You are on page 1of 24
eyes LUE EM SM CCL ud Visdo geral ‘As pedagogias criticaslidam com a ideia de que os letramentos estdo no plural, reconhecendo asmiltiplas vozes que os aprendizes trazem paraa sala de aula, os diversos locais da cultura popular, as novas midias ¢ as diferentes perspectivas que existem em textos do mundo real. Além disso, defendem a ideia de que os estudantes sio construtores de significado, agentes, participantes € cidadios, que usam a aprendizagem dos letramentos como uma ferramenta que Ihes permite maior controle sobre 0s modos como agem para construirsignificados em suas vidas, em vez de elemento destinado a torné-los alienados, inundados ou excluidos por textos com 05 quais ndo estio familiarizados. Mais recentemente, os letramentos criticos também se tornaram elementos préprios para questionamento e criagio de novos textos que circulam em diferentes mfdias digitais, Neste capitulo, exploraremos 0 conteiido sobre os conhecimentos relacionados aos letramentos criticos, sua conexdo com as identidades sociaise a orgenizacio do curriculo critic de letramentos. 0 contetido sobre os conhecimentos relacionados aos letramentos criticos: Aprendendo sobre diferencas sociais e sobre culturas populares e de novas midias Pensamento crtico por meio dos letramentos, [A professora Wanda diz para sua turma: = Vamos falar sobre « nossa prépria comunidade local. Quais os maiores problemas que vocés ‘cham que temos mela? = Orio fede ~ diz um aluno. ~ E che de ixo eas tbricas que tem ao lado jogam coisas cinzentas fedidas. Depois de muita discusséo, a turma decide usar o pequeno rio como assunto para uma atividade ‘que envolvea solusio de problemas, como parte de seu programa integrado de cincia e letramento, = Vamos comesar documentando a situagio do rio ~ sugere a professora Wanda. ~ Vamos yep cessas imagens do Google Earth. O que cerca 0 ri. A turma observa os nomes das fabricas proximas e a5 ruas cujo escoamento provavelmente acabe no rio, Eles pesquisam poluentes da dgua em livros na biblioteca e em sites na internet. Tomam contato com explicagdes ciemtificas a respeito de como funciona a ecologia dos rios~ plantas, peices, péssaros ¢ vida animal ~ ¢ como estes sio afetados por poluentes. Em seguida, preparam uma lista de coisas que irdo procurar quando visitarem o rio. Depois de virias semanas de preparacio, chega o dia da inspegdo do rio. A professora Wanda divide a turma em grupos que irdo documentar coisas diferentes; a cada grupo é entregue uma ccimera, ¢, a cada aluno, uma lista de verificagao anotada em pranchetas. Um grupo documentara o lixo que € descartado; outro documentara os drenos que correm para o rio; um terceiro grupo, as fibricas ¢ casas no entorno; ¢ um iltimo grupo, as evidéncias dos efeitos da poluicio e do lixo no ecossistema do rio. De volta as aulas, cada grupo escreve um relatorio de suas descobertas usando os novos termos técnicos que aprendeu, Em seguida, os alunos organizam suas observacdes de forma estruturada, € depois montam apresentagdes sobre seus achados em slides no PowerPoint. ~ Quem é responsavel pela poluigao do rio? ~ pergunta a professora ~ As filbricas que permitem o escoamento do poluente ~ diz. um aluno. ~ Os donos das casas que lavam os seus carros e deixam os produtos quimicos entrarem no ralo da rua ~ sugere outro aluno. ~ Em grande problema, como os relatérios de vocés mastram. Na verdade, somos todos responsiveis ~ diz a professora. ~ Como comunidade, o que podemos fazer sobre isso? Depois de alguma discussio, a turma chega a conclusio de que a prefeitura local é a principal autoridade responsével,e quea classe elaboraré urna compilacao dos relatrios dos diferentes grupos sobre o rio ¢ a enviaré ao prefeto e também ao setor de protecio ambiental da cidade. Dias depots, eles conseguem agendar uma visita & prefeitura, Nela,realizam uma apresentasio para o prefeito eos representantes da Secretaria de Protegao Ambiental. Utilizando o PowerPoi exibem uma compilacio de pontos-chave das varias apresentagdes que criaram anteriormente. Em seguida,entregam formalmente uma versio final de seu relatério ao prefeito. © trecho acima & um exemplo de