You are on page 1of 27
TQ 37 (2020) 37-63 Quaestio O humanismo cristao de Dietrich Bonhoeffer contribuicgdes para uma epistemologia teoldgica Jefferson Zeferino' Rudolf von Sinner? Resumo: A teologia no Brasil esté em busca de sua identidade e cida- dania académica. A aprovagdo de cursos também em nivel de bacha- relado, ha 20 anos, pelo Ministério da Educagao, bem como a institui- go de Diretrizes Curriculares Nacionais, a mais recente de 2016, sao conquistas que nao apenas reconhecem, mas também qualificam os cursos de Teologia. Cabe & comunidade académica formular e discutir © que € 0 proprio da Teologia em meio a outras dreas do saber e a Doutor em Teologia pela PUCPR. Professor colaborador do Programa de Pés-Graduacao em Teologia da PUCPR por meio do Programa Na- cional de Pés-Doutorado da CAl mail: jefferson.zeferino@hot- mail.com. Doutor em Teologia pela Universidade de Basileia e livre-docente pela Universidade de Berna, ambas na Suica. Professor adjunto de Teologia Sis- temiitica e coordenador do Programa de Pés-Graduacdo em Teologia da PUCPR. Professor extra-ordindrio na Universidade de Stellenbosch, Africa do Sul. Pesquisador bolsista do CNPq. E-mail: rudolfsinner@pueprbr. 37 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer importante e necessdria interdisciplinaridade. © argumento principal deste artigo é que o estudo teolégico académico pode haurir da forca de sentido de tradicées teolégicas, interpretadas na profundidade de sua fé e confessionalidade. Com Dietrich Bonhoeffer, tedlogo e mar- tir luterano, torna-se possfvel pensar o humano na radicalidade da sua existéncia por meio da imagem de um Deus humano e sofredor encarnado, crucificado e ressuscitado em Jesus Cristo. Viver a huma- nidade a termo a partir do Deus que se fez humano em Cristo é a proposta da cristoformagao bonhoefferiana e elemento fundante de seu humanismo cristéo. Assim, podem ser evitados tanto fundamen- talismos e tentativas de fuga mundi, quanto secularismos exacerba- dos que excluem a transcendéncia da vida humana. Positivamente, a Teologia seré publica e participard na academia, na sociedade e nas igrejas com sua contribuicéo especifica em meio 4 diversidade religio- sa e de posigées. Palavras-chave: Humanismo cristéo. Dietrich Bonhoeffer. Epistemolo- gia teolégica. Estudo da Teologia Abstract: Theology in Brazil is in search of its identity and academ- ic citizenship. The accreditation of degrees also at the undergraduate level by the Ministry of Education, twenty years ago, as well as the institution of National Curricular Guidelines, in its most recent version of 2016, are conquests that not only recognize, but also enhance the study of theology. It is the task of the academic community to formu- late and discuss what is proper to theology in relation to other areas of knowledge and the indeed important and necessary interdisciplin- arity. The main argument of this article is that the academic study of theology stems from the strength of meaning in theological traditions, interpreted within the depth of its faith and confessionality. With Diet- rich Bonhoeffer, Lutheran theologian and mariyr, it is possible to think the human in the radicality of its existence through the image of a human and suffering God incarnate, crucified and resurrected in Jesus Christ. To live humanity in its fullness in view of the God that was made human in Christ is the proposal of the Bonhoefferian Christ formation and the founding element of his Christian humanism. In this way, both fundamentalisms and attempts of fuga mundi, as well as exacerbated secularisms that exclude transcendence from human life can be avoid- ed. Positively, theology will be public and participate in the academy, in society and in the churches with its specific contribution among the diversity of religions and positions. Keywords: Christian humanism. Dietrich Bonhoeffer. Theological Epis- temology. Theological Studies. 38 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer “© que o estudante de Teologia deve fazer hoje? Antes de tudo, ele deve estudar Teologia apenas se concluir honestamente no poder estudar qualquer outra coisa.” Dietrich Bonhoeffer? 1. Introducao Mais de vinte anos depois da regulamentagao do ensino teo- logico em nivel de graduacio pelo Ministério da Educacio (MEC), a teologia continua refletindo acerca do seu espago académico. Di ferente dos contextos de varios paises europeus, no Brasil, a teologia nao pode fundamentar sua legitimidade em ter estado na origem da universidade. A universidade brasileira nasceu anticlerical e com bas- tante carga positivista, de modo que a teologia na academia teve que conquistar sua cidadania e adquirir e comprovar sua maioridade’, Varios pesquisadores e pesquisadoras tém se ocupado com a questio da relevancia e do lugar da teologia na universidade. Nao raro, estes trabalhos convergem no campo de estudos identificado como teologia publica’, Nesse sentido, ha uma dupla preocupa- > D, BONHOEFFER, Dietrich Bonhoeffer Werke, 2015, vol. 12, p. 416. Tradugao propria. No original: “Was soll der Student der Theologie heu- te tun? Er soll vor allen Dingen nur dann Theologie studieren, wenn er ehrlicherweise meinen muf, etwas anderes nicht studieren zu kénnen.” * Afonso M. L. SOARES; Joao Décio PASSOS (orgs.). Teologia Piiblica. Reflexes sobre uma area de conhecimento e sua cidadania. Sao Paulo: Paulinas, 2011. 5 Cf.'TEIXEIRA, Faustino. “Ciéncia da Religiao e Teologia’. In PASSOS, Joao Décio; USARSKI, Frank. Compéndio de Ciéncia da Religido. Sio Paulo: Paulinas; Paulus, 2013, p. 175-183; PASSOS, Joao Décio. “Teolo- gia na universidade: coisa eclesial ou coisa publica?” In Rever 16 (2016) p. 80-93; VILLAS BOAS, Alex. “Perspectiva Interdisciplinar da Teologia no Brasil: © debate epistemolégico da Area de Ciéncias da Religiio Teologia”. In Interagées 24 (2018), Belo Horizonte, p. 260-286; ZEFE- RINO, Jefferson. “Estudos sobre teologia publica no contexto brasileiro: aspectos de um campo de pesquisa em construgio”. In Revista Brasi leira de Historia das Religiées 36 (2020), p. 151-166; SINNER, Rudolf von. “Teologia ptiblica no Brasil. Procurando sua voz em didlogo com © contexto e tendéncias globais’. In SINNER, Rudolf von; ULRICH, 39 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer Gio: a produgao de um discurso teolégico qualificado no ambito académico atendendo a critérios publicos de argumentacio; e a necessidade de investigar a relagao entre as questdes ptiblicas do mundo contemporaneo e as religides. Um olhar atento as Diretrizes Curriculares Nacionais da Teo- logia (CNE/CES 2016) revela, entre outros aspectos, que o perfil do egresso e os objetivos do curso apontam na direcdo de uma forma- cao humanista de respeito a diversidade religiosa, aos direitos huma- nos e de promogio da cidadania.