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231 Doe. 86 1928-02-05, Lisboa Artigo do jornal “Correio da Manha” sobre a preocupacio do Governo com as obras que se realizam em Fatima. Publ: “Correio da Mana”, Lisboa, 5 Fev. 1928, p. 1, col. 5, FATIMA. O sr. ministro do Interior encarregou o director da Repartigao de ‘Turismo, dr. José D’ Athayde, de verificar as condicedes em que se esto executando as obras no local de Fatima afim de se adoptarem as providencias necessarias de forma a evitar que ellas comprometam 0 futuro daquelle local. "Jomal didtio do Partido Regenerador Liberal, fundado em Lisboa, em 1884. Em 1897, fechou, voltando a reaparecer em 1921. 232 Da criagdo da capelania @ carta pastoral | Doe.87 | 1928-02-06, Lisboa Artigo do jornal “A Voz"”, sobre as obras que decorrem em Fatima. Publ.: “A Voz", Lisboa, 2 (360), 6 Fev. 1928, p. 1, col. 2. FATIMA. sr. ministro do Interior encarregou o director da Reparti¢Zio de Turismo, dr. José d’Athayde, de verificar as condigdes em que se estiio executando obras no local de Fatima a fim de se adoptarem as providencias necessarias de formaa evitar que elas compromettam 0 futuro daquele local, "CE. Doe. 31, de 15 de Outubro de 1927, nota 1. 234 Da criagao da capelania & carta pastoral Doc. 89 1928-02-09, Lisboa Aitigo do jornal “Didrio de Noticias" sobre as impresses de Fatima a nivel urbanistico?, Publ.: “Diario de Noticias”, Lisboa, 43, 9 Fev. 1928, p. 1, cols. 3-5. ATEMPOEHORAS UMA PEREGRINACAO JORNALISTICAA FATIMA Delicias de jornadear de automovel em caminhos de Portugal — Acespectro da morte por traumatismo sucede-se 0 espectro da morte por sincope— Aarquitectura de Assentis e de Chainga ~ A Senhora do Rosario eo sr. ministro do Interior (Do nosso enviado especial). Aum homem extraordinario, um homem chamado Augusto Fernandes, por sua aleunha “O Picaro”, que foi “chauffeur” em Lisboa e que hoje tem automovel e poiso em Vila Nova de Ourem, somos neste momento devedores da vida, que é, no sabio dizer de classicos e de poetas, 0 mais apetecivel dos bens. Quando Augusto Fernandes nos carreou em Chiio de Magis com destino aos cerros de Fatima, tudo era dogura e maravilha 4 nossa volta. Um dialindissimo. Sol. Suavidade. Perto, por leiras de milho e de ‘bacelo, adivinhavam-se as primeiras verduras tenras, promessas da Primavera visinha, O “rapido” que sobe ao Porto perdera-se na paisagem e deixava ficar boiando no ar diafano um penacho de fumo, branco e lento como nuvem que \um/ vento manso amparae leva com geito. Eapetecia ajoelhar na terra e dar as gracas a Deus, por tanta beleza, tanta calmae tanto bem. ‘Jornal fundado em 1 de Janeiro de 1865 por Eduardo Coelho e pelo Conde de S. Margal. Redactor principal: José Angel de Lima; Editor: Joaquim L. de S. Fraga Pery de Linde. * Acompanham este artigo duas gravuras com as seguintes legendas: O futuro Santudrio de Fatima, nas primeira demonstragbes da sua grandeza; Para a Fétima de [...] As construgdes na rua que passa perto do Lugar da Aparigio, Doc. 89 I 235 Mas 0 motor do carro principiou roncando. Metros depois, os passageiros entreolharam-se com espanto. Atravessavam, aos baldoes, um mar de lama. Despenhavam-se em covas fundas. As molas rangiam. A “carrosserie” estalava. Sucediam-se os barrocais e lameiros. E tudo escurecia, ao derredor. Eninguem quis mais saber da paisagem e das ternuras do claro dia. CO instinto da conservacio subiu, superior a tudo, 14 do fundo mais torvo dos arcanos da alma, Enclavinham-se os dedos a quanto mais perto ficava, em geitos desesperados de naufragio. Eas vagas daestrada (1?) sucediam-se cada vez maiores. Por cada uma que se vencia, “Picaro” informava, como um timoneito tragico: —Ainda isto nao é nada! —Ai, Jesus! Ai, Jesus! retornavamos. E de minuto a minuto, empalideciamos. Os olhos, esgaseados, perdiam todo o seu brilho. Secavam-se os labios, como na hora da agonia. Aquilo era um pavor! —Credo! Creio em Deus Padre... Eo carro aos tombos, aos gritos, aos estalos, aos uivos, ld ia! La ial... A nossa passagem, nos povoados, velhas atonitas, benzendo-se, olhavam-nos coma piedade com que se olhavam os condenados aos tormentos da Inquisigao. Mocos boieiros, de aguilhada ao alto, miravam- nos como herois. E 0 carro ld ial... Perto de Vila Nova de Ourem, num atoleiro, depois de uma canelada eduma bordoada com a cabega nos altos da capota, s6 tivemos um brado: ~“Picaro”, ao menos salva-nos os miolos e a mao direita, para escrever os artigos para 0 jornal! O resto — as costelas e os outros pedagos, embrulha e manda para a Direcgdo Geral das Estradas, para © futuro museu das vitimas do automobilismo em Portugal! Sorriu o “chauffeur”, confiado em seus méritos de volante experimentado, e disse, como aqueles que tragaram a Historia Trdgico- -Maritim: — Haja fé! Calémo-nos. E entramos na vila, a apalpar os musculos e todo o esqueleto, ea considerar que afinal somos um grande povo. Para que se nao perca a saudade da India, a nutritiva e patriotica saudade da India toda uma serie de governos resolveu manter as tradigGes aventureiras da Raga, deixando esbandalhar as estradas, e fornecendo nelas ao bom portugués emogées do Mar-Alto, que é, como quem diz, todas as “ago da capetania carta pastoral emogGes historicas das Grandes Proesas. Nada lucramos em desconfiar que estamos no seculo XX. Precisamos ter a ilusio benefica de que vivemos ainda no tempo do Gama e doutros capities. E quando nos metemos em qualquer automovel por qualquer caminho de Portugal (Para qué modemismos antipaticos!?), convencidissimos de que vamos numa caravela dobrando cabos descortinando mundos novos, continuamos ater Fé e, sem querer, recitamos estrofes dos Lusiadas, Best salvaa Patria! * Se nfo morremos até Ourém, ¢ depois na volta a Chao de Maca, de outro percalco nos salvou perto da Cova da Iria o bom do Augusto Fernandes. Oreceio da morte por traumatismos violentos foi ali substituido pelo receio duma sincope fulminante! Ainda tivemos tonturas e cambaledmos perante o que se esti fazendo, (© que se esta construindo dentro e féra do recinto da Aparicio. Por felicidade, o motor do automovel principiou trabalhando. Caimos- -lhe dentro e a tempo. E fugimos, horrorizados! J&o pressentiamos. Ja calculavamos a série de atentados 4 boa logica e ao bom gosto que esto sendo cometidos em Fatima. Foi o st. Coronel Costa Macedo, quando ministro do Interior, quem ~e justiga Ihe seja feita — sobre isso deu o primeiro brado de alerta nas esferas oficiais; quem, numa conversa que um dia teve connosco, nos aconselhou uma abalada, como a de ontem, 4 Cova da Iria, com meia duzia de consideragées a tal respeito, Por sua vez, 0 seu ilustre sucessor, sr. coronel Vicente de Freitas, homem arrojado e de vistas largas, foi quem resolveu meter maos 4 obrae impedir— como é natural que impeca! — a continuagoe a sucesso desses atentados. Uma noticia ha dias publicada nos, jornais assim o diz € assim 0 prova, pelo encargo que pelo sr. ministro do Interior foi cometido ao sr. dr. José de Ataide, director da Repartigaio de Turismo, encargo de efectuar uma viagem de informacdo a Fatima para que se adoptem as providencias necessarias de forma a evitar” que as construgGes que “se esto ali executando” nao “comprometam 0 futuro daquele local”. E por sua vez, e ainda, 0 conhecimento de mil e um desses crimes, cometidos em todas as datas, por esse pais fora, nos davam aimpressio de que s6 nao tombariamos de sincope, em frente das obras realizadas na Cova da Iriae suas vizinhancas, se tivessemos perto, como tinhamos, ae Doc. 89 1928-02-09 237 um Augusto Fernandes ¢ 0 seu prodigioso automovel para nos trazer de 14, fugindo, o mais depressa possivel. Ontem, no regresso a Lisboa, depois de vermos e fotografarmos alguns desses exemplares da arquitectura ‘“fatimense” —dois que af ficam e outros que serdo publicados em seu devido tempo—recordémos, por exemplo, muitos outros lugares e muitos outros feitos semelhantes. ‘Assim, por exemplo, todo esse Bairro Novo da Figueira da Foz, a primeira praia do pais, mesquinho, acanhado, rotineiro— toda uma rua, ado Melhoramento, com suas dezenas de casas, de traseiras volvidas ironicamente até ao deslumbramento do Mar! A praia da Rocha, maravilhosa, tendo ao alto edificios pavorosos, a justificarem oemprego benefico do camartelo e da picareta redentora! A propria Lisboa... ‘Mas para qué falar de tudo isso, que entristece e confrange, quem mais do que um palmo em frente do nariz avistae aleanca? Fatima, sobre todos esses outros lugares que citar poderiamos, tem. duas vantagens: A primeira, a de ser tempo ainda de se