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ALTAIR T'OGUN 2" EDICAO ALTAIR TOGUN ELEGUN Iniciagdo no Candomblé Feitura de lyaw6, Ogan e Ekéji 28 Edicao Rio de Janeiro 1998 Copyright © 1995, by Altair B. Oliveira (T'Ogin) Editor: Cristina Fernandes Warth Coordenagéo Editorial: Heloisa Brown Copydesk: Elisabeth Spaltemberg, Revisdo Tipogratica: Silvia Schwingel Dias Capa: Leonardo Carvalho Editoragao Eletr6nica: Cid Barros CIP-BRASIL. CATALOGACAO-NA-FONTE. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RI. O45e Oliveira, Altair B.,1948- 20d. ELE GUN: iniciagao no candomble: feitura de lyaws, Ogdn e Ekeji / Altair B. Oliveira (T'Ogtin), -2. ed, = Rio de Janeiro: Pallas, 1998. 124p. Inclui bibliografia. ISBN 85-347-0137-7 1. Candomblés. 2. Cultos afro-brasileiros — o5-1020 SetimOnias e praticas. 1. Titulo. howe CDU— 299.6. Pallas Editora e Distribuidora Ltda. Rua Frederico de Albuquerque, 44 —- Higiendpolis WANS CEP 21050-840 - Rio de Janeiro - Rj CVS Tel: (021) 270-0186 Fax: (021) 590-6996 Homepage: http:/ /www.editoras.com/pallas/afrobrasil E-mail: pallas@ax.ape.org PALLAS Mo Diupé - Eu agradego Neste espago, presto agradecimentos aqueles que muito tém me auxiliado nesta jornada. Primeiramente, como nao poderia deixar de ser, mo dtipé Ol6érun at Orf mi (agradego a Deus € a minha cabeca) por ilu- minar minha mente para que eu pudesse realizar este novo tra- balho, e espero com suas ajudas que scja do agrado de todos que dele tomarem conhecimento, como © meu primeiro livre "Gan- tando para os Orixs — Nkorin s’awon Orisa", que foi clogiado pelos cem por cento de pessoas que o adquiriram € que se en- cantaram muito mais ainda com as fitas das gravagdes das canu- gas nele contidas. Isso nos Jevou, a mim ¢ a minha familia, para além das fronteiras do pafs, posto que o nosso trabalho através do livro ¢ das fitas j4 foi para outros paises como a Franga, Portu- gal, Estados Unidos e, uma grata surpresa, até para a Ucrania, adquitido por um estudante da Universidade de Kiev. E, mnito gratificante ter nosso trabalho reconhecido € valori- zado, € nesse aspecto sé tenho a agradecer a Olédrun ati Ori mi- Agradecgo-lhes também por este novo trabalho ora apresentado, no qual, pela experiéncia do anterior, seguirci a mesma linha de acio em esclarecer 0 maximo que me for possivel, até mesmo como no "Cantando para os Orixds", com as fitas gravadas das cantigas e rezas aqui contidas ¢ espero que tenha o mesmo éxito anterior. Mo diipé Qlédrun baba wa ati Ori mi ff gbogbo rere ki won sé flin wa (Agradego a Deus, nosso Pai, € a minha cabega por tudo de bom que eles tém feito por nés). Agradeco a minha familia, 4 esposa Wanderly (Ekéji de Omoli ati omg Qya), aos meus filhos Aline, Wagner e Altair Filho, que sdo os meus colaboradores diretos, de quem sem a ajuda eu nao teria aleancado 0 sucesso no trabalho anterior € com certeza também neste. Mo diipé peli ifé ghogbo ff iron- 16w6 si mi (Agradeco com todo carinho pela ajuda a mim). Agradego & Editora Pallas pela confianea em langar-me, um ilustre desconhecido, ¢ pelo apoio, incentive ¢ confianga em mim depositados, 0 que muito me tem estimulado a prosseguir. Mo dipé gbogbo yin bée fi l’'agbdra fin mi (Agradego a todos vocés também pela forga que me tém dado). Nao poderia jamais esquecer-me de agradecer aqui a todas as pessoas que adquiriram o nosso livro "Cantando para os Orixds" © nossas fitas, 0 que nos trouxe uma boa ajuda para a retomada da construgao do nosso [lé Ona (casa de Orixa). Essa esta, gragas a cles, sendo tocada devagar, mas com esperangas de que conseguiremos 0 nosso objetivo, pois o nosso trabalho encontra- se ainda no inicio e temos muito chao pela dianteira. Mo dtipé won ghogbo yin oré mi fi iranlgw6 wa ko ilé Orisa wa (Agradego a todos vocés, meus amigos, pela ajuda a nés concedida para construir nossa casa de Orisa). Quero agradecer também aos omg Orisa ilé ati won oré mi (aos filhos-de-santo da casa e aos meus amigos) que nos estio dando forgas, ajuda e incentive para que concretizemos nossos projetos. Dentre eles, eu gostaria de citar como uma homenagem especial o amigo Sr. Hélcio (Babdlégsdnyin), os omo Orisa ilé Al- berto de Oasaala, Jandira de Oya e Adelaide de ‘Omolu, 0 oré mi Ivanil Monteiro (Jorge)-e ainda o Ogan Mario de Ogin que foi para mim uma grata revelagio de amizade e carinho. Won gbogbo yin mo dipé, mo jiba péld ap4-ara kon an if€ papd oré yin CA todas voces ent agradcgo, apresenty os meus respertos com un abrage © muito carinho do amigo Altar de Ogtin). Altair T’Ogiin NOTA; As fitas com as cantigas € rezas contidas neste livro © no livro "Cantando para os Orixas" poderao ser encontradas com © antor no telefone (021) 76722669. VIL Prefacio Qualquer pessoa que se interesse por religido africana no Brasil encontrara, nos dias atuais, um vasto ¢ heterogéneo acervo @ sua disposigao. Sado obras das mais variadas temdaticas. Ha aquelas gerais, de cunho histérico ou antropolégico. Ha as que versam sobre casos mais especfficos, tais como hist6éria de uma casa-de-santo, depoimentos pessoais, usos das folhas, descrigao de itens, cantigas ¢ as que detalham partes dos antugos rituais. O Candomblé serviu, também, como pano de fundo para obras de ficgZo, como as de Zora e AntOnio Olinto, ¢ as antoldgicas, de Jorge Amado, De algum tempo para c4, vém surgindo as teses € monografias universitérias, principalmente na Bahia, no Rio de Janeiro ¢ em Sao Paulo, A varicdade, portanto, € grande. Acredito que o Brasil supere qualquer outro pais em obras sobre essa drea. Essa volumosa produgio Ievanta opiniécs antagénicas. Uns nao concordam com a revelagio de segredos da seita € outros acreditam que sua divulgacao tem um lado pedagégico que nao deve ser desprezado, O Candomblé, diferentemente do Cris- Ganismo, com a Biblia, c do Islamismo, com 0 Gordo, nao tem um livro sagrado revelado por Deus, para servir de guia aos seus fiéis. Esta diferenga é crucial, posto que sendo o Candomblé uma religiio de transmissao oral (até hoje), nado tem como im- pedir que, ao longo dos anos, aparegam dessemelhangas. Nor- malmente, as casas segucm preceitos deixados e ensinados por seus fundadores. Nos tempos mais antigos, havia troca de infor- mages entre os pais-de-santo e ajuda mitua. Hoje, tal pratica € mais rara, 0 que contribui para trilharem as casas, as vezes, eaminhos diversos, até mesmo entre as que tém uma origem comum. Para aumentar esta diaspora, ha a questo da forma de trans- mis o do conhecimento sagrado. Sendo oral, somente alguns detinham 0 dominio dos preceitos mais fundamentais, que pas- savam aos escolhidos por suas qualidades ou aos designados pelos Orixas. Nao era o fato de fazer santo que habilitava a pes- soa a ser pai ov mae-de-santo ou a ocupar um cargo na casa. Os segredos cram ensinados por quem os tinha para quem os mere- cia receber. Era, no entanto, um outro tempo. Tempo em que religido era caso de policia, tempo em que através do segredo ¢ da transmissao do saber a pessoas de confianga preservava-se a propria religido. Foi assim que ela atrayessou os séculos e che- gou até os tempos atuais. Atualmente, como os segredos sao apro- priados com mais facilidade, é de se prever que as divergéncias se acentuem. A contribuir, também, para diferengas esta a questao das in- terinfluéncias entre as varias nagdes africanas que vieram para o Brasil. Convivenda, as vezes, em espagos geograficos préximos, sacerdotes c¢ filhos de nagées distintas estabeleceram contatos, chegando a ocorrer, até mesmo, a incorporagio de cultos de Orix4s que nao faziam parte do pantedo orginal. Keru, Angola, Jeje, Grunci, Mina etc, forneceram, cada uma, parcelas do que hoje conhecemos no Brasil como Candomblé. Em algumas regides, uma nacio pode predominar, mas, s¢ olharmos bem, descobriremos tragos incorporados de outras que nao se tor- naram dominantes no universo religioso local. Percebe-se que ha grande heterogencidade ¢ modernismo cm algumas casas. Paralelamente, ha uma preocupagio em se registrar 0 conhecimento através dos livros, como forma de se compensar a diversidade, Cada livro publicado reflete a visio do seu autor, dentro do que ele aprendeu. E assim que vemos a obra do Sr. Altair B. Oliveira que ora publica a Editora Pallas. Sem entrar no mérito da polémica acerca do que deva ou nado ser publicado, saudamos mais esta contribuigao aos estudos da cul- tura ¢ religides africanas no Bra: Agenor Miranda Rocha Sumario Introdugio.... O Elég 0 Origen (be de © Omieyd (Ebé de agua salgada) tho Ighé (Eb6 das matas W Saida de Ogan ou B dos O: Ariage (Banho das folha kai On Introdugao Ao apresentar este novo trabalho, estou duplamente feliz. primeiro por ter recebide de Oldorum e€ dos Oris’ a intuigae para direcionar e apresentar um trabalho que, imodestamente, con- sidero bom. Segundo, porque sei que este trabalho vai ao encon- tro do descjo de intimeros individuos, a julgar pelas consultas e pedidos recebidos de outras pessoas, algumas até com, casa aberta ha alguns anos, mas que sofriam com diividas e até mesmo com 0 desconhecimento de grande parte dos rituais que aqui descrevo. um problema pelo qual eu também ja pass ci € sci 0 quanto é constrangedor vocé recorrer a ajuda de alguém mais velho, su- Postamente erudito no awo (culto), mas que, ou fica the cozinhando em "banho-maria", sem dar 0 que vocé neces- sita, mas que também nao nega, até que vocé "se manque" © parta para outra, Ou que de cara Ihe humilhe ¢ lhe ponha Para correr com “dois quentes € trés fervendo". Ou, ainda, que Ihe estorque levando 0 seu owé (dinheiro) fingindo Ihe ensinar ou ajudar em alguma coisa quando, na verdade, ajudam-se a si Préprios. Aqui, tive o cvidado de nao infringir 0 awo € passar segredos do culto, coloco tao-somente detalhes importantes das praticas Tituais as quais me reporto, que tém o objetivo de ilustrar € in- formar as pessoas que as executam mecanica ¢ automaticamente atos realizados, ou aquelas que, embora tendo tempo de iniciacaio ¢ obrigagdes, nao tém 0 conhecimento para executar aquilo que, em tese, estariam aptas a realizar, com o aval dos seus zeladores grande maioria, por motivos variados, resolvem entregar o "Deka" aos filhos, com direito a este ou nao, e o fazem ind criminadamente, enuegando uma paraferndlia nas maos de pes- soas cm sua miaioria inexperientes © sem o minimo de n, contudo, saber © porqué daquel Esses, em sua conhecimentos basicos para desincumbirem-se da tarefa para a qual esto se propondo, como ja disse, com o aval dos seus Jador cntrega a um filho um "Deka" significa que cle, o zelador, endossa tudo o que aquele adores. Pois quando um filho fizer doravante. Mas nao € bem isso que acontece. A Mmaioria que nado pode pagar, € muito bem pago, para obter a juda" no inicio, fica mesmo perdida "num mato sem cachorro!. A essus pes da religiao dos s descjosas de aprender ¢ entender os rituais risa, dedice este trabalho com todo aye. Abtair T’Ogin O Elégiin (o Médium) e a Iniciagaéo no Candomblé Dentro da liturgia do Candomblé brasileiro, como nés conhe- cemos, existem alguns homens € mulheres que se transformam possufdos pelos Orisa durante os rituais, esses sio chamados de Tyaw6 Orisa (filho do Orix4), (lyawé - csposa) ou Elégin Orisa (aquele que € montado pelo Orisa) ou ainda, simplesmente, por médium, na terminologia afro-brasileira. Essa possessao € bas- tante notdvel durante as festas ptiblicas nas casas de Candom- blé, quando se exibem os toques, as dangas € as cantigas rituais Para criar um clima que possa produzir um estado de éxtase quando os filhos sao possuidos ¢ acredita-se que as divindades incorporaram neles, quando entao elas se manifestam dire- tamente na pessoa incorporada. Nessas ocasides, as pessoas até dizem ou fazem coisas que normalmente nao diriam ou fariam, transformando-se assim numa outra "pessoa". Entao, clas cantam, dancam de maneira diferente, expressam-se verbalmente ¢ os fiéis recebem suas mensagens como vindas daquele Orisa, que agora esta personifi- cado no "médium". in Mas, para receber ou ter esta capacidade de incorporar o Ong, essas pessoas tém de passar por certos rituais de purifi- cagdo € iniciagdo para, ai sim, cumpridos os rituais, terem © privilégio de serem consideradas especiais, nao importando o sexo, a idade, ou o