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‘VIDA E EDUCAGAO Yong MEC - INEP ne a Fae i rrr TE a Fir oa. anal a syed 48 vipa ® EDvcagko esf6rgo ganhou tal expansio e tal intensividade que tudo esté a se refazer com velocidade que mos custa, as vézes, aprender. Nesta civilizagio em perpétua mudanga, sé uma teoria dinamica da vida ¢ da educagao pode oferecer solugo adequada aos problemas novos que surgem € que surgirao. £ tal teoria, adaptida as duas grandes orcas que estio moldando 0 mundo moderno — demo- cracia e ciéncia — que a filosofia de John Dewey” buscou tragar. Na exposic&o resumida que dela procuramos fazer, kuscamos, uma vez que nao podiamos ser completos, ser, 20 menos, figis ao pensamento do grande pedagogista. ‘As duas monografias de John Dewey, que compéem éste livro, dardo ao leitor um exemplo do vigor ¢ originalidade do seu pensamento em ma- réria de educacio, ¢ Ihe despertarao talvez 0 desejo de conhecer outros trabalhos de um dos maiores fil6sofos de nosso tempo. Axisio S. Terxema I. A CRIANCA E Oj PROGRAMA ESCOLAR) 3 1. Os dissidios teéricos As diferencas proftindas, em teoria, jamais sio arbitrarias ou injustificadas. Surgem, ao contrério, de elementos em conflito, num problema real e legi- timo, num problema que é verdadeiro, justamente porque os elementos que 0 compdem, tal como se apresentam, nfo podem chegar a uma conciliagio. Qualquer problema importante encerra ‘situag6es contraditérias. A. soluao s6 ser obtida, se nos afastarmos do ponto de vista em que seus elementos parecem chocar-se, para buscarmos outro, de onde asses fatdres se mostrem suscetiveis de uma harmo- nizagio. Reconstréi-se, assim, o problema. A apresentacio original é revista. Mas essa reconstru- cao importa num 4rduo trabalho de pensamento. Mais fAcil ser encarar ssmente um dos aspectos do problema, elidindo os outros, e insistir em que a solugio esteja na consideragio exclusiva désse elemento. Nascem, assim, as seitas ¢ as escolas, Cada uma escolhe o aspecto que mais Ihe agrada ou con- 50 VIDA B EDucAgiO vém, ¢ o erige em verdade completa e indepen- dente, em vez de consider4-lo como simples fator destacado do problema. 2, Elomentos fundamentais do proceso educative Os clementos fundamentais do processo educa. < tivo so; de um lado, um ser imaturo e nao evolvido —accrianga, —e, de outro, certos fins, certas idéias e certos valores sociais representados pela experién- / cia amadutrecida do adulto. O proceso educativo \consiste na adequada interago désses elementos. A concepgio das relagdes entre um e outro, tendente a tornar facil, livre e completa essa inte- ragio, é a esséncia da teoria educativa, Nisso, porém, é que esta a dificuldade. & mais facil ver os fatdres isoladamente, salientar um a custa do outro, consideri-los antagénicos, do que descobrir a realidade profunda a que ambos pertencem, Toma-se, entZo, um elemento qualquer da na- tureza da crianga, ou um elemento da consciéncia desenvolvida do adulto ¢ ipsiste-se em que af é que esté'a chave de todo o protilema educativo.. Quando isso acontece, transforma-se um problema, real- mente pratico e sério — o das relagées entre a crianga ¢ a experiéncia do adulto — num caso te6- rico, irreal, e, portanto, insolivel. O problema educativo, que devia ser encarado como um todo, passa a ser, armado sdbre térmos contraditérios, [A CRIANGA EO PROGRAMA ESCOLAR Bt ‘Medra assim 2 oposicéo entre a crianga € os pro- gramas de estudos, entre a natureza individual € a experiéncia da sociedade. No fundo de tédas as divisées de doutrina pedagégica, encontra-se a oposigao entre dois elementos essenciais, mas des- tacados do processo total. © mundo infantil A crianga vive em um mundo.em_que-tude € contafo pessoal, _Dificilmente penetraré no campo da sua-experiéncia qualquer coisa que nao jnteresse diretamente seu bem-estar on.o de sua familia_e amigos. O seu mundo é um mundo de pessoas ¢ de interésses pessoais ¢ nfo um sistema de fatos ou leis, Tudo € afeigio e simpatia, nao havendo lugar para a verdade, no sentido de conformidade com 0 fato externo. Opondo-se a isso, o programa de estudos que a escola apresenta, estende-se, no tempo, indefin damente para 0 pastado, e prolonga-se, sem térmo, no espago. A crianca é arrancada do seu pequeno meio fisico familiar — um ou dois quilémetros quadrados de 4rea, se tanto — e atirada dentro do mundo inteiro, até aos limites do sistema solar. A pequena curva de sua meméria pessoal ¢ a sua pequena tradigio, véern-se assoberbadas pelos lon- gos séculos da histéria de todos os poves. ‘Além disso, a vida da'crianca é integral ¢ unitéria: € im todo “inico.. Sé ela passa, a cada momento, de um objeto para outro, como de um \4 52 VIDA & EDUCAgIO lugar para outro, fé-lo sem nenhuma consciéneia de quebra ou transicio. Nao hé isolamento cons- ciente, nem mesmo distingZo consciente. A unidade de interésses pessoais e sociais que dirigem sua vida, mantém coesas tOdas.as coisas que a ocupam. Para cla_aquilo que prende scu espirito, constitui, no “momento, tado-o univers. gue & asim, Muido ¢ fugidio, desfazendo ¢ refazendo-se_cam_espantosa rapid Esse, afinal, é que é 0 mundo infantil. Tem a unidade ¢ a integridade da propria vida da crianca. 