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" is 4 & LOT LILY eo Bee Mees 1d SIV ZVZIVely CHINESR Ihe uma longa ex- io dos conceitos da jonal Chinesa no combate outras formas de dese- ao na origem de muitas. re Fe ernest aed Say fe eee tore rete ete O ser humano absorve energia Pree ees ie Mo ro ence Tares roe ie eee ea rsaee ren tes — os quais, por nao terem forma definida, sa de caracteristica Yang Der ree ts eee possuem caracteristica Yin. Yo rertk S RCO Pale Ob cnc an ten Reese OE Re oS Ceo rerio eC eee ent as nossas funcdes fisiolégic: A alimentacio é, portanto, tes- Peace en cee ee) sentra ee eee te © poder de decidir 0 que se vai ROOTES EC Te Grs Tn Oar) ey sacar OM CM ttre Cadi eR Se em een Tray livro se propde a transmitir. Ele esta Racer i airs ose PV aemeict erareg Cite arts gética de alguns alimentos. Pret Re Aero atc cas baseadas nos principios da Medi- cina Tradicional Chinesa. BY Cera eT te homeopata ¢ especialista em Me- Crh Umber oc eitorm ace er Oe renee oan Can ern Des eee eee cok OOo Especializacio em Medicina Tradi- Recor VCa ttc CMON DETR scuUE Dietética CHINTSH Dr. Mauro Perini Dados Intemnacionais de Catalogagao na Publicago (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Perini, Mauro Terapia dietética chinesa / Mauro Perini — Sao Paulo/SP, 2003. 1, Dietoterapia 2. Medicina chinesa I. Titulo. 01-5856 CDD-615.8540889951 Indices para catélogo sistematico: 1. Dietoterapia chinesa CDD-615.8540889951 2. Terapia dietética chinesa CDD-615.8540889951 Titulo original: Terapia dietética chinesa Copyright® 2002: Mauro Perini Capa: Sandro de Paiva Revisiio: Mauro Perini Diagramagao: Simone de Castro Pinheiro Machado Impressio ¢ acabamento: Edigdes Loyola E proibida a reprodugio total ou parcial desta obra, sejam quais forem os meios empregados, sem autoriza- | edo por escrito do autor, conforme os termos da Lei n® 6.895, de 17/12/80, autenticada pela Lei n° 9.610, | de 19/02/98, o infrator sicard sujeito as penalidades previsias nos artigos 184 e 186 do Cédigo Penal. Dedicatéria Esta obra € dedicada a todas as pessoas que se interes- sam por uma vida melhor e mais saudavel. A todos os meus clientes, com quem aprendi muito. A minha esposa, Wilma, aos meus filhos, Carolina, Ra- quel e Victor, e em mem6Gria de meus pais, Aldo e Laura. Agradecimentos A todos os meus clientes e funcionérios, A minha familia e amigos, A todos que me incentivaram a escrever minhas experiéncias. A Roberto Lima das Neves, que me ajudou na tradugao dos textos em inglés, a Noemi Lang, que traduziu os textos em francés, a Profa. Maria Helena Novaes Rodri- gues, que fez a revisio, a Simone pela diagramagio, a Sandro pela capa, a Marcelo pela edigao do texto e espe- cialmente ao Prof. Dr. Ysao Yamamura e A Profa. Dra. Angela Tabosa, que sempre foram para mim a referéncia dessa nova e antiga medicina pela qual me apaixonei. INDICE Preficio. Introdugio. " A energia e o home! 1. Que é energia?..... 2. Como podemos adoecer' 2.1 Doengas Externas 2.1.1 Energias césmicas .. 2.1.2 Energias alimentares . 2.1.3 Acidentes .. 2.2 Doengas Internas .. 2.2.1 Doengas dos Ancestrais 2.2.2 Doencas das Fadigas.. 2.2.3 Doengas das Emocoes A medicina chinesa, 1. As energias humanas L.1 Energia nutritiva ~ “Ron, Energia de Céu ... Energia da Terra 1.2 Energia Transformada ~ “Jing” . 1.2.1 “Jing do Figado” . 1.2.2 “Jing do Coragao” .. 1.23 “Jing do Bago” 1.2.4 “Jing do Pulmao” 1.2.5 “Jing do Rim” 1.3 Energia Defensiva — Dieta terapia. « Macrobi6tica . Produgao de comid: . Alimento, manias e dietas . Carne e legumes. . Leite de vac 5.1 Leite como medicamento ou fator de doenga WARNS 5.2 Superconsumo 5.3 Adulteraciio 5.4 Pasteurizagao....... 5.5 Homogeneizacio . 5.6 Antibisticos 5.7 Alimentagdo dos animais .. 5.8 Alimento para bebés.... 5.9 Laticinios ¢ leite de soja .. PARTE UM SOBRE TERAPIA DIETETICA NA MCT CONCEITO, ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA DIETETICA NA MCT. O conceito de Terapia Dietética em MCT... A origem e o desenvolvimento de Terapia Diet Propriedades gerais do alimento A natureza e o gosto do alimento . Propensio do alimento pelo canal de energia A. aplicagio de alimentos .. Combinagao de alimentos 1. Fortalecimento e assisténcia mutua 2. Incompatibilidade e desintoxicagéo miitua 3. Inibigao maitua . 