* Desse modo, uma teologia publi- ca comprometida com o papel da teologia no contexto académico brasileiro pode haurir de construgées teoldgicas que sustentam um perfil humanista de educacao teolégica. A tarefa que se poe, e que esta presente no historico da elaboragao das diretrizes, é fomentar uma teologia que seja, ao mesmo tempo, ancorada em sua propria tradicio confessional ¢ disposta e capaz de perceber a pluralidade e diversidade religiosas dadas no Brasil hoje, buscando inserir-se cons- trutivamente com sua contribuicao especifica no conjunto das vo- zes no espaco publico. Recorremos, a seguir, para inspirar-nos numa postura assumidamente teolégica sem menosprezar outras ciéncias, Claudete Beise; FORSTER, Dion (orgs.). Teologia publica no Brasil ena Africa do Sul. Um didlogo teolégico-politico. Teologia piblica vol. 8. Sao Leopoldo: Sinodal; EST, 2020 [no prelo] 6 Ver CNE/CES 2016, Art. 3°, § 2°: “A estrutura do curso de graduagdo em Teologia assegurara: [...] II a visio de educar para a cidadania, a partici pacio plena na sociedade e o respeito a diversidade’, “VI - a valorizacio das dimensées éticas e humanisticas, desenvolvendo no aluno atividades e valores voltados para o exercicio do seu papel na sua comunidade, na sociedade em geral e também orientados para a cidadania e para a solida- riedade”; § 3°: "O curso devera estabelecer agdes pedagégicas visando ao desenvolvimento de condutas atitudes com responsabilidade social e tera por principios: [...] II - preocupagao com a formagao humanistica, critica ¢ ética ¢ com a formacao multidisciplinar.” Art. 4°"O egresso do curso de graduacio em Teologia devera ter como base formativa os fundamentos constitutivos da construcao do fenémeno humano e religioso sob a ética da contribuicdo teolégica considerando o ser humano em todas as stias dimen- ses” (semelhante Art. 5°, inciso III); Art. 5° o curso deve formar pessoas com a capacidade de, segundo inciso VII: “exercer presenca publica, inter- ferindo construtivamente na sociedade na perspectiva da transformagao da realidade e na valorizagio e promogio do ser humano”. Art. 7°, § 3°:"O eixo de formagio interdisciplinar devera contemplar contetidos de cultura geral e de formacao ética e humanistica”. Grifo nosso. 40 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer sem retirar-se para 0 espaco meramente eclesidstico ou negar-se ao didlogo e responsabilidade publicos, a Dietrich Bonhoeffer como humanista cristao. Apdés apresentar sua posicdo original — ainda que um tanto enigmatica — de um cristianismo arreligioso num mundo tornado adulto (2.), apresentaremos Bonhoeffer como humanista cristao (3.) com seus conceitos cristolégicos (4.) e sua antropologia cristolégica (5.) para chegar a sua ética como formagio (6.) antes de apresentar uma breve conclusio (7.). 2. Um cristianismo arreligioso num mundo que adquiriu sua maioridade O pensamento de Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), tedlogo luterano assassinado ha 75 anos pela ditadura nazista, vem a contri- buir com perguntas comuns feitas no ambito dos estudos em teologia publica que investigam a relacdo entre tradigdes teoldgicas e as de- mandas publicas da sociedade, bem como oferece um pano de fundo humanista que pode ajudar a pensar o modo de insercao da teologia no contexto das ciéncias humanas. Com efeito, destaca-se do comple- xo teolégico bonhoefferiano sua preocupagao pela vida concreta das pessoas, incluida ai a questio de Deus. Ao mesmo tempo, crescido num lar de alta burguesia com seu pai sendo um respeitado professor de psiquiatria, sempre manteve aprego pela ciéncia e pelo conheci- mento, sem separd-lo da vida concreta nem buscar cristianiza-lo. Jaem sua tese de habilitagao (livre-docéncia), Bonhoeffer insiste na relacao pessoal entre Deus e o ser humano e, a partir disto, entre os seres humanos. Deus nao é um ser abstrato, estatico — como o outro humano também nao é -, mas concreto e dinamico. Assim, o autor escreve que “Um Deus que ‘existe de modo geral’, nao existe; Deus ‘esta’ na relacdo pessoal, ¢ o seu ser ¢ ser pessoa.” Num esboco de uma pequena obra, escrito na prisao, ele diz que a fé na onipoténcia de Deus nao é uma experiéncia auténtica de Deus, mas um elemento do mundo prolongado. Encontro com Jesus Cristo. A experiéncia 7 D.BONHOEFFER, Akt und Sein. Dietrich Bonhoeffer Werke, 2015, vol. 2, p. 112. Tradugdo propria. No original: “Einen Gott, den ‘es gibt’, gibt es nicht; Gott ‘ist’ im Personbezug, und das Sein ist sein Personsein.” 41 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer de que aqui se dé a inversio de toda a existéncia humana, pelo fato de Jesus s6 “estar ai para os outros”. Essa “existéncia em favor dos outros”, propria de Jesus, é a experiéncia da transcendéncial® Critica, outrossim, a busca de um Deus que aparece quando as forcas humanas falham — um deus “tapa-furos do nosso conheci- mento imperfeito”, como formula em discussio do livro “Cosmo- visao da fisica”, de Carl Friedrich von Weizsicker, retomando uma expressao de Paul Tillich®. Como Bonhoeffer bem percebeu, na medida em que a ciéncia consegue preencher as lacunas, tal Deus das lacunas teria que bater em retirada. Contra isto, insiste: Devemos encontrar Deus naquilo que conhecemos e nao naquilo que nao conhecemos; Deus nao quer ser compreen- dido por nés nas questdes nao resolvidas, mas nas resolvidas. [...] Deus tem de ser conhecido no apenas nos limites de nossas possibilidades, mas no centro da vida. [...] A razio disto esta na revelacao de Deus em Jesus Cristo. Ele é 0 centro da vida, e de modo algum “veio para” trazer-nos a resposta para questdes nao resolvidas!°. Esta argumentacao deixa entrever a posigdo de Bonhoe- ffer quanto ao “mundo tornado adulto”, expresso herdada de Wilhelm Dilthey, respeitando que a ciéncia nao precisa de Deus para subsistir. Ela deixou de necessitar uma “hipdtese Deus”, como famosamente constatou o astrénomo e matemiatico fran- cés Pierre-Simon Laplace (1749-1827) ao responder a Napoledo Bonaparte a pergunta deste pelo lugar de Deus no modelo da ori- gem do universo que lhe foi apresentado, Por outro lado, Bonhoe- ffer postula um cristianismo “arreligioso” que dispensa um deus ex machina, baixado mecanicamente sobre o palco quando preciso, como acontecia no teatro da Antiguidade’!. Contra isto, Bonhoeffer quer D. BONHOEFFER, Resisténcia e Submissdo. Cartas ¢ anotagées escritas na prisao, 2003, p. 510. 2 Idem, p. 414. © Idem, p. 415. cf BARCALA, Martin. Cristianismo arreligioso. Uma introducéo 4 cristo- logia de Dietrich Bonhoeffer. Sao Paulo: Arte Editorial, 2010. 