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Drea PL) Nee Sar ni ve GAY Wo Oye). Value IMPROVAVELs LCT aT) DSI t iti aquecem 0 coracao PEL Combate ao virus: como, eel res atte) Piney Ce Ps YIN AUCs in ear] ae co PCN ‘ EM te.) ce mais satide PSTN i) ii Uae PSL LE Traga de voltaa sensacao unica de escutar um disco de vinil OBAVINTAGE Vitrola Multifun¢des Resgate os bons tempos do vinil e cuide dos seus discos. Curta suas musicas no formato que quiser com seu ObaVintage. ry g Posi sto tgre) conv aisle} ela’ Qo SB Reproduz K7 BONUS petro hi ial oz MOISE SEEN @ Seed CB cs oo ay feces eee FRETE ur 12x 219 zo mn tT ERA) LIGUE AGORA x0a CANSADO DE LIMPAR A SUJEIRA DA CASA? Descanse e deixe a poeira por conta do ObaDuster | Um aspirador de po pequeno e sem fio com 3 fungées: ele vai varrer, aspirar e passar pano na sua casa. E menos trabalho para vocé ter mais tempo para curtir a sua casa! SATISFi 10 DA QUALIDADE DE SEU PRODUTO. OU SEU DINHEIRO DE VOLTA Te OUTROS OLHOS A Feira de Nata de Vilnius é uma das mais bonitas da Europa. Uma razao paraisso talvez sejaa formidavel arvore de Natal montada todo ano na feira. A estrutura metalicade 27 metros de altura é iluminada por milhares de lampadas em seus cerca de 6 mil ramos. A arvore da capital lituana com certeza agradou ao puiblico em 2018, quando, vista de cima, lembrou um gigantesco relégio! PME an Lm era Sree) As razées surpreendentes do bem que traz a alegria Por Rebecca Philps RE oO melhor remédio - de R muitas maneiras. Embora nao cure doengas como 0 cancer, cientistas dizem que rir faz um bem mensuravel a satide: é bom. para o coragao, 0 cérebro, os rela- cionamentos e a sensagao geral de bem-estar. Rir é considerado um sinal de feli- cidade, mas também traz felicidade, pois leva o cérebro a liberar neuro- transmissores que causam bem-es- tar. A dopamina ajuda o cérebro a processar reagdes emocionais e aumenta nossa sensa¢ao de prazer; a serotonina melhora o humor; e as endorfinas regulam dor e estresse e 10 setecdes 12.2020 induzem euforia. Um estudo recente até mostrou que rir com os outros libera endorfinas pelos receptores de opioides, o que indica que a eufo- ria produzida pelo riso é como um. narcético - mas sem os problemas Gbvios deste. Além de melhorar o humor, rir também ajuda a prevenir proble- mas cardiacos. Os desafios comuns do cotidiano - grande carga de tra- balho, contas atrasadas ~ podem causar estresse crénico por disparar continuamente a reagao de luta ou fuga e fazer os vasos sanguineos se contrairem e a pressao arterial subir. Isso aumenta 0 risco de © ASIER ROMERO/SHUTTERSTOCK infarto e AVC. Mas, como os remé- dios que baixam o colesterol e os exercicios aerébicos, uma boa risada pode mesmo combater 0 estresse. Em 2005, pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Maryland verificaram que 0 riso aumenta 0 fluxo de sangue por dilatar o revestimento interno dos vasos. O coracao nao precisa bom- bear com tanta forga, e a pressao diminui. O riso também é um antidoto da dor e, portanto, aumenta nossa resisténcia. Um estudo de 2011 da Universidade de Oxford mostrou que o limiar de dor dos participan- tes subia de forma significativa depois que riam, por causa do efeito opidceo mediado pela endor- fina. Isso significa que contar uma piada a um amigo ajuda a se exerci- tar mais na academia ou ir mais longe na caminhada didria. Uma boa gargalhada também é um. exercicio por si s6: varios grupos musculares sao mobilizados, como abdome, costas, ombros, diafragma e rosto. Do mesmo modo, contar piadas é uma béngao na vida social. A risada coletiva reforga e mantém nossa nogao de estarmos juntos. Imagine um “domin6 de endorfina”: quando alguém comega a rir, os outros riem também, mesmo que nao saibam direito qual é a graga. Quando rimos, acessamos um antigo sistema que evoluiu nos mamiferos para fazer e manter cone- xdes sociais, de acordo com Sophie Scott, neurocientista cognitiva brita- nica. Essa conexao é importantis- sima para a satide fisica e mental: fortalece o sistema imunolégico e prolonga a vida. As pessoas que se sentem mais ligadas as outras tém mais autoestima, menos ansiedade e depressao e sentem mais empatia. Os bebés entendem, inerente- mente, a importancia de rir com. os outros, explica o Dr. Caspar E30 VEZES MAIS PROVAVEL RIRMOS SOCIALMENTE DO QUE SOZINHOS. Addyman, psicélogo do desenvolvi- mento e diretor do Goldsmiths InfantLab da Universidade de Lon- dres. “Os bebés nos fazem rir, e os fazemos rir quase instantaneamente, sem necessidade de piadas” diz ele. “Tudo é conexao.” Como ressalta Scott, até para os adultos o riso nem sempre estd ligado ao humor; rimos para mostrar aos outros que os entendemos, que concordamos com eles e que gostamos deles ou até os amamos. Portanto, va rir e brincar com alguém importante para vocé; é a forma mais facil e rapida de aliviar a carga mental e melhorar o bem-estar ffsico. E bem divertido, também. 12.2020 setecdes IL MISTERIO MEDICO | Repeticaéo da historia? PACIENTE: Josh*, um menino australiano sintomas: Reducao das habilidades, con- vulsdes e vémito. MeEpico: Dr. Nicholas Smith, chefe de Neurologia do Women’s and Children’s Hospital de North Adelaide, na Australia NTES MESMO DE Josh nascer em Az no sul da Australia, seus pais, Nicole e Andy, sabiam que havia a probabilidade de o bebé ter um transtorno grave que poderia afetar sua vida. Lauren, a irma mais velha, parara de atingir os marcos de desenvolvimento pouco depois de fazer 1 ano. Ao crescer, ela perdeu aos poucos 0 dominio de habilidades como andar e falar. Apesar de muitos *Os detalhes biograficos foram alterados. 12 setecdes 12.2020 exames, nao houve diagnéstico, mas os médicos desconfiavam de que fosse uma doenga genética. Tragicamente, a hemorragia de uma ulcera perfurada tirou a vida de Lauren, antes que ela fizesse 3 anos. Em luto, 0s pais temeram que o préximo filho tivesse a mesma doenga misteriosa. Josh era um bebé alegre e social e, a principio, se desenvolveu bem na hora de aprender a rolar e se sentar pela primeira vez. Com 12 meses, ele dew alguns passos sozinho. Ento, exatamente como Lauren, seu desen- volvimento se desacelerou. Parou de andar. Com 2 anos, nao falava mais. Embora os pais de Josh achassem que ele pudesse ter herdado a doenga, ainda assim foi arrasador quando os médicos confirmaram. ILUSTRADO POR VICTOR WONG Aos 3 anos, Josh comegou a ter cri- ses intensas de vomito que duravam varios dias, sem interrupgao. Com 5 anos, nao se sentava mais sozinho e voltou a engatinhar. E passou a ter convulsdes. No ano seguinte, a ali- mentacao por sonda se tornou neces- ia, porque ele comia menos e tinha dificuldade com liquidos. O prontuario médico de Josh era enorme, cheio de exames, mas nada que levasse a um diagnéstico. A possi- bilidade apavorante de perder 0 segundo filho assomava. Quando Josh tinha 6 anos, Nicole e Andy foram encaminhados ao Dr. Nicholas Smith, neurologista do Women’s and Children’s Hospital, em North Adelaide. “Disseram que ele se interessava muito por esse tipo de doenca” conta Nicole. No momento em que viu Josh, o Dr. Smith se encantou. “Era um menino feliz e sorridente. Tinha dentro de si uma fagulha brilhante’ diz ele. Embora nao tivesse uma cura ime- diata para a doenca de Josh, 0 Dr. Smith tinha certeza de que consegui- ria ajudar com a gestao dos sintomas. Ele também sabia que havia um jeito de obter mais informagées. 0. campo da genética tinha avangado bastante desde o nascimento do menino, e os cientistas podiam anali- sar rapidamente segoes inteiras do genoma e identificar diferengas ou variantes inesperadas. “Toda vez que eu via a familia, Josh estava pior. Eles se preparavam para a morte do filho; recorda o Dr. Smith. Dar respostas a familia é muito relevante, acrescenta ele; mesmo quando 0 filho nao sobre- vive, isso permite encerrar 0 caso, 0 que é importantissimo para o planeja- mento familiar futuro. O Dr. Smith achou que havia a pos- sibilidade de que seus colegas pesqui- sadores do departamento de patolo- gia molecular da Universidade do Sul da Australia encontrassem essas res- postas. Alicia Byrne, aluna de pés-gra- duagao sob a supervisao do professor Hamish Scott, analisou os dados genéticos de Josh e Lauren. A POSSIBILIDADE APAVORANTE DE PERDER O SEGUNDO FILHO ASSOMAVA. O genoma de pessoas saudaveis tem cerca de quatro milhées de variantes, em geral inofensivas. Byrne procurou a responsdvel pelo trans- torno das criangas. Examinar os dados genéticos, encontrar e pesqui- sar as possibilidades pode exigir muito tempo. Byrne excluiu tudo 0 que nao esti- vesse no genoma dos irmaos. Tam- bém excluiu variantes comuns em pessoas saudaveis ou ligadas a trans- tornos que Josh e Lauren obviamente nao tinham. Restou-lhe um novo gene desconhecido que, antes, nao tinha sido associado a nenhuma doenga. 12.2020 setegdes 13 No fim das contas, os dois pais tinham uma variante diferente daquele mesmo gene; quando combinados nos filhos, criou-se uma doenga incrivelmente rara. Byrne ficou extasiada com a desco- berta, pois a tentativa de encontrar variantes genéticas ¢ infrutifera em “E DIFICIL SABER QUANTO PROGRESSO SE DEVE A ESPERANCA DE MELHORA DOS PAIS.” mais de dois tercos dos casos dificeis. Melhor ainda, nesse caso havia um tratamento possivel. Amutacgao era num gene funda- mental para o transporte das vitami- nas do complexo B para o sistema nervoso. A experimentagao em labo- ratério com células de Josh mostrou uma dificuldade clara de captagao de vitamina B. Mesmo quando tinha nivel normal desse nutriente no corpo, Josh simplesmente nao conse- guia levar quantidade suficiente para onde fosse necessario. Esperancosa, a equipe imaginou uma terapia experi- mental com infus6es semanais de dose elevada da vitamina. “Foi muito empolgante” diz Nicole. “Achamos que nao tinhamos nada a perder e tudo a ganhar.” Em semanas, Nicole e Andy contaram que Josh tinha mais energia. “Sempre é dificil saber quanto do progresso posi- tivo se deve a esperanga dos pais de que o filho melhore’, explica o Dr. Smith. Mas trés meses depois houve uma redu- cao mensuravel das convulsdes e dos vémitos de Josh. Seis meses apés 0 inicio do trata- mento Josh parou de regredir e voltou a avancar, “Para nds, o momento ‘uau’ foi quando Josh ficou de joelhos para engatinhar’ conta Nicole. “Esse nunca vamos esquecer.” Com o tempo, Josh recuperou a capacidade de usar 0 andador. Voltou a falar “mamie’ e “papai”, Hoje com 13 anos, ele gosta de correr no patio da escola, assistir a videos em seu iPad e fazer os outros rirem. “O mais gratificante é ver Josh e sua familia levando a vida sem medo nem ansiedade’, diz o Dr. Smith. “£ tudo o que desejavamos” acres- centa Nicole. “O fim é desconhecido, mas por enquanto vivemos cada dia com nosso filho forte, saudavel e feliz” Voe Copo meio cheio de garoa E, quando chover em seu desfile, olhe para cima, nao para baixo. Sem chuva, nao haveria arco-iris. GILBERT K, CHESTERTON 14 setecdes 12.2020 FOTOGRAFIA DE ADAM VOORHES; ADERECOS: ROBIN FINLAY Noticias Do MUNDO DA MEDICINA Exercicios para dar im a dor lombar Com tanta gente trabalhando em casa, geralmente em mesas improvi- sadas sem ergonomia, parece que todo mundo passou a se queixar de dor lombar, Mas talvez haja uma cura facil: cientistas lituanos demonstraram que a pratica regular de exercicios de estabilizacao da coluna lombar é um modo eficaz de se livrar dessa dor - e manté-la longe. Esses exercicios fortalecem os muiscu- los que sustentam a parte inferior da coluna e facilitam movimentos segu- ros. Entre eles, por exemplo, esta o exercicio de trazer os joelhos até 0 peito, realizado deitado de costas. 