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Maria Montessori e seu método Maria Montessori and her method Magda Suely Pereira Costa Resumo Neste artigo, a autora desenvolvereflexdes sobre 0 Método Montessori, que ha tum século, por volta de 1907, j6 propunha uma educagio libertadora pera a erianga, valorizando-a Como um ser pensante © capaz de responder 20s apelos do real, visando formagio de uma personalidade aulénoma e do Homem Consciente, Esse método, além de adotar uma perpectiva filosofics e metodologica para atender 2 erisnga, consiruindo materia pedaggicos especificns ¢ estrotégias pedagSices. introduc a a “Linha", que constitui a base da educagéo montessoriana. Maria Montessori jonou esiruturas Convencionais de assimilagao do mundo adulto pela erianga, sendo que muitos procedimentos adotados em seu metodo, os quais poderiam parecer anacrdnicos na ép0ca alual, ainda continuam a ensejar muitos adeptos, representando um avango no campo da pedagogia infantil Palayras-chave: Educagio do Homem Consciente, Linha. Materiais pedagégicos. Montessori Abstract In this article the author tries to develop some reflections on the Montessori Method. About 1907, this method already fought for a more liberating education for children, valued as beings capable of thinking and responding to real-life situations. A ‘method was therefore developed, encompassing philosophical and methodological issues, with specific pedagogie materials and strategies. This method constitutes the base of the Montessorian line of education, aimed at developing an autonomous, personality and a Conscious Man. Thus, Maria Montessori revolutionized conventional structures cf how the adult world could be assimilated by a child. The epoch and many of the procedures presently adopted in this method, and that my be viewed us ‘anachronieal, must be taken into consideration. This method has thus lead not only to many adepts, ut to various criticisms as well. However, it represents a pedagogical progress in the field of children’s education, Keywords: Education of the conscious man, Montessorian line. Pedagogic materials. * Mestre pela Faculdad: de Educegdo da! Un com especislizaglo no Método Montessori Insite Montesoriano de Sao Paulo, Professora na Universidade do Tocantins, UNITINS. E-mail: magdacos@ unb br Linhas Critcas, Brass, v.7,n. 13, juL/dez. 2001 305 Um breve histérico ‘Maria Montessori, nascida em 1870, foi a primeira mulher da Itdlia a dipiomar-se em medicina, Concluido seu curso na Universidade de Roma, a Jovem médica dedicou-se aos estudos e ao tratamento de criangas tidas como ‘anormais. Apés virios anos de pesquisa ¢ numerosas viagens ao estrangeiro, principalmente & Franca, consagrou-se & preparagao de mestres para aeducagdo. de criangas anormais. Constatou que a questo primordial na educagao de criangas com deficiéneias mentais estava muito mais no atendimento pedag6gico do que 10 clinico. Inspirou suas experiéncias educacionais nos trabalhos de Séguin e lard Ao vetificar 0 atraso dos métodos de ensino de sua época, lembrou-se Montessori de aplicar os processos de educagdo dos “anormais” as criangas normals, procedimento que atraiu muitas erticas de estudiosos da Epoca. Para tanto, estudou psicologia experimental na Universidade de Roma ¢ realizou pacientes pesquisas sobre antropologia infantil nas escolas primétias. Em 1907, deu inicio & pratica do seu sistema, abrindo sua primeira “Casa dei Bambini”. Outras escolas foram fundadas em Roma, e dentro em pouco 0 sistema Montessori irradiou pelo mundo inteiro. Foi aplicado inieialmente aos Jardins de infancia, estendendo-se depois aos outros niveis, por ini Maria Maraine Guerrire A obra de Montessori constitui iadubitavelmente uma bela ¢ fecunda contribuigio ao progresso dos “Métodos Pedagégicos”. Seu sistema foi influenciado pelas idéias educativas de Froebel e Pestalozzi e pelas teorias bioldgicas de Nageli e de Vries, ndo representando, portanto, uma criagéo nova © original. Contudo, sua