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‘Seas cags rina or ‘oma i ns hg. om fra dips mane at suas ae argent cantaré0pncpioea sida sen pola balla de rama pai, site sonnet, soa angst, Seamer, sua srg suacric. ste daca mpl urkana ‘anfnina. Aste ole de i Antoni lec, aria ‘Regina Brant oaldo leo sae ses aio Ssigniicsns da thao da Mises Popul na copes evra kt sein quenes ja denen 05 ‘humana nasi aera devi Deven nad aeangase expr orang ado ‘perme albacos pgos mois enuano rinea, ier hia sats (gland enon pala oa ud id, cand ritas sonora insta. (Quando nae lio as msin- tepeutas eolhe canines ara sugralgumas fungi o ani que i oir taal Meuse mora, tos pls ta seri sli £ Precis Canta Musicoterapia, Cantos e Cangées £ Preciso Cantar Musicoterapia, Cantos e Cangdes Luts Ant6nio Millecco Filho Muse cterapenta cinco co forma em Geste- Terapia Cralor da tenis Mico Verbal Mnsicereropentec Pico, com cexpecialiangdo om Musicoerpi Mes em Edvcopdo Marca Profesor do Conserve Brae de Misia, ENELIVROS Rio de Janeizo | Ronaldo Pomponét Millecco ‘Capyigh © 20, Las Ai eco Ft, Mi Regia Exper lo, Roa Pompe Mssco ‘Dinos exclusios dss is paling poses SBN, $5718.04 oncalos’ [BNBLIVROS EDITORS E LIVRARIA LTDA, tv Hemige Vlas a6, Soba 201 (cep 20231-181 — Ride asi, FI “okra (20) 22-88 ‘ma entves @pontseun.com br ‘rowenaloscombe reservados todos odin prot dopo on repo dese ote, oy ov em pre 8 ase form ou poe alae mes ‘Gresik, gag, ftp eu autos) peas xe sin Eaters most de Ca: Mores Roto Ebro Baas hina Mito Prods sito Maria Ct Cages radio Gren Mare Stvador Palace ac Pi, ae An, mcs aN tn Vai, iste cangao ‘Sai do meu peitoe semeia a emogdo ‘Que mora dentro do meu coracio. (Modinha— Tom Jobim e Vinicius de Moraes) Viver e ni ter a vergonha de ser feliz Cantar e cantar e cantar A beleza de ser um etemo aprendiz. (0 que 6, 0 que é— Luiz Gonzaga Hinior) Joma esta cangio como um beifo {Menino do Rio— Caetano Veloso) SUMARIO Preficia — Mauro $a Rego Costa ‘Comentio dos Autores ruse Parr (© Cantar Humano 1.0 Homem como Criador 2. A Iimportincia do Cantar 3, Pequenu Histria do Canto 3.1, Do Periodo Primitivo aos Tempos Uo Barroco 3.2 Colonizago: O Bncontio das 3.3, Os Camtores e Cantoras do Rigio $34, Do Canta Itimista & Massifcagio 4.4 Diversidade do Cantar 4.1, Cantos de Trabalho 4.2, Canes Anénimas 4.2.1. Acalantos 42.2 Jogos Infants 4.2.3. Folguedos 4.3, Cantos Sncros ou Religiosos 18 in at 2s eee 45 48 va Emcor can 44, Canto Carnavalesco ‘4.1, 0 Cantar Carnavalesco no Rio de Janeiro 4.5. Canticos Guereiros 4.6, Canto com Intervensie Politica 4.7. Cangies de Amor. ‘SEGUNDA Pare Musicoterapia. 5, 0 Cantar na Musicoterapia 6, Algumas Diregies 7.0 Misico-Verbal 8. Fung®es do Canto 8.1. Canto Falho 8.2. Canto como Prazer 83. Canto como Expressdo de Vivencias Inconscientes 8:4, Canto como Reszate 855, Canto Desejante 8.6. Canto Comunicative 8.7. Canto Corporal Epilogo Bibliograia fndice Remissivo 50 52 6 10 "4 n 19 295 97 os 100 102 103 105 109 3 nT PREFACIO Mauro 4 Rego Costa esta em Elves pla UPR Profesor da PEDIATR ‘Comet Brisa de Misch tempo todo o texto € atravessado por leas de canges. “Muitas que voe® conoce e a leitura € imediatamente rmsical, Muitas de que voe® no lembrava mais e que provo- team como ura meméria involunttia, e voce & deslocal, Je repente, pela lembranga de um pedago perdido da tua vida, ‘Canges ds velhoscaravais;cangées de protest, de tua época dig estudante; cantigas de roda, das brineaderas infants; ean Bes de amor, eangBes de guerra.. De repeate, o mundo & repovoado por essa camada sonora que o acompana meio sem. se perceber, meio naturalmente, como 0 calor do verio e a5 cores fortes do més de maio, Com a descriglo detalhada de todos 0s tipos, motives, e modas das cangées, desde as mais antigas — de trabalho ¢ de devogio — as mais ecentes, que vyacé acaba de ouvir no eio do caro, 0 texto nos passa ess sensagio: alm dos eatros, dos outdoors, das devores e dos passarinhos, vivemos, desde sempre, cercados de canes. ss uma sensagso nova surpreendente, porque nossa relagio imediata com as cangées, até porque elas sempre esti- veram af, nfo & com algo de fora — ums objeto — mas com partes nossas — partes muito especiai, qu tem uma existe cia fisien pouco clara ao lado desse seu carster memor afetivo, Os afetos existe no tempo, como a musica, e tem | J mm fivro que dé vontade de canta. Voc8 vai lendo e © po passa, nfo hi como pelo, estanei-lo. Hi, sim. As ca {es seriam uma das formas privilewiadas de fazer isso. Blas uardam blocos de tempo, de meniria, E com seu Formato ar, de eterno retorn, voamn sempre esgatando a carga emo perceber, da vem ‘seu poder — na época em que as ouvfamos ou eankvamios. Quando uma eangio nos volta & mete, nesse mod ca moe~ Gri involuntéria —- nota que involuntirio também ouvi-la sem pedir ou ler sua Tetra nas piginas que seguem —. ela ta como st paisagem, os tragos marcantes de nossa arguitetura afotiva daquele momento, Somos transportados para o ps saul, ao tal como era quando o viveros, mas tal como © afetiva com que as associivarnos— Daf a riqueza da utilizagio das eangdes como material reraputco, na musicoterapa, que €a questo da segunda par te do livro. Toda terapia &, de certo modo, reserever a nossa histria, As difculdades com que lidamos por no conseguir dr conta do que sentimos. pelos conflitos entre valores. 