas. Se os professores consideram vidvel 0 uso da calculadora neste contetido, mas poucas vezes se utilizam deste procedimento — conforme seus proprios depoimentos — pode-se inferir que os docentes de 4.° e 5.° anos de escolarizacao ainda nao consideram que os seus alunos possuem um dominio suficiente dos procedimentos de calculo da adicao, subtracao, multiplicagao e diviséo, a ponto de poderem deixar de efetuar os cdlculos e concentrarem-se nas estratégias de resolugéo dos problemas que envolvam estas operagées. Tabela 3. Contetidos que podem ser trabalhados com calculadora por rede de ensino Contetidos mencionados pelos Rede Rede publica professores particular Situagdes-problemas envolvendo 04 " estruturas aditivas e multiplicativas Numeros decimais 04 08 Calculos com ntimeros altos 07 02 Expressées numéricas 07 = Porcentagem 02 1 Numeros fraciondrios = 02 Nogées basicas do instrumento | 02 - CaAlculo de areas de | 01 s figuras geométricas 29 Covecho “Tenoewctas EM Eoucacho MATEMATICA” De forma muita adequada, os professores apontaram os numeros decimais como contetido no qual o uso da calculadora pode ser vidvel em sala de aula e titil ao desenvolvimento dos alunos. De fato, este recurso pode ser um importante instru- mento para que os alunos compreendam em quais situagdes nuimeros decimais se fazem presentes, de como estes surgem por meio da subdivisao de ntimeros inteiros e como ha re- gularidade no Sistema de Numeracao Decimal, de tal modo que as regras e os principios aplicados a ntimeros naturais se estendem aos nuimeros racionais. Poucos reconheceram, porém, que a calculadora pode ser itil no desenvolvimento da compreensio de outros significa- dos do ntimero racional, tais como a fracao ordinaria e a por- centagem. Nao s6 a calculadora pode auxiliar na compreensao isolada destes significados, bem como da articulagao? destes (como no caso de verificar que % = 0,5 = 5/10 = 50/100 = 50%), mas nenhum(a) professor(a) atentou sobre esta possibilidade. Ao realizarem as operagdes 1:2; 5:10 e 50:100, por exemplo, os alunos poderao observar que o mesmo valor (0,5) sera obtido e, aliando-se a outros recursos, como 0 Material Dourado, representado bidimensionalmente a seguir na Figura 1, por exemplo, poderao observar que numa placa, como a repre- sentada a seguir, a metade (1/2) é a mesma quantidade que 5/10 (5 décimos, ou seja, 5 barras), ou igual, ainda, a 50/100 (50 centésimos, ou seja, 50 cubos isolados). Salienta-se que deve ser acordado junto aos alunos que 0 Material Dourado nesses casos — de manuseio de ntimeros racionais — passa a ter outra representa¢ao, ou seja, a placa passa a representar uma unidade, a barra representa um décimo (a décima parte da placa) e 0 cubo isolado representa um centésimo (a centésima parte da placa). 2 Embora nao seja uma proposta especifica de uso da calculadora, o leitor que desejar buscar outras informagdes quanto a possibilidade de proporcionar um trabalho articulado do miimero racional, recomenda-se a leitura de Silva, Silva, Borba, Aguiar e Lima (2000). 30 0 que pensam professores sobre o uso da calculadora Figura 1. Representagao bidimensional do Material Dourado com 0 cubo isolado (representado por um quadrado), a barra (representada por 10 quadrados adjuntos) e a placa (representada por 10 barras). Ao apontar cAlculos com numeros altos, a tealizacao de expresses numéricas e 0 calculo de areas, reforca-se a hipdtese anteriormente levantada de que os professores tendem a con- siderar a calculadora como recurso de realizacao de cAlculos, mas nao necessariamente para levar 0 aluno a refletir sobre os processos de resolugao de problemas, sobre os conceitos mate- maticos envolvidos nas atividades propostas e, em particular, sobre a natureza dos ntimeros obtidos nos cAlculos. Alguns poucos professores da rede particular de ensino apontaram como contetido a ser trabalhado em sala de aula o manuseio da calculadora. Esta colocagao é pertinente, pois qualquer outro uso da calculadora ~ seja a realizagao de calcu- los, a verificacao e a conferéncia de resultados ou a exploragao conceitual - fica inviabilizado se os alunos nao souberem como manusear 0 teclado da calculadora. E necessario, portanto, que um perfodo de ensino seja destinado ao (re)conhecimento do teclado da calculadora e das suas possibilidades de calculo. Observa-se, assim, que os professores possuem co- nhecimento sobre contetidos viaveis de se trabalhar com a calculadora em sala de aula, embora nao se possa ter certeza de como especificamente proporiam este trabalho e se reco- nhecem que outros contetidos matematicos — como o estudo de variadas grandezas e suas medidas, de aspectos geométri- cos diversificados e de tratamento de informagées — também podem ser trabalhados com este recurso. No caso do tratamento da informagao, especificamente, a calculadora pode ser utilizada como forma de aliviar a carga de operacionalizacao e permitir que os alunos concentrem-se nos conceitos