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PITAGORAS E OS CAMINHOS DA ALMA ANNA PADOA CASORETTI* RESUMO: No apagar das luzes do periodo areaico grego, um homem peculiar estabelece-se no Sul da Italia onde inicia uma escola cujas doutrinas seriam seguidas por uma cadeia continua de discipulos, até alguns séculos apds @ extingdo da mesma. Este texto focaliza o legado de Pitagoras e a unidade concsitual sustentada pela escola pitagorica, mirando as questoes concementes a trajetéria da aima humana dentro da ordenagao universal postulada pelo organismo pitagérico. PALAVRAS-CHAVE: Alma, Motompsicose, Pitagorismo InTRoDUGAO Os CAMINHos Do SABIO. A ALMA COLETIVA PITAGORICA. A ALMA UNIVERSAL: KOSMOS E HARMONIA A TRAJETORIA DA ALMA HUMANA.. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.........0 * Bacharel em Filosofia pela Universidade Mackenzie @ Mestre em Filosofia Antiga pela Pontificia Universidade Cat6lica, PUC-SP. Revista Pandora Brasil - N@ 62 - Janeiro de 2015 - ISSN 2175-3318 “PITAGORAS E OS CAMINHOS DA ALMA" Anna Padoa Casoretti PITAGORAS E OS CAMINHOS DA ALMA InTRODUGAO As filosofias que se desenvolveram na Magna Grécia, entre os séculos VI e V a.C., apresentaram uma témpera singular gragas as suas estreitas relagdes com a religiosidade e alguns cultos-mistéricos. Desde tempos mais remotos, tais cultos se perpetuavam pelos solos do Sul da Italia e da Sicilia, abrigando especulagées sobre a existéncia da alma apés a morte. Essa caracteristica revela-se nas tematicas metafisicas de alguns filésofos italicos do periodo, e é fortemente visivel no legado deixado por Pitagoras bem como por alguns de seus mais proeminentes discipulos. Os registros de tais interesses encontram-se expostos, de forma pontual, em alguns poucos fragmentos efetivamente pitagoricos, enquanto, obliquamente, seus sinais podem ser extraidos dos testemunhos acerca das doutrinas e da forma-vida adotadas na escola que sobreviveu ao mestre. Das fontes e testemunhos relatives @ conjuntura pitagorica, emergem quatro diferentes perspectivas que se relacionam ou a teoria da alma ou a sua vivéncia. A primeira dessas perspectivas se relaciona ao personagem histérico Pitagoras, cuja probidade permitiu que os relatos acerca das transmigragdes de sua alma fossem aceitos e propagados por seus contemporaneos. O segundo aspecto advém do organismo formado pelos iniciados da escola pitagérica, que criaram um campo propicio para o cultivo de qualidades intelectuais, mantido vivo por seus discipulos através de varios séculos, O terceiro ponto, por si sé relevante por encerrar 0 nucleo do pensamento pitagérico, contempla a alma universal desvelada no desenrolar da cosmologia pitagérica, ao passo que o quarto ponto, que também pode ser entendido como a aplicagao na dimensao humana do terceiro ponto, expée a trajetoria da alma humana individual. Apesar de interligadas, cada uma dessas partes possui autonomia e completude. Os CAMINHOS DO SABIO O volume de dados historiograticos concernentes a Pitagoras e seu ambiente, apesar de restrito, foi suficiente para permitir a elaboragao de algumas biografias acerca de sua vida, as principais delas escritas por Diégenes Laércio, Porfirio e Jamblico. Seus contemporaneos, ou pouco posteriores, como Heraclito, jon, Empédocles e Herddoto, déo um preciso testemunho de sua realidade historica, de Revista Pandora Brasil - N@ 62 - Janeiro de 2015 - ISSN 2175-3318 “PITAGORAS E OS CAMINHOS DA ALMA" Anna Padoa Casoretti forma que qualquer tentativa de colocar em diivida a existéncia do homem histérico, deve ser repudiada.' Os fragmentos e testemunhos confirmam a existéncia do homem-fildsofo-sabio cuja filosofia