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A VELHA _, DABIA Rix Weaver APRA, EE TROCALW LEGOES,L COS E CD'S USAL 62) 225-2" 5, 1238 - Centro - G Dados Internacionais de Catalogagdo na Publicag&o (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) RIX WEAVER Weaver, Rix, 1902- A velha sabia : estudo sobre a imaginagao ativa / Rix Weaver ; [tradugao Maria Silvia Mourdo Netto]. — Sao Paulo ; Paulus, 1996. — (Amor e psique) Titulo original: The old wise woman: a study of active imagination. Bibliografia. ISBN 85-349-0636-X 4, Imaginagao 2. Jung, Carl Gustav, 1875-1961 3. Psicandlise I. Titulo. II. Série. 95-4670 CDD-153.3 A VELHA SABIA estudo sobre a imaginacao ativa Indices para catalogo sistemético: 1. Imaginagao : Psicologia 153.3 Colegéo AMOR E PSIQUE + Uma busca interior em psicologia e religiao, J. Hillman» A sombra e o mal nos contos de fada, Marie-Louise von Franz + A individuago nos contos de fada, Marie-Louise von Franz + A psique como sacramento — C. G. Jung e P. Tillich, J. P. Dourley + Do inconsciente a Deus, Ema van de Winckel » Contos de fada vividos, H. Dieckmann * Caminho para a iniciagao feminina, S. B. Perera + O8 mistérios da mulher antiga e contemporénea, M. E. Harding + Os parceiro\ invisfveis, J. A. Sanford + Menopausa, tempo de renascimento, A. Mankowitz + doenga que somos nés, J. P. Dourley « Mal, o lado sombrio da realidade, J. Sanford Meditagdes sobre os 22 arcanos maiores do Tar6, An6nimo Os sonhi @acuradaalma,J.A. Sanford + Biblia e psique — Simbolismo da individuagao no A E.F. Edinger A prostituta sagrada, N.Q.-Corbett + A interpretagao dos contos de fat Marie-Louise von Franz * As deusas e a mulher — Nova psicologia das mulheres, S. Bolen + Psicologia profunda e nova ética, E. Neumann + Meia-idade e vida, Brennan e J. Brewi » Puer Aeternus — A luta do adulto contra o paraiso da infare Marie-Louise von Franz * O que conta o conto?, Jette Bonaventure « Falo, a sagral imagem do masculino, E. Monick + Castragdo 6 furia masculina, E. Monick + EI epathos—amore sofrimento, A. Carotenuto » Sonhos de um paciente com Alk Robert Bosnak « A busca falica — Priapo e a inflag4o masculina, J. ‘Wyly * tradigao secreta da jardinagem — Padrdes de relacionamentos masculinos, Jackson + Conhecendo a si mesmo — O avesso do relacionamento, D. SI Breve curso sobre sonhos, Robert Bosnak + Sonhos e gravidez, Marion R. Gallbach, passagem do meio, James Hollis - Os mistérios da sala de estar, G. Jackson +O ‘s4bio— Cura através de imagens internas, P. Middelkoop +A solidao, A. Storr * D sonhos e revelac&o, Morton T. Kelsey - A velha sabia — Estudo s¢ imaginagao ativa, Rix Weaver - Sob a sombra de Saturno, J. Hollis. PAULUS Titulo original Shambala Publications, Inc., 1991 Tradugao Maria Silvia Mour&o Netto Revisao Ivo Storniolo Capa Visa Coleg&o AMOR E PSIQUE dirigida por Dr. Léon Bonaventure Pe. Ivo Storniolo Dra. Maria Elci S. Barbosa © PAULUS - 1996 Rua Francisco Cruz, 229 04117-091 S&o Paulo (Brasil) Fax (011) 570-3627 Tel. (011) 575-7362 ISBN 85-349-0636-x ISBN 0-87773-605-7 (ed. original) The old wise woman: a study of active imagination ©C. G. Jung Foundation for Analytical Psychology, 1973 INTRODUCAO A COLECAO AMOR E PSIQUE Na busca de sua alma e do sentido de sua vida, 0 homem descobriu novos caminhos que o levam para a sua interioridade: 0 seu proprio espaco interior torna-se um lugar novo de experiéncia. Os viajantes destes cami- nhos nos revelam que somente o amor é capaz de gerar a alma, mas também o amor precisa da alma. Assim, em lugar de buscar causas, explicagdes psicopatdlogicas As nossas feridas e aos nossos sofrimentos, precisamos, em primeiro lugar, amar a nossa alma, assim como ela é. Deste modo é que poderemos reconhecer que estas feri- das e estes sofrimentos nasceram de uma falta de amor. Por outro lado, revelam-nos que a alma se orienta para um centro pessoal e transpessoal, para a nossa unidade e realizacao de nossa totalidade. Assim a nossa propria vida carrega em si um sentido, o de restaurar a