86 € preciso 0 compromisso com 45 minutos de exercicios de estabiliza- cao lombar duas vezes por semana. Falta de sono prejudica a satide mental de adolescentes O adolescente da familia em geral tem olheiras? Os anos da adolescén- cias trazem uma série de novas amea- as ao sono, como o fim da hora de se deitar imposta pelos pais e um ciclo de dormir e acordar naturalmente mais tarde. Embora nao pareca grande coisa, 0 sono inadequado pode contribuir com problemas de lide mental. Um estudo do Reino ido verificou que adolescentes de 15 anos que dormiam menos nos dias de aula tiveram probabilidade signifi- cativamente maior de apresentar depressio ou ansiedade por volta dos 20 anos. A terapia cognitivo-compor- tamental para a ins6nia ajuda as familias a identificar e resolver as cau- sas subjacentes, sejam ligadas a maus habitos antes de dormir - muito tempo de tela tarde da noite, por exemplo ~ ou a outros fatores. 12.2020 setecdes 15 Arecompensa do bom alongamento Se a mobilidade limitada ou as medidas de dis- tanciamento social da Covid-19 redu- ziram as oportuni- dades de se exercitar, uma rotina simples de alonga- mentos ainda pode melhorar a satide car- dfaca. Numa experién- cia italiana recente, os participantes que fizeram uma série de alongamentos de perna cinco vezes por semana durante 12 sema- nas melhoraram a funcao vascular (a capacidade das artérias de se contrair e se dilatar) e diminufram a rigidez arterial, mesmo além das pernas. Essas mudangas reduzem 0 risco & satide, pois a rigidez arterial e a fun- gao vascular contribuem com o dia- betes e as doengas do coracao. t u% Até batidas leves na cabega afetam o cérebro Muitos anos de pesquisa deixam pouca dtivida de que concussdes repetidas provocam lesao cerebral irreversivel e até suicidio em atletas profissionais que praticam esportes de contato, como rigbi e héquei no gelo. E os impactos menores na cabega, comuns até em atletas 16 seLecdes 12.2020 amadores? Cientistas da Western University, em London, na provincia canadense de Ontario, constataram que eles também podem causar mudangas visiveis na estrutura e na conectividade do cérebro. Essas alte- racdes podem atrapalhar a capaci- dade do cérebro de transmitir informagées de uma area a outra e se acumulam com 0 tempo, indicando possiveis ramificagées a longo prazo. Atletas, pais e treinadores que quiserem mais seguranca devem limitar todos os tipos de impacto na cabeca, nao sé ‘os que causam sintomas ébvios. Remédios para a pressao prolongam vidas frageis Um nimero reduzido de estudos cli- nicos de novos medicamentos inclui idosos com pouca satide geral. Uma excecao é um estudo italiano recente que examinou quase 13 milhao de idosos, com média de 76 anos, cada um com pelo menos trés medicamentos receitados para a pressao. Com- parados com participantes que tomavam os remédios menos de um quarto das vezes, os que tomavam direitinho tinham probabilidade 33% menor de morrer em sete anos. Os pacientes mais saudaveis (HOMEM) © ISTOCK.COM/WAVEBREAKMEDIA; (MEDIDOR DE PRESSAO) © ISTOCK.COM/DEEPBLUE4YOU aumentaram ainda mais a longevidade por seguir a receita médica, mas os dois grupos se beneficiaram. Como reduzir a fadiga da artrite reumatoide Além da dor nas articulagGes, a artrite reumatoide também provoca fraqueza € exaustdo constantes em até 90% dos pacientes. O repouso nao ajuda. Pior ainda, nao ha tratamento eficaz. Mas um estudo belga com pacien- tes recém-diagnosticados com a doenca indica que no inicio hé uma janela de oportunidade para mitigar 0 problema. A artrite reumatoide é uma das muitas doengas em que o sistema imunolégico ataca tecidos do préprio corpo e causa inflamacoes. No estudo, alguns participantes receberam meto- trexato, medicamento que reduz a ati- vidade do sistema imunolégico ea inflamagao. Por causa da seguranga e da eficacia, esse é 0 padrao ouro do tratamento, mas leva varios meses para comegar a fazer efeito. Os outros partici- pantes também receberam meto- trexato, mas além dele tomaram prednisona, um anti-inflamatério mais arriscado, porém de agao mais rapida. (Os possiveis efei- tos colaterais © ISTOCK.COM/AARONAMAT sao agitacao, retencao de liquido e ins6nia.) Quando se aproximava a época em que 0 metotrexato comega- ria a fazer efeito, esses pacientes redu- ziram a prednisona. Os que tomaram essa combinacao se sentiram menos fatigados nos dois anos seguintes e nao tiveram mais efeitos colaterais do que 0 outro grupo. Tudo isso 6 uma grande motivacao para que os pacien- tes com artrite reumatoide conversem com 0 médico para comecar 0 trata- mento intensivo o mais cedo possivel. Agua sanitaria: use com cuidado Na disseminagao da Covid-19, os centros de controle de venenos do mundo inteiro observaram um. aumento dos chamados. Os Centros Americanos de Controle e Prevengao de Doengas fizeram uma pesquisa e confirmaram que nao era coincidén- cia. Na tentativa mal-informada de se proteger, em parte talvez por conta das observagées de Donald Trump, quase quatro entre dez entrevistados usaram de maneira potencialmente perigosa produtos de limpeza domés- tica, 4gua sanitdria ou desinfetantes de superficie para limpar hortalicas frescas, borrifar 0 corpo ou lavar as maos. Ingerir esses produtos pode causar envenenamento. As autorida- des de seguranga alimentar recomen- dam lavar hortaligas frescas com agua. E lave as maos e 0 corpo com sabao, que comprovadamente mata o virus da Covid-19. © 12.2020 setecdes 17 Sou a noz... Alimento para o cérebro POR Kate Lowenstein 8 Daniel Gritzer 18 setecdes 12.2020 ‘© SECULO 16, uma imprudente teoria sobre a satide circulou entre os médicos da Europa: alimentos que lembravam partes do corpo, acreditavam eles, fariam muito bem A satide dessas partes. Vaga- -lumes para visdo noturna, coral-ver- melho para o sangue e eu, a noz, para 0 6rgao mais importante: 0 cérebro. E verdade que nem o ser humano mais distraido deixaria de ver a se- melhanga, com meus hemisférios carnudos e convolutos enfiados numa casca protetora parecida com o cranio. No fim das contas, por menos fundamentada que fosse a teoria, comigo esses cientistas tiveram sorte. Minhas gordu- ras poli- e monoinsaturadas abundantes, além do nivel alto ¢ invejavel de 6mega-3 (sou a tinica oleaginosa com quantidade significa- tiva), sao realmente essen- ciais para a sade cognitiva. Também melhoro a digestao por ser rica em fibras. Mas os seres humanos se apaixonaram por mim antes que a ciéncia me desse credibi- lidade. Meu supremo sabor e minha textura delicada me puseram ha muito tempo entre os alimentos deli- ciosos: sou assada em bolos, biscoitos e granola, mergulhada em chocolate, tostada na manteiga e coberta de temperos. Também sou triturada em sopas e molhos pesto ou acrescentada a saladas. Minha leve crocancia (que fica ainda melhor se vocé me tostar ©SPAXIAX/SHUTTERSTOCK até eu ficar cheirosa) dé uma textura interessante aos pratos sem forgar os maxilares. Nao se pode dizer isso das améndoas! Por falar da minha colega mais popular, talvez vocé se interesse em saber que, em termos botanicos, ne- nhuma de nds é uma noz - nem os pistaches e as castanhas de caju, alids. Anoz é uma semente fechada dentro de uma casca externa dura, sem polpa no lado de fora - exemplo: bolotas de carvalho, castanhas e avelas. No en- tanto, se me colher na arvore, e néo na prateleira do supermercado, vocé vera que sou um caroco dentro da camada verde e carnuda do fruto. Ea parte macia que vocé come é a se- mente dentro daquele carogo. Os 6leos de meus lobos ficam ran- cosos facilmente. Se eu estiver amarga ou com cheiro de mofo, nao me coma. E, se nao for me comer na hora, me guarde na geladeira ou no congelador, num saco plastico hermético. Se colher meu fruto cedo, antes que 0 carogo esteja totalmente endure- cido, vocé pode fazer coisas inespera- das. Na Gra-Bretanha, fazem picles: me deixam inteira em agua salgada e me preservam num xarope de acticar mascavo e especiarias. Isso me deixa macia e delicada; vocé pode me fatiar e ver a semente, a protocasca e a borda da polpa da fruta. Mas 0 mais fascinante é a cor da noz em con- serva: preta. Meu sumo transparente escurece quando exposto ao ar. Os frutos jovens da nogueira fornecem essa mesma cor de tinta ao nocino, o digestivo italiano em que sou macerada com aguicar e especia- rias em elevado teor de alcool. Na Roma antiga, eles combinavam mi- nha seiva escura com sanguessugas e cinzas para fazer tintura escura para cabelo, Eu também era usada para fazer tinta, que, segundo dizem, Rembrandt e Rubens empregaram em alguns esbogos. The Encyclopedia of Hair (A enci- clopédia do cabelo) vai lhe dizer que, na Inglaterra do século 17, meu éleo era usado como depilador para afinar as sobrancelhas e recuar 0 limite do cabelo das mulheres, quando esse look estava na moda. Hoje, inexplica- velmente, 0 6leo de nogueira é divul- gado como cura para a calvicie. (O melhor entao é nao me usar com propésitos capilares). Vocés, seres humanos, encontraram aplicagoes in- contdveis para mim, como aproveitar minha casca como um abrasivo de limpeza usado até hoje. Mas minha fungao nao comestivel favorita é como veiculo de investi- mentos. Os chineses veem meus melhores exemplares como vocé veria uma pedra preciosa. Posso valer quantias imensas no Extremo Oriente, onde dizem que girar um par meu na palma da mao estimula a cir- culagao do sangue. Pares iguais po- dem valer até 30 mil délares; quanto maior e mais velha, mais alto é meu valor. Pense nisso na préxima vez que beliscar um punhado de nozes. 12.2020 seLecdes 19 PETS Cuidados de beleza Cuide da higiene e da boa aparéncia de seu bichinho GETTY IMAGES. AO FAZ muito tempo, nossos caes e gatos fi- cavam principalmente ao ar livre, e nao importava muito se estivessem meio su- jos. Agora, no entanto, eles tém estado mais dentro de casa, muitas vezes em apar- tamentos e espacos peque- nos. Ainda bem que, com as novas op¢oes de alimenta- cao, tratamento médico e cuidados de higiene e beleza, nossos animais estao mais limpos e saudaveis do que nunca. Estas dicas ajudarao a manter seu bichinho com ex- celente aparéncia. Higiene e beleza do gato Os gatos sdo naturalmente muito lim- pos; em geral, eles mesmos se cui- dam, e é raro precisarem de banho. 0 comprimento da pelagem influencia o efeito da queda de pelos na casa ea necessidade de escovacao. Se esté pensando em ter um gato, é preciso ser realista quanto ao tempo de que vocé dispée para cuidar dele. Algumas ragas, como a Devon rex, praticamente nao tém pelagem, soltam poucos pelos e mal precisam de cuidados, enquanto outras de pelagem longa, como persa ou rag- doll, exigem escovacao pelo menos dia sim, dia nao. Os gatos podem ser cuidados por profissionais, 0 que pode ser util caso ele nao goste de ser manuseado e escovado. Higiene e beleza do cao Como nos gatos, a pelagem tem grande importancia nas necessida- des de higiene dos caes. Em geral, as ragas de pelagem curta e lisa, como os whippets ou buldogues franceses, nao perdem muito pelo. Outras ra- as, como 0 poodle e o bichon frisé, OS CAES NAO PRECISAM TOMAR BANHO COM FREQUENCIA; EM GERAL, SO QUANDO SUJOS. praticamente nao perdem nenhum. No entanto, esses cdes exigem esco- vagao e tosa profissionais a fim de manter a pelagem, porque os pelos nao param de crescer. Frequéncia de banhos Os caes nao precisam tomar banho com frequéncia; em geral, s6 quando estao sujos. O cao saudavel que more dentro de casa e nao nade nem role na lama sé vai precisar de banho uma vez por més. Alguns donos acreditam 12.2020 seLecdes 21 erradamente que seu cachorro precisa de banho semanal, mas isso nao é necessario. Cuidados de beleza profissionais Os sales de banho e tosa, as lojas es- pecializadas, os tratadores que vao em casa e os veterinarios oferecem varios servicos que ajudam a atender as ne- cessidades de higiene e beleza de seu animal. Os servicos vao de escovacao, banho e tosa a limpeza dos ouvidos e corte de unhas ou garras. Sua decisao de usar auxilio profissional vai depen- der do tipo de animal, de seu tempo livre e de quanto dinheiro vocé esta disposto a gastar. 