estatisticos. Pode-se explorar, por exemplo, 0 conceito 31 Covecho “Tenoénctas em Epucacho Matematica” de média aritmética a partir de uma tabela, comoa apresentada na Figura 2, na qual seriam registradas as alturas de todas as meninas e de todos os meninos de duas turmas de uma mesma escola. Alturas das meninas Alturas dos meninos Turma A Turma B Turma A Turma B Altura média | Altura média | Altura média | Altura média das meninas | dasmeninas | dos meninos | dos meninos da da da da Turma A = Turma B= Turma A = Turma B= Altura média das meninas = Altura média dos meninos = Figura 2. Exemplo de tabela que pode ser utilizada para registro e calculo — por meio de uso da calculadora - de média aritmética de alturas de criangas. A partir desses dados, os alunos poderiam ser solicitados acalcular a altura média dos alunos de duas turmas, de acordo com 0 género (meninas e meninos) e turma (A e B). Ao reali- zarem os calculos das médias por meio do uso da calculadora, os alunos nao se distrairiam com a realizacao de contas, mas poderiam se concentrar na interpretacdo e na discussio dos significados obtidos em questdes como: Quem possui média de altura mais alta: as meninas da Turma A ou as da Turma B? Os meninos da turma A ou os meninos da Turma B? Os meni- Nos ou as meninas da Turma A? Os meninos ou as meninas da turma B? Ha algum(s) aluno(s) que esteja(m) influenciando na média, seja para elevar, seja para diminuir seu valor? Pode-se, ainda, questionar: Da forma como os dados estao organizados, é possivel determinar a altura média de todos os alunos (meninas. emeninos) de cada uma das turmas? E das duas turmas juntas? Uma discussao muito relevante também pode ser travada buscando respostas para: o que de fato significa a média arit- mética? A média aritmética das alturas da Turma A significa 32 0 que pensam professores sobre o uso da calculadora ye todas as meninas da turma possuem aquela altura? Se nao, 0 que representa a média obtida? Questionamentos se- melhantes a outra turma e ao outro género também podem ser ofetuados, na busca da compreensao Por parte dos alunos do que representa a média aritmética como tendéncia central, ou seja, 0 valor que se teria se todos do grupo tivessem a mesma altura, neste caso em particular. Este é um calculadora em um eixo distinto do de nuime no qual o uso desse recurso permite que os alunos concentrem suas atengdes na explora¢ao de conceitos especificos e nado na realizacao de operacées aritméticas Por si sd. Possivel uso da TOS € Operacdes e Os professores usam a calculadora quando recomendado pelo livro diddtico e planejam outras atividades além das recomendadas? No levantamento efetuado, conforme pode ser observado na Tabela 4, constatou-se que quase todos os professores da rede particular afirmaram usar a calculadora em suas salas de aula quando a atividade Proposta pelo livro didatico adotado envolvia este recurso. Este dado Parece incoerente com o apresentado na Tabela 1, na qual se observa que apenas trés professores afirmaram utilizar a calculadora em suas salas de aula. Vale salientar que a primeira pergunta possibilitava que o(a) professor(a) espontaneamente afirmasse usar a calcula- dora. Além disso, pode-se aceitar que 0 que esta apresentado nestas duas tabelas é verdadeiro, pois os professores pouco se lembram desse recurso e podem utiliza-lo muito poucas vezes pelo fato do livro didatico fazer Poucas proposicées de atividades com esta ferramenta. No Capitulo 5 deste livro, sera apresenta- da e discutida uma Pesquisa sobre este aspecto — a Pproposta de atividades de uso da calculadora nos livros didaticos - e podera ser observado que é verdadeira tal inferéncia. Quantoa calculadora, um ntimero muito reduzido de profes- Sores da escola ptiblica afirmou realizar as atividades propostas pelos livros didaticos, que, além de serem provavelmente em pe- quena quantidade, alia-se a outras dificuldades especificas dessa 83) Covecdo “Tenoéncias £m Epucacho MatemArica” rede de ensino para justificar 0 muito baixo uso desse recurso n, as salas de aula puiblicas. Uma professora do 5.°ano de escolarizacao da rede publica afirmou: “A rede nao tem (calculadoras)... Acho que muitos professores ainda tém preconceito de usar calculadora, Acham que a calculadora vai facilitar a vida do aluno. A maioria da rede nao usa. Eu acredito que tem professor que vé aatividade proposta ‘pra’ calculadora no livro e manda ele (0 aluno) fazer sem calculadora”. Tabela 4. Uso da calculadora quando solicitado no livro didatico ou em atividades extras por rede de ensino Questées colocadas aos professores rater publica Quantos realizam as atividades 19 05 propostas no livro? Quantos promovem novas atividades? 