letramento critico,cuja substincia é a discussio de questbes do mundo rea, criando textos auténticos que abordam questdes de interesse para os alunos esa comunidade. Michael Apple chama isso de “curriculo democritico nio porque exiba os processos formais de democracia como um sistema politico (como votar periodicamente para cleger representantes, por exemplo), mas porque esti fundamentado no que ele chama de “valores democraticos’, que sio baseados em uma “fé na eapacidade indi ctiar possibilidades para resolver problemas’: Nesse sentido, “reflexio critica e anilise para ava idual e coletiva das pessoas para um curriculo democritico requet ir ideias, problemas e politicas piblicas"* ‘Veja: “Apple e Beane sobre escolas democriticas” 1 Apple Beane, 2007.7. 2 der, bier, 140 | LETRAMENTOS No mesmo espirito, William Ayers faz uma distingao entre educacio verdadeira e mero treinamento, destacando que a primeira “¢ ousada, aventureira, criativa, viva, esclarecedora. Em outras palavras, a educacao é para exploradores autoativos da vida, para aqueles que desafiariam 0 destino, para ativistas, para os cidadios’* O treinamento, por outro lado, & algo “para stiditos leais, para empregados trataveis, para consumidores, para soldados obedientes’; “a educagio derruba muralhas, impede alguém de ser escravo; 0 treinamento é apenas arame farpado’ Assim, 0 resultado da educagao € transformagio pessoal e social, nao menos do que isso, pois encontramos a vida como algo dado, vivenciamos momentos de descoberta e surpresa e ganhamos energia a partir de s entdo, alcangamos novas formas de conhecer ¢ agir, horizontes reorganizacdo e remodelacai cexpandidos e novas possibilidades. Paulo Freire e Donaldo Macedo também falam de transformagio por meio da educagao. Especificamente em relacao a alfabetizagio,* consideram-na como um processo de leitura eescrita sobre o mundo no qual os cidadaos alfabetizados se tornam “sujeitos” em ver.dos “objetos” passivos de textos; “agentes” de textos em vez de “vitimas” de textos. Nesse sentido, alfabetizacio nio é, para 0s autores, uma questo de aquisicio de habilidades de comunicagio técnica. um processo de aprender a construir significados que inserem individuos no mundo, que mudam o mundo. Portanto, a alfabetizacio é, como tal, um ato politico, uma prética emancipatéria na qual nio se I8 apenas a palavra, mas se Ié antes, e sobretudo, 0 mundo” = ‘Veja: “Ler palavras e ler 0 mundo: 0 método de alfabetizagéo Paulo Freire’ peasamone etc: gener) _ P26 Brimelro de vrios aspects da pedagogia dos letramentos eritios ear ian prs | 3 ¥a0s destacar neste capitulo: ume orientaio para textos que exemplificam evs, nip asuminda que cas | © FequereM Pensamento critico, Outros aspectos que também abordaremos sioentamento quo tes dem | estdo relacionados as miitiplas identidades dos alunos eas novas midias populares, questa Aprende a questioartets |e de massa. imerretarosmultbinsimteese5 | Dedagogia dos letramentos criticos nao se concentra nas habilidades hana reese | micas ou em aprender fats ou regras separados de seu uso, como acontece na pedagogia do letramento na abordagem didatica. A pedagogia critica envolve os estudantes como atores sociais, levantando questoes de interesse tanto local ou pessoal, quanto global ou piblico, fazendo com que possam identficar problemas edesafios atuas. Aborda questdesdificeis, contenciosas e/ou politicas, para as quais ndo hé respostas fceis, fazendo isso no por causa da “politica” em si ~embora entenda que todo ato de educasio é um ato politico -, mas para exercitar nutrir certos tipos de habitos intencionais e reflexivos de mente e ago. Nessa perspectiva, 0 objetivo dos letramentos criicos é contribu para que os alunos possam ‘entender como os sentidos so construidos no mundo pelos valores eagdes das pessoas, entendendo rasa serem obedecidas, fatos ‘que o mundo da aprendizagem nao é simplesmente uma série de rege 3 Ayers, 2010, pp, 150-151, 4 dem, bide, 5 Freire Macedo, 1987, Fal wr rtcms terme “Ietraments a acepyo que Frere & Macedo (1987) atibuem &lfsbeiardo dialogs com ‘Paulo Freie foi um precursor dos etudos sobre Ietramentos concen deerme na pce city is a