4, Antagonismo Dieta equilibrada O equilibrio da dieta O desequilibrio da dieta . Uso apropriado da alimentagdo O preparo do alimento Proibigdes de dieta ... 1. ProibigGes de dieta durante doenga 2. Proibigdes dietéticas durante a gravidez e apés 0 parto .. 70 PRINC{PIOS DA TERAPIA DIETETICA NA MEDICINA CHINESA TRADICIONAL (MCT). B Os regulamenos de Yin e Yang ... A coordenagiio dos Srgaos internos Adaptagao ao clima Adaptacio as necessidades individuai Adiministragao de dietas baseadas na diferenciagao de sintomas e sinai Principais Métodos da Terapia Dietética ..... Método para revigorar 0 QI e reabastecer 0 Bago Revigorando 0 Qi do Pulm&0 ..cscsce Revigorando 0 Qi do Bago .. Fortalecendo 0 Bago e removendo a umidade .. Fortalecendo e recuperando 0 Qi em queda . Reabastecendo 0 QI e contendo o sangue.. Métodos de enriquecer o sangue e alimentar o Yin.. Métodos de tonificar 0 Rim e reabastecer a Esséncia Métodos de fortalecimento do Estémago e estimulo da produgdo de Fluidos Corporais Higiene Dietética... Moderagao nas refeigbes ... Comida limpa e saudével . PARTEDOIS PROPRIEDADES E APLICACOES DOS ALIMENTOS Legumes aquiticos e terrestres Algas. Fungos .. Frutas cultivadas e silvestres Cereais, gros, nozes e castanhas Aves, mamiferos e outros Peixe, tartaruga, marisco e caranguejo ... Condimentos e miscelanea... PARTE TRES RECEITAS E PROIBICOES DIETETICAS PARA DOENCAS COMUNS DOENCAS INTERNAS... Resfriado comum.. Doengas epidémicas febri Tosse.. Respiragao dificil Tuberculose pulmonar Tossir sangue... Afonia .. Palpitagao Dor cardiaca (Angina) Ins6nia_ Suor excessivo . Indigestao Vémito Retengao de umidade (no Estomago e no Bago) Dor epigastrica . Dor abdominal Diarréia Constipagao Vertigem Dor de cabega Edema.. Impoténcia .. Diabetes .. Depressi Doengas Ginecolégicas Dismenorréia Amenorréia Sangramento uterino anormal (“BENG-LUO”) .. Produgao de leite insuficiente (HIPOGALACTIA) DOENCAS EXTERNAS E TRAUMAS Feridas, carbtinculos e furtinculos ... Erisipela . Perda anormal de cabelo Hemorréidas Fratura ... DISFUNCOES DO OLHO, DO OUVIDO, DO NARIZ E DA GARGANTA ..... 237 Cegueira noturna .. Conjuntivite ... Garganta dolorida Aftas Gengivas sangrando Sinusite REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS... PREFACIO Nos ultimos quinze anos de vida, apés conhecer a Medi- cina Chinesa, fui modificando uma série de conceitos que ti- nha como certos. Posso dizer que a Medicina Chinesa foi (e €) para mim como uma mulher pela qual me apaixonei e que quanto mais a conhe- cia, mais crescia a paixdo e mais eu necessitava conhecé-la. Conforme crescia meu envolvimento com o trabalho, as pesquisas, Os Cursos € Os congressos, a paixaio aumentava. Per- cebo que ainda nao a conhego de todo e que ha nela muitos mistérios a serem desvendados. Apesar dos mestres chineses antigos terem dito tudo, eles foram espertos o bastante para deixar a teoria em aberto, € nds, médicos modernos, temos o dever de continuar desen- volvendo-a. Isso também se refere a alimentagao. Todos nés sabemos a importancia da alimentagao na for- magao do ser humano. A Medicina Ocidental cada vez mais valoriza estes aspectos, ¢ em muitos casos a alimentagiio é re- conhecida como causa de intimeras doengas. Uma boa orienta- go dietética passou a ser, nos tiltimos anos, fundamental para o restabelecimento da sauide e 0 curso superior de nutri¢ao sur- ge no contexto histérico da Medicina Ocidental, ocupando um espaco que se encontrava vazio durante centenas de anos. Ha mais de trés mil anos, os mestres chineses ja tinham esta preocupacao, e nos livros antigos de matéria médica, en- contramos varios capitulos de orientagao dietética. O Ocidente se desenvolveu amplamente no conhecimen- to da fisiologia humana e suas necessidades metabdlicas, de baa) Mauro Perini modo que hoje sao conhecidas doengas causadas por deficiéncia vitaminicas, de minerais, proteinas, gorduras, etc. O que a observacdo pratica mostra contudo, é que apesar de serem oferecidos estes aportes, a resposta nem sempre é a