pér um travdo a quanto de mau se est ali praticando, em materia de edificagies, claro est. Fatima, neste momento, e segundo o espirito que dita estas palavras, deixa de ser encarada como um centro religioso, que dia a dia ganha importancia, que més a més vé aumentar as suas peregrinagdes de crentes, que ano a ano vé crescer 4 sua Volta um maior e mais respeitavel culto. Fatima-religiosa, nesta ocasido, nfo vem ao talhe destes artigos. ‘Vem apenas uma Fatima, centro de turismo, nucleo duma futurae grande populagao, vila ou cidade activa e prospera, que se adivinha a distancia € que, por Ser na essencia religiosa e severa, ndio pode deixar de ser formosa e moderna em seus arruamentos e edificios. O que se esté fazendo em Fatima pode agradar e ser louvado por aquelas pessoas piedosas dos povoados vizinhos, que nunca de suas terras sairam, ou que, seo fizeram, mais longe no foram que 4s lobregas vielas medievais de Coimbra, ou ds ruas pombalinas e avenidas constitucionais de Lisboa. Nao tendo outros elementos comparativos, 0 seu gosto porali ficae adormece, sem visdes de futuro, sem visdes de maiores utilidades. Os arquitectos de Fatima, os principais, que ali tém dado cartas € leis, sdo os srs. Manuel Conde, de Assentis (Torres Novas), € Manuel Vicente, da Chainga, dois honestos e capazes mestres de obras, sem duvida, mas sem competencia para estabelecer um grande plano, um grande tragado de conjunto, que s6 topografos e arquitectos paisagistas poderio realizar. 238 Da criacao da capelania & carta pastoral - 5 A outra vantagem de Fatima numa frase apenas se resume. Sem crentes, em momentos de apuro espriritual, volvendo em Pensamento os olhos da alma paraa Cova da lriae capela da Virgem, sam os contritos suplicar: ~Valha-nos a Senhora do Rosario! ‘A todos quantos ainda esperam que o Portugal, saudoso da India e cantador de fados, se modernize e civilize, e alinde as suas mil gracase inconfudiveis belezas, com maos de artistas inspirados e dignos dele, Volvidos para a terra futura de Fatima ~—a qual se chama desde jae com certa prosapia a Lourdes Portuguesa — uma s6 ¢ identica frase basta: ~ Valha-nos o sr. Ministro do Interior! ALP. Doc. 9! 192 Doc. 91 1928-02-11, Lisboa Artigo do jornal “Diario de Noticias" sobre o futuro da Cova da Iria. Publ.: “Ditio de Noticias”, Lisboa, 64, 11 Fev. 1928, p. 1, cols. 3-5. ATEMPOEHORAS? FATIMAELOURDES Ainda algumas considerag6es sobre o futuro da Cova da Iria Ha-de haver dois anos, vinhamos de abalada, atravessando terras de Espanha, quando ali por alturas de Saragoga um companheiro de viagem, alcaide num povoado baturro, nos garantiu, ao ver os lumes da cidade refulgindo na grande noite de inverno: —Es mi tierra! La mds hermosa y la mds fuerte de todas! Y podria ser la mds rica... E depois de tirar uma fumaga do “pitillo” grosso, rematou com tristeza bem vincad: —... si fueramos franceses! Estranhémos aquela afirmativa desolante, nos labios dum espanhol, que durante a conversa inteira, sempre e como todos os seus compatriots, nem um s6 momento deixara de exaltar em tudo e por tudo a supremacia do seu pais. E como a nossa estranheza fosse evidente, amigo alcaide baturro pronto explicou suas palavras, nestas outras, assim concisas e pitorescamente pronunciadas: — Hombre! Claro! Es que la Viergen de Lourdes es mds virgen y mds santa que la del Pilar? No?! Ellos si. Que son mds listos que nosostros! Epuxou mais outra fumaca. Este episodio e semelhantes conceitos sempre nos vm 4 memoria quando alguém aventaa possibilidade de ver um dia Fatima transformada num burgo religioso, de tanto vulto e de tamanha importancia como Lourdes, e que do lado contestam com ironiae desalento: “Cf. Doc. 89, de 9 de Fevereiro de 1928, nota 1. . 2 Acompanham este artigo duas gravuras com as seguintes legendas: A esquerda: A entrada no Recinto da Aparicdo — A direita: Uma das portas do Santuario da Virgem. Da criagao da capelania a carta pastoral - 5 . Isso era bom se estivessemos em Franga Contudo, nao sendo muito provavel que Fatima, por Varios motivos, seja algum dia um centro assim, de intensa vida religiosa e de tamanho renome universal como 0 da pitoresca cidade dos Pireneus Franceses certo é que—salvas as devidas distancias —néo precisamos de mudar de nacionalidade, para ali fazer obra devida e obra capaz. Parafraseando 0 alcaide catolico ¢ saragogano, poderiamos igualmente afirmar que tambem nfio deve ser mais santa a Virgem Senhora de Lourdes que a Virgem Senhora do Rosario. Mas —repetimo-lo — no queremos nem desejamos, neste, como no artigo antecedente, fazer a respeito de Fatima consideragdes de ordem religiosa, que paraa finalidade destes escritos nao sao chamadas. Devemos, no entanto, afirmar que o fenomeno, ¢ esse puramente social, produzido na Cova da Iria €, sem discussio, idéntico ao da Gruta de Bernardette. Uma aparigdo. L4, uma pastorinha! Aqui, duas pastorinhas e um zagalejo! Um milagre que se anuncia. E que vai sendo contado e recontado pelas portas dos casais. Vem primeiro a romaria dos humildes e dos misticos, as gentes de fé primitiva e simples. Depois seguem os demais. Uma vez por ano, duas vezes... Eas romarias crescem e avultam. A Igreja intervem. Levanta-se uma capela, uma fonte... Institui-se um culto. Jando chegam apenas, pelos dias consagrados 4s peregrinacdes, os crentes eos clerigos. Vém com eles, de longe como eles, os negociantes, os alquiladores. Formam-se, nesses dias, grandes comboios especiais. Erguem-se tendas pelas estradas 4 beira dos caminhos distantes, Passam caravanas. Os povoados vizinhos atulham-se de gente. Criam-se interesses novos, cada vez maiores. Estamos em Lourdes ha 50 anos, Estamos em Fatima no ano pasado. Perto do lugar da Aparigao, milhares e milhares de pessoas circulam, e chegam, e rezam, e partem, A roda fileiras e fileiras de carros de todos 0s feitios e de todos os cantos do pafs aguardam os peregrinos. Levantam-se barracas de prendas e recordagdes, improvisam-se restaurantes ¢ dormitorios. E.0 povo formigae alastra pelas redondezas, vindo de todos os sitios, abalando em todos os rumos. Earomagem continua. * Assim foi em Lourdes. Assim acontece em Fatima. a Doc. 91 _ 1928-02-11 243 Quem esteve na Cova da Iria, nas ultimas peregrinacdes ali realizadas, sabe que deixamos aqui palidamente desenhado o grande, o formidavel movimento desses dias. Sabe que a estrada nova, atafulhada de gente e de vefculos, j4 no basta, j4ndo dé vasante nas horas maiores de circulagdo. Que é preciso tragar outras vias, mais largas, mais desembaracadas. E que é, sobretudo, necessario visto que de més para més, ~e temos s6 de constatar esse facto, — as vagas de peregrinos crescem, dar-lhes lugar para que se espraiam, rasgando-lhes espagos para um livre transito. Daf, todas as construgGes, boas ou més, que se facam ao longo dessa. estrada, devem ser irremediavelmente condenadas. Sobretudo as que tiverem caracter definitivo. O Hotel da Virgem Nossa Senhora do Rosario, esse, por exemplo, est4 bem! De madeira, facilmente desmontavel, e que, portanto, facilmente se pode erguer depois noutro sitio mais distante, €0 tipo das edificagdes que pelo momento nessas paragens deve ser consentido, O proprio santuario, que se levanta pouco a pouco dos alicerces, sem que haja nestas palavras ponta de critica 4 fé de quem quer que seja, € mesquinha e insignificante nas suas express6es arquitectonicas, Uma das suas portas, uma das suas exiguas portas, — de que fica junta a fotografia, para que bem se cure da nossa razao, nao dacom facilidade passagem a trés pessoas que pretendam entrar juntas. O que se esté construindo em Fatima ainda poderia bastar 4s exigéncias do Presente. Mas ha que pensar no Futuro. O que ser Fatima, por exemplo, daqui por vinte anos? * Entendemos, sem saber o que osr. ministro do Interior a esse respeito pensa, sem calcular 0 que Ihe poderd dizer, depois da sua visita, o sr. dr. José de Atafde, que Fatima tem todas as condig6es para ser no Futuro, uma linda florescente povoagao. Eentendemos ~As vezes os jornalistas dao conselhos aproveitaveis, porque € essa, um pouco, a sua Obrigacdo profissional —que tudo quanto ao futuro de Fatima se reporta em pouco se resume. Resume-se a uma brigada consciente de topografos, que de todos aqueles terrenos, por alguns quilometros em redondo, fagam um Jevantamento perfeito, um mapa, Da criagao da capelania & carta pastoral Depois, um arquitecto-paisagista desenha, nessa carta, um plano de conjunto, marcando estradas, parques, bairros, apontando os arruamentos, os largos, os sitios para hoteis, os lugares especiais para certas