tempo de iniciagdo. Pois uma pessoa que pos- suir capacidade de incorporar o Orisa € vista como um escolhido ¢ nao existe honraria maior para um adepto do culte do que a ca- pacidade de incorporar um Orisa, emprestando seu Orf ati ara (sua cabega ¢ corpo) para tornar-se um meio de comunicagio di- reta do Orisa com os demais ficis do culto. Neste trabalho, pretendo apresentar e descrever alguns desses rituais pelos quais um Adésiiu (nome comumente usado para designar as pessoas iniciadas, muito embora tenha-se conhecimento de que csse termo somente é utilizado para os filhos de Sdng6 na Africa, segundo Pierre Verger, mas aqui no Brasil é do genericamente) torna-se apto a exercer este papel dentro da comunidade que cultua os Orisa. Nao posso € tampouco tenho pretensao de querer padronizar os rituais por mim descritos, mesmo porque cada casa tem o seu ase espeeffico ¢ descende de ase diferentes, onde certamente se en- contram intimeras variagdes ¢ nuances da forma de cultuar de uma Casa para outra ¢ que devem ser respeitadas as tradigoes de cada uma. Meu desejo é téo-somente colocar os rituais basicos para poder se processar a liturgia de uma maneira mais ou menos parecida, pois percebe-se uma discrepancia muito grande entre as casas de candomblé, inclusive da mesma nagao, € até entre casas de irmaos de um mesmo terrciro, cm termos de litur- gias internas ou ptiblicas. Essa idéia ocorreu-me porque cu mesmo ja tive grandes di- ficuldades em ter acesso a ensinamentos sobre a liturgia do Can- domblé, pois € muito dificil encontrar alguém que saiba e se disponha a ensinar espalhando o conhecimento necessdrio aos iniciados. Mas, ao contrario, negam-se ¢ levam para o timulo tudo o que aprenderam sem deixar 0 saber como heranga e, sim, aumentando a ignorfncia geral, 0 que gera invengdes e dis- torgGes das mais absurdas. Ademais, tenho conhecimento tam- bém de outras pessoas que, como cu, também tém vontade de aprender pelo menos o basico c encontram grandes dificuldades e obstiéculos por motivos diversos € alguns dos quais nao devo comentar pura nao suscitar pol€micas ¢ contrariar interesses, @ que me daria "pano para as mangas’. Portanto, quero deixar claro que nao sou doutor nem professor de nada, sou apenas um ¢g- bén (irm&o mais velho) que aprenden alguma coisa © quer vidir com os abtird (irmdos mais novos), porque eu também desejo © gosto de encontrar alguém que divida comigo seus gragas aos Orisa, sempre encentro alguém ‘a suprir alguma caréncia ou deficiéncia que tenho, c, como jue NEN tos: conhe: I cu gosto disso, qucro fazer o mesmo com outras pessoas tém também essas caréneias ¢ espero que realmente seja ‘itil ¢ do agrado dessa faixa de pessoas a quem me dirijo. Quando fui iniciado, no ano de 1966, ainda novo, ouvia con- versas de algumas pessoas mais velhas dizendo entre siz"... meu pai-de-santo sé assentou meu Exu na obrigagao de sete anos, por que iaé tem pressa em ter Exu assentada?” Isso me espan- tava, pois cu pensava que tode mundo tnha de ter loge o seu sentamento. Hoje, jd nado me espanta mais aquilo e tenho também outra idéia (maneira) de pensar, pois, conforme fui aprendendo, tomei conhecimento dos Ojtibo (assentamentos de culto colctivo, isto é, para uma famflia, vila, cidade, ete., onde todos da comunidade cultuavam juntos), 0 que me fez pensar questionando os assentamentos individuais, coisa que hoje eu assimilo tranqiiilamente. Mas, isso é coisa que demanda longa Conversa ¢ explicagdo para a sua compreensao. INICIAGAO DO NOVIGO ) recalher um abign, supde-se de antemao que o baba ou iyalédrisi jd saiba qual o Orisa do novigo, por jogos anteriores € por jé terem sido admitidos na casa, etc. Digo isso por achar que um abion, ao chegar numa casa, néo deva ser logo iniciado. Penso que deve freqiientar a casa por algum tempo, passar por rituais de limpeza ¢ propiciatérios, para ir verificando alguns tépicos importantes: tanto dentro dos rituais em si, bem como de adaptagao da pessoa a casa € vice-versa; pois a pessoa pode gostar muito da casa, mas no ser accita por incompatibilidade de idéias ou comportamento, também com a reciproca bem ver- dadeira, na qual a casa tem grande interesse naquela pessoa, que aos poucos vai descobrindo coisas que nao lhe agradam ec ter- mina indo embora. E, no caso, nao havendo empatia ¢ en- trosamento, a relacdo pode ser desfeita sem maiores problemas ‘ou traumas para ambas as partes. Mas, se hauver dtvidas quanto ao Orisa a ser iniciado por ainda nao estar definido, o procedimento antes do recolhimento deve ser: fazer um ebo para Esti na pessoa e despachar na rua, em seguida fazer um ebo ikt, despachd-lo e, dar um obi 4 ca- bega da pessoa com égbo (canjica cozida) ¢ &kasa brancos, ¢ co- brir a cabega com folhas de saiaio. Na manha seguinte, bem cedo, antes do desjejum, 0 baba ou iy deve retirar a obrigagao do ori do novigo, pegar as folhas de saiio que cobriram 0 orf, colocar sobre o ala € jogar os ow6 érd (cauris) para assegurar-se realmente de qual Orisa se apresentard no orf do novigo. Mas, caso nao tenha qualquer impedimento desta ordem, o procedi- mento € 0 scguinte: 1) Ebo Esti dndn (ebé de Exu no caminho). 2) Ebo iki (cbé para despachar a morte, doengas ¢ outras ne- gatividades), 3) Ebo Onilé (eb6 para o Senhor da Terra). 4) Igba Bsit (assentamento de Exu). 5) Ebo omidiin (cbs das aguas doces). 6) Ebo omi iyo (cbs das aguas salgadas). 7) Ebo igbé (cbé das matas com ofcrendas para Qs6nyin, si, Aginji e lyami Ajé). > (banho das folhas consagradas do Oris’ a ser ini- ciado). 9) Fri &kinnf (primeira raspagem da cabega). 10) Ebo Est (para o Exu da casa ¢ o Exu que esta sendo as- sentado). 11) Ebo Orisa (8) we on sundide, banho de éjé da iniciacgao do iyaw6). 12) Ebori (oferenda a cabega). oO abfon. antes de recolher-se, ji deve ter todas as coisas ne- cessdrias para a feitura, inclusive ow6 (dinheiro) para os animais dos sacrificios, muito embora algumas pessoas sejam do pen- samento de que primeiro recolhe-se o iyaw6, depois entéo é que io surgindo. Bu particularmente nao concordo com essa maneira de pensar, pois, assim sendo, ficara uma coisa im- provisada e ao sabor do acaso dos acontecimentos. Sou da opiniao de que tudo ja deve estar esquematizado c os materiais nec folhas, conta as Coisas ‘ios providenciados com antecedéncia: animai ete., ¢ de antemao saber quais os dias e quais obrigagdes serio. feit: nada de improviso, para fazer coisa séria ¢ bem- Como ja disse anteriormente, no sou professor de nada ¢ nao pretendo ensinar, ma sim dar algumas dicas aos que se in- teressarem. Para a relacio dos materiais necessdrios, cada um faré aquilo que € de costume do sen préprio age, mas algumas € nao podem faltar; nesse sentido, darci uma pequena relagdo de algumas coisas im- Portantes € 6 restante cada um completard de acordo com o da sua casa ou até mesmo retirar, se for o caso. Os materiais ne- cessarios numa obrigagio de orf coisas sido comuns a todos ¢ indispensavei Obi (varios) Orégbé (varios) Ataare (1 fava) Dandd-da-costa Aridon a—uma fava ou duas) Ikéodide Contas Ow6 eyo ptipa Palha-da-costa Saworo Adé Ori Ose did Efun Ostin Waji Abe A iimoengaji Saliba Oja A 0 funfun (uma para cada iniciado) (migangas do Orisa em ques r lke, mais algumas para os fies do Oris Onilé (dono da casa) e Orisa kéji (segundo Orixd) e para Oasaala (muitos cauris para os assentamentos € en- feites necessdrios) (para fazer os contreguns e para amarrar al- gu (se Orisa oktinrin (masculino),no tornozelo din ino), no tor~ nozclo esquerdo) (cabacinhas de pescogo na quantidade de acordo com a necessidade) (vegetal, verdadeiro) (sabao-da-costa) : apetrechos) 0, se Origa obinrin (femit (navalha, uma para cada iniciado) (tesoura, também uma para cada iniciado) (funfun (brancos)—chinelos) (faixas para amarrar o ort) (roupas brancas) (esteiras) (toalhas) (folhas de Esit) (folhas do Origa iniciado) (os animais para os sacrificios) (em caso de assentamentos individuais) (também em caso de assentamentos indi- viduais) (chapéu para usar apés a saida, no caso dos homens, ¢, se Ogdn, j4 vestide para o oniko) Aso odtin (roupas da festa). Todos os ingredients necessarios para as comidas (oferendas a serem feitas, as comidas secas ¢ comidas da festa). Estando ja tudo providenciade c @ mio, prepara-se a casa para receber o abfon, fazendo uma limpeza (sacudimento); tio logo cle scja recolhido nao ocupa o runko antes de scr sub- metido as limpezas rituais, a saber: Ebo Bsa dndn (ebé de Es do caminho). Ebg Ik (muito conhecido como 0 ebé ''de tudo que a boca come"). Algumas pessoas fazem o ¢bo iki com grandes quantidades dos diversos alimentos, mas isso nao € necess4rio; prepara-se sim uma boa variedade de alimentos, mas pouca quantidade de cada, porque é algo simbdlico e o importante é a qualidade e nao a quantidade das oferendas. E apés o bo ikd, entao, é que sera dado o banho de folhas que fora previamente preparado. S6 af entao € que o abion é recolhido. Em minha casa, mesmo antes do aparecimento da AIDS, adotei o costume de cada iniciado ter a sua mavalha e sua tesoura, porque s4o instrumentos particulares de cada orf (ca- bega); pois, assim como sao necessa4nios durante a feitura, tam- bém serio necessarios na ocasido do asésé de cada pessoa na preparagao do dk«i (corpo do defunto) para ser entregue a terra, entao cada um deve ter os seus, ¢ hoje cm dia, além de medida de higiene, serve como precaugio da contaminagao de doengas, inclusive a AIDS. Faremos aqui um paréntese para dizer que nos dias em que se vai fazer qualquer tipo de culto aos Orisa, jogo de caunis c, Ptincipalmente, quando se recolhe uma pessoa para obrigacdes E necessario que o baba ou iyalaase se levante bem ccdo, antes de o dia raiar, para fazer os OfO (cncantamentos) para pedir forgas, protegio © ajuda aos imonlé (espiritos). Comega-se com uma sauda¢ao a Onilé (o Senhor da Terra), que pode ser uma cantiga pequenina como esta: Iba Onile, Onilé mo jiiba awo. (Sua béngio Orix4, A béngao,Senhor da Terra, Senhor da Terra, apresento-vos meus respeitos cultuando-vos.) Apés a sandagio para Onilé, satida-se i sil OOta Orisa, Osétura Pordko tyd ré npé. Alégongon ija l'ordikg baba ré npé. Bst Odara, omokiinrin id 16 fi. OE séisé sorf, orf sé eléesé. O kaje, kasi cni je, Kini fje ghee ni. Aki l’6w6 Idi mu ’ Est karo, Aki Payd Idi mu CEsb kird. Ase 6 6 tun sé 6 si ni iti. Esti Apata séomo, oldomo |’Enun. O fi dkcita dipa iye Légémén Oran a Ald kéalii. Papa wara atu ka m: E3u miasé mi, masé won. omo mi, masé aya mi, (magé oko mi) Masé won dré mi, masé won omodrisa mi, ete. Agel j (Exu, oficial da guarda dos Orixés.) Como aquele que recebeu 0 axé ainda no ventre, sua mae Ihe chama, ‘Como aquele que tem grande velocidade nos pés dentro da briga, o seu pai Ihe chama. Exu Odara, filho homem, mas que também usa clitoris. E aquele que tem a cabeca pontiaguda ¢ que pode caminhar de ponta cabega (pés para o ar). sé sa. 10 E aquele que, se nao come, também ninguém come, E que, quem come € porque Ihe deu a sua parte. A quem nés cumprimentamos sempre pela ajuda cm trar- nas os males, A quem nés saudamos alegres sempre por livrar-nos dos males. E aqucle que tem © axé do tato, da percepgiio ¢ da sensibili- dade. b Exu, pedra que € 0 filho cujo pai mora dentro de si. Ele transforma a pedra em sal. Senhor poderoso e inflexfvel no céu, grande coletor de postos das cidades, ‘Também faz o leite virar queijo sem talha-lo. ‘xu niio me faga mal, nao faga mal aos meus filhos, 4 minha esposa (ao meu marido). Nao faga mal aos meus amigos, aos meus filhos-de-s anto, etc. Assim seja! Entao, apés 0 of Es , passamos ao ofd Egiingtin: Egan a ye, kil sé bod érun. Mo jiba ré Egtin mdnriwo Akfi dé wa 6, a kfic Egingin. Won gbogbo ard asiwajd awo, won ghogbo 0 mi, mo pe gbogbo ényin Si fain mi aabo ati ironlow6. Mo tumba baba Egqin, ase! (O espirito para nés sobrevive, € a quem nés saudamos e cul- tuamos no céu. Aprescnto-vos meus respeitos, 6 Espiritos,ao ouvir o som de VOSSaS VOZES. No6s vos saudamos quando chegais até nds, vos saudamos Espfritos. A todos os ancestrais do culto, a todos Os ancestrais da minha familia, eu chamo a todos vés Para virem dar-me protecao € ajuda. 