metodologia buscava atender aos prinefpios da Escola Nova, que tinha por idea! educar Para a liberdade, no sentido de possiilitar 2 auto-gestio do educando ¢ a construsdo de uma sociedade democrética. Seu método € considerado como iativa de um método ativo, pois dé imporidncta ao trabalho: as criancas devers cuidar da propria higiene e da limpeca das salas. Empenha-se na individualicacao do ensino, estimulando a avividade livre concentrada ¢ principio da auto-educacdo. A atengdo ao ritmo préprio de cada crianca 2ndo se contrapte & socializagéio, mas deve faciltar a integragdo no grupo (Aranha, 1989, p. 205). 306 ‘Megda Suely Persira Costa - Maria Montessori e seu método mora novos prinepios pedag6gicose psicologicos tenham surgidono século XX, com Freud, Piaget, Vigotsky, sua proposta ainda ¢ utiizada em muitos paises. ‘A Educagao montessoriana ndo é relacionada a nenhurn credo em particular, embora a mesma fosse cat6lica, Para ela, o importante é que a partir da nogia de Deus se estabelega uma hierarquizagdo de valores cujo centro destacard a pessoa humana. Objetivos do método montessoriano A Educagdo montessoriana esté no préprio educando, tem por objetivo levar ser ao conhecimento consciente do real. Ser consciente do real é conhecer © mundo exterior (0 ndo eu) € o mundo interier (0 eu); para isso se impde 0 método experimental, compreendendo que desta forma 0 ser toma conhecimento do real pelas atividades que realiza. Ser consciente do mundo exterior possibilitard o conhecimemto do mundo interior, “eu”, constatando a prpria personalidade. A educagio € crescimento ‘a partir da concepgtio do ser que € constituido de corpo e alma (espirivo ¢ alma) teunidos, €infinito como poténcia, como tendéncia, Esta educacdo visa ndo somente a capacidade de desvelar o ‘ew’, do ‘outro’, que the é vizinho, visa-se a formagao do Homem, Ser consciente de si mesmo, de real, do divino. Pelo homem ser um Ser livre, & capaz de responder as solicitagdes do meio (Valentina, 1983). professor deve ajudar a desenvolver a capacidade de a crianga crescer sozinha, favorecendo assim a libertagao interior da crianga. A crianga deve ser autora de sua prépria educagio. O primordial da educayio montessoriana formar o espifito, levar a “crianga a0 destino de uma eternidade feliz, sendo feliz na vida ela o seré na etemnidade” (ibidem, 1983). A doutora Maria Montessori nos deixou um primado em educagao, em que a escola verdadeira .ndo & a de quatro paredes, entre as quais as criangas sto confinadas, mas a de uma casa onde possam viver em liberdade para ‘aprender e crescer. Essa idéia implica a necessidade de preparar para as ceriangas um mundo sew, particular onde elas possam encontrar atividades condizentes com seu desenvolvimento fisico e mental, Numa escola ‘montessoriana, o professor & um convidado, ou alguém que tenha em mente estar a servico de seus alunos (Montessori, 1961, p. 17). Linhas Criticas Brasilia, .7,n. 13, jul.(der. 2001 307 No método montessoriano, 0 ambiente planificado & constituido por trés aspectos importantes: 0 ambiente de atmosfera agraddvel, com as Jerramentas ¢ mobilidrios adequados em tamanho e espago, materiais especiais €, em terceiro lugar 0 professor que ndo dé ordens, nem se intromete, mas serve de auxiliar & guia. Ele deve ser um observador experimentado que sabe quando agir para estabelecer a ordem ¢ quando deve permanecer em segundo plano ‘Footlick, 1968, p.34), Portanto, @ ambiente no método é de relevancia, pois ¢ preparado especialmente para as criangas, deve ser um local espacoso,silencioso ¢ em contato com a natureza (drvores, lores, gramado}. Os méveis devem ser acessiveis ao tamanho da crianca: pequenas cadeiras, mesas, armérios e utensilias de cozinha, Jerramentas diversas etc leves para serem mudadas de local pela crianga ‘com facilidade. A sala de aula ndo é aquela tradicional: carteiras ‘enfileiradas, criancas quietes, sentadas iméveis, professora em posiedo de destaque na frente da classe, vigiando