7 7 Se os livros didaticos propuserem atividades diversifica- das com a calculadora - seja variando os contetidos abordados, seja diversificando o uso da calculadora (como manuseio de teclado, realizacao e conferéncia de calculos e exploragéo con- ceitual, entre outros) — e orientarem os professores a respeito do propésito do uso da calculadora nessas atividades, é muito provavel que os professores venham a realizar em suas salas de aula mais atividades utilizando esse recurso. Nessa direcao, os manuais dos livros didaticos também deveriam trazer uma discussao maior sobre como a calculadora poderia ser utili- zada em sala de aula, apresentando sugestées de atividades que pudessem ser desenvolvidas pelos professores de forma complementar as atividades propostas no livro didatico. Um numero reduzido de professores da rede particular, e mais reduzido ainda da escola publica, afirmou que propée outras atividades envolvendo a calculadora em suas salas — além das propostas pelos livros didaticos. Vale salientar que é preciso um excelente dominio dos usos didaticos da calculadora para que um(a) professor(a) possa propor uma 34 O que pensam professores sobre o uso da calculadora atividade, seja para complementar um uso pouco frequente, seja para superar a auséncia de atividades com a calculadora nas atividades propostas pelo livro didatico adotado. As atividades extras mais frequentemente listadas eram de compra e venda, como em simulagées de mercadinhos nas quais os alunos comprariam e venderiam produtos, e realizariam calculos de gastos e trocos com a calculadora, explorando, dessa forma, situacGes aditivas e multiplicativas. Uma professora do 4.° ano de escolarizacao da rede particu- lar apontou, também, a possibilidade de realizar atividades interdisciplinares com o uso da calculadora. Ela afirmou que, junto com outros professores de sua escola, ela tinha aprovei- tado atividades de outras dreas — como Ciéncias Naturais — e realizado operacées aritméticas utilizando a calculadora e os dados apresentados nestas outras areas (como na comparacao de tamanhos de diferentes animais). Nos tiltimos capitulos deste livro, serao tratadas atividades desenvolvidas ou a serem propostas por professores dos anos iniciais em suas salas de aula utilizando-se a calculadora e pode- rao ser observados usos diversos deste recurso como ferramenta de ensino e de desenvolvimento conceitual de estudantes. Quais as dificuldades apontadas pelos professores no uso da calculadora e possiveis acdes para superagdo das mesmas? Nesta questao, as respostas dadas pelos docentes foram diversas e pode-se observar, na Tabela 5, que as dificuldades apontadas pelos professores da rede particular eram de natureza diferente das apontadas pelos professores da rede publica. Os professores da rede ptiblica apontaram como maior dificuldade o acesso ao recurso. Apesar de calculadoras simples serem oferecidas no mercado a precos bem reduzidos, os pro- fessores desta rede consideram que os alunos nao tém condicéo de adquirir este instrumento. Mesmo que seja verdadeira esta pressuposicao, pode-se questionar se nao é possivel a propria rede planejar aces no sentido de equipar as escolas ptiblicas 35 Covecdo “Tenpénctas EM Epucacdo MATEMATICA” Tabela 5. Dificuldades encontradas com 0 uso de calculadoras em sala de aula por rede de ensino Dificuldades apontadas pelos Rede Rede professores particular puiblica Os alunos nao tém acesso ao recurso 01 18 Os pais resistem ao uso da calculadora 07. 01 Ha uma diversidade de maquinas possuidas pelos alunos e diferentes 05 manuseios destas Nem todos os alunos trazem a 03 01 calculadora quando solicitada Os alunos querem realizar operagdes 02 a somente na calculadora Os alunos querem brincar com a 02 re calculadora O(a) professor(a) nao tem orientacéo pedagégica para o uso da calculadora em sala de aula Nenhuma dificuldade encontrada 02 - com calculadoras em quantidades suficientes para um trabalho em suas salas de aula que envolva 0 uso desse recurso. O que possivelmente ocorre é que falta, por parte dos propositores de politicas publicas de ensino e gestores desta rede, uma maior conscientiza¢do da necessidade de utilizar a calculadora como recurso didatico. Também devemos questionar, considerando os dados apresentados até o momento, se os professores, além de reconhecerem a importancia da calculadora como recurso tecnoldgico presente no cotidiano, buscam realmente incentivar o seu uso na escola ou, também, estado inseguros sobre como explorar essa ferramenta na sala de aula. Dessa forma, pode ser uma atitude até certo ponto comodista atribuir a nao utilizacao 36 0 que pensam professores sobre o uso da calculadora desse recurso a dificuldade de aquisigao por parte dos alunos, sem buscar outras alternativas. E certo, porém, que um trabalho coma calculadora pode envolver quantidades variadas desse recurso na sala de aula, de acordo com a atividade proposta - sendo uma para cada aluno, uma para cada dupla ou para cada grupo de alunos. HA também a possibilidade de, em algumas atividades, haver apenas uma calculadora na sala, que seria utilizada de forma coletiva. Se as mesmas forem adquiridas pela escola, nao ha necessidade de se considerar o numero total de alunos da