4, © mundo escolar f Vai ela para a escola. E que sucede? Diversos } estudos dividem e fracionam o seu mundo, A {] geografia seleciona, abstrai e analisa uma série de ;, fatos, de ponto de vista particular. A aritmética € outra divisio; outro departamente a gramatica " ¢, assim, indefinidamente. Nao s6 isso. A escola classifica ainda cada | uma das matérias. Os fatos sfio retirados de.seu lugar original ¢ reorganizados em vista de algum \princ{pio geral: Ora, a experiéncia infantil nada |tem que ver com tais classificagées; as coisas nao |chegam ao seu espirito sob ésse aspect. Sdmente Vos lacos vitais da afeigao e de sua propria atividade prendem e unem a variedade de suas experiéncias ociais. : A mentalidade adulta est tao familiatizada, todavia, com a nogio de uma ordem légica dos |A.GRIANGA BO PROGRAMA ESCOLAR 53 fatos, que nfo reconhece — nao pode reconhecer — o espantoso trabalho de separagio, de abstragio 44 ode aaipelscaa, que Tem. que salier os bate de eriéncia direta para que possam aparecer como ia “matéria” ou um ramo de saber. Primero, um principio, de ordem intelectual, tem que ser definido ¢ adotado; depois, os fatos tém que ser interpretados em relacio a ésse principio — nao tais quais éles sto — para, afinal, reunidos, em volta désse centro novo, inteiramente ideal e abs- trato, constituirem um departamento do conheci- mento humano. Tudo isso supde um interésse intelectual desenvolvido e especializado. Envolve capacidade de analisar 0s fatos imparcial e objetivamente, isto é, sem referéncia ao seu lugar sentido, em nossa propria experiéncia. Exige capacidade de sintese. Significa, enfim, habitos intelectuais amadurecidos7 © posse de técnica especializada de investigagio j cientifica, Tais estudos, assim classificados, so 0 produto, em uma palavra, da ciéncia dos tempos e nao da experiéncia infantil. Podiamos alargar indefinidamente as diferen- gas entre a “crianga” e © “curriculo”. Temos, entretanto, suficientes divergéncias fundamentais: primeiro, 0 mundo pequend ¢ pessoal da crianca contra 0 mundo impessoal da escola, infinitamente extenso, no espaco e no tempo; segundo, a unidade de vida da crianga, téda afeigéo, contra as espe cializagdes € divisdes do programa; terceiro, a cy vipa ® epucagho classficagao I6gica de acérdo com um principio abstrato; contra os lagos prdticos e emocionais da vida infantil. 5, Solugées diversas Diferentes escolas pedagégicas medram désses conflitos, Uma escola fixa sua atengéo na impor- tancia das matérias do programa comparadas com o contetido da experiéncia propria da crianga. fi a vida infantil mesquinha, estreita ¢ infor- me? Revelem, pois, 03 estudos um universo largo, complexo e profundo. # a vida da crianga egofsta, impulsiva, centralizada em si mesma? Os estudos que Ihe desvendem um universo objetivo, pleno de verdade, de lei e de ordem. & a experiéncia da crianga incerta, confusa e vaga, sujeita ao capricho ¢ cireunstincias do momento? Os estudos vio introduzi-la em um mundo atranjado na base das verdades gerais ¢ eternas; um mundo onde tudo medido ¢ definido. Em resumo, conclui essa escola: ignoremos e combatamos mesmo as particularidades indivi duais, as fantasias ¢ as éxperiéncias pessoais da crianga. Sio exatamente essas coisas que devemos evitar ¢ eliminar. Como educadores, nossa tarefa € precisamente substituir aquelas impress6es fuga- zes ¢ superficiais por uma realidade estAvel e logica. Tal realidade é que os estudos ¢ as lig6es represen- tam. Subdividamos cada assunto em matérias de estudo; cada matéria em ligées, cada ligéo em fatos A CRIANGA EO PROGRAMA ESCOLAR 55 ¢ formulas especificas, Fagamos que 0 aluno per- corra, passo a passo, essas partes isoladas, até que, no fim da jomada, éle tenha vencido todo 0 pro- grama. Visto globalmente parece imenso ésse mundo dos conhecimentos, mas, considerado como uma série de marchas particulares, facilmente o exploramos. ‘Téda importncia recai, pois, nas subdivisdes logicas ¢ no’ encadeamento da matéria a estudar. problema de instrucdo consiste em obter textos que apresentem essas divisdes ¢ seqiiéncias l6gicas, e em ministrar, em: classe, essas porgées no mesmo istema gradativo e légico. ‘A matéria, ou disciplina de estudo, 6 0 fim da instrugio, o que determina o método. A crianca é simplesmente 0 individuo, cujo amadurecimento a escola vai realizar; cuja’ superficialidade vai ser aprofundada; ¢ cuja estreita experiéncia vai ser alargada. O papel do aluno € receber ¢ aceitar. \ Ble o cumprira bem, quando fér décil ¢ submisso. ( O contrério é que é a verdade, diz a escola

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