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AFRICA E BRASIL NO MUNDO CONTEMPORANE Caprichos DA NATUREZA E ' DOS HOMENS 5 dois lados do Atiin- tico Sul abragavam-se, em era geolégica remo- ta, eompondo um tnico mundo. Os capzichos da natureza, no entanto, separi- tam as duas margens, deixando para (rds rastros de continuidades abordados pelos estudos geoiégi- cos, Na formagio do mundo mo- derno, entre os séculos XV e XIX, 98 dois lados do “mar tenebroso” foram incoporados & légi co de eseravos, bens ¢ idéias. A Africa passow a ocupar papel eéntrico na formagio da so- , ciedade ¢ da economia do Bras eseravidio de afficanos no Brasil, pamtagrance maioria dos his ores brasileiros, foi o coragio que fez pulsar a organizagio' social da portuguesa nos r6picos inos € tornou-se o amil- gama da organizagio do Estado imperial no século XIX. “HA muito esses lagos foram en- cerrados. O siléneio imperou nos escassos contatos atlinticos em =a do coe ameri DADA MRAANMDAAALAANRANAAADHHAAAMAARAAADADM Digitalizado com CamScanner $33333R, 5 a » a a » 9 ® 4 Q ‘ ‘ ' , sUTUTEETED GY José Flavio Sombra Saraiva grande parte do presente século. A Africa curvou-se a colonizagio pe- las metrépoles curopéias, enquan- to 0 Brasil voltava-se para seus projetos intestinos, incluindo a modernizagao conservadora ¢ a idéia de um desenvolvimento cco- némico que permitisse superar 0 “problema negro” deixado pelos séculos de escravidio, Defensores ‘embranquecimento” do Brasil teriam de enfrentar, décadas mais tarde, a construgio original daque- le que completa seu centendrio de nascimento no ano 2000. Gilberto feyre, em seu esquema culeura- lista, percebeu a forga da presenga africana na formagio social do Bra- |jsil. Apesar das criticas 4 sua obra, permanece sendo aquele que pri- meiro formulou o Brasil como par- {| ce de um mundo attintico no qual | 1a Attica € substrato indetével. O que ficou da Africa no Brasil? Muito ficou, outro tanto foi trans formado ¢ reconstrufdo em fusées novas ¢ originais. Escamotcou-se 0 facismo para afirmar a possibilida- Hit: de dnica de construgdo de uma utopia integradora. Associou-se a Africa ao espirito aberto do brasi- Iciro, enquanto os afro-brasilciros cram excluidos da modernidade, Alimentaram-se 0s sonhos de afir- magio de um modelo social litarista, enquanto o negro foi sen- do paulatinamente exclufdo do mercado de trabalho mais sofisti- cado, Idolatraram-se fdolos negros nos esportes, enquanto inibiam-se as possibi de grande parte da populagio ne gra nas periferias de grandes cida- des afto-brasileiras. O capricho da natureza foi sen- do paulatinamente substituido pelo capricho dos homens, A Afri- a, antes alheada do Brasil pela goo- grafia, foi sendo_gradualmente afastada da vida bra no pre sente século. O pais com maior populagio de descendentes de africanos estabeleceu outras prio- ridades em suas agendas interna ¢ externa. Relagdes com os Estados Unidos, com a Europa ¢ com a sua des de excolarinsgiocy OO, STE Meet GG Se novewseo oy HUMAHIDADES [7 Digitalizado com CamScanner ve Latina pet a Potmitizam ampti- f do Brasil, ¢ A sil, enquanto rica padecia do domi P 49 dominio colonial nas décadas da primeira metads deste século. A memé ina foi gra dual fe excluida da vida do ileiro comun ; 0 siscma escolar brasileiro jue lou a cristalizar o afastamento atlintico, Congelando a Africa na questo da eseravidio ¢ reduzindo 2 Presenga da Africa na historia do Brasil aos periodos colonial ¢ im- Jperial, a grande maioria dos livros diddticos tornou-se afgnica, Se- quer a