42 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer falar de Deus nao nos limites, mas no centro, nao nas fraquezas, mas na forga, portanto ndo na morte e na culpa, mas na vida e no bem das pessoas. Nos limites, parece-me mais adequado calar e deixar que o insoltivel permanega sem solugao. A fé na ressurreigdo nao é a “solucdo” para o problema da morte. O “além” de Deus nao é 0 além da nossa capacidade de com- preensao! [...] Deus é transcendente no centro de nossa vida’?. Nisso, rejeita Kant que coloca a transcendéncia justamente além da capacidade de compreensio. Bonhoeffer buscava superar a me- tafisica e, em vez dela, uma interpretagdo profundamente mundana (weltlich), em plena citerioridade (Diesseitigkeit), neste sentido secular da fé crista, algo que Ralf Wiistenberg (2019) vé em ressonincia com a recente proposta de Charles Taylor (2010). A teologia de Bonhoeffer promove, na formulacao de Gibellini, “um cristianismo pés-metafisico, pés-individualista, pés-burgués e pés-ocidental’ 8, numa proposta teo- légica muito original. A primeira vista pode parecer estranho que um tedlogo postule um cristocentrismo tio forte e explicito — nisto, esta bem inserido na tradi¢ao luterana — e, ao mesmo tempo, valorize tanto a autonomia do ser humano, No caso de Bonhoeffer, a cristologia no se coloca em oposigao ao humano, mas, uma vez que em Cristo 0 proprio Deus se fez humano, em afirmagio do que entende ser a verdadeira humanidade. Assim, Bonhoeffer é humanista nao apesar de, mas justa- mente por ser profundamente cristao. Por isso, tal teologia explicita nao se torna um empecilho para 0 diélogo com outras ciéncias, mas, pelo contrério, busca assu- mir sua especificidade em meio ao conjunto da academia. Importa lembrar, neste momento, que Bonhoeffer, dadas as circunstancias e sua critica inequivoca a ditadura nazista, atuou pouco tempo na universidade, tornando-se professor, em crescente carater de clan- destinidade, de futuros ministros da Igreja Confessante, em resis- téncia a cooptagao das igrejas pelo regime. Ao longo de sua vida, o lugar de Bonhoeffer foi na interface entre igreja, sociedade ¢ 2D. BONHOEFFER, Resisténcia e Submissdo, Cartas e anotagées escritas na prisao, 2003, p. 373s. 8 Rosino GIBELLINI, A teologia do século XX, 2012, p. 118. 43 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer academia, numa atuagao fortemente pautada pelo ecumenismo.'4 Isto parece ser um dos atrativos deste tedlogo quem, como poucos outros, relacionou vida e pensamento em sua irretratavel resistén- cia ao regime totalitario de Hitler, pelo que pagou com sua vida. Estes elementos apontam para a possibilidade da abordagem de Bonhoeffer no ambito da teologia publica. De Lange'> chega a designa-lo como um tedlogo publico pois sua teologia foi 1) au- téntica, enraizada numa pratica crista; 2) dialégica, experimental e fragmentaria, mas nao individualista; 3) uma teologia que falou de Deus no meio da vida, nio em seus limites. Os limites aqui compreendidos nao como fronteiras ou margens'®, mas em sua dimensio especulativa que, no raro, requer um Deus das lacunas para dar sentido a sua narrativa quando um determinado limite de reflexao é alcangado. “Foi uma teologia que pediu aos fidis vi- ver, sem reservas, uma vida mundana, sem a fuga para aquilo que Bonhoeffer chamava de ‘religiio’”!”. Ao mesmo tempo, combateu um exacerbado individualismo que combinou bem com uma no- Gio privada da fé, sendo do foro intimo, da interioridade. Afirma Bonhoeffer que “nao ha duas realidades, mas uma so realidade, e esta é a realidade de Deus, revelada em Cristo, na realidade do Sobre o empenho ecuménico de Bonhoeffer ver: CLEMENTS, Kei- th. Dietrich Bonhoeffer's ecumenical quest. Geneva: World Council of Churches Publications, 2015. 1) DE LANGE, Frits. “Against Escapism: Dietrich Bonhoeffer's Con- tribution to Public Theology”. In HANSEN, Len (org.). Christian in Public. Aims, methodologies and issues in public theology, 2007, p. 141- 152; KOOPMAN, Nico. “Bonhoeffer and the future of Public Theology in South Africa. The on-going quest for life together”. In Ned Geref Teologiese Tijdskrif 55 (2014), suppl.1, p. 985-998; CALDAS, Carlos. “Dietrich Bonhoeffer ¢ a teologia publica no Brasil”. In Xaveriana 182 (2016), p. 289-312. Fronteiras sio bem trabalhadas em ambito teoldgico, ao que se pode no- mear a importante contribuicao de Tillich. Sobre isto ver: MUELLER, Enio; BEIMS, Robert (orgs.). Fronteiras e interfaces: 0 pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. So Leopoldo: Sinodal, 2005. Frits DE LANGE, op. cit., p. 141. [grifo no original]. Tradugao prépria. No original: “It was a theology that asked believers to live a worldly life without reservations and without escape into what Bonhoeffer called: ‘religion’.” 44 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer mundo”, em que ha ressonancia com que defendeu Gustavo Gu- tiérrez_ em sua Teologia da libertagdo: “ha uma so historia. Uma historia cristofinalizada’!’. Isto posto, passa-se a recepcao do pensamento do martir Bo- nhoeffer a partir das nogdes de humanismo cristio, realidade em Cristo, cristoformacao e ética como formacao. 3. Bonhoeffer: um humanista cristao Na esteira de autores como Jens Zimmermann e John de Gruchy, o presente texto elabora uma aproximagio ao pensamen- to bonhoefferiano enquanto expressao de um humanismo cristao. Antes, de modo genérico, é possivel apontar que em seu verbe- te sobre humanismo na Encyclopedia Britannica, Grudin® indica que ha uma polissemia no que envolve a compreensio do termo humanismo, ao que trés formas se destacam, a saber, o humanismo em sua relag3o com o classicismo; 0 humanismo no que diz res- peito as assim chamadas humanidades; e o humanismo que esta preocupado com a centralidade do humano. Formado na tradicio humanista classica no seio de sua familia, Bonhoeffer fazia refe- réncia a ele volta e meia, por exemplo em sua prestagdo de contas “Dez anos depois”?! que escreveu para humanistas seculares que conspiraram com ele contra Hitler. Este terceiro aspecto atenta para a experiéncia humana, trata-se, portanto, de uma énfase an- tropocéntrica. E neste horizonte mais amplo de um pensamento centrado na experiéncia humana que se torna possivel ler o legado teoldgico de Bonhoeffer como uma forma de humanismo. Zimmermann entende que a encarnagao de Deus em Je- sus Cristo, Deus feito humano portanto, como ponto de partida ‘8D, BONHOEFEER, Etica, 2009, p. 126. "© Gustavo GUTIERREZ, Teologia da libertagdo: perspectivas, 2000, p. 205 20 Robert GRUDIN, “Humanism”, in Encyclopedia Britannica, dispo- nivel em: https://www-britannica.com/topic/humanism, acesso em 28.03.2020. 21D, BONHOEFFER, Resisténcia e Submissdo. Cartas e anotagées escritas na priso, 2003, p. 27-43. 