rian nesse campo em todo o mundo. allaetizaso critica, que muito inflenciaram ura série de estudiosos 7 Prere, 1981. PEDAGOGIA DOS LETRAMENTOS CRITICOS | 141 1m aprendids e autoridades de conhecimento a serem seguidas. Em termos textuais, yy essoacrticamente letrada identifica tpicos relevantes, permeados por relagdes de poder, : considera pontos de vista alternativos, formula possiveis ca essas solucdes, chegando, analicg a olugies ‘edocumenta evidéncias, eae problemas e talvez também possa colocar em priti assim, as props conclusdes e apresentando argumentos bem furdamentados para defender suas proposigies, ‘Pedagogia dos etramentos na abordagem critica + Valores democritios~agindo sobre quests problemas | + Regras formals habilidades mecénicas ressne mundo + -Ativo, particpativo | + Passive, complacente __ a + Eaueagio | Trinamento a _ + Transformaco pessoal socal + Reprodosocal i (Quadro 71 Corivastando valores ds aboragens cuca ea, —— Letramentos e identidades ‘Outro foco da pedagogia dos letramentos na abordagem critica é 0 reconhecimento de que toda epresentacio e toda comunicacdo envolvem identidades humanas, uma vez que letramentos ¢ identidades estio inextricavelmente interconectados. Nesse sentido, a “posse” e 0 “uso” dos Jetramentos ~ priticas letradas particulates ~ inscrevem as identidades dos usudrios (“quem e “o que” cles slo), que diferem entre si, ‘Um exemplo interessante de como letramentos e identidades se interconectam como forma de critica e resisténcia ¢ 0 da pritica de um professor, ao trazer para sua aula letras de rap, nio apenas para compari-las com textos tradicionais de poesia para a construgio do conhecimento lteririo, ‘mas, sobretudo, para envolver ativamente alunos que apresentam histérico de fracassos escolares s de etramento convencionais. ee a Essa vertente dos letramentos criticos é, algumas vezes, trazendo uma rica cacofonia de vozes estudantis de falar e de identificar, chamada de “educagio pés-moderne’ 8 Duncan-Andrade & Morrel, 2008, 9 Aronowitz & Giroux 1991, p 128 a | LETRAMENTOS pés-moderna’, que “con inane ae ‘onfiema ertcament engaja 0 conhecimento e a experiéncia através d 7 : vento e a experiéncia los ee 'm suas préprias vozes e constroem identidad: ; e ei atitudes em relagio as diferengas em especttos veien ginero etc.) rm rospecgdo sobre as proprias posturas e (deficiéncias, sexualidade, raca, etnia, Abordando a discriminacéo ea desvantagem Em outra aula, depois de dese um ne saat ee ‘brit que um de seus alunos estaria sofrendo bullying, a professora m ; i or que todos vocés escutem esta historia sobre duas amigas: Helena e Brica. Um dia, _ oe de Brica porque alguém contou a Helena que Erica tera dito algo oe u. Helena diz a todos os seus amigos que eles deveriam parar de falar com Erica e ndo a deixar entrar mais em seu grupo. Entdo, toda ver que Erica chega perto de alguém do ‘grupo, essa pessoa vai embora rindo ea ignorance, Todas a exclutram do Facebook, e Helena até criow tum grupo sobre Erica do qual muitos colegas ja partcipam. A professora Wanda oferece a todos um quadro de ‘conexdes comuns” para iniciar seu pensamento critico sobre essa situagao e sua possivel relagdo com suas prépri vidas. ~ A parte sobre. ~ Me lembrou de. ~ Porque. = Agora, eu ndo quero que vocés citer nomes - diza professora Wanda, ~Allerem qualquer nome para que as pessoas reais em seu quadro de conexdes comuns ndo possam ser identifcadas, Os pares compartilham suas historias. Elesassistem a um video sobre bullying. Enquanto 0 farem, preenchem uma andlise de caracteristicas relacionadas a0 alvo (a pessoa que sofre discriminacio), 0 perpetrador (0 iniciador da discriminagio),o espectador (que nio atua, apenas observa) ¢ 0 aliado (que vem em auxilio do alvo). Agora, eu quero que vocés, ems cada wm dos seus grupos, interpret uma stuago de inside na qual cada um de vocsassumird um desees paps screvam um roti para esa situa, pore depois voces vao apresenticla para a turma (0s grupos selecionam uma variedade de areas de dis io sexual, discriminagio com base na sexualidade, am em seus roteiros sriminagio para seus papéis relacionados racismo, discriminacio por ‘entio, os