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Limpeza de ouvidos + seguem fizeram parte de Wet Toferecido aos alunos do pri- on Fraser. Senti que mi- ir ouvidos: PrO- ra aha sempre evar os alunos a notar sons que na vada funca haviam percebido, OUVIE favidamente os sons de S°¥ papiente e ainda os que eles PrOPrios injetavam nesse mes- ‘mo ambiente. Essa 6 a razo p peza de ouvido. Ant reconhecer a necessid: que antes de ser treina‘ deve adquirir 0 habito d bém executam operacdes muil limpeza um pré-requisito impo! executantes de musica. ‘Ao contrario de outros érgdos dos sentidos, os ouvidos so expostos e vulnerdveis. Os olhos . podem ser fechados, eeicieg ‘ouvidos ndo, esto sempre abertos. Os olhos geen ee -< spc vontade, enquanto 0s ou- m todos o: i i pics ota occa do horizonte actistico, em to- Todo professor precisa levar em conta suas idiossincra- fias. Sinto que ninguém pode aprender nada sobre-o-real_ funcionamento da musica se ficar sentado, mudo, sem } . a ‘as notas ¢ exercicios QUC perimental ‘curso de musica eX} 0 Beso sno, na Universidade sim n tarefa nesse curso Seria mei de um curso de lim- ento auditivo € preciso jade de limpa-los. Como um cirurgiao, do a fazer uma operacao delicada, ie lavar as m&os. Os ouvidos tam- ito delicadas, o que torna sua rtante a todos os ouvintes € orque eu o chai es do treinam - k. MURRAY SCHAFER 10 misico prético, considero que sregarse aia Coe prendet a respeito de som pean pessoa s6 cotlde musica, fazendo miisica. Todas asv som; a respeito devem ser testadas empie sas investigagdes Sonora in nds Tes te, através dos sons produzidos por nos 1 eee 40 exa ime desses resultados. E obvio que nao s€ pode reunir sem. rc uma orguesra sinfOnica numa sala de aula para seni, ds sensazbes desjadas;precisamos contar com o que eg disponivel. Os sons produzidos podem or sem refinamen) fo, forma ou graga, mas eles so nossos/E feito um conta. foveal com o som musical, e isso é mais vital para n6s dg que 0 mais perfeito e completo programa de audigdo que se possa imaginar.|As habilidades de improvisacao e cria {vidade, atrofiadas por anos sem uso, so redescobertas, ¢ ‘os alunos aprendem algo muito pratico sobre dimensées ¢ formas dos objetos musicais. As anotag6es de aulas apresentadas aqui ofereceram-me aspectos de trabalho sobre os quais se podem improvisar. Espero sinceramente que a publicagdo na sua forma origi. nal possa estimular os leitores. Os exercicios ao final de ca- da apontamento foram feitos apés cada palestra, com a in- tengao de testar a validade do que foi discutido nas palestras. RUIDO Por onde comegar? Podemos comegar de qualquer ponto. E sempre ttl exa- ‘nar 0 negativo para poder ver claramente o positivo. 0. ~Reeativo do.som musical ¢ o ruido. i ‘0 € © som indesejavel. do walang’ 2 estética no telefone ou o desembrulhar bales Necuane durante Beethoven. cia dchames 170 meio para defini-lo. As vezes, a dissondt- Ser isso. Posey © rid para os ouvidos timidos até pode err ay "mM, Consonancia e dissonancia sdo termos re Tagdo e/ou jeivos: Uma dissonancia para uma época, £¢- ‘ndividuo pode ser uma consonancia para OU LIMPEZA DE OUVIDOS ° tra época, geracdo ¢/ou individuo. A dissonancia mais an- tiga na histria da misica foi a Terga Maior (dé-mi). A ui. tima consondncia na historia da miisica foi a Terga Maior (d6-mi). Rudo é qualquer som que interfere. E 0 destruidor do que queremos ouvir. \Schopenhauer disse que a sensibilidade do homem para \ ainiisica varia inversamente de acordo com a quantidade de ruido com a qual é capaz de conviver. Fle quis dizer que, quanto mais selecionamos os sons para ouvir, mais somos progressivamente perturbados pelos sinais sonoros que in- terferem (por exemplo, o comportamento de um auditério barulhento num concerto). Para os insensiveis, o conceito de ruido néo é vAlido. Al- guém que dorme como uma pedra nfio ouve nada. A’mé- quina é indiferente ao ruido porque néo tem ouvidos. Ex- plorando