45 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer de seu pensamento qualifica Bonhoeffer como um humanista cristdo. Para o autor, a teologia de Bonhoeffer pode ser interpre- tada como um humanismo cristoldgico, inspirado na patristica, pois, segundo Henri de Lubac, a teologia da igreja antiga é, es- sencialmente, uma antropologia cristologica. Aplicar tal chave de leitura a0 complexo teolégico bonhoefferiano permite que se compreenda sua teologia de modo antropoldgico, pois possui em seu horizonte a perspectiva do tornar-se humano em Cris- to”, Ademais, este rotulo também permite coloca-lo ao lado de uma grande tradicao humanista crista para além de seu escopo protestante, abrindo caminhos de didlogo com catélicos e orto- doxos orientais”. A recepgio da teologia bonhoefferiana num contexto humanista também permite uma leitura nao dualista da relagdo da divindade com 0 mundo, e representa um Deus preocupado com a condicdo humana”. O autor sustenta, ainda, que questées atuais — como a crise migratéria que expoe seres humanos a tratamentos desumanos ¢ interpela a teologia diante da reflexdo acerca do humano — podem ser pensados a partir da antropologia encarnacional de Bonhoeffer’. John de Gruchy, destacado tedlogo sul-africano, especialista em Bonhoeffer, professor emérito de universidade secular e auto- denominado humanista cristio® compreende o humanismo cris- tao bonhoefferiano como uma alternativa entre fundamentalismo e secularismo. Com efeito, o autor chega a pensar a possibilidade de atuag4o conjunta entre humanismo cristo e humanismo secular em contraposi¢ao a todo e qualquer movimento desumanizante. O autor entende que a favor do humanismo cristo esta ainda seu in- teresse pela espiritualidade humana e, justamente por isso, sua rea- firmagdo da humanidade diante das desumanizagdes programiticas ® Sobre este tema ver a recente tese de Wilhelm SEL, Ser humano, ser para outra pessoa. O significado da antropologia de Dietrich Bonhoeffer para sua ética, 2019 ® Jens ZIMMERMANN, Dietrich Bonhoeffer’s Christian Humanism, 2019, p.x. % Idem, p. xix. % Idem, p. 332. 2 DE GRUCHY, John W. Confessions of a Christian Humanist. Minneap- olis: Fortress, 2006. 46 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer que independem de contextos particulares?’. Ele nota que Bonhoef- fer foi critico do humanismo da renascenga, entre outros, por enten- der o retorno a antiguidade classica algo elitista. Mas teria advogado um auténtico humanismo, uma “mundanidade madura”, implican- do “uma volta 4 compreensio biblica da integralidade humana e uma perspectiva muito mais ampla do mundo que vem por meio de uma apreciagio e apropriagio de sua rica diversidade cultural” 28 Tal preocupacio ressoa a propria atuacio de Bonhoeffer que, em dado momento, apesar de sua critica ao humanismo secu- lar, viveu um tempo de crise que 0 colocou lado a lado daqueles ¢ daquelas que lutavam pela razio, pela cultura, pela humanidade, por valores como liberdade e tolerancia, e pelos direitos humanos contra a emergente tirania nazista. Bonhoeffer viu nesses humanis- tas uma ética mais eleyada que a de muitos cristaos de seu tempo”’. O humanismo cristao de Bonhoeffer reflete uma forma madu- ra de se estar no mundo enquanto humanismo genuino que resgata a perspectiva de uma antropologia que considera o humano em sua inteireza. Além disso, parte-se da ideia de que a existéncia acontece compartilhada, é o relacionamento com os outros que da sentido as coisas. A coisificagao do humano, neste sentido, esta relacionada com a auséncia da experiéncia do que é 0 humano. Assim, um humanismo moldado por Jesus é um humanismo para os outros”. Em resumo, destaca o teélogo sul-africano: O que busquei fazer é sugerir que na vida e nos escritos de Bonhoeffer encontramos uma significativa exposi¢io do que um humanismo cristao pode e deveria ser para nés hoje. E um humanismo profundamente arraigado na vida, 2 John W. DE GRUCHY, “Dietrich Bonhoeffer as Christian Humanist”, in Jens ZIMMERMANN; Brian GREGOR (eds.), Being human, becom- ing human: Dietrich Bonhoeffer and social thought, 2010, p. 3-5. Idem, p. 19. Traducao propria. No original: “’a mature worldliness' [...] areturn to the biblical understanding of human wholeness and a much broader perspective of the world that comes through an appreciation and appropriation of its rich cultural diversity”. 2 Idem, p. 12. %” Idem, p. 20. 47 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer morte e ressurreigdo de Jesus Cristo, um humanismo que esta moldado no apenas pela educagio, mas também por ‘um genuino encontro com “o outro”, um humanismo que é formado na luta pela verdade e pela justiga contra pode- res desumanizantes, um humanismo que é aprofundado por meio do sofrimento, e ainda assim esta sempre afirmando a bondade humana contra a perversidade, a esperanca contra o desespero e vida contra a morte. Tudo isso € 0 significado de Jesus Cristo, para nés, hoje, pois Deus, escreve Bonhoef- fer em “Dez anos depois”, “nio menosprezou a humanidade, mas se tornou humano pelo bem de homens e mulheres”. A partir de Zimmermann e de Gruchy, portanto, se perce- be a possiblidade de uma abordagem publica de Bonhoeffer pelo viés do humano. Isto se da em virtude de que na profundidade de sua experiéncia humana, sua confessionalidade e espiritualidade dao pistas que podem auxiliar a pensar a existéncia humana hoje. Atentar a questao “Quem é Jesus Cristo para nds hoje?”, no hori- zonte da sua ideia de cristoformagdéo é também perguntar “Quem sou eu para meu préximo hoje?” 4, Christuswirklichkeit Dietrich Bonhoeffer, em contraposicao as tentativas de sepa- racao entre sagrado e secular, busca compreender a realidade como uma realidade em Cristo (Christuswirklichkeit) e, desse modo, assu- 3 Idem, p. 23-24. Tradugao propria. No original: “What I have sought to do is to suggest that in Bonhoeffer's life and writings we have a pro- found exposition of what Christian humanism can and should be for us today. It is a humanism deeply rooted in the life, death, and resurrection of Jesus Christ, a humanism that is shaped not just by education but also by a genuine encounter with ‘the other’, a humanism that is fash- ioned in the struggle for truth and justice against dehumanizing power, a humanism that is deepened through suffering, yet one that is always affirming human goodness against perversity, hope against despair, and life against death. All this is the meaning of Jesus Christ, for us, today, for God himself, Bonhoeffer wrote in ‘After Ten Years’, ‘did not despise humanity, but became human for the sake of men and women’”. 48 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer me de modo radical a nocao de encarnagio, Nela, mundo e Deus esto unidos por meio de Jesus Cristo. E esta é a base para se falar de um humanismo encarnacional, bem como abre pontos de contato com outros humanismos comprometidos com uma vida mais justa, irénica e com a construgao de uma cultura mais humanizada*. Cristo incorpora a relagio entre criador e criatura, de modo que sagrado e profano nao esto em contraposi¢ao, mas também nio sio idénticos. Diante disso, concebe-se a imagem de um Deus que assume a humanidade em si mesmo, nao tendo que defenderse dela, o que liberta o humano de sua busca por autojustificagao. Trata-se da compreensdo de uma teologia encarnacional na qual se tematiza a Palavra de Deus incorporada a contextos histéricos variados e em constante mudanga®*. O cristianismo, portanto, possui uma visdo da realidade, que pode ser denominada de realidade em Cristo, em que o divino ¢ 0 humano nao esto em competi¢’o, mas so ambos manifestados na pessoa de Jesus Cristo. A encarnacao possibilita uma relacao do humano com Cristo para dentro de uma nova humanidade, a sa- ber, a verdadeira humanidade revelada por Jesus. O evento Cristo, composto por sua vida, morte e ressurreicao, configuram aquilo que pode ser chamado de cristoformagéo. Além disso, este mesmo evento desvela a tensao escatoldgica entre ultimo e pentltimo™. Bonhoeffer conjuga dialeticamente o que denomina de coi- sas tltimas e coisas peniltimas. Contra perspectivas éticas, a seu ver, reducionistas, o martir alemao aponta para a encarnacio e para a cruz.