0 con- flito entre nassos ideas ea "realiads” que tomos que enfren- tar bloquetos em relaedo a expacos de experidneia ative, profissionais,expressivas et. todos aparecem como determi= nade modos de nos “contat” ou nos “cantar”. B o trabalho teraputico pode entio ser pensido como aprender & cantar novas cangGes, ou mais ainda, chegar a ouvir e cantar as mes- ‘mas cangdes que esto em nossa meméria mulando a carga afetiva com que as fixamo. eves, umn enorme © ici trabalho: um tabalho de inérprete, quando “interpre tar" seré mudar um andamento, um clima, um modo de dizer (os gestos atitude, que » acompantam, como lembram | autores, citando Luiz Tati), levanda junto uma arguitetura de nossa vida, de nossos afetos, ossos modos de sentir. (Os relatos dos pro tics desta segunda ‘parte mio seriam to mareantes, no entanto, sem a viagem que Ronaldo Millecco, Luts AntOnio Millecco © Maria Regina Brando nos impelem a fazer ao longo de “O Cantar Huma no", primeira parte. Essa viagem aponta,tamiém, a impor= tncia que te» para © musicoterapeuta poder habit w mun lo cultural em que vive (ouve ¢ canta) seu pacieate, com conhecimento da riqueza e variedade de elementos musi { postico-musicais) 0 mais vasto passivel. Mostra como & cessrio mergulhar neste universo,e, como dominio desta gia de diversidade, aproximar-se de umn tempo imemoral. ou "pas sado puro” que, coma mostra Proust seria Fonte de possibi- lidude das experiéneias do passado ou da memiria. De outro modo, como ser cap de influ na mudanga do pasado ov da meméria de sew paciente? Proust aponta que ‘este “pasado puro” tera na literatura e na mésiea sta mora pellets, Madar nosso passado — e nosso futuro — como pretende o trabalho terspgutico, aprende com essa possibilida de da memria de um tempo que nunca foi vivido, um “erst de tempo", de que nos falam as eangbes anes que as fixes abitrariamente 1 um momento de nosks vidas COMENTARIO DOS AUTORES temos uina preacupcio central: quas as Fungéestera- ‘puticas do canto? Em que medida fala ele das neces ddades ¢ conflitos humanes? De que manera pode © musicote- rapeuta servr-se dele como instrumento de trabalho? A esse propésito,levantamos uma série de reflexdes © quests. ‘A necessidade de eriar cultura; a arte como expressio da immense simbslica; 0 choro ea vocalizagdo como primeiras Imanifestagies, anecedendo a aguisigio de Tinguagem; o care to.como linguagem primitiva; 38 cangées presentes na inf cia, no folclore, no trabalho, nas reigiGes, nas festas popu res, na politica e a histtia. Sio estes os diversos caminhos ‘por nés pereorrdos na reflexo sobre aimportineia do cant Inumano. O Canto & a linia de eostura que uni os retalhos desta cola de assuntos, Alguns pontos mereceram um espa ‘¢0 maior, decorrente da importincia que acreditamos terem ‘olerapia: uma pequena hist6ria do canto, os ‘anges infants, as cangdes folelicas, as can {ges carmavalescise os cantos como inervensdo politica, fo Fam assuntos mais deseavolvidos, "No campo da Musicoterapia, ambgm encontramos alguns caminhos que caracterizam 0 trabalho singular de cada terapeuta, Independe da fina tedriea de eada um a perspect va de que o Canto & um elemento terapéutico de grande Valor eoncepgio comm todos. Finalmente, reffetindo sobre noss experigneia elinica, propomos algumas fungdes terapéuticas so canto D=: primeira passos de nossas aividades eines, PRIMEIRA PARTE O CANTAR HUMANO O HOMEM COMO CRIADOR “A arte émecessiria para que o homem se tore capa: de conkecere mudar 0 mundo Mas carte tambim énecessiria fem virtde da magia ‘que the é inerente.” Eynest Fischer ‘© inicio era o caos eo som, Um mundo inegito inte _gava o homem, monido dos sentdos e da inteligénca, Partindo da percepeio descontinus, © homem comeyou 4 ctr ordenagdes, mitologiase rtuais, que aplacassem um pouco a sua incompreensto e desproteyo frente & natureza que orao acalentava, rao aterrorizava, Criando seus simbo- los, pOde expressar valores e intezpretar a retlidade Vivida. O universo fisico e simibélico jf inerente a nés genha nova di 'mensdo, € como seres humanes,tornamo-nos animals um tan (omais sofisticados Na mitologia grega, Prometew rouba o fogo dos deuses para di-lo aos mortals, da originando a eiviizagio e 0 ato criador. Pudemos, assim, tansformar a matéia,o alimento, © pensamento, o sentimento, a cultura. Na mitologia judai- co-ctists, Adio © Eva provam o fruto da drvore do Bem edo Mal, do conhecimento, desencadeando a aurora da conscin- ia humana. A linguagem, o mito, a arte, a rligifo, esto 4 Erneceo corn presents em todas as cuturas hnmanas de todos os tempos. Isso permite o intercimbio e « registro de experiéncias, & ‘expressi de sentimentos, deslizamento ea complexiticagi0 da coltur cantador no escolhe 0 seu cantar tanta & mundo que v8 {0 Cantador —Dory Cayman e Nelson Motta) ‘mew exminho pelo mando fu meno trapo ‘a Bahia ja me dew régua e compasto {AqueleAbrago — Gilberto Gi) 0 ato criador € um ato de ruptura, de mergutho no ca0s em busca de um forma, Criar 6 um at individual e coletivo. Diz-nos Helio Pellegrino que o artisia sonha de novo o sew sonho, quando o exprime e, assim, consegue iransformd-lo ‘em canto geral(..) Arte & sonho compartithado, comunica- do, dialégico.! ‘O coletivo gesta a idéia eo artista parteja a obra. A cultura «405 referencias, os instrumentos materiaise simbélicos que 6 artista uliliza para eriar seu camino © orientar 0 ness. ‘Movimento dialético de mtua iniuéncia. Segundo Freud, ‘umente grap é capac depen evitivo no campo da intel iinet, come & dewenstrado,acima de tudo, pela prépria 1 como pelo foltore,pelascanpBes popula is semelhntes, Permanece questzo aberta, Tingnagen bo "Paria, 1968, p52 Orne coo eancon 5 até dso, saber 0 quanto 0 pensador ono escrito indi ‘dualmente,devem ao estinulo do grupo em que vvem,e se eles nao fazem mais do que aperfeioar um tabatho mental ‘em que o« outro vera parte sinatinea® Por sua vez Jung, estudando os arguétipose oinconsciente coletvo, fala da dindmiea dessas forgas influindo de maneit \ecisiva em todos os movimentos inconssientes da hurmanida- Ae, principalmente na eriatividade humana.? um Famento, um canto mais puro ‘que me iamina a casa escura E minha orga, é nossa energie que vem de longe para nos fazer companhia (Maga — Milton Nascimento Fernando Brant) mas se eu tro do lament ‘our vida vai nascer (Outubro — Milton Nascimento e Femando Bruns) Segundo Mirio de Andrade, os elementos formas da m= sea, 0 Som e © Ritmo, so to velhos como o homem, por ‘starem presentes nele mesmo, nos movimentos do corago, ho