revisio sociol6gica que tra- \ tou de estudar ¢ criticar 0 lugar do negro no Brasil, empreendida pela Ichamada sociologia uspiana e em ;orno da qual a obra de Florestan nandes prestou honroso servi chegou ao texto didatico. A \frica, em certa medida, ainda ||Petmanece ocupande esse mesmo lugar. Intenesse peta Arnica & 30c0 INTERNACIONAL Mas nem tudo foi siléncio. Hé ou- tras histérias a serem contadas so- bre a presenga africana na vida brasileira, Essas hist6rias plasmam 8] HUMANIDADES woveusra os 4 evolugio recente das telagies in- ternacionais do Brasil. Olhares transatkinticos enuzaraim 0 oceano desde 5 anos 1950, prapiciando um gradual ¢ discrcto.teinicia do Africa no Brasil. intetesse pela Africa no ‘Aruptura do silencio herdado do século XIX pode ser observada, de maneita t{mida, no conjunto das novas percepgies dos dirigentes brasilciros, especialmente da di- plomacia profissional ¢ dos homens de negécio, no final dos anos 1940 ¢ inicio dos anos 1950. As razes sio tributérias da competigio entre produtos prir ‘proceso de descoloni- zagio da Aftica Portuguesa, Qambiente da descolor para um rela interesse brasileiro, niente afficano wie mundo conti porinco, | Africa foi se. lencamente como um ponte de manobra para interesses.da-inser- 40 internacional do Brasil.e sua afirmagio no contexto do pés- suetta, O mais importante 613) pata o Brasil, afinar-se com 08 E tados Unidos ¢ as poténcias ven cedoras na guetta cm marérias Je interesse comum, Daf o Brasil ter aceito a postulagio dos Estados rar do contite agies Unidas Unidos para partic «al hoe, etiado plas N fem 14 de dezembro de 1946, para cestudar © requerer informagbes As poténcias coloniais sobre a situa: gio em seus territ6rios. ra aqucla a primeira oportuni- dade do Brasil de se pronunciar sobre 0 assunto colonial na Africa diplomata Eurico Penteado, re- presentante do Brasil no comité, fendeu que a melhor forma de participagio brasileira.cra acom- pinhar a tese das poténcias colo- niais, que entendiam que. no havia qualquer obrigagio de en- caminhamento de informagées. Raul Fernandes, ministro das Re~ lagbes Exteriores do governo de Gaspar Dutra entre dezembro de 1946 ¢ janeiro de 1951, consoli- dou a posigio de apoio as poténci- as em eélebre discurso que procu- tava explicar que o Brasil se posicionava entre o artigo 73 da Carta das Nagdes Unidas ¢ uma Olhares transatlanticos cruzaram 0 oceano desde os anos 1950, propiciando um gradual e discreto reinicio do interesse pela Africa no Brasil Digitalizado com CamScanner RCiaS coloniais apoiade as Em outras fais que haviam Petigdes brasileiras, Palavras, Curvava 20 jogo colon répoles na Aftica, © Brasil se ial das me- Mudangas nessas posigies ocor- 7) NOS anos 1950. Para o cons tinente africano, a década foi de transformagies radicais, Todos os Componentes do crise que se es- tampara desde os primeiros anos do pbs-Segunda Guerra Mundial chegaram ao seu climax. As lutas nacionalistas pela independéncia comesavam a trazer resultados alvissareiros para as hostes liber- arias em muitas partes do conti- neate, Como na Asia, os movimentos de libertagio na Africa nio foram assu K ney © menor na vida intemnacio- nal, Foram objeto de preocupagio ¢ agio das poténcias coloniais, das Nagdes Unidas e das poténcias mundiais. © Brasil, diante daquele_qua- dro, modificaria gradualmente sua posigio conivente com as paténc as coloniais, ainda que em movi- mento de ida ¢ volta constante. As oscilagées podem ser percebidas no contraste.entre os dois gover- nos que marcaram a década, Get lio