nossa unidade primeira. Finalmente, nao é o espiritual que aparece primei- ro, mas 0 psiquico, e depois o espiritual. E a partir do olhar do imo espiritual interior que a alma toma seu sen- tido, o que significa que a psicologia pode de novo esten- der a mao para a teologia. Esta perspectiva psicolégica nova é fruto do esforgo para libertar a alma da dominagdo da psicopatologia, do espirito analitico e do psicologismo, para que volte a si 5 mesma, A sua propria originalidade. Ela nasceu de refle- xdes durante a pratica psicoterdpica, e esta comecando a renovar o modelo e a finalidade da psicoterapia. E uma nova viséo do homem na sua existéncia cotidiana, o seu tempo, e dentro de seu contexto cultural, abrindo dimen- sdes diferentes de nossa existéncia para podermos reen- contrar a nossa alma. Ela podera alimentar todos aque- les que sdo sensiveis & necessidade de colocar mais alma em todas as atividades humanas. A finalidade da presente coleg&o é precisamente res- tituir a alma a si mesma e “ver aparecer uma geracao de sacerdotes capaz de entender novamente a linguagem da alma”, como C. G. Jung o desejava. Léon Bonaventure PROLOGO Eum prazer escrever algumas palavras A guisa de introdu¢ao ao trabalho singular da sra. Rix Weaver, A VELHA SABIA. O proprio Jung trabalhou com material pertinente que se originava do “método” da Imaginagao Ativa, tanto em seus semindrios particulares como em seu livro auto- biografico.! Parece-me agora ter chegado o momento de divulgar junto a um circulo mais amplo de interessados 0 relato original de um tema de suma importancia para a pratica da Psicologia Analitica. Nesse sentido, este livro oferece a oportunidade de se presenciar o desenvolvimento e o desdobramento de tal processo. A apresentagéo do material clinico feita pela sra. Weaver vem acompanhada por um comentario abran- gente e magistral que facilita ao leitor a tarefa de com- preender a natureza e a relevancia desse método. Alias, pode ser que esses comentarios déem a impressiio de tudo ser um pouco facil demais. O leitor deve ter em mente que para o sujeito (paciente) que vivenciou todo esse ma- terial, apresentado de forma tao admiravel, tratou-se de muito “sangue, suor e l4grimas” num empreendimento ‘Jung, C.G., Sonhos, Memérias e Reflexées, Rio de Janeiro: Record, 1975. & que endo poderia ter acontecido nem concluido a conten- to sem tremendo esforgo, muitos sacrificios e bastante coragem. E importante enfatizar também a contribuigio da analista. Ninguém deve arriscar-se a um trabalho desse teor sem a ajuda e a orientagao de um “guru” expe- riente, em primeiro lugar porque “os perigos da alma” sao consideraveis e, em segundo, porque é essencial ela- borar as correspondéncias mitolégicas com aquilo que se pode denominar de “o mito pessoal” do sujeito, através de cujo procedimento este se vincula a toda a humanida- de em geral e imuniza-se contra o perigo de ficar perdido em seu “mito pessoal”. Tal meta foi convincentemente alcangada pela auto- ra eo leitor minucioso saberd reconhecer que, ao traba- lhar com 0 sujeito de seu estudo, a sra. Weaver soube transmitir-lhe 0 apoio e a ajuda que j4 assinalamos como indispensaveis. Prof. Dr. C. A. Meier Spezialarzt fiir Psychiatrie FMH Zurique 1 ALGUNS ASPECTOS DA TECNICA DA IMAGINACAO ATIVA Quando se empreende a tentativa de escrever sobre o tema da Imaginacdo Ativa, confronta-nos de imediato a questao de sua importancia como procedimento tera- péutico. Decerto é verdade que a psicoterapia nao preci- sa necessariamente incorporar tal técnica. Nao obstante, constatei que é de grande relevancia para aqueles pa- cientes que a podem usar com sucesso. Em si, a psicoterapia é o tratamento da alma, pois a alma é a origem ou a mae de toda conduta humana.! E verdade que a Imaginacdo Ativa entra no campo das ar- tes, embora no seja dotada de atributos artisticos em si mesma, mas sim por seu cardter simbdélico que, quando considerado em conjunto com a situagdo consciente, con- fere significado mais amplo e profundo