essa indiferenca, a musica de fundo foi inventa- da para homens sem ouvidos. Por outro lado, para alguém verdadeiramente emocio- nado com uma miisica, mesmo os aplausos podem se cons- tituir numa interferéncia. Seria como chorar ainda diante de uma crucifixdo. Para o homem sensivel aos sons, o mundo esta repleto de ruidos. Vocés sabem o que eles dizem sobre o siléncio. EXERCICIOS 1. Experimente gravar uma discussdo em sala de aula, Vol- te a fita. Concentre-se na audigdo de sons que nao teve a intengdo de gravar. Que outros sons (ruidos) vocé nota? 2. Questo para discussdo: Se vocé nao gosta de uma pera de imisica, ela € ruido? 3. O texto que segue é para ser lido por um aluno de frente Para a classe, em voz normal. Durante a leitura, o profes- Sor incentiva a classe para que de vez em quando atrapalhe 0 leitor com explosdes de ruidos, como urros, berros, ass0- bios, silvos, vaias, risadinhas, guinchos, arrasta-pés, gat- salhadas, aplausos etc.. 70 R. MURRAY SCHAFER «Minha voz serd as vezes atrapalhada por ruidos mais for. tes e mais cadticos que minha leitura. As vezes esses Tuidos yao parar e minha voz vai ser ouvida como 0 tinico som nesta sala. Esses sons que interferem sao ruidos, porque in. desejéveis para a compreensio de minha leitura. E por iss que no teatro, nas leituras de poesias, nos concertos e nas sOnferéncias o auditério € solicitado a ficar em silencio,” ‘Graficamente, a experiéncia acima pode ser representa. da assi 4, Tome os ruidos que interferiram na leitura e os coloque sozinhos em um novo contexto. Eles agora vao representar uma multidao barulhenta durante uma cena de Coriolano, de Shakespeare. Ainda sdo ruidos? 5. De acordo com nossa definigao de ruido como som in- desejavel, considere o fato da lata de lixo na discussao inti- tulada “O que & misica?””* ‘%6. Ouga a gravacao de John Cage, lendo sua Indeterminacy (Folkways Records). Pergunta: Os sons que acompanham sua voz sao ruidos? As vezes, sempre ou nunca? SILENCIO Alguém jé disse, o silencio é de ouro. Trata-se simples” ‘mente de figura de linguagem. No capitulo “O Compositor na Sala de Aula”, p. 25 (N-T.) LIMPEZA DE OUVIDOS n Na realidade: siléncio — auséncia de som — € negro. Na ética, 0 branco € a cor que contém todas as outras. Emprestamos dai o termo “ruido branco”, a presenca de todas as freqiiéncias audiveis em um som complexo. Se fil- trarmos 0 ruido branco, eliminando progressivamente as fai- xas maiores de freqiiéncias mais altas e/ou mais baixas, even- tualmente vamos chegar ao som puro — o som sinoidal. Filtrando-o, também, teremos siléncio — total escuridio auditiva. Silencio ¢ um recipiente dentro do qual é colocado um evento musical. O siléncio protege o evento musical contra o ruido. Os eventos musicais precisam dessa protecao, por serem acon- tecimentos sensiveis. O silencio torna-se cada vez mais valioso, na medida em que nds 0 perdemos para varios tipos de ruido: sons indus- triais, carros esportes, rédios transistores etc. Como ele est sendo perdido, o compositor hoje esta mui- to mais preocupado com o siléncio. Compée com ele. Anton Webern trouxe a composi¢ao para a beira do siléncio. John Cage diz: ‘0 silencio, nao existe isso.”"* (Pausa de trinta segundos e ougam.) #Se é assim, siléncio é ruido? (Pausa de trinta segundos.) Silencio é uma caixa de possibilidades. Tudo pode acon- tecer para quebré-lo. O silencio é a caracteristica mais cheia de possibilidades da miisica. Mesmo quando cai depois de um som, reverbe- ra com o que foi esse som e essa reverberacdo continua até que outro som o desaloje ou ele se perca na meméria. Lo- g0, mesmo indistintamente, o siléncio soa. : © homem gosta de fazer sons e rodear-se com ¢les. Si- Iencio é 0 resultado da rejeigao da personalidade humana. O homem teme a auséncia de som como teme a auséncia de vida. * Referéncia & enperiéncia de John Cage na clmara & prova de som (anccbica), ‘onde ouvis estes dois: o grave da cirulacto e o