escola, mas sim a quantidade de turmas e a distribuicdo do hordrio de uso das calculadoras pelas diferentes turmas. De modo diferente, os professores da rede particular consideraram o recurso acessivel a seus alunos, mas apon- taram a resisténcia dos pais e a diversidade de mdquinas de calcular, seus manuseios diversificados e 0 nao trazer o instrumento quando solicitado como maiores dificultadores ao uso da calculadora em sala de aula. Dessa forma, agdes se tornam necessarias no sentido de superar estas dificuldades, tais como reunides com pais para discutir usos pedagégicos das maquinas de calcular, a solicitagado de aquisigao — pelos pais ou pela escola — de modelos similares de calculadoras para facilitar a realizacado de trabalhos em sala de aula e viabilizar a presenca do recurso (seja informando aos pais os dias de uso da calculadora, seja providenciando um espaco de armazenamento das maquinas). Os professores da rede particular também apontaram que o uso da calculadora pode ‘viciar’ os alunos ou distrair os mesmos, levando-os a brincadeiras ao invés de se concentrarem nas atividades propostas. Estas dificuldades relacionam-se, de certa forma, a falta de orientacdo pedagégica de como se pode trabalhar coma calculadora, apontada por um professor da rede ptiblica. Se os professores tiverem seguranga quanto a formas adequadas de se trabalhar com a calculadora, nao haveré o risco dos alunos nao aprenderem a realizar cdlculos por outros meios e as atividades propostas envolverao os alu- nos a tal ponto que nao haverd a tendéncia de se distrairem. 37 Cotegdo “Tenvéncras €m Eoucacao MaremArica” Quais as desvantagens do uso da calculadora em sala de aula segundo os professores? Como se pode observar na Tabela 6, os professores da rede particular e da rede publica de ensino concordam no que diz respeito a principal desvantagem do uso da calculadora em sala de aula. Os docentes apontam que esse uso pode levar o aluno a depender da maquina e nao se esforcar em realizar corretamente calculos necessdrios 4 resolugao de problemas. Tabela 6. Desvantagens de usar a calculadora em sala de aula por rede de ensino Desvantagens apontadas pelos Rede Rede professores particular publica Leva 0 aluno a preguica mental, Fae a 13 15 dependéncia e acomodacao Ha énfase nos resultados obtidos 03 04 Oaluno nao aprende outros eS 01 06 processos de resolugaéo Nao sao definidos critérios de uso 02 01 Nao é possivel para analisar 0 proces- 01 5 so de raciocinio utilizado pelo aluno Nao ha desvantagens 01 = Alguns professores também apontaram como desvan- tagem que o uso da calculadora pode enfatizar apenas a resposta de problemas e nao o processo de resolugao dos mesmos, pois, sob a 6tica dos docentes, 0 uso da calculadora nao possibilita a andlise por parte do(a) professor(a) quanto ao raciocinio utilizado pelos alunos ao usarem méquinas de calcular. Essas desvantagens relacionam-se com outra apontada—a de que o uso da calculadora pode ser proposto sem critérios bem definidos, ou seja, é preciso que 0(a) professor(a) tenha clareza dos objetivos de utilizagao da maquina de calcular nas atividades por ele propostas com este recurso. 38 0 que pensam professores sobre o uso da calculadora Evidencia-se, assim, que os professores nao se sentem, ainda, seguros sobre formas de trabalhar a calculadora, de modo que nao se inviabilize a aprendizagem de procedimen- tos de calculo por parte dos alunos — sejam os desenvolvidos por cada um individualmente, sejam os socialmente transmi- tidos, como os algoritmos das quatro operacées aritméticas. Os docentes também nao se sentem seguros quanto a formas de acompanhar os procedimentos dos alunos ao usarem a calculadora. Constata-se, assim, que ainda nao ha clareza para os professores dos objetivos didaticos do uso da calculadora em sala de aula. Esta constatacdo é reforcada pelas afirmativas dos professores quanto a formacao recebida para o uso da calculadora em sala de aula, discutidas a seguir. Os professores se consideram preparados para o uso da calculadora em sala de aula? As tiltimas questées colocadas para os professores busca- ram verificar se o que eles sentem em relacao ao uso da calcu- ladora é de alguma forma influenciada pelas suas formagdes ~ inicial ou continuada (entendendo-se que a mesma se da continuamente por meio nao sé de cursos nos quais participa, mas também em seus momentos de estudo, organizacao e vi- véncia de aulas). As respostas dadas pelos professores podem ser observadas na Tabela 7, a seguir. Tabela 7. Preparacao para o uso de calculadoras em sala de aula por rede de ensino C fe f Rede Rede ‘omo os professores se sentem particular publica Nao se sentem seguros para usar a 15 18 calculadora Sentem-se seguros 7 02 Em sua formacao, foram um 02 i pouco preparados 39 Covecho “Tenotwctas eM Eoucacko MATEMATICA” Sentem-se preparados pela escola 01 _ onde atuam Orientam-se pelo livro didatico 02 - A maioria dos professores das duas redes de ensino afirmou que nao se sente segura em utilizar a calculadora como proposta didatica em suas salas de aula. Apenas dois professores se posicionaram afirmando que sua formacao os havia preparado suficientemente bem para este trabalho. Alguns poucos afirmaram que 0 preparo havia sido minimo ou que a escola na qual atuam os haviam preparado para isso e dois professores julgaram que o livro didatico os estava preparando para esse uso. Observa-se, dessa forma, que 0 pouco uso da calculadora em sala de aula deve-se primordialmente a falta de segu- ranga do(a) professor(a) sobre essa utilizagao, uma vez que em seus processos de formag¢4o, esta tem sido uma questao pouco abordada ou ausente. O depoimento de duas profes- soras que atuavam no 4.