construgées. Em Fatima, que nos pareca apenas um local tem de ser mantido, ¢ inalteravelmente, sob pena de irreverencia maior —o da Aparicio. Todo coresto é contingente, e depende da situacio do terreno, de necessidades de orientagio e desenvolvimento. Assim, feito esse plano geral, vém seguidamente os tipos das construgdes — edificios bonitos, bem portugueses no geito, mas simultaneamente modernos, com as suas alturas de antemio definidas, erguidos onde lhes fér marcado e nunca ao sabor de conveniencias particulares. Convem dizer, numaexemplificagao precisa, que todas as construgdes que se estéio actualmente fazendo nas proximidades de Madrid, obedecem jé, na visio duma cidade maior, acertas orientagdes e modelos indiscutiveis, ‘Num plano, assim, de Fatima, e numa colaboragao urgente, deve tambem intervir um regente florestal, que, estudando os terrenos ea flora que Ihes convem, ali plante, onde the for indicado, as arvores que hes sao indispensaveis, como elementos reguladores e decorativos. Deve, sobretudo ser todo este sonho confiado, para ter a devida realidade, a um homem apto e energico, que saiba o que pensae quere, que saiba resolver e ser obedecido. Foi assim que se fez Lourdes? Nao sabemos. Mas julgamos que é sé desta maneira que se pode fazer Fatima. Doc. 92 | 1928-02-25, Leiria Artigo do jomal “O Mensageiro! sobre a realizagdo de uma peregrinagao a Filia, do Alqueidto da Serra [data de redacyo: 2 de Fevereiro de 1998]. Refere. ~Se também poss(vel construcdo do caminho de erro Tomar-Nazaré.e que passatia por Fétima Publ. “O Mensageiro”, Leiria, 13 (652), 25 Fev. 1928, p. 3, col, 3, NO ALQUEIDAO DA SERRA Missdoreligiosa | Alqueidao da Serra, 22 —Terminou ontem a mi havia comegado no dia 16, feita pelo rev. dr. Clem apostélicoe alma ardente isso religiosa, que jente Ramos, vario em caridade, desejosa de propagar adoutrina de Cristo, Inflamado no amor de Deus, o dr. Clemente Ramos arrebata as multiddes, e a sua linguagem simples, mas convincente, cai com inexcedivel agrado na alma dos crentes, que se no cansam de prestar homenagem 4 suainteligéncia cultae ao fervor que abrasao seu coragio, omado de virtudes que brilham com enorme fulgor. [.] Realizou-se a festa do S. C, de Jesus, no dia 19, precedida de triduo em que se confessou toda a gente, havendo sermao pelo apostélico missiondrio que aqui deixou imensas e sinceras saudades, A sua despedida foi comovente e a-pesar de sair a hora pouco Propicia, 4 da manbd, foi acompanhado até Porto de Més por uma Comissdo de jovens que Ihe langaram flores e desejam tomar a vé-lo brevemente. Como fim de tomar parte na peregrinagio 4 Fatima, peregrinos daqui, volta cé no 13 de Maio, apé, com os * Tem aqui despertado o maior interesse a noticia da transformacdo da Fatima, sobretudo da construgao do Caminho de Ferro Tomar Nazaré, que aqui passa e ali tem uma estado que deve ser a mais concorrida de Portugal. —C. "CE. Doc. 84, de 21 de Janeiro de 1928, nota 1 Doc. 103 _ 1928-03-17 267 Doe, 103 1928-03-17, Leiria Artigo do jornal “O Mensageiro™, sobre a construcao do caminho de ferro entre Tomar, Leiria e Nazaré. Publ.:“O Mensageiro”, Leiria, 13 (655), 17 Mar. 1928, p. 1, col. 3 CAMINHO DE FERRO DE TOMAR-LEIRIA-NAZARE Est vencida a batalha! Podemos informar os nossos leitores e amigos de que a construcio desta via est4 confiada 4 Match a quem foi pelo govérno entregue 0 encargo da construcio das linhas que entre Leste e Oeste se forem realizando. Assim, traz em construcao a linha entre Martinganga e Entroncamento, Segue-se a construgao da linha Nazaré e Entroncamento e em seguida serd em breve feita a de Tomar 3 Nazaré. L.1 Congratulamo-nos com a estancia sagrada da Fatima por ver finalmente satisfeitos os seus desejos. Agora jd os peregrinos de todo 0 pais e estrangeiro podem ir 4 Fatima dum modo facil e cémodo, e as multidées inundardo, avidas do maravilhoso, a terra abencoada pela nossa padroeira. | 'CE. Doc. 84, de 21 de Janeiro de 1928, nota 1. 278 Da criagdo da capelania a carta pastoral - Doe. 110 1928-04-04, Lisboa Artigo do jornal “Novidades" noticiando a criacio, pelo Ministro do Interior, | de uma comissio encaregada de estudar a urbanizagio de Fatima. Publ.; “Novidades”, Lisboa, 43 (9975), 4 Abr. 1928, p.4, col. 2. URBANISACAO DEFATIMA Ost. ministro do Interior instalou ontem a comisstio incumbida de estudar um plano de urbanisag&o e as medidas de defeza, protec¢ao e | engrandecimento do lugar de Fatima. A comissio é constituida pelos engenheiros srs. Manuel Roldan y Pego, Afonso Verissimo de Azevedo Zuquete, arquitecto, Emesto Korrodi, Luiz Cristino® da Silva e dr. José | de Atafde, pela Reparticao de Turismo. ‘CE. Doc. 6, de 6 de Agosto de 1927, nota 1. No texto, Cristiano 280 Da criagdo da capelania a carta pastoral - 5 Doe. 112 1928-04-07, Vila Nova de Ourém Oficio do Presidente da Comisstio Administrativa da Camara Municipal de Vila Nova de Ourém, José da Silva Lopes, para o Governador Civil de Santarém sobre 98 planos de urbanizaciio de Fatima, A~ADS— Fundo: Governo Civil, Lote de Correspondéncia recebida pela i* sec¢iio (15 Margo ~26 Maio 1928), vol. 3, [manuscrito na margem superior esquerda, a tinta:] Enviou-se uma cépia ao ministro do Interiorem 10/4/28 Vila Nova de Ourem, 7 de Abril de 1928 Ao Cidadio Ex° Senhor Governador Civil Santarem Tendo conhecimento pelos jomais, que sua Ex*o senhor Ministro do Interior nomeou uma Comisséio para estudar umn. plano de urbanisaciio na Cova da Iria, freguesia de Fatima, deste Concelho, permita-meV Ex" que Ihe faga as seguintes consideragdes, ‘Aparece agora nomeada uma Comissfio para o mesmo fim, mas julga esta Comissao Administrativa que ali devia encontrar-se um seu Tepresentante, tanto mais que as obras a realisar so dentro do Concetho ealgumas necessariamente nos terrenos da Camara, Mais tarde na execuco desse plano a Camara teré fatalmente de intervir ¢ entéio podem surgir conflitos, que desde jé se podiam evitar pelo conhecimento que o seu representante teria da Tegifio e dos interesses em jogo. Mas principalmente o que interessa & Comissfio da minha ‘presidéncia €aparte mais delicada do problemae estd disposta a defendel-a com NN a EEE Doc. 112 1928-04-07 281 toda a energia. Leiria deseja por todas as formas desviar o movimento da Fatima para ali. Procura, assim, prejudicar os interesses deste Concelho e do proprio Districto, no s6 desejando que as futuras estradas . para ali se encaminhem, como deseja ter decerto uma certa preponderancia dentro da Comissao ultimamente nomeada, tanto mais que o arquitecto Korrodi é ali residente e um dos Engenheiros ali viveu alguns anos ¢ é pessoa que muito se interessa por aquele Districto. ‘Por todas estas razdes é que a Camara se julga no direito de ter um representante na aludida Comissao para defender os seus legitimos intoresses e confia plenamente em. V. Ex* como a maior garantia que os mesmos nao serio prejudicados, Com 0s nossos Comprimentos' de Saude e Fraternidade O Presidente da Comissio Administrativa, José da Silva Lopes 284 Da criagdo da capelania a carta pastoral - 5 Doc. 115 1928-04-10, Sa Offcio do Governador Civil de Santarém para o Ministro do Interior, enviando ‘um oficio recebido do Presidente da Comissao Administrativa da Camara Municipal de Vila Nova de Ourém, sobre a urbanizacao de Fatima’, A - Nao encontrado, B- ADS — Fundo: Governo Civil, Lote de Correspondéncia expedida pela I" Seccdo (20 Dezembro 1926-4 Maio 1928), S.daR. Santarem, 10 de abril de 1928 Exmo. Sr. Ministro do Interior Para conhecimento de VExa ¢ efeitos que tiver por convenientes, tenho a honra de passar 4s maos de VExa. a inclusa copia dum oficio que me foi enderessado pelo presidente da comissio administrativa da camara municipal do concelho de Vila Nova de Ourem, solicitando a minha interferencia no sentido de promover que a camara daquele concelho tenha um representante na comisséio que foi nomeada para estudar o plano de urbanisagio da Cova da Iria, freguesia da Fatima domesmo concelho. SeF O Gov. Civil, Verdades de Miranda "Doc, 112, de 7 de Abril de 1928, fo aN 1928-04-28 305 Doe. 132 1928-04-28, Lisboa Artigo do jornal “Novidades' sobre as decisdes do Ministro do Interior relativas aos melhoramentos em Fatima, Publ. “Novidades”, Lisboa, 43 (9998), 28 Abr. 1928, p. I, col. 1. OS MELHORAMENTOS DE FATIMA. As ultimas determinacGes do st. ministro do Interior Osr. ministro do Interior recebeu ontem a comissao oficialmente incumbida de estudar os melhoramentos de Fatima, que foi entregar 0 relatorio com o resultado da sua recente visita 4quela localidade. A comissio propée nesse documento a suspensiio de todas as construgGes que estdo sendo feitas em torno do recinto religioso, a fim de nao prejudicar a area de protecciio a dar ao mesmo recinto, e solicita autorisa¢ao para que se proceda ao levantamento topografico de uma determinada area para, sobre essa planta, se delinear a urbanisagio em volta do recinto religioso. Ost. coronel José Vicente de Freitas concordou com as conclusées do relatorio tendo exarado ontem mesmo 0 seu despacho nesse sentido. Em presenga dessa resolucio vai ser enviado um telegrama ao governador civil de Santarem, mandando suspender as referidas construgées. Cf. Doc. 6, de 6 de Agosto de 1927, nota 1. 