Vargas, entre 1951 ¢ 1954, fez alguma erftica.ao.ambiente-inter- nacional, que.congelava a dexco- see loni “design ynomia internacional... afirmou ‘era o de observincia das caréncias |. africanas, especialmente a.sua necessidade de se descayolyer. como condigio indispensavel:p: 12.a“expansio do comércio mun Adial", Fnac 9 do signifease qualquer apoio direto-8 te38 da descolonizagio na Aft Vargas 2 uprimiu um ingulo mais autéo~- ‘mo paca posicionamento do:Bra- j»_sildiance da quessio, 428 2eeec00G050505I5G5N5ST555SSITIIIII ana...Criticov.as— seruturais da eco" = 4 vida dos seus habitants que o lugar da Africa para 0 Brasil = ~ nistério das-Relagdes Exteriores, ° ~ ta sua crftica as condigées de de= AS percepgies do Brasil no s io do sistema internacional, especial- mente aquelas sustemtadas pelos Dosigdes das delegagoes de diplo- ‘matas brasileiros nas Nagdes Uni das, mostrariam também conside- tivel evolugio em relagio a0 isolamento da Africa. N: s¥es sobre os teritérios mos, as recomendagies brasileiras foram de estimulo aos interesses 0s povos africanos nas questies que thes goncerniam. O embai dor Muniz Aragio chega iar, nas Nagies Unis, PPEEUTEUEEEVUD sbenrdefendido, nos foros in- ‘ernacianais, coma émancipagio dos territérios africanos. Refer © embaixadard concorréncia brasi- leiro-afticana no ambito de produ- tos primétios no mercado interna- cional, como o café © 0 cacau. Evolugio de percepsio pode ser encontrada na documentagio ofi- cial do Itamaraty. No Relatério da- quele ministério, referente a 1952, aparece a idéia de uma pos- sivel construgio de uma politica externa especifida para a Attica. O texto oficial chama.aatengio para do respeita.a0s die teitos,e.interesses dos povos aft anos, Para os di 10s, 0 ripido progresso econdmico rcano,ndo deveria ocorret. ielhiofamento, das:condigbes.de \ Esseieta o:expedienteido Mi- s : entio sob a regéncia de Joto Ne- yes da Fontours, de tomar implici- senvolvimento’, econdmico no tontexto da protegio colonial ¢ 05 mecanismoy preferenciais de re comércio que reerudesciam as te- lasées entre as metrépoles euzo- Péias © as coldnias afticanas. E: tfas,palavtas; 0 Brasil comegava Digitalizado com CamScanner por um lado, que.a.de- sehvalvimento africano sobre ba- ses coloniais nao interessava 20 pais ¢, por outro lado, para que o Brasil se desenvolvesse, era rele vante que outros paises atrasados sambém encontrassem seu.cami- rho na trilha do desenvolvimento. Dai 0 Brasil ter defendido, na- quele momento, a participagio dos delegados dos territérios auténomos no Comité de Informa- do, que estava encarregado de examinar os relatérios sobre a situa- fo de cada um deles para a devida apreciagio no contexto das Nagies Unidas. Eram esse'0s primeicos passos para a dificil construgio de uma politica africana do Brasil. As dificuldades ficaram nftidas no governo seguinte, de Juscelino Kubitschek, que ndo soube perce- ber plenamente os avangos reali- zados no governo de Vargas. Silen= ciou diante de um perfodo tio ico, de grande cfervescéncia no continente africano. Assistiv, sem manifestagao explicita, 3 indepen- déncia formal da primeira nagio da Africa Negra, ou seja Gana, em 1957. Observou, sem fala, a inde- pendéncia de dezessete paises africanos em 1960. Nao observou 0 ‘quanto as nagées afticanas encon- traram-se naqueles cinco anos. Or- ganizaram os afticanos a I Conferén- cia de Solidariedade Afro-Asidtica, a I Conferéncia dos Estados Inde- pendentes da Africa ¢ formularam, em 1958, os pri 1s conccitos que convergiriam, mais tarde, ape- rnas