5 DICAS PARA UMA PELAGEM SAUDAVEL E BONITA Apelagem saudavel deve ser macia erelativamente lisa, nao gordurosa, sujanem fedorenta. Seapelagem estiver seca, quebra- dica, com falhas, pelos soltos e odores, ela nao esta saudavel. Aboaalimentacao é essencial para apelagem saudavel. Ces de subpelagem espessa preci- ‘sam ser escovados com frequéncia para evitar nés e emaranhadbos. Nao banhe demais o animal para nao ressecar sua pele. 22 sevecdes 12.2020 Produtos de higiene e beleza Existem shampoos, condicionadores e outros produtos adequados a varias condicées, como pele sensivel ou pe- lagem que embaraca, disponiveis em varias faixas de preco. Do mesmo modo, ha muitos produtos novos ex- celentes para controlar pulgas e car- rapatos, de aplicagées tépicas a comprimidos mastigaveis, que tor- nam a vida mais facil e confortavel para animais e tutores. © ADra. Katrina Warren é veterinaria em ‘Sydney, na Austrélia. Apresentou varios programas de TV sobre animais de estimagao na Austrélia e no canal Animal Planet, dos Estados Unidos. @GETTY IMAGES. VOCE EM SELECOES — Nao existe nada melhor do que se sentir jovem, certo? Mas muitas vezes, com criancas em casa, esse sentimento é impossivel! Se identificou? Entdo vem conferir a historia da nossa leitora Dilma de Osasco (SP), junto com outras pérolas infantis na sec¢do Essas criangas..., na préxima pagina. Sua historia real pode ser publicada em Flagrantes da vida real (experiéncias dodiaadiaquerevelema natureza humana), Ossos do oficio (humor no traba- tho), Piadasdecaserna (humor na carreira militar) e Essas criangas... (0 mundo do ponte de vista delas). Piadas podem ser publicadas em Riréo0 melhor remédio. As regras Por favor, inclua nome, en- dereco e telefone em suas CONTE UMA HISTORIA ENGRACADA E GANHE ATE R$ 400* contribuigdes. Todo mate- rial previamente publicado deve conter nome dafonte, data de publicacao, numero da pagina, endereco na internet ou outra forma de identificacaio. Se nao houver identificacaio de fonte, con- sideraremos item como original, e atribuiremosa garantiae responsabilidade de autor a quem o enviou. 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Como enviar sua contribui¢ao § E-MAIL selecoes@selecoes.com.br Il SITE selecoes.com.br lM CORREIO Revista Selec6es - Caixa Postal 13.525 - CEP 202 10-972 - Rio de Janeiro - RJ 12.2020 SeELecoes 23 ESSAS CRIANCAS... | “E.com vocé de guarda, nao vou ficar com medo do monstro embaixo dacama.” Minha filha acabou de me contar que verifica a minha localizagao pelo celular para saber a hora de comecar acumprir as tarefas domésticas. —y@TMIKAMOUSE Um de meus sobrinhos me trouxe um vinho e disse: “Eis seu suco de Natal.” —KENDRA ALVEY, escritora 24 seLeCGES 12.2020 Eu: Volte para a cama. Filho de 6 anos: Esta na hora de levantar. Eu: Ainda esta escuro la fora. Filho de 6 anos: Sou mais rapido do que o Sol. —¥@XPLODINGUNICORN Cometi 0 erro lamentavel de rir da piada do meu filho de 5 anos, e agora CONAN DE VRIES tenho de ouvir a piada varias vezes até morrer. —w@THECATWHISPRER Meu filho lia um livro para minha neta Manu, de 4 anos, sobre os dinossauros, e 0 texto dizia: - Os dinossauros tiveram passagem na Terra ha 65 milhdes de anos. E ela prontamente observou: ~ No ano em que meu avé nasceu! —DILMA GIACOMINI, Osasco (SP) Nacrisma do meu filho, 0 arcebispo perguntou se ele queria ir para 0 céu. ~ Ainda nao - foi a resposta dele. —FILOMENA CIACCIA Adoro que minha filha de 6 anos goste de assistir ao programa de perguntas e respostas Jeopardy!, mesmo ela dizendo que agora quer uma protese de joelho. —w@ERDMANMOLLY Meu filho de 5 anos esfregou as maos em minhas costas. Interpretei como sinal de afeto e baixei os olhos para lhe dar um sorriso. Ai vi que ele sor- ria sem graca, pois tinha acabado de usar minha camisa para limpar das mos 0s restos de biscoito. —ASHLEY ASHFIELD Meu marido estava lendo hist6rias para Kate, nossa neta de 3 anos, cuja aten- ao comegou a se dispersar. Ele tentou uma nova abordagem: lia algumas fra- ses de cada vez e apontava as figuras. -O que é isso? - perguntou. - Uma girafa - respondeu Kate. Assim foi por algum tempo, mas a técnica logo se desgastou. - O que ¢ isso? - perguntou ele, apontando uma zebra. Exasperada, Kate respondeu: ~ Caramba, vové, vocé nao sabe nada? —WELLNER GAGNIER Antes da pandemia, nosso neto Matthew, de 3 anos, foi 4 Disneylan- dia com os pais. Faltava pouco para partirem e 0 avé de Matthew perguntou: ~ Posso ir em sua mala? Quando chegaram ao hotel e abri- ram as malas, Matthew olhou dentro de uma delas. Confuso, chamou: - Vové? —GAIL RODE Minha filha pré-adolescente é a tinica de seu grupo de amigas que nao tem celular. Sei disso porque ela me diz de meia em meia hora. —y@MOMMAJESSIEC Estou no estagio da quarentena em que meu sobrinho de 4 anos acaba de se queixar de que “eu 0 levo de- mais a sorveteria” e que ele “quer experimentar outra coisa’. —SELENA ROSS, jornalista — SUA HISTORIA PODE VALER ATE R$ 400. Visite o site selecoes.com.br ou veja os detalhes na pagina 23. 12.2020 seELecdes 25 Emily Mathieson, defensorade produtos para casa produzidos comética. BOAS NOVAS POR UM mundo melhor PRODUTOS PARA CASA COM DIMENSAO ETICA empresas Emily Mathieson foi a uma feira de artesanato, e um cesto de vime chamou sua atengao. Era um. dos varios ali expostos feitos por pes- soas com dificuldades de aprendi- zado - mas sé tinham vendido um cesto naquele dia. “Eu sabia que, se atingissem um ptiblico maior, os ces- tos venderiam bem, elevariam a au- toestima dos artesdos e aumentariam a receita da entidade que apoia e en- sina essas atividades a elas’, diz Emily. Em 2016, com uma vaquinha vir- tual, Emily, 43 anos, langou a Aerende (que significa “cuidar” em inglés an- tigo), uma loja na internet sem fins lucrativos. A empresa vende presentes 26 seLecdes 12.2020 e produtos para casa feitos a mao no Reino Unido por pessoas que enfren- tam barreiras ao emprego. Os produtos vao de velas a lougas e sao produzidos por artesaos apoia- dos por entidades sem fins lucrativos do Reino Unido. Ha castigais e pratos de latao do Studio 306, um programa para pessoas que se recuperam de problemas de satide mental, e roupa de cama da FabricWorks, que apoia mulheres que foram traficadas. “Acredito que gastar dinheiro é um voto no tipo de mundo em que que- remos viver. Os negécios podem ser uma grande forca motriz por tras da mudanga social’ diz Emily. ANNA AND TAM © ALL CANADA PHOTOS/ALAMY STOCK PHOTO Belugas encontram novo lar cCoNnservacAo Duas belugas de 12 anos (também chamadas, erronea- mente, de baleias-brancas), que pas- saram anos em cativeiro para divertir seres humanos num aquario em Xangai, na China, recuperaram a li- berdade num santudrio em mar aberto na Islandia. Os animais de 4 metros de compri- mento, cada um com cerca de 900 quilos, foram do Changfeng Ocean World até um santudrio numa baja da ilha de Heimaey, na Islandia - uma viagem de mais de 9.500 quilé- metros que durou mais de 30 horas num aviao 747 especial- mente adaptado com tan- ques construidos sob medida. As belugas, Little Grey e Little White (Cinzinha e Branqui- nha), ambas fémeas, viverao pela primeira vez em mar aberto desde 2011, quando sairam de um centro de pes- quisa de cetaceos na Russia. Andy Bool, diretor da entidade Sea Life Trust, disse: “Estamos contentis- simos, porque elas estao em segu- ranga em seus cercados de tratamento no santudrio marinho.” Os conservacionistas esperam que 0 santudrio se torne um modelo para devolver ao lar 3 mil cetéceos atual- mente em cativeiro, seja em institui- Ges, seja em espetaculos. Cidade substitui asfalto por verde cima A cidade holandesa de Arnhem esta mudando seu layout para se prote- ger dos extremos da mudanga clima- tica, como inundagoes e ondas de calor. Num plano de dez anos, 10% do as- falto da cidade sera substituido por grama e outras plantas a fim de dissi- par o calor e aumentar a absorgao da chuva. A cidade quer que 90% da 4gua da chuva seja absorvida pelo soloem vez de escorrer para 0 sistema de Aguas pluviais. Arnhem fica 13 metros acima do nivel do mar e tem sofrido grandes inundagoes, enquanto as secas esturricam seus parques. Arvores serao plantadas ao longo das ruas para oferecer protegao con- tra o sol, e areas de “resfriamento” vao ser construfdas perto de pra- gas e shopping centers. “Te- mos de nos adaptar 4 mudanga climatica que esta ocorrendo agora’, adverte a vereadora Cathelijne Bouwkamp. Alemanha avan¢a rumo a igualdade entre os géneros IGUALDADE Pela primeira vez em sua histéria, a Alemanha adotou uma es- tratégia nacional para combater a desi- gualdade entre os géneros. O plano “Fortes para o futuro” visa reduzir a 12.2020 seLecdes 27 diferenga salarial entre os sexos e a ter mais mulheres em cargos de lideranca nas empresas, no servico publico e na politica. Embora governado hé 14 anos por uma chanceler muito admirada no mundo, o pais esta abaixo da média europeia de igualdade entre os géne- ros. Uma das metas é aumentar 0 numero de mulheres em diretorias, aplicando a cota atual de 30% a 600 empresas, e nao sé as 105 atuais. Na Alemanha, as mulheres rece- bem, em média, 20% menos do que os homens. “Essa diferenga salarial leva a uma diferenca de aposentadoria de mais de 50% entre homens e mulhe- res, explica Franziska Giffey, ministra das Familias do pais, que afirma que a nova estratégia 6 um “marco” O mais velho formando epucacAo Giuseppe Paternd, 96 anos, se tornou o formando mais velho da Italia ao terminar com distingao 0 curso de Filosofia da Universidade de Palermo, na Sicilia. “E um dos dias mais felizes de toda a minha vida’, declarou Paterné na formatura. Impedido pela guerra e pela po- breza na juventude, ele se matriculou na universidade em 2017. “Os vizinhos perguntavam: por que tanto esforgo nessa idade? Eles nao entendiam a importancia de realizar um sonho, seja qual for a idade’; diz Paterno. & Compilado por James Hadley. FONTES: (EMPRESAS) THE GUARDIAN, FORBES. (CONSERVACAO) THE INDEPENDENT. (CLIMA) DEZEEN. (IGUALDADE) THE LOCAL, ALEMANHA. (EDUCACAO THE GUARDIAN.(HEROIS) EL PAIS. HEROIS: A dona de bar que nao exclui os migrantes Cinco anos atras, Verénica Argelet abriu seu bar El Racé de la Vero na aldeia catala de Alcarras, mas, quando os traba- Ihadores migrantes africanos da regio comecaram a fre- quenta-lo, os fregueses regulares sumiram. “Quando os negros vieram, os brancos se foram”, conta Verénica (na foto). “Até meus amigos se afastaram; eles me disseram que aquilo era ruim paraa imagem do bar.” Mas Argelet nao se deixou influenciar pela reac3o nega- tiva dos moradores. Seu bar abre antes do amanhecer e vende pratos baratos de apenas 1 euro aalguns dos milhares de trabalhadores sazonais que colhem frutas na regio. “E preciso hes dar uma oportunidade. Eles agradecem por isso pelo resto da vida’, diz ela. Argelet ressalta que muitos trabalhadores vivem na miséria, em barracos ou até nas ruas. Ela sente que o tratamento que recebem é profundamente injusto. “Eles trabalham e nao querem nada de gra¢a. S6 é preciso um pouco de humanidade, nada mais.’ 28 sevecdes 12.2020 © VIA EL PAIS/ELCOMIDISTA.COM © GLOBALP/GETTY IMAGES DEMOS UM JEITO 9 TRUQUES PARA melhorar sua vida* | Pelos, pelos por toda parte pets Entao, seu peludo fica bonito e arrumado com as escovacdes semanais, que deixam vocé igual a um tapete velho? Corte um par de meias de nailon em pedacos de tamanho suficiente para cobrir acabeca da escova, com as cerdas passando totalmente pelo tecido. O pelo de seu bichinho vai grudar na meia, e nado em sua blusa. Depois, numa limpeza facil, jogue fora o pedaco de meia. *De RD.COM e THEHEALTHY.COM 12.2020 seLecdes 29 Zi Teste seus pneus com moedas carros Pode ser complicado sa- ber se vocé realmente precisa dos pneus novos que a oficina recomendou. Quer ter certeza? Enfie uma moedinha de 10 centavos em varios sulcos, com Dom Pedro de cabeca para baixo. Se conseguir ver os olhos e a testa dele, a banda de rodagem esta gasta demais e os pneus realmente precisam ser trocados. 