330 Da Doc. 145, 1928-05-09, Lisboa io da capelania @ carta pastoral - 5 Artigo do jornal “Diirio de Noticias!”, que publica, em fac-sfmile, uma declaragao sobre Fatima de D. José Alves Correia da Silva, datada de 3 de Maio de 1928, Faz também referéncia aos concelhos limitrofes de Fatima e que poderdo beneficiar com o seu desenvolvimento. Publica, ainda, dois aniincios ao livro ““Poema de Fatima’, Publ.: “Diario de Noticias", Lisboa, 64 (22371), 9 Mai. 1928, p. 9, cols. 1-6. ALOURDES PORTUGUESA EOS CONCELHOS DA REGIAO INTERESSADA NO SEU DESENVOLVIMENTO Fatima terra cheia de tradigées ligadas com os factos mais notaveis da historia portuguésa, é o local escothido por Nossa Senhora para manifestar o seu poder, a sua bondade, 0 seu amor. Os caminhos que the dao accesso, so asperos, a viagem dificil, sem comodidades o logar e, comtudo, juntam-se ali milhares e milhares de pessoas de todas as categorias sociaes em atitude recolhida, resando devotamente. Quem vae uma vez, sente o desejo de voltar. Nao foi o Clero o organisador deste movimento sem egual e humanamente inexplicavel, porque nos primeiros annos, por ordem superior, se absteve de nelle tomar parte, ndo foram as autoridades que por diferentes formas 0 combateram; ndo sGo os atractivos que costumam caracterisar as manifestagdes religiosas ou civicas, pois ali ndo os ha... ‘Cf. Doc. 89, de 9 de Fevereiro de 1928, nota 1 * Este artigo & acompanhado por nove gravuras com as seguintes legendas: Brazao de Leiria; Capitao Antonio Gomes Pereira, presidente da Camara de Leiria; Braz de Vila Nova de Ourem, Dr. José da Silva Lopes, presidente da camara de ‘V. Nova de Ourem; Brazio de Porto de Més; Dr. Joaquim de Sousa, presidente da camara de Porto de Més; Coronel Francisco Moreira Ribeiro, presidente da camara da Batalha; Brazio da Batalha; Projecto da Basilica de Nossa Senhora do Rosario de Fatima, de que sera lancado a primeira pedra em 13 do corrente. Existe ainda um mapa de localizacao de Fatima e das sedes dos concelhos. LL Doc. 145 1928-05-09 331 ‘Bemadita seja.a Virgem Santissima, Senhora Nossa, que transformou um logar ainda arido, desconhecido, num Ceo aberto donde espalha gracas e bengGes sobre os seus filhos... \ Leiria, 3 de maio de 1928 ; } José, Bispo de Leiria CIDADEDELEIRIA Assenta-se donairosa a princesa do Liz, 4 beira do seu rio, e tem por corde brasio da sua fidalguia, um dos mais imponentes castelos feudais que a idade média viu erguer em terras portuguesas, Ha quem a suponha descendente da remota Colipo”, outros a tém simplesmente por filha do seu castelo;¢ estes, por ventura com maior razao, pois muitos anos parece haverem decorrido entre a morte da antiga cidade romana e o aparecimento de “Leirena™. Como trago de unio entre as duas apenas se conhecem algumas inscrig&es romanas que hoje em dia se veem encorporadas nas muralhas do castelo, ¢ q de Colipo’ vieram, certamente pela vantagem de ser materiais aparelhados. Encerrada, 2o principio, em fortes muralhas que talvez D. AfonsoTV : Ihecingiuem volta, Leiria jem tempode D. Manuel, anciosa de liberdade, : transpunha a cerca e descia pela encosta a aproximar-se do rio, seu terno e incansavel trovador. j Nos tempos da sua infancia anda indissoluvelmente ligado o nome : excelso da Rainha Santa, senhora da vila, que a sagrou coma presenca da sua graga, tormando-a sua moradia. Voltando ao dominio da coréa, Leiria alcangou de D. Joao I 0 privilegio de nunca ter outro senhorio send o de el-rei: mas nem sempre 0s monarcas Ihe dispensaram a protecgdio e carinho a que lhe davam dircito a lealdade e as virtudes dos seus filhos. DeD. Afonso V, especialmente se queixa ela na Historia, que depois dea ter depauperada com exacc6es violentas, fez dela materia venal, | empenhando-a por dois contos de reis a0 conde de Vila Real, D. Pedro de Meneses. | Em compensacio agradece aD. Joao Ilo ter-Ihe dado féros de ; 2 No texto, Calipo. +Notexto, Leeirena, *No texto, Calipo. 332 Da criagéo da capelania & carta pastoral - 5 cidade ¢ levantado sua Sé Catedral. A actividade e engenho de seus filhos, que nao sé ao favor do monarca deveu ela, porventura estas honras. Aqui parece ter surgido a primeira fabrica de papel que houve em Portugal (1449) sabe-se que jd anteriormente laboraram em Leiria pisGes de burele; mas o seu orgulho mais alto estd em ter sido ela quem primeiro revelou a Portugal, ea quarta que revelou a0 mundo a letra redonda no Livro das Copias do Infante D. Pedro (1466) e, durante todo o seculo XV, nenhuma outra cidade portuguesa se ufanou de ter sabido aproveitar oinvento de Guttenberg. A sua prosperidade vinha da industria dos seus filhos e da riqueza dos vales do Liz e do Lena. ASé Episcopal criada pelo Pontifice Paulo III, a instancias de D. Joao IIL, extinta em 1882, restaurada mais tarde, encontra-se hoje florescente devido ao sabio governo, zelo e actividade do seu actual venerando Prelado. As virtudes antigas dos seus filhos néio desmereceram com os anos. e continuaram a manifestar-se vivas nos varios ramos da actividade: nas letras, nas industrias, no comercioe na agricultura. Assim, a par de Afonso Lopes Vieira, Marques da Cruz, Cortez Pinto, Acacio Leitio, nas letras, vemos o desenvolvimento. industrial bem patente na florescente Empresa de Cimentos de Leiria, na vizinha freguesia de Maceira, nas numerosas fabricas de carpintaria, de serragio de madeiras e de pedra, na Companhia Leiriense de Moagem, a recente fabrica de cal hidraulica, em ampliagio; “A Condestavel”, fabrica de adubos em Monte Real, onde forgoso € néio esquecer as suas excelentes termas,em que, deano para ano, mais numerosos so 0s frequentadores, que se curam ou sentem importantes alivios nas suas doengas de estomago, etc. etc. Vé, ainda, Leiria com regozijo, melhorar, dia a dia, a sua industria hoteleira, procurando quanto possivel, os quatro hoteis, actualmente existentes, atraft o numero sempre crescente, de peregrinos ao Santuario de Nossa Senhora do Rosario de Fatima. E Leiria tem hoje todas as condigdes para ser proferida pelo peregrino como ponto de passagem, ‘A28 quilometros do local da aparigao, liga-se com ele por camionetas €automoveis, com pregos fixados pela Camara e que no podem ser excedidos, sob pena de pesadas muiltas. “1449 da Bra Hiispinica, 1411 da Era de Cristo. No texto, 1439 Doc. 145 _ 1928-05-09 333 Os hoteis tém tambem seus precos fixados pela Comissio de Iniciativa e Turismo de forma que hoje € falsa a campanha que em tempos se fez de ser perigoso ir a Fatima, por Leiria, devido 4 exploracaio que a peregrinos faziam os hoteis e automoveis. ‘Uma vez completada a estrada a que faltam apenas uns 4 ou 5 quilometros que por Santa Catarina da Serra vai a Fatima~é de crer que 0 governo a complete por indicagio da comissao da urbanisagio de Fatima — fica nfo sé encurtado o caminho como tambem o transito se fard com toda a seguranca, num s6 sentido em cada estrada, muito devendo lucrar o aprazivel lugar de Santa Catarina da Serra, hoje jé tao aproveitado para convalescenca de doencas pulmonares. Leiria, pois, ndo s6 pelo seu aspecto religioso—e a regitio é muito crente—como tambem sob o aspecto comercial, vé com 0 maior agrado aimportanciacrescente que Fatima vai tendo, aplaudindo, inteiramente, a intencao do exm: sr. ministro do Interior quando pretendeu fazer de Fatima a Lourdes portuguesa. ANTONIO FERNANDO GOMES PEREIRA Presidente da Comissdo Administrativa da Camara Municipal de Leiria VILA NOVA DE OUREM Fétima, a terra milagrosa de Portugal, como ja hoje é conhecida, tem merecido 4 Comissao Administrativa da Camara, da minha presidencia, a maxima atencao e um aturado estudo. Muito antes do Governo ter nomeado uma comissio para estudar & propér um plano de urbanizagio para aquele local, j4 a Comissio | Administrativa protestava contra tudo o que se estava fazendo em. Fatima. ‘Mas, como sempre, os seus protestos nfo foram ouvidos, as licengas para