deixou marcas na Italia meridional. Pitagoras nasce em Samos, ilha grega do Egeu setentrional, e atinge seu florescimento por volta de 530 a.C. De Samos, fugindo da tirania de Policrates”, parte para a Magna Grécia, onde funda, na cidade italiana de Crotona, uma escola que logo alcanga grande sucesso por transmitir uma inovadora visdo de vida. Apés cerca de vinte anos, em razdo de perseguigdes politicas, retira-se de Crotona migrando para Metaponto, onde morre préximo aos noventa anos. A tradigao atribui a Pitagoras inumeras viagens e peregrinages que tinham por objetivo a aquisigao de conhecimento. Os principios das ciéncias matematicas, muito presentes nas doutrinas de sua escola, teriam sido apreendidos com os egipcios, os caldeus e os fenicios. Viagens ao Egito, 4 Fenicia e & Caldéia, visando aprender com suas fontes de erudicao, eram, na época, possibilidades bastante verossimeis em razfo de sua acessibilidade a partir de Samos.? Os egipcios eram estudiosos de geometria desde tempos antigos, os fenicios de numeros e calculos, enquanto os caldeus eram conhecidos por suas observagées celestes. As caracteristicas de tais culturas podem, efetivamente, ser reencontradas no ensinamento pitagsrico. Outrossim, desde crianga Pitagoras esteve em contato e teve aulas com os maiores mestres de sua época, como, por exemplo, Anaximandro. O conhecimento das doutrinas sagradas, algumas referentes ao pds-morte, adviria da iniciagéo nos mistérios dos santuarios de Ménfis e Helidpolis, bem como de sua estadia na Babil6nia, onde, além de ter estado com Zoroastro, teria conhecido o pensamento das antigas religiées do Oriente.‘ Na opiniao de alguns estudiosos, de Id teria trazido a doutrina da metempsicose — ou transmigragao da alma em corpos sucessivos ~, que viria a ser uma das principais doutrinas da escola pitagérica. Para outros, tal conhecimento decorre de seu discipulado entre os druidas celtas®, ou, de acordo com Andrao de Efeso®, em hipétese que nao exclui as anteriores, o futuro mestre teria sido discipulo de Ferecides de Siro, 0 primeiro tedlogo a ensinar a teoria da metempsicose naquele periodo. + Jonathan Bames (2003, p86) corrobora tal afimagso a0 notiicar que existem mais informagdes acerca de Pitdgoras - sua vida, sua personalidade, suas ideias ~ do que sobre qualquer outro fisofo pré-socrético, 2, Arisi6xeno, {f.16, apud Porfirio, VP’. Ainda, Burkert, 1983, p.569. Informam Kirk, Raven @ Schofield (p.293) {que a emigragao decorrente da trania de Policrates so prolongou entra o periodo de'540 até carca de 522 a. Crotona se tornara, fetivamente, um destino bastante comum, por se tratar da mais oSlebre cidade do sul da tla, notavel por suas vtorias olimpicas. Cr. Timpanaro Carini (n.p-45), 0 mais antigo tostemunho de uma viagom de Pitégoras ao Egito 6 dado por Isdcrates (4), Walter Burkert afirma que seria perteitamente possivel a um jonio do século VI assimilar elementos de outras culturas, como da matematica bablénica ou da doutrina indiana da metempsicase (1983, p.569). +e acordo com Porfirio, VP 6, esses fatos seriam conhecidos por muitas pessoas, jé que se encorivam escritos nas Memérias, diversamente de outras doutrinas e habitos que se mantiveram em siglo. Cf, ainda, Rocha Pereira, P.174, 176; Feria dos Sartos, 2000 p67 CC. Rohde, 2008, p.378 © CL Didgenes Laércio |, 118, Revista Pandora Brasil - N@ 62 - Janeiro de 2015 - ISSN 2175-3318 “PITAGORAS E OS CAMINHOS DA ALMA" Anna Padoa Casoretti 4 De acordo com 0 reconhecimento dos antigos, avalizado por varios estudiosos modernos, Pitagoras foi um homem especial a ser inserido na categoria que a tradicao denomina metragyrtai, os sacerdotes itinerantes