° ano da rede publica reforca esta dificuldade sentida pelos professores. Uma das professoras afirmou: “(A dificuldade é) 0 acesso ao recurso, sugestdes de atividades mesmo. Talvez a gente nao use tanto até por falta de orientacao, falta de conhecimento de como utilizar de maneira diferenciada....(Os professores nao estdo pre- parados) justamente por nao ter orientacdes e capacitagdes que abordem este recurso”. Outra professora reforcou: “[...] nunca tive em nenhuma formacaio algo que falasse do uso de calculadoras. Acho que a calculadora ainda nao é vista como um recurso didatico em sala de aula”. Outro professor destacou, ainda: “a orientacao precisa ser bem dirigida... de acordo com a realidade. Tem hora que (0 uso da calculadora) nao se faz necessdrio, tem horas que se faz necessdrio e, assim, tem que ser bem adequado”. Quando, por outro lado, o(a) professor(a) é envolvido em atividades de formagao sobre usos da calculadora, o(a) mesmo(a) se sente seguro em propor atividades em sua sala 40 0 que pensam professores sobre o uso da calculadora de aula que envolve este recurso. Uma professora do ano da rede particular afirmou: “Se vocé pegar um mete autor atualizado ... vocé vai perceber que na propria orie . um edagdgica atras (do livro) ele ja traz a necessidade do , ae cdlculo mental e do calculo através da calculadora na =n em sala de aula. [...] como a gente ta sempre em capacita a, inclusive a gente teve acesso ao autor do livro... (que vain escola fazer a apresentacao do livro, tirar algumas dtvidas etambém falar da calculadora, da necessidade do uso... ento, foi isso que nos levou a aplicar na escola, né?” ‘ No Capitulo V deste livro, mais exemplos apresenta- dos nos livros didaticos serao explorados, evidenciando que alguns destes realizam boas propostas e ainda orien- tam o(a) professor(a) como as atividades com a calcu- ladora devem ser exploradas em diferentes momentos, com distintas finalidades e tomando como base conceitos matematicos variados. Refletindo sobre os resultados... O levantamento realizado, apresentado e discutido neste capitulo, reforca achados de estudos anteriores (como os de Noronha e SA (2002), visto neste capitulo, e Medei- ros (2003) e D’Ambrésio (2002), relatados e analisados no Capitulo II), no sentido de que ha um sentimento confli- tuoso dos professores em relagao ao uso da calculadora. Eles afirmam reconhecer a necessidade do uso dessa ferramenta e apontam vantagens e desvantagens de sua utilizagao, mas nao tém feito uso sistematico deste recurso em suas salas de aula. O que se evidencia no conjunto de andlises realizadas é que os professores reconhecem que a calculadora nao pode ser deixada de lado no processo de aprendizagem matemiéati- cae esto cientes de que as atividades de uso da calculadora devem ser bem pensadas, com objetivos claros, de modo a dicarem auxiliarem nos avancos dos alunos e nao os preju de alguma forma em seus desenvolvimentos. 41 Covecko “TeNpéncias Em Eoucacdo MATEMATICA” Salienta-se que estes estudos, tanto os anteriores quanto o aqui relatado, foram realizados em levantamentos locais nao se constituindo em sondagens amplas, como as que envolvem a totalidade de professores de uma rede de en- sino, seja local, regional ou nacional. Dessa forma, devem ser tomados muitos cuidados no que concerne a generali- zacao das conclusées que podem ser tiradas. Sendo sonda- gens com um numero relativamente baixo de professores e nao tendo sido realizadas andlises estatisticas, deve-se considerar estes resultados como possiveis indicadores de tendéncias entre professores. Embora os resultados aqui relatados sejam locais, pode- mos afirmar que em nossas praticas — seja como docentes em Curso de Pedagogia ou em processos continuos de forma- c&o, seja em assessorias a secretarias de ensino e em outras pesquisas de naturezas diversas, de andlise de livros e de praticas de professores — temos evidéncias de que 0 uso da calculadora em sala de aula nao é constante, embora os(as) professores(as) reconhegam a importancia desse recurso no ensino de Matematica. Convidamos vocé, leitor, a realizar um levantamento semelhante, observando o que os seus colegas (sejam do- centes e pesquisadores universitarios, sejam professores