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Embora a tragédia grega e a prosa filos6fica possam parecer campos dda aividade literiria sobremodo dlistintos, 0 conselho de Aristbteles se aplica & redacao de um ensaio filoséfieo. Assim como 0 niicleo de uma obra dramitica € 0 enredo, 0 micleo do ensaio floséfico é o seu argument. E, da mesma forma que uma boa pega tem um prinetpio, Jum meto e um fim bem demarcados, assim também ser uum tom ensaio. O comego de um ensato filoséfica intro- duz > argumento; o meio o clabora; ¢ 0 fim o resume. ‘Mas o que & um argumento? Todo falante competente cem alguma idéia do que € ‘um argumento. E 2 maioria dos falantes vai se dar conta, ao refletir, de que argumento é na realidade uma palavra equivoca, isto é tem mais de um sentido, Num deles, é um sindnimo imperfelto de altercagéo; noutro, € um si- ‘nOnimo imperfeito de raciocinio, Na teoria, os filésofos =~ 6 se empenham neste timo, embore na pritica eles por vvezes deparem com 0 primeiro (0 sentido filosoficamente relevante de argumento recebeu maior atengio dos légicos, que, no curso de 2.500 anos, descobriram muita coisa acerca dos argu- tmentos. Embora este texto nfo seja légico, um pouco de logica € fundamental para que s¢ compreenda a estru- tura de um ensaio filosofico. (Para um relato mais eom- pleto do que o aqui oferecido, recomendo a leitura de Mary Haight, A serpente ¢ a raposa, Edigbes Loyola, Sao Paulo, 2002.) 10 que & um bom argumento? No nivel mais simples, ha dois tipos de angumentos: (68 bons ¢ 06 ruins. Um hom argumento & aquele que faz ‘a que se supe que faca. Um mau argumento & 0 que néo faz isso. Um hom argumento mostra a uma pessoa uma maneira racional de parlir de premissas para chegar a uma conclusio verdadeira, na medida em que seu assunto 0 permita falguns assunios mostram essa maneira mais fécil fou certamente do que autros, como, por exemplo, @ mate- rmitica mais do que a estétical. Como explico aqui, um ‘bom argumento € relativo a uma pessoa. O que pode le- sgitimamente levar uma pessoa @ uma conclusio pode nao levar outra pessoa a mesma conclusio, visto que muita coisa depende do sistem de erengas de cada pes- soa, Aquilo que um fildsofo ou fisico contempordneo reconhece como um bom argumento costuma nao ser -36- = Logics « aegumento ne texte — aquilo que um grego antigo, mesmo que fosse Platio, Aristteles, Ptolomeu ou Euclides, reconheceria como tal. Do mesmo modo, pode haver argumentos que os gregos antigos reconheceriam como bons € que més nao pode- mos considerar assim. Por raz6es dbvias, ndo tenho como pensar num exemplo, ‘A nogio de "bom argumento” € intuitiva. Neste capitulo, desejo tornar essa nogao intuitiva progressiva- mente mais precisa a partir da consideragao das seguintes Aefinigves: fli) Um argumento & uma seqiiéncia de duas fou mais proposigées, entre as quais uma é designada coma a conclusio © todas as outras consideradas suas premissas. Dfl2)_ Um argumento sélido é um argumento que € vilido € que contém somente premissas verdadeiras. DALS)_Um argumento € valido se e somente se for necessario que, se todas as premissas slo verdadeiras, a conclusao seja verdadeita. fla) Um argumento convincente é um argumento sélido que é reconhecido como tal em vir- tude da apresentaglo de sua estrutura e de seu eontetido. Cada uma dessas definigdes contém termos técni- os ¢ idéias essenciais que precisam ser explicadas, in- cluinda proposigao e vélido, Examinemos primeiramen- te & Dill, a definigho de argumento, Observe que um argamento é caracterizado por uma seqUncia de pro- aor = Ensaio fitosbtice posigdes. Embora se possa dar & proposigio uma Formu~ Jagdo mais técnica, basta para os nossos propésitos com- preender esse termo como equivalente a "uma frase que tem valor de verdaie, isto & uma frase que & verda- deira ou falsa, Contrasta-se por vezes proposicdo com perguntas e ordens, que nao podem ser verdadeiras nem falsas. Costuma-se usar proposigao, dclaragao e asser- ao intercambiavelmente, ainda que os significados dessas palavras possam diferir uns dos outros de ma- nelras relevantes Voltando a definigéo de argumento, devemos ab- servar que um argumento & uma sequéncia de proposi- Bes, porque se supe que as proposigées estejam rela- Cionads entre side algumta maneiralogicamente signi- ficatva. Uma dessas proposigbesrecebe a designagio de conclusio, quer dizer, a proposigio a ser provada. No contexto de um ensaio como um todo, a conclusio é a tese, Como as proposigdes subordinadas contidas no ensaio povtem ter de ser provadas, elas também poder ser conelusées, com seu préprio conjunta de premissas de sustentacio. As premissas sio as proposigées que levam a conelusto, Flas oferecem a justificativa para a concluséa Essa definigio € abstrata. Tormemo-la um pouco ‘menos astra considerando um arfumento extremamente sucinto: Tados os humanos sio mor ‘Socrates € humano. Logo, Séerates & moral. =" = Ligica © argumenta no texte — ‘As duas primeiras frases sio premissas. A terceira & a conclisio, como o indica @ palavra logo. Supde-se que as premissas fornegam uma forga racional para a accita- sao da conclusto, Embora seja bom, este argumento é retcricamente falho, Ninguém argumentaria em favor de uma conclusio to evidente. F raro que tres frases sim- ples constituam um argumento racionalmente persuasivo, que de modo geral requer elaboragdo e enriquecimento Porén, no comego de nosso estudo € recomendvel man- fer @ questéo no nivel mais simples possivel A definigao de argumento em Dfli) € neutra quanto questéo de saber se um argumento € ou nao falho (mau). Alguns argumentos sio fallios € outros no. Nossa reia € compreender a natureza de todos os argumentos por meio da concentragao naquilo que constitui um bom argumento, Entenderemos, entao, o que & um argumento falto 20 identificar os motivos de ele no atender aos critérios que definem um bom argumento, Como disse arnénides, “S80 infinitos os caminhos da falsidade, mas 6 da verdade & um so” A fim de melhor precisar a definigdo de bom argu- mento, consideremos a definicao de argumento solido dada na DfT2): Dfl2) Um argumento sélido é um argumento que é vilido © que contém somente premissas verdadeiras. Como essa definigao deixa claro, ha dois aspectos num argamento sélido: a validade © a verdade, Um argumento nc € sélido em um de dois casos: se é invilido ou se uma -39- = Enssio tilosofies — cou mais premissas sto falsas. Logo, para mostrar que seu ngumento €sOlido, voc tem de demonstrar que ele €valido € que suas premissas sio verdadelras. Como um argumento silido & definido, em parte, em termos da nogéo técnica de validade, precisamos de uma definigdo de validade: Df{3)_Um argumento € vilido se e somente se for necessirio que, se todas as premissas sio verdadeiras, a conclusio seja verdadeira Dito numa linguagem mais cologuial, a conclustio de um argumento valido tem de ser verdadeira sempre que todas as suas premissas forem verdadeiras, A verdade das premissas garante a verdade da conclusiv, Na Di{3), a validade € definida em termos de verda~ de e de necessidade. Por outeo lado, em Dflé), um argu- mento convincente é parcialmente definido em termos de lum argumento sélido; ¢ um angumento sélido & parcial- mente definido, em Df2), em termos de um argumento; € este ultimo ¢ parcialmente definido, em Di{i), como consistindo em premissas e em uma conclusto, Esse pro- cesso de definigdo de uma coisa em termos de outra néo Pode prosseguir infinitamente, assim como mo se pode explicar a estabilidade da terra dizendo que ela se apéia no dorso de um elefante que se apdia no dorso de outro clefante que se apdia no dorso de outro clefante, ad in- finitum, 0 processo de explicagdo deve parar em algum pponto. (Debaixo de todos os clefantes esta uma tartaruga, esse & 0 fim da hist6ria.) Quanto a validade (e, portanto, t solidez e & convic~ ‘o}, 0 processo de explicagio chega ao fim com a verdade ~~ € a necessidade. Esses dois conceitos nao serio definidos, dado que sto tomados como bésicos. Apéto-me em nossa compreensio comum das nogdes de verdade e de necessi- dade, 9 fim de seguir em frente. Isso nao quer dizer que «sas nogiees no sejam problematicas, mas apenas que se tem de patar em algum ponto. A convicgdo, @ solider ¢ a validade poderiam ter sido definidas por meio do uso de alguns outros termos, 0 que tontaria termas que no a veriade e a necessidade basicos ¢ indefinidos. Nada ha de inadmissivel em deixar alguns termos indefinidos. Isso & na realidade, inevitavel. Com efeit, para dizer alguma coisa, ten-se de supor que 0s significa- dos de algumas palavras sejam compreendidos. Isso pode servir de base para um paradoxo que envolva saber como € possivel que as pessoas aprendam uma lingua se ja se ‘tem de conhecer palavras antes de poder dizer qualquer coisa; felizmente, esse possivel paradoxo nao € o nosso proslema, aqui) Em todo empreendimento, acaba-se por chegar a'um ponto em que algo tem de ser aceito sem definigro ou disessa0, Se a pessoa que argumenta € aque- laa quem € dirigida a argumentagZo no puderem concor- dar nesse ponto, ha um sentido no qual é impossivel ini- car um argumento, Como jé observei, nem a verdade nem a necessidade serdo definidas, mas um pouco mais sobre a validade pode ser dito, ¢ 0 faci na segdo 2 deste capitulo. ‘Um argumento sélido & um angumento vitido que apresenta premissas verdadeiras, mas muitos argumentos sélidos de nada servem porque néo si reconhectveis como bons argumentos. A fim de incorporar 0 aspecto da recognoscibilidade em nossa nogio intutiva de bom ar- =a = Enssie sitesstice gumento, temos de introdurir a idéia de um argumento convincente, tal como foi enunciada na Dia): DAs) Um argumento convincente € um argumento sélido que é reconhecido como tal em vir- tude da apresentagZo de sua estrutura e de seu contetido. ‘Muitos so 0s motivos pelos quals uma pessoa ra. cional pade nao reconhecer um bom argumento. Se a forma légica desse argumento for demasiado complexa para que algum ser humano 0 reconhega ou se simples- ‘mente ndo se dispuser de evidencias capazes de mostrar que as premissas so verdadeiras, um argumento sélido deixard necessariamente de ser convincente, dado que a condigéo de recognascibilidade nao podera ser satiseita, Contudo, muitos argumentos s6lidos nao slo, na realida- de, convincentes por nao serem adequadamente formula- dos cfou porque nio sio aduzidas evidéncias adequadas para sustentar as premissas essencials. A adequada for- rmulagdo de um argumento envolve sua estrutura: 0 argu- mento tem de ser valido, ¢ as premissas ¢ a conclusio ‘tem de ser apresentadas de um modo que torne evidente sua validade. A questio da evidéncia, por outro lado, vincula-se com 0 contetido do argumento, envolvendo, mais uma vez, 2 nogdo de verdade. Cada premissa indi- vidual tem de ser verdadeira e as evidéncias apresentadas tém de deixar isso claro, A nogio intuitlva de bom argumento de que par mos no inicio deste capitulo evoluiu, agora, para @ nogio de argumento convincente. Podemos resumir, neste pon- -a- to, dizendo que um bom {isto é, convincente) argumento eavolve trés coisas: validade formal (a estrutura), premis- sis verdadeiras (conteido) e recognascibilidade, f para alcongé-as que voet deve empenhar-se cm sua atvidade de escrever. A falta de qualquer um desses elementos im- pale seu argumento de ser convincente. Todos esses ele- mrentos so indvidualmente necessrios e conjuntamente suficientes para produzir um argumento convincente. Na segio 3 deste capitulo, examinaremos a nogio de convie~ «#0 com mais detalhes. Por ora, preisamos voltar um tratamento mais completo da nocko crucial de validade, 0 aspecio do argumento que se relaciona com sua estu- fara ou forma 2 Argumentos valides Relembremos a definicao de angumento valido dada na seg 1: DA(3)_ Um argumento € valido se ¢ somente se for necessirio que, se todas as premissas sio verdadeiras, a conclusio seja verdadeira, Repetimos que, num argumento valido, premissas ver- dadeiras asseguram uma conclusio verdadeira. Um argu- mento vilido ndo pode ter premissas verdadeiras © uma comlusio falsa. A validade preserva a verdade. A situagio 6 distinta quando uma ou mais premissas sio Falsas, Nesses casos, a conclusio pode ser verdadeira ow falsa. Em autras palavras, hd argumentos vilidos que exibem: - 43 — ensaia siteseticn — (a). premissas verdaderas ¢ conclusio verdadeira; (b)_premissas falses e conclusiofalsa; (c}_premisss falses e conclusto verdadeia Examinemos um exemplo de cada uma dessas posst- bilidades (para fins de ilustraglo, empregue toda a toleran- cia necessiria & aceitagdo de que as premissas dos exem- plos a seguir so verdadeiras ou falsas, tal como indicado}, Exemplo de argumento vido com premissas verdadeiras e conclusto verdadeira Justia & imparcalidade, Imparcalidade € distibuirrecompensas de acordo com Justia € distribuir recompensas de acordo com 0 mérto penalidades de acordo com a culpa xemplo de rgumento vido com premissasflss econcusto fase Justga € aquilo que os fortes desejam. ilo que os fortes desejam € agullo que & bom pars os Fores. justga € aquilo que € bom para os Fores, Exemplo de argumento vilido ‘com premissas falsas ¢ conclusio verdadeira Justia & aqulo que os fortes desejam. Aquilo que os fortes desejam € dstribuir recompensas de acorda com 0 mérito ¢ penalidades de acordo com a culpa Jusliga € dstribuirrecompensas de acordo com 0 mérito € penalidades de acordo com a culpa. = Em cada um desses exemplos de argumento vilido, ‘a cenclusio se acha vinculada com as premissas de maneira razoavelmente direta, mas essa ndo é uma condicio ne- cess Embora seja contra-intuitivo, ha argumentos vélidos em que as premissas ¢ a conclusio nao se relacionam de nenhura maneira plausivel. Ha dois tipos de argumento fem que a conclusio no tem nenhuma relagdo com as premissas. Um deles ocorre quando a conclusio & uma awiologia, ito é, uma proposiglo trivialmiente verdadei- ra, ou melhor, uma propasigao verdadeira que é, por sua nnatureza, n2o-informativa. Considere a declaracéo “Ou Aristételes 6 um grande fildsofo ou ndo é Como essa provosigdo ¢ trivialmente verdadeira, néo pode haver argumento com premissas verdadeiras e conclusio falsa, por mais irrelevantes que sejam essas premissas para a conclusio. Por exemple, o argumento lima Hogg foi um grande Alantzopa, Ou Aristocles € um grande filésofo ou nao é vilido, ainda que a premissa néo tenha nenhumta rela~ ‘40 tOpica nem evidente com a conclusdo. Esse argumen- to falho ¢, portanto, inconvineente, mas ainda assim & valid. 0 outro tipo de argumento vilido com premissas e conclusto topicamente no relacionadas ¢ o que contém prenissas contraditérias. (Grosso modo, & contraditéria a proposiggo que afirma e nega a mesma coisa, como, por cxemplo, “Aristételes & um grande filésofo endo é um grande flésofo") Considere o seguinte argumento: eas — Ensaio filesstice — Aristotces ¢ um grande fildsofo e nao & tum grande flésofo. Nenhum figsofo comet ers, Este argumento é vatido porque satisfaz a definigdo de validade, embota a conclusio nao se relacione com a premissa. Quando um argumento contém wma premissa contraditéria, essa premissa € necessariamente false, no send, assim, possivel que todas as premissas sejam ver- dadeias ¢ @ proposigao, fas. De maneira mais geval, mesma que nao haja uma tinica premissa contraditéria, desde que as premissas sejam, em seu conjunto, contra- ditérias, 0 argumento é valido. 