esperada, ou seja, mes- mo tomando vitaminas e sais minerais, continuamos com a sensagiio de fadiga. Mesmo tomando calcio, continuamos com osteoporose e eventual- mente podemos desenvolver calculos renais ou a exacerbacao de uma artrose. Portanto, nao basta tomar calcio, é preciso encontrar meios para que ele seja absorvido, e mais, que va para 0 lugar certo. A contribuigao da Medicina Chinesa, se da justamente nesses aspec- tos, uma vez que ela introduz aos conhecimentos ocidentais a visdo energé- tica gravada nos escritos chineses. O conceito de Yin e Yang compreende que para absorver o calcio é preciso calor. Para os ocidentais, isso pode parecer fosforilagao mental, mas na pratica funciona, ent&o somos nds que nao temos ainda a capacidade de compreender os conceitos da energia que foram descritos pelos chineses antigos. O livro Terapia Dietética Chinesa, nao ensina a fazer comida chinesa, mas a aplicar os conhecimentos milenares dessa medicina na nossa vida pratica. Ele nao pretende mudar nosso arroz ¢ feijao (que por sinal é muito bom), mas adaptar essa antiga sabedoria aos nossos habitos populares. Aproveite estes conhecimentos e realize os objetivos do livro. Mauro Perini INTRODUCGAO A ENERGIA E O HOMEM Ohomem é feito de matéria e energia. A parte material é a que podemos vere tocar; a energia é responsAvel pelo movimento. Tudo que fazemos depende da presenga da energia: andar, falar, pensar... Nossos érgaos desenvolvem-se pela energia. Todo movimento de- pende da energia. A vida se expressa através do movimento e 0 movimento ocorre a custa da energia. A compreensiio das relagSes entre a matéria ¢ a energiaé fun- damental para o desenvolvimento de uma nova medicina, capaz de responder as necessidades atuais do ser humano ante as varias e recentes agressdes a que ele est sujeito. A Medicina Ocidental, por razes histéricas, desenvolveu-se muito bem no conhecimento da matéria. Por forte influéncia da igreja da Idade Média na filosofia e na ciéncia—e a Medicina nao estava fora disto -, os cientistas da época esforgavam-se para usar um linguajar adequado aquele que a Igreja julgava ser 0 cor- reto. “Vocés cuidem do corpo que a Igreja cabe cuidar da alma.” A partir dessa época, instalou-se uma divisao na forma de abor- dar o ser humano que permanece até hoje. Obviamente, falar em energia naquela época poderia colocar emrisco a propria vida, principalmente porque, quando se fala de energia, pode-se estabelecer confusdo com 0 que os espiritualistas chamam de alma ou espirito. Imaginem que em uma feira de uma cidade medieval alguém sofresse uma crise convulsiva: certamente obispo seria chamado, por tratar-se de um espirito maligno que deveria ser exorcizado. De fato, uma crise convulsiva apresenta trés etapas: um momento que a antecede, conhecido como “aura convulsiva”; um segundo momento, quando ocorre uma agitagio 116 | Mauro Perini intensa com movimentos t6nicos musculares; e uma terceira fase, de relaxamen- toe sono. Assim, até o bispo chegar, o doente poderia estar nesta terceira fase, perto de relaxar e dormir, mas quem estivesse observando pensaria que as ora- Ges teriam sido as responsdveis pelo fim da crise. Até ha bem pouco tempo, as mies de criangas convulsivas escondiam seus filhos em casa, com medo de que pudessem ser descobertos e considerados tomados pelo espirito mau. Os chineses antigos, no livro As Cancées do Dra- gdo de Jade (escrito por volta de 900 a.C.), ensinavam, em uma de suas can- Ges, como tratar a crise convulsiva. Galeno, grande médico ocidental do periodo medieval, dizia: “A doenga é uma mécula rubra; se conseguirmos descobri-la e expulsd-la, recuperamos a satide”. No inicio, acredii se que ela estava no sangue, 0 que justificava a realizagao da sangria, pratica comum naqueles tempos. De certa forma, os ocidentais procuram, desde entéo, esta tal “macula rubra” ¢, para tanto, desenvolveu-se vasta tecnologia de pesquisa clinica, laboratorial e radioldgica, capaz de “virar o homem do avesso”, como se diz na linguagem popular. Quando Pasteur descobriu os virus e os microorganismos, supés-se que esta fosse a “macula rubra”. Porém, depois de longo tempo combatendo