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EEE Rosane Cardoso de Araujo A oe igdo é um elemento Psicolégico fundamental para quem vivencia a experiéncia musical e, sem duvida, o ele- mento que garapte a qualidade do envolvimento do individu nesse proceso: Mas 0 que é a motivacio para pritica ¢ aprendi- zagem musical? Como podemos intensiticé-la para melhorar nos. sas atividades cotidianas com a mtisica discorrer sobre essas questées, tratando, inicialmente, do conceito de motivagao e de alguns componentes que produzem e acom- panham esse processo no cotidiano. Na segunda parte do texto, sao consideradas algumas reflexdes acerca das possibilidades de intensificagéo e desenvolvimento do Processo motivacional para pratica e aprendizagem da miisica, por meio da abordagem de algumas teorias que sao referéncias para 0 estudo da motivacao. capitulo, busca-se O que é a motivacao para pratica, ensino e aprendizagem musical? Oquenoslevaaagir, sem diivida, saomotivosgeradosno contexto da nossa vida cotidiana. Os motivos, porsua vez, sejam de ordem subjetiva ou objetiva, colocam-nos em agao. Bzuneck (2001) explica que a motivacao pode ser aplicada para diferentes ativida- des humanas considerando a propria origem da palavra: motum' = motivo. Assim, nas palavras do autor, a motivagéo “é aquilo que move uma pessoa ou que a p6e em agao ou a faz mudar o curso” (p. 09). 1 De acordo com Bzuneck (2001, p. 09). 45 Nx 30 DE ARAIHO E DANILO RAMOS (ORGS) ROSANE CARDO’ (2006, p..04) sugere que © estudo Aen ; tivagao “referee 30 "ao", A energia seria 0 que Reon nn en eae intensa, persistente. Jia direcio, we “forga” da a en aum objetivo, isto 6, Umea on, jerminado fim."Assim, podem Reeve aos proce jor, est com o autor, ; para det mento orientado para d endo men Py 1¢ todo o envolvimento: do suj ice wr q do ou praticando, & desencadeado ef (eu Nett OU Dro, sssopsicokigicodirecionado para um fi UNECK, 2991) “ De acordo com Guimaraes e Bzuneck (2002), no am. biente escolar, a motivagdo tem sido vista como um elements essencial para o nivel do desempenho e co qualidade da apren. dizagem. Nesse sentido, os autores enfatizam a contribuicdo dos fatores intrinsecos nos processos de aprendizagem, explicando que a motivagao intrinseca é aquela que “melhor Tepresenta o potencial positivo da natureza humana” (GUIMARAES; Bzv. NECK, 2002, p. 01). Para Bzuneck e Guimaraes (2007, p. 415), “ter alunos intrinsecamente motivados No contexto escolar é um sonho acalentado por todo Professor que conhega a descrigio e as conseqiiéncias desse estado motivacional”, Muitos autores que se dedicaram ao estudo da moti- vacdo, como Deci e Ryan (2000), Bzuneck e Guimaraes (2007), Reeve (2006), dentre outros, observam que a dualidade entre os _ — dessas neces. tonomia, a necessidade de competéncia e a nece: cimento, Segundo Ryan e Deci (2000b), a satisfa sidades parece ser indispensavel para desenvolver a sensacao de bem-estar e de apoio para a concretizagao das tendéncias Naturais mento do organismo e sua integracao com o ambiente. Ao longo dos iiltimos anos, & medida que diversos es. tudos foram sendo realizados, 0s quais tiveram como focos as Pproposigdes da Teoria da Autodeterminacao, esta se expandiy em termos de amplitude e profundidade. Por meio do exame sistematico de um grande numero de processos e fendmenos, os pesquisadores tém apontado elementos substanciais que pos- para ocr sibilitam uma compreensao mais elaborada do crescimento da personalidade, seu bom funcionamento e bem-estar. A Teoria da Autodeterminagio é apresentada como uma macroteoria da motivacao e, no contexto educacional, vol- tase para compreender, explicar e propor estratégias favoraveis a promocio do interesse dos estudantes pela aprendizagem, con- siderando, de modo irrestrito, o valor da educacio e salientando a necessidade de confianca dos alunos nas proprias capacidades e atributos (GUIMARAES, 2003). Quatro miniteorias foram ela- boradas nesta perspectiva tedrica: Teoria das Necessidades Basicas, Teoria da Avaliagiio Cognition, Teoria da Orientagio