0 fato de todo argumenio com premissas contradité- tias ser valido mostra que a verdade real das premissas © @ validade do argumento sdo questoes distintas que nao de- ‘vem ser confundias. Mas no fique desanimado com o fato de todo argumento com premissas contraditrias ser vido. ‘Todo argumento com premissas contraditérias nio é sdlido, visto que nem todas as premissas poviem ser verdadeiras em seu conjunto, Ao mens uma delas tem de ser falsa Dizer que um argumento € valido é dizer que as premissas implicam a conclusio. Mas de que depende a implicagio? Uma resposta & que a implicasio depende do significado das palavras que compéem as proposigdes do argumento, Podem-se distinguir dois tipos de palavras: palavras neutras quanto ao tpico e palavras especificas quanto 20 tépico. ‘As palavras especificas quanto ao tépico sio aquelas Pensadas tipicamente, em primeiro lugar, como palavras, 46 como € 0 caso de cio, gato, caminha, amare, felizmen- fe, tem como palavras mais emocionalmente carregadas, como desarmamento, deficit, aborto e fraternidade, 0 que todas essas palavras tém em comum & 0 fato de especi- ficarem ou restringirem algum tOpico. Por exemplo, uma frase que contenha a palavra cio pode ser considerada, ‘em algum sentido bem geral, como tendo um cdo ou cas como um de seus tpicos. A légica envolvida com as progriedades implicativas de palavras especificas quanto a0 tipico pode receber 0 nome de légica material, Dessa ‘maneira, a logica material esta vinculada com a implica- 0 que existe entre Este objeto & amarelo Este objeto & colorido, As palavras especificas quanto ao tépica sio bem gerais ou centrais para nosso esquema conceitual, como, por exemplo, bondade, verdade, justia, beleza, pessoa, ‘objeto. Elas so os tépicos tradicionais da filosofia, e 0 estulo de sua contribuigdo as implicagdes das propos {gbes € em larga medida o assunto da filosofia. Logo, um filésofo pode preacupar-se com a natureza do conheci- ‘mento perguntando se x sabe que p implica - acredita que p. 3 . ° se € somente se Se substituirmos pelos simbolos da primeira coluna seus cquivalentes lingiisticos, as formas de argumento ue apresentamos terdo a seguinte aparéncia: = 50- Modus ponens Modis iolews p>4 poa oi “4 4 7? Disjunctive syllogism Hypothetical sylogism Pva pa | om apt | 7 por Constructive dilemma Destruetve dilemma odaers) brgaros per “av avs spr Como essas formas so por sua natureza abstratas, pode ser util dar um exemplo de cada uma das formas de argumentagao, Comecemos com o modus ponens: Se Hobbes & empirse,entio Hobhes sustenta que o conhecimen- to attido pelos sentidas € 0 fundamento de todo conhecimento, Hobbes € empirista Hobbes sustenta que o conecimento obtido pelos sentidas 0 fundamento de todo conhecimento Vejamos agora um exemplo de modus tollens, que tem alguma similaridade com 0 modus ponens: Se Hobbes &empirisa,entdo Hobbes sustenta que o conecimnen- to oltido pelos sentidos € o fundamento de todo conheciment Hobbes nao sustenta que o conhecimento obtido pelos seaidos € 0 fundamento de todo conhecimento, Hobbes ndo € empiista 51 = Ensaio filosétice — 0 modus ponens ¢ 0 modus tollens tém uma clara relagdo entre si. Muitas vezes € possivelresumir um pro- blema flossfico como sendo uma disputa acerca de se um atgumento sélido sobre uma dada questio deve ser formulado como argumento modus ponens ou como ar- gumento modus tollens. Pode-se imaginar uma. disputa nvolvendo os exemplos de angumentos acima. Uma pes- soa pode estar usando 0 argumento modus ponens para provar que Hobbes enfatiza a importincia da observagao na ciéncia, Seu oponente pode empregar o modus rollens a fim de provar que Hobbes nio € empitista. Ha em Tlosofia o seguimte ditado: © modus ponens de uma pes- soa é 0 modus tollens de outra. Claro que muitas outras coisas podem estar envolvidas no debate, além simples- mente desses argumentos. Embora os dois argumentos sejam obviamente validos, nio é evidente qual deles € solido, se algum deles for sélido, razao pela qual nenhum deles é convincente. Na verdad, 0 exemplo de modus tollens €0 argumemto sido, podendo formar o nico de ‘um argumento convincente, caso fosse reforgado por evidéncias que provassem que o préprio Hobbes enfatizou 0s aspectas dedutivos e aproriticas da ciéncia Consideremos agora um exemplo de silogismo aisjuntivo Ou Hobbes & empirista ou &racionalisa, Hobbes nio € empiria Hobbes € racionalista, Claro que este argunmento € valido, Mas ele ¢ sélido? Um defeito freqliente dos argumentos na forma de silo- ~52- = Lagics © segumento no texto = gismo disjuntivo & que nem todas as altemativas relevan~ tes sio especificadas na proposigio disjuntiva, Se nao cesgolar todas as possbilidades, @ proposicdo disjuntiva pode muito bem ser falsa. Por exemplo, seri que todo fil6sofo & empirista ou racionalista? Nao serd possivel que um fildsofo nao seja nem uma coisa nem outra? Grande pare da questio depende da definigéo dos termos empi- rista e racionalista. Assim, para que nosso exemplo de silogismo disjuntivo tena alguma esperanca de formar 0 riileo de um argumento convincente, € necessirio defi- niresses termos, mesmo que isso por si sb nao baste (veja © capitulo 5, sega0 1, Defines") 0s silogismos hhipotéticos sd usados muitas vezes para enumerarséries de depentléncias, como, por exetplo: Se toda ago humana € causalmente determinada centio nenhuma agGo humana ¢ livre Se nenhiuma ago humana é live, nto nenhum see humano € responsivel por suas aghes, ‘Se toda agdo humana é eausalmente determinada, ‘to nenhum ser humano & responsivel por suas aces. Embora a regra formal do silogismo dite que haja apenas duas premissas, como no exemplo acima, pode-se, no entanto, reunir varios silogismos hipotéticos, a fim de preduzir um resultado como: Se todo evento € causalmente determinado, entéo toda agio humana é causalmente determinada. Se toda agio humana € causalmente determinada, entéo nenhuma ado humana € live. <3 = Ensaio titesétice — ‘Se nenuma agéo humana ¢ live, entio nenhum Set humano & responsavel por suas aches, ‘Se nenhum ser humano é responsivel por suas agbes, ‘enti ndo faz sentido literal lowar ou culpar os seres humanos por suas agées, Se todo evento € causalmente determinado, entfo nlo faz sen- tid litera louvar ou culpar os seres humanos por suas a¢des, Quando proposigées sio ligadas dessa mancita ¢ a conclusio € ou contra-intultiva ou inaceitivel de outra forma, 0 desafio esti na determinagao de onde e como quebrar a cadeia, ___Consideremas agora as duas regras do dilema, 0 dilema construtive poderia ser pensado como duas ocor- rencias do modus ponens em conjuncio: >a&ts9 pvr avs Do mesmo modo, 0 dilema destrutivo poderia ser considerado duas ocorréncias do modus tollens em dis- Jungao @>qdatras) qs pve Vejamos agora um exemplo de cada um deles, a ccomecar pelo dilema construtivo: Se 0 determinismo € verdadeto, entéo as agdes humanas sio ‘eutras mo que se refere ao louvor ou & culpa; e se os seres = 54~ — Logica ¢ arguments ao texte — ‘humanos tém livre-arbitrio, entio a ciéncia est limitada naquilo que pode explicar acerca da realidade, Ou o determinismo é verdadero ou os seres humanos tem livre abiteio. ‘Ou as agbes humanas sio neutras no que se refere a0 louvor ow a culpa ou a ciéncia esta limitada naqutlo que pode cexplicar acerca da realidade. Da mesmo maneira como © modus ponens de um & © modus follens de outro, 0 dilema construtivo de um é 0 diema destrutivo de outro. 0 exemplo de dilema cons- trative acima ¢ facilmente transmutado num exemplo de dilema destrutivo: Se » determinismo & verdadelto, entdo as agdes humans sio neuttas no que st refere 20 louvor ow & culpa; ¢ se 08 sexes humanos tm livre-arbitio,ent@o a ciéncia esté limitada raguilo que pode explicar acerca da realidad. As agGes humanas nao so neutras no que se refee 20 Towvor ou & culpa, ov a ciéncia ndo estélimitada naguilo que pode explicar acerca da realidade. (0 0 determinismo nfo € verdadeiro ou os sees humanos rio tém live-arbitrio. Exemplos genuinos de dilemas costumam ser con- ‘luidos com uma disjunglo de alternativas desagradaveis. E isso o que faz do argumento um dilema no sentido ‘comum do termo, em contraste com o sentido légico que temos discutido. Os dilemas voltardo @ ser abordados no capitulo 5. -55- \ Agora que temos uma melhor compreensao do que constitul a forma do argumento valio, voltemos 20 pico principal deste capitulo, ou sea, aquilo que constitui tum argumento convineente. 3 Argumentos convincentes Recordemos a definigée de argumento convincente da sega 1: Dil4) Um argumento convincente é um argumento sélido que é reconhecido como tal em vir~ tude da apresentagdo de sua estrarura e de seu eontetida, ‘Um argumento convincente aquele que impele 0 ppablico a aceitar sua conclusdo em virtude da aceitagio de que o argumento € vilido e de que suas premissas sto verdadeiras. Us argumentos convincentes sio relativos 8 \nessoa. Iss0 fica mais claro se reformulamas nossa defi- nigdo da seguinte maneira: Um argumento & convincente para um piblica quando este pliblico 0 reconhece como tal ( mesmo argumento pode ser convincente para uma pessoa € nio o ser para outra. Todos os argumentos con- vvincentes sio persuasivos para o piiblico que os reconhe- ce, mas nem todos os argumentas persuasivos so con- vincentes. As pessoas séo muitas vezes persuadidas por ‘maus argumentos e por raciocinios falaciosos ~56- — Lasies « argumento ae texts — Um argumento pode ser sélido e nao ser convincen- te, porque sua solide. néo € reconhecida, Um argumento poderia ser necessariamente assim seja devido ao fato de exibir uma complexidade que esté além da compreensio humana, seja em decorréncia da impossbilidade de reu- hir as evidéncias necessirias para provar que suas pre~ mmissas so verdadeiras. Néo temos, de fato, grande inte- resse por esses argumentos inconvincentes, visto nada haver neles que permita a intervengio humana. Se os setts humanos ndo podem reconhecer a validade e se as evitincias mio estio de mancira alguma disponiveis, cchegamos a0 fim da linha, Mas nio se deve confundit ssi argumentos com outros. [Ha ainda alguns angumentos sidos que na verdade nao sio reconheciveis como tats seja porque, (1) embora suas esiruturas ligicas no sejam reconbecidas, elas 0 poderiam ser caso fossem explicadas ou porque, (2) em bbora suas premissas néo sejam reconhecidas como verda~ deiras, elas o poderiam ser se se fornecessem as evidén- cias disponiveis. Podemos agir com relagdo a esses argu rmentos sélidos: 0 autor pode explicar suas estraturas logicas e fomecer as evidéncias para suas premisses Tudo isso pode ficar mais claro por meio de um exenplo. Nao hi duivida de que ¢ Ficil oferecer um argu- mento sélido para a proposigdo “Deus existe” (se Ele de fate existe. E nao ha diivida de que é facil oferecer um argumento sélido para a proposig8o “Deus ndo existe” (se Fle de fato no existe). Assim sendo, um (mas somente tum) dos dois argumentos a seguir € sélido: ase, Primero argumento ‘Ou Deus existe ou 25 de devenibro & Pisco. 25 de dezemibro nto & Pisco. Deus existe Segundo orgumento (u Deus mio existe ou 25 de dezemibro & Péscoa, 25 de dezemibro nao € Péseoa, Deus tio exise Ora, deveria ser dbvio que nenhum desses argumen- tos € convincente, ainda que um deles seja sélido, 0 problema € que o argumento sélido, sea ee qual for, ndo esta se dando a conhecer! Cada um dos argumentos & claramente valido. Os dois s4o exemplos de silogismo disjuntivo, ¢ a segunda premissa de cada um deles & verdadeira. 0 locus do problema é a primeira premissa, Se Deus existe, a primeira premissa do primeira argumento € verdacierajustamente em virtude desse fato, © entdo 0 primeiro angumento € séido. Se Deus nio existe, a pri- rmeira premissa do segundo argumento é verdaiita jus- tamente em virtude desse Tato, ¢ entio 0 segundo argu- mento € sélido. Mas qual deles 0 & Infelzmente, mada hi nesses argumentos que nos permita determinar qual dcles € sélido, Nao ha ncles coisa alguma que nos force racionalmente a acitar sua primei- ra premissa. Logo, nenhum deles & convincente, & tarefa do autor transformar argumentos slides em argumentos convincentes. Iso requer, tipicamente, elaboragdo: ou @ Lapin © argumente no texto — ‘expicagio da validade do argumento ou a adugéo de evidencias em favor da verdade das premissas. Como poderia um autor tentarfortalecer um dos ar- gurrentos acima? Embora eu de modo geral tente dar exem- plos de como fazer as coisas corretamentc, nesse cas0 vou cxplicar como as coisas podem dar errado. Também se pode aprender com os préprias eros. Como o mesmo tipo de estratégia se aplica aos dois angumentos, consideremos apenas o primeiro deles. Aquilo de cue precisa o primero argumento € alguma evidéncia ‘que estabelega que a primeira premissa ¢ verdadeira. Que tipo de evidéncia cumprisia esse objetivo? A premissa é ‘uma proposicao disjuntiva. Logo, € verdadeira se um dos termios da disjungio for verdadeiro. 