construgdes, sem um plano préviamente estudado, sucediam-se | Gia para dia, pela Direcgao das Obras Publicas, até que a Camara resolven solicitar da A ssociagao dos Engenheiros Civis de Portugal, um ‘ engenheiro competente para levantar uma planta desses terrenos, que iio chegou a iniciar os seus trabalhos por o Governo ter chamadoa sia resolugao do problema. ‘$6 nos merecem louvores a atitude energica de S, Ex*o sr. ministro do Interior neste assunto. Encontra-se a Camara representada nessa comissao, por um dos seus vogais, o sr. Joi Rodrigues da Silva Vieira, rapaz.culto, inteligente, 334 Da criagdo da capelania & carta pastoral - 5 conhecendo bem a regio, os nteressesem jogo e melhor do queninguem saberd defender as lepitimas aspiragdes do nosso concelhe Esté a Camara disposta adefendercom todaa: ‘energia os seus pontos de vista, mas isto nio significa que crie dificuldades 4 comissio ultimamente nomeada, antes pelo contrario esta disposta a colaborar com ela com todo o entusiasmo, com toda a boa vontade, Deseja, apenas, frisar que Fatima fica dentro do concelho ¢ dentro dele se deve resolver o seu problema de urbanizacao ¢ de transportes, Nao descurou a Comissao Administrativa da minha presidéncia, a questo de transportes e hospedagem. Assim, tabelaram-se og ‘Precos em automoveis, camionetas ¢ camides do Caminho de Ferro Cova da Iria, para evitar possiveis exploracées que costumam existir nestes dias de grande movimento de peregrinos, Os hoteis e mais casas de hospedagem estio habilitadoss fornecer comida a precos normais e alojamento para um grande numero de pessoas. Mandaram-se reparar as estradas que ligam a linha do Norte 4 Cova da Iria por ser, sem duvida, aquela que mais bem servide esti de comboios ¢ a mais proxima deste Santuario, Assegurou-se um bom servigo de automoveis, camionetas e camides todos os comboios no apeadeiro de Ceissa-Ourem e na estaco de Chao de Magas, enfim os peregrinos que vierem pela linha do Norte encontram aqui todas as facilidades, JOSE DA SILVA LOPES Presidente da Comissio. Administrativa de Vila Nova de Ourem PORTO DE MOS Nos meus tempos de rapaz escrevi um artigo num jomnal da minha linda terra natal, Leiria, batendo fortemente em alguem, que se permitiu aliberdade de se atravessar no meu caminho de funcionario zeloso e cumpridor: Hoje, na qualidade de presidente da Comissiio. Administrativa da Camara Municipal de Porto de. Més, minha terra adoptiva, acabo de Ser convidado pelo “Diario de Noticias” para escrever um artigo sobre esta interessante e historica terra quartel general das hostes, que, sob o comando do Heroi e Santo D. Nuno. Alvares Pereira, travaram com as forcas de Castela a memoravel batalha de Aljubarrota, e bem assim Sobre.o seu concelho. Fiquei arreliado embora me sinta honrado com o Convite, porque quem deveria falar seria o meu presado colega da Baa Doc. 145 _ 1928-05-09 335 ‘Camara, ¢ meu tambem presado amigo revm? padre Manuel Carreira Pogas que me tem pregado a partida de nao querer aceitar a presidencia da Camara. Feito este queixume, porque num amigo nem com uma flor se bate, procurarei dizer 0 que Porto de Més pensa sobre caminhos de ferro e aquilo de que mais carece. Ambiciona Porto de Més a conclusio da linha ferrea da Martinganca, por Batalha; de Porto de Més, Bezerra, Alcanede, Alcanena, Torres Novas ¢ Entroncamento, jé quasi construida da Martinganga a Porto de Més, esperando-se que este trogo esteja aberto d exploraciio no proximo Agosto. Sabe-se que a Empresa Mineira do Lena deseja tambem construir um ramal da Batalha a Leiria e ainda proceder 4 construc&o de uma linha que, partindo de Porto de Més siga 4 Nazaré, passando por Alcobaga. Como bom vizinho de Vila Nova de Ourem, deseja Porto de Més que se construa uma linha ferrea que, partindo de Porto de Més v4 a Fatima, por Alqueidao, seguindo a Vila Nova de Ourem e dali, pelo Agroal, a Tomar. Construido este ultimo Tango, construida ficard a linha de turismo Tomar-Nazaré por Batalha a Leiria, linha que ha muito estaria construida se ndo se vivesse em Portugal. Os seus paladinos, o sr. dr. Vieira Guimaraes e o meu particular amigo padre Julio Pereira Roque, doente do corpo e forte ainda do espirito, exultardo de alegria no dia em que virem realisados 0s seus sonhos de ha tantos anos, e hoje, que a Fatima é um centro de piedade, nao se compreende que a sua construg&o se faga esperar, construco que ja se impunha pela existencia dos monumentos de Alcobaga, Batalhae Tomar, que falam das nossas glorias, e glorias nossas so tambem, nao esquecendo a pitoresca e importante Praia da Nazaré. Mas se parte sentimental ¢ historica impée tais linhas (nem s6 de pao vive o homem) ‘os concelhos referidos, e muito especialmente aquele, que tenho ahonra de representar, contém em seu seio riquezas de um valor raro. Nao falando nos seus produtos agricolas e nas suas industrias. Porto de Més, gracas ao esforco ingente da Empresa Mineira do Lena, serd dentro de um curto prazo de tempo, uma das regides mais ricas e movimentadas de Portugal. Os seus carves, jd sobejamente conhecidos so uma riqueza enormissima; masas linhas ferreas construidas e a construir virdio valorizar os seus produtos agricolas, tornar mais facil e comodaa vida da regitio e permitirio o aproveitamento dos seus variados e finissimos méarmores e ainda de gesso existente na regiao, to bom como 0 melhor espanhol. A Camara que tem dedicado as suas melhores atengdes a0 bem estar material e moral dos municipes, trabalha afincadamente na construgdo e melhoramento de caminhos vicinais e contribui com tudo o 336 Da criagdo da capelania a carta pastoral - 5 que pode para a instrugdo. Tendo de construir um matadouro, planta do habil arquitecto, meu patricio, Femando Santa Rita, e as residencizs ara os dignos magistrados e, sendo insuficiente debaixo de todos os Pontos de vista, o edificio escolar da vila, pediu a Camara um subsidio a0 Govemo, para construir uma escola digna de tal nome, e igualmente Solicitou do poder central a conclusiio da estrada da Ponte de Vila Eacaia &Martinganca eS. Jorge, pela Calvara, estrada, que ligard rapidamente Porto de Més coma industrial Marinha Grande, teas estas que tem intensas relacdes comerciais. Tem o concelho de Porto de Més esperanga em melhores dias ¢ fé na obra da Ditadura. JOAQUIM MARIA FERREIRA DE SOUSA. Presidente da Comissao Administrativa de Porto de Més VILADABATALHA. A situagdo especial da Batalha, a cérca de 14 quilometros de Fatima, qual a liga uma boa estrada, recentemente reparadae.a 11 quilometros de Leiria, aséde do distrito, dé lugar a que numerosos peregrinos que em piedosa romagem e para satisfazer as ardentes aspiracdes da sua £6 religiosa, convergem dquele centro de devogtio, possam, sem aumento de despesa, uns c outros, com um Pequeno aumento —os que fagam a Peregrinacao por Ourem — visitar 0 sumptuoso monumento de Santa Maria da Vitoria, vulgarmente designado pelo Convento da Batalha ou Mosteiro da Batalha. Extansiando-se na contemplagdo das belezas arquitectonicas do majestoso templo, o mais belo da arquitectura ogival do pais, e um dos mais belos de toda a Europa, do qual o celebre e profundissimo ardial italiano Vicente Justiniano disse, ao contempli-lo, pasmado. | vidinmas alterum Salomonis templum!”, 20 mesmo tempo que como {uristas sentem um grande prazer espiritual, prestam o devido culto 4 fé religiosa de um dos reis que mais cointribuiram para. fortalecimento da Rossa nacionalidade, e tio belas paginas de gloria inscreveu na nossa Historia. Efectivamente é doconhecimento de: todoo portugués, medianamente Gullo, que o Mosteiro da Batalha deve a sua construgao a0 voto religioso do rei D. Joao, feito antes da batalha de Aljubarrota, de 0 edificar se nela ficasse vitorioso, voto que fielmente cumpriu, legando 4 BAA Doc. 145 _ 1928: 337 a eee posterioridade essa preciosa joia artistica, delineada e quasi exclusivamente construida por artistas portugueses. E, sendo a batalha de Aljubarrota como que a pedra angular do restabelecimento da nossa nacionalidade, que a ambigao do rei de Castela ameacava subverter, ¢ em que essa vitoria deu tao profundo golpe, constitui o majestoso templo tambem um dos mais valiosos padrées da nossa gloria, que todo 0 portugués verdadeiramente patriota se deve constituir na obrigagéo de visitar. Com o fim de facilitar e tornar economico 0 acesso a Fatima ¢ a visita ao Mosteiro da Batalha, solicitou a Comissao Administrativa da Camara Municipal da Batalha 4 empresa do caminho de ferro Martiganga-Batalha, The Match and Tobacco Timber Supply Company Limited, que