os microorganismos, descobriu-se que eles sé atacam quem esta suscetfvel. Surge, entao, 0 conceito de suscetibilidade, ou seja: “sé fica doente quem pode, no quem quer”. Hoje temos algumas cepas de bactérias que nao conseguimos des- ' s! truir, pois sao altamente resistentes e mutantes. Nao queira pegar uma de: Concluimos, entio, que durante esses longos anos de combate criamos alguns monstros capazes de nos destruir, Isso ocorreu devido a um erro conceitual: a“macula rubra” nao é 0 microorganismo, é “alguma coisa” no terreno onde ele se instala, ou seja, a suscetibilidade. Nao queremos dizer com isso que as descobertas da ciéncia nao sejam boas. Apenas estamos levantando uma questao sobre o mau uso desses conhe- cimentos, ou a falta de compreensao adequada do fato, de que — por exemplo— a verdadeira causa da tuberculose nao € 0 bacilo, mas é ele somado a uma série de circunstancias que possibilitam o desenvolvimento da doenga. Portanto, nao basta ministrar antibidtico e vacinas: é necessdria uma série de ag6es para com- bater a doenga, as quais seguramente passam pelo fortalecimento do ser. Terapia dietética chinesa 147) No curso de sua historia, os chineses certamente passaram também por epidemias, como ocorreu no Ocidente. Considerando que sua populacao sem- pre se manteve em ntimero bastante elevado, é ldgico supor que as ages de- senvolvidas pelos médicos chineses antigos incluiam agdes preventivas e curati- vas, inclusive de doencas causadas por microorganismos que, na antigtiidade, ram conhecidas por doengas provocadas pelo calor-téxico. Nao existe, na literatura antiga, descri¢ao de bactérias ou virus, mas existem diversos tratamen- tos tanto herbarios como acupunturais que hoje vemos serem bastante eficazes no enfrentamento de doengas. No século XX, na década de 20, a humanidade enfrentou a grande epide- mia de tuberculose no planeta: a tuberculose foi para a humanidade da época o que a AIDS € para nés hoje. Atualmente estamos em um estado pré-epidémico da tuberculose novamente, apesar de quarenta anos de antibisticos e vacinas, O que existe de semelhante entre as décadas de 20 e 90 do século passado? Fome, desemprego, “quebra” em Bolsas de Valores, dep: 10, diminuigiio dos investimentos nas areas sociais, falta de esperanga, tudo issi certamente coinci- de. O filme A Noite dos Desesperados retrata bem o sentimento de um povo que viveu esse momento histérico da humanidade. A tristeza, para os chineses antigos, agride, enfraquece e debilita o Pulmao. Obacilo encontra, entio, o terreno propicio para penetrar e desenvolver a do- enga. A tristeza é uma forma de energia nociva que agride a energia organica do ser. A“macula Rubra” é, portanto, o bacilo, mas o bacilo diante de um pulmo debilitado e enfraquecido, com sua energia enfraquecida. Bis af a “macula rubra” deGaleno. A Medicina Ocidental desenvolveu-se grandemente no conhecimento das causas materiais das doengas, enquanto que a Medicina Chinesa evoluiu na iden- tificagiio de causas energéticas. A unidio desses conhecimentos pode fazer surgir uma nova medicina, nem ocidental nem oriental, mas universal, que trar ao ser humano grandes beneficios e a compreensiio completa do ser. Basta aceitarmos que um povo sem recursos tecnolégicos, mas com grande capacidade de ob- servaciio compreende melhor o ser humano que nés, Basta também que nds, ocidentais, deixemos de pensar, arrogantemente, que somos os tinicos seres do planeta capazes de produzir conhecimento, A doenga — salvo em situagdes como um acidente, por exemplo — ocorre como um longo proceso, e a primeira coisa que adoece é a energia. Se nada for feito, o problema caminha para alteragGes funcionais e, portiltimo, passaaagredir 118 | Mauro Perini amatéria. Nas duas primeiras etapas do adoecimento, todos os exames laboratoriais € radiol6gicos sao normais, por que a matéria esté normal. E bastante comum ouvirmos relatos de pessoas que, com sintomas reais, procuram a orientagdio de médicos ¢ realizam exames, os quais nao acusam “nada” que justifique os sinto- mas. Tais casos correspondem a alteragGes energéticas ou funcionais. AMedicina Chinesa propée-se a compreender, combater e interromper 0 proceso de adoecimento, impedindo que ele progrida e eventualmente venha a agredir a matéria. Na China antiga, o médico era condecorado quando a popu- lagao de que ele cuidava nao adoecia; no Ocidente, o médico condecorado € aquele que trata doengas instaladas. 