4 sabemos que 0 segundo termo ¢ falso. Assim, se a premissa é verdadeira, cla o tem de ser porque o primeiro termo de sua disjun- cio 0 € Mas esse terma, “Deus existe’, ¢ idéntico a conclusto, Logo, qualquer evldéncia em favor da verdade da premissa é eo ipso evidéncia em favor da verdade da contlusio. Isso significa que a evidéncia para a premissa € supérflua. Se se tivesse alguma evidéncia em favor da prorosigao “Deus existe", poder-se-ia aptica-la imediata- mente & conclusdo sem se apoiar em nenkuma premissa. Suponha que alguém quisesse defender ser esse ar- ‘gumento convincente por meio da afimagio de que @ primeira premissa é verdadeira porque “Deus existe” & verdadeira e que “Deus existe” € verdadeira porque € auto-evidente. Essa defesa ndo funciona. Ela faz uma peticao de principi, quer dizer, 0 propésito do argumen- ans 10 € provar que Deus existe, mas 0 defensor deseja supor que a propria coisa a ser provada ¢ auto-evidente “Petigéo de principio" é a falacia que consiste em usar @ proposigo como conclusfo e, a0 mesmo tempo, como uma premissa ou uma evidéncia em favor da pre- rissa. Eis um caso flagrante de petigao de principio: A dlvida interna & grande demais. A divid tema & grande demas. Ninguém se deixard enganar por esse argumento. A. inaioria dos exemplos da Falaicia da peticdo de principio, assim como de todas as falécias, é mais suil. Por vez cla ocorte quando a mesma proposicao € expressa de ‘duas maneiras verbalmente distintas. Por exemplo, argu- mentar Todo homem & mortal Tage é fazer petigéo de principio, visto que @ premissa € a concluséo significam a mesma coisa. Um exemplo mais complexa ¢ interessante de pe- tigéo de principio é: tudo 0 que a Biblia diz é verdade, porque a Biblia é a Palavra de Deus, ¢ a Palavra de Deus € verdadeira. Além disso, sabemos que a Palavra de Deus € verdadeira porque’ a Biblia diz isso. © argumento basico é: ‘A Biblia & a Palavra de Deus. A Palavra de Deus @ verdadeira A Biblia € verdad. todo homem morre ~~ A premissa “A Palavra de Deus é verdadeira” precisa ser apoiada numa evidéncia. Mas usar “A Biblia diz isso" (quer dizer, A Biblia & verdadeira) como expressio dessa evicéncia é fazer uma petigdo de principfo, porque, nesse contexto, “A Biblia diz isso” & outra maneira de dizer “A Biblia é verdadeira", que & justo o que se supde va ser provado, Logo, nao podemos usi-la nem como premissa nem como evidéncia para uma premissa. (que tora um argumento convincente reconheci~ vel? Sugiro que isso envolve relevancia e informatividade. ‘Um argumento convincente contém premissas relevantes ‘park a canclusfo. Assim, nenhum dos argumentos sobre 2 existéncia de Deus examinados acima é convincente porque nem todas as suas premissas so relevantes para ‘a conclusio, Um argumento convincente deve conter tam= ‘bém premissas informativas. AS vezes as premissas so infermativas quando sio novas no sentido de que 0 pitblico nfo as conhecia até que as visse no argumento. Outras vezes elas sio informativas de maneira derivada; podem ser informativas se 2 evidéncia apresentada em seu favor for nova, Logo, pode nao ser informative 0 fate de alguém dizer simplesmemte “Eu existo’, Sozinha, essa assergo parece trivial. Mas, quando um filésofo como Descartes assinala que a evidéncia para essa pro- posigio pode ser encontrada mesmo no mais enganoso ppensamento que a pessoa possa ter, a proposigéo “Eu cexisto” se torna Informativa de uma maneira na qual de ‘outra forma no o é. E também € informativa em seu uso ulterior, na argumentagio contra o ceticismo e em favor de Deus. Por fim, hd ocasides em que as =a — Ensaie fiosstice — premissas séo informativas no por serem individual- mente novas, mas por estarem ordanizadas de uma ma- neira nova; € 0 reconhecimento de uma nova organiza ‘80 de fatos ja conhiecidos pode ser instrutiva. No Menon, de Plato, Sécrates faz um menino escravo deduzir uma surpreendente variedade de teoremas geomeétricos a par- tir de fatos que o menino jé conhece. Séerates atribui 0 conhecimento surpreendente do menino a uma reminis- ccéncia do conhecimento que ele tivera numa existéncia anterior a seu nascimento. Uma explicacao alternativa é a de que Sécrates fez 0 menino reorganizar 0 conhect- mento adquirido durante sua existéncia na terra e, nessa reorganizacio do conhecimenio, 9 menino veio a apren- der muito mais coisas. Observe que nio forneci, nesta seco, um exemple de argumento convincente. Um argumenta trivialmente convincente nio seria instrutivo. E, como meu publico & variado, seri diffellelaborar um exemplo nav tivial en poucas piiginas. Deixo a descoberta de um argumento convincente a cada leitor, a guisa de exercici. A conclusio do capitulo até agora é a de que a {nocd de argumento s6lido ndo capta por inteito « nogio [nvtvae.om. argument Preisemes du ‘em conta que a solidez do argumento seja reco- mecida-e€ sso 0 que far a ‘idéia de argumento convin- ente, Nas ir8s iltimas segdes, serio explicados varios dutros conceitos logicos: a consisténcia e a contradigao na Seg20 4, 0s contrérios e os contraditérios na segio 5 € a forga da proposicdo na segao 6. ~ a 4 Consisténcia e contradicao Algumas proposigGes podem ser verdadciras juntas ‘ou a0 mesmo tempo. Por exemplo, as propasigdes "George Washington foi o primeiro presidente dos Estados Uni- dos" e "Abraham Lincoln foi a décimo quarto presidente dos Estados Unidos” slo consistentes uma com relagao & otra. As duas podem ser verdadeiras a0 mesmo tempo, elas de fato 0 sio, Proposigées consistentes podem se referit ao mesmo tépico ou a um t6pico relacionado, ‘como 0 sio as frases sobre Washington « Lincoln, mas também podem se referir a tépicos completamente distin- tos, como, por exemplo, “George Washington foi o pri- meiro presidente dos Estados Unidos’ e “Um amigo de “Turgeney deu-Hhe a idéia de Pais e filhos”. Uma frase trata da Historia dos Estados Unidos e a outra, de uma figura literiria russa. Elas sio consistentes uma com relagio & ‘outra, embora topicamente niio relacionadas. ‘As proposicies podem ser consistentes umas com as ‘outras. ainda que uma, algumas delas ou todas sejam falscs. A frase sobre Turgenev é falsa, mas consistente com a que trata de Washington, que € verdadeira Eis um conjunto de frases consistentes € falsas: Avistteles descobriu a. América Descartes foi reprovado em geometria na universidade, Henry Ford assinou a Declaragdo de Independéncia 0 Cleveland Indians venceu a Série Mundial de 1995. Como 0 mostra o exemplo, a consisténcia nao € garantia de verdade. £ possivel que proposicées sejam ~ ais = Enssio fileséties — consistentes umas com as outras sem ser verdadeiras Ainda assim, é importante que as proposicdes sejam con- sistentes, porque se elas nao so consistentes entre si (isto &, se sto inconsistentes), & impossivel, para todas elas, ser verdadeiras. E 0s filésofos, assim como os nio-filésofos, devem comer da falsidade como da praga. Se um conjunto de proposigdes ¢ inconsistente, 20 rmienos uma delas é falsa. Talvez © conjunto de proposi: ‘sdes inconsistentes mais ficil de identificar seja aquele que contém uma proposigéo ¢ sua negacao. Turgene & romancista Turgenev no € romancista, Nao € preciso saber coisa alguma sobre Turgenev para saber que ao menos uma dessas proposigbes ¢ falsa 0 fato de ao menos uma proposigio de um conjunta inconsistente ter de ser falsa € uma caracteristica interes- sante, que os fildsofos exploram com freqdénela. Eles muitas vezes tentam formular conjuntas de proposicées. todas clas parecendo verdadeiras, mas inconsistentes, Esses conjuntos de proposigdes recebem 0 nome de paradaras, 0 paradaro da tiberdade ¢ da eausalidade | Todos os eventos so causados 2 As agOes humanas so eventos 3 Algumas asées humanas sio lives, isto & no causadas. 0 paraioxo da referéneia ¢ da existncia 1 Tudo o que & objeto de referencia tem de exist 2.0 nome “Hamlet” refere-se 2 Hamlet, 3 Hamlet nio existe = Lagica e argumento no texte 0 poradaro da promessa 1 Se promete fazer alguma cots, a pessoa tem a obrigacio de faxé-to, 2 Se. pessoa tem a obrigasdo de fazer alguma cok, ela pode fare esa coisa 3 Algumas pessoas s vezes fazem promessas que nfo podem cumpriz. A formulagao de um problema filos6fico como pa~ radoxo ajuda a dar foco & questio. Quem pretende resol- ver o problema tem de dizer qual das proposigdesjulga falsa e por qué, ou tem de explicar por que julga que todas as proposigées sio na verdade consistenies, ito €, como é possivel que todas elas sejam verdadeiras,embora Possem nao parecer consistentes. Nem sempre & fil dizer se proposigdes que parecem Iinconsistentes entre sio sio de fato. Esse & especialmente © caso quando as proposigies aparentemente inconsisten- tes sha vngas, como Enmptistas britinicos acreditavam que a mente existe Empkistas britinicos acreditavam que @ mente nio existe. Nao esté claro se essas frases s0 ou no inconsis- tentes. A razio & que nfo esti clara se essas frases falam de todos os empiristas britanicos ou de apenas alguns ddeles. Se a5 duas falam de todos os empitistas britanicos, ‘las sto inconsistentes. Mas, se cada uma delas fala de alguns empiristas britanicos, elas exprimem proposigaes cconsstentes, € na verdade as duas so verdadeiras. Ao ‘meu ver, quando as frases so vagas, deve-se dizer que ‘elas nao exprimem de modo algum uma proposiczo, que - 65 = Ensate fitossticn — cexpressam apenas parte de um pensamento. Como néo cconstituem a expresso de uma proposigio completa, elas nio tém valor de verdade, no sendo’verdadeiras ‘nem falsas, Isso quer dizer que ndo podem ser consistentes nem inconsistentes umas com relagéo as outras Demos até agora exemplos de conjuntos de propo- sigGes consistentes ¢ inconsistentes que contém a0 menos dduas proposigées. Mas essas nogSes se aplicam igualmen- te a proposigdes isoladas. A proposicdo Aristteles fol um poeta € consistente porque lhe & possivel ser verdadeira, mesmo que cla seja de fato falsa. E a proposigao Aristteles foi um poeta e Aristételes no foi um poeta 6 inconsistente porque é-Ihe impossivel ser verdadeia, Proposigdes inconsistentes so também chamadas de contradigées. ‘A consistencia e a inconsisténcia (contradi- Gio) sdo obviamente idéias inter-relacionadas. Embora possa nao ser Gbviy, elas também se vinculam com a Implicagdo. Uma proposigo p implica uma proposicéo 4 se p for inconsistente com ndo-g. Exeticos Kl dis pions cms Cle og oe ae ss si ss anitote icicle ain eb a “Agu auntie bse = Logics & argumento no texto — 5 Contrérios ¢ contraditérios Na altima seco, definiu-se a contradigdo em rela- so & consistincia. Uma contradigio € uma proposicio inconsistente,¢ um conjunto contraditério de proposigbes € um conjunto de proposigées inconsistentes. A contradi- ‘o pode ser definida de outras maneiras que nao men- ciomam a inconsisténcia: Uma autocontradicao ¢ uma proposio que nio pode server (ait. preyoagee Um eonjunto de kes contraitério se no houver uma tanera de tomar todas 3s proosges verdad Por exemplo, “Sicrates é mortal e Sécrates ndo é mortal E contraditrio, eo conjunto de (duas) proposigbes “Sécrates & moral” e “Sécrates no € mortal” é contraditéro. A fim de distinguir contraditorios de contratios, & conveniente restringir a discussdo a pares de proposigdes: Duas proposiges so contraditias se uma tiver de ser verda~ ‘ira e a outra, fala Duas proposgdes Sio contrrias se no puderem ser verdadeiras 20 mesmo tempo. Estas duas proposigdes se contradizem: A parede & azul A parede no & azul Fstas duas proposigbes sto contrarias: A pared & (completamente) azul A parede & (completamente} vermea, or = Ensaio tilosstice — Embora no possam ser verdadeiras a0 mesmo tem po, duss proposigées contrérias podem ser simultanea- mente falsas. Se a parede for amarela, as duas proposi- 66s apresentadas acima so falsas. Deve ser evidente que pademos estender a idéia des ccontradiges e das contritias a predicados ou propriedades: Duas propricads si contraditras se uma tver de ser verdadelra de um objeto © a utrativer de ser False desse mesmo objeto uas propriedades sao contririas se n2o puderem ser simulta neamente verdadelras de wm objeto Ser azul/ser ndo-wal sio propriedades contadiéras; ser azulser vermelho so propredades contirias. A distingdo entre contréros e contraitériosé impor tante, porque & comum se confundirem essas duas eatego- rias. Emora soja improvavel que alguém confunda ser vermltioe ser azul com propriedaes contraitéras, pode- se confundir ser rico € ser pobre ou ser gencrosofser ava- rento com propriedades contraditéras. Do mesmo modo, € facil confundir mo ser justo (conraitério ce ser justo) com ser injusto Geu contrario). Um repolho plantado no Jardim pode néo ser justo, mas tamhém no & injusto Alguns filésofos usaram a observagio de que ser Justo € ser injusto sio contririos © nfo contraditérios a fim de ajudar a resolver 0 problema do mal. Eis um exemplo disso num fragmento’ de ensao: Una solugéo para 0 problema do mal 0 problema do mal sé insohivel até © momento em ‘que se perceba que justica e injustiga s8o termos contrarios Site ‘e que nenhum deles ¢ aplica a Deus. Ser justo € estar sujeito as leis © seguir todas as leis aplicves. Ser injusto ¢ estar sujeto as leis e no seguir todas as leis aplicdveis, Deus, ‘contudo, nio é justo nem injusio, visto que Ele nao esté sujeto a lei nenhuma, Para ser sujeito & lei, a pessoa nao pode ter controle sabre ela. Mas Deus tem completo controle sobre as leis porque Ble faz todas as leis ¢ nao esti sueito ‘a nenhuma restrigae quanto ao contelido dessas lis. Isso & parte do que se conhece como onipoténcia ¢ soberania ab- soluta de Deus, E por isso que Deus ndo foi injusto ao dizer ‘2 Abredo que matasse seu filho Isaac nem quando permit {que Satands torturasse J6. Como Deus nao pode ser justo rem injusto, mas faz as leis que determinam quem o seri, pode-se dizer que Ele esta acima da justiga e da injustica Eo que mais poderiamos dizer acerca de Deus no tocante & justiga €& injustiga? Como toda propriedade tem tum contraditério e a0 menas uma propriedade de cada par coniraditério de propriedades ¢ verdadeiro de um objeto, as propriedades contraditérias de ser justo ¢ de ser injusto tém de ser verdadeiras de Deus. Por conseguinte, Deus no ¢ justo nem injusto. Consideremos um iltimo par de termos. Supde-se de modo geral que a subjetividade e a objetividade sto sim= plesmente contraditérias. Seu cardter contraditério ou contririo depende da maneira como slo definidas. Uma rmaneira de assegurar que sejam contraditérias é definir ‘uma delas como ndo sendo 2 outra. Por exemplo: 4 subjetivo se e somente se x puder ser julgado por uma s6 essoa ¢ com base em sua experincia imediata G objetivo se e somente se x ndo for subjetivo. i = enstie filosstics — Assim definidas, a subjetividade e a objetividade sto contraditérias, mas as vezes elas so definidas indepen- dentemente uma da outra, de modo que mostram set contrarios confundidos com contraditérios. + € subjelivo se e somente se puder ser julgado por uma sé pessoa e com base em sua experiéncia imediaa 1 € objetivo se e somente se for publicamente observivel Por exemplo, entidades abstratas como verdade, jus- tisa, governo, nimeros {no confundir com numerais) e algumas entidades fisicas como as particulas subatémicas (de que 96 sto observveis 0s efeitos) nfo sto, nos termos da definigao acima, nem subjetivas nem objetivas (veja mais no capitulo 5, seco 1, “Definigdes" Exercicios 1 Dado que uma fase atdmics & una fase em que nenhuma parte & bem uma fase, pode uma fase atémice ter mais de uma Fase contraditri? Pode uma tal frase ter mis de uma ‘tase contréia? 2 Categorize os seguints pares como contéias,eantraditrios ‘em contétos nem contradtsris: (a) altofaixo {b) altof-alto [e) justofclemente (a) justoinusto reer () vermethoflta 2 (6 borracneffero 8 (o) clementefnclemente # (h) todo-poderosofposeroso Lisica © argumente ne texto ane eesti ‘T-esponsivliresponsve a : 1 tegalegal 1), maseainafeiing in) maseiinalno-asculino in. democrtalrepubieano i} pobrehonesio 4 Dads os definicies abi, o par subjetitadobjetviade & conti ou contac? 