11 Eu peco a béngao,Pais Espfritos, ¢ que assim seja!) Logoa seguir, faz-se 0 of lydmi Osdroigé: Mo jiiba ényin lyami Osdrongé O tondn & O tdgkdn ge Edd. Mo jiiba ényin lyami Osdroniga O tonén Ejé cnun O thokdn ee eda. Eje 6 ye ni kale 0 O yiye, yiye, yeyé koko, O yiye, yiyé, yeyé koko. (Meus respeitos a v6s,minha mae Oxoronga, Vs que seguicis os rastros do sangue interior. Vos que scguicis os rastros do coragao ¢ do sangue do figado. Meus respeitos a vés minha mac Oxoronga, V6s que seguicis os rastros do sangue interior. V6s que seguicis os rastros do coragao e do sangue do figado. O sangue vivo que € recolhido pela terra cobre-se de fungos, E ele sobrevive, sobrevive, 6 mac muito yelha. O sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos E ele sobrevive, sobrevive, 6 mae muito velha.) Por tiltimo,entao, faz-se 0 of Oléojé Ont: 1) Qld0j6 dni [f4, mo jiba re. 2) Oli dayé, mo juba ré. 3) Mo juba omodé, éjé enun 7) Kiiba mi sé. 8) Mo jiiba awon. . méérindinlégtin. 9) Mo jaiba baba mi (... Origa re). 10) Mo turh jiba awon Tya mi elgeye. 11) Mo jriba Oninmila, 6 gbdayd, 6 gb 12) Ohunti mo ba wi l60j6 oni 12 13) Ki 6 ri béé ftin mi. owd, majé ki $ndn mi di, 15) Niitorf yii Ondn kd di mon 9j6, 16) Ondn ko di mon odgin. 17) Ohuntf a bé ci wi fin Ogba, r ‘Ogba ngba. 18) Ti lldkase nf sé Kawijo Agbin, 19) Ti Ekese nis 20) Olsoj6 Oni ki 6 gba 6rd mi yewo, 21) Ase! 1) Senhor € dono do dia Ifa, apresento-vos meus respeitos. 2) Senhor da terra, apresento-vos meus respeitos. 3) Meus respeitos aos mais jovens (novos). 4) Meus respeitos aos mais velhos. laawijo Owti 5) Se a minhoca vai a terra respeitosamente, 6) A terra abre a boca aceitando-a, 7) Que a béngio me seja dada. 8) Meus respcitos aos dezesscis mais velhos (Odii agba). 9) Meus respeitos, meu pai... (seu Orixa). 10) Eu tomo a béngao as minhas maes Senhoras dos passaros. 11) Meus respeitos, Ordnmila, aquele que vive na terra € vive no céu. 12) Qualquer coisa que eu diga no dia de hoje, 13) Que eu possa vé-la acontecer para mim. 14) Por favor, ndo permita que meus caminhos se fechem, 15) Porque os caminhos nao se fecham para quem entende 0 dia, 16) Os caminhos nao se fecham para quem entende a magia. 17) Qualquer coisa que eu diga para Ogba, que Ogba aceite. 18) lakOse tornou-se 6 mais importante na assembléia dos es¢ tomou-se 0 mais importante na assembléia do al- godio, 20) Senhor e dono do dia, que vocé accite minhas palavras ¢ verifique. 21) Que assim sejal 13 Essex ofQ podem'ser feitos acendendo-se velas para cada en- tidade, para que 0 amanhecer do dia as encontre acesas, entao nesse dia vocé esté preparado para realizar qualquer culto on tra- balho ¢ principalmente para o jogo de cauris. De acordo com a tradigao Yoriiba, o jogo de cauris s6 pode ser feito enquanto houver a luz do dia, mas, durante o perfodo de recolhimento de um iyaw6, © jogo fica permanentemente aberto noite ¢ dia ¢ convém ser fechado durante esse periode para as pessoas de fora estranhas 4 casa, muito embora a maioria nao dé importaneia a isso. Mas deve ser feito para evitar quaisquer negatividades aquclas pessoas na casa, que venham a perturbar © proceso de iniciagio cm curso. Durante a noite, se houver necessidade de abrir 0 jogo num dos rituais, faz-se uma lamparina de dendé com pavios de algodio cru. omokiinrin id 16 fi" ( s"), nfo se quer dizer No of de Est, quando dizemos " filho homem. com isso que Egit seja andrégeno, mas sim a sua condigao de re- sexuais, tanto dos homens quanto mas que também usa clité gente dos 6rgaos ¢ prazere das mulheres, ¢ @ que rege a reproducao, portanto, comanda os Orgdos sexuais masculinos ¢ femininos. E, em outros t6pices, en- fatiza-se o poder infinito ¢ inesgotivel de Esit, com proezas que somente ele € capaz de realizar e 0 faz para mostrar a todos @ seu poder © sia magia © obter respeite por isso, Embora haja am- bigitidade, esta € uma caracteristica de Esti, ser ambiguo: ser bom, ser man, cxcitar o macho ou a fémea, fazer coisas possiveis Ic ¢ impossiveis € incrente a Esi. Retornando aos nossos primeiros rituais, temos ainda algo para complementélos, no caso do ebg Est Qndn (ebé para ext nos Caminhos), um dos que eu acho faceis € baytante cficientes para despachar negatividades, até mesmo aquelas com influén- cias do Odi Okonron, € 0 seguinte: 1 kg de farinha de mandioca (cria) 1 frango (de qualquer cor) 1/2 litre de epo pupa (dendé) 14 14 graos de ataare (pimenta-da-costa) 7 velas (brancas comuns) 7 moedas (correntes) 7 folhas de mamona (grandes) Com parte do ep6 (dendé) fazer num oberg (alguidar) pequeno uma vela africana com quatro pontas (pavios de al- godao embebides no cpo) que sao acesas. Acender um fogarciro de carvio c fazer uma farofa de dendé bem pupa (vermelha), tendo o cuidado de nao deixar queimar. O abjon fica de pé ¢ ao seu redor faz-se um semicirculo com as folhas de mamona de modo que as folhas se toquem nas pontas, ¢ ele fica de frente para a abertura entre a primeira € a tltima folha. Quando a farofa estiver bem quente, o baba ou ty4 pée sete graos de ataare na beca ¢ comega a mastigé-los. Entao, pega a pancla da farota quente ¢ divide mais ou menos igualmente pelas sete folhas de amona ja recitando o of Bsit sera dado a seguir). Ao terminar a divisao da farofa, o baba ou iya passa no iyaw6 o frange, que deve ser sacrificado sob os pés com o primeiro €jé escorrendo sobre a primeira felha com a farofa; em seguida, deve ser seguro ngo de modo que ele nao se debata e regar o restante do éjé 's outras folhas. Ao chegar a tiltima folha nao se retorna. Deve- esperar até o frango morrer (isso tudo recitando 0 of6 ¢ fazendo pedides para a seguranga c integridade do abfon), pedindo abertura de caminhos para iniciar os rituais © retirar as negatividades. Apés a morte do frango, coloque-o numa bacia Junto 4 primeira folha € comece a cortaé-lo em sete pedagos que Serao distribuidos um para cada folha com farofa (inclusive os Gr- te par 0 considerados uma das s “los internos com as tripas s > Pois o frango € cortade com penas e tudo pelas juntas nas 4sas Tente ao peito, sao duas partes; as Coxas junto a carcaga, sio mais duas; abrir o peito c retiré-lo inteiro com o pescogo c a ca- bega, com esta completam cinco, depois se retira tudo de den- tro, jd sao scis: por tiltimo a Garcaga inteira; € sempre recitando o of © fazendo pedidos). Logo apés, lavam-se as maos, entio pegam- 15 se as velas que devem ser passadas no corpo do abion, uma de cada vez, € acendidas junto as folhas, da primeira para a ildma na mesma ordem. Isso feito, pega-se um grao de ataare c dase para o abion mastigar, juntamente com uma moeda para que cle = por todo © corpo, da cabega aos pés. Quando terminar de passd-la, o baba ou iya levanta o pedago do frango da primeira folha ¢ 0 abion coloca a moeda enterrada na farofa € cospe a sa- iva acumulada pela mastigagao do ataare, € assim sucess pass vamente até a dltima folha. O of yi é 0 seguinte: ty Odara, 2) Onilé k6ngun-kéngun ade orun. 3) O ba obinrin je, 4) Oba 9 5) Onibodé run. 6) Baba 6! 7) Wa gbeemi 6! (no caso, Wa gh 8) Qga ki 6 ri j¢ mind idarn, 9) Est logémén orun. 10) M 11) Esit mayé mi, 12) Mase (lagbaja. 13) Agd london frin wa, 14) S’onon (ighaj }ni rere, 15) Ase! 1) Exu Odara, 2) Dono da ¢ (infinito) 3) Vocé que come com a mulher, 4) Voeé que bebe come homem. 5) Porteiro do céu 6) Pai! 7) Venha socorrer-me (no caso: venha socorrer... nome do iyawd) 8) O chefe que é visto sempre e esta dentro da confusao, nrin mu. .. nome do abfon) ) viet ija re a Cujas fronteirus estio acima de teto do céu 16 9) Exu, Senhor poderoso c inflexivel no drun (céu). 10) Nao permita que eu (ou fulano)... veja a sua briga. 11) Exu nao me faga mal, 12) Nao faga mal a (fulano...) 13) Dé-nos licenga nos caminhos, 14) Faga com que os caminhos de (fulano...) sejam bons, etc. 15) Assim seja! Ao terminar este cbo, se houver espace suficiente para fazer 6 ¢bg ikt, eruza-se o abfon com uma quartinha com Agua ¢ tira- se do semicirculo deixande as velas acesas enquanto faz-se o ebo ikti, também continuando acesas as velas africanas (o dendé do obero). Mas, se nfo houver espago suficiente, o préprio abfon, antes de ser retirado, apaga as velas com as pontas dos dedos uma a uma, da primeira para a tiltima. O cbo € recolhido folha por folha cuidadosamente para nao rasgar € entornar, ¢ colocado numa bolsa ou saco para ser despachado posteriormente junto com o outro ¢bo. Partindo-se da premissa de que o ¢bo ikt ja esteja todo preparado, tudo deve ser passado pelo corpo do abign enquanto se canta: re eb kts Ongn rd ré ebg ki Onon (Sacudo-Ihe com ebé para pér a morte no caminho (mandar embora) Sacudo-lhe com ebé para pér a morte no caminho!) Olya gbalé léri 6, 6 yd gale. Olya gbdlé léri 6, 6 iya gbdlé. Gbalé, gbdlé kint séri 6, Iki gbile léri 6, ikti gbalé ara nlo. (O mie, varra sobre a cabega dele, 6 mie varra. oO mie, varra sobre a cabega dele, 6 mae varra. Varra, varra 6 que estiver sobre a cabega dele, Varra iki de sobre a cabega dele, varra ik para que cle v4 embora do seu corpo.) 17 Essa € uma cantiga de Oya que € apropriada para desearre- gos, tendo ai ikii o significado de morte, insucessos, caminhos: fechados, ma sorte, doengas, etc. Ao terminar de passar tudo pelo corpo do abjon, rasga-se toda a sua ronpa (que deve ser velha € ter sido usada por todo 0 dia), que deve ser também despachada junto com 0 ebo. Bate-se o 11 corpo todo com as folhas escolhidas para o sacudimento, de~ pois ele € envolvido num lengol branco € levado para o banho, apos o que cle recebera as roupas novas ¢ sera recolhido ao runkg, s gnificando esse ato que ele esté trocando as roupas mundanas pelas vestimentas do culto, onde cle renasce: forga do Origa Uma coisa que deve ser ainda observada € que antes de preparar a eni (esteira), coloca-se sob ela as folhas importantes do Orisa do iniciando. Isso significa simbolicamente que ele se recolhe ao ighdé (mato) onde tera como cama as folhas do seu Orisa. Sabe-se que antigamente era costume tanto na Africa como aqui no Brasil recolherem os iyaw6 no, mato para os rituais de iniciagdo e, quando esse costume comegou a ser abolido, ainda persistiu a prdtica de libertar o tyaw6 "virado" no Ere (eri- anga) por alguns dias para recolher as folhas do seu Orisa e sobre- viver no igbé por um determinado perfode, 0 que era considerado uma grande prova de que se estava iniciando um: Origa verdadeiro ¢ nao um &ké (mentira, falsidade). Mas, hoje em dia, nao é mais possivel fazer isso, pclo menos aqui entre nés, por causa de uma série de dificuldades ocasionadas pelo sistema de vida modemo ¢ urbano vivido por nés; entao, ha que pela se fazer adaptacdes ao nosso tempo sem, contudo, mudar total- mente a tradigao, ficando pelo menos a representacio daquilo que se fazia antigamente. Outra coisa que também era feita anugamente era o costume de se fazerem os ebo em seus locais diretamente, ou seja, no proprio iyaw6, mas nos locais diretamente onde esses eb riam despachados; entao, safa-se para o caminho para fazer 0 cho 18 fist, ia-se a um local fechado do ighé para sc fazer o ebo ikea 0 cbg ighé era feito em local da mata diferente para os Orisa ighé (Igbé Ikti - floresta dos mortos; Igbé Orisa floresta dos Orixiis); os ebo omidin (agua doce) cram feitos diretamente nos mos, onde ‘logo apés j4 cram banhados os iyaw6 antes do ariase (banho das ervas). H4 pessoas que ainda gostam de fazé-lo as- sim, mas isso s6 € possivel quando se tem uma grande drea para a casa de candomblé, onde se encontram matas, nascentes de gua e se tem privacidade para cultuar sem olhos estranhos ob- servando, Como nem sempre se pode ter o ideal, temos de fazer © possivel no caso de quem nao tem a felicidade de ter uma grande 4rea para sua casa de culto, 0 mais aconselhavel, penso cu, € fazer os ebo em casa, passé-los todos no iyawé ¢ depois leva-los cada um ao seu Iugar de destino, evitando assim que cle acabe de passar pelas limpezas € ao retornar passe por coisas de- sagrad4veis, como por exemplo: aconteccr um acidente de es- trada com mortos, ou passar pela porta do cemitério, ou mesmo uma briga ¢ ainda outras coisas desagraddveis que podem vir a invalidar toda a limpeza jé feita. O individuo consciente, ao se deparar com uma dessas coisas, tem de tomar providéncias para afastar os efeitos que uma delas fatalmente tera sobre o iyawé futuramente. Agora, voltando