1. QUE E ENERGIA? Aenergia, como jé foi dito, é responsavel pelo movimento. A vida é movi- mento; a estagnagio, a auséncia de movimento, é a auséncia de vida. Toda energia universal € bipolar. Esta é uma lei fisica. A bipolaridade da ener- gia é sentida a todo momento. Toda vez que vemos uma manifestagiio energética, sabemos que existe a manifestagiio oposta a ela. Se hd o claro, hao escuro; se ha o quente, héo frio: o dia ea noite, o agitado e 0 parado, a alegria ea tristeza, 0 homem ea mulher. Esta é a teoria do Tao, dos opostos que se complementam, se atraem e permitem a vida. Se houver s6 0 calor, nao ha vida; se houver s6 0 frio, também nao. Os planetas do sistema solar que esto muito préximos do Sol sao to quentes que nao permitem a vida; os que esto distantes so tao frios que, da mesma forma, mas por razées diferentes, também nao tém vida. A Terra encon- tra-se em uma posicio privilegiada e pode desenvolyer milhares de formas de vida. Quando 0 equilibrio se altera, a vida se altera, de tal modo que, no deserto, a vida é rara, devido ao excesso de calor, e no Pélo Norte também, devido ao excesso de frio. A populacdo humana, vegetal e animal escolheu as areas do pla- neta onde o equilfbrio é mais adequado para viver e se desenvolver. A energia humana é também bipolar como toda energia, de modo que, dentro de nds, existe 0 calor e 0 frio, a energia de polaridade positiva e a energia de polaridade negativa, o Yang e o Yin, denominagoes dadas pelos chineses antigos que compreenderam bem antes de nds estes fendmenos. Quando 0 Yang e o Yin esto equilibrados, encontramo-nos em estado de satide; quando ha desequilibrio — por excesso ou falta de Yang, ou excesso ou falta de Yin -, inicia-se dentro de nés um processo que chamamos de pro- cesso de adoecimento. Energia doente, fungao doente e matéria doente. Terapia dietética chinesa 119] 2. COMO PODEMOS ADOECER? Os chineses falam em doengas externas e internas. As doengas externas s’io doencas causadas por energias do exterior que inva- dem o interior, causando desequilibrio ¢ iniciando 0 processo de adoecimento. 2.1 Doengas Externas 2.1.1 Energias Césmicas Frio, Calor, Umidade, Secura e Vento! Se vocé estd razoavelmente equilibrado e toma Frio, por exemplo, a pene- tracdo do Frio no corpo gera um desequilfbrio do tipo plenitude ou excesso de Yin. Para compensar este aumento de Yin, sua energia vital gera um aumento de Calor (febre Yang); para compensar 0 aumento do Yin, ocorre uma transpiragao, que expulsa o Frio e assim recupera-se 0 equilibrio. Este € 0 famoso ‘resfriado’. Se ocorrer o contrério— por exemplo, vocé vai a praia e se expe excessi- yamente ao sol —, isso gera um desequilibrio do tipo plenitude ou excesso de Yang. Para compensar este excesso de Calor, ha necessidade de se hidratar e se refrescar para evitar uma insolacao ou desidratagio. Existem doengas que, classicamente, so causadas pela penetracao de Vento: € 0 caso da paralisia facial, por exemplo. A Secura é responsdvel pela maioria dos problemas respiratérios e a Umidade por problemas articulares e digestivos. 2.1.2 Energias Alimentares Os cinco sabores: Acido, Amargo, Doce, Picante e Salgado. As cinco cores: Verde, Vermelha, Amarela, Branca e Escura. Os chineses antigos, quando se referiam a energias alimentares, falavam das cinco cores e cinco sabores, Certamente, nao imaginavam que algum dia pu- "Terms como Frio, Calor, Umidade, Secura, Vento e outros so grafados com maitiscula inicial, pois correspondem a categorias de observacio das manifestagdes da energia, na perspectiva dos ensinamentos da tradigdo oriental. | 20] dessem existir agrot6xicos, horménios, anabolizantes, adubos quimicos ¢ outras drogas, poluigao do ar, da Agua e da terra. Nés incluimos, portanto, estes as- pectos aos jd relatados por eles. Um boi leva cinco anos para ficar adulto de modo natural, mas se os ho- mens 