a vida. A pessoa leva um problema individual para andlise, mas, junto, traz também sua alma e todo 0 seu mundo. Nessa medida, embora a técnica em questdo cruze fron- teiras com o dominio da arte, isso acontece porque esta também provém da alma, e, quanto mais simbélica for sua manifestacio, mais significativa. O mundo e a alma sao suprapessoais, de tal sorte que, exceto no caso de uma 10 termo alma é usado aqui em seu sentido psicoldgico (ou seja, do grego psyche, alma), e nao com a conotagiio religiosa. dificuldade que pareca muito individual, a psicoterapia atravessa o limite do pessoal eo vincula ao suprapessoal. Todo individuo 6 um componente do mundo e comporta em seu bojo também o transpessoal. A psique humana tem um mecanismo de projegao, que utiliza a consciéncia. Com muita freqiiéncia, a pro- jec&o n&o combina exatamente com o fato objetivo; na situago analitica, entéo, a pessoa se dedica a descobrir que proporcaio da projegao esta revestida de material sub- jetivo. Eliminar por inteiro o esteio da projegio poderia lancar o ego numa vivéncia de intensa perda nao fosse o fato surpreendente de, das profundezas do inconsciente, emergir um centro novo, superior ao ego. Talvez isso seja dificil de ser apreendido sem a vivéncia correspondente, mas espero esclarecer do que se trata, nas préximas pa- ginas. Embora a Imaginacdo Ativa possa ajudar um pou- co em termos da andlise pessoal, ou seja, com as dificul- dades vinculadas ao inconsciente, demonstrarei que seu mérito maior esta no Ambito da andlise profunda nfo- pessoal. Entre outros dinamismos, Jung descobriu uma ati- vidade criativa auténoma do inconsciente pessoal, a qual expds sua propensao ao que se pode denominar de cria- c&o de mitos. Depois ele percebeu que essa tendéncia po- deria ser empregada no contexto analitico, e chamou de Imaginac&o Ativa 0 processo em questéo. O uso do quali- ficativo “ativa” serviu para distinguir este uso da imagi- nacao do outro uso, o passivo, e a diferenga entre ambas as instancias ficara clara a seguir. Este trabalho em particular é uma tentativa de mos- trar o que é a Imaginacio Ativa, como pode ser ampli- ficada e alcancar significado para a pessoa que adota esse método de andlise. Parto do pressuposto de que o leitor est4 familiarizado com os procedimentos analiticos, para que esta modalidade menos habitual possa interess4-lo. 10 De modo algum esta apresentacao é uma histéria de caso pois, no momento, nao me volto para um paciente em particular e sim para um processo e quero mostrar como o trabalho realizado por um sujeito pode ser amplificado pela analogia. Quero demonstrar, de fato, como é possi- vel discernir nesse processo as profundas raizes da cons- ciéncia, como elas se estendem no tempo e recuperam simbolos e idéias que tém existido desde os primérdios da humanidade. A Imaginacdo Ativa inclui, ao mesmo tempo, visées, pinturas, modelagem, redagao, danga; na realidade, qual- quer forma que sirva como canal apropriado e viavel de expressdo para a pessoa. Sejam quais forem os meios de expressao escolhidos, as mensagens do inconsciente po- dem tornar-se evidentes. Em si, talvez parecam sem senti- do mas, com a amplificagéo e a analogia, tais mensagens podem adquirir imensa importancia. Este tiltimo aspecto constitui a esséncia do meu tema de trabalho. Antes porém de passar a um excerto real de Imaginacao Ativa e a discusso do material analogo, pode ser proveitoso aos leitores nao familiarizados com o pro- cesso em questao fazer alguns comentarios mais especi- ficos quanto a natureza do mesmo. “Tmaginacao Ativa” é uma expressdo que pode dara sensacdo de algo esquivo de modo que, primeiro, quero afirmar a grande distancia entre a Imaginacao Ativaea fantasia livre. A medida que nao leva a ages no plano da realidade objetiva, a fantasia pura e simples pode de fato ensejar um afastamento da realidade, pois, para quem as tece, as fantasias podem ser mais fascinantes e menos exigentes que o mundo externo. Como espero poder de- monstrar mais adiante, a Imaginagao Ativa é parecida com o fantasiar, mas com uma diferenca: é uma fantasia que conta de fato com a irrestrita cooperacéo de um ego participante. 