de Causalidade e Teoria da Integragio Organismica, Ao longo dos tltimos anos, uma quinta miniteoria, chamada de Teoria Metacontetido (Goal Co™ tents Theory), tem buscado compreender as distingdes entre 0 objetivos intrinsecos e extrinsecos e seu impacto na motivagae © bem-estar. Seus Proponentes, Ryan e Deci (2002), destacam que 219 Set il RNR IY estut OS SOBRE MOTIVACKO E EMOGKO EM COGNIGKO MUSICAL cada teoria menor tem um foco especifico, 0 ¢ do examinadas as cinco de modo coordenad. amplo e complexo fendmeno que ue permite, quan- jo, a compreensao do 6a motivagdo humana. Neste capitulo, seré apresentada a Teoria d dades Basicas (TNB) - um breve rel essa orientagdo tedrica, A TNB las Necessi- ato de pesquisa empirica sob ri ca. assegura que sao trés as necessida- des basicas que propiciam motivacio intrinseca e formas autorre- guladas de motivacao extrinseca: a necessidade de autonomia, de competéncia e de pertencimento (RYAN; DECI, 2002). A necessi- dade de autonomia refere-se a uma Percepgao de que a origem do comportamento ¢ interna, ou seja, existe a necessidade pessoal de perceber que a acdo ocorre por vontade prépria e nao por pres- s0es externas; a necessidade de competéncia diz respeito a capacida- de de a pessoa interagir satisfatoriamente com 0 seu meio; e a ne- cessidade de pertencimento, ou de estabelecer vinculos, é a necessidade de estabelecer vinculos interpessoais, estaveis e duradouros. De acordo com a Teoria da Autodeterminagao, a sa- tisfagdo das trés necessidades é fundamental para o desenvol- vimento de orientagdes motivacionais autodeterminadas, das quais a motivacao intrinseca é 0 tipo mais elevado. Nessa pers- pectiva, as pessoas tm uma propensao natural para a realizagao de atividades que desafiem as habilidades ja existentes ou que representem alternativas de exercicios dessas mesmas habilida- des. Desse modo, as pessoas agiriam de forma espontanea, por vontade propria e nao a partir de pressGes externas (REEVE; DECI; RYAN, 2004). Guimaraes (2004b) des cas relacionadas a interagao entre professor € : , a importancia de se promover, na sala de aula, um eee ave favoreca o estabelecimento de vinculos seguros. O° fortatecimen dos recursos internos dos alunos, proveniente da satisfagio ce re cessidade de pertencimento, pode representar um maior ervo mento destes com as atividades de aprendi za gem e, Sees mente, um melhor desempenho académico. E importante s aca que varias pesquisas cientifi- aluno evidenciaram 243 © Some aL EN 5 oP a v ROSANE CARDOSO DE ARAUIO E DANILO RAMOS (ORGS.) que “a pereepgio de aceitagdo torna o aluno mais motivado e Mais comprometido com a propria educagio e, consequentemente, po. Je-se esperar um melhor aproveitamento © melhores resultatiog Reasteapen : de aprendizagem” (GUIMARAES, 2004b, p. 196), Sio as relagdes sociais que inserem as pessoas na sq. ciedade e essas relagdes acontecem na familia, no trabalho na escola, Na literatura cientifica, evidenciam-se cada vez, mais o5 estudos © as pesquisas voltadas para as relagies entre as pes. soas, Estas relagdes socic is diversas estabelecidas pelos alunos, sejam com os pais, com 0 contexto especifico de sala de aula, com 0 professor, bem como suas varidveis pess ‘oais e contex. tuais tém influéncia direta sobre a sua motivagao. Nesse aspecto, E cles e Midgley (1989), enfocando 0 adolescente, argumentam que “ajustar” as necessidades de desenvolvimento deste com o ambiente educativo é fundamental para otimizar os be: neficios motivacionais. Uma pesquisa de carater misto (estudo de caso e con- junto de dados quantitativos) realizada por Mansfield (2001) in- vestigou as percepcdes do contexto de estudantes do Pprimeiro ano do Ensino Médio objetivando compreender como aquele ambiente influenciou as percepgdes pessoais de natureza académica e as me- tas motivacionais sociais buscad. as pelos estudantes. Os resultados revelaram que eles perseguiam uma gama de objetivos sociais e académicos ao longo do ano e que esses objetivos foram significa- tivamente influenciados Pelas suas percepgdes