0 engordam em quinze meses, certamente esta carne estd doente. Um frango leva oito meses para ficar adulto; numa granja, porém, ele est pronto para o abate em quarenta dias. Estes processos de engorda répida ocorrem a custa de hormé6nios e anabolizantes e, por isso, é claro, estes alimentos podem causar doengas. Recentemente, setecentos pesquisadores americanos relacio- naram 0 cancer aos alimentos contaminados. De uma maneira geral, devemos comer das cinco cores e dos cinco sabores de uma forma equilibrada. Quando existem abusos de determinados alimentos, podemos adoecer por desequilfbrio do tipo “Plenitude”; se houver falta, por desequilibrio do tipo “Vazio”. Comer muito 0 sabor doce pode afetar 0 Bago/Est6mago; 0 excesso de sal afeta o Rim; 0 picante, o Pulmao; o amargo, 0 Coragao; e 0 acido, o Figado. 2.1.3 Acidentes Estes sao dbvios e nao requerem muita explicagao, a nao ser pelo fato de que, conforme a 4rea afetada, haverd uma resposta interna — por exemplo, o Rim cuida dos ossos e uma fratura afetara o Rim. Outra coisa importante € que os acidentes, em geral, nao acontecem por acaso ¢ estao também relacionados a desequilibrios energéticos que, causando desarmonias no motorista, irao cer- tamente afetar a forma como ele dirige. 2.2 Doencas Internas 2.2.1 Doengas dos Ancestrsais Sao doengas que nds herdamos dos nossos antepassados, algumas conhe- cidas como de causa genética claramente e outras como apenas uma tendéncia adesenvolver uma doenga como 0 diabetes, problemas cardiacos, varizes, etc. De qualquer forma, o conhecimento da maneira pela qual uma doenga pode se transmitir de pais para filhos é muito importante no trabalho de prevenir e, precocemente, jd desenvolvermos agées concretas no combate. Terapia dietética chinesa |) 2.2.2 Doencas das Fadigas As fadigas incluem todas as doengas que resultam do des gaste da energia. Trabalhar varios anos sem descansar adequadamente, por exemplo, pode provocar desgastes energéticos irrecuperaveis. Tal como uma conta ban- céria de que somente sacamos 0 dinheiro, sem nunca depositar, obviamente vamos entrar no negativo e depois teremos que pagar os juros, o que pode se transformar em uma bola de neve. Isto se chama, Jadiga fisica. Ha também a fadiga psiquica, que consiste em conviver com um problema psicoemocional durante anos, sem poder resolvé-lo. Um casamento mal-suce- dido, um caso de alcoolismo na familia, entre tantos outros, s30 situagdes que podem causar um grande desgaste de energia. 2.2.3 Doencas das Emogées Rava, Mepo, Tristeza, PREOCUPAGOES E ALEGRIA As doengas causadas pelas emogées, os choques psicoemocionais, talvez sejam os principais responsdveis pelo inicio do processo de adoecimento. Mas isso ocorre somente quando a emogio nao é manifestada de forma adequada: passar raiva nao € problema; o problema é ficar com raiva. Quando se passa uma emogao—seja qual for—, ¢ ela se manifesta bem, isso funciona como um alimento para o corpo. A emogao éruim quando fica guarda- da dentro de nds, pois, neste caso, ela pode causar doencas. Todas essas energias, externas e internas, siio chamadas Energias Perver- sas, Nocivas, Agressivas. Elas podem penetrar no sistema energético humano, causar um desequilibrio e iniciar 0 processo de adoecimento. Toda vez que somos agredidos por uma Energia Perversa, nosso sistema energético natural- mente tenta expulsar e recuperar o equilibrio. Quando conseguimos fazer isso, nés ja interrompemos 0 processo; se no conseguimos, a Energia Perversa fica dentro do sistema e, como nao é de boa qualidade, pode causar doencas. 