simples ato de respira, no caminhar, nas mos que pereu- fem ena voz que produ 0 soni. Quando a homem se percebe ‘como um insttumento, como um corpo sonora, ¢descobre que estes sons podem ser organizados, nasce a misica, Comega, ele, ento, a manef-los, ombini-los, convertendo-os em ma- \cria nova, em um fantistico vefeula expressive. | "eeud 1980192, 0 6 Erman con o compositor me disse (que eu cantasse dsraidamente esta cangao que en cantasse como se 0 veto soprasse pela boca vindo do pulmo fe queen fens w lado pra excatar {venta jorrando as paras pelo ar (0 compositor me disse — Gilbert Gil) de compor una cancdo ra mim fo to devespeadamente necesrio (Woite de Hotel — Castano Veloso) ‘Darwin rlacionava as principals FangSes da misica ns so- ciedades primitivas, a celobragdes rtuais de sexo e fertiida- {de-O canto seria um dos atrativos com vistas ao acasalamento, ‘fla sugiia mais tarde, como um desenvolvimento da “ine fuagem sexual", aplicads i comunicago entre as pessoas. Garcia-Roza, ein seu liv “Palavrae Verdade”, investiga a corigem da palavra, Recorre a Nievsche, quearibu a oigem da poesia os eantos magico ereligiosos, que teriam por objetivo; consranger tanto a iia dos denses, como ds homens, “am0- Jecendo-os" pelacadéneia do cant. A palavra eantada tina um carter rival, o que a distingua da palava esr. 'As opnides sobre a origem do canto, podem ser polémicas, as vezes até divergentes. Mas, seja para exorcizar temores, ‘como linguagem sexual, ou como parte dos sts litigicos, 0 fato éqve, desde muito cedo, a organizagio humana se wiliza dlo cao, da expresso vocal, criando novos universos € ex- pandindo sua comonicag. A IMPORTANCIA DO CANTAR eu preparo uma congo em que minha mie se reonbega Ider ar mes se recomhegam que fale com doe otha) ‘eu prepare uma cao (qe Joga acondar os homens ‘eadormecer as criangas (Congo Amiga — Carlos Drunwond de Andre « Milton Nascimento) ‘manidade como um tod, quando nascemos ¢ nos fan- ‘vamos 2 aventura de exist. A ontogénese repete afi enese. Helio Pellegrino dizia que o ser humano & o ser para 0 qual 0 mundo, tal como extd, nda basta’. Somos 4 Tinie espécie que nasce prematura, recortada do Cosmo, So nos um corte, para cujo preenchimento no temos equi nos instntives. Viversos, assim, uma experincia de sda insuficigneia biol6gico-ontoldgica, Nos vemos mer- rrlhados em vertiginosas e explosivas excitagdes internas & lextemas, sem condigdes de decifri-as, Temos uma percep- ‘vin descontinua do Muxo de estimlos e vivemos etivades T ‘dos nés atravessumos um carninho similar ao da hu e Eneces can de angistia nesta Fragmentadainiciagdo vital. Expressamos 10 desconforto,dilatando os polmdes e chorando: nosso pri- ‘O alimento nos chega ¢ experienciamos o primeiro gozo, {que faz da boea a primeira zona er6gena. O enlace amoreso tne/bebé 6 0 chio que vai permit o desenvolvimento emo~ ‘onal, 6 “holding” que resgata, povisoriamente, a unidade ‘tering E pelo prinelpio de prazer que vivemos nossa pre~ maturidade cultural. Deparamos comt um oceano sonoro: ru- fos, siléncios, sons vocais, melodias da linguagem, seqién- cia sftmicas, variagbes tematicas,tensbes © espessuras s0- horas, pausas ¢ intervals, Estamos no meio de um movi mento sinfOnico e, Bos poucos, aprendemos a interagir com ‘le. Balbuciamos, brineamos com silabas, choramos por ne- tessidades ou artificios. & pela mifsica que comegamos decifrar 0 mundo. ‘Conforme se observa, se & verdade que temos que nos deparar com todas as perplexidades relativas 2 evolugao hu- mana, também & certo que dispomos de um vasto potencial para o enfrentamento dessus perplexidades. Aqui, 0 raclo- hal ¢ 0 irracional se unem ¢ se completam, © desse casa: fnento surge de maneira exuberante, uma nova maneira de texpressar orto e a musica, j existent, por exemplo, nos péssaros por isso uma forca me leva a cantar por isso esa forga extranha Dor isso que en canto. ndo pose parar por sto essa vo: tananha (Force Evtranka— Caetano Veloso) José Miguel Wisnik nos instiga @ pensar mais profunda- mente na presenga da misica em nossos primi: ano erianga ainda no aprendew a felar mas jd perce. ‘eu que alinguagem significa, a vor da mde, com suas mel dias seus toques & pura misica, ow &aguilo que depois ‘ontinuaremos para sempre a our a msc: ua ing sem onde se percebe o horizone de ume sentido que no en ‘unto ndo se disrimina em siqnosiolados, mas gue 36 se Inui como ma globalidade em perpétuo recuo,ndo-verbl, Intraducivel, mas, sua manera, transparente A musica vi Vida enguanto habit, tenda que queremos amar ow redoma ‘em que preciso far canta er surdina ou com esridénca ‘yor da mde, envelope sonoro que foi uma ve: (por todas) limprescindivel para a erianca que se constitu! como algo paras, coma “self Exist um fendmeno intriganteconhecide por Cans de Ur, home dado a'um tipo fundamental de melodia, cantada por criangas em todo o mundo, independente da cultura aque per- tencem, De dezoito meses dois anos e meio de idade, a8 ct ancascantum espontancamente fragmentos mel6dieos com tervalos de segunda, terga menor e terga maior. Até os ts anos, passam a incluirintevalos de quartae de quinta, © 8 partie daf, comegam a ser influenciadas pelo estilo musical particular da prépria cultura. Segundo Leonard Bernstein, a Cangio de Ur seria um padedo arquetipico®. Este fenomeno parece representa um importante elemento no processo psi- colégico de desenvolvimento, demonstrando uma possivel ‘elagdo entre ox processos mentais eo fluxo natural da cons- cigneia tonal Tame, 1984, p. 251, 10 Erncces eae Cantar mover o dom do fund de 0a pao edict (es pedras,eatedrais,coragdo (Seducir ~ Djavan) yor dealguém (quando vem do coragto de quem detm toda beleca de natures ‘onde nao hi pecado nen penldo (Alguém Cantando — Cavtano Veloso) Asserelas,encantando fatalmente os aventareiros do mar, sig entidades miticas com corpo de mulher ¢rabo de peixe, ‘que t2m no canto sew maior pode. Dizem as lendas que