ao nosso iyaw6 ja recolhido ao runko, limpinho ede banho tomado (ariase), a providéncia inicial em seguida € dar- lhe um obi a cabega, que € a primeira ¢ pequena obrigagao que 0 orf receberd € que necessita de: 1 obi id4rin (obf de quatro partes também conhecido como obi abata) 7 ou 10 Akasa brancos (de acorde com o odii que responder para Odsaala) Ezbo (canjica branca cozida) 1 quartinha de barro Ori vegetal Efun 19 Dand4-da-costa Folhas do Orisi (para cobrir 0 orf, o mais comum € usar o saido, uma das folhas de Odsaala para essa finalidade). Qj4 funfun (faixa branca para amarrar 0 ori). Esse ritual comega com as satdagoes ao orf do iyaw6: Aga fin mi Ori, ago fiin mi Origa. Ago fin mi OnisaAli Baba Oke. (Dé-me Ticenga cabega, dé-me licenga Orixd, Dé-me licenga Grande Orix4, Pai acima de todos!) Ori mo kil ¢ pe Ago yé Oléri, agd ye Elééda! (Cabega cu vos satido delicada € gentilmente! Com licenga, salve o Senhor da cabega, com licenga, Salve o Senhor da Criagao (Olédiimaré.) Essas saudagdes sfo feitas mastigando-sc o danda-da-costa. Apos as saudagées, pega-se um pouco de ori (manteiga vegetal) ¢ esfrega-se na parte dianteira do ori dizendo: Ago asiwaji ori! (Dé-me licenga frente da cabega!) Depois na nuca dizendo: Ago k (Dé-me licenga parte de urs da cabega!) A seguir, do lado direito dizendo: Ago 6uin ori! (Dé-me licenga lado direito da cabega! Depois do lado esquerdo dizendo: Aga as (Dé-me licenga lado esquerdo da cabega!) E por tiltime esfrega-se o ori vegetal no alto da cabega, dizendo: Aga dke orf! ou Aga aarin orf! (Dé-me licenga alto da cabega, ou dé-me licenca meio da ca- bega!) ‘hin ori! ori! 20 guida, repetem-se os gestos cas palavras na mesma or- aala so- Em dem, s6 que desta vez passando efun com o atin de Or bre os locais com ori vegetal. Em seqiiéncia, toma-se 0 obi com as duas maos, molhando-o na d4gua da quartinha, que deve ficar destampada por todo o Bn tempo, ¢ diz Ori 6, mo Apé ényin, wa gba obi, wa je obi! (O cabega, eu vos chamo, venha receber obi, venha comer obi!) Deve ser recitado segurando-se 0 obi sobre a parte superior do ori, onde jé se tinha passado o orf © atin ©, em seguida, cruzando o orf naqucle mesmo sentido de antes. O atin € o mesmo que a conhecida "pemba", s6 que o atin nao é simples- mente aquela pemba branca ralada ¢ que se compra nas casas. de ervas, mas um preparado com ervas ¢ raizes secas de Oasaala € outros ingredientes. Terminada a invocagao, parte-se 0 obi com os dentes ¢ retira-se aquele pequeno talo que fica no secu inte- rior, também com os dentes. Juntam-se as partes, molha-se no- vamente na 4gua da quartinha, ¢ entao se joga para saber se 0 orf respondeu e se pedemos continuar o ritual. Se cafrem duas partes convexas para cima, € Obi idéméji — significa sim. Se cairem trés, € Obi idéata—significa nao. Sc cairem quatro, € Obi iddarin (aléfia) — significa sim. Ou, se cair apenas uma, € Obi kon (OkOnron)— significa nao. Se cair uma das respostas negativas, deve-se rever o que foi feita © tornar a chamar 0 orf para entao jogar novamente o obi. Caindo alguma das respostas positivas, é sinal de ter sido aceito € consentir no prosseguimento. Toma-se, entao, uma das partes do obi, que deve ser dividida em um pedago para o babé ou iya © outro para o iyaw6, que deve mastigd-los sem, entretanto en- goli-los. Outra parte deve ser dividida entre as demais pessoas Presentes, 0 restante vai para a quartinha. Enquanto se mastiga © obi 9 baba ow iy4, que estava com o dand4-da-costa na boca, continua fazendo pedidos de felicidades ¢ tudo de bom para o 21 iyaw6. Depois de bem mastigado o obi, pega-se um de= senrolado mas seguro ainda pela folha de bananeira, recolhe-se a parte mastigada do Abjon sobre o akasa c, com a boca, 0 baba ou tya coloca a sua parte sobre o ponto alto do orf anteriormente preparado, junta com a do Abion no Akasa, poe um pouco de égbo (canjica) © cobre com as folhas de saiao, Entao, canta-se 0 seguinte: Ajalé ori, orf Pewa, Vewa, l’gwa. Ajalé ori, orf Pewa, lewa, l'ewa. Opé ényin Edimmaré, wa ori ¢ kui 6. Opé ényin Ediimare, wa ori ¢ kti 6. E ki 6 ordin, e ku 6 Qstipd, ¢ kt Ojd, Ojo ba ile. E kt 6.08 Ojo be ile. Ire orf 6 jf, 6 jf ire orf. in, ¢ kit Osiipd, ¢ ki 6 Ojo, Ite orf 6 jf, 6 jfire ori. (Onxa que molda as cabegas, a cabeca esta linda, linda, linda. Onxa que molda as cabegas, a cabega esta linda, linda, linda. Vos agradecemos, Senhor Supremo, venha & cabega, vos saudamos. Vos agradecemos, Senhor Supremo, venha A cabeca, vos saudamos. Saudamos o Sol, saudamos a Lua, saudamos a Chuva, Chuva que cai sobre @ terra. Saudamas o Sol, saudamos a Lua, saudamos a Chuva, Chuva que cai sobre a terra. Feliz a cabega, acorde, acorde feliz a cabe Feliz a cabega, acorde, acorde feliz a cabega!) Essa orin (cantiga) significa a saudagio a Ajalé que € 0 Orisa funfun que molda as cabecas no orun (a cabeea interior, espiri- tual e que € moldada antes do ni: mento fisico na terra), que sao escolhidas por cada um de nos antes da vinda para o ayé (mundo). Saudamos Ediimaré, o mesmo que Ol6diimaré (Det 22 o Senhor Supremo da criagdo € que criou todas as criaturas vivas da Terra), agradecendo-lhe por ter eriado aquela criatura que agora ta renascendo no Awo (culto). Saudamos a forga ¢ energia da luz do Sol, a forga ¢ energia da Lua (pois sabemos que a atragdo lu- nar pode interferir nas marés, vulcGes, etc., c, segundo 9s mais yelhos, sobre o plantio ¢ colheitas, deitar galinha para tirar ninhada de pintinhes, ctc.). Saudamos a chuva, chuva que cai sobre a terra propiciando-a e fertilizando-a para que possa haver nascimentos © renascimentos das criaturas vivas por sobre e sob ela. E, enfim, pedimos que o ori (a cabeca) acorde feliz ¢ que estas forgas to- das despertem essa cabega interior dentro do culto. Esse desper- tar significa 0 nascimento no awo (culto), pois a cerimOnia de iniciagao tem o ficado do renascimento do nosso orf € sua comunhao com o Orisa. Ai entao nés chamamos essa cabega para vir ao awo para ser cultuada ¢ para guiar aqucla pessoa que até entio era feito de uma mancira inconsciente € que de agora em diante passa a ser de mancira consciente ¢ directa. Terminadas as saudagiics, enrola-se 0 ori com 0 Oj funfun € poe- se o lyaw6 para dormir c, junto ao scu orf, ficam a quartinha com o obi, as vasilhas com égbo ¢ akasa.¢ uma vela de scte dias acesa. Embora algumas pessoas tenham o costume de, desse dia em diante, acordar o iyaw6 de madrugada para tomar o banho ¢ fazer as rezas, eu particularmente acho que nesse dia deve-se deixar o iyaw6 dormir enquanto quiser, pois ha pessoas que dor- mem 4s vezes até dois dias seguidos, pois essa obrigagao € muito relaxante ¢ deixa a pessoa em estado de calma para receber ° restante do ritual. E termina assim cssa primeira obrigagao Para o ritual da iniciagio. E tio logo o abion é recolhido, coloca- Se uma quartinha com agua atrés do portio da rua para despachar qualquer pessoa que chegue. Mesmo as da casa que estiverem ajudando € que foram a rua, na volta tém de ser despachadas no Porto ou clas préprias despatham-se € colocam a quartinha no- Vamente cheia d’agua no lugar. 23 EBO ONILE Apés 0 obf a cal » que ja pode ter sido levantado ou nao, a obrigagdo seguinte € o ¢bo Onilé (oferenda ao Senhor da Terra), que deverd ser feita da seguinte maneira. Para ebo Onilé tem-se de dar todas as oferendas que serao entregues a0 Orisa do iyaw6, inclusive, se houver possibilidade, até mesmo ako ou abo ewtiré (cabrito ou cabra) com os quatro galos ¢ a eti (galinha-d’angola) ¢ mais obi, orégb6, comidas se- cas, Epo, oyin, iyd (se ndo for de Odsaala ou ng6, sendo que os de Séngé nao levam também o obi). Mas sc, por acaso, nao for possivel ao lyaw6 oferecer os quadripedes, pclo menos um galo ou galinha ¢ o ett devem ser ofertados para Onilé. Vere- mos uma pequena relagao de algumas coisas necessdrias ¢ in= dispensaveis que devem ser complementadas, como ja disse antcriormente, pelo ase da casa: 1 akikodic (galo) ou abo adie (galinha) 1 eth (galinha-d’angola) 1 obi (exceto para Songd) 1 or6gb6 Epo pupa (dendé), exceto para Odsaala Oyin (mel), exceto para O Ty (sal), exceto para Odsal, SOng6, Yemonja. (Se 0 iyaw6 for de Odsaala, todas as oferendas prescindirio do epo € iy@, isto €, ndo levarao dendé nem sal; scrao,como dizemos comumente nas 4guas de Oasaala.) Egbo (canjiea branca cozida, oferenda que nio pode faltar). to Akasa (brancos ¢ vermelhos: se for para Oasaala ou outro Origa que recuse epo (dendé) por qualquer motivo, somente os brancos devem ser oferecidos). Isu (inhame). Omi (@gua) Gtigtirti (pipecas) Tudo deve ser preparado cedo, durante o dia, bem-feitos, remperados com altibésa ati edé (cebola © camarées), ye =) para aqueles Orisa que aceitam, epo (idem). Cedo, pela manha, deve-se sacrificar para o [si ilé (o Exu da casa). E ainda, du- rante o dia, deve-se fazer um buraco num local do egbé (terreno da casa) de tamanho suficiente para receber todas as oferendas que serao dadas. Assim que anoiteccr, ° ritual pode ser reali- zado. Traz-se 0 iyaw6 até o local onde foi cavado o buraco, onde as oferendas jé devem estar prontas. Tudo € passado pelo seu corpo, sendo primeiramente os animais; os quadripedes, ele en- costa 0 seu orf (cabega) com o do animal, € as aves sao passadas nele. Apés encostado o seu orf ou tendo sido passadas as aves, estas sio sacrificadas, logo apés, naquele buraco. Nao esquecer que o baba ou iyé deve estar mastigando 95 sete graos de ataare (pimenta-da-costa) e fazendo os pedidos a Onilé para a boa sorte do iyaw6, cantando a seguir: Ibé ré Orisa, iba Onilé, Onilé mo jiiba awo! Sua béncdo, Orisa (Orixd), sua béngao, Senhor da Terra! Senhor da Terra, meus respeitos ao cultuar-vos!) Ib4, iba, iba Onile, Onflé mo jiiba! (A béneao, a béngio, a béngio, Senhor da Terra, Senhor da Terra, os meus respeitos!) E wa Onilé sére 16 bd, Onilé sére 6! (Vinde, Senhor da ‘Terra, cobri-lo de felicidades, Senhor da Terra, faca-o feliz!) Cantam-se as cantigas repetidamente até que acabem de passar todas as oferendas pelo corpo do iyaw6 e sejam colocadas no burace, ao lado € em cima dos animais. Ao terminar, coloca-se 0 po (dendé), observando-se sempre 0 wo de Oosaala € canta-se: Epo nf ad nfo ojti Olooja ~ Epo ni rd nf 6 oj Oldoy (O azeite-de-dendé € calma, 0 Scnhor do mercado € teste- munha! © azeite-de-dendé € propiciagdo, 0 Senhor do mercado € testemunha!) Em seguida, pée-se 0 tyd e canta-se: Kikord ma wayé iyd, Kikord md wayé iyd. 0 din wa awa iyo, O ni ayé fain wa iyo! (Que a vida nao scja amarga com o sal, Que a vida nao ésteja amarga com o sal. Ela sera gostosa para nés com 0 sal, Ele € vida para nés, o sal!) Por iiltimo, coloca-se o oyin e canta-se: O din bé ti ola, Iba 6 tf ola! (Ela seja doce ¢ com fortuna, Abencoe-a com a fortuna!) ; Nesse caso, como ja disse anteriormentc, nao € meramente a riqueza fisica financeira, mas um conjunto de coisas boas para as nossas vidas, pois 0 oyin (mel) representa as coisas boas da vida. Isso terminado, cobrem-se as oferendas com a terra dire- tamente sobre elas, deixando-se queimar no lugar uma vela afri- cana (que deverd ser feita antes de comegar o ritual ¢ continuar queimando apds 0 término deste. Faz-se uma de quatro pontas, com pavios de algodio num oberg com epo pupa —dendé (0 al- godio ideal para fazer as velas africanas é 0 algodao nao-industri- alizado, pois cste queima melhor € suavemente, a0 passo que o industrializado faz um fogaréu que as vezes estoura o oberg). Isso feito, o iyaw6 pode voltar ao runke, de onde s6 sairé no- vamente na proxima madrugada para o ariase (banho de ervas) ¢ retornar para as Adtira (rezas); durante esse periodo, 0 arilse é feito com 0 Agbo da casa, 0 agbo do iyawé s6 seré feito ay vésperas do fari ékinnf (primeira raspagem da cabega). 