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EXCELENTÍSSIMO SENHOR CORREGEDOR-GERAL DA POLÍCIA

FEDERAL

TELMÁRIO MOTA DE OLIVEIRA, brasileiro, casado,


Senador da República, portador do RG Nr 23689 SSP – RR, residente e domiciliado à r.
Zacarias Mendes Ribeiro, 1137, Boa Vista – RR, CEP: 69.3017-280, vem à presença de
V. Exa propor a seguinte:

REPRESENTAÇÃO POR ABUSO DE AUTORIDADE

em face do ALEXANDRE SILVA SARAIVA, Delegado de Polícia Federal, RG nº


081049876, CPF nº 005.717.227-76 com base nos argumentos fáticos e jurídicos, a
seguir, delineados

DOS FATOS

O delegado de Polícia Federal Alexandre Saraiva apresentou ao


Supremo Tribunal Federal no dia 14 de abril de 2021, notícia-crime em desfavor do ora
representante, contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente
do Ibama, Eduardo Bim, pela suposta prática de interferências indevidas no órgão de
polícia.

Segundo a falaciosa notícia-crime, o representante - em conjunto


com os demais citados - estaria intervindo no âmbito de uma operação que prendeu
duzentos mil metros cúbicos de madeira extraídos de maneira supostamente ilegal na
floresta Amazônica.
Aduz o representado que o representante seria um "braço ativo"
de madeireiros alvos da Operação Handroanthus, ocorrida em dezembro do ano passado,
para "causar obstáculos à investigação de crimes ambientais e de buscar patrocínio de
interesses privados e ilegítimos perante a administração pública."

Ainda com relação ao representante, aduziu que o parlamentar


estaria contra as ações da Polícia Federal, e a favor dos madeireiros o que é uma absoluta
inverdade, conforme restará provado.

Com efeito, de modo absolutamente temerário, violador de seu


múnus público e atentatório contra a honra do senador ora representante, o delegado
representado incrivelmente afirma na sua midiática notícia-crime:

Além disso, há fortes indícios de terem incorrido no tipo penal de


advocacia administrativa (art. 321 do CP), consistente em “patrocinar,
direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração
pública, valendo-se da qualidade de funcionário”, assim como de
integrarem organização criminosa orquestrada por madeireiros alvos da
OPERAÇÃO HANDROANTHUS – GLO com o objetivo de obter, direta
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de
infrações penais de crimes de receptação qualificada e crimes ambientais
com caráter transnacional (art. 2°, caput, da Lei n° 12.850/2013).

Ora, afirmar que um senador, um ministro de Estado e o


presidente de uma autarquia federal, que em reuniões públicas, na presença de imprensa
e de representantes do setor madeireiro que fizeram críticas fundadas a aspectos das
investigações presididas por ele, integram uma organização criminosa constituída para
praticar advocacia administrativa para obstaculizar a ação investigativa da Polícia Federal
é absolutamente irresponsável e inadimissível, devendo ser exemplarmente repreendido
por essa nobre Instituição.

DA VERDADE DOS FATOS

Como dito, tais informações são inverídicas, partindo de uma


pessoa com clara intenção de autopromoção e com sede de vingança em razão de
publicações do parlamentar que questionam a forma arbitrária em que o delegado conduz
suas investigações e apreensões.

Em sua notícia-crime, aduz o delegado que:

“Em razão da magnitude dos resultados, apreensão de madeiras


com valor estimado em R$ 129.176.101,60 (CENTO E VINTE E
NOVE MILHÕES, CENTO E SETENTA E SEIS MIL, CENTO E
UM REAIS E SESSENTA CENTAVOS)[1], o setor madeireiro
iniciou a formação de parcerias com integrantes do Poder
Executivo, podendo-se citar o Ministro do Meio Ambiente
RICARDO SALLES e o Parlamentar TELMÁRIO MOTA (PROS),
no intento de causar obstáculos à investigação de crimes
ambientais e de buscar patrocínio de interesses privados e
ilegítimos perante a Administração Pública”.