aquele ‘que ouve sev canto, & de tal forma sedizido, que se v8 con- ddenado a morrer no mar procarando encontri-la. Da mesma forma fara, a mie-"égus,atrasta os Indios para 0 funda dos ros © lagos, com sua beleza seu eanto mavioso © canto tomo sedugio, como feitigo fata, nos fala de uma de suas facetas. Podemos fazer uma analogia destesmitos com ain gem que obebé tem, quando étomado nos bragos pela me © tembalado por um acalanto, fazendo com que se entregue & teste encinlamento, a este arrebatamento, até mergulhar no mundo dos sonhos, “morrendo” temporariamente de seu es- tado de vigflia, Sobre aclantos, voltaremos falar en outro ‘Os hindus dos tempos antigosafirmavam que o canto era a primeira arte! Arte primeira, expresso primitiva onto & Pr Ka, 1978 filogenética, Do choro ao canto cultural, uma Tonga estrada sonora. Cantando, criamos ordenages no espagaitempa, pro- Jetamo-nos combinando nota, expressamos 0 que sents e ‘© que sabemos sobre o sentimento humana. Nossos somos, utopias € desventura, sio compartithados. Através do canto, resgatamos a unidade,o teritio analdgico, a inensidade do viver. Criando 0 nosso canto, interFerimos na “sinfonia”,ex- pressando nossa experincia e espethando 0 mundo. At que Ponto o nosso futuro cantar nos vai remeter esta intensidade, sexta prevalncia do prazer? Nao serio canto, em muitas de suas manifestagdes, ume forma de resgate da unidade imagi- nisi erecostura ag Cosmo? PEQUENA HISTORIA DO CANTO sejam falas como ex serdo bonitas, nao importa ‘to bonitas as cangaes ‘mesmo miserveis ox poctas ‘a seus versas sero bons, (Choro Bando — Chico Buarque ¢ Edu Lobo) ese os longinquos tempos da pré-histéria, © homem fo desenvolvendo a comunicagio com seus semelhan- tes através da mimica eda fala, tendo na voro pit ro instrumento capaz de emitir sons, Mario de Andrade nos fala da relago do homem primitivo com os sons produzidos pelo defo vocal, que se distinguem em sons orais ¢ sons 0s sons ovaiseriaraye as palavra convencionais das lin _guagens que a ineigéncia compreendiainediatamente, Os “tos musics eriaram as melodia rimicas que o corpa com: preendia inedltamente [Embora respeitemos 0 valor diditico dessa opinifo, ere= ‘mos diffe o estabelecimento de ur limite rigido entre as oni Woe p13, ‘gens da mimica © da fala, da rnsien © da poesia. Quer nos parecer que o homem pode ter wnidoinstintivamente misica & palavra, prazere intlecto,integrando 0s sons vocals. rova- ‘velmente € a partir daf que o canto se faz presente nas mais cliversascultaras, e sua fun social tem se transformado junto ‘com a historia 3.1. Do Periooo Prmirivo aos ‘Teupos po BaRROCO todo dia sol leva ‘a0 sa de todo dia (Canto do pore de alg lugar — Caetano Veloso) ‘A msica dos primitives se caracterizaria pela repetigo ‘em unssono, geralmente coral, de motivosrimico-melédices Raramente apareceriam pequenas polifonias, com movinmen= tos paraleos de quarta ede quinta, no que Mii de Andrade haa de intuigda instintiva dos sons harmdnicos." Para Con- vig Rezende, estes rudimentos de polifonia vio aparceer ro fim da Tdade Média"®.\ Na antigiidude ocorte o descobrimento da msi. As civilizagies desenvolvem a Arte Musical: uma eriagdo social com fungio estéica, dotada de elementos fixos, for- mas regres — uma téenica,enfim'. Sabemos da presenga {do cantomnas mais antigas civilizagdes. Os sumérios, os caldeus tia, 78 Rs, 1957, p. 2. equa aru bo caro s 08 assrios, hi uns seis mil anos, na Mesopotinia, ja pos: sam um método de letura musical ese utlizavam de inst 'mentos para acompanhar seus cinticos. Na Grécia surgiram cantores ambulantes, os Rapsodos, que se acompanhavam na lira de quato cordas, dando origem a0 Lirismo, unio de poemas. melodias e danga. No Lirismo Co- ‘a, Ditirambo, celebravam as aventuras de Dionsio, protetor da Arto Sonora. Originam-se dat, a Tragéia e a Comédia, Os cantos usados no Teatro Grego ou fora dele, eram sempre ondicos. Segundo a Biblia, Moisés, ap6s cruzar 0 Mar Vermelho com os hebreus, reuniu-os para entoar um clntico de agra- ‘decimento a Devs, onde cada frase musical era respondida pelos demas. Isto. mais tarde, ficou conhecido como "Can- 1 Antifénica”, Com 0 inicio do Cristianismo, hoave wma ‘grande mudanga na musica. Nao obstante a “mensagem ds ressurteigio", que por si s6 seria um cintico de alegtia, 0 que de fato marcou os primeiros tempos da cristandade foi 8 cruz, 0 sacrificio’ Assim, a trdgiea morte de Cristo fez com que as ceriménias eligiosas trocassem o ritmo ea sen: salidade musical, pr um tom nostilgicoe solene. A cons- iencia, que até entio era mais coletiva, comega a ser subs- tituida por uma consciéncia individval, A mésiea mais ritmada, que coletivizava Facilmente 0s seres com suas dinamogenias muito fortes, & substtufda pelos eantos me ldiosos. Recorreu-seentio aos cnticos hebraicos, retrando x instrumentos acompankantes ¢ o eromatismo “sensual” ‘A misica adquiria uma forma exclusivamente vocal € monédica, Durante a Idade Média, o canto coral ganha impulso. No séeulo VI, 0 Papa Gregorio Magno desenvolve o que ficou cconhecide como "Canto Gregorian ‘os Figis cantam em unfssono estebilhos voeais, de Forma 6 Ecco cue ‘monddica, Com 0 desenvolvimento das escolas de canto co- ral, surgem o contracanto de quartas ou quintas paraelas, e 4 polifonia, que é a combinagia de vérias melodias simul- tineas. Nos primeitos dez séculos, predominou a musica religiosa sem acompanhamento instrumental. A voz huma- 1a foo instrumento soberano e nesse longo perfodo a pals vra miisica pouco mais era do que sindnimo de canto, A. superagio da ineuridade do Canto Gregoriano e da modes- tu polifonia crista, abre espago para a evolugio da misica ‘rofana vocal e instrumental, Surgem o “Conducta” (canto ‘88s vores, com ritmo e texto diferentes) e 0 “CAnone” (a mestna melodia, repetia por todas as vozes, cada uma “ata ‘canda” por sua vez). Palestrina, s6 com recursos da voz. humana, eri obras sublimes que tornaran-se