os alunos. Ao contrério, as ‘eriancas tém liberdade para se comunicarem e se movimentare na sala, eralmente sentam-se em tapetes no local que acharem mais adequade (Lamoréa 1996, p.9) Liberdade ¢ concentrayio que podem assustar um visitante desavisado quanto 20 método de uma sala montessoriana, Pode estranhar muito ao ver uma sala de aula organizada de uma forma tio descontraida, com alguns grupos: dialogando, outros concentrados, mas fivres, as eriangas normalmente voltadas para suas atividades, as vezes semtadas ou deitadas em tapetes. Entretanto, so atitudes ¢ comportamentos que refletem um planejamento subjacente © papel do professor © professor trabalha com cada crianga em particular, introduzindo-a na compreensdo do material ou dos fendmenos, prestando-lhe a ajuda que se fizer necesséria, sobretudo ouvindo-a, pois a criang2 deseja € sente-Se feliz a0 set ouvida pelo adulto. O professor deve aprender a observar a crianga, interferindo apenas quando solicitado para alguma orientagio. Nas atitudes do professor, os castigos praticamente nd existem ¢ 0s elogios sao discretamente emitidos. Ao planejar © ambiente, o mestre deve deixar acessiveis as materiais necessérios para cada 308 Magda Suely Pereira Costa » Maria Montessori e seu méodo fase em que os alunos se encontram, pois as préprias criangas pegam, manipulam depois, espontaneamente, os guardam no devido lugar. ‘Uma das fungdes primordiais do professor € a de estar atento, registrando 0s comportamentos de seus alunos, tendo cuidado com sua intervengio € comunicagio, Inclusive as comparagées devem ser evitadas, a nfo ser comparar a crianga com ela mesma. Esses procedimentos a ajudario a tomar-se mais “independente, atenta e observadora’”, Sua técnica de ensinar é, por assim dizer, Indireta, ou seja, nem usa a imposigo como faz. a educagio direta, nem tampouco deixa a crianga na educado direta da permissividade. Segundo Montessori, devemos ter em mente: dara liberdade i crianga ndo ¢ abandond- a-a si propria ow negligencid-ta. Nossa ajuda ndo deve tornar-se uma passiva indiferenca as suas dificuldades. Ao invés disso, devemos ‘acompankar esse crescimento com uma vigildncia prudente e ofetwosa (Montessori, sid, p37). Compreendemos que para esse acompanhamento ser eficiente se exige, pois, do professor, um espirito dinamico de coordenar as atividades a serem desenvolvidas na sala, bern como toda ago educativa, num clima de wanatilidade, seguranga, sem contude demonstrar-se como a autoridade do saber e do poder. Para Montessori. nés, os adultos, temos uma md interpretagdo da natureza infantil, por isso, impingimos a crianga atividades que nao Ihe so prprias, muitas, vezes até em desacordo com suas necessidades fisicas e psiquicas, razao pela qual a submetemos & nossa vontade, a0 nosso controle. Sugere que a Ativide mais justa ¢ caridosa seria criar um ambiente adequado, no qual a crianga estivesse livre da opressao dos adultos, onde ela pudesse realmente se preparar para a vida (...). Deveria sentir na escola uma ‘espécie de abrigo da tempestade ou odisis no deserto, um refiigio seguro para seu espirito (ibidem, p. 9) Nesse sentido, compreendemos que o ambiente € estruturante da aprendizagem ¢ crescimento da crianga, Para tanto, € necessério enfatizar a importancia do planejamento que o professor deve ter, no somente tendo em mos trabalhos, construgdes novas para poder sugerir novos exercicios aos, alunos que conclufram algumas de suas tarefas, bem como no preparo do ambiente, que ja deve ser educador. A tarefa do professor no se restringe somente a isso, sua fungo é bem dura na verdade, pois consiste em guiar 0 desenvolvimento espiritual da crianga Linas Critica, Brasilia, v7.9.1 jul der, 2001 309 Uma das vantagens do método é possuir uma filosofia muito edificante enquanto trabalho, pois visa 0 crescimento interior, valores, reflexZo das agdes, concentragdo dos gestos aproximagdo de Deus. Outro ponto alto desse métedo denotninaco de Linha, procedimento