executam, ym discriminagi. ao bullying: assédi idade, discriminagdo por deficiénca, Eles trabalh sumas cangdes populares que lidam cor suasio usados nessas letras, Eles também assistem a 1m da discriminagdo, incuindo o discurso “Eu idelesesceeve 0 roteiro de um discurso pa sma posigdo contra a discriminagdo € ‘A turma escuta atentamente as letras de alg 0s alunos, entao, discutem os modos de pers videos de alguns discursos famosos pedindo o fi tenho um sonho’ de Martin Luther King. Cada um outros na escola, projetado para inspirar os alunos a tomar o bullying. gia para “Drojtos de tramento no ensino médias A WebQues come proposta pedi Veja: erradicagao do bullying na escola PEOAGOGIA DOS LETRAMENTOSCRIICOS. | 43 ‘Como apontamos acima, outra drea de enfoque dos letramentos criticos so as novas micias 4a cultura popular, que assumem varias formas, incluindo literatura popular, misica,televisio, filmes, quadrinhos, graphic novels, revista, internet e videogames. Na pedagogia do letramentg na abordagem didatica, @ midia e a cultura populares eram vistas como mero entretenimento, io como material de aprendizagem sério, elacionado ao letramento. Eram, portanto, consideradas “cultura de lixo’, em comparacao a “alta cultura” de um canone literdrio, posto que desprovidas de valor estético e moral, e associadas as “vulgaridades” do gosto popular, de formas nao padrao do vernaculo, em ver das formas-padrao da lingua, usadas em discursos acades publicas formais se discusses ‘Tendo em vista o mundo globalizado que nossos estudantes habitam atualmente e a proliferacio, 4 sofisticagio e a poderosa influéncia dos textos da cultura popular, hé uma razio clara, um imperativo, para trazé-la para a sala de aula. Como Giroux observa, “a aprendizagem na era pis- -moderna esta localizada em outro lugar ~ nas esferas populares’ © mesmo autor comenta também: As escolas precisam redefinir os curriculos dentro de uma concepsio ps-moderna de cultura ligada as condigbes globais diversas e mutiveis que exigem novas formas de alfabetizacio, uma compreensio amplamente expandida de como o poder funciona nos aparatos culturais e um senso mais agudo de como « geragio existente de jovens esta sendo produzida dentro de uma sociedade em que a midia de massa desempenha um papel decisivo, se ndo incomparivel, na construgio de miltipas e diversas identidades sociais.* Assim, talvez agora mais do que nunca, é aparentemente necessario que equipemos nossos alunos com as ferramentas criticas necessérias para “ler” textos, “ler” o mundo, a fim de que possam ser capazes de transformar seu mundo e seu lugar nee. Hii muitas razdes pelas quais um professor pode querer trazer cultura e midia populares para a sala de aula. Pode, por exemplo, querer se conectar com as identidades dos alunos, Partindo do conhecimento sabido, antes de passar para o novo, para que possam trazer para 0 seu processo de aprendizagem recursos simbélicos poderosos que derivam em grau significativo dda mfdia e da cultura populares. Tal abordagem facilita a construgdo de conexdes entre 28 Praticas de letramentos e a expertise dos alunos fora da escola e os letramentos necessarios no contexto escolar, bem como a mobilizacio de seus conhecimentos e priticas culturais existent. Além disso, a midia e a cultura populares englobam textos atuais que carregam enorme efito emocional ¢ social, constituindo-se em espacos poderosos de atividade de constructo de significado, muito diferentes em sua forma e substancia do mundo das geragées anteriores € dlo curriculo tradicional. Soma-se a isso o fato de que os estudantes, em geral, sentem um prazét {negivel pela cultura popular, o que pode set aproveitado para motivéclos, envolvé-los, sobretudo aqueles que estio “lutando” contra o ensino tradicional escolar, sendo, portanto, considerados como alunos “em risco’ No caso da nova midia digital, o professor pode querer apresentar aos alunos as midias mais Tecentes como um projeto de “empoderamento” dos alunos para acessar recursos culturais e de 10 Giroux, 1997, p.32. 