em formagio inicial ou atuantes na Educagaéo Fundamental ou no Ensino Médio) respondem aos questionamentos que apontamos neste capitulo. Algumas perguntas devem ser adaptadas para se adequarem a sua realidade. Seré muito bom receber de vocés os resultados obtidos, no sentido de verificarmos se em seu local de trabalho os professores con- cebem o uso da calculadora de forma semelhante ou distinta a dos professores aqui pesquisados. Faz-se necessdrio que os cursos de formagao inicial e continuada abordem os usos diversificados da calculadora, le- vando os professores a refletirem a respeito das possibilidades diddticas dessa ferramenta e que os levem a experimentagao de diferentes atividades de ensino envolvendoa calculadora. Estas atividades podem ser vivenciadas em propostas de ensino de 42 0 que pensam professores sobre 0 uso da calculadora diferentes eixos e contetidos matematicos, aproveitando-se proposicdes dos livros didaticos adotados e ampliando-se o uso para outras atividades planejadas pelos professores ~ seja em propostas a serem vivenciadas em uma sala de aula, num conjunto de salas da mesma série ou até mesmo se envolvendo aescola como um todo. A seguranga que a formag4o proporcionaré aos profes- sores fara com que busquem mecanismos de viabilizacao do uso da calculadora em sala de aula. Os professores sentir-se-4o, entao, seguros ao argumentarem junto aos pais dos alunos quanto a importancia da mesma e na defesa da aquisicao e do uso desta ferramenta. Planejarao, assim, ati- vidades que auxiliem os alunos em seus desenvolvimentos matemiaticos por meio dessa ferramenta relativamente nova e tao presente na atualidade. Também devemos salientar que ha algum tempo havia uma escassa quantidade de estudos cientificos envolvendo o uso da calculadora em sala de aula, que poderiam servir como subsidios para os professores e os educadores de forma geral. Assim, a pouca producao e discussdo no meio cientifico sobre as possibilidades de uso da calculadora e seu auxilio para a compreensao dos conceitos matematicos também podem ter contribuido para que esta inseguranga de professores nao tenha sido superada. Contudo, pode-se afirmar que 0 cenario atual vem se modificando. Além de educadores de modo geral reconhecerem a importancia das relagGes entre o que se ensina na escola e as experiéncias de vida e necessidades impostas pela sociedade, encontra-se, hoje, no centro das discussées de pesquisadores da area de Educacao Matematica (ver, entre outros, BRASIL, 1997; RUTHVEN, 1999; Bicone, 1997; Borba; PEN- TEADO, 2005; SELva; Borsa, 2005; conforme citado e discutido no Capitulo III deste livro), a importancia de inclusao do uso de recursos tecnoldégicos na escola, ampliando 0 universo escolar e garantindo uma aprendizagem conectada as demandas do mundo atual. 43 Capitulo III O que as pesquisas mostram sobre o uso da calculadora em sala de aula E dificil imaginar o nosso dia a dia sem 0 uso da calculadora. Entretanto, como dissemos no capitulo anterior, apesar desse grande uso cotidiano, nas escolas ainda se observa um grande receio quanto ao uso dessa ferramenta. Mas como tém se posi- cionado os educadores matematicos sobre esta questo? O que dizem as pesquisas? Justificam esse temor ou nao? Neste capitulo, procuraremos discutir como e o que dizem pesquisadores em Educagao Matematica sobre 0 uso da calculadora em sala de aula. Nosso ponto de partida se refere a como a Educagao Mate- mitica tem respondido aos temores observados nas escolas e nas familias sobre o uso de calculadoras na sala de aula. D'Ambrésio (2002) atribui os receios quanto ao uso da calculadora em sala de aula a um certo conservadorismo e desconhecimento histérico sobreo papel quea tecnologia tem exercido no desenvolvimento ‘das. civilizagées. Em sua andlise histérica, ele mostra que a so- ciedade vem se organizando a partir da tecnologia disponivel. Assim, nao faz sentido olhar as horas a partir do céu se ja existe orelégio. Da mesma forma, nao se justifica se operar apenas com 0 lépis e o papel diante das tecnologias atualmente disponiveis, como calculadoras e computadores. Seguindo essa direc4o, Borba e Penteado (2005) destacam que uma determinada midia nao determinaa pratica pedagégica, mas 45 Covecdo “Tenvéncias em Eoucacio MaTEMATICA” sugerem que a introducao de novas tecnologias na escola pode levar a reflexdes sobre mudangas curriculares, novas dinamicas da sala de aula e novos papéis a serem desempenhados pelo professor. O uso de computadores e de calculadoras pode promover uma reorganizagéo da atividade em sala de aula com novos papéis a serem desempenhados por professores e por alunos. Alunos podem, sob a orientagao do professor ou autonomamente, explorar conceitos e construir conheci- mentos de forma diferente, a partir do uso do computador ou da calculadora. Respostas serao dadas diretamente por esses recursos aos alunos ¢ estes nao dependerao exclusivamente de retornos dados pelo professor. O professor