especifico do Método Montessori, constituido de cinco fases com o objetivo de alcancar a méxima concentracio interior, ‘A Lina ou aula ritmica foi uma invenedo de Montessori, nascida de suas observacies a respeito do caminhar das criangas na rua. Percebeu que as mesmas preferiam os iithos, as extremidades das calgadas, porque isto Ihes dé estabilidade e dominio de si. Montessori pensou entdo em tragar na sala de aula ‘uma finha circular onde a crianga pudesse colocar o pé um diante do outro, como se andasse no tritho. No comego, as criangas véem-se obrigadas a um grande esforgo ¢ atengdo para no se desviarem da linha, mas, a0s poucos, ‘adguirem toda a facilidade. A Linha ¢ trabalhada com a finalidade de despertar a consciéncia da crianga, E constitufda por cinco fases, a saber: 1) Atengdo: ¢ a busca de centtalizar todas as criangas na pessoa que as comanda. Normalmente, a professora realiza exercicios com as mios que equerem atengdo aos menores gestos, quase nio usa a palavra, apenas vai mudando as mos em posigdes diferentes. 2) Corcentragio sem esforgo: é 0 andar na linha naturalmente, buscando um equilorio sem muito esforgo. 3) Concentragio com esforgo: € 0 movimento mais forte da Linha, inicia-se aqui o trabalho de dominar 0 corpo nos menores gestos, tendo cuidado € atengo cada vez maiores com o seu corpo, € 0 do outro, dos espagos ¢ entre espagos. Exercita-se passeio com marcha, andar na ponta dos pés, andar para frente, para trés, répido, lento, com um pé s6, saltitanco, Nesses movimentos. a cerianga vai segundo a linha demarcada ov imagindria; so tentativas continuas de equilfbrio exterior e interior. Também aqui se trabalham os exercicios de ratica, como ensinar habitos, cuidados gerais, tais como: pegar uma cadeira sem arrastar,fechar uma porta sem bater, levar um copo de gua sem derramar, Jevar algum objeto de um lugar para outro sem esbarrar nos obstéculos etc. 4) Desconeentragao: Este € 0 momento de a crianga expandir-se, desabrochar-se, por meio de passos de danga, cantos, jogos e dramatizagses. Sio oportunidades bastante ricas. pois a inventividade da crianga sarge espontaneamente, revelando, assim, muito de sua personalidade, seja no tocante a lideranga, &s suas preferéncias ou rejeigdes. 5) Relaxamento: Momento de reuni-ias no siléncio e recolhimento. As ceriangas sto convidadas a ficarem em siléncio, a ouvir o siléncio, configurando, assim, 0 ponto maximo do relaxamento, Através da aula de Linha, executada 310 Mogda Suely Pereira Costa - Maria Montessori e seu métado todos 0» dias, pusca-se a educagao interior, ¢ nao se pode pensar num professor trabalhando nesse sentido, sem uma disciplina ¢ equilfbrio pessoal Esta iiltima fase, também denominada ligao do siléncio, comporta cinco ‘outras subfases: 1) Imobilijade total. Como as criangas anteriormente foram convidadas a se deitarem de forma relaxada, agora siio convidadas a deixar os misculos descontraidos, 05 corpos numa posigdo gostosa, sem se mexer, numa calrma total. 2") Ouvir 0 ~ufdo de fora (de preferéncia de olhos fechados). A posigio em que a erianga jé se encontra, de perfeito relaxamento, favorece 0 ouvir dos rufdos e sons do ambiente extero. A erianga € convidada apenas a ouvi-los. 3°) Ouvir somente o barulho provocado pelo professor. Aps a crianga ter ouvido os rufdos extemos, ouviré os ruidos mais proximos. Normalmente a professora os produz com o toque de alguns materiais. 