ou “homens mitagrosos’.” Achtemeier® o qualifica como theiés anér, ou homem divino, conforme a tradigao grega antiga. Esse titulo era outorgado aqueles que possulam certas caracteristicas, como uma trajetoria marcada pelo dom de uma linguagem persuasiva, a capacidade de fazer milagres, curas e adivinhagées, e uma morte de alguma forma extraordinaria Na hipstese mais simplista, tratar-se-ia de um homem com fortes poderes psiquicos. HA valiosos testemunhos antigos que contribuem, nesse sentido, para dar forma a indiscutivel reputagao do filosofo. Escreve Empédocles: E havia entre eles um homem de saber sem igual, mestre, em particular, de toda a espécie de obras sAbias, que adquirira um enorme cabedal de conhecimentos: pois sempre que empenhava todo o seu saber, facilmente via cada uma de todas as coisas que existem em dez ou até mesmo vinte geragées de homens. (Empédocles, 31 B129 D.K., Porfirio, VP, 30) A esse propésito, relata Aristételes: Aristételes diz que Pitégoras foi chamado Apolo Hiperbéreo pelo povo de Crotona." O filho de Nicémaco [i.e.Aristételes] acrescenta que Pitagoras foi visto certa vez por muita gente, no mesmo dia e 4 mesma hora, tanto no Metaponto como em Crotona; [...] (Aristételes, fr. 191 Rose, KRS, 11.273) E Dicearco, discipulo de Aristoteles, descreve, assim, a forga de seu carisma: [.] quando ele desembarcou em Italia e chegou a Crotona, foi recebido como homem de notaveis poderes e experiéncia, devido as suas muitas viagens, como pessoa bem dotada pela fortuna, no tocante as suas caracteristicas pessoais. E que a sua aparéncia era imponente e propria de um homem livre, e na sua voz, no seu carater e em tudo o mais da sua pessoa havia graga e harmonia em profusdo. 7 Gf. Burkert, 1993, .576. Cf Achtemeler “Crgin and Function ofthe Pre-marcan Miracle Catenae” in Joumal of Biblia! Litereture, 1972, spud Comal, 2011, p.128 £"Timou 0 a maior para da tradicto consideram que ess0s versos Se drigam a Pitdgoras, pols a forga d'anamnesis s6 poderia relacionar-se a PitSgoras, a0 qual esse dom ¢ atribuido (Rohde, 2008, p. $97). Também a grande matotia dos modarnos, como Corford, Diels, Delatte © Burnet, entre outros, ainha-se com essa tese '® Alem disso, Arstooles teria se referido a Pitagoras como o herdero de Epiménides, Avistou, Hormotimo, Abaris «© Ferecides (Ct. Comford, 1975, nota p.175 ) Revista Pandora Brasil - N@ 62 - Janeiro de 2015 - ISSN 2175-3318 “PITAGORAS E OS CAMINHOS DA ALMA" Anna Padoa Casoretti (Dicearco, fr 33, Porfirio, VP 18) Finalmente, em célebre passagem de Aristételes, tem-se o claro relato de seu juizo acerca da superioridade de Pitagoras em relagao aos outros homens: Aristételes em sua obra Sobre a filosofia pitagérica da noticia do fato de que seus seguidores custodiam entre os segredos mais arcanos a seguinte distingdo: dos seres dotados de raz4o, alguns séo deuses; outros, homens; e, alguns séo como Pitagoras. (Aristételes, fr.192 Rose, D.K. 7, Jamblico VP 31) Tais testemunhos ajudam a dirimir quaisquer dividas acerca do reconhecimento outorgado ao samio por outros fildsofos da Antiguidade. Como bem sustenta Cornford, em comunidades altamente civilizadas ndo se formam lendas dessa natureza a volta de pessoas insignificantes ou de meros charlatées; ou, quando se formam, nao conquistam o respeito de homens como Aristételes e Plato. O autor Teflete, ainda, que o epiteto “divino” (theiés), atribuido a Pitagoras, apresenta uma grande variedade de significados, entre eles a possivel denotagéo de uma alma acabada de se purificar e destinada a escapar do ciclo de vida para juntar-se a companhia dos deuses.’' E possivel que seja esse o significado da frase de Aristételes “entre as criaturas racionais ha os deuses, os homens e os seres como Pitagoras’ Em razdo da profunda e diferenciada sabedoria aliada a uma série de proezas espirituais que Ihe foram atribuidas, em breve tempo Pitagoras se tornou um mestre lendario, reconhecido nao apenas em Crotona como em todo o Sul da Italia. Um dos fatores distintivos de sua vida, cerne desta breve exposicao, encerra-se na questao das transmigragdes de sua prépria alma. Cabe registrar que a transmigragao da alma de Pitagoras por diferentes corpos, em vidas sucessivas, 6 aceita por boa parte de seus contemporaneos como, posteriormente, testemunharia a tradigéio. Observe-se que a questo da metempsicose ja ndo causava perplexidade, até porque, no final do sexto século a.C., a religio érfica ja se espalhava por aqueles solos, esparzindo as sementes de tal crenga. O interesse pela questo da trajetoria da alma de Pitagoras. como ilumina Corelli, foi compreendido, desde a Antiguidade, “como uma exemplificacao da propria doutrina da transmigragéo da alma’.’? A fonte mais significativa de tais relatos encontra-se em Heraclides Péntico'®, que assim recorda a historia das transmigragdes de Pitagoras’ 1 Cf Comford, 197, p.175. "2 Cf. Gabriele Cornell, 2011, p.197. +3 Herdclides POntco foi puplo de Plato e ingressou na Academia na mesma época que Aistteles, além de ter sido um notavel fisofo ¢ cientista por seus proprios méritos. Em sous escrtos (dos quais s6 restam fragmentos) le lidou om certas dimensces com Pitagoras @ sua escola, @ ha sinais de que estes toriam exercido influéncia consideravel sobre ele. Ainda que seus trabalhos hajam se perdido, escitores posteriores fornecem diversas Revista Pandora Brasil - N@ 62 - Janeiro de 2015 - ISSN 2175-3318 “PITAGORAS E OS CAMINHOS DA ALMA" Anna Padoa Casoretti 6 Herdclides Péntico refere que Pitagoras costumava dizer de si mesmo o seguinte: que uma vez havia sido Etalides, e que havia sido considerado filho de Hermes. O proprio Hermes teria Ihe dito para pedir o que quisesse, fora a imortalidade, Ele entéo Ihe pediu para manter, tanto em vida como na morte, meméria dos acontecimentos. Assim, quando vivo lembrava-se de todas as coisas, e depois de morto conservava as mesmas lembrangas. Algum tempo depois, foi para [0 corpo de] Euforbo e [...depois] sua alma transmigrou para Ermotimo. (Diogenes Laércio Vill, 4-5) Referindo-se as transmigragdes acima descritas, Porfirio, nos fragmentos 26 27 da Vida de Pitégoras, confirma que Pitégoras, com base em “provas inconfundiveis’, teria demonstrado ser a reencamagao de Euforbo, e que ele [Porfirio] omitiria os detalhes de tal relato por serem notoriamente conhecidos.'¢ Complementando os testemunhos da metempsicose, tem-se, ainda: Androcides Pitagérico, autor do livro Dos simbolos pitagéricos, Eubilides Pitagérico, Aristéxeno [...disseram que as reencarnagGes de Pitagoras ocorriam a cada 216 anos. Apés tal periodo Pitagoras adveio a um novo nascimento, e reviveu ao completar do primeiro ciclo e retormo do cubo de 6, numero regenerador da vida e recorrente em razdo de sua natureza esférica. (Jmblico, Theolog. Arithm. fr 52) Do fragmento de Herdclides, depreende-se que a alma que se tornou Pitagoras trazia como bagagem a meméria dos conhecimentos adquiridos em sua peregrinagao por muitas vidas. Por outro lado, no fragmento 63 das Vidas de Jamblico, esta atestado que Pitagoras induzia os muitos que encontrava a evocarem a reminiscéncia de suas proprias existéncias prévias, antes de proceder as suas curas. Tais passagens nos remetem ao fragmento 129 de Empédocles, visto anteriormente. Em tal fragmento, Empédocles descreve Pitagoras como “um homem dotado de um conhecimento extraordinario, [...] que facilmente via cada uma de todas as coisas que existem em dez ou até mesmo vinte geragées de homens.”"