modelo para ‘as composigdes sucras. A misieae a palavra— & capela— formavam um todo perfeto, numa simplicidade crstaina e ‘majestosa, levando a polifonia catdica ao seu apogeu. Vale nolar que © desenvolvimento da polifonia coincide com a cevolugio da liberdade de expresso do pensamento, ou seja, do dislogo. © longo perfodo de poder supremo da Ipreja, com seus bu- sos. distorgdes, omega ser superado a partido século XVI, com 0 descontentamento popular e ume grande crise interna Surge a Reforma e, com ela, uma cosrente musical propria que cculiminou no Coral Protestant, onde os motives musicals po- pulares foram amplamente utilizados. Sone gue eu eraum di um trovador dor velhos tempos que no voltam mals ‘antava asi a toda hora ‘ar mci lindas mods. (0 Trovador — Jair Amorim e Bvaldo Gouveia) Pou ysrons 20 ” deixa cantar de novo bo trovador A merenedra as da tua toda cangdo do mew amor. (Aquarela do Brasil Ary Barroso) avi, desde ha muito, na Europa Continental, uma espé- vie de cantadores estraderos. Bram os Histides, tocadores de istumentos populares. José Ramos Tiahorio nos diz que a partir da Idade Média 0 Canto Coral se refugia nas igrejas, ‘enquanto os vthos cantos coletivas de eardter profano cami- hhavaim para a Cant, em processo de eriagdo por jograis, Imenestréi etrovadores, desde o sécuto XI ‘A Cangio, desenvolvida e aprimorada no século XVI, ‘crt um tipo de misiea erudita, de inspirago popular, asso ciando poesia © canto. A “Chanson francesa baseava-se no lirismo grego e nos eantores trovadorescos. Na lila, as anges foram denominadas "Madrigais” e eram compos- lus de varias vozes, Na Alemanha, o “Lied” era uma cangio pra piano e canto, sendo escolhidos textos dos mais con- sagrados poeta. ‘As transformagdes s6cio-econdmicas da Europa, deram, corigem a burguesia mercantilista e, com ela, a figura do que investe em arte e no artista. O aparecimento «da harmonia, que abriv espayo para a misica barroca, ¢ a retomada do" rego mela gio), antecessor da pera. O Barroco cxion um efeito decorative, enfeitador da expressia stistca. Os cantadores passam a rebuscar as melodias com vocalizagbes, trinados eimpostagdes voeais diversas. A 6pe- "S197, p38, 18 Ermecno can de origem italiana, difunde-se pela Europa, através de seus grandes compositorese cantores, eternizando esse estilo de cantar, em espeticulos draméticos ou eémicos. Do canto primitivo a0 barroco, o canto ocidental desenvolyeu-se te- rica teenicamente, chegando a um nivel alissimo de so- fisticagao. 3.2. Corontzacho: © ENCONTRO bas ETRIAS Ax sevas te deram na noite seus vtmos barbaros os negros rouseram de longe resersas de pranto cas brancosfalaram de anor ‘m-suas cangaes ‘dessa mistura de voces (Canta Brast — David Naser e Aeyr Pres Vermetho) [A partir do final do século XV, 0 Vetho Mundo ganar os ‘mares, “descobrindo” novas terra, acreditando serem “Edens perdidos” prontos para serem ocupados ¢ explorados, passan- 4o, assim a terem diteito a partcipar do “Mundo Civilizad’ Grandes expedigaes levaram os aes do Renascimento para 0 Novo Mundo. © movimento expansionista europe, a0 che- gar is Américas, encontra populagdes indigenas com ses va lores muito singulares e seus ritmos berbatos £0 processo de colonizagéo do Brasil iniciado pelos padres Jesuits, teve como arma mais poderosa aatragdo de seus hi nose canios, tomando possivel a obra de eatequese dos ind _genas. Bstes hinos eram aprendidos eentoads pelos indios, © ‘se contrapunham aos seus cantos e danas de carter migico. ‘A ceagio 3 colonizago se deu quando 6 trabalho organizado Pron eros 00 caro » na lavoura foi exigido, pois os indios no compreenian & Jorma de divisie e os moldes comerciis do trabalho." Rubras cascates jorravam des costas das santos ‘one canose chibats inundando 0 cova do pessoal do porta ‘que a exenplo do fetccims (Mestre-Sala dos Mares — Aldi Blanc ¢ Jno Bosco} ‘Ao arrastarem da Africa enormes contingentes de povos, som perceber, os europeus estavam abrindo espago para maior revolugao da histria da msica ocidenta, que explodi- ria alguns séculos mais tarde. O europeu reencontrava assim, © canto primtivo, natural espontineo, com enorme Varied le de emissdes voeas, das Américas eda Attica. Mas sat «sveinocéntica de dominador enxergava apenas uma manifes- lugto exdtica e atrasada culturalmente. Ji © negro € 0 dio, ‘camo tempo, tiveram aeesso ao conhecimento musical desen- volvido e acumulado pelo branco,enriquecendo seus batugues, seus cantos “bisbaros e migicns No Brasil. a troea de informagoes cultrais ent as vias “nagies" de negras e os heterogéneas grupos da Peninsula Istiea, portugueses em maior mero e espanéis, precisava de tempo para se efetivar.& Igreja Catliea eve um papel mportante neste intercimbio, criando varias oportunidudes para um relativamente live exercicio das eriagdes eulturais ‘lo negro, transformando as procisses em um verdadeiro tea- tio ambalante. Podemos encontrar ainda hoje, um grande nero de fests easlico-pagas no calendiro folelérico. Como Ce Tinto, 1972 2» Emeose cman ‘exemple, podemos citar os Reisados, a Festa do Divino Espi- Fito Santo e a Lavagem do Bontim, A nigesa ésenora Desde que o nba & smba €assin A lgrina clara sobre a pee escura A noite, a chuva gue cali fora Solidao apavera Td demorando em ser 0 rim Mas alguna cova acomece ‘No quando agora em mioe Cantando en wanda tristan embora (Desde que o samba é samba — Caetano Veloso) © canto vigoroso ou chorado, 2 danga e os rituais religion ‘0s, significaram. para muitos negros, a sobrevivéncia ao ban- 20, a0 t6dlo, Seus descendents, negros e mestigos filhos de cescravos, passaram a assimilar os habitos musicais dos bean 0s, criando isicas ¢ estilos musicais que marearam uma roptura generalizada em regio & misica européia que impe- ou até 0 século XIX, ‘A artculagio lund-maxixe-samba, a partir do final do sé «elo passado, € comentada por Muniz Sodré" como rudimen- todo processo de sintese urbana das diversas