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23/04/2021 SEI/DPU - 4381161 - Ofício

4381161v2 08038.000118/2021-55

DEFENSORIA PÚBLICA-GERAL DA UNIÃO


SBS Quadra 2, Bloco H, Lote 14 - Bairro Asa Sul - CEP 70070-120 - Brasília - DF - http://www.dpu.gov.br/

OFÍCIO - Nº 4381161/2021 - DPU/DNDH

Brasília, 16 de abril de 2021.

A Sua Excelência o Senhor


IBANEIS ROCHA BARROS JUNIOR
Governador do Distrito Federal
Palácio do Buriti, Praça do Buriti Brasília - DF / CEP 70075-900
Contato: (61) 3425-4738/ 3425-4739
E-mail: agenda.governador@buriti.df.gov.br

Assunto: Redução da oferta de transporte público durante a Pandemia. Risco de aumento de contágio
da COVID-19.
Referência: Processo nº 08038.000118/2021-55

Excelentíssimo Senhor Governador


Apraz-me cumprimentá-lo para narrar que este Gabinete do Defensor Nacional de Direitos Humanos foi
provocado, por diversos meios, dentre eles sociedade civil, entidades governamentais, veículos de
comunicação social e parlamentares para obter informações sobre a redução da frota de transporte público
como medida de prevenção à transmissão do Sars-Cov-2 (COVID-19) e mitigação dos efeitos da
Pandemia.

Desta forma, este requerimento tem por objetivo franquear amplo acesso à informação, além de subsidiar
estudos e planejamento, inclusive, para direcionamento de políticas públicas para casos semelhantes
futuros.

É senso comum que a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 11 de março de 2020, declarou estado
de Pandemia causada pelo coronavírus (Sars-Cov-2). O avanço da doença em território nacional tem se
dado de forma acelerada, atingindo a triste marca de mais de 360.000 (trezentas e sessenta mil) óbitos em
decorrência da doença.

Conforme informações oficiais calcadas na medicina baseada em evidências, o vírus pode se propagar de
pessoa para pessoa por meio de gotículas do nariz ou da boca que se espalham quando alguém doente
tosse ou espirra. A maioria dessas gotículas cai em superfícies e objetos próximos, sobretudo no transporte
público. A transmissão ocorre, portanto, de pessoa para pessoa durante o período de incubação do vírus,
[1]
tempo para que os primeiros sintomas apareçam, entre 2 e 14 dias .

Por esta razão, para se evitar a propagação do vírus, recomenda-se o uso de máscara, lavar as mãos
frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, evitar tocar nos olhos, nariz e boca com
as mãos não lavadas, evitar contato próximo de pessoas doentes - recomenda-se manter distância de pelo
menos um metro de pessoas doentes-, isolamento social quando estiver doente, cobrir boca e nariz com
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um lenço de papel ao tossir ou espirrar, evitar o compartilhamento de copos, pratos ou outros objetos de
uso pessoal, limpar e desinfetar objetos e superfícies que sejam tocadas com frequência por várias
pessoas; pessoas doentes devem adiar ou evitar viajar para as áreas afetadas por coronavírus; pessoas que
estiveram em áreas onde o vírus circula, que tiveram contato físico com alguém diagnosticado ou que
apresentem febre, tosse ou dificuldade para respirar, devem procurar atendimento médico de imediato[2].

A Moovit, empresa do grupo Intel e responsável por um dos aplicativos de mobilidade urbana mais
utilizados do mundo, divulgou dados que retratam a redução média de 63% da frota de ônus nas 10
[3]
principais cidades brasileiras .

Segundo diversos especialistas, a redução da frota de transporte público tende a ser um fator que
gera aglomeração e rápida transmissão do vírus.

Pesquisa virtual realizada pelo Movimento Tarifa Zero entre 20/07/2020 e 8/008/2020 com 519 indivíduos
sobre a satisfação do passageiro com o transporte público durante a pandemia de Covid-19 revela que 93%
dos usuários reclamaram que andaram em veículos lotados durante a pandemia e 91% deles disseram ter
esperado mais de 30 minutos por um ônibus[4].

Segundo epidemiologista Paulo Petry, professor da UFRGS, "(...) a aglomeração de muitas pessoas num
pequeno espaço e com pouca ventilação é um fator de risco excessivo para a proliferação do vírus. Com a
grande quantidade de pessoas que usam o transporte público, como em São Paulo o risco de contaminação
é altíssimo".[5]

A pós-doutoranda em Ciências Atmosféricas na USP, Milena Ponczek defende que os passageiros estejam
em assentos intercalados e haja troca de ar: "Não importa ter recirculação de ar, janela aberta, se o
transporte estiver superlotado. Esse cenário propício à transmissão piora com o consumo de bebidas e
alimento, conversas e outras ações que criam o espalhamento de aerossóis"[6].