26 IGBA ESU O préximo ritual agora € moldar o igba Esit (moldar o assen- tamento de Exu), nas casas que fazem assentamentos indi- yiduais, Algumas pessoas podem cstranhar por cu dizer isso, mas digo porque no € costume Yoriiba fazerem-se assentamen- tos de Egit e Orisa individuais. Eles costumam fazer um assen- tamento coletive (Ojtibo), onde todas as pessoas da casa cultuam juntamente; ou ainda, numa vila ou cidade em cujas entradas fi- cam os Ojtibo Bsit ¢ em outros determinados lecais os Ojtibo Orisa, onde todos os habitantes do lugar vao cultuar, fazer oferendas, pedidos ¢ pagar promessas por gragas alcangadas. Embora estando aqui onde nasci ¢ tendo aprendido 4 nossa mancira afro-brasileira, acho mais légica ¢ sensata a mancira dos Yorib4, mas isso € um assunto polémico e vasto para explicar 0 porqué do meu ponto de vista, devendo ficar para outra ocasiao. Por ora, estamos supondo ser uma casa que faga Igba indi- viduais. Existem também varias maneiras c costumes ado- tados para fazer os assentamentos. Entao, cada qual deve fazer A maneira de sua casa. Mas, seja qual for a maneira de cada casa, as coisas comuns a todas clas sao: 1 ferramenta de Esit (feita conforme o gosto da prépria pes~ soa) Amon (barro) 17 imas 17 ow6 eyo (cauris) 17 moedas (correntes) 1 dktita (pode ser da rua, rio, minério de ferro, etc.) 1 dbe (faca, sem o cabo de madeira) Ouro Prata Chumbo (ou estanho) =~ Azougue 27 5 ovos oe de barro, de ferro ou um vaso de barro (caqueiro) Aguardente Ataare (pimenta-da-costa) Efun Ostin wai Oni (vegetal) Ad6 (1 cabacinha de pescago) Obi Ordgb6 Agbo de Esh Epo pupa (dendé) Ty (sal) Oyin (mel) Eedui (carvao vegetal) As ervas para 0 agbo de Esti podem ser: Cangangao j Urniga Arrebenta-cavalos Comigo-ninguém-pode Fortuna Baba-de-bai ‘Tiririca Salado Pico Ae de alguma delas, pode-se colocar outra para Prepara-se © Agbo ‘com as ervas, onde deverao ser lavados to- dos os objetos do assentamento. Faz-se uma argamassa com 0 amon (barro), os ovos, a aguardente (um pouco), cfun, osin, Waji; Ori, epo pupa, iyd, oyin € Agbo € reserva-se. (A “entrar ndo leva cimento industrial come muitas Pessoas Costumam por, 28 isso faz com que a argamassa ao secar fique impermedvel e nao entranhe 0 @jé dos sacrificios.) Na panela de barro, colocar 0 ferro, adicionar um pouco de al- cool sobre o ferro ¢ um pouco dentro da pancla ¢ acender o fogo ¢, enquanto isso, prepara-se uma brasa de carvao bem viva (acesa); ¢ assim que o fogo da ferramenta apagar, colocar junto a sua base um dos imas € um pouco do bagago das ervas do agbo de Est; vai-se ouvir um chiado do ferro quente c, quando ces- sar, colocar em cima do bagaco de ervas a brasa bem acesa © em seguida adicionar um pouco da argamassa ao redor da brasa ¢ por cima dela colocar o dkiita (pedra); entao, termina-se de co- brir o dktita. Por cima da argamassa distribuir 0 oura, a prata, 0 chumbo on cstanho, 0 azougue (tendo cuidado para nao manusear, porque sendo merctirio, é altamente téxico), 17 graos de ataare, o obi (abata) € 0 orégb6. Apés isso, cobrir tudo até uns trés a cinco centimetros da borda da pancla de barro. Acertar a argamassa (que deverd ser feita com uma colher de pau). O restante dos fmis deve ser espalhado uniformemente pela ferramenta. De- pois fincar a frente da ferramenta a faca, com a ponta para cima (o s6ns6 be Es -— a faca pontiaguda de Exu) ¢ colocar arru- madas ao redor as moedas c os ow6 eyo, fixando-os no amon (barro), Entao, prende-se 0 adé (cabacinha) do lado esquerdo da ferramenta (olhando-a de frente € 0 nosso lado direito), por meio de uma trancinha de palha-da-costa. Ao terminar, deixa-se secar ao Sol para esperar o dia dos sacrificios que serio feitos sobre cla. Enquanto isso, ao tempo em que 0 igbd seca, vao sendo fei- tos os outros rituais. Durante todo o tempo em que se confec- ciona 0 igba Est recitam-se os ofd Est. EBO OMIDUN (E46 de dgua doce) Estamos ainda nos preparativos para fazer a obrigagao princi- pal, que é 0 ritual da iniciagao propriamente dito; por isso, tere- 29 mos de fazer oferendas aos imonlé (espfritos) para pedirmos li- cenga € ajuda para nos © 0 iyaw6; entio, agora, € a vez dos imonlé omi (os espiritos das aguas). Essas oferendas sao feitas com as comidas dos Origa Oda (Orixas dos rios) que sto: Ostin, Oya, Yemonja ¢ Obé, onde sao ofertadas comidas secas desses Orisa e que devem ser levadas até um local de rio de 4guas lim- pas, coisa dificil por aqui atualmente, mas nao impossfvel em lo- cais afastados. EBOQ OMIIYQ (Ed6 de dgua salgada) Como no ¢bo anterior, csse eb reverencia os imgnlé omi (espiritos das aguas), sendo que agora é de omi lyQ (agua sal- gada), Entao, nesses casos, as oferendas serio feitas para Ol6dkun que, segundo a mitologia Yortba.em alguns itdn (histérias), € a mac mitolégica de Yemonja, embora seja Yemonja um Orisa odd (Orixa de rio) das éguas doces; isto expli- caria 0 porqué de se cultuar Yemonja na foz do rio, que é 0 local de encontro das dguas dos ros com as 4guas do mar, isto é, 0. en- contro das dguas doces com as aguas salgadas, na formagao das espumas. Olddkun pode ser reverenciada de qualquer lugar possivel de se atingirem as dguas do mar, mesmo que atirando as oferendas do alto, de uma ponte, um penhasco, ete., ou na propria praia. E por nao se terem muitos conhecimentos do culto de Olddkun no Brasil, nés costumamos Ihe oferecer as comidas reccbidas por Yemgnja, sendo que, no caso presente, temperadas com jy} (sal), que & vetado as comidas de Yemonja. Segundo alguns iton (hist6rias) Oléokun é Onis feminino, sendo a mae de Yemonja, em outros é Orisa masculino chamado Malédkun, sendo um dos filhos de Agbonnirégin. Falando das oferendas, nao as estou especificando, porque todos ou a maioria sabem como fazer as comidas para oferendas aos Orisa, cada um de acorde com o age de sua propria casa. 30 Chamo apenas a atengio para o detalhe de serem Aintyd (sem sal) as comidas de Yemgnja, que podem ou nao levar Beye (dendé) ¢, para qualquer Origa odd (Orixas dos aot 2S te mentos podem ou nio, de acordo com 0 "carrego" de ‘ = ser oferendados, ficando totalmente proibidos para aqueles ay tiverem ligagao com Qagaala, que nesse caso scrao nas foes 8S Qasaala ou feitas (cozidas) no orf ou, na falta deste, no a doce. EBO IGBO (E46 das matas) Esses éb9, como todos os outros, sio para pedir licenga, & desta feita aos Orisa Igbé (Orixas das matas) com eee ts Os60si, Qsényin, Aginjh: (Origa Igb6 © nao ae ere . Song6) e lyami Ajé que no é propriamente Orisa Ig 5, mas q| é cultuada nas cercanias das matas por serem locais eee ie segundo lendas sobre as lyami Ajé, clas gostam de reunir-se nas stas cus concilios, aS eee dennis ¢bg, estes deverao ser passados no iyaw6 ¢ levados ao seu local de entrega com as comidas apropriadas para cada um dos Orisa de acordo com 0 ase da casa. WE ARIASE (Banho das folhas dos Orisa) Uma vez terminados os ¢bo agd yé (cbé para soncedimenty de licenga) é que se vai cuidar do Behe dG iyawé. Devemos colher todas as ervas para aquele Orisa (ja definidas anterior- mente), fazem-se oferendas para Est _bem cedo antes de comegar a quinar as ervas. Essa ew deve ser feita num clima de respeito ¢ cantando=se os orin Os6nyin (cu, particular- mente, nao fago distingao entre as cantigas de Osényin dividindo- 31 as em "“sassanhas" ¢ cantigas de "barracdo'', pois sinccramente nao sci onde esta a diferenga, posto que as cantigas de Osényin so cantigas de louvagio a esse Orisa, que € o Orisa ewe (Orixa das folhas), entao € 0 bastante vocé louvar o Orisa das folhas reveren- ciando-o respeitosamente) e fazendo a marcagao do ritmo com uma igba sére (uma cabaga de pescogo), cujo barulho representa o barulho da chuva que € a béngdo para as folhas € todas as plan- tas. Depois de maceradas, acrescenta-se um obi (se nao for filho de Song6) e um ordégbé ralados, estando assim pronto 0 agbo do iyawé. Em algumas casas € costume fazerem-se sacrificios de aves ¢ até colocar éjé de animais maiores ¢ ainda 0 restante de oferendas, © que nao conteste como errado nem aplaudo como certo, apenas penso diferente, o ase ewé (o axé das folhas) Eo que obtemos na confeceio do agbo, e nao vejo por que querer- se acrescentar 0 ase do ¢jé pupa (axé do sangue vermelho ani- mal), © qual tera de ser introduzido.sim, mas no seu momento préprio, que é o das oferendas dos sacrificios. Portanto, acho cu que © ase ewe (axé das folhas) deve estar puro, somente com o €jé ewe (sanguc das folhas). Uma vez pronto, a agbo do iyaw6 deve ser guardado no pote (porrao) para scr utilizado aos poucos, de acordo com a nece: dade, a comegar com a Javagem dos iléké (as contas em fios) ¢ de todas as trangas de palha-da-costa que serao utilizadas nas amarragoes do pescogo, bragos, cintura e pernas do iniciado & também aquela a ser utilizada para amarrar 0 ikdodide, colo- cando-os de molho enquanto se prepara o ebori com as comidas secas do Orisi a ser iniciado, mais: égbo, akasa, um eyelé (pombo); ¢ deixando & mio os seguintes materiais para se reali- zar o fari Ekinni (primeira raspagem da cabega), uma vez jé ter- mos terminado nossa s€ric de ebo de limpeza ¢ ago (licenga): comidas secas do Onisa a ser iniciado; comidas secas (uma pelo menos) para os demais Ori comidas secas de Oosaali; &gbo (canjica); 32 akasa funfun (acacds brancos); atin de Odsaala; atin para os gbéré (as incis6es também chamadas de curas); abe (navalha); aliimongajf (tesoura); saworo (0 guizo j4 preso na palha-da-costa de molho no Agbo); Ose dtidd (sabao-da-costa); inura (toalha); jleké (os fios-de-contas c 0, aqui, chamado, quelé) contreguns c umbiguciras (amarras de palha-da-costa); orf (manteiga vegetal); efun; osiin; waji; obi; ordgbd danda-da-costa; quartinha com agua (quartinha de barre); velas (de sete dias); ataare (pimenta-da-costa). Tudo isso € deixado preparado a noite. Por volta das duas horas ou mais tardar as urés da madrugada, deve-se levantar o biba ou iyd, por os ataare ¢ o dand na boca © correr 0 egb¢ fazendo os of (detalhe: sempre que se fazem os ofg deve-se estar em jejum ¢ sem falar com qualquer pessoa antes). A seguir, acordar 0 iyaw6 para dar inicio ao ritual do fari (raspagem da ca- beea).Tao logo ele acorde, senta-se-o numa aga (cadeira ou ban- quinho), pega-se uma bacia branca com um pouco do agbo tuntun (0 agbo novo) ¢ lava-se-lhe o orf com o ose diidd (sabao- da-costa), enxugando-se um peuco para nao ficar escorrendo. O iyaw6 deve estar sem camisa se okiinrin (se for homem) ou se obinrin (se for mulher) de scios amarrados com um 0j4 para ficar sc de frente para 0 iyaw6 ¢ fazem-se as as nuas. Fics com as c saudagdes no seu orf, dizendo: 33, Ago ftin mi Ort, agd fin mi Orisa. Ago fiin mi Origafild Baba Oke! Ago fin mi Ogin Ona 01 (Dé-me licenga,cabega, Dé-me licenga Grande Orixa, Pai acima de todos! Dé-me licenga,Ogtin Orixa,dono da faca!) Ori, mo ki ¢ pélé 6! Ago ye Oldri, ago ye Ago ye Ajala! (Cabega, eu vos satido delicada e gentilmente! Dé-me licenga,Senhor dono da cabeca, dé-me licenga,Senhor da Criagao! (Oldédiimaré) Dé-me licenga, Orixd que molda as cabegas!) E costume entre nés, no Brasil, termos uma pessoa para segurar a vcla, considerada como padrinho ou madrinha, e outra para segurar a quartinha, também considerada como tal. Entao. um dos auxiliares segura a vela acesa © o outro, a quartinha de: tampada. Primciramente, pega-se a aliimongaji (tesoura) e tira- sé um tufo dos irun (cabelos) nos diferentes lugares do ori, dizendo, enquanto os coloca na quartinha: Ago asiwaji ori! (Com licenga frente da cabega!) Ago lgehin ori! (Com licenga parte de tras da cabega!) Ago ottin ori! (Com licenga lado dircito da cabega!) Ago dsi ori! (Com licenga lado esquerdo da cabega!) Ago dké oni! (Com licenga alto da cabega!) Ago aarin ori! (Com licenga meio—centro—da cabega!) 