assume também novos papéis, organizando e sistematizando a aprendizagem. Esta nova organizacao reflete novas maneiras de aprendizado. Uma leitura mais detalhada sobre as mudancas promovidas pela tecnologia em sala de aula pode ser obtida no volume sobre Informatica e Educacéo Matematica desta colecao. E importante ressaltar que a calculadora nao resolve por si sé o problema, ela nao determina a operacao, nem como a mesma deve ser digitada no teclado e, nem também, interpreta o resultado obtido. Todas essas tarefas devem ser realizadas pelo aluno, que é 0 ser pensante na aprendizagem. Entao, atri- buir o papel de pensar a calculadora nos parece, na verdade, um grande equivoco. O uso da calculadora em sala de aula também tem sido recomendado pelos Parametros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), que enfatizam a importancia desse instrumento na rea- lizagdo de tarefas exploratdrias e de investigacdes conceituais, na verificagao de resultados e na corre¢do de erros, podendo ser, também, um valioso instrumento de autoavaliacao. “Como exemplo de uma situacao exploratéria e de investigagao que se tornaria impropria sem 0 uso da calculadora, poder-se-ia imaginar um aluno sendo desa- fiado a descobrir e a interpretar os resultados que obtém 46 O que as pesquisas mostram sobre 0 uso da calculadore em sala de ; quando divide um ntimero sucessivamente por dois (se comecar pelo 1, obtera 0,5; 0,25; 0,125; 0,0625: 0.03125. 0,015625). Usando a calculadora, ter4 muito smais comidi gdes de prestar atenc3o no que esta acontecendo com os resultados e de construir 0 significado desses numeros” (PCN, BrasiL, p. 47). t Bigode (1997) enfatiza que a calculadora Possibilita, ainda, que alunos levantem e confirmem, ou nao, hipsteses, familiarizem-se com certos padrées e fatos, e utilizem gene- ralizagoes como ponto de referéncia para o enfrentamento de novas situagbes. Segundo Ruthven (1999), duas importantes contribuigGes que a calculadora pode oferecer € 0 apoio 3 resolugao de problemas, possibilitando maior amplitude & ma- teméatica escolar e 0 apoio a exploracao de padres e estrutura dos ntimeros. O uso da calculadora libera 0 aluno da realizac3o de cdlculos no papel e no lapis, podendo se dedicar a pensar estratégias e desenvolver seus proprios métodos de resolucao. Chamamos atencao, entao, para diversos usos que a calculadora pode ter em sala de aula: explorar conceitos, verificar resultados obtidos por meio de outra representacao, realizar calculos, etc. Assim, nao advogamos a ideia de que a calculadora substitua 0 lapis e 0 papel em sala de aula, mas enfatizamos as vantagens de se introduzir este instrumento que, por suas especificidades, promove novas possibilida- des de aprendizagem aos alunos. Esta perspectiva apoia-se, também, na andlise de Vergnaud (1987) sobre os conceitos analisando-os a partir de trés dimens6es: invariantes, situagoes e representagdes. Os invariantes referem-se, essencialmente, as propriedades dos conceitos; as situagdes dao significado aos conceitos; e as representages consistem das diversas re- presentacGes simbolicas, linguisticas, graficas ou gestuais que podem ser usadas para representar os invariantes, situagdes e procedimentos. Vergnaud ainda destaca a importancia do uso de diferentes representagoes simbdlicas no trabalho com os conceitos matematicos, pois representagdes distintas podem. 47 Covecho “Tenpenctas EM EDucacAo MATEMATICA” ser salientes ou opacas para diferentes aspectos de um mesmo conceito. Para uma discussao mais ampla sobre a Teoria dos Campos Conceituais de Gerard Vergnaud, sugerimos a leitura de outro livro desta mesma colecao, Psicologia da Educacao Matematica, de Jorge Falcao. Ao analisarmos 0 quadro te6rico em que se discute o uso de tecnologias em sala de aula, reconhecemos claramente a importancia da calculadora, entretanto, no ambito mais ge- ral da comunidade escolar (professores, pais, alunos) ainda persiste grande preconceito, pois muitos consideram que sua utilizagao pode inibir 0 raciocinio dos alunos e gerar uma “preguica mental” (MeEbEIRos, 2003). Outro argumento também bastante utilizado é que a calculadora nao deve ser utilizada no ensino regular na medida em que no vestibular é proibido o seu uso (MEDEIROS, 2003). O primeiro argumento (preguica mental) pode ser derrubado pelas consideracdes acima jé realizadas que mostram que a calculadora pode ser um instrumento a servico do pensamento do aluno, que pres- supe uma organizacao de atividades por parte do professor de modo a aproveitar as vantagens do uso desta tecnologia e que a calculadora nao é vista como substituta ao lapis e ao papel na sala de aula. O segundo argumento (ser proibida no vestibular) nos parece bastante fragil na medida em que implica em uma subordinaco de praticas pedagoégicas aos exames vestibulares. Na verdade, os exames vestibulares é que deveriam ser repensados de modo a refletir as necessi- dades do mundo atual. Na direcao de apoio e de