11 em, 1996.67. ‘a4 | LETRAMENTOS conhecimento ¢ para atravessar a barreira da “exclusio digital” Agora estamos definitivamente falando deletramentos no plural, que constituem os muitos modoseespagos da midia contempordnea a gama extraordinariamente variada de identidades e interesses expressos nesses espagos. Ao notar que a prépria cultura popular se tornou um foco do novo trabalho sobre midia digital ¢ aprendizagem, James Paul Gee" analisa os videogames: um ambiente multimodal de Jetramentos no qual os estudantes navegam por narrativas tio poderosas como qualquer outra no cAnone literdrio. Eles fazem isso como personagens, como atores na narrativa. Eles negociam texto imagem, Aewndsogetion | Paz entoapeu consent oarelo a noone Tete -np cone nao lies eo peed a | Amsedsconemeter | hv rostonsomeineiene ut pede oo en esto coe one "esr comrcae pa spans un ogni ero bee ___| hc conetopen on epee peo a strona canes tcl ba emer i ea tmouihopen un en pen por pecs se 7 rec pa soe mt ip iz cn os ce com comin nts etl ip a onproeocebowa Un etananit mede are noe br a pal eee pea ee ieee te SS eae pniniesineseannnpmmpemans reaps scam ede a cm ales pen lowe ia mana snot Critico | Fora porenganorenbuis noo tena enna mansiasdesermaantoqueoean | Coma Thkoemivicidnder ene dchon condoms pense eae | jogo. a | Tetcoiednans | hrmas apetine tae pin oahoexisinene norco | ad artes Tremere tes ens dram procaine eo onpetca pg | | cio de defo» rotinzacio-» desta. Alem isa const conheciment intuitive etitoera _everalzacbes incremental que continua futlerasem etigios posterior de aprendzagem, econ. abides bisicas so tasferves no aprendidasitoladamenteca ‘Gc 7a: ave de Gee sobre vieogames como ables de aprenden Veja: “Gee sobre videogames e aprendizagem: Outrossim, a pedagogia dos letramentos na abonagem critica envolve os alunos em trabalhos “questionadores’, ao interrogarem os textos com 0s quis lidam. Ao fazerem isso, eles “revelam’ vis0es de mundo, pressupostos, valores ¢ atitudes ideologicamente investidos que servem para 12 Gee, 2007, PEDAGOGIA DOS LETRAMENTOS CRITICOS. | 145 1 ~ textos. Nesse sentido, 08 aprendizes reconhecem que os textos sdo construtos ligados a priticas socias eculturas, carregados de valores e, portanto, nunca heutros, formando, com isso, posigdes alternativas e multiplos pontos de vista, demonstrando vveflexvidade critica’ que Tes possbilita posicionamentos de engajamento em atos deintervencio ¢ transformagio textual e social. Praticas de letramentos criticos podem, particulares, como funcionam, com que outros textos cont culturais sio produzidos. Isso envolve atividades de ler text ‘omparar vocabulérios e gramiticas de textos relacionados, investigar como os leitores sio posicionados pelas ideologias nos textos, realizando miiltiplos passos através deles,redesenhando- -0s ¢ transformando-08."" Informar ~ ¢ sio (re)apresentados no por exemplo, questionar a quem interessam textos flitam, em que contextos historicos e 105 relacionando uns aos outros, ‘igumas questbes para leitores mals velhos | _ Moons eps users rene sbwomieteset on ensin Oomesa | Gules sin? Sra ere ees | esses ‘Quem ¢0 pblco-ao? Come voc sabe? +O que autor quer quesalbamos Sobre 0 mundo eas pe ‘Que visso de mundo e valores 0 autor assume que olor 100 nll? © que a magenssugerem? O que 2s paves ree Sooeren? iso'torespondesoquevoct sabe obreomune | _ PO? Como se pode sabe iso? do eas pessoas? Por que/Por que ni? + Queconnecimenteoletor preci trazer paraessetextopara compreendio? + em se seni “exculdo" desse texto e por qua? Isso et (que 0 autor quer que acreitemos sob © mundo #35 estas? © que sugere isso para ns? so “combinacom 0 ‘ae voc area sabe o mundo easpascas?Porque/Por | - Quem acha que as alegoeSes fetes nese texto calidem com eve nso? 084s préprios valores crengas ou experéncas? | um problema? + Como o eter é“poscionado' em relacSo 30 autor (por exer ‘la, como amigo, come oponente como alguém que precist sr persualido, como invisvel, come alguém que concerda comasvisdes do auton? Cero peda escent pr eter fond evasion in tos xed oe rca mas cfetromerte ga ue nbs reo Imindoe abe tsps cus ou" ae + exten ans oud uns nese te? SesimquPoresenpa hum gupdepesonssee aveloeamentSeream sera? Oserertese Sereno moe pease ones Fe! autoreve sabre ump smc pres ‘sobre