expresses mu- sicais na formagio social brasileira. Em contraposigdo a mis- a operistica,valsas ¢ modinhas da elt, o batuque e suas de- rivagdes tomaram progressivamente as rua, em estas popu- lares ao ar livee. O jazz e 0 blues, nascidos nos campos de algodio, as margens do Rio Mississipi foram o dessa emi tido pelo negro para suport a dureza do trabalho © 9 exlio otgado em que vivia. O blues & truto do easamento do grito eseravo com a harmonia européi, Fee 9, ‘Um dos aspectos mais interessantes dessa unio, foo es- surgimento da voz natural, do espontineo e da variedade das temisses voeais. Outro aspecto interessante da unito, 6 a ntegragdo compo-misica a interdependéncia da musica com a dlanga, a ginga, 0 requebrado, 0 swing, o ritmo sensual, So rites 6 frutos que hoje podemos cole, originérios dessa ‘unio. Os cantos indfgenas e espantbis deram origem as ean- bes da América Latina: :eaba, chacareta, milonga, cancién, tre outs, 3.3. Os Canrones & Canronas bo RADIO [és somos ox cantoes do rio levamas a vide a cantar de noite emblems teu sono dle mana nds vamos te acordar (Cantores do Rado ~ Lamartine Bab, ota de Barr & Alberto Roberti ‘0 surgimento do ridio, nos anos vinte, propiciow, prinei- pralmente na dcada de trinta, o aparecimento dos itéxpre- tes, Com eles, modificase 0 fazer musical, ressurge 0 Ro- nants eurepen eé retomada a misca receptive, para usar oy aexpressio de Roland Barthes! Esta, em contraposi 1 misien muscular, realizada e vivida pelo pove, era apenas ‘executada por um grupo de “luminados", Daf por diane, a «les eompetiti “interpretar” os sentimentos da “massa”, Essa realidad é, na époce, bem caracterizada pelo nivel de segun- tl plano a que eram reduzidos 0s compositores. Aparecesse, por exempfo, uma valsa de sucesso cantada por Orlando Sil ‘va, Silvio Caldas ou Carlos Galhardo, ¢ ninguém guardaria Bas, 990 2 rea can 1s nomes dos autores dessas musica, Eas eram apenas men tama (orga Kstranha — Caetano Veloso) Talvez seja o canto, uma das mais antigas maneiras do hhomem entrar em contato com o transeendente, com as for- ss divinizadas da natureza, com a iia de um ser supremo. AAs cangies e dancas indfgenas, os cantos Gregorianos, 0s ‘mantras, & Iadainhas, os spiriuats, os “pontos” de tereizo, as inceléncas, enfim, as evocagses religiosas, funcionam como um canal de comunicagdo entre eéu e terra, entre ho- mem e Deus. 0 Pajé amerindio, seguindo uma tradigdo absoluamente universal, ndo age ser cantoria. Mario de Andrade™ nos mostra como misicae feitigaria so inseparaveis, numa parce ria instntivae necessria, tendo na forga hipnética ecatirtica, lum grande poder de atuago sobre o fisico, entorpecendo & Jevando tanto a estados de leagia, como a estados de fii, ‘© acompanhamento musical na vida eligisa do Candom- bié e da Umbanda, fornece estimulos sonoros aos diferentes Fitna, funeionando, sobretudo, como verdadeira sustenta- ‘¢io do culo, podendo-se afi que alituepia dos tereiros musical. Os conhecimentos sobre as objetivas do.camar ea forma de ulizagio dos instrumentos musicals, denotam pres- io acesso ds questdes fundamentais da religito. Pode- Bane, 1985, p45, ‘A cwamsois 99 ck ” uma seqiéneta de — Canto de abertura dos tabathos e, as vezes, algumas oragies; — Defurnago; — Saudagio; — “Pontos” cantados de descida — acompanhados por stabaques ou palmas — para a primeira Linha que vai traba- Ihr. Os médiuns, tomados por suas enidades, rocam sauda- Ges entre s,cantam, dangam e comegam a dar consulas; — "Pontos" cantados de subida para os esprit da “lina que aeaba de trabalhar, Imediatamente chama-se outra “falange”,e assim sucessivamentes swdagio final: como no inicio, canto de encerramento © orages. Santo Agostino explcava que as vocalizagdesalelufsticas Ufo canto Gregoriano, sio momentos em que a alma, iberta de suas prisbes terrestes, secolocava cantando sem palavtas, sem ‘eonscigncia, em conta diteto com o Senior. ‘A mtsica no Orient, sempre foi entendida como parte da religo e assim foi preservada por milhares de anos, através da tradigto, 0 Som Fundamental, 90M, “Vibrago Divina”, poss cle- ‘mentos de ordm celestial que governave o universe ineiro, ‘ssi como 0 som primordial, mantinkaa onde ea hare ‘mona da cfu, «som audivel cm sua forma masice, rans ita won retro dest order na Terra (Memorlal da Misica ChinesaP®, Seg, 96, 9.40 50 Erncorocnman Sogundo C. Fregiman, os mantis perteneem ao reino do nio-pensamento, e so evocadorese assimilucores das Forgas universais de que sd sfmbolos. O eanto desenvolve a respira ‘io, aumentando a oxigenaeio do esrebro e, por conseguinte, Jevando a um particular estado de consciéncia chamado Su pra-Conscient, ‘A utilizasio litingica da masicae do canto se faz presente, enfim, em todos os povos eivlizagbes,sendo esta uma for. ma do humano resgatar a unidade c6smice, 0 sentimento de pettinéacia com o Todo. Por outro lado, achamos que 6 canto com leita, talvex mais ‘adequado aos ocidenais, provoea, com o préprio significado de suas palavras, o mesmo estado de comune com &“divin- dade”, podendo mesmo chegar ao &xtase aque se refere Santo Agostinho jf por nds citado, 4.4, Canto CaRnavatesco A mais impressionanteeatarse social que conhecemos em hossa cultura acontece no eamaval. Podemos encontrar, nas diversas culturas que habtam 0 treitério brasileiro, variadas| formas deste festeo. Mas o carnaval tem origens muito anti- £2, Suas rafzes esto ligadas 8 agriculturs, Pensando que ofa da histria & como uo longa serpentina Joga no tempo, um dos extremos do earmeral pode estar ‘na antigidadeegipciae outro em noses dias. Entre os dois, tum universe de histiriaa® Jos6 Carlos Sebe inicia assim seu estudo sobre o carnaval e suas origens. Conta a lenda que Isis, jovem deusa protetora da Bee, 1988, p9 A swmican 0 cnn st natureza, no perfodo de planio,tomava-se provocantee sedu- ‘ora. Osfris, seu parceiro conquistado, teria dieito a gozar Porariamente, todos os prazeres presumives,saciando 