do contexto escolar © pelo ambiente concreto de sala de aula. Certas tuais avaliadas nesse estudo, como a rel: utilizacdo de incentivos extrinse ciaram os sentimentos sobre Os resultados Permitiram co variaveis contex- lagdo professor/aluno, a COs € a atencdo cuidadosa, influen- a escola de forma positiva e negativa. oncluir que a relacdo com a escola pode tivos pessoais dos estudantes. ‘© apoio oferecido pelos professores € ‘0 exerce no envolvimento dos alunos s € com 0 contexto foram levantadas | estar vinculada com os obje A importancia d a influéncia que este apoi com as atividades escolar 24u Est NOOS SOBRE MOTIVACKO E eMOCKO EM cocMiGh GAO MUSICAL em um estudo realizado por Osterman (2000). A influéncia d i Cl " yencia apoio dado pelo professor ao aluno foi, segundo os dad ; lo isa, superior a i a 5 jados dessa pesquisa, superior a0 apoio familiare dos colegas possibilitand uma compreensdo mais preci Bas, ilitando sa dos moti atribut a samente vinculados a causas internas do aluno, a a ambi 1 io familiar ou a relagdes com os seus colegas, sendo desconsiderada a interag4o com o professor como um importante fator motiva- cional. Alguns estudos, Ryan e Grolnick (1986), La Guardia et al, (2000) e Reeve (2002, 2006), entretanto, fortalecem a ideia de que as agdes do professor devem estar voltadas para a satisfagao da dade de pertencimento dos alunos. A Teoria da Autodeterminacao tem orientado um nt- mero consideravel de pesquisas na drea de motivagdo para a aprendizagem. Sob esse enfoque, especificamente utilizando a TNB, Engelmann (2010) buscou compreender a motivagio de alunos de cursos de artes de uma universidade do norte do Pa- neces ran, especificamente no que se referia a avaliagao da percepcao desses alunos acerca da satisfagao de suas necessidades basicas. Foi utilizada uma escala de avaliacao de satisfagao das necessida- des basicas, composta de 34 itens em escala likert de 5 pontos. A escala original, elaborada por La Guardia e colaboradores (2000), foi traduzida e adaptada para aplicacao em portugués, para a amostra estudada, Além disso, foram incluidos 9 itens relativos ia, oriundos de estudo ey a avaliagdo da necessidade de competén conduzido por Zanatto (2007), que adaptou a escala de Midgl etal, (2000), Pattern of Adaptive Learning Scales (PALS). Para a ava- liagao da necessidade de autonomia, Engelmann (2010) utilizou ainda itens como: “Eu geralmente me sinto livre para expressar minhas ideias e opinides neste curso”. Relacionados com a ava- liagdo da necessidade de competéncia: “Eu tenho sido capat ‘e aprender novas habilidades interess ne re ‘ Mente gosto de interagir com 0s colegas des! a avaliacéo da necessidade de pertencimen| antes neste curso”. te curso” exem to. A escala de ava- 2465 e, COtrespon ‘Spondente implicagies aram satisfa- eténcia e per da Teoria da necessidades 1 onientages digo estuD0s soant E MOTIVACKO F EMOCAO EM CoGNICkO MUSICAL a importincia relativa das varidveis individu aragies diretas entre elas. De forma sina ane? ni i wel Peifcan, por intermédio do covticiente de natn cae nagao (R’), que 26,1% da varidncia total dos 7 tie “ne macante a aplicacio da escala de avalasio da motte mene ceca, pode ser explicada pela percepgio de satisfa fo d aa serssidades psicologicas bisicas (F [3,18] = 22,141, pc ceo, finalmente, o desempenho dos participantes na ie da on cepgio de satisfagao da necessidade de pertencimento foi mls elevado, comparado ao desempenho na avaliagao da satistacio das outras duas nece: Segundo Guimaraes e Boruchovitch (2004), as necessi- dades psicolégicas basicas de competéncia e de autonomia so consideradas essenciais para a motivacao intrinseca, enquanto dade de pertencimento é considerada menos cen- idades, autonomia e competéncia. que a necess tral na determinagio dessa motivagio, devendo-se isso ao en- tendimento de que grande parte das atividades intrinsecamente motivadas é realizada isoladamente; por isso, ela é vista como um “pano de fundo”, Baumeister e Leary (1996), entretanto, ve- em-na como um construto