4 subjetivo se € somene se hd apenas uma pessoa que pode experientar 1 € objetivo see soment se as popidades de x pudeiem Set deteminadas por mais de uma pesca 6 A forga de uma proposisto Os filésofos falam, muitas vezes, da forga de uma proposi¢ao. Algumas proposicées sio mais fortes ¢ alyu- ‘mas so mais fracas do que outras, Essas nagées de fora equeza sao técnicas ¢ precisam ser definidas, Embora nao sejam definigdes dificeis — basta que voc® entenda 2 nogio de implicagiio —, sem essas definigdes voce fica- ria surpreso com o que 0s fildsofos pensam da forga ou da fraqueza de uma proposigao. Uma proposigao p & mais forte do que uma pro- posigio q see somente se p implica q e q nao implica p. Por exemplo, “A maioria dos empiristas britanicos acrelita que a mente é uma substincia" é mais forte do -1'= que “Alguns empiristas britinieos acreditam que a mente € uma substancia’, Uma proposicao p & mais fraca do que uma pro- posigio q see somente se p nao implica q € q implica p, Obviamente, a proposicao “Alguns empiristas brit nicos acreditam que a mente & uma substincia” € mais fraca do que “A maiotia dos empiristas briténicos acredita que a mente é uma substincia’: Duas propasigdes sio igualmente fortes se uma implicar a outra e for implicada por ela Hi muitas proposigdes que nao podem ser compara~ das em termos de forga, como, por exemplo, “Plato foi fildsofo" e “David Hume foi filésofo". Nenhuma das pro- osigdes implica a outra. Logo, nenhuma é mais forte ow mais fraca do que a outra. Além disso, embora a propo- sigao “Todo filosofo grego tem uma teoria ética” passa parecer mais forte do que “E possivel que algum filésofo em alguma época tenha acreditado em alguma praposigao verdadeira’, na realidade ela nao o é, ja que no implica esta tltima, Isto ndo quer dizer que essas dias proposi- g6es sejam igualmente ficeis ou dificeis de provar. Na verdade, a primeira seria mais difiel de provar ou 20 menos requereria bem mais evidéncias, visto que faz uma assergdo sobre todos os fildsofos gregos, ao passo que a segunda 0 faz acerea de algum filésofo. Além disso, a evidencia adequada a cada uma delas ndo seria a mesma, Se uma proposigdo ¢ mais forte do que outra, essa pro- Posigo requer mais evidéncias ou evidéncias melhores =n- = Logics © argumenta no texte — para ser provada; mas, se nio se pode relacioné-las uma ‘com a outra em termos de forca, no hi uma mancira eral de prever que proposicao requereré maiores ou melhores evidencias. importante que voce saiba a forga das proposigdes por virios motivos. Vocé tem de saber qual a forca ne- cessiria a cada uma de suas premissas, a fim de provar sua tese. As premissas nao devem ser mais fortes do que voct precisa que sejam, porque, quanto maior a sua forga, tanto maiores as evidéncias que vao requerer ¢, tipica- mente, tanto mais dificels de provar. Quanto mais fraca ‘a proposicéo, tanto menares as evidéncias exigidas. Mas suas premissas também ndo podem ser demasiado fracas, Porque, se 0 forem, ndo vio implicar sua concluséo; seu argumento seré invalido. Ademais, se tentar provar algo que seja apresentado como mais farte do que o necessério e fiacassar, vocé ou seu piiblico podem chegar & falsa Inferéncia de que sua posigio é insustentavel, ainda que lum conjunto mais fraco de proposigées pudesse ter sido suficiente para implicar sua conclusio, Em algumas ocasiées, descobrir que algo pode ser provado por meio de uma proposigao mais fraca pode constituir um grande achado filoséfico. Muitos fldsofos tentaram provar a existéncia de Deus usando como pre- missa “Algo esta em movimento’ John Duns Scotus, no final do século XII, dew um brithante passo ao constrait ‘ums prova que usa a proposiyo mais fraca “E possivel que algo esteja em movimento” Essa proposigao é verda- deira desde que a idéia de movimento no contenka uma contradigdo. Essa proposigio poderia ser verdadcira mes- Ss = Ensaio ttesstice — mo que aguilo que os seres humanos consideram movi- ‘mento fosse uma iluséo € no houvesse no mundo ne- nnhum movimento real. Logo, essa proposicdo tem menos pressupostos do que a proposicdo mais forte “Algo estd ‘em movimento” ‘Suponha que vocé deseja escrever a favor do ceticis- ‘mo. Para os nossos propisitos, digamos que o ceticismo Ea visio de que nenhum ser humano sabe coisa alguma, Entio, & importante decidir (como?) qual das proposigdes 1 seguir voc precisa provar ou para qual delas voce precisa fornecer evidéncias: 1 Toda crenga que os seres humanos tém & dubia, 2 Toda crenga que os seres humanas tém pode ser dibia, 3 Toda crenga que os seres humanos tém & fala 4 Tora renga que os seres humnanos tém pode ser false ‘A proposigdo 2 & mais fraca que al; a 4 € mais fraca do que a3. (A 3 & mais fraca do que a 27 A2¢ mais fraca do que @ 4?) 0 fildsofo fica numa melhor posigio se puder se sair bem provando a mais fraca de ua proposicdes. E também importante saber que forsa tem a propo- siglo de seu oponente. Se ele diz “Todos os empiristas britinicos acreditam que @ mente é uma substancia" esti ddizendo alguma coisa bem forte. Isso quer dizer que a posigio dele pode ser refutada mediante o estabelecimento dde uma proposigdo relativamente fraca: “Algum empirista briténico no acredita que a mente & uma substincia’, Assim, bastaria a vocé provar que ao menos uma pessoa, David Hume, por exemplo, & um empirista briténico € no a4 = Ligice © argumente ne texte — acrodita que a mente é uma substincia. Por outro lado, se © oponente afirma “Alguns empiristas britanicos acredita- vam que @ mente ¢ uma substincia’, ele esté fazendo uma afirmacdo relativamente fraca © a verdade da propasigéo “Algum empirista britanico nao acreditava que a mente & uma substincia* ndo é suficiente para refuté-la. Vocé teria, ‘em vez disso, de provar a proposicdo deveras forte *Ne- nnhun empirista britinico acreditava que a mente é uma substancia’: Mew conselho é mais uma vez, que vacé evite tentar provar isso. Em geral, quanto mais forte uma tese, tanto mais fraca precisa ser a proposicdo usada para refu- tele; € quanto mais fraca uma tese tanto mais forte pre- cisa ser a proposigao usada para tefuté- Consideradas. em termos abstratos, as proposigdes fortes exigem multas evidéncias e as fracas, poucas. Na pritca, a quantidade de evidéncias necesséria depende das necessidades do publico. Voce deve fomnecer tantas evidéncias quanto o seu piiblico necessitar para ser infor- mado ¢ persuadido. Considere o seguinte argumento em favor do que & uma proposigao bastante fore, isto é, a de que nenhuma taxacao se justifica Transferéncias nfo voluntécias de propriedade so viola- bes de direitos. Um ladrio que rouba uma propriedade Viola os direitos do proprietério. A taxagio € uma trans- feréucia no voluntiria de propriedade do individuo para 0 governo, Logo, 0 gaverno que recorre& taxagéo nio é melhor do que um ladrio. Embora esse argumento possa ser sdldo, ele néo seria ‘convincente para @ majoria dos piiblicos, porque ele no -15- leva em conta nenhum dos argumentos relativamente dbvios| contra a premissa ce que “a taxacio é uma transferéncia no voluntiria de propriedade" em livros de raciocinio crtico de ldgica informal, essa auséncia de mengio a todas as consideragées relevantes para uma questo & chamada de alicia das evidéncias suprimidas), Considere um fragmento ide ensaio escrito como réplica a passasem anterior: Atexagi de modo algum equivle 20 roubo, send antes equivalente ao pagamento por servigos prestads. As pes- sas dependem do govern pare vis seraigos essencias a sun qualidade de ida, no apenas a poi ea proteg2o contra incéndos, como também estradas, leis de trénsto, servios piblicos, cores civs ¢ eriminais ete. AS pessoas cnvolvidas em negécios dependem ainda mas do govern, com, por exempo, para contar com leis de patente ede importagio e expottagio. Na verdade, a0 usar a moeéa como seu meio dete, o homem de negcios iia algo feito pelo governo, usando, assim, todo © maqunsrio do gover, toda a sua Tee iio, a fim de ter 2 garatia die que 0 papel tem o valor que ee supe que tna, Por ‘outro lado, os impostossio objeto de leila da pate de representantes eleitos dos cidados, ao menas em a suns pases. Como os representantes tém o dito de air em nome daqueles a quem representa, padem ees votar em favor de imposios que recaem sabre cscs mesmos representados. Fstesaulorigam os representantes @ com- promet-os com certos cursos de afdo. Em sun, a taxae so uma tanserncia voluntiia de propredade do ci dado para o govemo como pagantento por servis pres tados por este iim, 7 Esse fragmento de ensaio tem mais condigdes de exprimir um argumento convincente do que o primeio. Claro que isso nao fecha a questo acerca de que opiniao sobre 0s Impostas esti correta. 0 oponente da taxacdo pode ter réplicas conclusivas a fazer as objegdes levanta- das pelo defensor. 0 que importa aqui € que um ensaio s6 § convineente se levantar justamente esse tipo de fabjegdes ¢ Thes der respostas. Além disso, a posicio do fopaniente da taxacto serd, na verdade, fortalecida por esse processo, visto que este 0 obrigara a articular sua posicio com fundamentos adicionais que no possam ser demubados por abjecdes ja levantadas. Estas mesmas observagdes se aplicam ao proponente da ‘axagio, Ele tem de explicar por que hi oposicao & taxagio, responder a essa oposicdo, explicar como um ‘oponente da taxagio poderia responder ¢ mais uma vez refutar os argumentos deste. Cada conjunta sucessivo de objegies € de réplicas tem de ser mais profundo, mais suite mais reveladar do que o antecetente — se o pro ‘cesso Funcionar corretamente, Muitas vezes € desse modo que o progresso em filosafia ocorre. Para mais elementos sobre esse método de raciocinio, veja o capitulo 5, secao 7, "Raciocinio Considre a fora rtva 6s proposites contd e des poposgdes & se alums 0 der do conjunt? (Claro av ha +13) Todos os enuniados empincos se base iseasemcada.imaisaivce nasa “7 (9) Totos'os enureados énpiricos se baseam em slab 88: Seracio real (6) Todos 6s enunciadosempirica se base em alguna pos- Sve cbsensio. 2 (a) Mentr € sempre ead. (b) Mentircostuma ser ered, (c) Mentir€s vezeseerado. (G) Mentc nunca é ead, 3 (@) Matar € trad, (b) Matar € errado, exceto pare proteger a pri vida (6) Matar € era, exeeto pare proteger a vida de alauém de mm atacate (G) Matar & erato,exceto para proteger a vida de alguém de tum ataque desiel ine A estrutura de um ensaio filosofico 1 Esbogo da estrutura de um ensaio filoséfico erates nao era amigo daquilo que entendia por reté- ica, Ainda assim, ele se dispunha a conceder que “Todo discurso deve ser construido como uma criatura viva, dotado por assim dizer de seu prdprio corpo; ndo Ihe podem faltar nem pé nem cabeya; ele tem de dispor de um melo € de extremidales compostas de modo ta que sejam compativeis uns com 0s outros e com a obra como um todo* (Fdro, 264C). Estendendo o aleance da retafora, assim como as partes do corpo tém diferentes formas ¢ fungbes — bragos, permas, asas € chifres — assim também as tém as partes do ensaio. Além disso, assim como diferentes animais exibem diferentes anato- ‘mias, assim também se passa com as ensaios floséfices: alguns sio mais complexos ¢ incomuns do que outos Tovlos, contudo, evoluem a partir de uma forma asia. Neste livro, sero discutdos @ forma mais bésiea da enstio € seus descendentes imediatos na escala da evolu- cio. Todas essas formas tém cabeca, tronco e cauda. Em {eros prosaicos, todo ensaio deve apresentar tes partes: -19- = Enssio Hlesstien — Bm verdade, cremos seres Tu um ser com relagéo ao qual néo se pode conceber nada, mater | (Prosiogion, 0. 2) ‘Nesta wltima frase, Anselmo nos diz que Proposigéo de fé vai usar: a defini¢ao de Deus como um ser com relaeéo ao qual ndo se pode conceber nada maton. Na frase | astro, anos le que propoito quar | que eniendamos: a de que Deus existe | assim, Angin sstnta em seu Pre | gion a seguinte concepgao acerca da fé e da | vando: ade que pode provar pela rasdo que | | Deus existe usando como premissa a pro- posigdio de que Deus é um ser com relagdo ‘a qual néo se pode conceber nada maior, 130 - Taticas para o texto analitico fsam-se diferentes titicas no texto analitco, entendi- ‘do em seu sentido amplo. Sto discutidas neste capt tulo sete das mais conhecidas e usadas entre elas: defi- nigoes, distingdes, andlise (no sentido estrito), dilemas, contra-exemplos, argumentos com reductio ad absurdum e raviocinio dialético. Como alguns desses tépicos sto bastante téenicos, desejo introduzi-los em conjunto antes de discutir cada um mais completamente nas sete segdes do capitulo (mas os discutiret sucintamente, fora da or dem em que so apresentados mas segdes a seguir). Come- 0 pelos dilemas. 0s dilemas sio iitels para introduzir problemas. Um dilema torna evidentes alguns aspectos contraditérios de ‘crenyas amplamente sustentadas. Como os dilemas prec: sam Ser resolvidos de alguma maneira, é preciso discutir alguns métodos de resolugdo de problemas. A reductio ad absurdum & um desses métodos, Trata~ ‘se de uma maneira indireta de o autor provar sua propria tese 20 demonstrar que a negacdo desta é absurda ¢, portanto, falsa. Como o oposto de sua tese € absurdo & falsc, sua tese tem de ser verdadeira, =~ 0 contra-exemplo & uma manelra de mostrar que alguma soluclo ou tese proposta ndo é correta: ele mostra ‘que algo esta erado sem mostrar dietamente que solucio ‘ou tse particular & correta, 0 método do conta-exemplo €um método de critica, nko de construgio de teorias. 0 raciocinio dialético & uma forma de pensar que pode ser adaptada a uma maneira de esiruturar um en- Salo, Ele comege com uma tese simples ¢ nfo quaifcada, submete-a a critica, revisando-a e reformulando-a varias veees, até que Se cheglue a uma tese complexa, sofistcada e adequada. O texto dialético, que & um registro organi- zado do raciocinio dialtico, € uma espécie de viilogo [vialogue) intelectual, em que todas as viagens laterais so registradas como aventuras necessérias para que 0 viajante alcance seu destino final 0 raciocinio dialético também pode ser usado como titica retorica para se fazer 2 chamada “andlise de con- ceito™ A andlise de conceito ¢ uma decomposigéo de um toneeito complexo em componentes mais simples, da mesma mancira que @ andlise quimica decompée um complexo quimico em elementos mats simples Todos os t6picos deste capitulo se referem a manci- ras de tomar mais claros ¢ precsos os ensaios. Uma maneira essencial de ver as coisas com clareza consiste cm dividi-las em diferentes categoras, isto &, fazer distin Go delas. Fazer uma distingdo requer, com freqaéncia, a definigdo dos termos que se empregam, dado que esses termos muitas vezes precsam ter um sigaificado p Talvez 0 modo mals bisico de ser claro € preciso consista em definir uma palavra ou expressio. A frase prae desqualificadora “E-apenas uma questio de semantica” € altanente refutavel, se tomada literalmente. Como a se- rmam‘ica tem relagéo com o significado, quando hi um desacordo semintico entre duas pessoas, elas discordam sobre o significado que querem atribuir a alguma coisa. E essa € uma questio significativa. (A frase “E apenas tuma questo de seméntica" pode ter sentido se for usada para indicar que no importa se se usa uma ou outra palavra para exprimir um certo pensamento.) 