em 1963, para o nascimento da Organizagao da Unidade Africana (oua). A segunda metade da década de 1950, no plano afticano, foi mar- cada por lutas mais decisivas no processo descolonizagio. A Confe- réncia de Bandung, em 1955, seri: um marco que conferiria aos povos coloniais, especialmente as cold- nias na Africa € na Asia, um novo alento. E 0 arrefecimento da Guer- ra Fria trouxe a perspectiva de um novo Angulo para as relagdes inter- nacionais que nio 0 Leste-Oeste, Mas.a_Africa, para Kubitschek, no. tinha valor politico. A impor- 10] HUMANIDADES nevewsro vs tincia central era.com as relagies} econdmicas que se desembaraga- vam entre.a Europa ¢ a Africa, in- dependente da condigao de supe- ragio ou ndo da situagio colonial Essa forma de observar 0 conti nent afticano é encontrada em toda a documentacio relativa 3s posigies brasileiras na criagio do Mereado Comum Europeu. Raca.o Brasil, a formagio de um mercado europeu que implicasse a associa gio das economias africana ¢ cu: péia, por regeas preferenciais de comércio, poderia afetar 0 projeto de desenvolvimento brasileiro pélo cerceamento 3 colocagio do produto brasileiro na Europa. \s cexportagbes brasiteiras de café, ca ‘cau € algodio, que eram 0s princi~ pais produtos de exportagio do . poderiam ser ameagadas pela necimento afticano para a Europa. Pode-se dizer que a Africa, para muitos formuladores da polftica exterior do Brasil no periodo, pro- duzia certo desconforto ¢ descon- Digitalizado com CamScanner ~stisengio das ta =F para produtos afticanos na So fosga de trabalho) sclamentares ‘sobre Europa ‘yobre albaixa remuncrasio 6a naAfri: tando serem os produtos 3 _-afticanos: mais atrativos nO merca: ‘do internacional. Alem disso, © novo mercado europe COM @ 25° sociagie africana, poderia ameagar os investimentos norte-americ: nos.¢ europeus ‘no Brasil’ € 93 ica Latina-AOperagio Pan~ Americana, (OPA) foi, emm.certa medida, a pagZo do governo Kubitschek. Q_mais. curioso .do-peri Kubirschek, no encanto, foi a emer géncia de vozes dissonantes que Se fizeram ouvir, nfo raras vous dramatizadas com clamor, na pro- mogio de uma politica mais arroja- da para 0 continente africano, Se- ores da diplomacia, aquela que havia atuado no perfolo que a voz de Vargas se fizera mais proxima ao continente afticano, ¢ de inte- Iectuais interessados nos assuntos externos do pais comegaram um movimento mais ative do Brasil na diresio da Africa. Lidecangas politicas ¢ intelec- cuais, como Oswaldo Aranha, Alva- to Lins, Gilberto Amado, José Honério Rodrigues, Adolpho Justo Bezerra de Menezes, Tristio de Athayde ¢ Eduardo Portella, entre outros, defenderam claramente uma reabertura das comunicagées com 0 continente africano. Advin- dos de diferentes esferas de poder, alguns até com posigdes de rele- vincia na hierarquia das suas insti- tuigdes, esses homens nio chega- im a formar um folly organizado ‘fem construfram uma politica afri- cana para o Brasil, No cntanto, jodo cexpressio dessa preocu- A eatta pessoal § ‘Oswaldo Aranha, figura..7255 derosa na Era Vargas ¢ de Posts internacionais artojadas. dente Kubitschek, €8) de 19: si, Aranha convida o presidente fe0gi0 8 reflexio acerca da sdet qsidtica” sua decert Jancia na nova conformagso dial de poder Jnsistis 2 fo de que atitudes brasilelsas. favor das poréncias coloniais,-mas conerdrias A. form: ‘gges do pats, Brasil ¢ suas posigdes.no.contex- to latino-ameicano. Afirma textual- mnente Aranha que “criou-se um ¢s- tado de espirito mundial em favor da liberagiio dos povos ainda escra- vizados, ¢ © Brasil nio poders con- trariar essa corrente sem compro- meter seu prestigio internacional até sua posigio internacional”. A manifestagiio de Aranha nio ‘estava isolada do conjunto de eriti- eas que ele vinha fazendo & timida diplomacia brasileira nos assuntos da descolonizagio. Alvaro Lins, embaixador do Brasil em Lisboa entre junho de 1957 ¢ outubro de 1959, concluia que 0 Brasil deveria modificar suas percepgées a adotar jo mais ativa ¢ favorivel & ndependéncia das coldnias curo- péias ¢ portuguesas, em especial, na Africa. Suas diferengas com a' diplomacia brasileira na questo africana levaram a sua substituigéo em Portugal. O entio jovem diplomata Adolpho Justo Bezerra de Menezes escreveu duas obras bastante rele- vantes para o rclacionamento do Brasil com a Africa. A vida “ve~ getativa © contemplativa” da poli- sovtwanovy WumANIDADES [21 Digitalizado com CamScanner enfraqueciam-o ae 12] < dagio da aproximagio do Brasil a0 nde pouea a rento com os Estar : re ° ° Europa, deveriace- cs logst segundo Beasts de Menezes, um nov conceit, vol tado pata 0 Atlintico ¢ para p Afri- Estas cram as convicgées que no seu tempo nfo mudaram arora da politica, mas que prepararam 0 campo para 0 vos do periodo se- guinte, inaugurado por outro jo- vem, 0 presidente Janio Quadros. gpaics Nesse sentido, prefere-se aqui conter a forga dos gestos de dta- maticidade de Quadros, no que se refere ao nascimento da politica afficana do Brasil, em favor de ex- plicagdes mais paupaveis ¢ racio- nais para o encaminhanento t0- ‘mado, Em primeiro lugar, Quadros dew evasio, com scuinflamado discurso a.fasorda.descolonizagio afticana, ao sentimento:da.socier ileira, Afinada com as ‘questdes invernacionais de sev A Arnica netonna: neenconte € ’ tempo, a nagio percebera a nova ‘OLHARES oBtiquos © ano de 1961 € chave para 0 re- cencontro do Brasil com a Africa, presidente Quadros restausou-as idéias de Vargas acerca da dimen- io estratégica do relacionamento com a Africa ¢ iniciou, de-fato, a dimensio africana da politica ex- tera brasileira. Axuptura foi fun- damental para a compreensio de um novo olhar entre brasileiros ¢ africanos. Ha varias incerpretagbes'averea da retomada da Africa no idedtio brasileiro dos anos 1960. ‘A primei~ ra.vincula a dramaticidade: do esto da redefiniglo’ das relagies do Brasil com Afriea a'um inex periente presidente: cheio. de yontade de choéar a: opiniio dos, conservadores, Oportuna inter- pretagio, essa nio é suficiente-~ mente convincente para. eluci- continente afticano.,Uma'segen? da interpretagio.associa avecagio™ africanista do presidentesa'sua maneira de engabelar a sociedad polftica, desviando'o' temo para as matériss inter nais. Também incompleta, ¢380 dinimica incernacional, arefecida pela coexisténcia pacifica entre as superpoténcias ¢ pela diversidade de opgées internacional que se apresentavam. A Africa fora am- plamente discutida pélos grupos politicos no final da década de 1930, como deserita na parte ante- rior desse artigo. Q aproveitamen: to daquela discussio for mérito poltrco do novo presidente: interpretagao no percebe a'dinie!"* nica propria do,contexto interna cignal, em:torno'do.qual-as!mu: dangas foram opecagas-na-politica ng do Brasil: WUMANIDADES.