° Estas ultimas palavras confirmam a tradigo atribuida a Pitagoras de lembrar-se de suas encamacées anteriores, como aquiesce a maioria dos estudiosos. Dando um passo adiante, Cornford observa que, considerada em seu conjunto, a passagem sugere algo mais: nao apenas a recordagao de experiéncias vividas neste mundo, mas ‘a visdo de tudo citapdes nese sentido. Sau fragmanto 89 pode sar encontrado na edicao dos fragmentos de Heraclides em F Web Para maiores detalhes, cf. Guthrie, 2003b, pp. 163-164 As provas citadas por Porfirio esto descitas na Histéria Universal, de Diodoro (K, vi 1-3} Cf. Bames, 2003, 103. '5 §rolagao de Empédocias com o Pitagorismo & confirmada por varios estudiosos, como Comtford, Diels, Delatt, Burnet, Zeller ¢ Timpanaro Cardini, que analisaram os pontos coincidentes entre suas doutrinas. Revista Pandora Brasil - N@ 62 - Janeiro de 2015 - ISSN 2175-3318 “PITAGORAS E OS CAMINHOS DA ALMA" Anna Padoa Casoretti quanto existe (‘facilmente via cada uma de todas as coisas que existem), vislumbrando, nestes termos, a relagao existente entre meméria e verdade.'° Fage ao escopo tragado esmiucar tal relacdo, mas cabe ressaltar que é nessa relagdo que se alimenta a alma do sabio Apesar dos predicados que Ihe foram atribuidos, relatos mostram que Pitagoras no se teria agraciado com o grau de sabio, sophés. Ao contrario, uma tradigao tardia afirma que Pitagoras teria sido o primeiro a escolher para si um termo mais modesto: philosophés. E, posteriormente, seus discipulos teriam sido os primeiros a se intitular, de forma reservada, “amigos da sabedoria’.'” Acresca-se que, de acordo com o oportuno esclarecimento de Rocha Pereira, sophés e sophistés foram, durante muito tempo, sindnimos, antes que o termo sophistés adquirisse uma diversa conotacao."? Numa época em que os sofistas se auto-intitulavam sophdi, Platéo reconhecia como sophéi apenas os pitagéricos. O sophés era aquele que atingira os cumes da perfeicao espiritual; o philosophés ainda tentava a ascensao. Para finalizar, cumpre informar que existem divergéncias entre os especialistas no que concerne a eventuais obras escritas por Pitagoras. O Discurso Sagrado, que conteria a doutrina mistica e ascética da escola, é geralmente admitido pela tradigao como de sua autoria, Fragmentos deste ultimo foram recolhidos e compilados tardiamente nos oélebres Versos Aureos'®, comentados pelo neoplaténico Higrocles de Alexandria, Discute-se a existéncia de outros escritos que se perderam, embora a tese mais adotada pelos historiadores, atualmente, seja a de que Pitagoras nada escreveu. A transmissdo do conhecimento na escola que fundou se deu e se perpetuou através da oralidade. A grandeza de sua presenga, sustentada por uma poderosa psyché, promoveu 0 estreitamento, em torno a si, do circulo de discipulos que, num corpo unico, aplicaram aos exercicios intelectuais uma profunda concepgao da vida humana e do universo. 16 CE. Comford, 1975, p.90. ‘Cf. Rocha Pereira, 1964, pp.161,162; Bumet; Comford, 1975, p.186. 18 GF Rocha Pereira, ibidem, 1 Armand Delatio, em Le vie de Pythagore, examinou minuciosamente os Verses Aureos, concluindo pela autenticidade de mais de dois tergos dos fragmantas que apresontam a doutrna relgiosa pitagsrica, sob forma tmuito antiga Cf, Stefano Fumagali, 1996, p46; ver, ainda, notas em Timpanaro Cardin, 2010, np.63,64 Revista Pandora Brasil - N@ 62 - Janeiro de 2015 - ISSN 2175-3318 “PITAGORAS E OS CAMINHOS DA ALMA" Anna Padoa Casoretti

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