1 Definigées Nem toda palavra pode ser definida. Aqui esté a razio disso. Se toda palavra precsasse ser definide, mes- mo as palavras usadas para definir outras teriam de ser definidas; e estas igualmente teriam de ser definidas, ad ingintumy, ito & o processo nunca teria fim. (0 definiendum €-a palavra que precisa ser explicada; o definiens & a parte que expde © significado do definiendum) Logo, 0 processo de definigio tem de acabar em algum ponto. Isso inegivel. Mas a divida legitima que a maioria dos alunos tem & quando uma palavra precisa ser definida? ‘A resposta curta é uma palavra tem de ser definida se (1) € sada num sentido téenico e no se pode supor que © piblico conhega esse sentido ou se (2) for uma palavra comam usada mim sentido nao comum. Quanto a (1), deve ser ébvio que, s¢ uma palavra é usada num sentido teeni= co, se tem de definir esse sentido. Mas ¢ a segunda parte de (1} que causa mais problemas aos alunos: quando néo ams se pode supor que 0 publica (seu professor) conhece 0 sentido técnico da palavra? A resposta simples é “quase sempre’ Voce pode pensar que nio precisa definir uma palavra técnica que 0 professor usou. por achar que ele certamente sabe seu sentido, Embora muito provavelmen- te seja esse 0 caso, trata-se de um fato que mio € estrita- zente relevante para o problema, A questo € saber se voct pode supor esse conhecimento em seu ensaio. Lembre-se de que no capitulo 1 foi assinalado que a tarefa do aluno € mostrar ao professor que conhece algo sobre o tépico Aiscutido em seu ensaio. Assim sendo, o aluno tipicamente precisa definir toda palavra técnica que usa, visto que 0 ‘nus de provar que conhece essa palavra recal sobre ele. No tacante a (2), se se usa uma palavra comum, 0 palblico supée que seu sentido & 0 comum, a nfo ser que voce Ihe diga o contririo. Além disso, se o pibico tem o dliceto de supor que uma palavra é usada em seu sentido comut, 0 autor tem a obrigagio de usé-la nesse sentido, as alguns exemplos de maneira pelas quais se podem introduzir definigoes: 0 foco do artigo “Duis dogmas sobre o empirismo", de W. V. Quine, € que a distingdo entre proposigdes analiticas € sintticas no tem justficativa tebrica. As proposigdes analiticas slo definidas como proposigées verdadeiras em Virtude do significado de suas palavras. As propesigées sintéticas sio definidas como proposigdes que se tommam verdadeiras a partir de fatos empitios, Alegarei que Deus ¢ onipotente e onisciente, Defino “r & ‘onipotente™ como “x € capaz de fazer tudo o que € posivel 110 - fazer" ex € onisciente’ como “x € capaz de saber tudo 0 aque € possivel saber De acordo com Thomas Hobbes, Deus nio é justo nem injust, Ele designa por justiga no romper nenhuma aianga ce por injustiga, a quebra de uma alianga. Segundo Thomas Hobbes, Deus nao ¢ justo nem injusto Por meio de “r€ justo, ele designa "x no rompew nen rma alianga” € por *r injusto, “x rompeu uma alana’ Nao cabe aqui descrever os tipos de definigao nem todes os seus propésitos especiais. Basta-nos dizer que 0 propésito do uso de uma definigdo € tomar claro o sen- tido de uma palavra ou expresso. Dependendo das ne- cessidades do autor, pode-se fazé-lo por meio da descri- ‘gio do uso eal da palavra ou expressio (definigao des- critiva), da precisao do uso real dessa palavra ou expres- so [definisdo esclarecedora) ou da invengao de uma nova palavra ou da atribuigao de uma definiguo téentca a uma palavra existente (descrigdo cstipulativa). 'No que se refere aos tipos de definiga0, nos serd iil mais tarde uma breve descriso da idéfa clissica de de- finisdo por género e diferenga especifica. Como esses dois termos so técnicos, ¢ preciso explicé-los. De acordo com a tradigio intelectual medieval grega ¢ ocidental, toda realdade se acha onganizada hierarquicamente; conhecer alge € saber que tipo de coisa & esse algo, sua espécie. E essa especie € determinada por sua pertinéncia a um tipo mais geral de coisa (0 género), que se diferencia de outro tipo (outra espécie) gragas a alguma diferenca (uma di- aS ferenga especifical. Em conseqiéncia, toda realidade pode ‘ser caracterizada em termos de géneros e de espécies em virtude de virias diferencas especificas. Eis uma parcela dda classica divisto da realidade de acordo com essa id comhecida como a Arvore de Porfirio a partir do flésofo rneoplaténico Porfirio: 0 ser a“ Corpos Espititos (materiais) ‘rganismos: Nao-organismos (vivos) Aimsats Plantas (sensieis) Seres humans Animals (racionais) Cada palavra ou expressio em maitsculas designa tum género ou espécie. Cada item imediatamente abaixo de outro € uma espécie com relagio a0 item imediata- mente acima de st; € cada item que tem itens imedia- tamente abaixo de si € um género com relago a esses itens. 0 ser € 0 mals elevado género que existe; ele ndo € uma espécie de coisa alguma, Os seres humanos (no amo da extrema esquerda) sio uma espécie das m: inferiores; nto sio género de coisa alguma. Logo, 0s ter mos genero ¢ espécie sho relatives, Um género € sempre 6 uma categoria mais geal com relaglo &s espécies. As 0-ser & um género com relagho a corpos e esprites, que slo espécies de objetos. Mas corpos, para ficer num das Iados da divisio, € um género com relagio a organismos € néo-organismos, sendo organisms um género com re- lagi animaise plantas, e asim por diante. A categoria dos seres humanos & uma espécie das mais inferiores e por isso nao € um genero com relacao a coisealguma (Como se trata de uma divisio de tipos gerais de coisa, individuos como Adio, Beth e Carol nao séo parte do ‘squemna. Diz-se que os individuos exemplificam espécies fu pertencem a espécies) Os termos entre parénteses indicam a diferenca que distingue uma espécie de outra. A diferenga € dita espe- cifica porque, em conjungdo com um gener, era consi- deraia a causa da especie: Logo, @espécie do ser humana comiste no gnero animais e na diferenga espectica de ser raciona, Iso explica a definigao clés ‘Um ser humano é um animal racional Sem uma diferenga, ndo haveria nenhuma disting%o. Essa questo ¢ discutida um pouco mais na proxima segzo. Que forma deve assumir uma definigdo? Os fldsofos lidam muitas vezes com objetos abstratos ou a0 menos falam com freqiéncia abstratamente sobre objetos como a vertade, a beleza ¢ a bondade, Tradicionalmente, isso os tem levado a tentar definir verdade, beleza e bondade, ‘Mas comecar com uma forma nominal abstrata resulta, fem muitas ocasides, em definigdes rigidas ou obscuras. Por exemplo, 37 - = Ensale ttossticn — Ser justo, para uma pessoa, dara outa pessoa aquilo que primeira pessoa deve dar & segunds, Inspirados por certos desenvolvimentos da légica formal, filésofos do século XX pereeberam que muitos substantivos eram abstrafdos de expressdes predicativas ¢ que estas apresentavam definienda mais inteligives, Isso levou as seguintes mudangas: Forma original Nowa forma Justiga 1 é justo Saber =r sae que p Verlade € verdadciro Promessa x promete que p a um destinatirio y Desculpa 1 deseulpa y por uma agio a Usando-se a forma predicativa, a definigfo de justi- ssa acima assume a forma mais palativel: 16 justo com yse ¢ somente se x di a.y o que x deve dat ay, A partir desta definigao, sabemos 0 que toda frase como “Adio é justo com Beth” ou “Carol € justa com David” significa. Substituem-se simplesmente os lugares marcados por e y pelas formas nominais apropriadas Consideremos outro exemplo: a nova formulagio da de- Finigdo classica conhecimento ¢ crenga verdadcica justificada se toma sabe que p se © somente se x tiver justfieativa para acreitar que p. =e E, quando tornamos a definigdo mais explicit, ela fica assim + sabe que p se somente se (0) € verfade que ps (2) x acreica que p; (3) a cenga de de que p @ justiicata Esta ita definigdo faz com que os componentes do saber se mostrem com mais destaque do que na primeira, Uma iiltima observagio. E muito comum que os fi- lsefos precisem definir pares de termos que desejam que seam contraditério, como verdade/falsidade ou obetivi dade/subjetividade (veja 0 capitulo 2, segao 5). A mancira apropriada de fazé-lo de modo a garantir que os termos definios sejam genuinos contraditérios consiste em de- finir um termo e em seguida definir 0 outro simplesmente ‘como tudo 0 que nao é 0 primeiro. Fis dois exemplos: “x & verdadciro” significa “x & uma frase c x correspond ao fata f “x €falso" significa “xr nio € verdadei “x € bjt" significa “hd uma pessoa P tal ques poe ser julgado por P em virtue da experénca dicta de P. “1 € chev significa “r ndo& subjetvo™ 2 Distingbes Os alunos de filosofia da Idade Média recebiam, 20 que parece, a seguinte regra pritica: diante de uma con- = 139 - ttadigdo,faga uma distingdo. Essa regra estimuta 0 abuso da formulagio de distingdes e terminou por levar & ma reputagdo dos filbsofos escolisticos, chamados de “Ienha~ dbores da liga” "separadores de fos de cabelo™e “duces” (a panic de John Duns Scotus). $6 se devem fazer distin- ces quando necessirio ¢ justificado, Mesmo quando uma distingio se justifica, ha boas ¢ més maneiras de formula. Uma boa distingao, chamada uma distingdo apropriada, apresenta duas caracterstcas: seus fermos so exaustivos ¢ mutuamente exclusives. Um par de termos € exaustive quando pelo menos um dcles se aplica a cada objeto do grupo que se supde distinguit. Um par de termos € mutuamente exclusiva quando ape- nas um dos termos se aplica a cada objeto ‘A maneira de assegurar esse tipo de divisto dos objetos & usar pares contraditrios de termos: vermelho/ndo-vermeho aul/nio-zzul hhumanojndo-humano Justo/nao-justo tlemente/ndo-clemente A grande vantagem das distingdes apropriadas é 0 fato de fornecerem uma clara categorizacio dos objetos. Ha um lugar para cada coisa, ¢ todas as coisas esto em ‘scu lugar. Podemos ver isso na Arvore de Porfirio, na segio 1 acima, Uma das personae de Soren Kierkegaard relata uma classficacao ca humanidade segundo as ca- tegorias “funciondrios, empregadas domeésticas e limpa- ddores de chaminés" (Repetition, ed, ¢ trad. por Howard ~ M0 — V, Hong e Edna H. Hong, Princeton, Princeton Univer- sity Press, 1983, p. 162). Esses termos nao sao eviden- temente exaustivos, nem mutuamente exclusivos. Uma distingdo imprépria ainda mais elaborada é a que Jorge Luis Borges supostamente relata em seu ensaio “A lin- fucsfem precisa de John Wilkins”, Numa obscura enci- clopédia chinesa, fazem-se as seguintes distingdes entre (os animais: “(a) 08 que pertencem ao imperador,(b) os embalsamados, (c) aqueles que sfo treinados, (@) ba- corinhos,(e) sereias, (f) os Fabulosos, (ig) cées perdidos, (h} todos os que sio inciuidos nessa classficagao, () todos os que tremem como se estivessem loucos, j) os inumeraveis, (K] 05 que s30 desenhados com um fino Pincel de pélo de camelo, (1) outros, (m) os que acaba~ ram de quebrar um vaso de flores, (n) os que, 2 distén- cia, se assemelham a moscas” (Other inguisitions, 1937- 1952, trad. por Ruth Simms, Nova York, Washington Square Books, 1965, p. 108). Deixo a0 letor 0 exercicio ‘de explicar por que 0s termos ndo sio nem exaustivos nem mutuamente exclusivos. Embora seja ficil ver que algumas distingbes nfo so apropriadas, como, por exemplo, vermelhofazul ou ‘ciofanimal, isso néo se aplica a outras. Considere macho} feémea. Embora pareca apropriada, esa distingao mo 0 & Os hermafroditas t@m caracterstcas do. macho da mea. Nao séo nem um nem o outro. Tendemos a esquecé- los, porque cles constituem uma pequena minoria, ual seria. a maneira correta de dividir as pessoas ‘em sexos? As distingdes macho/no-macko e fémea/ndo- fémea séo apropriadas, mas um tanto estranhas. Cada =a - uma delas parece favorccer um sexo em detrimento do outro fas pessoas tm sexo; 06 pronomes tém génera). Uma tancia de evitar a promogio de um desses sexos em detrimento do outro consste em distinguir entre se- x0s normals e nfo-normais e depois dvidir o$ normais fem macho € fémea. (E necessiro dizer que sexos nao- normals € una categoria biolgica descrtiva e que nfo € ‘oral nem psicologicamente normatva?) Um exemplo famoso de distingto filoséticaimpré- ria tomada por apropriada € dados dos sentidos/bjeto material, Uma sombra néo & um dado dos senidos nem tum objeto material. (Veja J. L. Austin, Sendo ¢ percep- Gio, Martins Fontes, S40 Paulo, 1993. Para outro exem- plo, veja John Searle and fis erties, ed. por Ernest Lepore e Robert Van Gulick, Oxford, Blackwell Publi- shers, 1991, p. 141) Outea a dstingao entre aparéncia € realidade. As aparéncias das sombras, das. imagens sspeculares & dos arco iis consicuem sta realidade; 0 mesmo se aplica as aparénctas que consttuem a cons- ciencia de sua realidade ou sio pare dela. (De modo ais controverso, os pensamentos secretes de Zeus 130 sto aparéncia nem realidade) Consideremos agora as dss manciras de fazer wna Aistingao: por caracterizagio e por exemplo. Comegamos com a segunda, Pode-se fazer uma distingio dando-se exemplos suficientes para levar o leit a compreender a que se resume a distnglo. Eis um exemplo de um autor fazendo uma distingéo por meio do ofereimento de exemplos: - 1 Ha dois tpos de trabalho: alienado e ndo-alienado. 0 ta- balho de um camponés, de um mecénic e de um burocra- ta € alienado, 0 trabalho do artesio, do poeta e do esta- dista € ndo-alienado, A desvantagem da caracterizagao por exemplo € que © principio da distingio pode nao ser evidente. Claro que esse € 0 caso da classificagio chinesa de Borges. £ facil para o disseminador de uma distinga0 enganar a si mes- mo. Se s6 se apoiar em exemplos, € possivel que o autor acabe por misturar duas distingdes diferentes. Logo, a caracterizagio € teoricamente o melhor método de estabelecer uma distingdo, j4 que especifica 0 principio ou propriedade que diferencia os termos. Eis um exemplo de caracterizagio da distingio entre trabalho alienada e néo-alienado: a dois tipos de trabalho: alienado nfo-alienado. O tra balho € alienado quando 0 trabalhador nao tem pleno controle de seu trabalho ou no recebe todo o valor que tste produz. O trabalho ¢ nda-alienada quando nio exibe cases fators de alienagio. E muitas vezes aconselhdvel combinar os dois mé- todas, como na passagem: Ha dois tpos de trabalho: alienado e néo-alienad. 0 ta- batho alienado quando o trebalhador nfo tem pleno controle de seu trabalho ou nio recebe todo o valor que ‘ste produz, coino, por exemplo, o trabalho de um campo- nés, de um mecénico e de um burocrat. 0 traballo &no- alienado quando nio exib esses fatores de alienaglo, como € 0 caso do trabalho do artesdo, do poeta e do estas =a - Como minha discussio da caracterizagdo de uma distingdo sugere, toda distingao depende da existencia de alguma propriedade de que so dotados todos os termos fe um grupo ou categoria © de que carecem todas as coisas do outro grupo ow categoria, mesmo que 0 autor nao saiba articular a diferenga ‘Sem uma diferenca, no haveria nenhuma distingo As vezes as pessoas tentam estabelecer uma distingao € fracassam parque na verdade nao especificam uma dife- renga. E isso que diz @ expresso um tanto imprecisa wma distinedo sem diferengo. (Fla é imprecisa porque, sem uma diferenga, no ha nenhuma distingdo, mas s6 a tentativa fo a aparéncia de uma) Por exemplo, no filme de Woody Allen Poderosa Afrodife, umm pai inepto tenta salvar @ situagao propondo distinguir entre o chefe da familia (cle) € 0 tomador de decisdes (a mulher, mas essa é uma dis- tingio sem diferenca, A mulher € a chefe da familia jus- tamente por ser a tomadora de decisdes. (Ele seria no maximo 0 chefe nominal, isto é, uma pessoa que tem 0 titulo de “Chefe", mas nao tem o poder de um.) Um exem- plo relacionado vem da Igreja Anglicana. Quando 0 Ato de Supremacia precisou ser reformulado, alguns elérigos relutaram em chamar Elizabeth I “Chefe da Igreja", como fora chamado Henrique Vill, por ser ela uma mulher. Era seu desejo fazer uma distingdo, Assim, chegou-se ao termo Govemnadora. Porém, o Ato restituiu-lhe exatamente os rmesmos poderes que tivera Henrique VI, caracterizando- a como “suprema... emt todas a5 coisas espirituais ou ecle- slisticas. Logo, a alegada distingéo entre Chefe e Gover- nadora é uma dstingo sem diferensa. Na Inglaterra, hi = 8 - igualmente a tradigio de distinguir entre os dois corpos do reit 0 fisico © 0 politico. Os rebeldes da Guerra Civil In- less alegavam estar tentando libertar o rei politico Carlos V ac combater a pessoa Carlos Stuart. Os partidarias do rei julgavam que essa alegada distingao entre os corpos real e natural de seu ei era sem diferenca Permita-me um exemplo final. Um ministro da de- fesa francés tentou certa ver defender a decisio de seu pals de retomar os testes nucleares dizendo, na realida- de: "0 governo frances nao esta testando bombas nuclea- res. § preciso fazer uma distingdo entre bombas ¢ arte- fatos que explodem. 