agudo do sistema nervoso em funcionamento, (CAMPOS, Augusto de. “Cage: Change”. CAGE, John, De Sexunda oum ano. Tradueo: Rogro Bupa. Sto Pato: Hoste 1985, p. xiv. NT) . MURRAY SCHAFER n ido hé nada tdo sublime ou atordoante €m milsica eo. mo 0 siléncio. (© riltimo silencio é a morte. EXERCICIOS 1. Ligdo para casa: O silencio & enganoso. Experimente ncontré-lo! sosomvtimente passa uma fotha de papel pela class, si- Keneieeamente, Todos ouvindo os sons do papel sendo pasado smo modo que na mais absoluta escuridao, uma iuz, por mais fraca que seja, é um acontecimento de signi- fieagao tnica; numa situacdo de profundo silencio, mesmo a queda de um alfinete torna-se importante. Experimente, Ponha sons de alfinetes caindo e sons diminutos, em reci- pientes de profundo siléncio. 4. Quando os estudantes entraram na sala, Schafer estava imével, em pé a porta, com uma pilha de papéis na mao um cartaz pendurado na jaqueta: “‘Pegue um papel. Es- ceva 0s sons que voc8 ouve”. Os alunos escreveram os sons que aconteciam dentro e fora da classe, Seguiu-se uma dis- cussdo para avaliar 0 quanto eles haviam sido sensiveis aos sons. Ouviram Schafer acidentalmente derrubar um lengo de papel no chao? E assim por diante. Duas garotas esta- vam numa conversa intermitente, Foram solicitadas a ler {aR de sons que haviam ouvido, Embora cada uma ano- Gas.9c0m 48 vox da outra, nenhuma delas ouviu 0 som p ena, cat Astor, & mesma coisa foi pedida para tres erian- tos, Deez anos; David, nove anos; e Miranda, sis seouram sori due etuanto muitos adultos nao com corpo, sua respinarse ns intimos — os sons do proprio 'acdo, batidas do corag&o, sua voz, sua rou- ate. — David y a Eis suas lstas © Anthea foram muito sensiveis a esses SOnS- LIMPEZA DE OUVIDos a DAVID Conversa dos adultos Eu apontando o lapis ¢ Miranda conversando fungando Meus ldpis se movimentan- Miranda batendo alguma do no papel coisa Mamie lavando os pratos Meus dentes batendo Relégio fazendo tique- Eu tossindo taque Anthea falando ‘Adultos andando ventilador Eu cogando a cabega Torneira abrindo ANTHEA Tique-taque do relégio _O som do forno Os passos répidos da cor- Mamie lavando os pratos rida de Miranda A torneira sendo aberta David apontando o lépis som da agua fervendo Respiragdo de Miranda _Risadinhas de Miranda Respiragdo profunda de Crepitar do fogo David Minha respiragéo © som do lapis de David som do lépis no papel © som do papel de David © som do ventilador Passos pesados de papai _Eu tirando a fita do Passos leves de Phyllis cabelo Papai assobiando Miranda, que nao sabe escrever, desenhou figuras de pin- g0s d’agua, um fogo e seu proprio lapis se movimentando. SOM © som corta 0 silencio (morte) com sua vida vibrante. Nao importa o quo suave ou forte ele est4 dizendo: “Es- tou vivo’, __ O som, introduzindo-se na escuridao ¢ esquecimento do siléncio, ilumina-o. ” R. MURRAY SCHAFER mar o momento do impacto sonoro de ictus, vus separa o silencio da articulacdo. E como MMbuldrio do pintor ou o ponto final de uma ‘Vamos chai © ataque do ict o ponto no vor: frase. frase. divisio entre o silencio ¢ a articulagdo deve ser uma experiéncia das mais excitantes. Na Medicina, 0 ictus se re- fore a um golpe ou ataque stibito. a Sacto, € dada a0 individuo a possibilidade de ter uum gesto livre. Depois é que vem a disciplina para estabe- ltner conexdes. Estamos ainda no ponto do gesto livre, So- teente no instante em que cortamos 0 silencio com 0 som, @ que nos sentimos terrivelmente livres. ‘paseando o ictus, o som se expande numa linha horizon- tal em altitude constante (freqiiéncia). 