4°) Ouvir as batidas do préprio coracao. O siléncio que permeia o ambiente permite ouvir o ritmo das batidas do préprio coracdo, e isso € solicitado & crianga. ‘Apds alguns minutos de escuta, proporcionar msica que transmiita paz. S40 utilizadas orquestras, mtisicas lentas com sinfonias de pdssaros, barulho de mar e de chuva, '5*) Imobilidade esiléncio absoluto do ser. Se todos os passos sio seguidos, 4 erianga se encontra em estado de calma total. O ambiente pode ficar & meia luz (inclusive algumas criancas adormecem de verdade). Normalmente, as criangas permanecem deitadas até que a professora, em tom de voz. baixo, sussurra 0 nome de cada crianga ou levemente toca em suas maos, dando um sinal de que deve ir se movimentando para sentar. Quando todas as criangas j4 se encontram sentadas, 0 professor pode ‘comegar uma aula, seja para introduzir contetido novo, um material novo, seja trabalhando valores, ética, seja revisando alguma disciplina que achar conveniente. retomar das atividades apés a aula de Linha deve ser em ritmo de calma, formando nelas 0 educar dos gestos pacificos, tranquiilos. impedindo assim atitudes comuns das criangas de levantar e sair correndo. Sao cuidados necessérios para que os objetivos da Linha nao sejam negligenciados, Na execugdo dos exereicios da Linha, a professora jamais poderé perder de vista 0s fins a atingir, Por isso, deve adaptar progressivamente os exercicios conforme a idade e circunstincia em que se encontra © grupo de criangas. A Linha proporeiona a crianga maior conseiéncia do seu corpo na descoberta de tudo que cla pode executar com seus membros: exercicios com os bragos em Linhas Critica, Beast, ¥.7, 1 juldder, 2001 au horizontal, vertical, movimento com as maos, exercicios respiratsrios. A ‘coordenagio dos movimentos pode inclusive ser acompanhada de instrumentos de misica: tambor, acordedn, pandeiros. As criangas podem executar calmamente passos de danga simples ou gestos mimicos acompanhadas por Poesia ou canto, ‘A Linha nao pode ser executada sem am prévio planejamento, pois a ‘mestra deve saber mandar; dar ordens para que nao ocorram indecisdes. Na Linha, a crianga deve estar totalmente voltada para 0 professor, ao contrério da atitude da sala de aula, na qua! a professora deve ficar meio despercebida. A Linha, através de suas etapas, proporciona o despertar da consciéncia da crianga para a autoridade da professora, Na execucao, ha diferentes ordens, mas poucas palavras. A crianga est inteiramente sob o domfnio da mestra, que vai disciplind- la. O aluno nio faz o que quer, mas 0 que sugere o professor. Ble deve estar no controle constante, transmitindo serenidade ¢ equilibrio, porque a Linha € que vai proporcionar calma & classe. Caso 0 professor nfo esteja em estado de calma, também nio conseguiré ssa postura do sluno, Na Linka, 0 mestre é o apoio, sustenticulo. A Linha no é realizada para divert a crianga ¢ sim para levi-la a um trabalho intelectual, a um esforgo, uma atengao, pois nesse ambiente pode-se acalmar a crianga para receber algo, como um contetido novo, planejar leitura, semindrio, fazer tum conto coletivo, coral etc. Em estado de completa calma, a crianga desde a mais tenra idade vai tomando consciéncia ¢ domfnio sobre si mesma. Isto, segundo Séguin (conforme apontamentos de I. Valentina), serve para a crianga tomar consciéneia do seu “eu” fisico. Pode-se por este meio, ou por este mesmo exercicio, fazé-la tomar consciéncia do seu “eu” espiritual e do seu “eu real. Diz Lubienska: tuas maos, teus pés, teus olhos, quem 0s comanda? Logo a crianca responde: eu. E esse eu que é? O que é« forca que te comanda? Deus. E © espirito. Quem comanda 0 esprto? 0 corpo deve obedecer ao espiriv: é para bem aprender a obedecer ao espirito que vens @ escola (Lenvsl, 1975) E Jamentivel conviver e perceber que nem todas as escolas tém objetivos voltados para trabalhar o “eu” espiritual da crianga. Infelizmente, o que se vé é ‘uma preocupaydo maior com 0s contetidos e conhecimentos de disciplinas que servem para as avaliagées; inclusive 0s contetidos que trabalham valores, crengas € construgdes muitas vezes sao tidos como perda de tempo. Nao seria esta ‘uma das razdes do caos em que se encontram nossas escolas? 