no dia da grande peregrinacio a Fatima e nos dias anterior e posterior, 12, 13 ¢ 14 de Maio, formasse comboios da Martinganca para a Batalha em ligagdo com todos os comboios da C.P. que chegarem. Aquela estagdo (Martiganga). Se dificuldades burocraticas nao se opuserem a este “desideratum”, conta a comisso e tem quase a certeza de que o seu pedido serd atendido. Assegurado assim o acesso facil e economico 4 Batalha nao encontrardo tambem os peregrinos grandes dificuldades para se dirigirem a Fatima, pois que na vila, apesar de pequenos, ha varios automoveis e camionetas de aluguer que fardo varias vezes 0 percurso Batalha-Fatima € Tegresso, por pregos que ndo serio exagerados, pois se acham consignados em edital. Emuito hospitaleiro o povo da Batalha, como ja provou por ocasizio da 1" grande peregrinago quando nfo havia ainda automoveis na vila, € em que muitas pessoas, chegando aqui ao anoitecer em carros hipomoveis ¢ nfio podendo, por isso, seguir para a Fatima, nao encontrando lugar nos hoteise pensdes, foram carinhosamente alojados em casas particulares. Presentemente, que aumentaram muito os meios de transporte bem ‘como os de alojamento, havendo na vila além de um regular hotel, varias pensdes, pode quasi assegurar-se que tais dificuldades, se nao manifestariio, mas algumas que aparecam confio em que serdio vencidas pelo feitio hospitaleiro e boa vontade de todos os habitantes da vila. FRANCISCO AUGUSTO MOREIRA RIBEIRO Presidente da Comissio Administrativa da Camara Municipal da Batalha_ Da criagdo da capelania & carta pastoral - 5 Fatima, terra de sonhoe santa religiosidade, serd, em breve, o local preferido de frequentes peregrinacées. “POEMA DE FATIMA” UMLIVRO VALIOSO E hoje posto 4 venda, numa 0 “Poema de Fatima” Tuxuosa edigdo, esta primorosa mereceu do reverendo secretario obraliteraria do distintissimo poeta do Patriarcado as seguintes Augusto Santa Ritta, onde ele palavras: conta em versos de uma beleza inexcedivel a historia da Nossa__E 0 poema de Fatima uma Senhora do Rosario de Fatima. oferenda votiva, um esplendido Esta obra é aconselhada por Sua molho de rosas, que ficard no | Eminenciao Sr. Cardial Patriarca florilégio mariano, testemunhando de Lisboa. 08 sentiments cristio do autor, e na poesia nacional como documento vivo do valorinegavel } do Poeta. Conego Martins Pontes Doc. 223 1928-06-09 Su Doc. 223 1928-06-09, Leiria Artigo do jornal “O Mensageiro™ sobre a possibilidade de construgio de ‘uma linha de caminho de ferro entre Fatima e Leiria, Publ: “O Mensageiro”, Leiria, 13 (666), 9 Jun. 1928, p. 6, cols. 2-3. FATIMA-LEIRIA. AC. P. construiré dentro em pouco um ramal que ligard a cidade com Fatima? Nao perdemos a ocasido de perguntar, inquirir se serdo possiveis certos melhoramentos para Leiria e seu distrito. Batemos as portas dos que nos podem atender, transmitindo depois aos nossos leitores o que nos dizem, nos prometem. Pois agora, sem que sequer o pudéssemos suspeitar, um providencial acaso deparou-nos 0 levar ao conhecimento dos nossos leitores uma agradavel noticia para n6s, para a cidade e para aregifio. AC. P. staré disposta a construir um ramal para Fatima, ligandoa Lourdes portuguesa com a linha de Oeste em Leiria? Parece-nos que sim. O que énecessario € secundar a acgao de quem to desinteressada eocultamente deu os primeiros passos e que nao podemos nem devemos porenquantorevelar, A vindaa Leiria e Fatima do digno director da Companhiaem 13 de Maio p. p. foi um facto que nfio nos passou despercebido. O movimento de comboios especiais ¢ de passageiros em todos os dias 13 de cada més e estamos certos num futuro proximo em outros dias é uma realidade, que os cofres da Companhia dos Caminhos de Ferro acusam. ‘Sendo isto um facto, conviria & Companhia, tio ciosa dos seus direitos e interésses, deixar que outra Companhia viesse estabelecer a ligacio de Fatima com as linhas Norte, Sul, Oeste e Beira Baixa, por onde transitam tantos milhares de peregrinos a Fatima? Convird protelar a construcdo désse ramal? Estas duas perguntas saltam ao cérebro dos que véem em Fatima um futuro de piedade e turismo e um meio de ver Leiria ocupar o lugar que Ihe pertence como meio de acesso aquele local. "CF. Doe. 84, de 21 de Janeiro de 1928, nota 1 512 Da criagdo da capelania & carta pastoral - 5 Foi a estas duas perguntas que respondeu a pessoa que um feliz acaso nos fez encontrar na sua visita 4 terra natal — Leiria. —AC. P. nao é indiferente 4 concorréncia a Fatima. O que era necessério era que essa indiferenga se transformasse em interésse. Encarregou-se de o conseguir uma pessoa —proibindo-Ihe revelar o seu nome por enquanto—que junto dos directores da Companhia procurou ser uma realidade o que é uma aspiragio. Interessava-nos esta tio agradavel revelacdo e por isso fomos tirando, como se costuma dizer, nabos da piicara. —Edai? —O st. director do tréffego, ex. sr. Ferreira de Mesquita, declarou a pessoa que o procurou, que a Companhia sé teria que lucrar coma construgao da linha Leiria — Fatima — Chao de Maciis ou outro ponto da linha do Norte, mas que nao dependia da sua repartico mais do que achar a conveniéncia dessa construgio. $6 & Administracdo da C.P. convinha estudar pelo lado econmico. —Eesta? —A pessoa a que fazemos referéncia procurou o ex.” Presidente dessa Administracio, que acedeu da melhor vontade, mas acrescentou que como em todos os caminhos de ferro é necessério que o Estado garanta 0 juro do capital empregado. —Ficaram por aqui as demarches? Nao! Como era necessario ouvir 0 ex.” Ministro das Finangas, a pessoa que tanto interésse demonstrou na construgdo déste ramal, dirigiu- -se ao Ministério, onde foi bem acolhida a sua proposta, que vai ser estudada com o interésse que o assunto reclama. E porisso que perguntamos: A C.P. iré construir dentro em pouco um ramal para Fatima, partindo de Leiria? ‘Tudo nos leva acrer que sim. O que é necessario é a cidade colocar- -se ao lado de quem to oculta e desinteressadamente procura 0 seu Progresso. Foi hé dias apresentado o estudo das linhas subsididrias da grande rede do Pais. Estard a Comissio encarregada désse estudo dispostaa fazer a alteragao por forma quea linha Leiria-Fatima seja via larga e no de via reduzida? A Match opor-se-hé com fundamento a construcao déste ramal? ‘So as duas tinicas dificuldades que se nos apresentam. Aonosso querido amigo aqui consignamos o nosso reconhecimento por to agradavel noticia. 540 Da criagao da capelania a carta pastoral - 5 Doc. 241 1928-06-21, Lisboa Artigo do jomal “A Voz" Fitima. sobre a falta de organizagio das const Publ.:“ANo2", Lisboa, 2 (493),21 Jun. 1928, p. 8, cols. UM CASO GRAVE APOVOACAO DE FATIMA continua ameagada pelos empreiteiros do mau gosto eda desorganisacaio Continuam as construgdes vergonhosas e anti-higienicas, apesar das ordens terminantes do sr. ministro do Interior O assunto que sugeriu as consideragées que a seguir reproduzimos, devidas a um nosso amigo e amigo de Fatima foi tratado, pela primeira vez nas colunas da Voz. Depois da noticia de que iam ser tomadas providencias oficiais para pér cobro ao que observamos e relatamos, em devido tempo, ficamos convencidos de que nao seria necessario voltar a falar no caso. Engandmo-nos. Assim o provam as palavras de protesto e de amargura que os nossos leitores vao ler e que submetemos d apreciagdo do sr. ministro do Interior. Tratado pela Voz com tanta verdade e profeciencia tudo quanto diz respeito ao Santuario da Cova da Iria, escusado seria a minha prosa se niio verificasse que as circunstancias que levaram esse brilhante jornal a ventilar 0 assunto, esto longe de se modificarem no sentido que todos desejamos. Nao ¢ intento meu ao escrever estas linhas censurar ou ferir qualquer pessoa, mas téo somente contar o que se passa, deixando aos que me erem, o mais largo criterio de apreciacao, Mas vamos a0 caso. O sr. ministro do Interior nomeou uma comissio para dar o seu parecer acerca da urbanisagio de Fatima que num futuro, cada vez mais proximo, seré "CF. Doc. 31, de 15 de Outubro de 1927, nota 1. m r 1 541 uma povoaco muito importante. Vi pelos jornais que, em consequencia do parecer da comissio (e quanto a mim muito bem) 0 st. ministro do Interior mandou suspender as obras vergonhosas que ali se estavam tealizando. A Camara Municipal de Ourém recebeu nessa conformidade um oficio e tudo indicava que a ordem fosse imediatamente cumprida, Devia ser assim, mas nao é. Aeterna brandura dos nossos costumes, a inexplicavel benevolencia das autoridades, permite que as obras prossigam da mesma forma desordenada, sem obediencia