11 Em breves palavras, a histéria da Imaginagio Ativa 6a seguinte: em seu trabalho com a psique inconsciente, Freud descobriu que a mente, por meio de associac&o de idéias, retine material significativo. Foi entéo que aper- feigoou sua descoberta até torné-la o método da “associa- cao livre”; por meio de associagées livres, o paciente ex- pressa livremente tudo que lhe vier 4 mente, idéias que vao se sucedendo. Freud constatou que este processo ideativo permitia aleangar complexos ocultos.? Jung considerou muito produtivo esse procedimento e também concordava que existia um continuum latente no material exposto pelo procedimento. A inclusio da atengao do ego no quadro geral representava o fio de li- gacao, pois nAo se tratava apenas do fato de os complexos serem relevados: isso era muito importante, mas Jung indagou além, tentando desvendar o que o inconsciente buscava revelar através dos complexos. Daf em diante, ao analisar os sonhos, Jung pedia que o paciente asso- ciasse livremente idéias ao contevido onfrico, mantendo-o sempre como eixo central do trabalho, em torno do qual cada associagdo gravitava e remetia de volta. Essa técni- ca, no entanto, nao deve ser confundida com a Imagina- cao Ativa. Nesta, irrupgdes espontaneas do inconsciente sAo interligadas revelando, assim, ndo s6 os complexos, mas também 0 intento inconsciente de transmitir sua con- tinuag&o e seu significado, e de também oferecer median- te o préprio material em si um meio de ser compreendido *De maneira bastante independente de Freud, antes que os dois grandes descobridores se conhecessem, Jung, através de seu Teste de Associacao de Palavras, descobriu dificuldades nas pessoas que haviam passado pelo teste, como quebras na continuidade do pensamento consciente, irrupgées na cons- ciéncia de idéias ativadas pela palavra-estimulo. Foi constatado que essas respostas estavam vinculadas & palavra-estimulo por uma qualidade emocio- nal, Essas estranhas interrupgdes levaram Jung a formular a teoria dos complexos. Essa idéia e o termo “complexo” passaram para o dominio puiblico por parte da comunidade psicolégica. 12 e abordado. Pode-se, portanto, dizer em sintese que a associagao livre leva a descoberta de complexos, enquan- to a Imaginacao Ativa vai mais adiante, aleancando a estrutura da psique, em cujo seio a vida psiquica é conti- da e mantida. Quer dizer, esse método nfo s6 expée as propriedades pessoais da psique como também encami- nha ao Amago do ambito n4o-pessoal e o revela. E esse Ambito que constitui a origem dos mitos, dos contos de fada e de formas especificas de credos e rituais religio- sos. E nesse plano que deparamos as lutas fundamentais da humanidade com 0 crescimento ps{quico e com as for- mas sobre as quais se estrutura a dimensao consciente. Como regra geral, uma andlise do contetido pessoal da psique precede um uso eficiente da Imaginagiio Ativa, que costuma ser uma alternativa empregada por quem avangou bastante em sua analise. Pacientes que se encontram nas etapas iniciais de um tratamento analiti- co estado predominantemente interessados em itens pes- oais. Alias, este 6 um método que nao se adequa a todas as. pessoas e que nao pode ser empregado indiscriminadamen- , pois é inevitavel que leve o sujeito mais além de sua nente consciente, aleancando os pilares mesmos da vida siquica, o mundo interior da natureza, as trevas, e os pri- nérdios da evolucdo da ética e da cultura. Pode-se indagar qual momento é conveniente para o mpregado da Imaginacéo Ativa. Posso apenas dizer que decisao nao deve ser arbitraria. Vamos supor, a titulo ilustragao, que num estAgio avancado de andlise apa- gam em sonhos e visées determinadas figuras que, sem livida, tém algum significado que, nAo obstante, escapa conhecimento j4 armazenado pela dimensao conscien- do sujeito. A questao que se coloca é a seguinte: como iber em que consiste essa significacao? Como descobrir es significados? Se o sujeito entAo retiver em sua men- ais figuras, com uma atitude contemplativa, ou seja, 13 apenas observando-as como se 0 ego fosse a testemunha, embora esteja envolvido — e isso 6 muito mais dificil do que parece porque o ego, via de regra, quer sempre o des- taque — é como se a imaginacdo comegasse a se revolver e inicia-se entao um processo de desdobramento e desen- volvimento de um sonho do inconsciente. O ego geralmen- te esta incluido no enredo, deslocando-se em cena ou fa- zendo perguntas. Dessa forma, principia uma conversa entre o consciente e o inconsciente, depois que o sujeito incorporou a postura de reconhecer de fato a existéncia de sua realidade psiquica; é assim que mergulha na dialética capaz de oferecer a psique liberdade de expres- so. A consciéncia do ego, disposta entféo a uma pesquisa auténtica, 6 como um facho de luz langado sobre o in- consciente e a abordagem correta 6 recompensada com uma cooperagdo equivalente, em geral notavel, por parte do imenso inconsciente. A dialética empregada pela Imaginagao Ativa nao é apenas uma conversinha de saldo que a pessoa mantém consigo mesma. E corriqueira a experiéncia em que nos encontramos tentando agir segundo algum plano cuida- dosamente preconcebido, apenas para descobrirmos que hé uma certa contradecisao a nos preocupar, impedindo- nos de assim agir em liberdade. Por conseguinte, preci- samos pensar bastante a respeito desses dois lados opos- tos da questao. Costuma ser, ent&o, que nos damos conta de nao ser apenas nossa mente consciente que esta en- volvida na situagiio, mas que também esta em funciona- mento um “outro dinamismo”. A luta entre essas duas forcas adversarias pode até tornar-se dialética, no pro- cesso de atingir uma decisao clara. Ainda nao sabemos 0 que é esse dinamismo alheio; 0 que esta claro é apenas que, por intermédio de sua presenga, vero-nos forcados aser mais cuidadosos e exatos. Na Imaginagio Ativa re- conhecemos primeiro a alteridade da psique e, a seguir, 14 mergulhamos na situag&o preparada para aprendermos o que precisa ser dito pelo outro lado. O processo em pau- ta é muito diferente do de raciocinar sobre o assunto, do comego ao fim. O que se faz, na realidade, é deixar que algo acontega em total liberdade, no plano psiquico, en- quanto o ego participa, nao no papel de regente, mas como a instancia psiquica que vivencia ativamente o que esta acontecendo. Dessa forma, pode-se dizer que 0 acesso & Imagina- ¢ao Ativa se abre quando a pessoa em andlise esta pron- ta para esse meio de expressdo. Existem momentos em que de modo algum o pensamento racional pode ajudar- nos a exprimir aquilo que estamos tentando transmitir, de modo que entao voltamo-nos para 0 pincel, a pena, a partitura, numa tentativa de dizer o que parece ser indi- zivel. Apresento uma breve ilustracdo. Tive uma pacien- te que, desde a infancia, sonhava com uma tematica re- corrente. Depois de bom perfodo de andlise, ela me foi encaminhada e certo dia relatou o sonho: “Estou numa passagem comprida, que tem trés portas de cada lado e uma sétima porta na extremidade. Toda vez que tento atravessar esse corredor uma presenga sombria, como nuvem, desce e me forga a recuar”. Interpretamos esse sonho de intimeras maneiras, mas era evidente que algo de vital importancia nos escapava, pois o inconsciente insistia em que sua mensagem fosse compreendida. Este é um aspecto muito interessante a respeito do inconsci- ente, quando a pessoa nao consegue atinar com o signifi- cado de algum contetido que ele envia e que é ent&o nova- mente emitido com forca ainda maior, ou eventualmente até sofrendo modificagdes em sua forma de expressao, enquanto seu significado nao é decifrado. Esse pareceu entao um bom inicio para o uso da Imaginagiio Ativa. Era evidente que havia algo importante a ser dito pelo in- consciente, uma vez que nao s6 0 problema como também 15

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