312 ‘Magda Suely Pereira Costa = Maria Montessori e seu métado Na escola Montessoriana, 0 exercitar da constrago do eu nijo acontece apenas no momento da Linha; toda a atividade tem como foco 0 ser humano totalizante. Mas nos voltando especificamente para a Linha, pademos apontar alguns dos seus objetivos. Objetivos da Linha A Linha possui objetivos especificos, 05 at Primeiro: Disciplina. A Linha ndo poxie aparecer nunca como castigo, mas coma um espago ‘em que se deve obedever a uma autoridade que esté ali para comandar alguém que quer crescer Ao seguir 0 comando da professora, a crianga torna-se capaz de comandar a si mesma, Segundo: Aquisicéo de capacidade de interiorizagao do real. Ao executar 0s comandos do professor, a crianga € capaz de pensar ¢ tocar as coisas, os objetos concretos do real, partindo do seu proprio compo. Terceiro: Coordenagao ¢ equilfbrio nervo e motor. Através dos exetcicios executados com atenga0, a Linha acaba com 4 trepidaciio nervosa ¢ estabelece um ritmo corporal preciso e regular. Exemplo: andar na Tinka caimo, devagar, apressado, acelerado ete, Esses exercicios sI0 times para a crianga instavel, inquieta, cujo ritmo e aparelho motor trabalha sem uma correlagio regular com o pensamento ¢ a vontade, Quarto: Possibilidades de conhecimento da personalidade do educando. Acrianga vai se descontraindo com 2 seqtigncia e freqiiéncia dos exercicios, ‘oque passibiticaré ao professor o conhecimento das potencialidades, deficigncias dificuldades do seu aluno. is passaremos @ mencionar. Mater montessoriano (Os matcriais desempenham um papel de primeira importancia nas classes ‘montessorianas, Sua utilidade nao corresponde apenas a instrugdo, mas procuram atender também as necessidades psfquicas ds erianga. Esses materiais atraem 4 inteligéncia da crianga para as coisas e fendmenos que Ihes so apresentados sob forma de sintese, eles nao sio elementos subsididrios do professor que ensina ¢ do luna que aprende, Séo apresentados de forma atrativa, bem coloridos, com texturas chamativas, leves, de maneira que a crianga possa transporté-los ¢ manuseé-los; afinal, tém objetivos definidos, (O material se torna mestre; 6 professor nao terd sequer que comtigir eros, Porque © préprio material possui um controle de erros, no qual o aluno, & Linkas Critica, Bras, 7, Widder 2001 313 partir do manuseio, vai trabalhando, experimentando, ¢, ao concluir sua tarefa, uma pega do préprio material the permitira a verificagdo do acerto ou no da atividade por meio do encaixar ou nio da pega. Em cada material, existe uma unidade que a crianga usaré para reconhecer © correto ¢ 0 ndo correto. Os materiais, apesar de terem objetivos especificos, podem ser utilizados de forma interdisciptinar, bem como de acordo com a criatividade da crianca. O material sensorial é destinado especificamente as criangas de 3.a 7 anos com objetivo de adaptagdo do individuo a0 meio, bem come sondagens de algumas deficiencias, miopia, surdez etc. ‘Na drea matemitica, podemos citar alguns dos materiais mais wtilizados: 0 dourado, que trabalha a nogdo de unidade, dezena e centena, composi¢ao € ‘ecomposigao de numerais, idéias de quantidade, volume, tamanho e peso. Os {entos trabalham a idéias de quantidade, nimeros pares. impares. Como material semi-simbolico, trabalham-se nogdes das familias dos numerais, ou seja, as formas como se pode formar um numeral. Os fusos trabalham nogdes de humerais ¢ quantidades. Os numerais de lixa proporcionam nogdes da escrita ‘do numeral, bem como as texturas: éspero € liso, Os encaixes geométricos trabalham as nocdes da geometria na sua. variedade de formas. Com a torre rosa, exercitam-se idéias de crescente ¢ decrescente, maior e menos, grande € pequeno. As barras vermelhas e azuis «rabalham com nogdes de centimetros € ‘a composigdo do metro, bem como as idéias de maior e menor, crescente & decrescente, ¢ cores azuis e vermelhas. A tébua de Séguin ¢ outros. Na rca de comunicacdo, podemos citar as letras de lixa, que muito auxiliam ‘na memorizagio sensorial das letras do alfabeto, pois & medida que a crianga vai passando os dedos sobre a superficie das letras, vai verbalizando © seu som e ‘memorizando o formato da mesma para posteriormente grafé-la. O lfabeto mudo € composto de figuras relativas aos sons do nosso alfabeto, as quai as criangas uttizam para construi 0 ditado no tapete, no quasi ¢ wo caderno, O tabuleiro de letras, ou alfabeto mével, €um material composto de caselas com letras construidas em compensado. E com elas que as criangas realizam os ditados. 