a um plano es mais elementares nogdes de estetica. ‘A maioria das construgées que se acham feitas em Fatima e nas quais a Divisio das Estradas nao devia consentir, sao pardieiros, indecentes e improprios do local que € visitado todos os mezes— ea afluéncia aumenta sempre —por centenas, milhares de pessoas. A Camara Municipal no querendo que sobre ela recaia 0 odioso, proibindo uma coisa para que nio concorreu continua inerme, e sem fiscalizagao de qualquer especie, sem peias, sem ordem e sem metodo continuam os atropelos ao bom gosto e o que ¢ peor — higiene do local. Se o sr. ministro do Interior nos lesse, pedir-Ihe-iamos que viesse aqui ver o que se passa. Temos a certeza de que se viesse ou mandasse indagar o que se esté fazendo, s. ex.a que € energico e ponderado, acabaria de vez com todas estas vergonhas e com os arrangistas sem escrupulos que vio medrando a sombra de Fatima. Fatima precisa de ser tratada com carinho, bom senso e prudencia. Quem, como eu, vai bastas vezes ali é que pode fazer ideia do que pode ser Fatima daqui aum tempo. Nao sio as grandes peregrinacdes como a de 13 de Maio ultimo que nos dio a medida da concorrencia ao local consagrado pela fé do Povo portugues. E a permanencia dos visitantes todos os dias, so so dias 13 de todos os mez, so, emifim, os milhares de pessoas que durante omez.ali vio. Fatima tem que ser olhada de ver e o Governo deve pensar nela. ‘No quero que o Governo pense como catolico e aprecie Fatima sob 0 aspecto religioso. Isso é com os catolicos. Mas 0 que nao pode sofrer duvida é que Fatima deve influire influi no progresso do nosso pafs e 6 por si pode chamar mais gente a Portugal que todos os reclames de turismo ¢ das maravilhas (que o so) dos nossos panoramas e dos nossos monumentos. 542, Da criagao da capelania & carta pastoral - 5 Ainda ha dias, uma familia espanhola que aqui veio pagar uma promessa, me dizia conttistad: —Que pena niio haver mais facilidades de comunicagdo! Se houvesse comboio muita gente do nosso pafs aqui viria! E que a Espanha jé chegou a fama das maravilhas de Fatima. Veja- -seo que de beneficios poderia resultar para o nosso pais, se quizessemos aproveitar inteligentemente, o intensissimo movimento que celebrisou aquela localidade! ee Falando de Fatima, devo chamar a ateng&io de quem competir para a falta de meios de comunicagiio de toda a ordem. Fatima necesita, j4 hoje, duma estagio telegrafica e telefonica e se fosse preciso auxiliar esse melhoramento indispensavel, nao faltaria quem cedesse uma casa propria e nao faltariam subscritores. E jé que falo em telefones devo tambem dizer que Vila Nova de Ourem nada tem feito para a realisagao desse melhoramento. AComisséio Administrativa da Camara Municipal que é constituida Por pessoas cultas e que deviam interessar-se, um pouco mais, por esta terra, prende-se com ninharias, que seriam admissiveis noutra comissio, mas que niio teem desculpa para as pessoas que fazem parte da nossa Camara. Tomar, Torres Novas, Leiria, Entroncamento, etc. esto ligados ao mundo pelo telefone e nés aqui sabe Deus quando o teremos. A pouca iniciativa, o comodismo que ataca todos os habitantes desta terra, leva-os a esperar que tudo se resolva por si. Nao pode ser? * 4 Falemos das estradas. Embora estas vias de comunicagao tenham softido ultimamente reparagdes que eram absolutamente necessarias, a verdade é que as estradas que conduzem a Fatima ainda deixam muito adesejar. Com um pouco mais de boa vontade, nao seria dificil conseguir a dotaciio necessaria para o arranjo completo da réde das estradas desta regitio, facilitando, assim, 0 espantoso movimento por ocasifio das peregrinacBes. Os hoteis — se este nome pode dar-se ds pobres casas de pensio que pomposamente se ornam deste titulo, nao pensam, sequer, em civilizar-se. 0c 0 Doc. 241 _ 1928-06-21 543 ‘Nii falo ja dos condutores ¢ donos dos carros que fazem servico de a conduedo, porque apesar das posturas e tabelas que Ihes limitam a ganancia de lucros, muitas pessoas que aqui veem sabem por experiencia propria qudo pezadas se tornam as suas exigencias... ‘Outro problema instante que demanda resolugo urgente é 0 caminho L de ferro. A linha ferrea de Chao de Maga a Nazaré, partindo de Tomar impée-se. Bem sei que algumas pessoas de boa vontade e de perfeita visdo do futuro, tem trabalhado esforcadamente na realizagaio desse indispensavel melhoramento. No numero dessas pessoas, incluo, com prazer, o eminente Director de A Voz que no seu e no nosso jornal tem pugnado com entusiasmo € | competencia pela efectivaciio dos projectos ja elaborados. Porque se nao leva, entao, 4 pratica tio grande melhoramento que todaa regidio espera anciosa? Misterios que ndo me abalanco a decifrar. Muito haveria ainda a dizer sobre este assunto. Por hoje, fico-me por aqui. Contudo, ndo terminarei sem, mais uma vez.chamar a atencdo do sr. ministro do Interior para o futuro de Fatima ~ que inconscientes e ineptos estdo prejudicando gravemente. Vila Nova de Ourem, Junho. a i r a > > P.O. Voc. UA Doc. 250 _ 1928-07-05 555 Doe. 250 1928-07-05, Lisboa Oficio do Seeretario Geral do Ministério do Interior para o Governador Civil de Santarém, Major Raul Verdades, ¢ para a Comissiio Administrativa da Camara Municipal de Vila Nova de Ourém, sobre as obras que se estio a realizar em Fatima. A—Nio encontrado. B - IAN/TT, MI Secretaria Geral, registo de correspondéncia expedida, livro37. ‘Aos Sts. Governador Civil do distrito de Santarém e Pres. da comissao administrativa da Camara Municipal de Ourém. ‘Apesar desta Secretaria Geral ter procurado por todas as formas cumprir os desejos do Exm® Ministro no sentido de se embargarem as obras que esto sendo levadas a efeito em Fatima, até hoje providéncia alguma se tomou no sentido desejado. Encarrega-me Sua Exceléncia o Ministro solicitar de V. Ex.’ se digne mandar embargar imediatamente todas as obras que se esto executando fora do recinto religioso em Fatima. Igual oficio é expedido, nesta data, ao Sr. Satide e Fraternidade Secretaria Geral, 5 de Julho de 1928 O Secretario Geral José Martinho Simées 1928-07-14 Doc. 269 1928-07-14, Vila Nova de Ourém Offcio do Administrador do concelho de Vila Nova de Ourém, José da Silva Lopes, para o Governador Civil de Santarém, Raul Verdades de Oliveira Miranda, informando que ordenou a suspensio de todas as obras que estavam a decorrer naCovada ria’, A-ADS, Fundo: Governo Civil de Santarém B - AHMO, Fundo: Administrador do concelho, correspondéncia da Administragdo a0 Governo Civil, SR C/A. 1.4 [cota antiga: Registo de correspondéncia da Administragio ao Governo Civil, 1485/2, f1.12]. Vila Nova de Ourem, 14 de Julho de 1928. Ao Cidadio Exmo. Senhor Governador Civil Santarem Informo V. Ex* que ja dei instrugGes para se proceder rapidamente paralizagio de todas as obras, que se andam construindo na Cova da Iria, freguesia de Fatima, deste Concelho. Saude e Fratenidade OAdministrador do Concelho José da Silva Lopes Cf, Doc. 250, de 5 de Julho de 1928. 626 Da criagdo da capelania a carta pastoral - 5 Doe. 300 1928-08-02, Lisboa ‘Antincio a um restaurante situado em Fétima, publicado no jomal “Novidades". Publ.: “Novidades”, Lisboa, 43 (10093), 2Ago. 1928, p. 5, col. 4 FATIMA A todas as pessoas que forem a Fatima em dias de peregrinacao recomendamos o RESTAURANT AVE MARIA situado no melhor local e muito proximo do santuario, com amplo e confortavel saléio com mezas pequenas, tendo organisado um esmerado servico de cosinha (almogos e jantares) para o que tem pessoal contratado em Lisboa, O proprietario deste restaurant no bom desejo de servir os clientese ao alcance de todas as bolsas, nao se tem poupado a esforcos, pois que a falta de um estabelecimento desta natureza se fazia sentir nesta localidade e ainda porque esté habilitado a fazer pregos especiaes para grupos de 10 pessoas e peregrinagdes, conservando-se aberto toda a noite em servico permanente de restaurant, ch4, café, café com leite, torradas, cervejas e refrescos. Desde jé se reservam mezas até ao dia9 do corrente no estabelecimento Rodrigues & C2 Rua José Falco, 41-43 - Lisboa Telefone Norte 4034 "CE. Doc. 6, de 6 de Agosto de 1927, nota 1. Da criagao da capelania & carta pastoral - 5 Doc. 418 1928-12-10, Lisboa ‘Artigo do jornal “A Voz" sobre a urbanizacao de Fatima. | Publ.:"AVoz", Lisboa, 2 (663), 10 Dez. 1928, p. 1, col. 7; p. 6, cols.5-6. FATIMA URBANIZADA | FALAOSR. LUIS CRISTINO ‘Uma boa noticia aos nossos leitores: Fatima vai urbanizar-se, metodisar o seu desenvolvimento, dentro das normas da scienciae da estetica citadina. Vai desaparecer