0 mais ‘mimo de seus desejos, sendo sacrificado em) seguida por sua Amante, para que cessasse a turbuléncia dos dias de prazer, renascendo no ano seguinte para mais um period extrotdi- nro. Essa era a base mitol6giea da festa popular egipcia, onde ‘5 morta se euniam, cielicamente,rendendo gragas 3 vida, em brincadeiras,cantos e dangas, para que as sementes eres- cessem e 08 fruos fossem bors. rei mand cate dentro da folia EN vou eu.) Bu vow omar wn pore de felicidate Vow sacudi eu vow zoar toda cidade BW Bot Avis Li no Ext, festa de fis ER! Deus Bac, bebe sem mga oo! pensa que ese vinho € dgua? E primaverat Na lei de Roma, «alegria d que inpera (Pesta Prana —1. Brito eBujio) guns elementos que ainda hoje caraterizam o Carnaval precem ji estar presents na antigiidade. O tempo extraord 1ério, ou “tempo da alepria',rompendo a roti; 0 “go20” s0- cial e a liberagio de desejos antecedendo a “morte”; 0 cielo anval de um breve tempo de euforia © um longo periodo de resignapio (lecundidade egestagio). As festas Gregas e Romanas, também eram marcadas por uum tempo extrordinério de alteagio da ordem,destecalque e culto aos prazeres — fartura comida, bebedeira, dang, miisi- ce € liberagio sexual. Nas tradigdes mitoligicas ocidentai ‘também encontramos a nopo da terra como Femen fecundada 2 Erncass can e responsével pela vida, contrapondo-se «um ser maseulino, ‘um rei ou deus fecundador,cuja morte eneerraria operfodo de festa, mareando o inicio d fase de resignacio, reclhimento rmontificaso, “cinzas" que inicia a quaresma, (© Carnaval, também derivado das rafzes Orece-Romanas, permite 0 recurso analitico das suas doas Tinhas opostas: & ionisiaca © a apolinea. A linha dionisiaca, desarticuladora, nos remete& questo da inversdoabsoluta dos valores. linha apolinea, harmonizadora, nos diz. que o Carnaval seria uma ‘oportunidade de combinagio de valores sécio-cultrais. O) ‘Camaval, nto, remete a uma base residual mitol6gica, sendo ficil pereeber no Brasil as vas corrente. ‘Guardadas as diferengas regionals que caraterizam 0 Car- naval brasileiro, sua origem se dno sineretismo cultural, evo- Inindo, a partir do "Jogo de entrudo” e incomporando aspects te viriasfestas populares. Os Ranchos, os Blocos (de “indi- ("de “sujo", de revo ete), os bales, as Grandes Sociedades eas Escolas de Samba, io algumas das formas de orguniza- fo social 44.1. © Cantar Carnavalesco no Rio de Janeiro Se € nosso objetivo © levantamento de questies sabre © ‘cantar, o eamaval carioca nos oferece excelente oportunidade de refletir sobre 0 aunt ‘Até 1899, nfo havia propriamentecangbes de carnaval, Nos sales, a elite, brincando & meds européia,usava mscaras © ‘entoava a poled. Nas ruas 0 que havia era um amdgama de ritmos constituidos,além das poleas e valsas importadas, dos Tundus e chulas composts por brasileios. Ente 1870. 1880, sige 0 maxixe, primi estilo musicale rftmico urbano ge- ‘nuinamente brasileiro de carnaval. Causando perplexidude, 0 smaxixe era usado em bailes “menos familiares” Asmuaioeoe come a ‘Aos poucos porém, segundo Edigar de Alencar, 0 maxi- xe foi ganhando cidadania até chegar ao Teatro de Revista, fazendo sucesso inclusive em Paris, De inicio, tatava-se ape nas de uma danga, surgindo mais tae como composigao m- sical gragas a0 talento de Canina, Sinhd e Lamartine Babo, entre oviros. Voltando a0 fim do século pasado, surge CChiguinha Gonzaga. Ao reccher por parte do bloco Rosa de Ouro, encomenda de uma cangio camnavalesea para 0 desfile «daagremiago, em 1899, ela comps 0 seu antol6gico“O Abre- Als” O Abre-Alas (Que eu quero passar Bx sou da Lira Nao posso negar| O Abre-Alar ‘Que ex quero passar Rosa de Ouro E quem vai gahar Embora no nos euiba nesse trabalho um estudo mas pro- fundo sobre a vida de Chiguinha Gonzaga, ndo temos nenhu- sma divida quanto a sua posi pré-feminsta, ja que as las por ela travadas em favor do seu espago, comprovam estar, la, frente de sua époce. Ora, quis sto os primeiros versos de sua marcha para o camaval de 18992 OAbre-Alas Que en quer passa. SA Emcor con Recorte-se que estivamos a dez anos da Repiiblica ea 11 dda Aboliggo. Assim, perguntamos: no seria 0 °O Abre-Alas’ uma espécie de manifestacio inconsciente, da necessidade de se dar passagem 10 novo? Ascangdes carnavalescas, cantadas a longo do século XX, rmostram aspestos interessaies, Pademos, por exemplo, en- Ccontrar 0 espfito critico da realidade socal Voce conhece o pedriro Valdemar? Nao conhece ‘Mas vou the presentar De madrugada toa o trem da Circular Fac tanta casa no tem casa pra mora: (Pedreiro Valdemar — Roberto Martins © Wilson Barista) 1949 Quatre horas da mana Sal de casa 0 Zé Marmita Penduvado a porta do trem Zé Marita vai ever (Zé Marmita ~ Brasina e Luis Antoni) 1953 Ha quanto tempo ‘Nao tenho onde moran ‘Se chuva apanho chava ‘Se sol apa sol! Francamente Praviver nesta agonia ue preferia ter naseido earacol (Marcha do Caracol — Peter Pan e Afonso Teixsre) 1953 Algumas canes apontam contradigdes sociais, como po- brezafiqueza,lio/tuxo, que ficam temporariamente suspensos ou escamoteados durante 0 periodo carnavalesco: Acweamce to cman ss Sapato de pobre étamanco ‘Alnoge de pobre & caf, é café ‘Malirata o corpo como que: Porgue O pobre vive de einoso que é(.) (Sapato de Pobre — Luiz Antonio e Jota Jr) 1951 com ese queen vou Sambar até ear no chao com esse que eu vow Desabafar na muito Se ningué se aniar Ex vou quebrar mew taborie Mas sea tarma posiar Vi ser pra mim ‘Quero vero onca-ronea da ec Gente pobre, gente rica, Deputado ¢ Senador Ol quebre, quebra (Quero ver eabracha boa [No plano da patroa batucando: Ecomesse que eu vou! (com esse que eu vou— Pedro Caetano) 1953 elec Bono ow lata Formow a grande confusdo Qual arcana farefa Eo luo ea pobresa ‘No teu mundo de luo (,) (Ratose Urubis, larguem a minha fantasia — Betini, Glyvaldo, Zé Maria ¢ Osmar) 1989 A idéia de que 0 tempo extraordingrio do carnaval, de impérie do prazer, é gerador