0 governo francés esti testando arcefitos nucleares que explodem, no bombas’, 0 ministro {oi rdicularizado por estar tentando estabclecer uma dis- tingdo sem diferenga, Mas os testes continuaram, 3 Anilise A anilise € anfloga a definigio, As definigdes pro- ‘curam explicitamente dar o sentido das palavras. As analses procuram explicitamente dar as condigdes neces- sirias e sulicientes para os conceitos. Como as palavras exprimem conccitos, as definigies so a contraparte lin- istica das anilises. Muito do que se disse sobre as definigdes aplica-se s analises. Talvez se devesse tratar cesses dois tdpicos em conjunio, mas creio que pedagogi- ‘camente faz sentido traté-los separadamente. Toda anlise, assim como toda definigio, consiste ‘em duas partes, um analysandum e um analysans. 0 analy- = 145 - sandum & a nogdo que precisa ser expicada ¢ exclarecida devido ao fato te Raver neta algo que nao é compreen- ido. 0 analysans € a parte da andlise que explica e esclarece 0 analysandum, seja 20 decompd-Io em partes, seja 20 especificar suas telagBes com outras nogdes. Uma andlise tenta especificer em seu anclsans as condigies necessias e sufckentes para 0 conceit expres- so no analysandum. Condigdes necesdras sio aquelas que © analysans tem de conte a fim de evitar ser demasiado fraco. Ser um organismo & condigio necessria para set hhumano, porque um ser humano tem de ser um organism, ‘mas ser um organismo nao € condigfo suficente. Os cies 80 organismos, mas nia so humanos. Condigdes sufi- cientes sio as que basta para garantr que 0 conctito presente 20 analysans seja satisfeto. Ter dee mildes de délares em agbes da Microsoft € uma condigéo suficiente para ser rico, mas nao € uma condiglo necessaria, visto que uma pessoa pode ser rica sem ter dez milhdes de dllares em agBes da Microsoft. Ter dea mil quilos de ouro também é uma condigio sufciente para ser rico, Ha mais um ponto preliminar a water. Consideremos 4 seguinte anslise da condigto do celibato maseulino, Alguma coisa € solteiro se e somente se (1) nin & casada; (2) € adult; i (3) @homem: (fo Go © en 0) Trata-se de um bom comeco, mas talver nao seja adequado. Pode-se pensar que, como 56 seres humanos so soteiros, €necessério adicionar uma quarta condigao (4), humana = 46 - Mas jovens focas machos adultas que sinda io acasalaram também sto chamadas de solteitos. Nio é necessrio alegar aqui se se deve ou nio adicionar a ‘quarta condigéo, © por duas razées. Em primeiro lugar, mina intengdo & dar um exemplo de anilise, © no defender essa andlise. Em segundo lugar, o que se deve perceber aqui é que estabelecer um anafysans da manera explicia como 0 fiz agora toma claras os termes do desacordo dos propositores © dos opositores quanto & designacio como solteiros das facas machos adultas que ainda no acasalaram, Consideremos agora uma andlise genuinamente flo- séfiea de um conceit ‘Uma pessoa $ sabe que p se ¢ somente se (i) & verdade que p; (2) S acredita que ps (3). S esta jusificada em acredtar que p. Esta analise € bastante atraente (compare-a com a definigéo de “r sabe que p’, na segéo 1). Ela tora bem claro ao menos um elemento do saber: ndo é possivel saber uma coisa falsa. Isso nfio mostra que é possivel saber algo que nao € verdadeiro. Mostra apenas que as vezes as pessoas se enganam quanto quilo que pensam saber. Nossa andlise da saber também 0 equipara & crenga. 0 saber é segundo a anélise acima, uma espécie de crenga Isso é mais discutivel. Tém sido apresentados alguns argu- ‘men‘os ponderivels cuja conclusio € que o saber ¢ a cren- 62 sio estados psicolégicos distintos. Mais uma vez, no a= é nosso propésito alegar que a andlise acima ou qualquer ‘uta esieja ou do corte, Por fim, a condigfo (3) nao € por certo adequada tal como esté, Para que essa seja tuma anzlise satsfatria, €necessério que se especifique o aque significa estat jusificado em acreditar em alguma cose, Mais uma vez, nio pretendemos discutir 0 mérito dda explicagao. Basta assinalar que a analise torna mai claras as questOes a debater. Hi trés maneiras pelas quais analises propostas co- mumente estdo erradas: Uma andlie pode ser dfetuosa por (1 ser circular, (2) ser Forte dems, (3) ser demasiadamente fraca. Discutiri esses tr tipos de defeito, nessa ordem. Uma anise € circular se seu aualysandum, ou ter rv, corte NO analysans. Por excmplo, se se tenta tnalisar“congelamento" € um ero propor como analysans “algo que acontece com um liquid quando ele congel 0 problema é dbvio: se alguém precisa de uma andlise de “congelamento” porque mo sabe o que é, de nada adian- ta dlzertne que se trata de algo que acontece com um Tiguido quando ele congela. Isso nfo torna a nocio de congelamento nem um pouco mais clara ou compreensi- ‘el porgue, como 0 auaysans inclu a propria nogéo de ongelamento, fem-se de entender isso antes de_com- preender o analysandum, o ato de congelar. Se, por outro Tado, alguém jé entende 0 que € congelamento, nao ha sentido em fazer uma andlise disso. Em ambos 0s casos, na medida em que a compreensto de um analysans de- mo-chat = 4a ~ = Titleas para 9 texte anatitice — pende do entendimento do analysandum, essa analise nao € informativa nem ii Contudo, essa anilise nao € de todo desprovida de informagaes. Ela diz, de fato, que o congelamento é algo que acontece com liguidos, e a pessoa que precisa da analise pode no saber disso antes de Ihe ser apresentada essa analise circular. Mas observe-se que a informagio vvent da parte do analysans que nao depende de nenhuma conmpreensio prévia da anilise do congelamento. E importante distinguir esse tipo de circularidade de uum fendmeno com ele relacionado © que por vezes se presenta sob o mesmo nome, Supona que temos para propor algumas anzlises que tenham por analysanda A, B, C.., Z. Suponha ainda que A ocorre como parte do ‘analysans de B, B como parte do analysans de C,.. © Z coma parte do analysans de A. ra, parece, a principio, que alguém que néo tenha ‘entendido nenhuma dessas nogdes nao seria ajudado por neriuma dessas andlises. Se essa pessoa ndo compreende rerum dos anafysanda e se cada analysans contém um ddos analysande, 20 que parece ela nao poderia igualmen- te entender nenhum analysans; ela ni teria como entrar no circulo, Em casos extremas, isso pode de fato ocorre. De modo geral, no entanto, alguém que depara com um tal grupo de andlises jé tem uma compreensio razoavel- ‘mente boa de ao menos uma (e possivelinente de mais de uma) das nogées envolvidas. Se isso se da, ela pode ad- quirir ao menos uma compreensio parcial das outras, ‘bem como uma compreensio melhor € mais clara daquela com a qual comecou a perambular ao redor do circulo © = a= ver como essa primeira nogéo se vineula com nogées a essa relacionadas. Logo, Se se estender a um ntimero bem, ‘grande de analises (, quanto maior esse mimero, melhor), 4 circularidade deixari de constituir um defeito. Mas essa iddia de andlise supde que o objetivo da analise filoséfica seja @ compreensio, Nem todos parti- Tham essa concepgéo. Alguns consideram 0 objeto uma redugdo. A iia por tas do teducionismo € a de que, tal coma no caso das teorias cientificas, uma teoria flostien € preferivel a outra se requer menos tipos distinto de objeto para explicar a realidade. Logo, uma teoria que requeira tum ou dois tipos de objeto & superior @ uma que precise de 27 tipos basicas Iso explica a preferéncia filoséfica tradicional pelo monismo e pelo dualismo. (0 prinepio de que as entidades nio devem ser multipticadas além do necessirio € conhecido como “navalha de Ockham”, a partir de William de Ockham, o filésofo inglés do séeulo XIV que o enunciow) Suponha que temos uma nogto de ‘algum tipo de objeto e que € possivel Fazer uma andlise dela em que o analysans nfo contenha mencdes a esse tipo de objeto, 0 analysandum sera entio teoricamente dispensivel, visto que 0 que quer que desejemos dizer sobre cle pode ser dito, em vez disso, acerca do analysans Por exemplo, pode parecer que as mimeros tenham de ser reconhecidos como objets, visto que dizemos coisas como “dois mais dois sio quate “ha um nero integral que € tanto par como primo”, enunciados que s6 parecem ser verdadciros em fungéo de certos fatos sobre 08 mimeros Mas se pudermos descobrir uma maneira de analisar a nocéo de nimero, de adigio, de ser primo ¢ assim por = 150 = — Titicas para 0 vexta anativics — iante inteiramente em termos das caracteristicas de ob- _jetos fisicos, poderemos passar sem a nosdo da existéncia ‘dos miimeros, porque poderemos dizer que “dois e dois ‘sio quatro” € apenas um enunciado sobre objetos fisicos numa forma grandemente abreviada. Do mesmo modo, lum materialista redutivo tentara mostrar que varios tipos| de abjeto que no parecem feitos de matéria, as mentes| fem particular, potlem na verdade ser analisados em ter~ ‘mos materia. Em alguns casos, a redugio requer mais de um pas~ 0, isto & depende de mais de uma anslise. Thomas Hobbes, por exemplo, propés reduzir todos os fenémenos a movi- ‘mentos de particulas materiats. Ele tentou analisar gover- nos em termos das agoes dos seres humanos, as agies dos seres huumainos em termos dos movimentos de seus 6rgios fe membros e estes, por fim, em termos dos movimentos das particulas materiais. Esta, contudo, claro que nunca se pode permitir que tum grupo de andlises reducivas forme um citculo, por ‘maior que ele seja. Um analysandum que se vincula a um ‘ana'ysans subseqllente no foi reduzido nem eliminado da teoria filoséfica, o que vicia todo 0 projeto do redu- ciorista, Esse fato apresenta algumas conseaiiéncias pa- radoxais. Ha muitos casos em que € ébvio que A pode ser anaiisado em termos de B € B pode ser analisado em termos de A, mas nenhum dos dois € mais simples ou mais bisico do que 0 outro. 0 reducionista que leve @ séria a navalha de Ockitam vai presumivelmente querer adotar uma dessas redugOes, porém néo poderd adotar as, dduas sem formar um circulo, Como ele deve escolher? -as1- = Ensaio fitosstics — Permita-me que eu me volte asfora para outras manei- ras pelas quais uma andlise poderia ser defetuosa, 2 saber, ccomo pode ela ser forte ow fraca demais. Uma andlise sera demasiadamente forte se for possivel dar um exemplo da nnogio sob analise que nio_satisfaga todas as condicées ‘especficadas no analysans; inversamente, seré demasiada~ mente fraca @ andlise em que seja possivel descrever algu~ ma coisa que satistaga todas as condigées estabelecidas no analysans, mas que néo é um exemplo do analysandum. Considere-se, por exemplo, @ seguinte andlise do celibato: ‘Agua coisa & solteiv se ¢ somente se (0) no & casada; (2) & hina’ e (6) € humana ssa andlise € muito fraca, porque as eriangas satis- favem essas trés condigies, mas ndo figuram entre os slteiros; apenas adultos #40 soltelos. Consideremos agora uma analise mais forte do cel Dato: Alguma coisa € solteiro se ¢ somente se (1) nao é casada; (2) € homem; (0) € humane (4) € adult; (6) Joga tenis. Essa andlise € muito forte; é fécil encontrar solteitos que nao jogam ténis ¢ que, portanto, nao preenchem a 0 (5). Sg Uma tinica andlise pode ser ao mesmo tempo muito forte © muito fraca. Por exemplo, podemos combinar os efeitos da andlise do celibato que € muito fraca com os da que € muito forte: Alguma coisa € soto st somente se (i) mao casada; (2) € homer (2) € humana: € (5) ga tn Como hé solteiros que nao jogam ténis, a andlise muito forte. Como ha criangas do sexo masculino nao casaias que jogam tenis e nfo sto solteias (porque sto Jovens demaisl, a andlise € muito fraca, ou seja, & @ um ‘6 tempo muito forte e muito fraca. ‘Uma analise tenta especificar em seu analysans as condigdes necessérias e suficientes para 0 conceito ex- presio io analysandum. Condiges necessitias si0 aque- las que 0 analysans tem de conter a fim de evitar ser iuiio fraco. Condigoes suficientes sio as que tém forya suficiente para garantir a plenitude da realizagao do con- ceito designado no anaiysandum. A anélise do celibato que deixou de fora a condigdo (4) era muito fraca por ter fomitido uma condigao necessiria. Em conseqiéncia, as condigbes nfo eram sufieientes para especficar 0 concel- to. & possivel especificar condigées suficientes que nio scjam necessérias. As condigées (1) a (5) acima sio con- digées suficientes para o celibato, mas (5) nao € uma condigdo necessiria, sit E ortodoxo manter que os termos contidos no ‘analysans so mais bésicos ou primarios do que os ter- mos do analysandum, Hi, no entanto, termos coreelativos {que so igualmente primarios. (Dois termos sto correlati~ vyos quando a andlise mais simples de um termo for em temmos do outro) Isto é ¢ Incorreto dizer que um seja mais basico ou primérfo que 0 outro, A maioria dos ter~ mos alegadamente cortelativos ¢ contestivel. Por exem- plo, alguns filésofos chegaram de fato a definir mente c matéria nos seguintes termos: ‘Mind; no mater, [Mente: nfo-matéria/nenhum problema.) ‘Matter: never mind. [Materia: munca mente)ndo se import] E facil ser um dualista se mente e matéria so ge- nuinamente termos correlativos. Os termos particular e universal também tém sido tratados, se bem que nem sempre, como termos correlativos: um universal € algo que agrupa particulares numa classe, sendo um particular algo que é agrupado numa classe por um universal, mas ‘que mao agrupe coisas. Alguns pares de termos que inicialmente parecem termas correlativos paciem mostrar que nio 0 s20. Por cexemplo, ¢tentador alegar que maridofesposa consttuem termos correativos a partir da idéia de que cada um deles € definivel em termos do. outro: Um marido € uma pessoa que tem uma esposa. Uma esposa é uma pessoa que tem um marido. Mas, embora seja verdade que 0 conceito de marido nndo & mais basico ou primario do que o de esposa, isso = 54 — ‘nao implica serem eles termos correlativos. Cada um deles| € definivel em termos de alguma coisa comum aos dois: Um marido € um ednjuge masculino. Uma esposa é um ebnjuge feminin, 4 Dillemas: Cutra importante estratgia analitica usada com fre aiércia na elaboracio de ensaios flosficos envolve for rulasio de-um problema em forma de dilema. Uma das raabes paraiso €0 fat de ser comum um projet flsdtieo Jnvestgar ¢ corigir nossas erengas amplamente mantis, porém irecfletidas. Muitas dessas crengas mostram, a partir a teflexdo, ou que estio em conflito com alguma outra ou (que sio inconsistentes. 