coisas ou eventos? an ‘Gunde 75 iterogando textos Pegunta par ox auras asm AA professora Wanda esté prestes a iniciar um estudo para discutir canais do YouTube como parte de uma unidade de trabalho da sua disciplina, Fla pergunta aos alunos: ~ A quais canis do YouTube vocés mais assstem? A professora, entio, os lista na lousa: Mundo Gloob, B. inas, Julia Silva, Tem Criang# 05 lista na lousa: Mundo Glob, Bel para Menis b, Bel para Meninas, Julia Si anniyioelaer tae quisa na turma, Mundo Gloob aparece como o canal mais. 13 Luke & Freebody, 1997, 14 Knobel, 1998, pp 97-98, 146 | LETRAMENTOS = Ok, vamos falar sobre o canal Gloob do YouTube. Quais sio 0s desenhos animados e personagens de que voces mais gostam desse canal? E por qué? ‘Wanda cria uma pesquisa on-line em que os alunos selecionam seus personagens ¢ desenhos 9s relacionados ao canal Gloob e as raz6es de suas preferéncias. = Agora vamos assistir a0 canal. Quais sao os conteiidos? Como sto organizados? ~ pergunta a fave professora, ~ Tem Gabby Estrela, detetives do Prédio Azud, Gloob Gamer, Lady Bug. E toda segunda quarta tem video novo ~ dizem alguns alunos, que vao listando e preenchendo o formulirio on-line elaborado pela professora Wanda. = Tem também vérias coisas para comprar — observam alguns alunos. ~ Entdo, se esses desenhos animados jé passam na televisdo, por que vocés acham que hd também tum canal no YouTube? ~ pergunta Wanda. = Para mostrar coisas que nao tem na televisao ~ responde um dos alunos. = Para vender coisas para as pessoas ~ arrisca outro aluno. ~ Be eles ds vezes juntam a historia ¢ as coisas que eles vendem. Af a gente quer comprar ainda ‘mais ~ diz. um outro, [A professora Wanda faz uma pausa para discutir esse ponto com toda a turma, demonstrando «sua preocupagio com o lado manipulador dos canais comerciais do YouTube. Ela explora oassunto com 0s alunos, chamando a atengéo para as propagandas publicitirias, muitas das quais exibidas de forma bem sutil, que tém como objetivo induzir as criangas a comprar € consumir os produtos relacionados aos contetidos do canal F realmente importante incorporar textos da cultura popular no curriculo¢ util salas de aula de maneira pedagogicamente produtiva e orientada para a critica, Para fazer isso, 0s professores precisam entender os leramentos contemporaneos em seu sentido mais amplo,estando ‘cientes dos letramentos extraescolares com os quais os alunos se envolvem e valorizando a rica experiencia lingu(stca, social e cultural ue tazem consigo paraa escola Além disso, os professores devem também estar conscientes ao objetificarem e abrirem os textos da cultura popular 4 andlise, tornando sua construgdo perceptivel e questionando - e convidando os alunos a fazer 0 mesmo =o apelo desses textos, ao mesmo tempo que reconhecem 0 investimento pessoal eafetivo que os .zem em relagao a eles ¢ 0 prazer que extraem deles."* Jos em nossas alunos fai A organizagao do curriculo do letramento: Foco na voz ena agéncia Encontrando a voz torno da voz dos alunos, que, para Peter +6 pois consistenas formas de expressio imento de fundo. tramentos criticos sio organizadas em “istérias que as pessoas contam’y pperiéncia e representar seu conheci para “serem ouvidas”e para se definirem estarem as pessoas sio livres Pedagogias dos le ‘McLaren, é0 material das que os individuos usam para articular sua ex Eo meio que as pessoas tém a sua disposiglo presentes no mundo, constituindo um dos principos da democracia: ode que 15 Dalley-Trim, 2012 16 MeLaren, 2015p. 179. PEDAGOGIA 00S LETRAMENTOS CRITICOS. | 147 Para manifestar seus atos nos processos de governanca que afetam suas vidas. Nesse sentido, um dos objetivos dos letramentos criticos & que os “estudantes possam adquitir a coragem pedagigica € a responsabilidade moral de participar da vida democratica como agentes sociais criticos, ‘transformando-se em autores de suas préprias hist6rias, em vez de serem considerados vitimas passivas da historia” A esse respeito, Ira Shor assevera: ‘A maneira como falamos efalam sobre n6s ajuda a nos moldar como as pessoas que nos tornamos, Através de palavras e outras ages, nos construimos em um mundo que esté nos