De plano cabe esclarecer que o representante em momento algum


interferiu em qualquer fiscalização, inquérito ou processo relacionado a crimes
ambientais. O senador é, de fato, contrário às ações midiáticas do ora representado que
realiza operações sem critérios legais para apreender madeira, independentemente de
serem legalizadas ou não.

Além disso, o Delegado ofereceu uma notícia-crime sem qualquer


indício de autoria e materialidade não indicando sequer quando, onde, como, de que
forma e com quem teria formado a suposta parceria com integrantes do setor madeireiro
para causar obstáculos às investigações. Trata-se de acusação absolutamente grave,
genérica e leviana.

Assim, requer o delegado a abertura de investigação pelo simples


fato de ter o representante publicado mensagens em redes sociais contrárias à sua atuação
como Policial Federal que, conforme relatos, estende no tempo, sem qualquer motivo
justificável, as investigações em curso, deixando tramitar inquéritos por meses ou anos a
fio, enquanto mantém a carga apreendida sem qualquer cuidado necessário com a
manutenção da madeira, causando perecimento da carga e vultosos prejuízos aos
proprietários.

Prosseguindo em suas ilações, o representado alegou em sua


notícia-crime que:

O parlamentar, eleito pelo Estado de Roraima, é um opositor


declarado às ações da POLÍCIA FEDERAL no combate ao
desmatamento da Floresta Amazônica. Externa, por meio de suas
redes sociais (Twitter), o intento de interferir em ação
fiscalizadora ambiental e de patrocinar interesses privados (de
madeireiros) em detrimento de ação legítima de polícia
investigativa, inclusive em parceria com o MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE.

Muito pelo contrário, o senador JAMAIS foi contrário às ações


da Polícia Federal no combate ao desmatamento da Floresta Amazônica. O parlamentar
é contrário, sim, às ações do Sr. Alexandre Saraiva, que atua de maneira arbitrária com
viés político e ideológico, que afronta as normas da instituição que deveria representar.

O parlamentar em momento algum interferiu ou teve a intenção


de interferir, em ação fiscalizatória, muito menos de patrocinar interesses privados. Trata-
se de acusação seríssima e desarrazoada, jogada imediatamente à imprensa pelo
representado, como forma de saciar seu apetite de holofotes e autopromoção.

Além disso, o representante, frise-se, não possui qualquer


“parceria” com o Ministério do Meio Ambiente. Como parlamentar, apenas esteve
presente em uma reunião com o Ministério da Justiça e Ministério do Meio Ambiente
onde foram convidados, além do ministro Ricardo Salles, o secretário-Executivo do
Ministério da Justiça, o Coordenador Geral de Polícia Fazendária da PF, o Chefe da
Divisão de Meio Ambiente da PF, o Presidente e Procuradora da FEMARH, os senadores
Mecias de Jesus, Zequinha Marinho e Jorginho Melo, a deputada Carla Zambelli e
representantes da UniFloresta – Associação da Cadeia Produtiva Florestal da Amazônia
e Sindicato dos Madeireiros. Frise-se que o próprio delegado foi convidado a participar
da reunião, porém, declinou do convite.

Ou seja, a participação do parlamentar foi uma atuação


institucional, como representante do estado de Roraima. A aludida reunião foi realizada
para tratar sobre procedimentos e protocolos a serem adotados no combate à extração
madeireira, o que faria imperiosa a presença do delegado para fornecer esclarecimentos e
colaborar para fixar parâmetros ao combate à exploração ilegal, o que resultaria, como
era a única intenção das autoridades reunidas, na necessária segurança jurídica àqueles
que trabalham nos marcos da legalidade.

Ademais, ao contrário do aludido pelo representado, a


participação do parlamentar não teve e não tem qualquer ligação com a apreensão de
madeira no estado do Pará, uma vez que, repita-se, encontrava-se apenas como
representante do estado de Roraima. Ressalte-se que, na reunião, o Pará estava
representado pelo parlamentar daquele estado, o senador Zequinha Marinho.