34 Em scguida, comega-se a cortar 0 restante do irun (cabclo) com a aliimongaji (tesoura) colocando num pano branco aos pés do iyaw6 ou em seu colo, enquanto se canta: Tyaw6 gérun abe, abe gérun ré, Ggrun abe, gérun ré! (O filho-de-santo (ou do Orix4) corta os cabelos com a navalha, a navalha corta o seu cabelo! (no caso € a tesoura — aliimongaji) Corta o cabelo com a navalha, corta 0 seu cabelo!) Ao terminar de cortar todo o cabelo bem baixinho, cntao se molha um pouquinho ¢ passa-se um pouco de ose didd para fazer um pouco de espuma para auxiliar no deslizamento da abg (navalha). Ent@o, canta-se o seguinte: lyaw6 fri abe, Abe farf ré, Pari abe, fart ré! (QO iaé raspa a cabega com a navalha, A navalha raspa sua cabega, Raspa com a navalha, raspa sua cabeca!) Ao terminar, lava-se a cabega do iyaw6, enxuga-se © passa-se um pouco de ori para refrescar a cabega. A seguir, com a abe (navalha) j4 limpa (cu sou a favor de limpé-la ¢ esterilizd-la com alcool ¢ algodao, porque limpeza nao é contra-axé como dizem por af), sfo feitas as incis6es a comegar pelo Oké orf (alto da ca- beca) cantando: Tyaw6 géri abe, orf gbéré ré, Ori 6 gbé gbéré ré! (Ia corta a cabega com a navalha, (faz incisdes) Ele recebe incisées em sua cabega, Ele recebe incisécs em sua cabega!) E costume geral fazer scte incisées nos Orisa oktinrin (mas- culinos) e em ntimero par, seis ou oito, nos Orisa obinrin (femini- nos). Alguns dizem que as incisGes dos machos sao na vertical (de pé) © das fémeas, na horizontal (deitadas), para mim isso é irrelevante, pois o significado das incisdes era, verdadeiramente, 0 35 de diferenciar a que grupo de Yorba pertencia aquela pessoa, cram marcas tribais. Hoje em dia, as marcas wibais tornaram-se obsolctas em varias tribes, tendo sido abolido esse costume em boa parte delas. Mas, segundo os nossos costumes aqui, sio fei- [as essas qua atidades. Logo apdés, coloca-se sobre as incisées 0 atin gbéré (o atin das incisdes). Depois, fazem-se as int algumas dos dois lados do térax, direito € exquerdo, frente © costas; Ges do peito, os sbéré aya, qui s também costumam fazer as: otitras casas fazem nos masculinos apenas do lado direito e nos femininos do lado exquerdo. Cada um segue o ritmo de sua casa © seu ase. Uma coisa que ensinaram-me sobre as incisdes, os gbéré, E que clas significam as aberturay nos nossos corpos para despertar o Esit que cada tm tem dentro de si (sit Bara—Exu do corpo), porque & através deste Esti que nos imbuimos da ca- pacidade de incorporar o Orisa, pois o Bara que cada um tem em seu interior é 0 que nos possibilita a transmutacao de seres hu- manos em Orisa, ele € 0 resquicio, aquele restinho de Origa que temos dentro de nés, por isso abrimos o gbérg-ara (incisdes no corpo) para trazé-lo & cona. Eo atin que colocamos nas incisdes sdo Aye que funcionam como fechamento do corpo contra os males externes, bem como o aun que & bebido destina-se a segiiranga interna, em caso de se comer alguma coisa de feitigo on de doengas adquiridas através dese ato, pata que scjam ex- pclides do corpo pelo nosso Bara (Exu do corpo). O Eyit Bara traz cm si dex sscte gberé (Incisdes), talvez fosse esse ntimero i nds devéssemos ter também, mus isso no posso afirmar. Logo apos, deve-se pegar 0 ilk (quelé) © prendé-lo ao re- dor do pescogo do iyawd amarrando-o firmemente para que nio caia durante o periodo cm que cle (uv iyaw6) deverd usd-lo Amarra-se a yawore (Qkinrin no pé dircito, © obinrin no pé esquerdo). Os contreguns (ndo sci a palavra correspondente em Yoriiba, este & im name nosso daqui) so amarrados nos bragos ¢ um grande na cintura. Estando tide amarrado, pega-se o eyelé awd sobre as incr (pombo) que sera sacrifieado no ori do ¥ 30 Colocam-se duas folhas de saiao com um pouco de mel sobre os olhos do eyclé, de ambos os lados de sua cabega, € sacrifica-se apenas com as maos, deixando 0 éjé escorrer primeiramente no orf, depois passando sobre as demais incisdes ¢ devendo-se deixar escorrer tm pouco no Héké no local onde foi amarrado; cruzam-se também as maos € os pés nas palmas ¢ plantas. Apés isso, colocar algumas penas do eyelé sobre os lugares onde foi posto o jé. Em seguida, coloca-se sobre as penas um pouco de efun, osiin e waji ¢ depois sopra-se o atin de Odsaala sobre o iyawo. Isso terminado, toma-se do obi ¢ joga-se, seguindo 0 mesmo ritual do obi a cabega, isto €, pega-se 0 obi com as duas maos molhando-o na 4gua da quartinha (essa quartinha pode ser a mesma daquele primciro obi) dizendo enquanto cruza 0 ori com o obi: Ori 6, mo Ape ényin, Wa gba obi, wa je obi! (O cabega, eu vos chamo, Venha receber obj, venha comer obi!) Entio, joga-se © as respostas podem ser aquelas jé men- cionadas € conhecidas: se Cair apenas uma das partes convexas para significa nao; 4 se cafrem duas partes convexas para cima € Obi Idaméji, sig- a € Obi kon, nifica sim} . se cafrem trés partes convexas para cima € Obi Iddata, signi- fica nao; a ¢ se cafrem quatro partes convexas para cima € Obi Idaarin ou alaafia, significa sim. Depois disso, faz-se a mesma coisa com 0 ordgbé, sé que esse deve ser partido em quatro partes para se jogar, as respostas so as mesmas dependendo da quantidade de partes convexas que cairem para cima, isto é, Voltadas para cima. Entao, segue-se o mesmo ritual anterior do obi, onde uma das partes do obi ¢ do 37 orégbé sao divididas entre 0 iyaw6 € 0 babé ou iy4, que devem mastigé-los conservando-os na boca engolindo apenas a sali- vacio, outra parte € dividida entre os demais (mas nessc caso os padrinhos podem partilhar do mesmo pedago com o baba ¢ 0 iyaw6), enquanto o restante vai para a quartinha onde se encon- tram os tufos de cabelo do iyaw6. Outra vez, desenrola-se um dos akasa segurando-o na folha ¢ recolhe-se a parte mastigada pelo iyaw6 no Akasa, ¢ o baba ou iy4 coloca a sua diretamente sobre o ori com a boca em cima do gbéré com o éjé do eyelé, co- brindo com a parte do iyawé no akasa ¢ também com um pouco de égbo ¢ folhas de saiao, cantando-se a saudagao de Ajala: Ajala ori, orf 'ewa 'ewa l'ewa. Ajalé orf, orf l’ewa l’ewa Pewa, Opé ényin Ediimaré, wa orf ¢ kui 6. Opé Enyin Edimare, wa orf € kai 6. E kt 6 Odrin, ¢ ki 6 Ogupa, ¢ ku 6 Oj, jo ba ile. E kai 6 odriin, ¢ ka 6 Osiipa, ¢ kt 6 Ojo, Oja bo ile. Ire ori 6 ji, 6 jf ire orf, Tre orf 6 jf, 6 jf ire ori! (Orixd que molda as cabecas, a cabega esta linda, linda, linda, Orixd que molda as cabegas, a cabega esté linda, linda, linda. Vos agradecemos, Senhor Supremo, venha 4 cabeca, Vos saudamos. Vos agradecemos, Senhor Supremo, venha 4 cabega, Vos saudamos, Saudamos o Sol, saudamos a Lua, saudamos a Chuva, Chuva que cai sobre a terra. Saudamos o Sol, saudamos a Lua, saudamos a Chuva, Chuva que cai sobre a terra. Feliz a cabega acorde, acordem feliz a cabega! Feliz a cabega acorde, acordem feliz a cabega!) 38 Depois, canta-se em seguida com as maos sobre © ori do iyaw6: Mo jiba Agbgnnirégtin Wa padé 1’0: iportn, iporin,, Awa méson, dun korin ki Ordnmila Awa cin wo tin wa korin ki Oninmila. Awa orf ofc, ofe Edimare, Awa orf ofc, ofe Edimaré! (Apresen to-ves meus respeitos Agb6nnirégtin, Apresento-vos meus respeitos Agbonnirégin, Vamos encontrar-vos nos caminhos do Vosso posto no céu, Vamos encontrar-vos nos caminhos do Vosso posto no céu. Nés cantamos nos nove espagos sagrados (céus) cumpnimen- tando (saudando) Orinmila, Pedimos que volteis os olhos para nds que cantamos saudando (cumprimentando) Ortinmila, Fazei nossas cabegas saltarem muito alto, até ao Senhor da Griagdo, Fazei nossas cabegas saltarem muito alto, até ao Senhor da Criagio!) Em seguida, canta-se a terceira ¢ tiltima das saudagoes: [fa sé gba rere djddrun ori wa, [fa sé gba rere dj>brun ori wa, Ojdorun Oliwa, sorun orf wa, Osa yon Yorba Mo tin, mo turhba ré, Os yon Yorba Mo téin, mo turhba re! (Ifa, faga com que recebamos sobre nossas cabegas a boa chuva do céu (no sentido de cobrir-nos de béngaos). Ifa, faga com que recebamés sobre nossas cabecas a boa chuva do céu. 39 Chuva do céu, meu Senhor, chuva do céu sobre nossas ca- begas. Faga-o (0 iyaw6) ter 0 esforgo ¢ a perseveranga dos Yoriiba. Eu pego, eu tomo a sua béngao. Faga-o ter 0 esforgo € a perseveranga dos Yoruba, Eu pego, cu tomo a sua béngao!) Ento se enrola 0 dj4 no ori do iyaw6, "suspende-se o Orisa" c deixa-se o Ere (criancga) ¢ ponha-o para dormir. Agora sim que o Tyaw6 passa a fazer jus de ser assim chamado, porque a partir desse momento deixa de ser abfon. Os mais antigos acreditam, eu também, na forga da Lua para fazermos nossas oferendas, isto é, antes de uma oferenda de- vemos saber cm que Lua esta serd feita, sendo um costume nao se preparar nenhuma oferenda para receber age na Lua min- guante, a nao scr que sejam ¢bo de descarrego, que podem ser feitos em qualquer Lua. No caso do recolhimento de um iyawé, cu acho (opiniao minha) que seria melhor fazé-lo no final da Lua nova para crescente, porque nas primciras duas semanas, mais ou menos quinze ou dezesscis dias, poderemos fazer todos os cbo, obi a cabega, assentar o igba Nsit c a farf &kinni (primeira faspagem da cabega). Isso devera acontecer ja no final da Lua cheia, entio teremos sete dias de Lua minguante, que é o espaco de tempo em que cu “descanso", cuidando dos il@ké Orisa (fios-de-contas), ago odtin (roupas da festa), verifico os itens da grande obrigagao final, os animais, comidas secas das oferendas, comida do dia da festa, etc. ¢ para preparar alguns _ atin € ensinar algumas coisas preliminares aos iyaw6. O trabalho para se "tirar' um iyaw6, se seguide rigorosamente como manda o ritual, é muito estafante € séo necessarios alguns dias de marcha lenta para podermos partir para a fase final. Nesse periodo, devemos aproveitar para fazer as trangas de palha-da-costa, amarras ¢ contreguns, prepararmos o ¢fun, osiin ¢ wéiji para a pintura do iyaw6. Algumas casas ou pessoas em grande niimero costumam pintar 0 iyawé com "pembas" de 40 varias cores, isso de acordo com o costume de Ase para ase, mas as cores fundamentais necessérias para a pintura do iyaw6 sao 0 branco (¢fun), 0 vermelho (osiin) ¢ 0 azul (wji). © efun representa o @jé funfun (sangue branco), o amon (barra) que é 0 representante do reino mineral ¢ material que, além de lembrar-nos a nossa onigem (do barro), € a homenagem aos Orisa funfun como Ajila ¢ Odsaala, sendo que Odsaala foi aquele que recebeu a incumbéncia de Olédiimaré para moldar os seres humanos, ¢ Ajald outro Orisa funfun cujo oficio € somente moldar os orf (cabegas) para serem escolhidas pelos seres humanos antes de virem do $run para o ayé (do céu para a terra), 0 que se da através do nascimento do ser humano, e essa cabega feita por Ajala é a cabega interior (orf inti) de cada um de nés, nao aquela cabega fisica a qual seria incumbéncia de Oogala ao nos moldar fisicamente. Inclusive, entre os Yoribd, ha a crenga de que Odgaala € 0 Orisa que molda os seres humanos, € as pessoas que nascem com defeitos fisicos s40 pessoas que O: a escolheu para si, por isso marcou-as, fazendo-as diferentes das demais, nao sendo vistas como um castigo ou provacao divina, mas sim como al- guém particularmente escolhido por Oagaala sendo respeitadas por isso. Apés serem moldados por Odsaala, os seres humanos rece- bem o éémi (o halito de Olédiimaré que ¢ o Elééda -O Senhor da Griagao) em suas narinas e daf em diante passam a ter vida. 0 ostin, elemento vegetal (Pterocarpus Erinaceous — R.C. Abrahan, pdg. 490), € 0 pé de uma madeira avermclhada que é usada para tingimento € tem o simbolismo de representar 0 je pupa (sangue vermelho) que faz parte do awo (segredos do culto); ¢ 0 Waji, outro elemento vegetal, o aré que também € utilizado para tinturas (R.C. Abraham, pag. 64) tem a repre- sentacao simbélica do sangue preto-¢jé diidd, representado pelo verde 0 sangue vegetal das folhas, consideradas um elemento imprescindivel em qualquer ritual. Isso € descrito por Juana El- 41 bein dos Santos em seu livro "Os nagé ¢ a morte" pags. 41/42, quando diz: "1. O "sangue vermelho" compreende: a) o do reino animal: corrimento menstrual, sangue humano ou animal; b) o "sangue vermelho" do reino vegetal: 0 epo, azeite-de- dendé, 0 osiin, p6 vermelho extrafde do Pterocarpus Erinaceous (Abrahan, 1958:490), o mel, sangue das flores; c) "sangue vermelho" proveniente do reino mineral: cobre, bronze, ete. (...) 