construindo, [J O letramento € entendido como agio social através do uso da linguagem, que nos desenvolve como agentes dentro de ‘uma cultura maior"* a Veja: “Shor sobre letramento critico” Por essa perspectiva, encontrar uma vor ndo significa necessariamente se identificar com todos ou alguns dos textos ao nosso redor, muito menos adquirir as vozes apresentadas na cultura Popular ¢ na midia apenas porque estéo em toda parte. Ao contririo, pode-se até resistir e, de fato, rejeitar as vozes e as “historias” oferecidas. Nesse sentido, Anne Hass Dyson fala da reagio de Tina aos papéis menos ativos das mulheres nas narrativas Ninja, No inicio, ela, assim como 48 outras meninas de sua turma, se afastou das historias Ninja porque lhe pareciam feitas para ‘os meninos e no para as meninas. Em uma reviravolta da narrativa, uma dessas historias para ter um super-her6i feminino. A voz, nessa concepso, constitu’ uma questio de interpretagdes variadas, que envolvem ambiguidade, ambivaléncia, complexidade, contradigdo e fluxo. no entanto, Tina reconstruiu Tornando-se criadores na nova midia AAs midias digitaisadicionam outra camada de oportunidade pedagégica para os professores, crlando um espago contemporineo, onde as vores dos alunos podem ser expressas. As novis ‘ccnologias fornecem espagos para os alunos se expressarem na forma de videos, podcasts, blogs ou wikis, que nio sio diferentes das ferramentas que os usuarios mais experientes Ot Profissionals tém. Lankshear ¢ Knobel apontam que essas tecnologias fomentam verses “auténticas” em ver de “fingidas” das praticas sociais em questi, Nesse sentido, Gee” observa. sue “ferramentas digitals tém permitido que pessoas comuns possam produzir e ndo apenas consumir midia’, = Me 1 Adem, p27 18 Shor, 2009, p. 282. 19 Hass Dyson, 2001, 20 Lankshear & Knobel, 2006, p. 196, 21 Gee, 2010, p12, “Lankshear ¢ Knobel sobre pedagogia para o i-Mode” ‘4p | LETRAMENTOS A professora Wanda deseja que seus alunos utilizem uma nova midia: 0 blog. Mas nao quer que eles apenas criem um blog para colocar qualquer tipo de informagao. A ideia é que seja uum blog da escola, que contenha informagoes ¢ discusses para a comunidade escolar € seu entorno. Primeiramente, a professora pede que seus alunos pesquisem varios blogs de caréter piiblico na internet, Os estudantes tém, entdo, a oportunidade de explorar diferentes blogs, que tratam de questdes bem variadas e fazem uso de recursos distintos. Feito isso, a professora cria um blog e discute com os alunos o que poderia fazer parte dele. A primeira ideia que surge é colocar na pagina o trabalho realizado por eles a respeito da poluigio do rio localizado proximo & escola ¢ ‘que foi entregue ao prefeito da cidade. Em principio, ¢ colocada no blog a versio final do relatério e da apresentacao em Power Point que fizeram ao prefeito, com uma compilagao de pontos-chave das virias apresentases que criaram anteriormente, Surgem mais ideias: alguns alunos sugerem que o blog sirva para as pessoas poderem acompanhar o andamento da resolugio do problema de poluigao do rio; cada nova informacao sobre isso seria atualizada na pégina para a comunidade escolar. Preocupacées “pés-modernas” ducacio pés-moderna: na | Pedagogia critica tem sido fortementeinfluenciada pelo que, algumas vezes, vera sacle de arenszagen | tem sido chamado de preocupacio pés-moderna com as diferencas identitarias ‘esata idea de qu no este un | ssa versio critica da pedagogia dos letramentos tem suas raizes na pedagogia ‘nica modo de ser humane de que | ‘ een eine | autentica de John Dewey e compartilha muitas de suas suposigSes mais bisicas, sir ons apla ama de penpectnas | ComO atividades, motivagio e experiéncia do aluno, por exemplo. tusedasen dleentsexeriénas de | No entanto, diferentemente da pedagogia auténtica de Dewey, cuja énfase ia, ts, cutuas eines. | recafa sobre a cultura singular da modernidade industrial, as énfases das pedagogias criticas mais atuais esto na diferenca, na descontinuidade e na fragmentagio cultural ¢ linguistica irreversivel. Em outras palavras, acredita-se que a sociedade seja muito complexa para que se possa prevé-la ou moldé-Ia; assim, tudo 0 que