0 quadro fonético € composto de letras do alfabeto, confeccionadas de forma individual para que a crianga posse formar palavras com a juno das mesmas. S30 intimeros ‘0s materiais montessorianos que server & aco pedagseica. Evidentemente, existem eriticasa esse método. Como adepta dele, também sempre questionei a particularidade e 0 custo dos materiais pedagégicos que ‘io facilitariam ern nada para uma escola e crianga que no pudessem compré- Jos. Alguns materiais podem até ser criados & semelhanea, mas tio com o rigor cientifico com que os montessorianos sao confeccionados; a exemplo: material dourado, semi-simbélico e outros. te ‘Magda Suety Pereira Costa - Maria Montessori e seu méiodo ‘Outro ponto questiondvel € na alfabetizagao. Pelo fato de o método ser fonético, existem sempre alegagbes de que provoca algumas confusdes pela similaridade dos sons. Evidentemente, se no for bem trabalhado, qualquer método apresenta falhas. Contudo, ¢ preciso compreender ado tentar ocultar a complexidade da nossa tingua Dos 44 ditados uilizados, cada um tem por objetivo trahalhar uma dificuldade da lingua portuguesa, Sao introduzidos gradualmente, 0 que exige do professor conhecimento e seguranca do trabalho que realizard, nao somente na apresentago dos mesmos, mas, principalmente, na emisséo dos sons, fazendo ‘68 movimentos labiais corretamente para que a crianga possa sentir as vérias nuances dos sons das letras do alfabeto. ‘Apés a construe do ditado peta crianga no tapete, uilizando-se do quadro Fonético, tabuleiro de letras ¢ de ditados muds, a erianga 0 escreverd no quadro e, ‘em seguida, em seu cademo. Pode até ser repetitivo 0 fazer nestas tr8s etapas, mas, pelo fato de nfo existir uma ordem fixa das palavras, a crianga poderd escrever as palavras na ordem que desejar, quebrando assim o ritmo da repeticlo, além do ue, na ditima etapa, a professora jé a convida pare visualizar bem as palavras, 0 seu sentido, e criar frases com o maximo de imaginagio e com os significados que desejar. Nesse momento, o pracesso de criatividade & desencadeado, permitindo ‘que a crianga construa suas histrias e d2 asas & sua imaginagdo. Repensando Montessori no alvorecer do século XX1 ‘A busca do conhecimento sempre representou e representa 0 caminhar ‘constante do fomem, ora utilizando-se de filosofias, ora religiGes, ora apelando para a propria ciéncia, Compreendemos que sao buscas para explicar os ingimeros significados e fendmenos que direcionam a existéncia do ser humano, seja individual ou coletiva. Sabe-se que a ciéncia ¢, ainda hoje, a forma hegemdnica de explicar a realidade € 0 conhecimento como 0 critério mais fidedigno de verdade, embora se saiba também que imimeros estudiosos e cientistas j4 admitam a nio objetividade absolutae infaibilidade dacigncia Certamente, & preocupagio com uma visto de ciéncia objetiva, neutra e ‘exata que formulasse leis sobre o funcionamento da natureza era o que prevalecia nna época de Montessori. Sendo médica, deve ter sofrido fortes influéncias dos pressupostos de cientificidade dentro da medicina, 0 que penso ter contribu para que ela tentasse formular o método cientifico na dea educacional. Percebe- se sua estratégia em utilizar os principios cientificos para fundamentar 0 conhecimento da crianga e as leis segundo as quais o desenvolvimento do corpo Linhas Criticas, Bras, v.7.n, 13, julfdez. 2001 sis © da mente se desenvolvem, sem contudo perder sua visio humanfstica € totalizante de Homen, Pensando no termo “mnétodo”, etmologicarmente significa [Do gr. méthodos, ‘caminho para chegar a um fim’,] 1. S. m, Caminho pelo quat se atinge um objetivo. 2. Programa que regula previamente uma série de operagdes que se

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