® bm segundo lupus decisio-te we evar o Brasil fica foi cosulton tg de yma reorentagio da-palitica externa que estava.em.cussa des de.0s anos 1950, Ela nfo signifies ‘va, em nenhuma hipbtese, a exclu do alinhamento com ‘os Fstados Unidos, Iniciacivas politic cas, tais como a do restabele- cimenta de relagoes diploméci com a Unido Soviética ¢ a abertura: politica para o Leste Europeu. que jis haviam sido apresentadas como tens da campanha elcitoral de Quadros em 1960, nao hostil zavamn ideologicamente os Estados Unidos. Byscavam-se. nawerdade, certos graus, de-autonamia.paca.a politica exterior, numa.estcarésia pragma, paca gaantic .e8pa0- so capitalista coordenada pelo sala ah ‘Em tefceiro lugar, outra dimen- sio sensivel para a comprcensio dos novos acenos brasilciros para a Digitalizado com CamScanner Africa no inicio dos anos 1960 dove ser proposta a partir do tema + do crescimento econdmico interno ao a cee cfigei gendrado nas ‘décadas. antcrio- 108. A crise do balango de paga- mentos, produzida pelas dificul- dades da exportagio de café (que ainda representava dois cergos das cexportagdes do pats), trazia inqui- etagées. A incipiente exportagio industrial, no encanto, j& procura- ct mercday tema eee da reorientagio da polftica exter- novos horizontes — cr afirmouo historiador José Honério Rodei ues naqucla época = criades pela ragio das forgas-que impulsiona- O dado concreto € 0 de que, a partir de 1961, diante da formula 0 pessoal de Jinio Quadros em sua _memorivel mensagem a0 Congreso Nacional de 15 de margo, 0 Atlintico Sul se fez mais brasileiro. Definindo a nova polie tica exterior do Brasil.como.um instrumento_contra_o_calonja- lismo ¢ 0 racismo, c.sublinhando 0 apoio brasileiro 20 prinefpio da autodeterminacio dos povos da Aftica, 0 presidente avocou para sia responsabilidade maior da sua propria formula tou que o Brasil comuns com a Africa, como o “desenvolvimento ccondmico, a defesa dos pregos das matérias- primas, a industrializagio code: sejo de pax”. E deixou também claro que essa nova dimensio era © resultado das necessidades do crescimento interno do pals. Novewans oo WUmANIDADES [13 A Africa alcangava, assim, uma posigio de destaque para 0 con~ junto das opgées inteznacionais do Brasil. O siléncio estava rompido. O contraste entre Kubitschek © Quadros, nessa matéria, & enorme. Enquanto 0 primeiro assistiu, de camarote, as independéncias afti- canas, 0 segundo procurou explo- rat politicamente as oportunida- des abetas para afirmar a vontade dg.autonomia do Brasil. A posigio do Brasil a favor da descolonizagio africana, quase que cardia diante dos fatos, nio significava, como deixaram claramente expostos Jinio Quadros e Jodo Goulart, ne- nbuma alianga automética com 05 blecés cereeizo-mundistas, parti- cularmente com oinascente grupo das nagées nio-alinhadas, Argumentou Quadros que a nova politica africana do Brasil, inspirada nas independéncias das jovens nagées do outro lado do Atlntico, seria uma “modesta re- ano. EE jf bastavam as “consi. deragées de ordem moral” para justificar a dimensao atlintica a atirmar, de forma co: reat, que a Africa prosper c estivel se- ria Condigio essencial i seguranga €.a0 desenvolvimento do Bra A primeira tradugdo objetiva das novas inclinases afticanistas da diplomacia brasileira apareceu na reforma administrativa do Itamaraty em 1961. Com ela nase cit uma nova unidade administra- no ministério: a Divisio da Ate 1a abrigaria os diplomaras brasilciros que estiveram envolvi- ficanos nas Na- gdes Unidas na década de 1950,A segunda ono Relat6- nia. do mesmo Teamaraty, a partir de 1961, dc capitulo especificamente Digitalizado com CamScanner voltade Para.0s.assuntos afcanos, das posigics bea sileirws relativas aquete continen f € 0 sumtio das auvidadss de senvolvidas a cada ane, Scat ame Meas liga son etiagia de da chaneelaria, balbo