2. O"sangue branco" compreende: a) o "sangue branco" do reino animal: o sémen, a saliva, 0 halito, as secregées, o plasma (particularmente o do igbin, cara- cal), etc. b) o "sangue branco" do reino vegetal: a seiva, o sumo, 0 al- cool e as bebidas brancas extrafdas das palmeiras ¢ de alguns vegetais, o iyérosiin, pé esbranquicgado extraido do irdsiin (Eu- cleptes Franciscana F;) (Abrahan: 316), o dri, manteiga vegetal (shea-butter), ctc.; c) o "sangue branco" proveniente do reino mineral: sais, giz, prata, chumbo, etc. 3. O"sangue preto" compreende: a) o do reino animal: cinzas de animais; b) o do reino vegetal: o sumo escuro de certos vegetais: o éli, indigo, extrafdo de diferentes tipos de arvores (Abrahan: 187) é uma preparagao a base do éli, pd azul-escuro chamado waiji; c) o que provém do reino mineral: carvao, ferro, etc..." Esses elementos por si s6 quando misturados com agua (cfun, osiin, w4ji) para a pintura costumam escorrer, entio € comum acrescentar-sc um pouco de "pembas" nas suas cores apenas para encorpar a tinta evitando que ela escorra. Passados os sete dias da Lua minguante (para quem segue esse costume) ¢ ji as vésperas do dia do oriko Origa (nome do Orixé), sdo feitos os sacrificios para o Esit da casa ¢ para o Es) do 42 jyawd num determinado dia. Sacrificase para os Egh e preparam-se os seus és€ (partes) ¢ as comidas secas dos Esi, deixando tudo pronto para no dia seguinte de madrugada fazer os sacrificios dos Orisa do iyawé. Para o Egit da casa, oferenda-se o que for pedido por ele, para o do iyawé costuma-se oferecer tudo o que for ofertado para o Orisa, ou seja, "Esi je peli Onsa” (Exu come com 0 Orixa). Usualmente costuma-se oferecer-lhe: 1 ako ewtiré (1 cabrito) 4 akikodic (4 galos) Outros complementos pedidos: akasa @gbo (canjica) gdgtiru (pipocas) obi orégbé6 cpo pupa (dendé) iyd (sal) oyin (mel) ataare (pimenta-da-costa) Mais tarde (dia seguinte), um pouco de cada comida servida para os Orisa € das que serio servidas na festa. Amarra-se 0 pescogo do akg ewtiré (cabrito) com uma corda (de sisal) ¢ passeia-se com cle ao redor do iyaw6, conduzindo- Ihe até 0 local do igba Est. Ele deve ser atraido sempre por galhos de folhas que Ihe sejam agradaveis, embora se saiba que 0 cabrito coma de quase tudo, as yezes ele recusa uma determinada folha c devem-se ter outras a mao para atraf-lo até o igbd. As mais comuns sao as folhas de caja, arocira, goiabeira, sao-gongalinho, ete. Ao chegar ao igbd Esii, jogam-sc as folhas sobre 0 igbd ¢ es- pera-se que o cabrito coma um pouco. Apés cle ter comido um pouco e estando ainda com algumas folhas na boca, segura-se- Ihe a boca, e mais uma ou duas pessoas seguram-no para que seja sacrificade, Ele deve estar bem seguro para evitar que se debata na hora do sacrificio. Algumas casas tem o costume de 43 amarrar a boca do ewtiré (cabrito) com cordas. A pessoa ou pes- soas que scguram-no devem fazé-lo firmemente prendendo bem a boca, segurando com a mao quem o sacrifica ou, como ja disse, amarrando-a (quem 0 sacrifica é chamado Olépa —aquele que sacrifica), enquanto a segunda pessoa ou as outras duas pes- soas scguram um par de patas cada uma, tendo o cuidado de prender o animal bem junto aos scus corpos, para evitar que ele (ewtirg) faga movimentos ou, se o fizer, que sejam minimos. O mesmo cuidado € tido cm relagao as aves sacrificadas, segu- rando-lhes os bicos, as asas ¢ os pés. Em algumas casas costuma- se segurar as asas abertas juntas uma contra a outra, enquanto €M oUtras Casas as asas sao csticadas ¢ coladas junto ao corpo da aye © seguras junto com os pés, ficando a ave, assim, totalmente imével. Esse costume € a reminiscéncia de um itdn (lenda) de Ogtin, que 40 matar um dos scus inimigos (Apard Dégbéah4), que o pragueja (Ogtin) na hora de sua morte, mesmo apés a sua cabeca ter sido cortada. E para evitar possiveis pragas de suas vitimas, Ogiin passou entio a prender-lhes a boca, maos ¢ pés, pois as-. sim eles nig poderiam gritar pragas contra si ou mesmo gesticit lar com esse intuito. Entao, 0 que se faz simbolicamente 20 sacrificarmos os animais e imobilizé-los € 0 mesmo que fez Ogiin para evitar as conseqiiéncias do praguejamento de suas vitimas, que as vezes eram feiticeitos poderosos, como no caso de Apard, Os animais devem ser sacrificados sobre o igh: Bsa, que deve estar coberto por alguns Akasa, tendo o cuidado de der- ramar 0 primciro ¢jé no chao (reveréncia a Onilé) enquanto se canta: Rjé a sord, Est npa awo, Bye asord, Est npa awo! (Com sangue fazemos culto tradicional para Exu matando no culto, Com sangue fazemos culto tradicional 44 para Exu matando no culto!) Ejé sord, sord, eje gbale K’ara n'ro (Com sangue fazemos culto tradicional fazemos culto tradicional, o sanguc recebido na terra (embaixo) Onde 0 corpo escorre (a vida)!) Biri ibi ’dké Ogdn wa lé ri 6, Bir ibf Oke Ogin wa lé ri 6! : (Exatamente aqui em cima, que Ogtin venha supervisionar, Exatamente aqui cm cima, que Ogtin venha supervisionar!) (Canta-se para Ogtin saudando 0 QIgobe). Birt ibf Poké a ge ge Esa 6, Birf ibi Poke a ge ge 16 sia! (Exatamente aqui em cima, nos cortamos, cortamos pai Exu, Exatamente aqui em cima, nos cortamos, cortamos para ele.) 6 ni yiye ye! Bo ori wa aabd odi Age 2616 si 6, Bo ori wa aabd odi, A gé gé Es 6! (Ele transforme em vida! Cubra-nos com protegaa e fortificagao, A nés que cortamos, cortamos para ele, Cubra-nos com protegae ¢ fortificacao, Anés que cortamos, cortamos para vocé Exu!) Apés 0 sacrificio do ako ewiré (cabrito), executa-se 0 sacrificio dos akiikodie (galos) enquante se canta: Ejé ényin ki 6 je adie, Ohiwa ojti mon wa, Ejé ényin ki 6 je adie, Oltwa oj mon wa. Ago awa ényin kia pa (bo) l’6ni, of mon wa. 45 Aga awa Oldorun ibaase, oj mon wa, A , jG mon wa. (O sangue € para vés que comeis 0 frango, Senhor, olhe € reconhega-nos. O sangue € para v6s que comei Senhor, veja ¢ reconhega-nos. Pedimos licenga a vés para quem matamos (a quem cultuamos) hoje, olhe e reconhega-nos. Dé-nos licenga ¢ Olérum nos abengoe, olhe ¢ reconhega-nos. Dé-nos licenga e Ol6rum nos abencoe, olhe ¢ reconheca-nos.) Em seguida, pega-se uma quartinha com 4gua ¢ salpica-se so- bre os animais sacrificados ¢ canta-se: ‘Té té omi 0j00 ’bo nf pa 6, ‘Té té omi dj00 si’bo oni pa! (Espargir, espargir dgua é chuva caindo 6 Senhor, para quem nés matamos, Espargir, espargir 4gua € chuva caindo, 6 Senhor, para quem nds matamos!) Essa cantiga tem o simbolismo da chuva que cai, abengoando ¢ acalmando, trazendo paz e felicidade € que ao mesmo tempo apazigua apés 0 ato que nio deixa de ser violento ou de violén- cia que € 0 sacrificio. 0 frango, O sacrificio € um ato de violéncia, mas nao uma violéncia gra~ tuita, cla tem o seu propdésito de ser, no caso "um mal ne- cessanio’, pois o animal corresponde & vitima que € usada como "bode expiatério", que deve ser sacrificado para que haja um bem maior para uma pessoa ou uma comunidade. Esse sacrificio matard a sede ¢ a fome dos deuses, 0 que propiciara até mesmo. o aplacamento de sua ira, que porventura exista. E 0 espargir da Agua € o simbolismo de que apés o sacrificio a calma c o frescor venham imperar. ‘Terminada a parte dos sacrificios comega a parte do tempero, que € colocar epo, iyd ¢ oyin (dendé, sal © mel) sobre 0 éjé no igba. Ha também o costume variavel de algumas casas de colo- 46 car primeiro os al oyin, ambas a8 manciras s Epo ni érd ni 6 oft Ol6gi Epo ni érd ni 6 oti Olooja! (© azeite-de-dendé & calma, o Scnhor do mercado € teste- munha, © azeite-de-dendé € propiciagio, o Senhor do mer e depots ja temperar pondo o epo, iyo € is. Ao se colocar 0 epo canta-se: do é testemunha!) Em seguida, Kikord ma v Kikoro ma waye iyo Odin wa awa iyd, O niaye fin wa iyd! (Que a vida nao seja amarga com 6 sal, Que a vida no seja amarga com o sal. Ela estard gostosa para nés com o sal. Ele € vida para nds, sal!) Ao colocar-se 6 oyin (mel) canta-se: O dim ba ti ola, Iba a ti gla! (Que ela seja doce (gostosa) € farta com fortuna, Abengoe-nos com fortuna e riquezas!) ignificando fartura ¢ tudo de bom, pois nesse caso a fortuna s vidas. significa todas as coisas boas ¢ ado de bom para as nossz que ficario Isso cerminado, vamos entio cortar as partes ( no igbd, ¢ levar o restante para ser retirado apés © preparado. As pés), iri (rabo), gpon ati ok6 (saco escrotal com os testiculos ¢ © penis), tabi obo (ou a vagina), das aves também o ori (cabega), esg, apa eye (pes ) que podem ou nao serem retirados ali on levados para serem retiradas apés © cozé-los. Enqianto sao retirados os éy¢ partes que ficario no igba so 0 orf (cabega), ea: canta-se: Eron gbogbo bo a yiyé ye.> Kron gbogbo bé a re, cron gbogbo! Eron gbogbo I’age ilé...! (Todos os animais cubram-nos ¢ tornem-se sobrevivéncia, ‘Todas os animais cubram-nos de felicidades, todos os ani- mais! Todos s so axé para a casal...) (E vio-se fazendo os pedidos...) Terminando de tirar os ésé, parte-se o obi nos dentes para serem jogados para saber se esta tudo certo; as caidas e respostas sao as dadas anteriormente. Supondo-se estar tudo certo, isto leh ii satisfeito € nada mais para pedir, cantam-se alguns orin Esit enquanto se enfcita por sobre tudo (0 éjé ¢ os &s¢) com as penas das aves sacrificadas, apds o que todo o restante pode ser recolhido a cozinha para ser preparado. Entao, preparam-se as extremidades, principalmente aquclas cartilaginosas, costelas ¢ os 6rgios inter- nos, inclusive o apdokun (est6mago-bucho) ¢ ifun (intestinos- tripas) que muitas pessoas costumam jogar fora, mas tudo deve ser bem limpo ¢ lavado para ser preparado para Esu, bem como para os Ori Depois de preparado ¢ esfriado, tudo deve ser colocado aos pés do igba de Es ii, Ai estara tudo pronto para comegar o sacrificio para os Orig A noite, na véspera da fari ckéji (segunda raspagem), deve-se deixar tudo preparado para isso © para as oferendas do cbori Principal que sera feito também neste dia, Cada um tem sua prépria relagao de coisas necessarias ©, como antes, cito apenas as fundamentais ¢ comuns a todas as oferendas. Detalhes, cada um sabe quais serao os seus. Entio, para 0 Orisa do iyaw6: 1 Akg ou abo ewiiré (cabrito ou cabra, se Orisa masculino ou se feminino) 4 Akiikodie ou abodic (galos ou galinhas, idem) 1 Eti (galinha d’angola, ako tabs abo — macho ou fémea, idem) 1 Eyelé funfin (pombo branco) Atin lit: mun (pé de axé para beber) s anima 48 Oti dibé (vinho —de preferéneia licoroso suave) lyo (sal, se nao for filho de Oasaala, $ong6 ou Yemonja) Epo Dupe (exceto Odsa Orégb6 Folhas.da Egbo (canjica) Akasa Comidas sec . frutas diversas (para Ere) ¢ algumas bebidas suaves sao oferecidas também de costume. para todos os Ori: Os animais para o Orisa kéji (o segundo Orixa, que costu- mam chamar de "junto", talvez por quererem dizer "adjunto" e, segundo 0 Aurélie, quer dizer junto com ou © préximo ou con- tiguo; e para Odsaala, Gada Orisa a ser “assentado" deverd rece- ber oferendas completas ou o mais completo possivel em comidas secas ¢ animais. Odsaala sempre recebe oferendas, pois € um dos Orisa primordiais ¢ que participou da criagao do ayé (mundo) ¢ da criagdo dos seres humano: portanto, mesmo nao sendo filho de Oasaala, este Orisa deve ser muito bem culmado para podermos coroar de todo éxito o trabalho e sacrificio que representa uma iniciagao, Sua relacao € feita por cada um € deve-se seguir o ritual dos sacrificios pela ordem hicrarquica, vindo cm primeiro lugar (fora a Orisa Onilé — Dono da casa) o Orisa do lyaws, Onis a Kéji (segundo Orisa); Odsal € sempre 0 dlumo. Outra coisa, em todas as oferendas, apds terem sido feitas as de Esi, o primeiro Origa sempre a receber oferendas € Ogtin, mesmo que o iniciado nio seja filho de Ogtin, porque cle € o Aasiwaji (aquele que vem na frente) e 0 Olddbe (o dono da faca) ¢ é quem abrird os caminhos para todo e qualquer ritual. Antes de iniciar-se propriamente o ritual dos sacrificios, faz- se no iyaw6 a farf ekéji (a segunda raspagem), deixando sua ca- beca bem limpa para receber os sacrificios. 