0 mesmo se aplica ainda a varias crenjas desenvolvidas depois de um longo period de refe- xo. E comum que uma visio estja em confit com outra Visto esposada pela mesma pessoa; ou um texto ndo & claro € uma interpretago plausvelconfita com outta visto plau- sivel em outra parte desse texto. Em todos ses casvs, a tensto ou inconsisténcia ene textos ou crengas podem ser cexplccadas por meio da formulagéo de um dilema No capitulo 2 foram explicadas as formas vidas de inferéncia de dilemas construtivos edestrutivas. Podemos ddenomina-los dilemas formais, visto que eles nada dizem acerca do conteido das premissas ou conclusées. Num sentdo mais conhecido de dilema, um dilema sempre cenvalve a apresentagdo de alterativas que sio de algum modo conceitualmente desagradaveis. Por exemplo, con- sidere este angumento, que contén um dilema material = 195 — Se o determinismo ¢ vertadeiro, os sees humanos nao so responsiveis por suas agées; ¢, se o indeteminismo & verdadeio, 06 seres humanos néo causam suas prépias agGes. Ou o deteminismo € verdadeito ou o indeterminismo 6 verdadeiro, (Ou os seres umanos no sio responsiveis por suas agbes ou ‘0s seres humanos tio causam suas priprias oes [As altemativas expressas na conclusio slo desagra- dliveis porque os seres humanos querem ser responsiveis ppor a0 menos algumes de suas agdes © desejam ser a causa de sias ages (Observe que dilema formnalfailema material nio sto termos mutuamente exclusives) “Um dilema pode constituir 0 ndcleo de um ensaio E comum que nao requea mais do que uma ou duas frases introdutéias ¢ um telaxamento do estilo ascético da logica formal, Considere 0 fragmento de ensaio a se- sui, que incorpra o exemplo de um ditema constrtivo: E mito importante compreende a natureza das ages hu- tmanas, «fim de compreender a natureza dos seres huma- nos Nao obstante, 2 natureza das agoes humanas dé angen a perplexidades,ensjando o seguinte dilema, Se 6 deterinismo € verdadeito, 0s seres humanes no s30 responsiveis por suas ages; s¢ oindeteminismo € ver- dadeiro os eres humanos no causam suas préprias ages. ‘Mas ou 0 de‘erminismo € verdadero ou o indeterminismo verdadero, Assim, ou os Sereshhumanos ndo sio respon séveis por suas agdes ou 08 seres humanos no causam suas prprias agées. O objetivo deste ensaio € defender uma resolugio desse dilema 156 - Embora seja necessério trabalhar com mais detalhes esse fragmento de ensaio — é preciso fornecer definigdes, explcar por que a causlidade exci a responsahilidade tte, —, ele € um comego. Como os dilemas materiais sio coveluidos com alternativas desagraddves, os fl6sofos tentam resolvé-os. Como os dilemas consrutives © des- tnutvos sio formalmente valde, a unica mancira de resivé-los consist em mostrar que uma das premissas € fals. Como eles apresentam dias premissts, ha das for- ras padrio de fzt-o: mostrar qué a premissaconjuntva, composta por dias proposigdes condicinals,¢ flsa oy 4 mostrar que a premissa disjuntva € falsay (Pin. J.— Mostrar-que a premissa disjuntiva € faléa reeebe 0 *“” none deJicér entre os chifres do dileni@) Mostrar que a wremissa_disjuntiva é falsa € mostrar_que_ambas_as flsuntas sio falsas € que hi uma terccra possbilidade ‘que é verdadeira. Considere o seguinte dilema: 5 Holes estiver eerto, as seres humanos nio passam de rmquinas;e, se Hume estiver certo, os seres humanos no tm nenhuma existéncia substancal Ou Hobives esté certo ou Hume esti certo, os ses humanos ado pasam de mlqunas ov wo tm euma exsténla substance cil ver que esse diema pode ser resolvido por reo da demonstra da falsdade da premisa dijuntiva ‘A segunda premissa aprsenta uma alteraatva fla. As filosofias de Hobbes ¢ de Hume nao sao a tinica escolha. Fé inimeros causa esclher. Nao € fc dermtar os bors dias, dado que eles costamam ser formuladas com wma ate — tnasle tiazstice — premissa disjuntiva que exaure ou parece exaurir as al- temativas, como é 0 caso do fragmento de ensaio acima, minismo € verdadeiro ou 0 rece cobrir todas as pos- sibilidades; nao hi outra alternativa. Mas o dilema pode ser suscetivel 20 outro método de resolucao. Mostrar que a premissa conjuntiva € falsa recebe 0 nome de “pegar 0 dilema pelos chifres’ Consiste em ‘mostrar que a0 menos uma das conjuntas ¢ falsa. O di- ema do fragmento de ensaio acima pode ser objeto da agdo de pegar 0 dilema pelos chifres. Nesse caso, isso envolve mostrar que a primeira proposigio condicional dda premissa conjuntiva € falsa: "Se o determinismo é verdadeiro, os seres humanos nao slo responsiveis por suas agdes’ Alguém pode alegar que, embora o determi nismo seja verdadeiro, os seres humanos sao responsive por suas agdes, porque os setes humanos so responsé veis pelas agdes que causam, e 0 s80 porque as causam. Se se seguir essit linha, Incorporando-a a um ensalo, 0 resultado se pareceri com: € mito importante compreener anata das ash manasa fim de compreender a naireca dos sees hua nos. Ni abstan, a natreza das ates hangs dé mar sem a pepe, enxjando seu dna, Se 0 dle € verdad, os sere humanos no so re onsives or sus age se ones & ver dei & sees humans no causam suas prpras aps. Mas oo determina €veradin oo ndetemnsno € verdad, Asin, ou 0 ses humanos no so espon- seis pr suas ages ou os sees humanos no causa suas = 158 ‘proprias ages. 0 objetivo deste ensaio € defender uma re- solugdo desse diem, Alegarei que a primeira premissa & false porque @ primeira conjunta, “Se 0 determinismo & verdadero, s seres humanos no sio responsiveis por suas gies, € false, porque, anda que o detenminism seja ver- dadeio, os seres humanos slo responsiveis por suas ages; les 0 so porque efetivamente as causa Hé um terceiro método de lidar com dilemas: produ- ir am contradilema. Isso consiste tipicamente em pro- duzir um dilema com a mesma premissa disjuntiva, A prenissa conjuntiva conserva seus antecedentes, mas seus conseqiientes so de modo geral contririos as disjuntas da conclusao do dilema original. 0 fragmento de ensaio a seguir contém um dilema e um contraditema Acexisténcia humana pode parecer absurda. Esse aparente absurdo vincula-se com questOes acerca da existéncia de Deus, da liberdade humana ¢ da salvacio. Isso enseja 0 seguintedilema: se Deus existe, 0s seres hummanos ro so livres para determinar sew proprio destino; e, se Deus no existe do ha esperanga de salvago eterna, Ou Deus existe fu no existe, Assim, ou os sees humanos no so livres para determinar sen proprio destino ou no hi esperanca de salvagio eterna. Tsse dilema ndo esgota, contudo, 0 assunto, como 0 demonstra o seguintecontrailema: se Deus exist, hd es- peranga de salvagio etema; , se Deus no exist, os seres Jhumanos sio livres para determinar seu proprio destin, Logo, ou hi esperanga de salvagdo eterna ou os seres Jhumanos sdo lives para determinar seu priprio destin, ~~ Produzit um contradilema nao refuta por si sO um dilema, [sso no mostra que o dilema original nao € sélido. B bem possivel que a conclusdo do dilema e a do contradilema sejam verdadeiras. Mas os contradilemas indicam, de fato, que o dilema correspondente no ¢ coc- rente, Uma maneira de mostrar a falta de coeréncia é indicar que 0 dilema nio leva em conta todas as consi- deragbes relevantes para a questéo. 0 fragmento de en- saio acima torma explicito que o dilema nao leva em conta todas as questdes relevantes para determiinar se a vida humana lem ou ndo sentido, O dilema so registra 0 lado negativo da existéncia ou inexisténcia ce Deus, mas no o seu lado positivo. Isso mostra que o dilema, embora possivelmente sélido, nao é coerente ‘As vezes 0 contradilema indica que as premissas do tilema original sio contraditérias. Conta-se a historia de tum sofista que concordara em ensinar um aluno a ser advogado com a seguinte condigio: o aluno nao teria de pagar pelas aulas, 2 nao ser que danhasse sua primeira ‘causa. Como o aluno rinca conseguiu causas depois de completada sua educacdo, o sofista 0 processou. 0 aluno defendeu-se construindo 0 seguinte dilema: Se ganar esa cause, no teri de pagar a meu mestre (visto que ele teed perdido seu proceso por pagamento). Se perder eta causa, nio tere de pagar a meu meste (visto que, por nosso contato orignal, nao tenbo de Ihe agar se perder minha primeira caus. ‘u perco ou ganko esta causa. Nio tenho de pagar a meu mestre. aie 0 sofista replicou ao aluno com um contradilema: ‘Se eu ganar esta causa, meu aluno tem de me pagar ‘Se eu perder esta cause, meu aluno tem de me pagar (visto que teré genho sua primeira causa} ‘Gu ganho ou pereo esta causa Mea aluno tem de me pagar. 0 fato de tanto o dilema coma o contradilema serem vides suas conclusBes contraditérias sugere que hi alguma contradigio nas premissas. Contudo, ha mais uma coisa a notar quanto a esses ois argumentos: as conclusbes nao sto_proposigdes disjuativas, Se esses argumentos tivessem sido apresenta~ dos de maneira mats explicita, a conclusdo do primeiro seria “Ou nao tenho de pagar a meu mestre ou nao tenho de pagar a meu mestre” ea conclusio do segunda seria “Ou mew aluno tem de me pagar ou mex aluno tem de ‘me pagar’. Como em ambos os casos a segunda disjunta & redundante, ¢ vilido omiti-la. Fsse movimento & cano- nizado em outra regra de inferéncia, que se pode somar as regras de inferéncia ja introduzidas: Tautologia pip P 5 Contra-exemplos método do contra-exemplo é uma arma poderosa usads com freqdéncia para refutar uma concepsio flo- =e = Ensaio titosstics — séfica. 0 contira-exemplo & um exemplo de alguma coisa (que se opoe a alguma proposigdo ou a algum argument. ‘As pessoas si capazes de usar contra-argumentos a partir dos 5 ou 6 anos de dade, As eriancas muitas vezes usam ‘9 método dos contra-exemplos de maneiras que fazem os pais chorar. Um pai frustrada diz ao filho: "Vocé nunca pega as roupas em seu quarto!” A crianga responde: “Isso rio € verdade. Ontem eu peguei meu sapato e o atirei em Mary’: 0 pai é refutado, As vezes os contra-exemplos provo- cam risos, mesmo que essa nao seja a intengao. Um amigo meu tem duas filhas precoces. Um dia, a mais velha cometeu algum erro insignificante, algo que a mais nova atacou Impiedosamente. Numa tentativa desesperada de se defender, a mais velha protestou: “Ninguém é perfeito”, ‘A mais nova apontot vitoriosamente o indicador para 0 alto, referindo-se ao Todo-poderoso. E assim a irma se viu refutada Podem-se distinguir dois tipos de contra-exemplo: 0 proposicional ¢ 0 argumental. Os propasicionais sfo contra~ ‘exemplos a proposicbes. Eles costumam ser refutagdes de alguma proposicfo universal. Uma assergda geral de que todos os Fs sio G é refutada por um contra-exemplo se mostrar que ha alguma coisa que € F ¢ que nio €G. A afirmagio de que todos os Fs tm as propriedades G, H © {1 & refutada por um contra-exemplo se for demonstrado que algo do tipo F tem as propriedades G e H, mas ndo as I. Um dos mais famosos contra-exemplos da filosofia ‘moderna tem relagio com uma anilise padrio do conhe- cimento, Segundo essa tcoria padrio, 0 conhecimento € uma crenga verdadeira justificada, Isto & = 162 - = Ttiews pare 6 texte anatitice — S sabe que p se € somente se (1) p € verdadeno: 2} S acredita que 7: € (0) esti justiicado em acreitar que p. Para refutar esta andlise, Edmund Gettier construtu dois cenirios; esses dois cendiios satisfaziam as ts con- digées do analysans, mas nao cram exemplas de conhe- cimento. Assim, ele construiu dois contra-exemplos. 0 segundo e mais simples deles foi o seguinte. Imagine que ‘Smith este justficado em crer na proposigéa “Jones tem ‘um Ford” (Smith conhece Jones hid muitos anos; Jones sempre teve um Ford; Smith viu Jones diriginéo um Ford hha uma hora ete) Imagine que Smith acredita nisso. Além disso, suponha que Smith perceba que “Jones tem um Ford” implica “Jones tem um Ford ou Brown esta em Barcelona’. Mas agora imagine que Jones vendeu seu Ford ¢ esta dirigindo um carro alugada e que Jones, por colncidéncta, esta em Barcelona. Assim, a proposicao “Jones tem um Ford ou Brown esti em Barcelona” verdadeira; Smith acredita nela; e Smith esté justificado fem crer nela, Mas cle nio sabe disso, porque as bases de sua crenga coincidem com a veriade disso, Embora esse contra-exemplo sejareativamente sim- ples, podem-se construir alguns mais simples. Suponha que Smith conhece Jones hd anos, que ele o vé regular~ mente ete. Suponha ainda que Smith acredita na pro} igdo “Jones est atravessando a West Mall” porque vé alguém exatamente igual a Jones fazendo isso. E suponha que, embora Jones esteja de fato atravessando a West 163 = Ensnie tilosetice — Mall, ele esta por tris de uma pared e fora do alcance da visio de Smith; que a pessoa que Smith vé nio é Jones, mas alguém que tem a aperéncia de Jones ¢ que age e se veste exatamente como ee. Entio, todss as condig&es do analysans estio satisteitas, mas Smith no sabe que “Jones esti atravessando a West Mall Uin das mais engragados contra-exemplos ocorr numa obra litera. No ehi do Chapeeiro Maluco, Alice, num dado momento, afirma que pretender dizer [mean] 0 que se diz é 0 mesmo que dizer 0 que se pretende. O Chapeleito produz um contra-exemplo 2 essa alegagao ao dizer: “Ora, vvocé poderia também dizer que ‘vejo 0 que como’ é © mesmo que ‘como 0 que vej'! (Alice no Pais das Mara- vilhas, capitulo VID A Lebre apéia a idéia do Chapeleio 40 produzir mais um contra-exemplo que diz: "Voct pode- ria também dizer que gosto do que tenho’ € 6 mesmo que “tenho © que gosto" Tanto 0 Chapelero como a Lebre produzem contraexemplos eicazes, porque cata um pro- dluz uma frase que tem a mesma forma da de Alice, mas aque & obviamente falsa. Assim, a frase de Alice nfo pode ser verdadcra em vitude de sua forma. E importante que 0 alegado contra-excmplo sea evidentemente flso, Depois ‘dos contra-exemplos do Chapeleir e da Lebre, o Rato ten ta produzir um contra-exemplo, mas fracassa porque a frase que enuncia no é obviamente false. Quando 0 narcolético Rato diz *Vocé poderia também dizer que ‘res- piro quando durmo' é © mesmo que ‘durmo quando respi- 10", 0 Chapeleira diz: “Isto & a mesma coisa para voce O segundo tipo de contra-exemplo envolve argumen- tos, em ver de simples propos 164 - argumental que envolve uma inferncia. tmediata: ume premissa e uma condlusio. Berirand Russel julgava que @ propesiclo "Um nome préprio genuino tem de nomearal- ‘guna coisa" implicava a proposiglo “S6 um nome que tem de nomear alguma coise & um nome proprio’ Peter Geach assitalou ser iso "um ero de logica modal” (Peter Geach, “The perils of Pauline’, in Logic matters, Oxford, Basil Blackwell, 1972, p. 155). Isto € formalmente 0 mesmo que alegar, a pani da proposigio “O que se sabe tem de ser de {al manera’, a proposigio "Somente 0 que tem de ser de tl maneita & realmente abide” Com relagdo 20 segtun- do par de proposiics, observe que a primeira € verdadeira, mas a proposigio inferida & falsa. Logo, a infeéncia & inviida c, como o primelro par de frases exibe o mesino padtio, a inferéncia ali também deve ser invalida Suponha que alguém alegue Se Plato foi um idealist, entdo Aristitles foi um realist Aistteles foi um realist Logo, Platio foi um idealist. ste argumento pode parecer sélido. Tanto as premis- sas como & conclusio sio verdadeiras, e sua forma de fe-tncia € superficialmente semelhante & forma de infe- réncia vilida modus ponens, mas na realidade o argumento € invalido, Podemos vé-lo produzindo um contra-exemplo: Se Plat foi o autor da Critica da razdo pura, Pato fot um grande filsofo. Platio foi um grande flésofo. ‘Logo, Plato escreveu a Critica da razio pura. = 165 - Observe que as premissas do argumento sto verda- deiras e que @ concluséo é falsa. Logo, © argumento tem de ser invalido. E um exemplo do que se conhece como a falicia da afirmagao do conseaiiente, Em forma de ensaio, 0 argumento original ¢ sew contra-exemplo podteriam ser formulados como: Alega-se, por vezes, que Plata foi um idealist, Porque, se Plato foi um idealista, entdo Axistteles fot um realist, Mas esse argumento ngo € sido, Poderse-ia igualmente dizer que Platio escreveu a Critica da razéo pura. Porque, se Plato escreve a Critica da razo pur, entio Plat foi ‘um grande fildsofo. E Plato foi um grande filisofo, Logo, Plato escrevew a Critica da raxio pus. Um dos mais famosos contra-exemplos argumentais refere-s¢ a0 argumento ontologico em favor da existéncia