Assim, o representado atua como um paladino ambientalista,


fomentando crises, confusão. Ao invés de exercer com prudência e firmeza o seu mister
investigativo em colaboração com os demais órgãos federais e estaduais do meio
ambiente, o delegado Saraiva prefere desempenhar o papel de acordo com suas próprias
convicções, deixando de produzir resultados concretos para o funcionamento de uma
atividade lícita com preservação do meio ambiente.

A verdade é que o delegado Alexandre Saraiva não age com um


agente do Estado brasileiro em favor da regulação e ordenação da atividade lícita de
exploração madeireira.

Já as demais alegações fantasiosas do ora representado se tratam


apenas da publicações do Senador na rede social Twitter. Em verdade, se trata de mera
vingança pessoal do representado ante às bem fundadas, ainda que duras, críticas ao seu
trabalho.
Ademais, a imunidade material dos parlamentares é garantia
funcional cujo objetivo é conceder liberdade, autonomia e independência no desempenho
do ofício dos membros do Poder Legislativo.

Assim, ao contrário do que consta na malfadada notícia-crime, as


críticas ocorreram, inexoravelmente, no exercício de função parlamentar, visto que o
representante é senador eleito pelo estado de Roraima, tornando-o inviolável por sua
manifestação contrária às arbitrariedades e exageros cometidos pelo Delegado.

Com efeito, consta do caput do artigo 53, da Constituição Federal


que:

“Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente,


por quaisquer de suas opiniões, palavras, e votos.”

Da exegese do caput do dispositivo constitucional transcrito,


exteriorizando o sentido da imunidade material, confere aos parlamentares, com o viso
de resguardar o efetivo exercício de suas funções legislativas, a ampla liberdade de
expressão, através da inviolabilidade de suas opiniões, palavras e votos,
dimensionando o alcance da imunidade parlamentar no plano da sua responsabilidade.

Neste sentido os ensinamentos de Alexandre de Moraes, quando


assinala que:

“Independente da posição adotada, em relação à natureza jurídica da


imunidade, importa ressaltar que da conduta do parlamentar (opiniões,
palavras e votos) não resultará responsabilidade criminal, qualquer
responsabilização por perdas e danos, nenhuma sanção disciplinar,
ficando a atividade congressista, inclusive, resguardada da
responsabilidade política, pois trata-se de cláusula de irresponsabilidade
geral de Direito Constitucional material.”

Percebe-se que as críticas e denúncias decorrem obviamente do


exercício do mandato parlamentar de seu mandato, restando inequívoco que as críticas
objeto da malfadada notícia-crime têm natureza republicana, acomodando-se
perfeitamente no sistema constitucional de pesos e contrapesos que devem reger as
relações entre os poderes Executivo (delegado da Polícia Federal) e Legislativo (senador
da República).

Em outras palavras, o nexo causal é evidente no caso em apreço.


Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, a cláusula de inviolabilidade
constitucional que impede a responsabilização penal e/ou civil do membro do
Congresso Nacional por suas palavras, opiniões e votos também abrange, sob seu
manto protetor, também as declarações veiculadas por intermédio dos "mass
media" ou dos "social media", desde que associadas ao desempenho do mandato:

Queixa-crime. Ação Penal Privada. Competência originária. Crimes


contra a honra. Calúnia. Injúria. Difamação. 2. Justa causa. Prova das
declarações. Inexistência de gravação das entrevistas e de ata notarial
quanto a ofensas por redes sociais. As declarações ofensivas à honra
podem ser provadas por qualquer meio, sendo desnecessária a vinda aos
autos de gravação original ou de ata notarial. A petição inicial é instruída
com a transcrição das entrevistas e com o registro das declarações
alegadamente veiculadas por redes sociais. A documentação produzida é
suficiente para, na fase processual atual, demonstrar a existência do fato.
3. Art. 53 da Constituição Federal. Imunidade parlamentar. Ofensas em
entrevistas a meios de comunicação de massa e em postagens na rede
social “WhatsApp”. O “manto protetor” da imunidade alcança
quaisquer meios que venham a ser empregados para propagar palavras
e opiniões dos parlamentares. Precedentes. Possível aplicação da
imunidade a manifestações em meios de comunicação social e em redes
sociais. 4. Imunidade parlamentar. A vinculação da declaração com o
desempenho do mandato deve ser aferida com base no alcance das
atribuições dos parlamentares. As “as funções parlamentares abrangem,
além da elaboração de leis, a fiscalização dos outros Poderes e, de modo
ainda mais amplo, o debate de ideias, fundamental para o
desenvolvimento da democracia” – Recurso Extraordinário com
Repercussão Geral 600.063, Red. p/ acórdão Min. Roberto Barroso,
Tribunal Pleno, julgado em 25.2.2015. 5. Imunidade parlamentar.
Parlamentares em posição de antagonismo ideológico. Presunção de
ligação de ofensas ao exercício das “atividades políticas” de seu prolator,
que as desempenha “vestido de seu mandato parlamentar; logo, sob o
manto da imunidade constitucional”. Afastamento da imunidade apenas
“quando claramente ausente vínculo entre o conteúdo do ato praticado e
a função pública parlamentar exercida”. Precedente: Inq 3.677, Red. p/
acórdão Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, julgado em 27.3.2014. 6.
Ofensas proferidas por senador contra outro senador. Nexo com o
mandato suficientemente verificado. Fiscalização da coisa pública.
Críticas a antagonista político. Inviolabilidade. 7. Absolvição, por
atipicidade da conduta.
(AO 2002, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
02/02/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-036 DIVULG 25-02-2016
PUBLIC 26-02-2016)

Portanto, mostra-se impertinente e descabida a notícia-crime,


tratando-se, repita-se, de vingança pessoal pelas críticas movidas pelo senador à atuação
do delegado, ora representado.

Neste caso, as críticas ocorreram no exercício de função


parlamentar, tornando o ora representante inviolável por sua manifestação, como senador
eleito por Roraima, uma garantia até mesmo indisponível, sob o matiz da imunidade (RT
155/399 - voto do Min. Celso de Mello).

DAS SANÇÕES DISCIPLINARES

Os atos do delegado enquadram-se, em tese, no artigo 43, XII,


XXV, LXII da Lei 4.878/65, in verbis:

Art. 43. São transgressões disciplinares:

(...)

XII - valer-se do cargo com o fim, ostensivo ou velado, de


obter proveito de natureza político-partidária, para si ou
terceiros;

(...)

XXV - apresentar maliciosamente, parte, queixa ou


representação;

(...)

LXII - praticar ato lesivo da honra ou do patrimônio da


pessoa, natural ou jurídica, com abuso ou desvio de poder, ou
sem competência legal;

(...)
A atitude do representado tenta criminalizar a crítica, a livre
manifestação do pensamento e a divulgação de informações, atingindo em cheio o direito
fundamental à liberdade de expressão, liberdade de informação

É inaceitável a conduta do delegado que além de apresentar


aleivosas acusações, divulga-as imediatamente à imprensa, sempre buscando holofotes e
autopromoção.

Desse modo, o agente claramente empregou abusivamente seu


poder, em contradição às normas que deveriam ser respeitadas como delegado de Polícia
Federal.

O prejuízo causado pelo delegado em razão de sua manifestação


e exposição midiática devem ser rechaçados de plano, pois colocam em dúvida a própria
integridade da Polícia Federal.

PEDIDO

Por todo o exposto, requer sejam tomadas as providências


cabíveis, devendo ser instaurado procedimento de investigação, para apuração dos fatos
aqui noticiados, e condutas ilícitas aqui apontadas, pelo delegado Alexandre Saraiva, e
após regular processamento, sejam adotadas sanções disciplinares ao Reclamado nos
exatos limites de sua eventual responsabilidade.

Brasília 16 de abril de 2021

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