'Na linguagem, o som é chamado fonema. Este é o mais elementar dos sons da fala. A palavra fonema, por exem- plo, tem seis sons: F-o-n-e-m-a. orém estamos ainda considerando composigbes com um som $6. ‘O som sozinho é bidimensional. E como uma linha branca se movimentando de modo regular através de um espaco negro, silencioso. _ Nesse comportamento, no entanto, existem limites pre cisos de interesses. ‘Como o som se afasta dessa monotonia? EXERCICIOS 1 Suponta que voc® ficou mudo por muito tempo. Expe- coos itir a vibracéo de cortar o ar com 0 som mais Brimitivo — a assustadora liberdade do fetus 2.2 dado um som A classe. Quao expressiva pode ser uma Sara cont ‘iléne Sta feita simplesmente pela sua pon- ae a 2 O som pode ser curto ou longo» Te- Retid tmica ou arritmicamente, Os alunos so solicita- dos dria a clase, Com um dedo, o regente criativament® insere Som deniro do silencio. Sananteg Som por um longo tempo, pelo menos até de reponha a ele, A classe deve sentir 0 SO™ LIMPEZA DE OUVIDos es Lavel sumindo lentamente, morrendo devagar. Pergunte fo que sugerem para ele reviver. A classe nao terd dificulda- Sem descobrir a necessidade de variagdo na amplitude e oe timbre. Eles poderdo até mesmo descobrir a antifona. 7° Experimente efeitos de eco. Deixe parte da classe cantar forte, entdo corte, para revelar outras vozes sustentando sua- fothente, Aqui é sugerida a descoberta da potencialidade do espago acistico. $° Sutra maneira de manter um som vivo ¢ fazendo uso Jo espago: a classe forma um circulo, O regente fica no ceutro com os bragos estendidos e faz um lento movimen- fo girat6rio indicando a parte da classe que vai cantar 0 ‘oun, enquanto ele vai se movimentando devagar no eitcu. £0" interesse é mantido pelo uso do total espago acistico disponivel. invari © total continuum quadridimensional da paisagem $e. con fat upore aubcabamsscnte mnpeele, bater pés n 3. No Ocidente, o treinamento ritmico esté muito longe do melédico. Existem muitos exercicios excelentes de Hindemith € de outros autores, destinados a melhorar nossa reduzida pebacidade ritmica. Aqui esté um bom exercicio elementar, Possivel de se usar em aula, feito por Gabriel Charpentier do adem: incidentalmente, pode ser creditada a invencdo exercicio do relégi 0 R. MURRAY SCHAFER Primeiramente, o exercicio deve ser dominado pey se em unissono. Depois em cénone, por grupos difereng, : cs, 1, um grito — “Ab!” 12341324 2, duas batidas de pés zr aang HR 3, tr@s estalos de dedos waz Gig 18 423 as 4 dane batias de palmas : 14322134494 wet ag MB 3421 3214 324 a ign Bl Assim: “Ah!”, tump, tump, Snap, snap, snap, clap, cap, clap, clap etc.* ; : ' 4. Dutro exercicio titil em ritmo assimétrico é 0 de cons truir mensagens em cddigo Morse, que deverdo ser batidas rapidamente em unissono. Cada aluno pode também faze sua propria “assinatura ritmica’’. Podem ser criados po. lirritmos, juntando-se essas “‘assinaturas”’, algumas em du. pla velocidade, meia velocidade etc. A PAISAGEM SONORO-MUSICAL Podemos agora combinar todas as potencialidades expres- sivas de que viemos falando e refletindo durante os capitu- los anteriores e fazé-las interagir num cone de tensdes. Horizonte acisticg silencio pl * Som correspondente em portugués ah; tum, tums; tlem, elem, tem: Piss iB UT enn LIMPEZA DE OUVIDOS ° Uma composicao musical é uma viagem de ida e volta através desse cone de tensdes. EXERCICIOS 1. Tome varios dos exercicios vocais anteriores e experimente fazer com eles uma pequena composigéo coral. Grupos di- mates podem executar exercicios diferentes, em diversas feret a jar interesse contrapontistico e formal. ordenagoes, para cri 2, Outro modo de ver as tensdes dinémicas de uma paisa- gem sonora é estudar as implicagdes de um esquema como 0 indicado a seguir: Forte wpe agudo = longo Fraco “= grave <== aurto Para criar uma mobilidade de expressio, experimente 0 teste com alunos diferentes, cantando ou tocando peque- nos exercicios que combinam esses potenciais caracteristi cos de todos os modos possiveis: forte-agudo-longo, segui- do de curto-grave-fraco etc. 3. Um terceiro pode ser: ler aleatoriamente o cartaz da pa- gina 92. Cada efeito deve ser claramente distinto dos outros. 4. Outro: dar aos mesmos grupos ou individuos as se-

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