no intetior UE Letia dais.abje diates: formulac propos. ibilidades, de misses dint. sonsulares junto ao: dos is eeonémicos e.culturais om 0 continente africana. m 1961, duas embaixadas bra- sileiras comegaram a ser operadas em Acta ¢ Tungs. O eonsulado que existia em Dacar foi elevado a0 de embaixada. Negociagdes ricindas no sentida do esta- mento de novas embainadas na Guing © no Togo. A instalagio a embaixada em Lagos foi con- cluida na metade daquele ano comiegou a uperar satisfato te. Ainda naquele ano, em verda- deica euforia afticanista, 0 Brasil instalou consulados em Luanda, Lourengo Marques (hoje Mapu- 0), Nairobi e Salisbury (na antiga Rodésia, hoje Zimbébue). ‘A dinimica empreendida pelo Brasil nos primciros meses de 1961 fei acompanhada por sinais positives de varios patses aftica- os. A visita de politics ¢ funcio- nérios dos Camaries, a missio ceconmica da Nigéria e a visita do ministro das finangas do Gabio fo- fam as primeiras respostas positi- vas aos acenos brasileiros. ‘A mais espetacular iniciativa brasileira naquele ano talvez te nha sido a da exposigio flutuante no navio-escola Custédio de Mello. Organizada pelo Stamaraty ¢ pelo Ministério da Marinha, a exposigio viajou ao longo da costa beleci MD Domo. eidental afticanaflutante alguns ese im de aptesentar prod 4 brasileitos para unc peer Comersiazagin no eumtnente ativan Lacan Heeto sn, Abia, Verma, Leagos, Pualay Ponts 8, Hoary Sarqu Momshansa, Masta, Menanttt Vine (Casablanca foram tocad pela exp edigio brasieisa. O Attin 1ie0, segunda depoimentos de a uns membros da expedigio, abea- Nesse sentido, a politica africa na do Brasil ganhava uma dimen- ‘so que ndo se restringia aos seus estos. A gestagio da polities afti- cana, tio demorada ¢ de tio tortu- os0 caminho na déeada anterior, encontrava agora contedde © rofissionalizagio. A diplomacia assenhoreou-se das teses indepen dentistas de Quadros. A Africa ne ‘gra, a0 contririo da Africa do nor- «6, foi a drca de notéria relevincia para a expansio dos interesses brasileiros, na qual havia ainda 0 receio de certos setores governa- ‘mentais pelo fato de o Mercado ‘Comum Europeu ter estabelecido relagbes especiais com os merca- dos ¢ 0s produtos afticanos que concorriam com as exportagics brasileiras. Houve muitos problemas cria- dos pela mancira agodada com que muitas das iniciativas brasileiras foram tomadas na Africa, Alguns embaixadores indicados para a Africa negra, a0 chegar a seus pos- tos, constataram que 0 ripido ges- to diplomatico dos governos Qua- dros © Goulart, de interesse © solidariedade politica aos recém- independentes, nfo fora acompa- nhado pela infra-estrutura neces- sfria ao funcionamento dos novos postos. Raymundo Souza Dantas, primeiro embaisador a ser nomeado para a Africa negra, por Quadros, 14] HUMANIDADES sovewaro vs Digitalizado com CamScanner ta) ne > bem-sucedido; Souza'Dantz Sreveu sua experiéncia #sdsp0is de dois anos na repre aa Senta. «$40. brasileira, como dolorosa-e (raumstica-Souza Dantas cfiticou, + €M especial, o sentido estreite com.que muitos burocratas trata: a priotidade daqueles. tempos, + [Sseundo ele, a sclativa concentra. 