3 Recupere a aba perdida do navegador TEcNoLoGiaE muito enlouquecedor fechar de- zenas de abas abertas no navegador e, sem querer, tambéma tinica de que vocé precisa. Control+ shift+T restaura a aba mais recente que vocé fechou, quantas vezes forem necessarias. Os usuarios de Mac devem usar command+shift+T. 30 setecdes 12.2020 © - 4A Finalmente, porta- -copos limpo no carro Limpeza O porta-copos do carro talvez seja um dos lugares mais imundos do planeta, e limpa-loé quase impossivel. Uma solucao proativa: ponha alidentro uma férma reu- tilizavel de silicone para cupcakes. Toda a sujeira ficaré nela, que pode ser facilmente retiradae lavada. Embrulhe os presentes ea arvore DEcoRACAO Quando montar a arvore natural este ano, enfie um saco de tamanho grande sob osuporte ea saia. Nahora de desmontéa-la, 6 s6 puxar o sacoem torno dos galhos e leva-la para fora. Assim, vocé nao vai entupir seu aspirador. © ALLE12/GETTY IMAGES(TIRE), WELZEVOUL/GETTY IMAGES(PENNIES) © FOODCOLLECTION RF/GETTY IMAGES 6 Conhe¢a os pontos quentes do forno ‘CULINARIA Para evitar a decepeao de uma fornada de bolo meio mole, meio cru, descubra onde seu forno fica mais quente ou mais frio: deixe alguns mi- nutos dentro dele um ta- buleiro forrado de fatias de pao de férma brancoa 175°C. Que fatias escure- ceram? Na proxima vez, vocé sabera onde colocar ecomogirar seu tabuleiro para assar por igual. 7 Nao coma suas milhas viacem Agora éahorade resgatar sua milhagem de voos frequentes, mesmo que ainda nao estejaem condigées de viajar. Coma reducao drastica dos voos por causa da Covid-19, as empresas aéreas esto mais dispostas a permitir que vocé use seus pontos. E possivel marcar a passa- gem com quase umanode antecedéncia e garantir as férias. Se os planos muda- rem, vocé pode recuperar seus pontos sem multa. 8 Ganhe da fita casa Nada estraga mais 0 ritmo dos embrulhos para presente do que ter de enfiar a unha varias vezes no rolo de fita adesiva para pegar mais um pedaco. Cole um clipe de papel na ponta do rolo depois de cortar. Desse jeito, a fita nao voltarda grudar e seré facil achar a ponta naproximavez. ) Corte calorias com uma colherada sauve Pesquisadores descobriram um método de cozinhar arroz que reduz as calorias em 10% e, potencialmente, em até 50% nas variedades mais saudaveis. Basta acrescentar 1 colher (cha) de éleo de coco a agua do cozimento e depois guardar 0 arroz cozido na geladeira durante 12 horas. A gordura do éleo de coco transforma 0 amido digerivel em amido resistente, que nao podemos di- gerir, e assim processamos menos calo- rias. Resfriar promove a conversao. @ FLAGRANTES pa Vida Real “Quer parar de chamar minha dieta fracassada de ‘Rosquinhagate’?” Minha resolugao no com uma sacola de saindo, quando mamae ultimo Ano-novo foi compras na mao - e perguntou: perder cinco quilos. varias sacolas no chao. ~ Eas suas compras? Errei por 7! Sem hesitar, minha Nao vai levar? —WILLIAM CAVICO mae, que tem 89 anos, - Mas estas compras prontamente pés-se a nao sao minhas! - res- Minha mae é muito ajuda-la e colocou to- pondeu a senhora, gentil, muito gentil das as sacolas no eleva- | surpresa. mesmo! dor, uma por uma. E Mais surpreso ainda Pouco antes da pan- | entao subiram juntas. - e assustado - ficou demia, uma senhora Quando chegaram ao | 0 dono das compras, com mais idade do que _| décimo segundo andar, | na garagem, quando ela estava na porta do asenhora, sorridente, voltou para o elevador elevador, na garagem, despediu-se e ja estava | e descobriu que 32 seLecdes 12.2020 ILUSTRADO POR Scott Masear © MURIEL DE SEZE/GETTY IMAGES O pai e o filho de 3 anos comecam a montar um novo brinquedo na sala de estar. O filho de 3 anos aparece e me pergunta: — Mae, o que é pesadelo? —wy @THEREALDRATCH (Rachel Dratch) suas sacolas haviam desaparecido! Mas minha mae, sempre gentil, logo retornou, um pouco sem graga, com todas as compras do mogo. Afinal, além de gentil, ela é honesta - e engracada! —DEBORA WILLS, Sao Paulo (SP) Uma boate de striptease perto da casa da minha filha ficou algum tempo fechada por causa da Covid-19. Do lado de fora, colocaram uma que anunciava: “Desculpem, estamos vestidos!” —KATHLEEN O’HAGAN Depois que eu e minha mulher nos sentamos no restaurante, o gar- com se aproximou para anotar nossos pedidos. Solicito, ele nos disse que o especial do dia eram Lagostas Gémeas, mas minha mulher nao se deixou impressionar. - Que bobagem - disse ela. - Como sabe que sao irmas? —KEVIN MCCORMICK Marido: Nao fique zangada comigo. Sem querer, respinguei gordura no forno todo. Eu: Nao vou me zangar, mas vocé tem de limpar. Marido: Prefiro que vocé fique zangada comigo. —LINDA GOLDFINGER — SUA HISTORIA PODE VALER ATE RS 400. Visite 0 site selecoes.com.br ou veja os detalhes na pagina 23. AH, ARVORES DE NATAL! + Vou montara arvore de Natal neste fim desemana porquea vida com um filho pequeno ja nao é suficien- temente perigosa, bagun- cada eaterrorizante. —y @DadandBuried + Como decorar uma arvore de Natal quando se tem filhos: 1. Desembrulhe o enfeite. 2. Deixe caire veja-o se esti- lhacar em mil pedacinhos. 3. Repita a operacao. —y @Lhlodder + Uau, meus filhos esto superdecorando esse pe- dacinho inferior esquerdo da rvore de Natal. —v @simoncholland + Eu: Detesto montara Arvore de Natal todo ano. FILHO DE 7 ANOS: Entao por que desmonta? —¥ @XplodingUnicorn (James Breakwell) 12.2020 SeLegdes 33 A temporada de Milagres Familia O passeio incomum de um tio. A doce espera pela guloseima de Natal do pai. Se quiser um calorzinho no coracdao este ano, estas histérias maravilhosas cumprirdo bem a tarefa. O misterioso decidiu encomendar no Natal um bolo inglés que me seria en- pacote do papal viado pelo correio. Embora eu tivesse um bom emprego e um apartamento Meu pai parecia um bolo inglés, | em Manhattan, ele temia que meus ar- Certa vez, ele até me mandou mirios e a geladeira estivessem vazios. a Eu acabara de me mudar, vindo da Ca- m. Que nunca chegou. liférnia, onde meus pais moravam 50 anos na casa onde cresci. PoR David Rompf Ele queria que eu recebesse uma ADAPTADO DE THE NEW YORK TIMES marca especifica de bolo inglés. Feito 12.2020 seLegdes 35 no Texas, era famoso entre os amantes desse tipo de bolo - ou, pelo menos, entre as pessoas que davam bolo inglés a quem supostamente gostava deles. “Este me faz lembrar os bolos da minha mae’; me disse ele num telefonema. “O dela era muito timido, cheio de passas.” Mais tarde, imaginei que a versao da minha av6, que nunca tive a oportuni- dade de experimentar, era provavel- mente um bolo da Grande Depressao, feito sem leite, agticar, manteiga nem ovos, itens escassos quando meu pai era crianga. Nascido em 1932, papai cresceu du- rante a Grande Depressao na Penin- sula Superior do Michigan. Na maioria dos Natais, recebia dois presentes: um par de meias feitas & mao e um saqui- nho de laranjas. “Minha mie tricotava as meias’ dizia ele. “E aquelas laranjas eram uma delicia” Para ele, encomendar 0 bolo inglés foi um jeito de cuidar de mim a distin- cia, numa época que, na cabeca dele, poderia se tornar economicamente pe- rigosa a qualquer momento. Apesar de minha meia-idade, eu ainda era seu fi- lho. “Deve chegar na primeira semana de dezembro’, avisou ele. “Quando re- ceber, me diga o que achou” Eu passaria o Natal na Califérnia, como faco todo ano, e aguardava seu presente para provar os sabores que 0 transportavam para a infancia. A primeira semana de dezembro se passou sem sinal do bolo inglés. Atrasado pelo correio no fim do ano, supus, ou pelo excesso de pedidos. 36 seLecdes 12.2020 = 2 2 a s 3 2 Eu sabia que haveria muito para co- mer na Califérnia. Além dos biscoitos, dos quadrados de chocolate e de ou- tras guloseimas da minha mae, meu pai sempre dava a mim e a minha irma um saco grande de alimentos sortidos que ele chamava de “Saco de Comida”. Ele sé os tirava de algum lugar secreto depois que todos os outros presentes ti- nham sido abertos. Certo ano, registrei num caderno 0 contetido do meu Saco de Comida. Acho que eu queria ter um registro para o dia em que talvez nao ganhasse um no Natal. Naquele ano, meu saco continha uma lata de no- zes e castanhas sortidas de luxo, uma caixa de biscoitos de trigo integral, uma barra de chocolate belga, uma linguiga de peru com peca, um saco de 250 gramas de pistaches vermelhos, um pouco de cha inglés e muitos outros itens, inclusive um estojo em forma de rena cheio de balinhas de goma que li- berava as balas pelo traseiro. Eu tinha 44 anos quando meu pai me deu esse Saco de Comida, e ele, 72. Os sacos tinham um parentesco esquisito mas inegavel com 0 bolo inglés, por conter um pouco disso e daquilo, tudo reunido com um resul- tado curioso. Vinham tao cheios que nao era raro eu por a maior parte da comida numa caixa e mandé-la para casa pelo correio. Certo ano, juntei al- guns itens mais saudaveis - sardinhas, biscoitos de centeio, damascos secos -e,no caminho do aeroporto, fiz uma entrega especial no centro de doagées de uma igreja local. 38 setecdes 12.2020 O BOLO INGLfs é um conceito polariza- dor, uma palavra-gatilho. As pessoas 0 amam ou odeiam e gostam de deba- ter se realmente é um bolo. De certo modo, 0 carater do meu pai lembrava um bolo inglés: excéntrico e meio ma- luquinho, com uma base doce. Quando éramos criangas e {amos ao shopping, ele gostava de se borri- far com os perfumes femininos - to- dos eles. Isso foi antes que os balcdes de colénias masculinas se tornassem comuns. Quando se tornaram, ele se transformava num buqué pansexual de fragrancias exéticas. Na volta para casa, minha mae dizia: “Vocé esta fe- dendo! O que pés desta vez?” Quando trabalhava como agou- gueiro de supermercado, ele era cha- mado pelos colegas de Crazy Charlie e ficou famoso pelas pegadinhas que aplicava, como fingir que trancara alguém na camara fria da carne. Mas também dava dicas aos fregueses que nao sabiam assar cordeiro nem fazer recheio. Quando voltava do turno da noite, ele deixava chocolates sob nosso travesseiro, achando que po- derfamos acordar com fome. Meu pai acreditava que todo mundo estava sempre com fome e precisava comer. Quando 0 visitavamos no hos- pital durante trés meses de internagaéo - houve uma infecgdo grave depois da cirurgia cardiaca -, ele perguntava se tinhamos comido e nunca deixava de nos lembrar que o refeitério logo fe- charia. “Pelo menos, tome um café’, pedia. “Nao se preocupe comigo.” Na cabega dele, o bolo inglés era 0 presente de Natal perfeito. A mistura culinaria de frutas cristalizadas suge- ria uma extravagancia que contradizia sua praticidade: o bolo inglés enche a barriga e dura muito tempo. Em 2017, um bolo inglés supostamente levado pela expedicao de Robert Scott 4 An- tartida, mais de 100 anos antes, foi en- contrado em “excelente estado’. NA VESPERA do meu