> Assim, entre as coisas tltimas e as pentiltimas (Deus e 0 mundo), percebe a relevancia de uma abordagem que dé conta de #2 J. ZIMMERMANN, « Bonhoeffer's incarnational humanism”, In Theologica Wratislaviensia 2016, p. 78; John W. DE GRUCH, “Foreword”, in ZIM- MERMANN, J. Dietrich Bonhoeffer's Christian Humanism, 2019, p. VILL 33 John W. DE GRUCHY, op. cit., p. viii; J. ZIMMERMANN, op. cit., p. xi. Compreensio elaborada por Zimmermann com base na obra de: WILLIAMS, Rowan. Christ the Heart of Creation. London: Bloomsbury Continuum, 2018. 3% J. ZIMMERMANN, op. cit., p. xii; BONHOEFFER, Ftica, 2009, p. 79-119. 35 A encamacio nao pode ser considerada alheia A cruz. Sua cristologia se desenvolve atenta ao sofrimento humano diante de injustigas, violéncias e hostilidades (John W. DE GRUCHY, “Dietrich Bonhoeffer as Christian Humanist”, in J. ZIMMERMANN, Jens; Brian GREGOR, (eds), Being hu- man, becoming human: Dietrich Bonhoeffer and social thought, 2010, p. 16. 49 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer pensi-las de modo conjunto. A encarnagao denuncia perspectivas teolégicas alienadas da existéncia humana concreta, a cruz desvela a irrelevancia de uma espiritualidade que despreza a humanidade®, Em Bonhoeffer, a encarnacao une Deus e 0 mundo e, desse modo, experimenta-se a realidade de Deus por meio do mundo e a rea- lidade do mundo por meio de Deus. E é justamente nessa reali- dade imbricada que a pergunta pela atualidade da pessoa de Jesus é levantada®”, Em sua Etica, Bonhoeffer parte da nocao de que, na encarnagio, Jesus assume o mundo todo em seu ser, reconciliando-o com Deus. Nesse sentido, “Quem olha para Jesus Cristo vé, de fato, Deus e 0 mundo em um s6; doravante nao pode ver mais Deus sem 0 mundo, nem o mundo sem Deus”*, Isto se reflete também em sua antropologia que esta li- gada a uma ontologia cristologica que, por sua vez, é tanto a base para a vida humana, como base para a compreensio de toda a realidade enquanto realidade em Cristo. Assim, busca-se a hermenéutica do que significa ser um novo ser humano den- tro dessa realidade cristolégica. Nao somente o humano, mas a igreja como um todo deve ser pensada diante dessa realidade sacramental (desde a perspectiva de Cristo como sacramento primordial), existindo para fora, em favor do mundo. E nesse sentido que a presenga da igreja no mundo é eucaristica, ao pas- so que ao humanismo encarnacional pode também ser aplicado © titulo de humanismo eucaristico®’. Ser humano em Cristo, portanto, é participar da recon- ciliagdo entre Deus (ultimo) e 0 mundo (pentiltimo), 0 que significa participagao no encontro de Cristo com este mundo. Isto implica tanto na nogdo de que toda realidade esta recon- ciliada por Deus em Cristo (Christuswirklichkeit), 0 logos por meio do qual tudo existe, bem como na tensdo entre o mundo ja reconciliado e o mundo pentltimo que nao deixa de ser boa 36 R. GIBELLINI, op. cit., p. 112-113 ® J. ZIMMERMANN, “Bonhoeffer's incarnational humanism’, in Theolo- gica Wratislaviensia 11 (2016), p. 82-83 © _D. BONHOEFFER, Etica, 2009, p. 48. % J. ZIMMERMANN, Dietrich Bonhoeffer's Christian Humanism, 2019, p. 333-334 50 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer criagdo e aguarda a vinda de Cristo por meio da vida crista que realiza essa presenca” Da assim chamada Christuswirklichkeit ou realidade em Cris- to, desdobra-se sua antropologia cristolégica que pensa o humano no horizonte do tornar-se humano como Cristo. Entra-se, assim, na discussio a respeito da verdadeira humanidade que esta relaciona- da com a nogio de cristoformacio. 5. Cristoformacao A participagio em Cristo significa a participagio em uma nova humanidade. A conformacao a Cristo, nesse caso, se torna objetivo de uma perspectiva solidaria e amorosa da existéncia hu- mana. E como lhe é bastante proprio, em Bonhoeffer esse carater da vivéncia crista aparece conectada com a vida em comunidade quando Deus se faz presente por meio dos sacramentos e da pre- gacao da palavra"!, A mensagem do evangelho é a verdadeira humanidade a imagem de Jesus de Nazaré, aspecto que caracteriza o assim cha- mado humanismo cristio de Bonhoeffer. Portanto, ser humano é tornar-se humano como Jesus, ao que as ideias de liberdade, res- ponsabilidade e solidariedade sio interpretadas em chave encarna- cional. A natureza relacional da verdadeira humanidade, por sua vez, pode ser traduzida da seguinte forma: “ser-para-os-outros”. Disso decorre uma ética concreta que nao se pergunta acerca de um bem geral e totalizante, mas questiona de que modo Cristo se faz presente aqui e agora’. Jens Zimmermann identifica na base do pensamento bo- nhoefferiano de cristoformagdo a nocao patristica da theosis. Para ouvidos protestantes, como ressalta, isto pode soar complicado ou perigoso, condensado como é na conhecida formula de Atandsio: 4” J. ZIMMERMANN; B. GREGOR, op. cit., p. xvi-xvii. a J. ZIMMERMANN, “Bonhoeffer’s incarnational humanism”, in Theolo- gica Wratislaviensia 11 (2016), p. 81-82; J. ZIMMERMANN, Dietrich Bonhoeffer's Christian Humanism, 2019, p. x. "2 J. ZIMMERMANN; B. GREGOR, op .cit., p. xv-xvi 51 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer “Deus se fez humano para que nés possamos nos tornar deuses”.*? Como o proprio Bonhoeffer ressalta: O ser humano se torna humano, porque Deus se fez ser hu- mano. Porém o ser humano no se torna Deus. Assim, nao é ele que pode promover a transformacio de sua forma; o pré- prio Deus muda sua forma na forma do ser humano para que este possa ser, se bem que nao Deus, humano perante Deus**. Para Zimmermann, a fim de evitar mal entendidos de uma theopoiesis, cabe traduzir a formula atanasiana da seguinte forma sobre Bonhoeffer: “Deus se tornou humano para que ao ser transformado em si- milaridade-a-Cristo, os seres humanos pudessem atingir sua verdadei- ra humanidade”’, Segundo ele, no cristianismo dos padres da Igreja, 0 grande objetivo do humano € a cristificago, baseando suas rela- Ses com Deus e com as demais pessoas no amor. O humanismo que decorre dessa compreensio cristolégica da humanidade possui um desdobramento epistémico que nao separa fé e razo, mas percebe a existéncia de forma imbricada. Ha também um. segundo desdobra- mento de cunho ético no qual se valoriza a solidariedade humana‘. Nesta interpretacdo, nota-se uma coincidéncia entre a no- cao patristica de theosis e a cristoformagao bonhoefferiana. Ad- voga que a divinizagio nao deve ser compreendida como uma transformacao ontoldgica da criatura em criador, mas na busca da similaridade com a pessoa de Cristo a partir e por iniciativa deste. ® De incarnatione Verbi, MPG 25, 192 B, 54, apud J. ZIMMER- MANN, Dietrich Bonhoeffer's Christian Humanism, p. 40. Con- forme J. ZIMMERMANN, “Bonhoeffer's incarnational hu- manism”. In Theologica Wratislaviensia 11, p. 79, esta posicao representa bem a teologia de Inacio de Antioquia, Justino Martir, Irineu, Clemente de Alexandria, Gregorio de Nissa, Sao Basilio e Gregério Nazianzeno. “ D. BONHOEFFER, Etica, 2009, p. 56. 