O arquiteto e urbanista Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP,
comenta como a redução do transporte público em várias cidades brasileiras por causa do coronavírus tem
afetado a população e que o fato de ter havido queda no uso não deve implicar redução da frota. A rigor, a
diminuição do fluxo de ônibus e trens pode expor os usuários à superlotação e ao vírus[7].

A redução da frota de transporte coletivo se agrava ainda mais pela diminuição crítica dos insumos
médicos necessários para viabilizar o tratamento da Covid-19 em casos mais graves ("kit intubação") e
pela saturação da ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) do Sistema Único de Saúde
(SUS). Em 14 de abril de 2021, somente 4 (quatro) Estados da Federação não estavam em situação crítica
quanto à oferta de leitos de UTI, 17 (dezessete) apresentaram percentuais de ocupação iguais ou superiores
a 90% (noventa por cento), tornando ainda mais urgente a adoção de medidas de distanciamento
e isolamento social, atualmente as únicas que restaram minimamente eficazes para o combate da
pandemia[8].

Assim, considerando as atribuições legais deste Gabinete, na forma do dispõem a Lei 12.527/2011 (lei de
acesso à informação), e os artigos 7°, IV, 12 da Resolução nº 127 do CSDPU e art. 44, X, da Lei
Complementar 80/94, e que o Estado é responsável por assegurar o direito à saúde de todas as pessoas (art.
6º e 196, caput, CRFB/1988; 12, Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais [Pidesc];
10, Protocolo de San Salvador [PSS]; 2º, Lei 8.080/1990 - Lei do SUS [LSUS]), é a presente para
requerer:

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1. sejam apresentadas informações oficiais sobre a oferta de transporte coletivo municipal, incluindo
gráfico diário com número de veículos disponibilizados (ônibus, metrôs) nas mesmas data antes e
durante a Pandemia pelo prazo de 1 ano;

2. sejam apresentadas justificativas com base na medicina baseada em evidências que justifiquem a
redução da frota de transporte público como medida de prevenção da Covid-19;

3. seja informado se houve ou haverá subsídio do Município às concessionárias de serviço público de


transporte municipal para permitir o restabelecimento da fronte de veículos, de sorte a evitar a
superlotação ocorrida durante a Pandemia;

4. outras informações que entender pertinentes sobre o tema.

Dessa forma, determino o encaminhamento dos autos ao Gabinete do Governador para análise e
manifestação no prazo de 15 (quinze) dias.

A resposta a este Ofício deverá ser remetida por meio eletrônico através do e-mail
gabinete.dndh@dpu.def.br.

O Gabinete deste Defensor Nacional de Direitos Humanos está à disposição para maiores esclarecimentos
no endereço de e-mail acima ou pelo telefone 61 3318-7625.

Atenciosamente,

ANDRÉ RIBEIRO PORCIÚNCULA


DEFENSOR NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

[1] BIBLIOTECA Virtual em Saúde. Ministério da Saúde. Disponível em


https://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/3135-novo-coronavirus-covid-19-informacoes-basicas. Acesso
em 16/04/2021.
[2] Idem.
[3] JORNAL da USP. Reduzir transporte público durante pandemia pode ampliar contaminação.
09/04/2020. Disponível em https://jornal.usp.br/radio-usp/reduzir-transporte-publico-durante-pandemia-
pode-ampliar-contaminacao/. Acesso em 16/04/2021.
[4] PESQUISA revela que 93% dos usuários de ônibus reclamam de superlotação durante pandemia. Hoje
em Dia. 24/09/2020. Disponível em https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/pesquisa-revela-que-93-
dos-usurios-de-onibus-reclamam-de-superlotacao-durante-pandemia-1.805261. Acesso em 16/04/2021.
[5] APÓS 1 ano, transporte é forte vetor do vírus até em fase emergencial. Disponível em
www.noticias.r7.com/sao-paulo/apos-1-ano-transporte-e-forte-vetor-do-virus-ate-em-fase-emergencial-
10042021. Acesso em 15/04/2021.
[6] SEM home office, periferia se expõe mais ao coronavírus no transporte público. CNN. 07/02/2021.
Disponível em www.cnnbrasil.com.br/nacional/2021/02/07/sem-home-office-periferia-se-expoe-mais-ao-
coronavirus-no-transporte-publico. acesso em 15/04/2021.
[7] JORNAL da USP. Reduzir transporte público durante pandemia pode ampliar contaminação. Op. cit.
[8] OBSERVATÓRIO Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz, Boletim extraordinário de
14.04.2021. Disponível em https://portal.fiocruz.br/noticia/observatorio-covid-19-virus-permanece-em-
circulacao-intensa-no-brasil. Acesso em 15.04.2021.

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Documento assinado eletronicamente por André Ribeiro Porciuncula, Defensor(a) Nacional de


Direitos Humanos., em 20/04/2021, às 15:07, conforme o §2º do art. 10 da Medida Provisória nº
2.200-2, de 24 de agosto de 2001.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site


http://www.dpu.def.br/sei/conferir_documento_dpu.html informando o código verificador 4381161 e o
código CRC AB262CDF.

08038.000118/2021-55 4381161v2

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