voo para a Cali- fornia, o bolo inglés ainda nao tinha chegado. Quando ligou para me de- sejar boa viagem, meu pai perguntou: ~ Recebeu? - Ainda nao - respondi. - Com as festas, o correio deve estar atrasado. ~ Talvez chegue hoje. - Ele ficou muito preocupado com aquele bolo inglés perdido. Quando cheguei a casa dos meus pais, ele perguntou novamente: - Recebeu 0 bolo inglés? - Nao, mas tenho certeza de que estard 14 quando eu voltar para casa. Assim que a palavra saiu de meus labios, percebi que casa, para eles, era um tipo de gatilho. Como assim? Ali nao era a casa? Nao era minha casa agora, com meus pais me recebendo, me perguntando se eu estava com fome depois do longo voo? Na sala de estar, uma arvore de Natal se erguia acima de pilhas de presentes com papel purpurinado e, no quarto de héspedes, eu sabia que meu pai escondera nossos Sacos de Comida embaixo de toalhas grandes. Ele tinha esperanca de que 0 bolo inglés chegasse na véspera do Ano- -novo, quando eu estaria de volta ao centro de Manhattan, com a humani- dade bramindo na Times Square. Janeiro, fevereiro e marco vieram e se foram sem bolo inglés. Embora meu pai continuasse a perguntar, nunca pensei em mentir e Ihe dizer que sim, o bolo inglés finalmente chegara e era delicioso. Em vez disso, eu dizia: - Aquele bolo esta na érbita da Terra, e mais cedo ou mais tarde vai pousar. - Essa é boa! - exclamava ele. Seu senso de humor nunca vacilou, e, com o passar do tempo, ele citava a viagem perpétua de seu bolo inglés. - Onde sera que ele esta agora? ~ perguntava. - Fez um desvio até Plutao. Ele gostou dessa também. - Quer que eu encomende outro, caso esse nao chegue? - Nao tem problema, pai - res- pondi. - Espero esse chegar. Ficara ainda mais gostoso depois de viajar pelo cosmo. No INfcio de dezembro passado, quase um ano depois de meu pai morrer de insuficiéncia cardiaca, 0 porteiro de meu prédio me chamou pelo interfone. “Chegou um pacote’, anunciou ele. Desci para pegar. A caixa marrom tinha um rétulo do FedEx com reme- tente do Texas. THE NEW YORK TIMES (21 DE DEZEMBRO DE 2018), © 2018 DE THE NEW YORK TIMES, NYTIMES.COM. 12.2020 seLecdes 39 © MARIA AMADOR (BRILHOS) ses 4 + Comemoracio de * Homens i+ O tio Ed era um sujeito durao, de poucas palavras. Mas, quando me levou numa viagem na véspera de Natal, ele me | deu o tipo de doce lembranca que dura a vida inteira. “+ por Rick Bragg DE SOUTHERN LIVING SPEREI TEMPO DEMAIS para agra- E decer ao tio Ed por aquela vés- pera de Natal, mas acho que ele e eu nunca fomos o tipo de homem que escreve (ou 1é) muitos bilhetes. Mesmo perto do Natal, quando é mais facil tolerar um pouco de tolice e fri- volidade, é improvavel que homens de uma certa época, classe e lugar te- nham algo a ver com cartées de agra- decimento. Seria o mesmo que sair cantando com um suéter que pisca. Homens do sul como nés tendem a manter a festa de nosso jeito e deixar Os outros do jeito deles. Ainda assim, alguns natais sao melhores do que outros. Alguns se acendem e se apagam da lembranga, como um curto-circuito num pisca- -pisca velho. Para mim, 1969 é que sempre vai piscar em minha mente nessa época do ano. Foi quando li Um conto de Na- tal, de Charles Dickens, pela primeira vez e 0 vi tomar vida, por assim dizer, nas montanhas cobertas de neblina do nordeste do Alabama. Sempre amei o Natal. Quando me- nino, adorava ir ao supermercado, com perus congelados e presuntos defumados empilhados como balas de canhao. Aqui havia e ha um tipo lindo de robustez que espelha as pes- soas. As arvores sao reais e vém dessas montanhas, em geral pinheiros resis- tentes e cedros. Conseguiamos 0 aze- vinho do jeito antigo, arrancando-o das Arvores com a espingarda. Quase todos os ornamentos eram feitos a mao, em geral com papel-aluminio 12.2020 seLecdes 41 ja usado duas vezes. A estrela que co- roava a arvore em dezembro provavel- mente era o resto do que embrulhou um sandufche de tomate no verao anterior. Esse era meu Natal. Simples, nada extravagante, mas com afeto. A mulher do tio Ed, minha tia Juanita, enchia a casa com 0 cheiro de seus biscoitos de manteiga de amendoim. Mamie as- sava tortas de peca tao densas que nin- guém pedia uma fatia, mas uma placa. Os pratos de papel se curvavam com 0 peso. Meu tio Joe fazia uma farofa de forno de pao de milho que dava para comer de garfo, como um bolo. Mas até esse Natal robusto era deli- cado demais para o tio Ed, o homem mais trabalhador que jé conheci. Ele achava que havia algo errado em pa- rar de trabalhar no meio da semana, em dias que podia passar usando uma motosserra ou uma pa. F a véspera de Natal era um dia til como outro qualquer. Naquele ano, com 10 anos, eu perambulava pela casa e pelo quintal, espiando os pre- sentes embrulhados sob a arvore, ten- tando, com meu olhar de raios X, ver através do papel um presente muito parecido com um boneco Comandos em Agao, quando ele me perguntou se queria ir a Gadsden com ele olhar um caminhao-basculante usado. Em qualquer outro momento, eu derrubaria os méveis correndo para chegar a picape. Garotos da roga nunca perdem a oportunidade de ir a cidade, de ir a qualquer lugar. Mas 42 sevecdes 12.2020 era véspera de Natal, horas antes de a familia se reunir para o banquete. Naquele ano, havia um veado assado do tamanho de um biifalo... e troca de presentes. Alguém talvez trouxesse 0 violdo ou a gaita e até tivesse cora- gem de cantar. Havia também bis- coitos e, quem sabe, chocolate para furtar, tias para irritar e reprises em preto e branco para assistir na TV. NUM MILAGRE DE NATAL, TIO ED DISSE QUE TINHAMOS ALGO IMPORTANTE A FAZER. Entao, as cinco da tarde, o homem do tempo nos mostraria em seu radar onde estava Papai Noel em relacao ao condado de Calhoun, no Alabama. Acreditavamos nele. Eu perderia tudo se fosse com tio Ed, talvez o Natal todo. Quando co- megava um servi¢o, mesmo que fosse s6 procurar um caminhao, ele nao parava até terminar. Sem diivida po- deria esperar. ~ Quer ir ou nao? - perguntou ele. Nao tive coragem. - Acho que sim - respondi. Era um daqueles dias de inverno no Sul, quase negro a tarde, tao densa era a neblina. As nuvens baixas eram de um cinza frio. Parecia que 0 aquece- dor da velha camionete GMC nunca esquentava, e foi sé no meio do ca- minho até Gadsden que meus dedos dos pés comegaram a descongelar. Partes da cidade industrial junto ao Rio Coosa estariam muito ilumina- das, e consumidores encheriam o centro da cidade. Até a Goodyear, até as sidertirgicas fechavam cedo na vés- pera de Natal e participavam da co- memoragao. Mas nos afastamos das luzes e seguimos para os cemitérios de maquinas velhas que faziam parte desse tipo de cidade desde 0 inicio da revolucao industrial. Desanimei ao ver alguns milhdes de caminhées- -basculantes usados. Entao, num milagre de Natal, o tio Ed olhou seu Timex e disse que ti- nhamos algo mais importante a fazer. Procurar aquele caminhao foi s6 uma desculpa, um ardil. amos comemorar o Natal como homens. Primeiro, fomos a revenda de pao dormido e enchemos o caminhao de bolos de frutas, paezinhos de canela e rosquinhas. Depois, com agticar de confeiteiro nos labios, pegamos a Broad Street e passamos pelo coragao enfeitado da cidade em seu dia mais festivo. As vitrines estavam ilumina- das, brilhantes, as ruas cheias de com- pradores de tiltima hora. Papai Noel estava numa esquina, tocando um si- ninho com entusiasmo. Eu 0 vi nova- mente na loja de musica, dedilhando um violdo, e outra vez com criangas no colo. Perguntei ao tio Ed se algum deles era o Papai Noel de verdade, e ele s6 deu um trago em seu cigarro Wins- ton e me disse que “provavelmente era aquele primeiro’ Entao viramos para o sul, rumo ao. Big Chief Drive-In, que tinha um dos melhores hambuirgueres do nordeste do Alabama. Compramos dois chee- seburgers para cada um e uma pilha de batatas fritas que queimou meus dedos. Era cedo demais para a ceia e ja passara da hora do jantar, mas coisas assim podem ser ignoradas. Come- mos na picape, ouvindo radio. Entao, ele olhou o relégio novamente e diss “As mulheres vao ficar bem bravas se a gente nao voltar.’ Mas nos demoramos também na volta, admirando as luzes festivas, escolhendo 0 caminho mais longo. E, antes que a comemoragao da véspera de Natal sequer comecasse ld na Roy Webb Road, ja tinhamos come- morado em Gadsden, Alabama, e na metade norte do condado de Calhoun. Foi o melhor Natal que tive durante muito, muito tempo. Eu devia ter lhe dito isso enquanto ele estava vivo, mas as coisas vao fi- cando esquisitas quanto mais a gente vive. Portanto, embora ja seja tarde demais, quero agradecer por isso, por ter me levado com ele. “E sempre se disse dele que sabia bem guardar o Nata Alguns podem ler essas palavras de Dickens e pensar em boa literatura. Mas vejo o tio Ed no brilho de um ra- dio AM, sinto o cheiro de batata frita e cigarros ston e OUCO O tique-taque de um Timex velho que, naquele mais belo dos dias, nao significou nada. SOUTHERN LIVING (DEZEMBRO DE 2019), © 2019 DE RICK. BRAGG, SOUTHERNLIVING.COM. 12.2020 seLecdes 43 Como fortalecer seu sistema imunologico Por Mike Zimmerman DA REVISTA AARP 12.2020 SeELeGoes 45 MA COISA QUE a pan- demia de Covid-19 deixou clara 6 que al- gumas pessoas que pe- gam o virus nao sofrem muito, enquanto outras ficam gravemente doentes. E, embora os idosos sejam bem mais atingidos, alguns, inclusive centendrios, sobrevi- vem. Quanto aos mais jovens, cujo sis- tema imunolégico seria mais robusto, muitos morrem em decorrénica da doenga. Entao, que fatores dao a algu- mas pessoas um sistema imunolégico mais forte que o das outras, seja qual for a idade? Por exemplo, se seu com- panheiro ou filho adoece e vocé nao - ou vice-versa -, 0 que isso significa? Sabemos que o funcionamento do sistema imunolégico piora com a idade. Quando comparamos uma foto nossa de dez anos atras com a que foi tirada hoje a tarde, vemos mudangas no rosto, na pele, na cor do cabelo. Es- sas mudangas levam tempo. “O mesmo acontece no sistema imunolégico’, diz 0 Dr. Insoo Kang, professor adjunto de medicina e diretor de alergia e imuno- logia da Escola de Medicina de Yale. Kang estuda o envelhecimento hu- mano ha 20 anos. “As células imuno- légicas, principalmente as células T CD8+ [um tipo de linfécito], mudam com a idade. Vemos menos células T CD8+, necessdrias para reconhecer micro-organismos recém-surgidos, como 0 virus da Covid-19. Acontece com todo mundo em algum nivel, s6 que nao no mesmo ritmo.” AG sevecdes 12.2020 A diferenga da taxa de declinio en- tre os individuos é um dos grandes mistérios da ciéncia. O sistema imu- noldgico é complexo, mas a maioria de nés entende o basico: 0 corpo detecta um invasor - um virus, bac- téria, parasita ou objeto estranho - e produz leucécitos a fim de combater o problema. A questao crucial é 0 nti- mero dessas células que produzimos, digamos, aos 73 anos ou aos 45. E essa questao esté também no centro da pandemia da Covid-19. Como é pos- sivel que um homem de 104 anos so- breviva e pessoas com metade dessa idade, ou menos, nao? Felizmente, nao estaremos sem- pre numa pandemia. Mas podemos usar este evento para entender de que maneira o sistema imunolégico muda com a idade - e se é possivel desacelerar o declinio e aumentar nossa reserva para a préxima vez que adoecermos. Imunidade e velhice Quando envelhecemos, 0 corpo sim- plesmente nao produz mais tantas células imunolégicas, diz o Dr. Atul Butte, professor de epidemiologia, bioestatistica e pediatria do campus de Sao Francisco da Universidade da Cali- fornia. “Ninguém sabe direito por qué.” Butte trabalhou com uma equipe de pesquisa numa extensa revisdio de 242 