pocemos fazer ¢ ouvir uns aos outros. Nesse sentido, aqueles que promovem a pedagogia critica frequentemente estabelecem relagdes diretas com movimentos intelectuais mais amplos, como o feminismo, os direitos homossexuais € 05 movimentos antirracistas, que se tornaram mais vociferantes ¢eficazes a partir das tiltimas décadas do século XX e se concentraram em reconhecer e respeitar diferengas socioculturais ¢ identitérias ‘A pedagogia critica que estamos tentando problematizar neste capitulo esta fundamentada nos sentidos do mundo que prevalecem atualmente, muitas vezes encapsulados na palavra “pés- -modernisio”, Nessa perspectiva, grandes narrativas modernistas de progresso nio seriam mais Vilidas, uma vez que se reconhece que o mundo todo nao caminha em diregao ao futuro tinico do Ea PEDAGOGIA DOS LETRAMENTOS CRITICOS | 15 Procevan Ge contbeciowentey mse et ani ode + AeBoiaane Fete + em wilt FOR IEle ee attest That a Geiger ew lestounneeton sereeme aimgeeiares so sith dew aeliew eRe Ane aie 9 vnneatnniante > «Sip Murmenmneae 9 Aoramen coos cin qprmadtaon wens + simsnu Same wil sinamsety vere andl crm th Re ee eetee deat Heo Repertene nee = eae 5 Leman ster Rs eh es teal Ne ain ane tow Renemeerencine i riage RS St Stee peels stm canteen ant tcc om Pretec seein pn sen ct. acon eign ain tt (Mee emer: Femme Se cemioe de line semeatee de emeppetan Ne epee tes Be arene ae mmm Ream pe erally te tne, 2) neagee ceca do elon Ae leeeneten, ee aa em Experienciar 0 conhecido Consi ria educaga 3 canes Prop ia educacio e reflita sobre as experigncias nas q sjou em relagio a \s quais se engajou em rela 8 cultura popular © a textos das nos mis digits Fo una caperiina agradivel? ect a era dierent aprendizagem “valiosa’? Como essa experiéncia contribuiu nido sobre 0 que vocé pensa da p an que voce pensa da possibilidade de usar esses textos em sua Experienciar 0 conhecido 4, Descreva um momento de aprendizagem em que vocé experimentou a pedagogia critica. Como foi esse momento? Vocé avalia como um momento de aprendizagem eficaz ou ineficaz? Por qué? Aplicar apropriadamente Nos capitulos desta segdo do livro, voce tem se engajado na teoria e na pratica das prineipais abordagens dos letramentos. Escolha um tema de letramento que possa ser ensinado em uma atividade escolar que exemplifique a pedagogia critica. Escreva uma conversa hipotética entre professor e aluno no decorrer dessa atividade. 5. Analisar funcionalmente 6. Analise um jogo de videogame usando a estrutura de andlise de James Gee vista neste capitulo. s de Encontre exemplos de cada tipo de aprendizagem no jogo em questo. Como os principio: aprendizagem do jogo se comparam a sala de aula na pedagogia didatica? Analisar criticamente 5. Discuta as condigdes de aprendizagem sob as quais a pedagogia critica seria mais ou menos apropriada. a (para um Aplicando criativamente 8. Considere um aplicativo Pi determinado assunto ou contexto de apren esse aplicativo cujo foco principal (embora nio necessariamente exclusivo) sea cro. articularmente apropriado para a pedagogia crit \dizagem) e desenvolva um plano de aula ilustrando sntos na abordagem critica, com particular énfase popular e a0s textos das novas midias digitas textos. Ao mudar a Aplicando criativamente 9. Este capitulo explorou a pe no uso de tal abordagem em relagao & Essa abordagem, no entanto, é aplicéve énfase da cultura popular e das novas midias digitais texte lteririo adulto ou infantiD), considerando o seguinte cenér Condrios A escola na qual voc® trabalha esté comprometida como desenvolvimento profsional dos funciondrios e, como tal é uma exigencia para toda 2 equip apresentar uma “Sessio de Desenvolvimento Profissional da Equipe’ a sua vez de apresentar sua proposta 208 ‘Agora : funciondrios da escola. Ao realizar essa tarefa, ‘uma apresentagao em ‘yoct ¢ obrigado a preparar PenerPoint, com foco na implementagso de uma abordagem pedagégica critica dos letramentos para o trabalho com 0 livro que escolhew .dagogia dos letramet cultura 11a um exame de toda a gama de t vyoct deve escolher um livro (pode ser um o para preparar a tare: PEDAGOGIA 00S LETRAMENTOS CRITICOS | 161

You might also like