1221 | Mauro Perini Perverso Orginico XIE QU ZHENG QT O objetivo da Medicina Chinesa é reconhecer estas energias de ma quali- dade, promover agGes para expulsé-las e recuperar 0 equilibrio energético per- dido. Para se conseguir este objetivo sao propostas varias ages, dentre aquelas que compoem o grande arsenal terapéutico da Medicina Chinesa: + Acupuntura; + Moxabustio; + Dieta Terapia; + Banhos Terapéuticos; + Massagens; + Tai Chi Chuan; + Fitoterapia. Neste trabalho, abordaremos principalmente os principios da Dieta Terapia. A MEDICINA CHINESA A Medicina Chinesa fundamenta-se no conceito de Energia, “Res- piro”, “Sopro”, que vamos chamar de QI. A face radiante de uma pessoa saudavel reflete o QI nao visto e que lhe dé vigor. Embora a maioria dos conceitos usados na Medicina Chinesa seja pertinente no ocidente moderno, algumas adaptagGes siio neces- sdrias, para uma melhor compreensio e aplicagiio destes conceitos. Como 0s seres humanos se localizam em regides geograficas diferentes, os alimentos que eles comem tradicionalmente refletem uma consciéncia da necessidade de equilibrar 0 QI do alimento como do corpo. Assim, os esquimés consomem alimentos alta- mente gordurosos e carnes e as pessoas de regides tropicais usam grandes quantidades de frutas suculentas e refrescantes. E claro que, no mundo moderno, precisamos considerar 0 poder da midia em gerar necessidades que niio existem de fato: na época do Natal, por exemplo, estamos em pleno verio e, por uma tradigdo européia e americana, somos levados a con- sumir alimentos gordurosos e sementes oleosas que deveriam ser consumidas no inverno. Uma boa ceia de Natal, em paises como 0 Brasil, deveria conter muitas frutas, verduras, legumes peixes, que sao alimentos refrescantes. As teorias do equilibrio Yin/Yang e dos “Cinco Movimen- tos” fundamentam a maioria das agGes tomadas pela Medicina Chinesa. O Yin/Yang representa, na verdade, o movimento de rotacao da Terra que é girar em torno do seu proprio eixo: fazendo o diae anoite. Se a Terra parasse de girar, um lado ficaria voltado para o Sol € 0 outro lado estaria voltado para o outro lado do Universo, © que impossibilitaria a vida neste planeta. A vida na Terra € pos- sivel devido a esse movimento, devido a existéncia do Yang/Yin, devido ao movimento constante e ininterrupto de transformacao do Yin no Yang e do Yang no Yin. E isto que permite a vida. 1261 Mauro Perini Além do movimento de girar em torno do seu eixo, a Terra tem também 0 movimento de translagaio. Quando a terra faz a translagao e pendula sobre 0 seu eixo, faz as estacdes do ano. Primavera, Veraio, Outono e Inverno, cada um destes movimentos recebeu 0 nome de um elemento da natureza: Madeira, Fogo, Metal e Agua. Na Teoria dos Cinco Movimentos fe m “Final de Verao”, que € o elemento Terra. Apesar de localizado apés o Verao, na verdade, o elemento Terra é 0 ponto em que ocorrem todas as transformagGes; é 0 ponto em que uma estacao se transforma na outra. Na verdade, € 0 inicio e o final de todas as estacGes. ‘YERAO Fogo ‘ FIM DO. PRIMAVERA ay Madeira Terra ANVERNO. ‘oureNo Agua Metal Pelo movimento de translacdo, cada estagao é geradora da préxima, de modo que s6 existe Primavera se existir o Inverno, s6 haverd Verao se houve a Primavera € assim por diante. Como cada estagao esta ligada a um elemento da natureza, Madeira gera Fogo, Fogo gera Terra, Terra gera Metal, Metal gera Agua e Agua gera Madeira, fechando o ciclo. FOGO A “ “MADEIRA TERRA AGUA qq METAL Terapia dietética chinesa 1271 Em tudo ha o Yang/Yin, hd o que gera e hd o que domina. Sempre existe o que faz crescer e 0 que faz parar de crescer. Se s6 existisse a geracao, nds iriamos crescendo sem parar. O movimento de gerac¢do ocorre “de mae para filho”; o de dominagdo é “de av6 para neto”, de modo que, se a Agua émie do Madeiraea Madeira é mae do Fogo, a Agua é avé do Fogo. Assim, se a Agua faz crescera Madeira ela € capaz de dominar e apagar o Fogo. A Agua domina 0 Fogo, a Madeira domina a Terra por meio de suas rafzes, o Fogo derrete o Metal, a Terra retém a Agua e o Metal corta a Madeira. Completando a teoria, existem as relacdes de contra-dominancia, em que 0 excesso de Fogo pode destruir a Agua, 0 excesso de Agua sera capaz de dizimar a Terra e assim por diante. Cada elemento relaciona-se com um dos cinco Orgiios Preciososs: a Ma- deira é 0 Figado, movimento de geraciio e metabolismo constante; 0 Fogo € 0 128] Mauro Perini Coragio, a expressio interna mais pura do calor; a Terra é 0 Bago/Pancreas, que transforma e obtém o QI do alimento vindo da terra; o Metal — que € 0 elemento puro—é o Pulmio, que purifica o area Agua é 0 Rim. ~ aa oo Da mesma forma que a Agua faz crescer a Madeira, o Rim gera energia para o Figado e, assim