de culpa, ou possibilitaa fuga dde uma realidade eruel, aparece em eangbes de diferentes Epocas: 36 Ermeass onman Se épecade sambar A Deus eu peco perdo Bundo posse evitar A tentagio ‘Deum sanbe dolente ‘Que meve coma gente Fazendo endoidecer(..) (Se 4 Pecado Sambar — Manuel Santana) 1950 Bu chorarel aman Hoje x ndo possochorar din pra gente sofrer 0 oun pra desabafar Eu chorarei aman Hoje queen quero €sambar (Eu Chorarei Amanha— Rol Sampaio e v0 Santos) 1958 Chora depois Mas agora deiva sangrar Deiee 0 carnoval passa (..) (Deixa Sangrar— Caetano Veloso) 1977 (© aspecto libertno, de ruprara com a ordem habitual, ests presente em oatras tanta cangae: 6 porque cheguei em casa Pouco depois da hora Meu amor fchow a porta E me deisou de for Yow aproveta | a vou ear no samba ¢ me expalhar Se meu amor quiser Que eu volte ao mass lar Que venha me procurar.) (Depois da Hora — Arlndo Marques te Augusto Garces) 1948 A owasono 0 cnt 37 E hnje que eu vou me acabar ‘86 voltarei ‘Quando 0 dia clarear ood acka Que eu nd reno direto ‘Mas nd jit Hoje eu vou me acaba. Leva o ano trabalhando Prana the falar ‘Soon chefe de fafa Que ndo dina a dejar Mas voe® nao compreende Vive sempre a relamar é que ndo me enende “Hoje ew vou me acabar (Won me acabar ~ Corvlhinko ¢ Romeu Gentil) 1945 B hoje que en vow me acabar ‘Com chur sem chuva en vou pra Ud vo, eu vou pra lacarepagud Mulher é mato ¢ eu preciso me arrumar (Uacarepagud — Marino Pinto, Romeu e Paquito) 1949 Na tematica do aspecto libertno, destaca-s 0 culto&orgia. Plo menos até fins dos anos trnta efe & uma constante nas letras de carnaval: Quebrei a jure que fi. quebred En deixar a orgia Ere regenera. Orga, one Senpre foe sero meu ugar (Quebreia Jura — Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) 1938 se Enna cao Albrea janela formosa mulher Even dizer densa quem te dora ‘Apesarde e amar come sempre amet [Na hora da orga eu vowme entbora (Abre a Janela — Avindo Marques Jn € Roberto Robert) 1938 Se woe jurar| ‘Que me tem amor Eu posso me regenerar Mas separa fingin mulher ‘A orga assim ndo vou devear (Se Voeé Jurar — Ismael Silva e Niton Batista) 1931 © contetdo maticioso € um marco na histria de nossas ceangdes camavalescas, onde o duplo sentido & a caracteristica bisiea: Yes, nd temos banana Banana pra dare vender Banana menina Tem vitanina Banane engorda E fas crescer (es, Nos Temos Banana — Jot de Baro € ‘Alberta Ribeiro) 1938 Empurra.empurra, enpurra Enpurra a earrocinhe ‘Avanea minha gente Que. pipoca vd quentinha (Marcha da Pipoca — Luis Bandeirae ‘Avednio de Carvatho) 1955 Acme 0 9 Mula Lanna Pra que tanta ambigao Fa logo a refrma esr Reparte ou coragdo ‘Reforma Agrdrla— Antonio Almeida e Epo Vina) 1965, ‘Outras vezes, a “ibertinagem” ou lberago sexta, apare ‘ce de forma expllcita: Séesnssoricando Todo mando Teva a vida no arame Sé-sassaricando Avi. 0 brotinha. ea madame 0 velko, na porta da Colombo Eum astombro Sasvaricanda. Quem ndo tm seu sassarico Sassarica mesmo 38 Porque xem sassaricar Esa vida é um ni (Sassaricando — Laic Antnio, ZE Mériae Oldemar) 1952 A tistiria da maga E pure fantasia ‘Mog gual aqua Popa tambeéin comia (Ufistria da Moga — Horo Lobo Milton de Oliveira 1954 ‘Meu amor me charou Pra facer um bib. 8 ‘Ben jsinhos no rem ‘A viagem ia em ‘Mar 0 guarde chegow Ea viagen acabou (Bigs — Sebariao Gomes, Paquito e Rome Gent) 1965 © Ermeso eae ‘O apeto a bebda aleodtica, para afogar as magoas ou pela coda de quventa 62 ‘cada de tintn 21, 27 ‘edicatva musical do ciate 91 rc conan eds asia do terapeuta 02 esi dos cantadores 23 ‘deseo inconciente 108 Ailogecorsigo mesmo 91 Ailogos micas 103, Ditambo 15 de peito 23,27 ramatizagz da anges 106 upto sentido 8 B ‘emboladas 24 nface 98 ‘cols de samba 52 pita erica da reaidade cial 4 cvocagoes eliiosas 48 experiment ou asclaga0 tire 92 F fazer musical 21 fextas eason pags 19 {eats gregas¢romanas $1 Festiva 29,30 folelore 36 Iolguedos 36,45 {oli do Divino 45,47 formas de lmbranga 82 frovoe 62 Fung canto 86 « esusidae oral 83 Grandes Soiedades 52 ait de guerra 68, 67 fgrapode Masicotroin 101, 102 u Hino Nacional Basle 72 hig 18,27, 67 ino dos elses 68 hinos acionis 68 histidas 17 ade Média 14,18 Ire Caen 19 incoscent coletivo 5 Inensigade expresivae omuaicativa 103 180 (iene mail) 87,111 a jee 20 jogo de entudo 52 jogos infantis 41,48 oven Gund 23 L Indias [Eanatne Babo 53 lapses 96 libra sexual 59 Lil Marlene 62 linguagem simbsica das “anges 9 tirsmo 15 lund aticano 28 ™ smadigas 17 mandala 44 Imanfestags vesilorporais 86 smantss 48, 30 marcas 63 9 rmarchtesancho 62 ‘narchinhos 62 rmanixe 53 treo tien 34 rmolodis da tinguagem 8 roti micas 35 tmeldrama 17 ritlogia judico cris 3 tmodiahas 20 isin da fala 86 sia do pacinte 87, 88 sins feigari 8 ‘sia em empos de guems 63 tmusiante 82 snisico-verbal 91,94, 99 rusiopsicoterapia 88 ‘usicotrapi 80,100, 106, 107. 108, 0 sousicoterapin para terciea ‘ia 100, N farisismo agremiatvo 68 arise pautico 68 ring cama por aca 9 ° ‘ocano sonora 8 onoysnene 7 Speras 22 ‘opercas 22 fra vol 13, ‘ouvir isin 81 plvea.camade 6 plestina 16 Polionia cts 16 “ponios” de eco 48 10 posta corpora 98 Preconeeito 60 preg 35 Primitivos Principal fungdo da mdsica 79 Pritcpio de homensase 91 Q Questontio de Cages Projtivas 88 R “iio imaginio™ 92 ranchos 52 rapoodes 1S reisados 47 Fenascimento 18 reprerentanerimbslco 33, Fitmosafo-brasileves 62 rock 28,29, 107 rock and mil 28 roypes 24 romantsme 21 s sambas 63 ‘Simbas-ereda 2 Sef 44.57 fervias 10 fete cskra 5 Sinn 53 ons wos #86 spirals 48 Sgimento do dio 21 sieing 2 r “Tao de Revista 53 Tea Grego 15 Genoa tivas com grupos de ‘exquioténicos 87 tempo exraoriniio 35 teaplaato-epresiva 80 timbre da vor 84,86, 98 toadas 24 tom 98 easton do ftir 102 “Topealistbo 29 v Unbands 48 v vale 20 varages de andament 98 ‘ibe da vor 86 vorda mde 87 or mana 85 or intimin 26 oneitio 28, 20 voreitdes 22,23, 24,27 x ates 24

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