6 J. ZIMMERMANN, 2016, p. 80. “God became human so that by being transformed into Christ-likeness, human beings can attain their true humanity.” “ J. ZIMMERMANN, “Bonhoeffer's incarnational humanism”, in Theolog- ica Wratislaviensia 11 (2016), p. 80-81 52 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer Para Zimmermann, essa era a compreensao patristica que ecoa na teologia de Bonhoeffer e que possibilita uma relagdo ecuménica entre oriente e ocidente cristaos, uma vez que esta ideia de cristi- ficagao ou cristoformagao enquanto divinizagao pode ser encon- trada também em Lutero”. O humanismo encarnacional bonhoefferiano, portanto, aponta para uma antropologia teoldgica cujo centro é a parti pacio da realidade enquanto uma realidade cristolégica. Tal unio com Deus se traduz em uniao com os outros. Nesse sentido, ha uma dimensao ética bastante marcante nessa proposta. Trata-se de uma ética da paz que Zimmermann também acredita ser a verda- deira base para o ecumenismo**, 6. Etica como formacao As reflexdes acerca das nogdes de realidade em Cristo cristoformacao nos direcionam a uma parte especifica do com- plexo teolégico bonhoefferiano expresso em sua Etica. O termo conformagdo é indicado no indice remissivo da obra em portu- gués no entorno das paginas 54 e 72, locais em que sao tratados 0s topicos Conformagéo e A confissdo da culpa, ambas abrigadas na parte III da Etica, intitulada Etica como formagéo [Ethik als Gestaltung]®. E. valido sempre relembrar que a obra em ques- tio nao foi publicada de modo organico pelo proprio autor, mas compilada ¢ editada por Eberhard Bethge, bidgrafo e amigo de Bonhoeffer, a partir de escritos e fragmentos. Bonhoeffer parte da interpretacao crista da vida de Jesus como uma vida que recria a humanidade. Em Cristo, o encamnado, crucificado e ressurreto, toda a humanidade toma parte do sim de Deus ao ser humano em seu juizo da graca na cruz™, Para ele, “A "Idem, p. 83-84; J. ZIMMERMANN, Dietrich Bonhoeffer's Christian Hu- manism, 2019, p. xiii, xv. “© J. ZIMMERMANN, “Bonhoeffer's incarnational humanism”, in Theolog- ica Wratislaviensia 11 (2016), p. 84-85 “© D. BONHOEFFER, Ethik. Dietrich Bonhoeffer Werke, vol. 6, 2015, p. 62-92. 5° D. BONHOEFFER, Etica, 2009, p. 53-54 53 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer humanidade sé adquire sua verdadeira forma na cruz de Cristo, isto é, como submetida a juizo”>! Nesse sentido, “Jesus Cristo é 0 ser humano aceito, julgado e despertado para uma nova vida e nele a humanidade toda 0 é, nds o somos”. Assim, “somente a forma de Jesus Cristo enfrenta o mundo vitoriosamente. E dessa forma que emana toda formagio de um mundo reconciliado com Deus”®, Disso decorre que “formacio 86 existe como incorpora¢ao a forma de Jesus Cristo, como confor- macao com a forma tinica do encarnado, crucificado ¢ ressurreto”™?. Esta formacio, contudo, nao é lida como uma tentativa hu- mana de tornar-se parecido com Jesus, mas como obra do préprio Cristo. Tomar parte da forma de Cristo, portanto, nao se reduz a um exercicio de piedade, mas de tomar parte de Cristo como 0 en- carnado, 0 crucificado ¢ 0 ressuscitado. No encarnado encontra-se 0 significado do realmente humano. “O ser humano pode e deve ser humano”, porém nem como “super-homem” (Ubermensch, como formulava Nietzsche), nem herdi ou semideus.“O ser humano real nio € objeto de desprezo nem de idolatria, e sim objeto do amor de Deus”. No crucificado, “o ser humano morre, diariamente, a morte do pecador”, 0 que Ihe exige humildade. No ressuscitado, surge 0 novo em meio ao antigo. Vislumbrando a gloria do Cristo, “g novo ser humano vive no mundo como qualquer outro”®> que busca nao se destacar, mas destacar o Cristo no mundo. Compreende-se, portanto, que tomar a forma de Jesus Cris to nao significa deixar de ser humano para tornar-se Deus, pelo contrario, significa tornar-se verdadeiramente humano na forma de Cristo. A conformacao, em Bonhoeffer, nao fica limitada a um carater individual, mas é refletida também na igreja®’. A igreja, corpo de Cristo, “é a forma do proprio Jesus Cristo que ganha forma aqui” e “a imagem de acordo com a qual ela é formada é 51 Idem, p. 53. 2 Idem, p 8 Tdem, p.5 Ibidem 5 Idem, p. Idem, p O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer a imagem da humanidade”’’. Nesse horizonte, o papel da igreja é fundamental. “Etica como formagio s6 é possivel com base na atual presenca da forma de Jesus Cristo em sua igreja”. Mais, “A igreja é o lugar onde se proclama e acontece 0 processo em que Jesus Cristo toma forma. A ética crista esta a servico dessa proclamagao e desse acontecimento”*. ‘A forma de Cristo é a forma humana. “Por isso ele no quer que em nosso tempo sejamos alunos, representantes e defensores de determinada doutrina, mas seres humanos, seres humanos reais perante Deus”. A Jesus interessava “aquilo que serve ao ser huma- no real e concreto” e “se minha aco agora ajuda ao proximo a ser humano perante Deus”. Nas palavras do autor: Nao se 1é que Deus se fez ideia, principio, programa, vali- dade universal, lei, mas que Deus se fez ser humano. Isso significa que a forma de Cristo, tio certo como é e perma- nece tinica e idéntica, deseja ganhar forma no ser humano real, vale dizer, de maneira muito diversificada. Cristo nao elimina a realidade em favor de uma ideia que exigisse rea- lizag4o contra toda a realidade; antes, faz vigorar a realidade, afirma-a; na verdade, ele é 0 ser humano real e, assim, o fun- damento de toda realidade humana. Conformagio de acor- do com a forma de Cristo inclui, pois, as duas coisas: que a forma de Cristo permanece uma e a mesma, nao como ideia geral, mas unica como cla 6, o Deus encarnado, crucificado e ressuscitado, e, por outra, que justamente por causa da forma de Cristo seja preservada a forma do ser humano real e que, assim, o ser humano real assimile a forma de Cristo®, Para Bonhoeffer, esta perspectiva afasta o tedlogo da ten- tativa de definir aquilo que é bom de uma vez por todas, mas, pelo contrario, o leva a perguntar-se acerca da atualidade de Cris- 3) Tdem, p. 57. Idem, p. 60, grifo no original 5° Idem, p. 58. 