como a Agua apaga 0 Fogo, o Rim domina e equili- bra a energia do Coragao. A Madeira gera 0 Fogo e domina a Terra, 0 Figa- do gera 0 Coracao e domina o Bago/Pancreas e assim por diante. aA “e ese + Cada movimento corresponde a uma cor, a um sabor, a um fendmeno da natureza. E interessante observar que nés temos alguma preferéncia por uma cor ou um sabor e no encontramos explicagio para este fato. Quando abrimos 0 guarda-roupas, geralmente vemos uma tendéncia de cor. Isto de fato acontece e, ento, algumas vezes, até pensamos em com- prar alguma roupa diferente: andamos o shopping inteiro e acabamos com- prando da mesma cor. “ Terapia dietética chinesa 1291 Isto tem a ver com as nossas necessidades energéticas. Geralmente, procu- ramos a Cor com a qual nos sentimos bem. Isto vale para sabor, para regiaio geogréfica, para misica, cheiros, etc. Souenn, um grande mestre chinés, o mesmo que disse que nao se deve esperar acabar a gua para comegar a furar 0 pogo, também disse: “Quando o filho esta doente, deve-se tratar a mae e a av6”. Desse modo, se ha um proble- ma no Coragiio, deve-se tratar a mae Figado e a avé Rim. Os cinco 6rgios mencionados anteriormente sao chamados de Cinco Pre- ciosos no processo de formagao do ser: quatro semanas apés a fecundagio ja temos Coragaio; com oito semanas, o Rim. Com doze semanas, os Cinco Preci- 0s0s estao presentes ec, a partir do momento em que os cinco érgiios estio presentes, completa-se a formagao do ser. Daquele pequeno embriao, que em nada se parece com um ser humano, brota o ser; os bragos e as pernas brotam literalmente do centro, as células vao se diferenciando e formando todas as es- truturas de um ser completo. No processo de formagiio, primeiro formam-se os cinco 6rgaos, depois 0 cérebro, os 6rgdos genitais, os bragos e as pernas com seus ossos, mtisculos, tendées ¢ ligamentos. Tudo nasce a partir dos cinco 6r- gaos, que sao os formadores do ser. Como eles formam o ser, durante a vida sao eles que cuidam do ser, enviando para as diversas partes a sua energia, para que tudo funcione bem. O que os chineses fizeram foi, em primeiro lugar, estabelecer estas relagdes entre as estruturas € Os 6rgios internos; em segundo lugar, descobrir formas de ter acesso aos Orgaos e, por tiltimo, estabelecer as relagGes entre estruturas, 6rgaos — por um lado—e problemas que possam surgir e suas formas de trata- mento, por outro. Assim, se ha algum problema com a unha, a pergunta é: quem 1301 Mauro Perini formou a unha? O Figado. Entao, para tratar a unha, € preciso tratar o Figado. Ecclaro que esta é uma forma simplista de explicar algo tio complexo, mas, digamos assim, numa grande sintese, € isso mesmo. Acupuntura cabe aos médicos fazerem. Trata-se de uma técnica de trata- mento e, para se realizar um tratamento, € preciso estabelecer um diagnéstico, para o qué, quem esta habilitado é 0 médico. Mesmo assim, ter certo conheci- mento das relag6es entre o interior e o exterior pode favorecer aos leigos, quan- to 4 opgao por uma boa alimentagio, por uma boa lida com as emogGes, um maior dom{nio sobre a prépria vida. E esse jé € um ponto de diferenga, pois, quando vamos ao médico ocidental, entregamo-nos nas mios dele para que ele nos cure, enquanto na medicina chinesa somos agentes ativos no processo. 1. AS ENERGIAS HUMANAS Os chineses antigos estabeleceram 0 conceito de QI (Energia), XUE (San- gue) e JIN YE (Liquidos Organicos), vamos tragar consideragGes sobre as trés formas principais de energia: + Energia Nutritiva— Rone; + Energia Transformada— Jinc + Energia Defensiva— Wet. 1.1 ENERGIA NUTRITIVA — RONG A Energia Nutritiva forma-se a partir de duas fontes: 0 Céu e a Terra, Energia do Céu Esta energia € absorvida pelo Pulmao a partir do Ar que nés respiramos e das relagdes humanas que estabelecemos. Nas relagGes humanas estdo envolvidas todas as emogGes que advém delas: uma emogao pode ser um bom alimento ou nado, dependendo da maneira como € recebida e metabolizada. Sentir raiva, com motivo, é normal, alimenta; ficar com raiva nao é bom, enfraquece. Estas duas fontes de energia formam o Yang do Céu.

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