aquele amontoado de construcées vergonhosas de tio mau aspecto, que rodeia o santuario onde reunem varias vezes no ‘ano muitos milhares de portugueses. Varias vezes, e fomos nds até os primeiros que o fizemos, protligémos a falta de senso dos proprietarios econstrutores das miseraveis edificagdes que dao ao local um aspecto de feira sertaneja. E necessario se torna que assim suceda, porque Fatima, lugar de grandiosas petegrinagdes de fieis de todo o pais, tende a expandir-se numa importante povoacdo, com um movimento intenso. Ora, nao faz sentido que se consinta que a futura—porque nao dizé- -lo — cidade se desenvolva aos caprichos dos que ld vao estabelecer-se emorar, ‘Compreendendo-o, os poderes publicos nomearam uma comissaio de tecnicos e representantes de entidades oficiais interessadas, por certo modo, no assunto. Esta comissio tratou de mandar levantar a planta topogtafica do terreno do que se desempenhou o ilustre engenheiro st. Coronel Costa Pereira. ‘A planta foi apresentadae vista minuciosamente nas ‘ultimas reunides dacomissio urbanisadora de Fatima que resolveu encarregar de delinear o plano da futura cidade, dois dos seus tecnicos, os arquitectos Emesto Korrodi e Luis Cristino, este um artista ainda jovem, mas jécom uma obra que o impée, e aquele, um notavel artista e professor. kee "CF. Doc. 35, de 15 de Outubro de 1927, nota 1 ee Doc. 418 1928-12-10 827 O que serdo plano da futura cidade? O reporter procurou os dois arquitectos, porem, dificil foi encontrar o ilustre artista sr. Korrodi. O sabio professor reside em Leiria, onde dirige a sua cadeira na respectiva escola industrial e trabalha no restauro do historico castelo. Raramente vem a Lisboa, De forma que nos dirigimos a Luis Cristino, que é pessoa amavel e gentil. Eno seu atelier da rua Primeiro de Dezembro que vamos encontrar oartista. ‘Nas paredes, nas estantes, nas secretarias, nos candeeiros de iluminagio electrica, etc. a arte moderna revela-se com um bom gosto e harmonia dignos de mengio. Diversos trabalhos de Luis Cristino — projectos de edificagdes & reconstrugées, designadamente as de seus estudos academicos de pensionista em Italia—decoram exuberantemente as paredes das salas de atelier e de escritorio. eae Nao foi sem relutancia que Luis Cristino acedeu a falar-nos da urbanisagio de Fatima: —Compreende, diz-nos - 0 plano ainda nao esté feito, encontra-se. mal esbogado e nao sou eu somente o encarregado do seu estudo. As informagGes que Ihe dé sao, pois, baseadas apenas no esboco do plano a.apresentar 4 comissio de que eu e o meu ilustre colega fazemos parte. E insistindo porque assim tomemos as suas palavras, Cristino passa areferir-nos: ~Ao elaborar o plano geral da futura talvez cidade de Fatima, o que nos chama desde logo a atengao ¢ a parte que deve p6r-se imediatamente emexecugio. E assim a questo do transito avulta entre os problemas a resolver. Temos de definir clara, nitidamente os acessos bem desafogados ao Santuario e a resolver o descongestionamento do ja avultado numero de veiculos que se aglomeram na cerca do templo. O jonalista presta toda a atengo 0 arquitecto continua: — Temos de pensar na colocagiio dos oito a dez mil veiculos —trens e automoveis—que chegam junto do santuario, Assim toma-se obrigatoria uma grande praca cortada por larga avenida onde se concentrem os carros por sectores numerados. —Umarotunda... —Talvez uma praca semi-circular em frente do templo e cortada por uma avenida larga, larguissima que dé em golpe de vista um recinto vasto, vastissimo. 828 Da criagio da capelania @ carta pastoral - 5 Pormenorisando: —Aavenida poderé ter cincoenta, sessenta ou mais metros de largura com placas ajardinadas e em correlago de grandeza estard a praga a estabelecer. Desta praca poderdo sair ainda outros arruamentos € designadamente em vasta avenida que ponhaem comunicagio 9 recinto do templo com a futura estago do caminho da Batalha-Martinganca ue se projecta fazer seguir por Fatima alinhade Leste. ‘Acompanhando 0 nosso interesse sempre crescente Luis Cristino continua a descrever: iv Esta avenida ficard com cerca de um quilometro em linha rectae seguira oeixo principal do santuario. Teré tambem boa largura embora menor do que a da avenida perpendicular &fachada prineipal do templo a estabelecer sobre a actual estrada que vai de Leiria a Ourem. Naturalmente esta arteria tert as sua placas de ajardinamento, eamplos passeios além de bome modemo pavimento, Essquissando rapidamente, no papel a planta do projecto: ee hbre estas tres arterias terd, ameu ver de elaborar-se o plano da futura povoaciio. Abertas as trés arterias outros arruamentos — avenidas e ruas — haverd a fazer-se cortando e cruzando-se. Entre esses grruamentos poder-se-hao tracar duas outras avenidas saindo do | semicirculo da praca fronteira do temploe em linhas divergentes. Mais pormenores curiosos: —Assemelhar-se-ha ao que existe em Versailles em frente do castelo, isto 6a Praca de Armas com as suas trés avenidas ~a principal, a de Paris, e as Saint Cloud e Sceaux. E para melhor se fazer compreender o artista saca dum lapis € debrugando-se mum cavalete, traga sobre um papel branco um debuxo do que tem referido. seta mio traga rapidamente orectangulo do templo volta do qual escurece com sucessivos riscos aarteria arborisada ~de renques vastos de arvoredo — que deve envolver por tres lados o santuario. Face a fachada do templo, Cristino traga um outro rectangulo que temo seu cumprimento em sentido inverso a0 tracejado j4. Edo meio deste Fectangulo o lapis marca um semi-circulo donde seguem os tragos paralelos das trés avenidas — a da estado seguindo o ‘eixo de todo 0 Besenho ou seja do templo e as duas ars referidas pelo artistae saindo em linha, divergentes a meio dos raios de cada angulo do semicirculoe daquela avenida ligando 4 futura estacao. ‘Outros tragos 0 artista marca no papel e surge-nios em esbogo a disposigao do que poderd sera futura cidade de Fatima. ie ree ET rr Doc. 418 1928-12-10 829 Aestrada de Leiria a Ourem aparece tambem no papel em curvas que perfazem a primeira vista um largo cujo centro é formado pela avenida e praca fronteirica ao santuario. Visto de repente este debuxo a lapis feito rapidamente pelo artista surge na retina do reporter a visio do que seré a zona principal de Fatima observada do alto de avido, a vista de pajaro, como dizem nuestros hermanos. O santuario com a arteria arborisada envolvendo por trés lados e a avenidaea praca fronteiriga assemelham-se a uma catedral de trés naves, cruz latina e abside: esta tomada pelo circulo da praca, avenida, representando os bracos que cruzam 0 curioso esbogado da catedral, € as trés naves constituidas pela zona arborisada¢ templo. Oartista acha curiosa esta semelhanga apresentada pelo jornalista e anota: —Eseconsiderarmos a catedral conforme os templo dalguns paises estrangeiros, poderd orectangulo indicativo do templo marcar 0 coro que é vulgar ver-se ld fora na nave central das igrejas. eee Sobre a orientago a seguir quanto 4s obras a executar Luis Cristino refere-nos: —O plano fixar4, como Ihe digo, a parte a pOr imediatamente em pratica e que é a que lhe referi. E preciso sermos praticos e assim desnecessario ser proceder-se desde j a grandes expropriagdes. Epensando: —Eclaro que dentro duma larga zona ademarcar em voltado santuario nio se deve permitir construgGes, etc. sem que obedecam ao plano que se estabelega e que aprove. Isto ndo quere dizer que se expropriem ja todos os terrenos dentro dessa zona, Basta que a expropriacao abranja a parte mais proxima ao santuario e necessaria 4 abertura das arterias directamente em ligagao com o templo. Prosseguindo: —As expropriagdes devem ser feitas pouco a pouco. Tudo indica que assim deve ser. Eafirma: ~Por agora vamos propor ao Governo que sejam expropriados os terrenos circunvisinhos 20 santuario visto aparecerem ja iniciativas para a construgio de hoteis e outros estabelecimentos necessarios as condigGes em que actualmente Fatima se encontra. Ea proposito o artista salienta: 830 Da eriagao da capelania a carta pastoral - 5 —£ preciso construir hoteis etc. em Fatima, fazer desaparece tabernas e outras locandas que ld existem, de formaa corresponder 4 afluencia de peregrinos que cada vez mais se acentua na Cova da Iria, —De maneira que... Oentrevistado remata: =O plano nio est ainda elaborado definitivamente, O que Ihe refiro é apenas um esbo¢o do tal plano, mas como tecnico devo manifestar- “The que, em linhas gerais, naturalmente serio que se vai pOrem pratica.

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