6 Ibidem. 55 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer to: “como Cristo ganha forma entre nés hoje e aqui”®!. © espaco de nossos confrontos e decisdes, portanto, corresponde ao contexto de nossa reflexao ética®. Com efeito, o autor compreende que 0 contexto concreto de sua reflexdo é 0 ocidente cristo que chama o cristo 4 respon- sabilidade de tomar a forma de Cristo. Assim, na dinamica entre encarnagio, morte e ressurrei¢io, o autor desenvolve o seguinte: Esta em jogo o tomar forma da forma de Cristo entre nds. ‘Trata-se, portanto, do ser humano real, julgado e renovado. O ser humano real, julgado e renovado nao existe senio na forma de Jesus Cristo e, consequentemente, na conforma¢io com ele. Somente o ser humano aceito em Jesus Cristo é 0 ser humano verdadeiro; somente o ser humano atingido pela cruz de Cristo é 0 ser humano julgado; somente o ser huma- no que tem parte na ressurrei¢ao de Cristo é o ser humano renovado. Desde que Deus se fez ser humano em Cristo, qualquer pensamento sobre o ser humano sem 0 Cristo se converteu em abstragio estéril. A antitese do ser humano integrado na forma de Jesus Cristo é 0 ser humano como seu proprio criador, seu proprio juiz e seu proprio renovador; é o ser humano que vive 4 margem de sua verdadeira huma- nidade e por isso mesmo, mais cedo ou mais tarde, se destroi asi mesmo. A apostasia do ser humano em relagao a Cristo é, ao mesmo tempo, sua apostasia de sua propria esséncia®. O reconhecimento da culpa diante de Cristo, por meio da graca, permite que se inicie a conformagao a ele. “O lugar onde esse reconhecimento de culpa se torna realidade é a igreja”, e é justa- mente isso que faz da igreja o que ela 6, comunhio de pessoas que reconhecem seu pecado por serem atingidas pela graga. “E nelas que Jesus realiza stra forma em meio ao mundo, Por isso, também, 86 a igreja pode ser o lugar de renascimento e renovagio pessoal e comunitaria”. Bonhoeffer, portanto, compreende uma dimensio 8 Ibidem, grifo do original Idem, p. 59. © Idem, p. 72-73 @ 56 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer comunitaria na cristoformagao. Assim como Cristo assume 0 pe- cado inteiro da humanidade, assim também cada pessoa cristi e a igreja como um todo deve assumir a culpa em sua inteireza, sem autojustificagdes ou transferéncias de culpa™. Sé assim se abre a possibilidade do perdio. A culpa que pode ser perdoada é a culpa do outro, a minha pode ser confessada, Pensa-se, portanto, uma igreja confessante: A igreja confessa nao ter procedido com abertura ¢ clareza suficientes em sua pregacio do Deus tinico que se revelou por todos os tempos em Jesus Cristo e nao tolera outros deuses a seu lado. Ela confessa sua temerosidade, seus des- vios, suas perigosas concessdes. Muitas vezes ela descuidou de seu ministério de vigilancia e de seu oficio de consola- cdo. De forma que negou muitas vezes a devida misericor- dia aos marginalizados e desprezados. Calou onde devia gritar, porque o sangue de inocentes clamava aos céus. Nao achou a palavra certa na forma certa e ao tempo certo. Nao resistiu até o maximo 4 apostasia e se tornou culpada da impiedade das massas® Tal afirmacao é deveras contundente no contexto em que apoiado pelos cristaos alemaes 0 nazismo se constitui em forca também religiosa de dominio e controle sobre varios grupos mar- ginalizados, dizimando-os. As massas apéstatas, que negligenciam a confissio de sua culpa e se configuram em juizes uu tempo, rapidamente transformam suas convicgdes em violéncia. Bonhoeffer desenvolve uma confissio de culpa para cada topico do decdlogo, compreendendo que nio sé a igreja é respon- sdvel por tomar a forma de Cristo, como também é responsavel por aquilo que faz ou deixa de fazer quando nao assume tal forma. Nesse sentido, ao pensar um ocidente apéstata, percebe que ha uma profunda responsabilidade da igreja nesse contexto ao que chega a formular o seguinte: de s Idem, p. 73. 8 Idem, p. 74 57 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer “Justificagdo e renovagao” do Ocidente sé haverd, portanto, com a restauragio, de alguma maneira, do direito, da ordem e da paz, “perdoando-se” entio a culpa do passado, abando- nando-se toda ilusao de poder desfazer 0 acontecido através de acdes punitivas e dando-se espaco entre os povos 4 igreja de Jesus Cristo, como fonte de todo perdao, justificagao e renovagdo. Assim como a apostasia de Cristo é uma culpa comum do Ocidente, por mais diferenciado que seja 0 peso do erro ca ou 14, do mesmo modo também s6 haverd uma justificagdo e renovacéo comum. Qualquer tentativa de sal- var 0 Ocidente excluindo um de seus povos estara fadada ao malogro®, E interessante a dinamica liturgica proposta por Bonhoeffer de confissao da culpa e perdao dos pecados. Com efeito, a confis- sao so pode existir se a culpa é reconhecida. Seu tempo e o atual se configuram, diante da perspectiva bonhoefferiana, enquanto momentos de combate as injustigas e confissio de culpa”. Talvez © perdao seja algo ainda distante no sul global em que se vive diariamente o peso da colonialidade dos poderosos. Antes que o combate as injustigas, se vive a necessidade de seu reconhecimen- to, ndo se pode combater aquilo que nao esta identificado como algo a ser enfrentado. Ao mesmo tempo, importa lembrar que tam- bem para Bonhoeffer esta ideia no era nada superficial ou facil, uma vez que, na percep¢ao dele como do seu mestre Karl Barth, a grande massa de “cristios alemies” tinha abandonado o Evangelho e se alinhou ao nazismo, ao antissemitismo e a destruigao da vida tida como “indigna”. O humanismo encarnacional bonhoefferiano, a medida em que privilegia o lugar concreto em que o humano busca ser huma- no real na conformacio a Cristo, é um humanismo que assume a humanidade como algo a ser vivido a termo e, justamente por isso, % Idem, p. 78. Sobre o sentido de “ocidente” em Bonhoeffer, ver DE JON- GE, 2012, especialmente a partir de "Heranca e decadéncia’ (D. BO- NHOEFFER, Etica, 2009, p. 60-72). 7 Idem, p. 76-77. 