estudos sobre imunidade que re- velou padrées de mudanca do sistema imunoldgico quando envelhecemos. FOTOS E ILUSTRACOES: GISTOCK/GETTY IMAGES PLUS VOCE CONTROLA MUITOS FATORES QUE PODEM MANTER EM FORMA SEU SISTEMA IMUNOLOGICO. A quantidade de algumas células imu- nolégicas importantes - as células B (leucécitos que produzem anticorpos para combater infeccées) e T (leucéci- tos que atacam virus) - diminui coma idade. Por exemplo, temos duas gran- des categorias de células T: as com “meméria’, que j4 encontraram um determinado patégeno e “recordam” como combate-lo, eas “virgens” como 0 tipo CD8+ jé mencionado, que ainda nao combateram nada. “Vimos prin- cipalmente que o ntimero de células T virgens é menor quando envelhece- mos’, revela Butte. Entao, digamos que a Covid-19 apa- receu. Nada que ja vimos como seres humanos € igual a esse virus, e néo temos células T com meméria para mobilizar (embora pesquisas novas indiquem que algumas pessoas po- dem ter formado alguma defesa se ja encontraram outros coronavirus). As células virgens precisam assumir a luta, e os mais velhos tem menos delas para lutar. Isso torna a maioria dessas pessoas mais vulneravel, mas nao todas, porque o sistema imuno- légico nao declina da mesma ma- neira em todo mundo. Por exemplo, outro fator que Butte observou em seu estudo de revisao: certos idosos saudaveis tiveram pouco ou nenhum declinio das células T. Alguns tinham tantas células desse tipo quanto pes- soas mais jovens, e as mulheres pare- ciam manter quantidade maior delas ao envelhecer. Ninguém sabe direito qual é 0 nii- mero saudavel de células B e T. Butte explica: “Quando fazemos um exame de hemoglobina, a faixa normal é co- nhecida. Quando fazemos um exame para ver o nivel de ferro, a faixa nor- mal é conhecida. Mas nao fazemos ideia de qual é 0 nivel normal dessas células. Nem mesmo as medimos em exames de sangue regulares.” Pode haver muitas raz6es para 0 declinio dessas importantes células com 0 passar do tempo. Serdo motivos genéticos? Sera o estilo de vida? “Sa- bemos que a genética tem seu papel’, observa Butte. “Mas é discutivel a im- portancia desse papel quando compa- rado ao ambiente e ao estilo de vida.” Fatores do estilo de vida como dormir mal, sofrer estresse crénico e 12.2020 seLecdes 47 engordar costumam causar inflama- gao crénica de baixo nivel, além de problemas sistémicos como doengas autoimunes e redugao da fungao do figado e dos rins. Essa inflamacao degrada o sistema imunolégico por- que o faz funcionar de forma anor- mal, com disparos constantes. Isso acelera o processo de envelheci- mento em nivel celular e pode cau- sar doenca cardiaca, diabetes tipo 2, doenca de Alzheimer e outras, com- prometendo o sistema imunolégico sem que vocé perceba. “A maioria dos sistemas do corpo é muito bem regulada’, diz o Dr. Sean Xiao Leng, geriatra e professor da Es- cola de Medicina Geriatrica da Uni- versidade Johns Hopkins. “O sistema COMER BEM E EVITAR A OBESIDADE AFETAM POSITIVAMENTE A FUNCAO IMUNOLOGICA. inl 48 sevecdes 12.2020 imunol6égico nao é exce¢ao, e por isso essa desregulacao é tao perigosa” Como salvar seu sistema imunolégico Nao podemos alterar nossa constitui- cao genética, mas, por sorte, muitos fatores que afetam positivamente o tema imunoldgico estao sob nosso controle. Leve-os a sério, insiste o Dr. Leng. Embora nao se possa impedir a redugao da imunidade com o enve- Ihecimento, qualquer desaceleragao significa uma reserva imunolégica maior. Isso é fundamental quando ha infeccdes. Quando falamos de vulnerabilidade em adultos idosos, comenta Leng, ha duas partes importantes: “Uma é a incidéncia: se pegamos ou nao a in- fecgdo. Mas a outra parte é a gravi- dade. Mesmo que vocé nao tenha o resultado desejado na incidéncia, a funcao imunoldgica mais forte pode determinar qual sera a gravidade da infeccéo” Em outras palavras, cada grama de prevencao ajuda, como nos seguintes fatores: MOVIMENTO O exercicio regular promove a funcao imunolégica e reduz a inflamacao. Um estudo pu- blicado em 2019 na Nature Reviews Immunology observou que o mus- culo esquelético é um “grande é6rgéo regulatério imunolégico” que gera protefnas anti-inflamatérias e imu- noprotetoras chamadas miocinas. Um estudo de 2018 constatou que CONTROLE 0 ESTRESSE PARA “2” PREVENIR O DECLINIO DA IMUNIDADE A DOENCAS. exercicios mais intensos podem re- duzir o declinio do sistema imunolé- gico em idosos. “O exercicio fortalece 0 corpo e pode sera intervencao mais importante a acrescentar ao estilo de vida’, sugere Kang. AUTOCONHECIMENTO Butte acon- selha entender melhor como esta sua satide neste momento. Por exemplo, 6 bom que o asmatico comece a me- dir seu fluxo de ar maximo para saber qual é sua fungao pulmonar normal. “Quanto mais usarmos aparelhos e ferramentas digitais, mais compreen- deremos’, afirma ele. “Se algo mudar, vocé vai ao médico e nao diré apenas “estou sem ar’ Vocé dira: ‘Meu fluxo de ar caiu 8%.” Manter-se a par das doengas crénicas que vocé tem Ihe permitiré perceber rapidamente os declinios e, com 0 médico, decidir um tratamento melhor. NUTRICAO Comer bem e evitar a obesidade, que é fatal no que diz res- peito a inflamagao, sao atitudes de bom senso. Mas a pesquisa também revela efeitos nutricionais especificos sobre a funcao imunolégica em ido- sos. Um estudo resenhado em 2018 na revista Nutrients mostrou que nu- trientes basicos, como as vitaminas A, C, D, Ee as do complexo B, além de acido félico, ferro, selénio e zinco, sao essenciais para a “imunocompe- téncia” e as deficiéncias provocam producao mais baixa de células T e incapacidade de resolver inflama- des. Busque 0 equilibrio, aconselha Kang: “Nao coma s6 legumes e ver- duras, mas também boas proteinas e fibras.” Estas ultimas sao importantes porque alimentam as bactérias boas do intestino e reduzem inflamagoes. “Temos muitas células imunolégicas no intestino que ajudam a regular a satide. A fibra alimentar pode ter mais efeitos do que apenas fazer 0 intestino funcionar.” CALMA A pesquisa demonstrou que 0 estresse nao regulado acelera 0 declinio do sistema imunolégico. A questo é a reacao imunoldgica cré- nica ao que nos estressa, e o resultado é o aumento da inflamagao. Nesse sentido, cuidar de si mesmo é funda- mental - das atividades antiestresse (meditagao, atengao plena, exercicios) aos pedidos de ajuda em situagoes 12.2020 seLecdes 49 SEU SISTEMA IMUNOLOGICO E VULNERAVEL? Algumas doencas deixam o sistema imunolégico menos capaz de combater uma infec¢ao viral. Se tiver qualquer uma das doengas a seguir, tome todas as precaucées para se protegere converse com o médico sobre a necessidade de ajustar o tratamento. OBESIDADE Hoje, 0 te- cido adiposo (gordura) é reconhecido como um 6r- gao endécrino e imunolé- gico ativo capaz de inibir diretamente a fun¢do imunolégica metabdlica, de acordo com pesquisas recentes. Umestudo de 2018 com pacientes gri- pados em trés tempora- das de gripe constatou que os adultos obesos le- varam 42% mais tempo para combater o virus do que os nao obesos DIABETES A hiperglice- mia (nivel alto de acucar no sangue) é uma doenca inflamatéria que tende a inibir a rea¢do imunold- gica e aumentar 0 risco de infeccdes. Quem tema glicemia descon- trolada é ainda mais vulneravel. 50 sevecdes 12.2020 CANCER O cancer e seus varios tratamentos redu- zemacontagem de leucd- citos no sangueetornam os pacientes mais propen- sos ainfeccGes, alémde dificultar o combate a qualquer infeceao que aparega. Se vocé estiver com cancer ou sobreviveu a ele, discuta sua situacdo com um médico que conheca seu hist6rico clinico. ASMA, DPOC E OUTRAS DOENCAS RESPIRATO- RIAS Os virus adoram ata- caro pulmao, e pessoas com doengas pulmonares correm risco deter sinto- mas mais graves se adoe- cerem. Os pacientes com doenca pulmonar obstru- tiva crénica (DPOC) séo mais vulneraveis a infec- des pulmonares, que po- dem lesionar ainda mais ‘os brénquios ja compro- metidos. DOENGA CARDIACAA hipertensdo arterial e os problemas cardiacos subjacentes aumentam orisco de infeccdo em idosos, de acordo coma Associa¢ao Cardiaca Americana. Com base nos primeiros dados, até 40% dos pacientes com Covid-19 que preci- saram de internacaéo jatinham doenga cardiovascular, como relata a associacdo. DOENGAS AUTOIMU- NES As infeccdes provo- cama recorréncia de doencas autoimunes como artrite reumatoide, esclerose muiltipla ou psoriase, eo tratamento dessas doencas geral- mente envolve imunossu- pressores que aumentam orisco de infeccao. Além disso, os problemas autoimunes podem causar doenca intersticial do pulmao, um mal perigoso que deixa cicatrizes no tecido pulmonar. estressantes mal resolvidas (trabalho, dinheiro, cuidados de criancas, de doentes e de idosos). As pessoas no falam muito a respeito do efeito do es- tresse sobre a imunidade porque nao 6 tao tangivel quanto fatores como ho- ras de exercicio ou nuimero de macos de cigarro por dia, observa Leng. VACINAS A idade, assim como a imunidade, cobra seu prego na efica- cia das vacinas. Estas sao projetadas para provocar a produgao de antige- nos (a vacina contra a gripe é feita com células de gripe), mas nossa re- serva imunolégica ao envelhecer nao reage de forma tao robusta quanto na juventude. Nada disso deveria deses- timular as pessoas a se vacinarem. “E verdade que as vacinas ficam menos eficazes quando envelhecemos’, diz Kang. “Mas, mesmo que vocé seja contaminado, a doenga ser4 menos grave. As pessoas deveriam tomar todas as vacinas recomendadas pelo médico com base na idade e nas doengas subjacentes.” MEDICAMENTOS Alguns remédios podem inibir o sistema imunoldgico. Por exemplo, corticosteroides orais ou inalados (comuns na artrite, nas alergias, na asma e na doenga infla- maté6ria intestinal) podem aumentar 0 risco de infeccdes por fungos. O mesmo acontece com os inibidores do fator de necrose tumoral, que tratam doengas autoimunes como psoriase e artrite reumatoide. “Até os antibidticos podem matar as bac- térias intestinais e provocar alguns tipos de infecgao’, confirma Kang. Se vocé toma remédios de uso continuo, converse com 0 médico sobre possi- veis efeitos colaterais no sistema imu- nolégico e como resolvé-los. Ligdes da Covid-19 Além de incutir profundamente a ne- cessidade de lavar as maos e que dis- tancia significa dois metros, no fim das contas a pandemia de Covid-19 nos ensinara mais sobre as vulnerabilida- des de nossa satide, tanto individual- mente quanto como populagao idosa. Butte acredita que haverdé uma nova era na pesquisa da imunidade. “Va- mos aprender muito e bem depressa.” Leng prevé um grande impeto para conhecer melhor o envelhecimento e a imunidade com estudos da popula- cao idosa a fim de descobrir os me- canismos desconhecidos da resposta imunol6gica. Ele j4 faz parte de uma imensa iniciativa dos Institutos Na- ionais de Satide dos EUA na ciéncia geridtrica, que envolve centenas de pesquisadores. “O modelo médico tradicional se concentra em doengas individuais”, diz ele. “Mas tentaremos ver se encon- tramos um mecanismo subjacente na imunidade, algo anterior no proceso. Entéo poderemos fazer uma busca mais ampla, em vez de perseguir as doengas uma a uma. Se conseguirmos, a populagao idosa lidara melhor com todos os desafios imunoldgicos.” DE AARP (4 DE ABRIL DE 2020), ©2020 DE AARP, AARP.COM 12.2020 seLecdes SI LU DRAMA DA VIDA REAL I = ~*~ Ela era experiente nas caminhadas. Sabia que os rastros a frente significavam Pegadas-na que alguém estava em apuros. en Mas nao fazia ideia de que a levariam NEVE - a uma missao de resgate que se tornou lendaria. POR Ty Gagne Do The New Hampshire Union Leader a, nae we 4 @ * a. y aA 2 12.2020 