49 Gomegando o ritual dos sacrificios, primeiro fazem-se os de Ogiin € em seguida € que se comecam os sacrificios para 0 Oléorf (dono da cabeca). Repete-se o ritual como fora feito para Est, amarrande uma corda ao redor do pescogo do ako ewtiré (cabrito), costuma-se também amarrar um 0j4 ao redor do peito e corpo do cabrito enfeitando-o com lagos, ete., € passeia-se com ele ao redor do iyaw6 que j4 deverd estar "virado" no Orisa, encosta-se o orf do ewiiré no do lyawé para fazer os pedidos ao Orisa para o seu filho; entao, oferecem-sc as folhas para o ewtiré, que podem ser as mes+ mas de antes, oferecidas para o ewtiré Esh, atraindo-o ¢ jogando as folhas sobre o igba Ong e aguardar que ele coma um pouco ¢ do mesmo modo que o de Es, segurando-lhe a boca com algumas folhas presas, enquanto uma ou duas pessoas seguram o corpo do cabrito evitando que cle se debata (hd uma maneira especial de seguré-lo cficazmente conhecida pelas pessoas acostumadas a rituais de sacrificios de quadrtipedes, que é prendé-lo bem junto ao corpo). O iyaw6 deve estar sentado num banquinho, segurando o igb4 Orisa no colo c orf sflé (de cabega baixa). Ao lado, ou nas maos de um dos auxiliares, ha uma vasilha com um pouco d’Ggua (bacia ou obero) onde se deixaré cair o primeiro éj& de todos os animais, do primeiro ao tiltimo. Este éjé depois devera ser entomado na terra para Onflé, pois a primeira porgao dos ee, mesmo os de Esit, deve ser dada para Onflé. Em casas de chao de terra batida pode ser escorrido diretamente no chao. Comega-se entio a sacrificar o cabrito sobre 0 orf do iyawé, isto €, primeiramente deixar 0 2jé escorrer pelo fio da faca até aquela vasilha com agua segura pelo auxiliar ou diretamente no chio, depois deixd-lo escorrer no orf do iyaw6 que, depois es- correra sobre o igb4 no colo do Orisa. Algumas casas costumam fazer este sacrificio recolhendo 0 éjé numa grande bacia com um pouco d’égua ¢ Akasa, enquanto uma outra pessoa vai batendo com as maos para dissolver os Akasa ¢ misturar 0 éjé na dgua, evitande que se coagule, sendo apés os sacrificios que serd dado o banho no iyaw6 com este Ejé. 50 A cantiga para a primeira matanea ¢: [jg a gard, (Orisa je a sord, (Orisa (Com sangt matando no culto, .) apa awo, .) npa awol fazemos culto tradicional para (COnxit...) Com sangue fazemos culto tradicional para (Orne natando no culto!) je sord yord Sjg ebart k7ura fing! (Com sangue fiazemas culte tradicional, fazemos culto tradicional, com sanguc: pol) recebido na cabega € que escorre do ce contro ser). {uma vida que escorre para proporeionar vida. je (stindide = acor- O significado simbélico desse banho de dar ou levantar do sono) & 0 da transferéne mais para os objetos sugrados, pasando antes pelo ori para estabelecer a Ligue a in- corporade com o 4 mento recebe a vidal ca mobilidade, tornando-se a representagdo das vidas dos ani- pa) do ori, o Origa jo que & estreita (ni ba Gisscntamento) que a partir desse mo- fisica do Orisa, o seu santuirio, onde deveri doravante ser eul- t 6, SEM que Sef NECeSsiirin G te Csteja incorporado na cabega do filho. A seguir a outea cantig Oni vive ye! Bori wa abd oui A ge pe I6 si 6, Bori wa aabo odi, A ne we 16 si 6! (Ele transforme-se em sobrevivencia Venha cobrir a cabega com protegio ¢ fortificagao. amos paracle (9 Ori Nos cortamos, Cor Venha cobrir a cabega com protegio e fortificagio, A. nos que Cortamos, cortamos para v6s!) Apos o sacrificio do akg ewtirg. 0 dos akinkgdie (galos), canta- se: Si ényin ki 6 je adie, grandes. E dizem também, segundo outras lendas, que Ifa tem Olfiwa oyd mon wa, predilegao pelas carnes das costas dos animais. Entao, nesse Bjé ényin kid je adie, caso, lhe € oferecido o eyelé (pombe) porque € a ave simbolo de Oltiwa oj mon wa. Ordnmila (ni agepd 1f4), mas como diz a cantiga ofereceriamos Ago a awa €nyin ki a pa (bg) l’oni, ojti mon wa. qualquer outra ave para ele, ¢ cle ficaria satisfcito, porque If é Agoa Awa Oldorun ibdase, ji mon wa. ° Orisa que recebe um animal de sacrificio para cada outro Ago awa Qlédnun ibaase, ojti mon wa! Orisa, em assim sendo, qualquer espécie de ave, ete. (O sangue € para vés que comeis o frange (galo), Orin pépéye (pato), caso seja necessario: Senhor,olhe ¢ reconhega-nos. Pépéye 6 nf a gbe, O sangue € para vés que comeis o frango (gala), Pépéye 6 nf a gbe, Senhor olhe € reconhega-nos. Pépéye 6 nia ghe, Pedimos licenga a vés para (a) quem matamos Pépéye 6 nia ghé 6! (Pépéye ni I’'a ghé 6!) (cultuamos) hoje, olhe ¢ reconheea-nos, (Nés lhe oferecemos pato, Dé-nos licenga ¢ Olérum abengoe-nos, olhe € reconheca-nos. Nés Ihe oferecemps pato, Dé-nos licenga ¢ Olérum abengoe-nos, olhe & reconheca- Nés Ihe oferecemos pato, nos!) Nés Ihe oferecemos pato!) (Nés hoje lhe oferecemos pato!) A seguir, o orin etir (cantiga da galinha-d’angola): Oriki para o igbin, quando for sacrificd-lo: Ejé a bi etio, Igbin éro baba wa Abie. a bic en 6! Ki awa |’ayo, flin Grd wa, (Com 0 sangue nascemos da galinha-d'angola, Ire Er}. Omi igbin sé aye wa Nascemos de vés, nascemos de v6s 6 galinha-d’angola!) Ni tied, bi cara wa ilé igbin. Em seguida 0 orin eyelé: Fiin gbogbo nf rere wa, ase! Eyelé Ifa eye, (O caracol € propiciagao (calma) nosso pai, Evyelé Lf eye, O caracol € propiciagao (calma) nosso pai, Ifa ki Awa awtire, Que scjamos alegres, propicie-nos, Kawa fiin 6 kitikeiu! Dé-nos a felicidade da propiciagio. (O pombo € ave de Ifa, Que a agua do caracol seja vida para nés, O pombo é ave de Ifa, Scja fresca ¢ suave como fresca é a casa (casca) do caracol. Ifa, que tenhamos axé ¢ boa sorte, Dé-nos tudo de bom, assim seja!) te Para vés oferecemos qualquer ave!) : Golocamos todas as orin em seqiiéncia somente para facilitar, Segundo os it)n Ifii ele, tal qual Est, recebe todas as oferen- agora voltaremos, retornande & obrigacao do ori. das © animais de sucrificios destinados aos outros Orisa, po O iyawé toma literalmente um banho de © deve ser The sdo ofertadas quaisquer espécies de animais e aves, tendo cruzado por todo 0 corpo nos gbéré, palmas das miios ¢ solas dos cle predileeae por galinhas gordas, prenhes de oves de figados pés. De cada animal recolhe-sc também um pouquinho numa 52 53 vasilha (metade de uma cabaga) com um pouco de vinho, que devera ser misturado com epo (dendé), iyo (sal), oyin (mel) € o p6 do ax€ € da-lo ao iyaw6 para tomar. Abre-se 0 obi e 0 ordgb6 para sérem langados € serem oferecidos ao ori, como das vezes anteriores (nao vou repetir porque o processo € 0 mesmo c can- fam-se as mesmias ori!) € enfeita-se 0 iyaw6 com ay penas da ctit e do eye cobrindo 0 §j@, Enrala-se 0 seu 61 com jf © deixa-o sen ido enquanto termina-se de fazer as oferendas, agora, tem- ndo com epo (dendé), iv (sal) © oyin (mel per. Sorin so as mesmas ja citadas anteriormente. Depois de temperadas, colocar aquelas partes (€s€) Ue praxe © espargir digua sobre as partes restan- tes para resfrid-las, cantando: ‘TE té omi jd bo dni pa 6, Té té omi d10 Abo dni pa! (Espargir, espargir agua € chuva caindo 6 Senhor | Esparg ra quem nos fazemos culto hoje e sacrificios. ir. espargir dgua € chuva caindo, 6 Senhor para quem fazemos culto hoje ¢ sacrificios!) (porque a chuya significa béngaos ¢ felicidades.) Em segnida cortar aquelas partes que ficario no igba Orisa ort (cabega), esé (pés), init (rabo), epon ati ok6 (saco escrotal com os testiculos © o pénis), tibf abd (ou a vagina) ¢ das aves tam- bem o orf (cabega), est (pes), apa eve (asas); como no caso dos de Bit, j és ouasas podem ser tirados ali on }evados para serem cozidos, O orin para retiri-los € o mesmo: Eron ghogbo bo ay yOYSs Eron gbogbo bi a re, eron ghogbo! ron gbogbo Vase aye!... (Todos os animais cubram-nos © tornem-se sobre vivencia, ‘Todos os animais cubram-nos com felicidades, todos os a Th adlos os animais sejam axé de vidal...) (vao-se fazendo os pedidos varios pelo iyaw6.) Depois cobrem-se todos os igbd com as penas das aves, can- tando os orin Orisa (cantigas de Orixd) © pSe-se o iyaw6 para dormir um pouco, de preferéncia "virado" no Orisa ou no Eré, pois cle nao deve se ver. Aqui fazemos um paréntese para falar de alguns aspectos do ritual acima. O ritual de iniciagdo dos Origa € sempre 0 mesmo, apenas com algumas variag6cs de um Orisa para outro, devido as suas caracterfsticas. Por exemplo: ap6s retirar o ori do animal, este € apresentado aos quatro cantos do ayé (mundo) e ao orun (céu), isto €, scgura-se o orf nas duas maos e€ virando-se para os quatro cantos do iyard (quarto) ¢ depois para o teto, diz-se: ‘Wa ibi ori ariwa! Wa ibf ori gist! Wa ibf orf ila odrun! Wa ibf ori iwd odriin! Wa ibf orf aja drun! (Aqui esta a cabega, Norte! Aqui esta a cabega, Sul! Aqui esta a cabega, Leste! Aqui esta a cabega, Oeste! Aqui esta a cabega, teto do céu!) Mas, segundo os mais antigos, para QOs60si ndo se apresenta 0 ori, este deve ser cnrolado em folhas de bananeiras ¢ levado para o igb6 (mato) ¢ imediatamente apresentado ¢ entregue ao igbd (Wa ibf orf igb6!: Aqui esté a cabega, florestal). Osdosi € também o Orisa que nao reecbe oyin (mel), que € um dos seus eewo (proibigées, conhecidas comumente como kijilas, do kim- bundu) ligado ao itgn de Otokonsés6 (a histéria do cagador de uma flecha sd), O Orisa Song6 tem também sua particularidade que € 0 @éwo do obi, nao pelo que dizem, de $ongé ter-se enfor- cado num pé de obi, mas pela ligagio que Songé tem com Iki (morte) ¢ Egtingtin (espfritos-almas dos mortos). 55 Songé cra filho de Origa, mas era humano € tornou-se Or somente apds sua morte; portanco, tendo sua forga de Orisa vinda de sua condi¢io de Egingtin em seu estado de morte, apds 0 que se tornou um Orisa. O obi € uma fruta que, embora scja também ofertada aos ancestrais (espfritos dos mortos antepassados), tem ligagdo com a vida. Pois os Yorba acreditam que os que mor- reéram apenas mudaram de mundo, foram-se do mundo dos vi- vos para o mundo das mortos onde eles continuam "vivendo" ¢ velando pelos seus descendentes ¢ a partilha do obi com os significa re- unir toda a familia, com os viventes desse mundo ¢ do outro ancestrais € os viventes desse mundo (dos vives), mundo (dos mortos) num encontro festive € propiciatério. A forca da vida que € representada pelo ob? entra em an- tagonismo com a forga vital de Sdng6, que € oriunda da morte (Iki), sendo sua fruta preferida o orégb6, que tem ligagdo com a forga de Ik ¢ também de Egtingtin c dos ancestrais. Oya, embora tenha grande ligagio com Song6, o seu éwd € 0 ton (carnciro), que € o animal predileto de Song6. Yemonja é um Orisa odd (Orixd do rio) € 0 seu eéwd E 0 1yd (sal). O sal € outro elemento que tem ligacdo com a forga da vida e Yemonja é um Orisa que também esté ligada a Ikti (morte), pois segundo os iton (lendas) ela € quem vem primeiro para re- conhecer a pessoa que deverd ser levada por Ikti (pela morte),’o guerreiro da morte. Odsaala é 0 Orish que tem varios 2ewd (tabus, proibigdes): um deles € a cor vermelha, que cle rejeita, por isso lhe é vetado o dendé; também o diidd (o preto), por isso também Ihe é re- pugnante o carvao (édii), portanto suas vestes jamais devem ser sujas por coisas pretas que lembrem o carvao. Ainda o sal é um dos s muito embora tenha ligagao com a vida, mas cle também tem ligacio com a morte, pois quando Odsaala criou o ser humano do barro estipulou que, apés 0 uso, esse material de- vena ser devolvido & terra, lugar de onde fora retirado, incum- b€ncia esta dada a Iki (morte), que foi quem trouxe este 56 material para Qosaala moldar os seres humanas, como contam os jtdn nas lendas da criagdo, por isso Iki foi também incumbido de devolvé-los no momento propicio. Assim, Odsiali ao partici- par da criagdo da vida ficou também responsavel pela criagao da morte ao estipular que a matéria que ora moldava os seres hu- manos deveria voltar ao seu local de origem. E e: dubiedade € representada ritualmente quando cle recebe © obi, que tem li- gagdo com a vida, mas que recusa o sal, que tem 0 sentido de continuagado da vida, que cessa entio com a chegada de Ika (morte) para repor o ser humane de volta ao barro de onde fora tirado. Esse aspecto de Odsdala € mais evidente quando uma pessoa & filho de Oasaala, as oferendas dos demais Oriya do ‘carrego" de: excetuando-se apenas Esit, Ogin cas vezes Omalti. st Nés temos 0 habito de fazer os sacrificios € rituais automauca © mecanicamente, sem sabermos o que significam ou simboli- zam em si. E, segundo os costumes Yoriiba expressados por Omosade Awolalu, no scu livro Yortéd beliefs and sacrificial rites, esses rituais © sacrificios sio bem definidos em seus propésitos, com a compréensio dos scus simbolismos no que nos baseamos paraas explicagdes a seguir. animais pessoa seguem Odsiala na protbigdo do sal e do dendé, Com respeito aos dos sacrificios todos tém simbolis mos dentro dos rituais € do culto aos serem oferecidos. O princi- pal simbolismo ao s ar um animal € o de wansfenr, através do éjé, a vida do animal para dar vida a outra coisa ate entio inanimada que a recebe ¢ passa a té-la dai por diante; dar vida ao Orisa que é "assentado" no igba, que passa a viver efeu- vamente ao receber a vida transferida para si no €j¢; no ori, que apesar de possuir vida latente, manifesta-se aps receber a trans- feréncia de vida que the dara a mobilidade ¢ 0 despertar efetivo para a vida no ayé (mundo visivel). ; As galinhas c galos sdo animiais muito usados nos rituais como oferendas por serem mais faceis de adquirir, mas também por sacri

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