explicativo que se integra a diversas teorias de realizacdo da motivagio, tendo larga aplicagao no est- do da psicologia educacional, social e da personalidade. Meyere Turner (2002) asseguram que ela, quando efetivamente satisfeita, produz respostas emocionais positivas. No ambiente académi- co, isso conduz os alunos a comportamentos autorregulados, in- cluindo respostas aos desafios, parti ipagao e uso de estratégias. O numero reduzido de estudos enfocando a impor lade no ambiente académico dificulta uma portancia no contexto uni- ‘sas realizadas com alunos 997; SAMDALet al., ymprovado o valor tancia dessa necessid: andlise mais aprofundada de sua im versitario, Entretanto, algumas pest de escola secundaria (BATTISTICH; HOM, 1 1998; MATOS; CARVALHOSA, 2001) tem co on da satisfagdo dessa necessidade na failitasso do desenvolvin’ bem-estar. to pessoal e social dos adolescentes, bem come dose 247 ROSANE CARDOSO DE ARAUIO E DANILO RAMOS (ORGS.) Analisando os dados apresentados neste esty do, uma Pantes nq . Mento pos. ado tambsion 8 poculiaridade dos cursos de gree mais frequente @ yal.” zado, quando comparado com a organizagio de possivel infersncia & que o desempenho dos parti avi sa estar a Tiago da satisfagao da necessidade de perten SOC Nesses cu sos, 0 trabalho em grupo $08, 0 trabalho em grup lades de cimento oy as em OUtros cursos, Apesar de atividades de cunho individual ocorrerem a, Solicitadas nos ativid. izadas em outras areas do conhe até com as horas des aprend agem uti inadas para aulas expositiy, modo variavel, uma parte significativa das tarefas cursos de artes, especialmente misica e teatro, ‘nvolve um ni. mero superior a doi alunos, evidenciando, assim, a signiticaty. va importincia da necessidade de pertencimento na realizaciy dessas atividades. Baumeister e Leary (1995) asseguiram que se, aceito em diferentes relacionamentos favorece o desenvolvimen. to de uma orientacao positiva em relagio a escola, aos trabalhos © as atividades escolares, Ne e sentido, quando 0 contexto ou a interagao pessoal suprem essa necessidade, a probabilidade de ocorréncia do processo de identificacdo com os valores e exigén- cias externas é bastante superior, 0 que per de pertencimento adquira um valor rmite que o sentimento pecial. Assim, tendo em vista 0 grupo estudado, compreende-se a essencialidade dessa necessidade basica e pondera-se sobre a po: um alcance superior em relacao ao que se te; vé-se a imprescindibilidade de afirmativa. ibilidade de ela ter pensava anteriormen- estudos que comprovem esta A partir das descobertas desta pesquisa, realizada com uma amostra de alunos dos cursos de Artes de uma universidae de publica do norte do Parané, re: umidamente pode-se coneluit, com respeito a perce Psao da satisfaga resultados esto alinhados a propos Percepcio de satisfagio d cimento e competéncia. 10 das necessidades, que o cdo tedrica, indicando uma ‘as necessidades de autonomia, perter™ ESTUDOS SOBRE MoT IVAGRO E EMOGAO EM COGNGAO MUSICAL Enfim, podem-se visualizar algumas des ec podem-se visualizar algumas implica d ais. A importancia de se a . i . < is. A importancia de se fomentar, no ambiente de sala i ede sala d cacion: aula, a satisfagao das necessidades basicas poss mento ativo nas atividades ¢ um possivel aumento fa hn ove Fntrinsoca. AO sentirem-se competentes no eaeal ene gula, os alunos buscam e persistem em desafiosadeqy a sala de vivel de desenvolvimento. Ainda de acordo com a areata mocessidades, Sentir-se perlencente propicia relagdes pe a ais seguras € uradouras, ou seja, uma socializagao escolar ne- ria para enfrentar os conflitos de modo mais harmonizado Referéncias BATTISTICH, V.; HOM, A. The relationship between students’ sense of their school as a community and their involvement in problem beha- viors. American Journal of Public Health, Washington, v. 87,n. 12, 1997. BAUMEISTER, R. ronal attachmet Bulletin, Washington, F,; LEARY, M. R. The need to belong: Desire for inter- nts as a fundamental human motivation. 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