seLecdes 53 AM BALES deixou a estrada e pegou a trilha Je- well, coberta de neve. Ela planejara uma cami- nhada de seis horas sozinha dando uma volta pelo Parque Estadual Monte Washington, em New Hampshire. Levava equipamento para quase todas as contingéncias. Um pedaco de papel no painel de seu Nissan Xterra detalhava o itinerario: comecar pela trilha Jewell, atra- vessar a crista sul pela trilha Gulfside, pico do monte Washington, seguir o caminho Crawford até a pousada Lakes of the Clouds Hut, descer pela trilha da ravina Ammonoosuc e voltar ao carro antes que o mau tempo previsto chegasse. Pam sempre deixava seus planos de caminhada no carro e com dois colegas voluntarios da Equipe de Busca e Resgate de Pemigewasset Valley. Passava pouco das oito da manha de 17 de outubro de 2010. Antes de sair, ela consultara a previsao para os picos divulgada pelo Observatério Monte Washington: Nublado com pequena proba- bilidade de chuva. Maxima: perto de -1°C; sensacao térmica de -17°C a -12°C. Ventos: NO 80-110 km/h aumentando para 95-130 km/h. Com base em sua experiéncia, Pam sabia que a caminhada era vidvel. Além disso, tinha dois planos de con- tingéncia e camadas a mais de roupa 54 seLecdes 12.2020 para regular melhor a temperatura interna quando o tempo mudasse; 0 observatério descrevera as condigées climaticas nos picos mais elevados como “alto inverno” Acaminhada pela parte mais baixa da Jewell foi agradavel. Pam subiu empolgada a trilha coberta de neve. As 8h30, ainda abaixo da linha das arvores, ela parou e tirou a primeira de uma série de sel/fies na trilha; estava com um top de fleece e calcas de cami- nhada, sem luvas nem gorro porque o ar estava fresco. O sol brilhava entre ALEXANDER CHAIKIN/SHUTTERSTOCK (PEGADAS), ROBERTO CAUCINO/SHUTTERSTOCK (PESSOA) FOTOS DA PAGINA DUPLA ANTERIOR: DAVID BOUTIN/SHUTTERSTOCK (MONTANHA), FOTOS CORTESIA DE PAM BALES (2) Pam Bales tirou selfies 4s 8h30 (a esquerda) eas 9h15 para documentar sua subida pela trilha Jewell, no monte Washington, conhecido pelas mudancas climaticas extremas. as drvores e langava sombras sobre seu rosto sorridente. Menos de uma hora depois, ela ti- rou outra foto, depois de subir até o ar mais frio e a neve mais funda. Agora, vestia um blusao de fleece com ziper e luvas. O céu nublado substituira o sol, a neve cobria as bétulas e os arbustos. Acima dela, nuvens densas, carre- gadas de precipitagao, estavam abaixo do pico do monte Washington, onde a temperatura era de -4°C e os ventos sopravam a cerca de 80 km/h, com neblina e neve solta. * S 10H30, O clima mostrou suas A garras. Pam acrescentou ainda mais camadas, com uma jaqueta acolchoada, 6culos e luvas de alpi- nismo para se proteger do vento frio e da neblina densa. Ela seguiu pela crista coberta de neve rumo ao monte Washington e comecou a pensar em voltar. Entéo, notou uma coisa: um Unico conjunto de pegadas na neve & frente. Ela vinha seguindo rastros le- ves o dia todo e nao Ihes dera atencao, porque muita gente sobe pela trilha Jewell. Mas esses, percebeu, tinham sido deixados por um par de ténis. Em siléncio, ela ralhou com o caminhante distraido por violar as regras normais de seguranca e continuou andando. As 11 horas, Pam estava com frio, embora se movesse depressa e ge- rasse calor no corpo. Pés mais uma camada sob a jaqueta acolchoada e fechou o sistema de mascara facial e éculos. Ainda bem que trouxe bas- tante coisa, pensou. Ela decidiu 12.2020 seLecdes 55 abandonar seu plano. Subir ao pico do monte Washington era apenas uma opg¢ao. Voltar 4 caminhonete era uma exigéncia. Lufadas de vento forte gritavam e atacavam suas costas e 0 lado es- querdo do corpo. O dossel de nu- vens se transformara no equivalente da areia movedi¢a, e a tinica coisa que mantinha Pam na trilha Gulfside eram 0s rastros de ténis na neve. Enquanto ela combatia 0 vento e a chuva forte e gelada, os olhos buscando algum tipo de abrigo, os ras- tros fizeram uma curva acentuada a esquerda e sairam da trilha. Agora ela se sentia genuinamente alar- mada. Tinha certeza de que aquela pessoa nao conseguiria se orientar na baixa visibilidade e seguia para as trilhas dificeis da Great Gulf Wilderness. Pam parou ali, espantada. A tempe- ratura e as nuvens estavam numa corrida rumo ao ponto mais baixo, e a escuridao chegaria em poucas ho- ras. Se continuasse a seguir os rastros, Pam acrescentaria risco e tempo ao itinerario que jd modificara a fim de reduzi-los. Mas nao poderia deixar aquilo assim. Ela virou 4 esquerda e gritou “Ola!” na neblina gelada. Nada. Ela gritou de novo: “Tem al- guém af? Precisa de ajuda?” Dae 56 seLecdes 12.2020 ELA ~ SEGUIU OS RASTROS DE TENIS. A ROTA DE ESCAPE TERIA DE ESPERAR. » O forte vento oeste levou sua voz embora. Ela tocou o apito de resgate. Por um momento passageiro, achou ter ouvido alguém responder, mas era s6 o vento brincando com sua mente. Ela parou, escutou, virou-se e cami- nhou com cautela na diregao dos ras- tros. A rota de escape teria de esperar. AM SEGUIU CUI- Pp DADOSAMENTE os rastros por uns 20 a 30 metros, lutando para se manter ereta. Dobrou uma leve curva e viu um homem sen- tado imével entre gran- des rochas. Ele fitava a diregdo da Great Gulf, um circo de gelo cuja majestade s6 podia ser imaginada na pés- sima visibilidade. Ela se aproximou dele e disse: “Oi, ola.” Ele nao reagiu. Es- tava de ténis, bermuda, uma jaqueta leve e mitenes. A cabega estava desco- berta. Parecia encharcado. A jaqueta estava coberta de gelo. Os olhos dele a acompanharam devagar, e ele mal moveu a cabeca. Um interruptor foi acionado. Ela deixou de ser uma caminhante curiosa e preocupada. A busca in- formal se transformou numa verda- deira missao de resgate. Ela recorreu ao treinamento médico de campo e tentou entender melhor o nivel de ©DAVID BOUTIN/SHUTTERSTOCK consciéncia dele. “Qual 0 seu nome?’, perguntou. Ele nao respondeu. “Sabe onde esta?” Nada. A pele dele estava muito pa- lida, 0 olhar vidrado. Era é6bvio que, para ele, nada fazia sentido. Estava hipotérmico e corria muito risco. O vento soprava sem parar a 80 km/h, a temperatura era de -3°C e as gotinhas de gelo continuavam seu ataque incansavel a Pam e ao homem que agora era seu paciente. A possibilidade de abandond-lo em nome da prépria sobrevivén- cia era apavorante, mas ela fora treinada em busca e resgate; sabia que nao podia correr um risco tao grande que a transformasse em outra vitima. Tam- bém sabia que nao ti- nha muito tempo. Com ele sentado contra as pedras, ela Ihe tirou a camiseta e a roupa de baixo. Como ele nao falava e por estar em contato tao intimo, ela lhe deu um nome: “John.” Colocou adesivos aque- cedores diretamente nos pés nus do homem. Examinou-o para ver se ha- via sinais de traumas ou lesdes. Nao havia nada. Pam tirou da mochila um par de calgas de caminhada, meias, um gorro de inverno e uma jaqueta. Puxou as roupas quentes e secas so- bre o corpo do homem, que nao péde PAM * OLHOU SEU PACIENTE BEM NOS OLHOS E DISSE: “JOHN, TEMOS DE IR EMBORA AGORA!” ajudar, porque estava muito afetado pela hipotermia. Em seguida, Pam tirou da mochila um saco de bivaque e o segurou com firmeza para que o vento nao o le- vasse. Enfiou-o sob 0 corpo imével de John e o pés dentro. Ativou mais adesivos aquecedores e os colocou nas axilas, no tronco e nas laterais do pescogo dele. Pam sempre levava uma garrafa térmica com chocolate quente e cubos mastigaveis de eletrélitos. Jogou alguns cubos no cho- colate, apoiou a nuca dele com uma das maos, segurou a gar- rafa térmica com a outra e despejou na boca do rapaz a bebida quente e acucarada. A HORA SEGUINTE, N John comegou a mexer os mem- bros e falar, arrastando as palavras. Ele disse que, quando saira do Maine naquela manhi, fazia 16°C. Planejara seguir 0 mesmo caminho de Pam. Jé fizera aquela rota varias vezes. Disse que tinha se perdido com a ma vi- sibilidade e s6 ficou ali sentado. Mesmo se aquecendo, ele continuava letargico. Pam reconheceu que ele logo mor- reria se nao safssem dali. Ela olhou © paciente bem nos olhos e disse: “John, temos de ir embora agora!” Ela 12.2020 seLecoes 57 As 11. damanha, o tempo virou e Pam estava prestes a voltar. Felizmente paraum caminhante angustiado, ela nao desistiu. nao deixou espaco para discussées. Ia descer e ele desceria com ela. O vento rugia em torno e acima dos rochedos que os tinham protegido du- rante os 60 minutos da triagem. Pam o apoiou quando ele se levantou, tre- mendo, e, com um equilibrio entre firmeza e preocupagao genuina, or- denou: “Nao desgrude de mim, John.” Nao era assim que ela costumava fa- lar, mas tinha de ser impositiva. Ele parecia a instantes de ser arrastado 58 sevecdes 12.2020 irrevogavelmente para o caminho de menor resisténcia: parar e adormecer. Isso nao aconteceria no turno dela. Ela imaginou que a tinica rota vid: vel era pelo caminho por onde ti- nham vindo. Enquanto o par refazia seus passos na crista, a visibilidade era tao ruim que avancavam bem de- vagar. Pam seguia os buraquinhos na neve que seus bastdes de caminhada tinham feito antes. Inclinada contra o vento, ela comegou a cantar um CORTESIA DE PAM BALES. pot-pourri de musicas de Elvis Pres- ley para manter John conectado a realidade e se conservar firmemente concentrada. Ela tentava ao maximo seguir a tri- tha e nao deixar que John sentisse sua preocupagao crescente quando ele caiu na neve. Ela se virou e achou que ele estivesse desistindo. O rapaz, sentado, se enrolara num tipo de posi- cao fetal, curvado para baixo, os ombros paraa frente, as maos nos joe- Ihos. Ele Ihe disse que estava exausto, que nao aguentava mais. Ela que continuasse sem ele. Pam nao quis nem saber, “Isso nao é op- cao, John. Ainda temos de passar pela parte mais dificil. Portanto levante-se, aguente firme e vamos!” Deva- gar, ele se levantou, e ela teve uma sensacao avassaladora de alivio. Pam e seu relutante companheiro ti- nham percorrido menos de 800 metros quando chegaram de volta a jungao da trilha Gulfside com a Jewell, um pouco mais segura. Era cerca de duas da tarde quando comegaram a descer. O sol se poria em trés horas. Embora as arvo- res os protegessem do vento, era mais escuro sob as copas. Pam ligou a lan- terna de cabeca, mas, com uma tinica luz para os dois, ela tinha de avancar devagar pelas partes mais ingremes ae ESPANTADA ~ ESOZINHA | NA ESCURIDAO, PAM DISSE A SI MESMA: “O QUE FOI QUE ACONTECEU?” e se virar e iluminar a trilha para que John a seguisse. Ela Ihe dava incentivos continuos - “Continue, John; vocé esta indo muito bem!” - e cantou uma série de misicas da década de 1960. A descida foi ardua, e Pam temia que ele cafsse na neve outra vez e re- sistisse ativamente as tentativas dela de salva-lo. Pouco antes das seis da tarde, eles chegaram ao inicio da tri- Tha, exaustos e alque- brados. A subida até 0 ponto onde ela locali- zou John levara umas quatro horas. Desde entao, seis horas ti- nham se passado. Pam ligou o motor do carro dele e pos dentro as roupas con- geladas que tirara de John, para que 0 aque- cedor as secasse. Ela percebeu que ele nao trouxera roupas extras. - Por que vocé nao tem comida e uma muda de roupa seca no carro? - perguntou ela. - Eu sé peguei emprestado - res- pondeu ele. Varios minutos depois, ele vestiu as roupas agora secas e devolveu a Pam as pecas com que ela 0 vestira na crista. ~ Por que nao olhou a previsao do tempo, vestido assim? - perguntou ela. Ele nao respondeu. Sé lhe agrade- ceu, entrou no carro e cruzou 0 esta- cionamento vazio rumo a safda. Bem 12.2020 seLecdes 59 naquela hora, as 18h7 da tarde, 0 Ob- servatorio Monte Washington registrou o vento mais forte do dia: 140 km/h. Ali em