58 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer valoriza o humano, sobretudo aquele que sofre. Na dentincia das injustigas, o humano toma parte da forma de Cristo arriscando, inclusive, o martirio, assim como Bonhoeffer o fez. 7. Conclusao: contribuig6es bonhoefferianas ao estudo académico da teologia Ja destacamos que 0 contexto de Bonhoeffer era diferente do Brasil dos ultimos 20 anos em varios aspectos. Seria contra a in- ten¢ao do préprio Bonhoeffer, focado como estava nas necessida- des concretas do cotidiano € no seu contexto imediato, sem esque- cer a importancia da colaboragao internacional e do movimento ecuménico, no qual atuava. A conviccao e linguagem fortemente cristolégica parece estranha para um didlogo interdisciplinar na academia. A proposta de Bonhoeffer, cristocéntrica como é, parece inviavel diante de uma sociedade plural. Tera, no minimo, de ser traduzida a partir de suas intuigdes basicas. Ele conta, certamente, com a profunda incidéncia publica do cristianismo que, em seu tempo, aliou-se a um regime racista, segregacionista e assassino, e foi a igreja o objeto primario de seu investimento teoldgico e de sua critica mordaz. Vivia, numa época de multiplicagao das feri- das, sendo sua morte uma delas, mas dentro de um contexto ainda mormente cristdo, ainda que se debatia justamente sobre o real significado disto. No entanto, o destaque dado ao humano sob for- ma do humanismo cristo bonhoefferiano, nao apesar de, mas por causa de sua fé crista, permite, em meio as ambiguidades da vida, valorizar ¢ estudar o ser humano, suas capacidades ¢ qualidades como suas vulnerabilidades, sofrimento e falhas. Assim, inspira-nos para uma participacdo da Teologia na academia — como também na sociedade e na igreja — com responsabilidade e convicgao, mas também com humildade e sensibilidade. 59 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer Referéncias BARCALA, Martin. Cristianismo arreligioso. Uma introdugéo @ cristologia de Dietrich Bonhoeffer. Sao Paulo: Arte Editorial, 2010. BETHGE, Eberhard. “Prefacio da sexta edigo reorganizada”. In BONHOEFFER, Dietrich. Etica. 9. ed. Sao Leopoldo: Sino- dal, p. 11-13. BONHOEFFER, Dietrich. Resisténcia e Submissdo. Cartas e anota- gdes escritas na prisao. Trad. Nélio Schneider. $40 Leopoldo: Sinodal; EST, 2003. BONHOEFFER, Dietrich. Frica. Compilado e editado por Eberhard Bethge. Trad. Helberto Michel. 9. ed. Sao Leopol- do: Sinodal, 2009. . Akt und Sein. Dietrich Bonhoeffer Werke vol. 2. Gittersloh: Giitersloher Verlagshaus, 2015. . Ethik. Dietrich Bonhoeffer Werke vol. 6. Giitersloh: Giiter- sloher Verlagshaus, 2015. CALDAS, Carlos. “Dietrich Bonhoeffer e a teologia publica no Brasil”. In Xaveriana 182 (2016), p. 289-312. CLEMENTS, Keith. Dietrich Bonhoeffer's ecumenical quest. Gene- va: World Council of Churches Publications, 2015. CNE/CES [Conselho Nacional de Educagao/Camara de Educa- cao Superior]. Resolugéo n° 4, de 16 de setembro de 2016. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para 0 curso de graduag’o em Teologia e da outras providéncias. Disponivel em: _ http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_do- cman&view=download&alias=4842 1 -rces004-16-pdf&ca- tegory_slug=setembro-2016-pdf&Itemid=30192. — Acesso em: 20.04.2020. 60 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer DE GRUCHY, John W. Confessions of a Christian Humanist. Min- neapolis: Fortress, 2006 . “Dietrich Bonhoeffer as Christian Humanist’. In ZIM- MERMANN, Jens; GREGOR, Brian. (Eds.). Being human, becoming human: Dietrich Bonhoeffer and social thought. Eu- gene: Pickwick Publications, 2010, p. 3-24 . “Foreword”. In ZIMMERMANN, J. Dietrich Bonhoeffer's Christian Humanism. Oxford: Oxford University Press, 2019, p. vii-viii. DEJONGE, Michael P. “Bonhoeffer’s Concept of the West”. In TI- ETZ, Christiane; ZIMMERMANN, Jens (Orgs.). Bonhoeffer, Religion and Politics. 4" International Bonhoeffer Colloqui- um, Frankfurt et al.; Peter Lang, 2012. p. 37-52. DE LANGE, Frits. “Against Escapism: Dietrich Bonhoeffer's Con- tribution to Public Theology”. In HANSEN, Len (Org.). Christian in Public. Aims, methodologies and issues in public theology (Beyers Naudé Centre Series on Public Theology, Volume 3), Stellenbosch: Sun Press 2007, p. 141-152. GIBELLINI, Rosino. A teologia do século XX. Sao Paulo: Loyola, 2012, p. 105-121. GRUDIN, Robert. “Humanism”. In Encyclopedia Britannica. Last update 20 March 2020, Disponivel em: https://www.bri- tannica.com/topic/humanism. Acesso em: 28.03.2020. GUTIERREZ, Gustavo. Teologia da libertagdo: perspectivas. Trad. Yvo- ne Maria de Campos Teixeira da Silva e Marcos Marcionilo. 9. ed. segundo a 6. ed. ver: e corr: Sao Paulo: Loyola, 2000. KOOPMAN, Nico. “Bonhoeffer and the future of Public Theology in South Africa. The on-going quest for life together’. In Ned Geref Teologiese Tijdskrif 55 (2014), suppl.1, p. 985- 998. 61 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer MUELLER, Enio; BEIMS, Robert (Orgs.). Fronteiras e interfaces: 0 pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. Sio Leopoldo: Sinodal, 2005. PASSOS, Joao Décio. “Teologia na universidade: coisa eclesial ou coisa publica?” In Rever 16 (2016) p. 80-93. SELL, Wilhelm. Ser humano, ser para outra pessoa. O significado da antropologia de Dietrich Bonhoeffer para sua ética. Tese (Dou- torado em Teologia). Faculdades EST, Programa de Pés-Gra- duacio em Teologia, Si0 Leopoldo, 2019. SINNER, Rudolf von. “A ética do pentiltimo quando Deus é brasi- leiro: contribuigdes de Dietrich Bonhoeffer”. In Paz em meio 4 violéncia. Subsidios para a compreensio ¢ 0 exercicio da cidadania crista. $40 Leopoldo: Sinodal, 2019. p. 95-110. “Teologia publica no Brasil. Procurando sua voz em didlogo com o contexto e tendéncias globais”. In SINNER, Rudolf von; ULRICH, Claudete Beise; FORSTER, Dion (Orgs.). Teologia publica no Brasil e na Africa do Sul. Um dialogo teo- légico-politico. Teologia publica vol. 8. Sao Leopoldo: Sinodal; EST, 2020 [no prelo]. SOARES, Afonso M. L.; PASSOS, Joao Décio (Orgs). Teologia Pii- blica. Reflexées sobre uma area de conhecimento e sua cidada- nia, Sao Paulo: Paulinas, 2011. TAYLOR, Charles. Uma Era Secular. Trad. Nélio Schneider e Lu- zia Aratijo. S40 Leopoldo: Ed. Unisinos, 2010. TEIXEIRA, Faustino. “Ciéncia da Religido e Teologia”. In PASSOS, Joao Décio; USARSKI, Frank. Compéndio de Ciéncia da Re- ligido. Sao Paulo: Paulinas; Paulus, 2013, p. 175-183. VILLAS BOAS, Alex. “Perspectiva Interdisciplinar da Teologia no Brasil: O debate epistemolégico da Area de Ciéncias da Re- 62 O humanismo cristdo de Dietrich Bonhoeffer ligiao e Teologia’. In Interagées 24 (2018), Belo Horizonte, p. 260-286. WILLIAMS, Rowan. Christ the Heart of Creation. London: Blooms- bury Continuum, 2018. WUSTENBERG, Ralf K. Religion and Secularity. In MAWSON, Michael; ZIEGLER, Philip G. (Orgs.). The Oxford Hand- book of Dietrich Bonhoeffer. Oxford: Oxford University Press, 2019. Edicao Kindle. p. 321-330. ZEFERINO, Jefferson. “Estudos sobre teologia publica no contex- to brasileiro: aspectos de um campo de pesquisa em cons- trugaio”. In Revista Brasileira de Historia das Religides 36 (2020), p. 151-166. ZIMMERMANN, Jens. “Being Human, Becoming Human: Di- etrich Bonhoeffer's Christological Humanism”. In ZIM- MERMANN, Jeans; GREGOR, Brian. (Eds.). Being human, becoming human: Dietrich Bonhoeffer and social thought. Eu- gene: Wipf & Stock, 2010, p. 25-48. . “Bonhoeffer’s incarnational humanism”. In Theologica Wratislaviensia 11 (2016), p. 73-86, 2016. . Dietrich Bonhoeffer’s Christian Humanism. Oxford: Ox- ford University Press, 2019. ; GREGOR, Brian. Introduction. In: ZIMMERMANN, Jens; GREGOR, Brian. (Eds.). Being human, becoming human: Dietrich Bonhoeffer and social thought. Eugene: Wipf & Stock, 2010, p. xi-xxi. 63

You might also like