valorizacao do uso da cal- culadora em sala de aula, Duffin (1997) constatou que, em geral, as criangas apresentam uma atitude muito positiva em relacao ao uso da calculadora, dominando esta ferramenta rapidamente e com muito mais facilidade do que adultos que nao tiveram a oportunidade de lidar com recursos tecnolé- gicos durante a sua formagao. Esta autora salienta o grande enriquecimento proporcionado pelo uso da calculadora ao conhecimento numérico dos alunos. Também a constata¢io dos ganhos em aprendizagem matematica por parte de alunos 48 (0 que as pesquisas mostram sobre 0 uso da calculadora em sala de aula? relacionados as atividades propostas em sala de aula que envolvem o uso da calculadora, a partir dos resultados de diversas pesquisas, apoiam aqueles favoraveis ao uso da calculadora em sala de aula. Vamos, entao, conhecer alguns desses estudos e seus resultados. Medeiros (2003) investigou a influéncia da calculadora na resolugao de problemas abertos com 26 alunos de 6.* série de uma escola da rede ptiblica. Foram realizados 16 encontros com os alunos que trabalharam em duplas. Nos primeiros oito encontros eles resolveram problemas abertos sem uso da calculadora, enquanto que nos oito encontros finais, as mesmas duplas resolveram problemas similares usando a calculadora. A autora observou percentuais de acerto maiores quando as criangas usaram a calculadora. O uso da calculadora agilizou as tentativas, permitindo que o aluno se concentrasse mais no processo de resolucao do que na realizagao de calculos repetitivos, servindo, assim, para confirmar mais rapidamente suas hipsteses e, por fim, po- tencializando 0 calculo mental. Os dados de Medeiros (2003) sao interessantes, enfatizando um papel que a calculadora pode desempenhar; entretanto, uma andlise metodolégica detalhada sugere que os resultados desse estudo seriam fortalecidos se tivesse sido proposto também um grupo que usasse primeiro a calculadora e depois resolvesse os problemas sem a calculadora, controlando, dessa forma, qualquer efeito de aprendizagem pela repetigao da situacao. Seguindo o mesmo objetivo de mostrar que a calcu- ladora pode ser utilizada para estimular a aprendizagem, tornando-se um recurso didatico, Sd e Jucd (2005) realizaram um estudo enfocando o ensino de operagdes com ntimeros decimais usando a calculadora. Participaram trés turmas de 6.* série de uma escola da rede publica do Para, aproxima- damente com 45 alunos cada, que tinham pouco dominio da tabuada e dificuldades na leitura e na compreensao de problemas. Os alunos trabalharam em grupos e realizaram um pré-teste, atividades de intervencao e pés-teste. As atividades de intervencado foram sobre: transformagao de 49 Covecho “TENDENCIAS EM Eoucacho MATEMATICA”” 5 decimais e vice-versa, com- adicao de nimeros decimais mais, multiplicagao de ntimeros decimais. Em todas as atividades foi usada a calculadora. Nas atividades de adigao, subtracao e multiplicagao de decimais, os alunos deveriam resolver inicialmente com a calculadora e depois sem uso da calculadora, comparando suas solucées e buscando aconstrucao de uma regra para descrever a operacao. Os resultados indicaram que os alunos apresentaram desem- penho significativamente superior no pés-teste. Os autores concluiram que houve avangos na aprendizagem e também na autoestima dos alunos que se mostraram mais motivados. As dificuldades iniciais com a tabuada mostraram-se impor- tantes com alguns alunos compreendendoa regra de ntimeros decimais, mas apresentando erros consistentes de tabuada. Novamente chamamos atencao para 0 fato de nao se ter um grupo que nao tivesse usado a calculadora de modo a compa- rarmos os resultados com 0 grupo quea utilizou, fortalecendo os resultados obtidos. Outro estudo que apresenta resultad um importante papel na com- quea calculadora pode exercer reensao de conceitos matemiticos foi realizado por Selva e Borba (2005). Este estudo analisou como criancas comparavam os resultados de um mesmo problema de diviséo com resto resolvido por meio de diferentes representacoes. Participaram 48 criancas da 3.* e 5.° séries de uma escola publica que rea lizaram pré-teste, intervencao e pés-teste. As criancas foram distribuidas em grupos que resolviam os problemas usando dois tipos de representacao: G1- papele lapis/ calculadora, G2- calculadora/papel e lapis e, G3- manipulativo/ papel e lapis. O desempenho no pés-teste foi superior ao pré-teste em todos os grupos. Na 3.4 série, o uso da calculadora foi mais efetivo apos a resolucao no papel do que antes. Na 5." série, nao se observou diferenga no pos-teste entre G1 e G2, constatando-se desempenhos mais baixos no grupo G3, que nao usou a calcula- dora. Os dados enfatizaram a importancia do uso de diferentes representagoes na resolucado de problemas, mostrando que 0 fracdes decimais em numero paracao de ntimeros decimais, subtracdo de ntimeros decii los que demonstram 50

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