pé, espantada e sozinha na escuridao, Pam falou a si mesma: “O que foi que aconteceu?” mana depois, quando o presi- dente de seu grupo de resgate recebeu uma carta, com uma doagao den- tro do papel dobrado. Dizia: “Espero que esta chegue ao grupo certo de socorristas. E dificil fazer isso, mas tenho de tentar, faz parte da minha terapia. Quero permanecer andnimo, mas me chamaram de John. No domingo, 17 de outubro, subi a Je- well, minha trilha favo- rita, para dar fim a vida. A previsao do tempo era ruim. Achei que nao haveria mais ninguém 1a. Es- tava vestido para ir depressa. A pré- xima coisa de que me lembro é dessa senhora falando comigo, trocando minha roupa, me dando comida, me aquecendo. Ela nao parava de falar e de me chamar de John, e deixei. Por fim, descobri que seu nome é Pam. “O tempo estava horrivel, e eu disse que ela me deixasse 14 e continuasse, mas ela se recusou. Ela me levantou, me fez ficar de pé ao lado dela, ainda E': SO TERIA a resposta uma se- 60 seLecdes 12.2020 be “TALVEZ - AINDA NAO _FOSSE MINHA HORA”, ESCREVEU ELE. “EU AINDA IMPORTAVA NA VIDA.” falando. Fui atras, mas pensei em fu- gir... ela nao conseguiria me ver. No entanto, eu sé queria tirar minha vida, nao a dos outros, e achei que ela ten- taria me encontrar. “O tempo todo ela me tratou com compaixao, autoridade, confianga e a impressao de que eu era importante. Com tudo o que vem dando errado em minha vida, eu nao tinha impor- tancia para mim, mas tinha para Pam. Pro- vavelmente, ela achou que eu era o mais burro dos caminhantes, ves- tido daquele jeito, mas nunca me menospre- zou - 86 ralhou comigo, sim, de um jeito bon- doso. Talvez ainda nao fosse minha hora de morrer. Nao sei como, eu ainda importava na vida. “Depois, fiquei com muita vergonha e, na verdade, nao Ihe agradeci direito. Se ela for um exemplo de sua entidade, vocés devem ser o melhor grupo que existe. Por favor, aceite esta pequena oferta de agradecimento pelo esforco dela para me salvar além dos limites da seguranca. Parece que nao existia NAO em sua mente. “Procurei ajuda para minhas ne- cessidades mentais. Eles também me ajudarao a arranjar emprego, e tenho moradia temporaria. Encontrei um novo rumo na vida gragas a pessoas maravilhosas como vocés. Peguei 0 nome de vocés no emblema dela e no adesivo do para-choque. “Meus mais profundos agradeci- mentos, John.” OS NOVE ANOS passados desde que salvou John, Pam se tornou quase uma lenda das caminhadas. E um titulo que ela nunca quis nem buscou, mas que certamente mereceu. Para ela, o importante 6 que se comoveu com o gesto do homem e com a refe- réncia ao fato de que o fez sentir que tinha importancia. Algumas pessoas me perguntaram se, ao contar a histéria ao puiblico, ten- tei encontrar John. A ideia de procura- -lo me pareceu errada. Quando refleti mais sobre essa historia e sua relagao com a satide mental, minha resposta a pergunta evoluiu. Na verdade, achei John, e ele esta muito perto de mim. John é meu vizinho, meu bom amigo, um colega préximo, um membro da familia. John poderia ser eu. Em algum momento da vida, to- dos nos encontramos andando com uma sensagao de desamparo por uma tempestade pessoal. Sozinhos, sem nenhuma nocao de seguranga e calor emocional e sufocados pela es- curidao de nossas emogées, busca- mos aquele lugar fora da trilha onde esperavamos encontrar algum modo de nos libertar da luta. Infelizmente, alguns chegam la. Muitos sao capazes de se autorresgatar em siléncio. Ou- tros, como John, sao resgatados por pessoas como Pam Bales. @ DE NEW HAMPSHIRE UNION LEADER (5 DE JANEIRO DE 2019), © 2019 DE TY GAGNE, UNIONLEADER.COM. Vee Sem sair do lugar Durante minha segunda gravidez, resolvi pedalar pelo menos 3 quilémetros por dia. Certa vez, nao tive tempo para isso durante o dia e fui pedalar na barulhenta bicicleta ergomé! que ficava no quarto, onde meu marido, ja deitado, lia um livro. Vinte minutos depois, um tanto chateado com o barulho que a bicicleta fazia, ele se virou para mime perguntou: - Vocé nao acha que ja esta na hora de dar meia-voltae ir pra casa? MARGARET KOCH Na esperanca de emagrecer, minha mulher disse que queria comprar uma bicicleta para fazer exercicio. Lembrei a ela que tinha na garagem uma bem cara e muito boa, mas ela queria uma ergométrica. -E exatamente porque sua bicicleta tem ficado parada que vocé precisa emagrecer - disse a ela. vim waite 12.2020 seLecdes 61 ENTRE ASPAS Gosto quando tudo fica meio louco. Coisas boas vém da exaustio. —John Mulaney, comepDIANTE Temos a capacidade de ser herdis de nossa familia, de nossa comunidade, de nossa vida. E importante lembrar aos outros esta verdade: vocé tem o necessario para causar impacto. Qual é sua jornada do herdéi? —Kerry Washington, atriz Minha zona de conforto é fora da minha zona de conforto. Gosto de me sentir um pouco desconfortavel. —Billie Eilish, cANTORA As regras, como as ruas, s6 nos levam a lugares conhecidos. —Ocean Vuong, escriToR Vocé tem de testar a sorte pelo menos uma vez por dia, porque pode passar o dia todo perto da sorte e nem saber. —Jimmy Dean, cantor © GETTY IMAGES (7); (SALES) © MARCIO FARIAS Nunca pare de aprender a aprender. —Billie Jean King, ATLETA Seja gentil e faca sua propria xicara de cha no estidio. —Saoirse Ronan, atriz Acredito que o segredo de um casamento longo e feliz nao é so achar alguém com quem vocé consiga conviver 50 anos. Eachar alguém que vocé nao consegue viver sem. —Frank Caprio, juiz Com certeza a vida agora tera um sentido diferente [aps a pandemia]. Acho que vamos passar a dar valor a coisas que até entéo nem sequer observavamos. —Janine Salles, ATRIZ E EMPREENDEDORA. PARA PENSAR Quando vé algo que nao esta certo, vocé tem de dizer alguma coisa. Tem de fazer alguma coisa. A democracia nao é um estado. E uma acao, e cada geracao tem de fazer sua parte para ajudar a construir 0 que chamamos de Amada Comunidade, de nacao e de sociedade mundial em paz consigo mesma. —John Lewis, potitico -Esouma ~ movant stealer) <== Ve eho pie: 19 de janeiro EUROPA ORIENTAL NO MEIO DO inverno, a temperatura esta proxima do gelo. Que tal uma corrida de natacao ao ar livre? A Corrida Aquatica da Santa Cruz é um evento realizado em corpos d’4gua gelados da Europa Oriental, da Sérvia a antiga Unido Soviética, do Mar Negro ao Bésforo, quando a Igreja Orto- doxa comemora 0 batismo de Jesus no rio . Um sacerdote com as vestes ceri- s joga na dgua gelada uma cruz de madeira e, incentivados pelo ptiblico, os nadadores se esforcam para pega-la. Di- zem que o vencedor sera abencoado e tera um ano préspero. De meados de janeiro a meados de fevereiro ISLANDIA EXISTE MELHOR maneira de aguentar o in- verno islandés do que com uma refeigao de testiculos de carneiro em conserva, carne de tubarao fermentada e cabeca de ovelha cozida? E a madame ou 0 cavalheiro gos- tariam de cordeiro defumado com esterco para acompanhar? Esse é 0 cardapio tradi- cional e substancioso da festa islandesa de Thorrablot, que data da época pré-crista. E tudo vem acompanhado de Brennivin, uma bebida forte, aromatizada com ervas, apelidada de “Peste Negra” Satide! 25 de janeiro ESCOCIA PARA NAO SEREM superados pelos islande- ses, 0s escoceses comemoram 0 aniver- sario de seu poeta nacional Robert Burns comendo um gigantesco embutido de 12.2020 SELEGoES 65 coracao, figado e bofe de ovelha, picados e envol- tos, por tradigao, no re- vestimento do est6mago do animal. £ o famoso haggis, prato principal da Ceia Burns. Quando 0 prato chega a mesa, é reci- tado 0 poema “Discurso ao haggis” de Burns (na imagem), e uma faca é enterrada em suas “entranhas que jor- ram’, como disse o poeta. O protocolo da Noite Burns exige que um homem faga um brinde fa- lando humoristicamente do papel das mulheres. Entao, uma convidada responde, dando sua opinido sobre os homens. “Ja respondi duas vezes, e é preciso ter a casca meio grossa, pois 6a oportunidade de cada sexo brindar aos erros do outro’, diz Jennie Landels, ve- terana da Noite Burns. “Mas a mulher é que tem a Ultima palavra, e assim po- demos acrescentar umas boas piadas!” 12 de marco GRECIA NO ULTIMO DIA de fevereiro, os gregos costumam fazer ou comprar uma pul- seira tecida em vermelho e branco a ser usada em marco para comemorar a che- gada da primavera - e, em teoria, impe- dir que as bochechas sejam queimadas pelo sol. A tradicao, também praticada nos pajfses balticos, se chama Martis, do nome grego do més de marco. “Essa pulseira teve um poder magico sobre meu estado de espirito. Assim que a pus, foi como se 0 periodo deprimente 66 seLecdes 12.2020 . do inverno acabasse’, conta Angelica Papastamati, que cresceu em Atenas e se lembra de tecer as pulsei- ras na infancia. Nas areas rurais, também é tradicio- nal que os usudrios amarrem sua pulseira na primeira arvore florida que virem - ou numa roseira, se avistarem um pardal. 8 de marco ITALIA DURANTE Mals de um século, 0 Dia In- ternacional da Mulher é comemorado no mundo inteiro, e em muitos paises o dia é feriado, para homenagear as lutas e conquistas femininas. Na Italia, La Festa della Donna talvez tenha um pouco mais em comum com 0 Dia dos Namorados ou o Dia das Maes, pois as mulheres recebem buqués de mimosas dos homens de sua vida. Pratos amarelos com o tema da mimosa também fazem parte da festa, como o linguine mimosa, feito com curry. A noite, PAGINA DUPLA DE ABERTURA: VADIM GHIRDA/ASSOCIATED PRESS; STOCK MONTAGE/GETTY IMAGES. : E é = 8 : < 3 : 2 S g 3 2 2 ¢ 5 z 8 g a 5 z 3 muitas mulheres saem em grupos para se divertir. Se houvesse um dia em homenagem aos homens que fazem strip tease, seria esse. 12 de abril FRANCA COMO EM MUITOS paises, na Franga 0 1° de abril é 0 dia dos trotes elaborados. Mas, para os alunos das escolas francesas, ha uma diversdo a mais: o Poisson d’Avril (peixe de abril), peixes de papel colados nas costas dos distrafdos. “Lem- bro que eu adorava pegar meus pais, avés, tios etc. Principalmente a professora’, diz Mathieu Doyen ao re- cordar a infancia no nordeste da Franga. “Ba brincadeira continua. Martin, meu filho de 8 anos, adora” 2 de abril NORUEGA DOIS JOVENS escritores noruegueses mal sabiam o que estavam criando em 1923. Para divulgar seu novo romance policial, eles langa- ram uma campanha de publicidade no domingo anterior a Pascoa que se pas- sava por noticia ver- dadeira na primeira pagina do jornal Aftenposten. “Trem de Bergen saqueado a noite’, dizia a manchete, e muitos acreditaram. Dai nasceu a tradicdo norueguesa do Paskekrim (crime de Pdscoa) no feriado de Pas- coa, época que muitos habitantes cos- tumam passar em suas cabanas rurais de esqui. “Quando eu era pequena, as cabanas eram muito primi- tivas, sem eletricidade, e toda noite, durante o fim de semana prolongado, escutavamos 0 radio de pilha para acompanhar a série policial’, recorda Ka- trina Swift, natural de Oslo. “Hoje, eles ainda fazem séries especiais no radio e na TV.” Além disso, antes da Pascoa, a Tine, maior cooperativa de produtores de laticinios da Noruega, publica nas cai- xas de leite uma histéria em quadri- nhos de paskekrim; quem adivinhar 0 mistério ganha um prémio. 5 de abril REPUBLICA TCHECA A SEGUNDA-FEIRA depois da Pascoa é o dia do Chicote da Pascoa na Repti- blica Tcheca, na Eslovaquia e em partes da Hungria. Nessa antiga tradigao, os homens e meninos fazem um chicote com varios ramos de salgueiro tranga- dos, com uma fita amarrada na ponta, chamado de pomldzka na Reptblica Teheca. O chicote é usado para acoitar as mulheres e garantir (supostamente) que permanegam bonitas, férteis e sau- daveis pelo restante do ano. 12.2020 SELEcoEs 67

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