de Deus. Anselmo de Cantudria na verdade argumentou da seguinte mancira (i) Deus & 0 maior ser coneebivel {2} uo maior scr concebivel existe apenas no entendimento ou ‘existe também a realidad, (9) Seo maior er concebivel existe apenas no entendimento, ele io € 0 maior ser concebivel, (4) Deus existe tambérn wa realidad : (0 monge Gaunilo produziu o seguinte contra-exemp! (i) Atha Pecfeita & @ maior ilha concebivel, {Q) Ou a maior ithe concebivel existe apenas no entendimenta ow existe também na realidad, ne (0) Sea maior ia concebivel existe apenas no entendimento, cle mio € a maior tha concebvel (4) A tlna Perfeita existe também na realidade. A falsidade da conclusdo mostra que hi algo errado com a forma do argumento. Como ele partilha essa forma com 0 argumento ontolégico, deve haver algo errado também com este iltimo, As veres @ natureza de um contra-exemplo € um hibrido de contra-exemplo proposicional e argumental: ‘mostra-se que uma proposigdo ¢ falsa no contexto de um argumento, mostrando-se, entéo, que este nao é sélido fem virude dessa falsa proposigto. Considere o seguinte fragmento de ensaio, que tenta apresentar um contra- cexemplo para um argumento em favor do aborto: Algumas pessoas acham justo 0 aborio porque a mulher temo drcito de fazer com seu corpo o que quis, «fazer tus abort € fazer algo com seu proprio corpo. Esse argu- rmento no € slid, Pode-s igualmentealegar qu dar um soco no naz de um passant é justo porque a mulher tem o dito de fazer o que quser com seu prpro corpo e dar um soco no narz de um passante € fazer alguma coisa com stu proprio compo. Observe que a mesma forma de argumento leva a uma concluséo evidentemente falsa. Se as premissas do primeiro argumento forem verdadeiras, as do segundo também 0 serio. Mas, como as premissas do segundo argumento levam a uma conclusio patentemente fal, a0 menos uma das premissas do segundo argumento tem 167 - = Ensaio ttesorice — 4e ser falsa, portanto, uma das premissas do primeiro também tem de ser falsa. Se nio for a segunda, tem de ser a primeira, E claro que se deve observar que no se segue do fato de 0 argumento acima nao ser solido (por- que uma das premissas é falsa) que nio haja um argu- mento coerente em favor do aborta. Na verdade, € pro- vvavel que para cada proposisio verdadeira haja um nii- ‘mero infinito de argumentosfalsos. Por exemplo, cis dois argumenios obviamenie falsos em favor da proposigao obviamente verdadeira "2 + 2 Se2+2=4,enlio a terra € plana, ‘Aterma& plana -4 ae Ou Descartes & um filésofo ou Platio € um flésofo. Descartes & umn filsofo 2+ Dados esses argumientos ultrajantemente ruins, deve ser fell ver que hi um aimero infinito de maus argu- ‘mentos para toda proposi¢do verdadeira. Logo, um mau argumento para uma proposigao nao mostra que @ pro- pposigao seja alsa, Logo, apesar de o argumento em favor ddo aborto acima ndo ser coerente, pode muito bem haver outros argumentos que o sio. Seja como for, o método do contra-exemplo costu- ma ser potente porque permite uma espécie de ataque Indireto @ uma praposicao ou argumento que no possam ser persuasivamente atacados diretamente, E improvavel clas contra a proposigdo “A mulher tem oe 6 direito de fazer o que quiser com seu proprio corpo" venta a persuadir muitas pessoas, que nela acreditariam. A rezio € ser isso um lugar-comum, algo amplamente aceilo sem discussao. (Embora seja um lugar-comum, et © juigo falso. Ninguém, homem ou mulher, tem direitos ilimitados sobre o uso de seu proprio corpo.) O principio precsa ser restringido de alguma maneira, a fim de ser vverdadeiro, $6 os seres humans talvez tenham o direito de fazer o que quiserem no tocante a questdes de repro- dugZo, questdes privadas ou coisa que o valha, mas esses direitos nao sio ilimitados. E possivel que 0s defensores do principio em discussio nao queiram dizer isso literal- mente, mas algo verbalmente semelhante a “A mulher tem o direito de fazer que fagam a seu proprio corpo 0 que cla desejar", mas mesmo esse principio € dibio, dado que muitos estados [americanos] tém leis contra o maso- quisno, a automutilagao € 0 suicidio. Logo, um ataque inditeto proposigao tem muito mais oportunidades de ser bem-sucedido. E isso 0 que 0 método do contra exenplo proporciona Embora seja uma maneira logicamente eficaz de argumentar contea alguma posisio, o contre-exemplo pode ‘muitas vezes nio ser persuasivo devido a nio ser reco- nhecido como tal. Nessas situagoes, hd necessidade de ‘mais alguma coisa, 0 autor tem de levar 0 leitor a reco- nhecer que a proposigao relevante¢ falsa, sugerindo, talvez, uma explicagao dos motivos de alguém poder pensar que 1 proposigdo € verdadeira, Essa explicagao nao é prova de que a proposigio ¢ falsa. Em vez disso, ela prepara psi- cologicamente 0 leitor para reconhecer a prova. Da-se a ane iss0 0 nome de “diagndstico’. & algo anélogo & menobra freudiana de levar o paciente a perceber as causas de sua neurose. Os diagndsticas podem ser bastante controver- sos; eles exigem bem mais imaginagio e raramente so definitive, se ¢ que chegam a sé-to. Diferentes pessoas potlem acreditar na mesma proposisao falsa por diferen- tes razdes. Alguns contra-exetnplos simplesmente refucam wma teoria. Se a teoria for importante, o contra-exemplo seri derivativamente importante. 1ss0 ocorre especialmente quando 0 contra-exemplo ataca algum aspecto central da teoria, como 0 fez 0 de Gettir. Se ndo funcionar solapan- do um aspecto central, 0 contra-exemplo pode simples- mente assinalar que a teoria precisa de alguns aprimora- mentos ¢ que € possivel corigi-a alterando sua formu- lagdo. Nesse caso, 0 contra-exemplo talvee tenlia Valor, mas nao tem especial importancia. 0 mais forte e impor- tante tipo de contra-exemplo € aquele que no sé aponta uma fraqueza fatal em alguma teoria, como tamibém su sgere alguma linha promissora de desenvolvimento de wma teoria diferente e mais adequada. Por exemplo, lembre-se do contra-exemplo sobre Smith pensando que viu Jones cruzando a West Mall quando viu, na verdade, alguém parecido com Jones. Para muitos filésofos, 0 exemplo parecia indicar que o conhecimento requer uma certa relagdo causal entre a crenga e a eviden tado muito interesse pela “teoria causal” to, Uma caracterstica que tomou 0 contra-exemplo im- portante segundo multos fl6sofos & 0 fato de ele parecer mostrar que ha alguma coisa fundamentalmente errada -10- com a anélise do conhecimento como crenga verdadei Justificada, Ou seja, tem-se a impresso de que 0 contra- ‘exemplo no podria ser acomodado por meio da mera alteragdo da formulagdo ou pelo acréscimo de alguma expresso mals precisa (mas outros fldsofos tentaram, ¢ ainda tentam, consertar as condigbes originais). 0 que tam3ém dotava 0 contra-exemplo de importancia era 0 fato de sugerir uma diregdo na qual a anilise correta do conhecimento poderia ser encontrada. 0 contra-exemplo indicava que, para que algo conte como conhecimento, é preciso que o tipa correto de relagdo causal ocorra entre fa cranga e a coisa objeto de crenga. Assim, foram geradas virias versBes de uma teoria causal do conhecimente. Os contra-exemplas sio um método muito impor- tante de argumentagio filosbfica. As vezes 0 contra-exem- plo pode ser sucinto e direto. Um filésofo disse uma vez que a diferenga entre a face do ser humano ¢ a dos animais € que estes ndo podem mudar a expresso do rost> (ele pensava em farmigas, tamanduds e porcos}. Seu colege retrucou imediatamente: “E os chimpanzés?” Ou- tras vezes € necessirio um bom tempo para desenvolver ‘um contra-exemplo. E preciso uma culdadosa preparacso de cendrio e de explicagdo para mostrar ser ele de fato um caso daguilo que pretende ser. Incto-o a tentar usi- Jos ¢ a nomed-los como tais em seus ensaios. Nao ha regras simples para conceber contra-exem= plos, Pode-se dizer que se deve repassar mentalmente ums série de exemplos até que nos ocorra um caso que ro se enquadre na proposigao a ser refutada. Mas é justo perguntar: "Como voc® faz isso?" ou “Como se faz isso de =~ — tnssio ftesstice — ‘manelra que se acabe com um contra-exemplo € no apenas com um monte de exemplos que confirmam a proposigan?” Em outrs palavras, pensar contra-exemplos ddepende em dltima andlise da imaginagao. Algumas pes- soas S20 hem talentosas no tocante a isso € outras nao, Exerccios 1 Consdere 2 props: A percicpapto na Paseat do “Homer do Milka fl mi ralmente permissive apesar de patrocinads por um radsta (Louis Farka, dado que fi por uma boa casa, @ saber, + rongi campuses pr pa ds A proposigh a segue € um contr-exempla? 1 pacticipagdo na Passesta “Respetem as nasas mulheres” ‘oi moraimente permissive, apesar de patrocinada por um, racist (0 Grande bio da KKK), dado que foi por ume boa ‘nia, aster. a pemogle da Compartamentarespanetve or parte dos homens amercanos brancos. 2. Formule a5 qutstes dts em (0) com. argumento€ contra-exempla agurcial 3. Retome a pessagem: Agus pessoas cham justo‘ abortaporaue gi mlher temo dito de ae com se corp og qlee faze Date far le com 1 pba es pc al Teron he Rear gm ara “ito nai dum psa € opm “Oditeito de fazer 0 que quiser com seu proprio, as TAS ewan ae SEUSS Oates taplicte as premises © a Corelli do arguienta original ¢ 0 conta-exemle Explique por que tanto 0 argumento o- {inal come 0 contra-exemplo sto argurientos vlidas. Tete ‘nto defender 0 argumento original mastrando que o autor co contra-exemplo interpretou eroneamente a alegagio de ‘ue “a mulher tem o dito de fazer com seu corpo 0 que. ‘uiser” ou ent revise 0 argumento original de alguma ma nei capaz de evitar 0 contra-exemplo. f comum gue contra-exemplos famosossejam mais compli= aos do que precsam ser, sendo vaiosoeserever um ensao {que simplifique ou inlua uma simplifieaeo de aloum des- ses contra-exerpls. Escolha algum contra-txempl elabo= ‘ado que voce tenha encontrado em suas leituas. Tente onstruir um contra-exemplo mais simples e que tenfa 0 reso efit. Fara um contra-exemplo elaboraéo e influente, leia Keith Donnellan, “Proper names and identifying descriptions, in Semantics of natural languages; ed. por Donald Davidson « Gilbert Harman, Nova York, Humanities Press, 1972, pp. 356-373 ‘artigo de Gettierprovocou grande interesse logs depois de 1 sido publcado, Os tes artigos 2 seguir eferem-se a varas. entativas de corrigr a andise do conecimento.e contra- emplos ations. Leia-os para obter mals exemplos' do, ‘étodo dos contra-txemplos. folic Cat “Knowledges graund: Somme en Nc Getter’: paper Analisis, 26, 1983.— (SES, The apa of rower Ari, 1 25, 1964, pp. 1 {9 Joke Tuik Saunders © Narayan Charipawet,” “Befnion of “Krowedae, Anois. 25,19 - 1B 27 Penge em poses contra-ezmplos pa 8 sebink sigtes: ae (a) Todo‘henem & mortal s (6) Todo homem age por imersse (eJTudo 0 que promove @ maior feiciade pare‘0 maior al- mio de pessoas & cero {el Todas as pessoas tm um corpo. 6 Rediuetio ad Absurdum Os argumentos que recortem 3 reductio ad absurdum so freqitentemente usados sem diffculdades na argumen- ‘ago corriqueira: Muitos zcreditam no Prinepia do Inimig, isto é, 0 prin- cipio segundo 0 qual o inimigo de mew inimigo & mew amigo, embora isso soja muito evidentemente fal. Du- ranie os anos 1980, tanto 0 traque como o Ind eram nosso inimigos. Além diss, o Ir era inimigo do aque Assim seado, nos vermos do Principio do Inimigo, 0 It ra nosso amigo, Mas isso € absurdo. Logo, o Principio do Inimigo € falso, Embora seja facil seguir esse argumento, as pessoas rmuitas vezes tém dificuldades para perecber por que ar- _gumentos com reductio como esse sfo validos, bem como dificuldades para compreender angumentos com seductio cem filosofia, quando explicitamente formulados. Grosso mado, num argumento com reductio ad ab- surdum, a pessoa prova uma proposigao supondo, para fins de argumentagdo, 0 oposto da propasigdo que de- seja provar. A noo de argumento com reductio explora uum aspecto da nocdo de implicacdo. Lembre-se de que 2 Implicagio preserva a verdade. A partir de uma pro- posigio verdadeira, seguem-se proposigées verdadeiras, Isto quer dizer que, se implicar alguma coisa patente- mente falsa, a proposigéo tem de ser falsa, Ora, se essa proposigio falsa & 0 oposto da proposigao a ser provada, ‘esta tem de ser verdadeira. E essa a estratégia que os argumentas com reductio exploram. Em summa, se alu ma proposigéo implica uma proposigio falsa, essa pri- meira proposicio também tem de ser falsa © sua nega- 0, verdadeira, Como se evidencia @ partir dessa descrigao de ar- gumentos com reductio, & crucial mostrar que a propo- sigdo implicada é falsa. Ha duas maneiras de fazé-Io. A mais segura consiste em derivar uma contradigdo, qual- quer contradigdo. Por exemplo, se puder provar que 0 ‘posto de sua concepgao dos universais implica, diga- mos, que @ possivel a um objeto estar num dado lugar € nip estar nesse lugar ao mesmo tempo, esta claro que essa visio é falsa e, portanto, a sua tem de ser verda- cine. Na légica formal, os argumentos com reductio sto sempre derivagdes de uma proposigio. Eles podem ser reprsentados da seguinte mancira, onde Py a» Py S30 premissas, q é a conclusto desejada © r € qualquer pro- posigio derivada: 195 - = Ensaio Hleséties — Pe Pr 4 [Suposigdo da reductio| ann Observe que as premissas so listadas numa coluna ¢ a conclusio 4, na parte direita superior, numa meia caixa, A primeira linka da derivagao ~q & @ negagdo da conclusio. Os trfs pontos verticals indicam as inferéncias (validas) necessérias para derivar alguma contradigdo ~(rde-r) (Deve ser desnecessirio dizer que 2 contradigao poueria Set °(g8&~4)") Como supor q leva a uma contra digo, ela tem de ser falsa. Em conseqiiéncia, q tem de ser vverdadtira Eis um exemplo inspirado por um argumento de Avicena: Nao pode haver dois Deuses, isto é, nio pode haver dois eres perfetos. Supanha, contudo, que houvesse dois. Nesse ‘caso, umn deles, digamas D,, teria a propriedade P, que 0 culro nao teria, (Tem de haver essa propriedade porque, se hé duas colsas, tem de haver alguma propriedade que distinga uma da outra) P, contribui ou nao contribui para tomar D, perfeto ou nio perfeito. Se contribu, entéo 0 a6 ‘outro Deus, D,,nio teria uma propriedade que toma um ser perfeito e por conseguinte nio seria Deus. Se néo contribu, D, tem uma propriedade que ndo o toma pefei- toe, nesse caso, D, tem uma propriedade supéflua a0 ser petfeito e, portanto, no é pereito Esse argumento pode ser apresentado da seguinte (1] Exist dois Deuses, D, € De [Suposgéo da redutia) {2} uP, contibi para tomar D,perfeito ou ndo conti ui Tatoogia) (3) Se P,contibui para tomar D, peret,entdo D,ndo & Deus (6) Se P,néo conteibui para tomar D, perio, entio D, no € Deus. (5} Ou D, ou D, niv € Deus. (A patir de 2, 3 © 4 por conjungio¢ dlema constutivo} {6} Hi dois Deuses, De D, cou D, ou D, ndo€ Deus 80 € uma contrat} (0) Neo existem dois Deuses, ‘A outra maneira, menos segura, de mostrar que uma proposigdo implicada ¢ falsa € derivar uma proposiglo flagrantemente falsa. Hilary Putnam tenta produzir uma tal reduetio como parte de sua defesa da alegagio de que © significado de uma palavra, digamos, “agua”, nao € determinado pelo estado psicoldgico do falante, Por exem- plo, se houvesse um planeta ("Terra Gémea’) exatamente gual a0 nosso, com excegéo do uso da palavra “agua”

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