5 fh Ge. 20s tomas comerciais fazia.c | fuisss-ampliar seus verdadeincs po: fenciais de.cooperacdo.com.asinas- Jecntes Estados afticanos da costa atkintica Souza Dantas nio foi o dnico a cemitir sinais obliquos sobre a poli- tica africana do Brasil. A vulne- rabilidade do discurso foi também denunciada por Rubem Braga, mandado para 0 Marrocos como ‘embaixador. Ele chegou a mencio- nar 0 verdadeiro abandono a que foi submetida sua embaixada, ape- sar das virias solicitagées que en- Viou ao Itamaraty. Apesar dessas erfticas internas, 4 aproximagio atlintica foi estabe- lecida. A aproximagio brasileira & minava-se 0 mais importante nii- cleo de diplomatas africanos no iro da América Lat nna, Esse niicleo era representado pelos diplomatas brasileiros como uma prova da natural afinidade que o Brasil tinha com o continen- te afticano, Othares cruzaram o Atkintico de uum lado para o outro, transforman- do as décadas que sucedem aque- Jes anos herdicos em um verdadei- fo momento de reencontro catre brusileitos ¢ afticanos. Mas aque- TV wereee eG SGOSSS5SdIGIIIGIIIIIS (s2icem que o Brasil nia. conse. construc: lage entre a Africa ¢ 0 Brasil: 08 contatos comercia ( problema origina-se da von- ade de projegio de uma imayem do Brasil na Aftica que faciirasse s, politicos & culrurais: Ospresidente: Quadros: \falaya’em cultural®e\insistiu:que.o: Brasil jonte”,“identidade® cra 0 produto hist6rico de duas herangas, uma ocidental e oucra africana. A identidade com a A\ a era apresentada como condigio suficiente para uma nova relagao especial entre 0s dois lados do Acliintico Sul. Essas cas imagingr aracteristi \s_Na_aproximagio brasileira a Africa nos governos Jinio Quadros ¢ Joao Goulart, ¢ we seguiram o mesmo. articulagio discursiva nas décadas Seguintes, sio essenciais para a compreensio do relat amento contemporinco entre a Africa ¢ 0 Brasil. A formula adotada por Quadros foi sistematicamente desenvolvi da nas mensagens politicas, eco- ndmicas ¢ culturais do Brasil no scu relacionamento com a Aftica, Ela enfatizava “familiaridade” ¢ “histéria comum” entre os dois la- dos do Atkintico. Ironicamente, a presenga dos retornados afro-bra- sileiros ¢ seus descendents na costa 0¢ lental da Aftica (que ha: viam sido expatriados do Brasil para a Africa como um fluxo conti nuo desde as rebelides urbanas na Bahia de 1835 até 0 inicio do pre- sente século) foi utilizada como ma evidéncia da reeiproca atra- I i io entre a Africa ¢ 0 Brasil, mostiousse ‘frigil<¢2— sobliqua diante das rotas préprias‘e, ‘o'diferenciadas que africanos 6 brasileiros haviam criado ao long6Y do extenso periodo afnico nas re Digitalizado com CamScanner Um dos aspectos mai antes dese discurso ¢1 de bi na, ¢ ator Sinteres- = de culturalista, se freyreana, claborado pelos ‘es da politica extetior.do Bra- sil Para a Africa crag Sonstrugio actitica do esterestipa da sponta Rea _generosidade africana. Os formuladores da politica africana acreditavam na natural Tecepti- vidade africana aos acenos bra: leiros de solidaricdade cultural ¢ Politica, A idéia de o Brasil possui certamente uma construgio inici, SuNO-aTagane, Tgieenata ola vimbém teve aiguma selewtncia s sas) aizadas comuni dade affo-brasileiras. Se ele foi primeiro c tinico presidente brasi- Jeiro que nomeou um embaixador negro, Quadros também foi o pri- meiro a conferir a um negro (pro- fessor Milton Santos, hoje emé- rito ge6grafo da USP) a Casa Civil da Presid da Repablica. Ao mesmo tempo, talvez nio Seja uma coincidéncia que 0 mi- nistro das Relagies Exteriores de Quadros, Afonso Arinos de Melo Franco, fosse um branco conheci- do como o congressista que propos a Lei nimero 1.390, aprovada pelo Congreso Nacional em 3 de julho de 1951, A ei, conhecida popular- mente como Lei Afonso Arinos, proibia, pela primeira vez no Bra- atos de 0 racial © estabelecia penalidades para os in- fratores. Como ministro, Afonso Arinos sustentou que 0 Brasil ti- ha uma importante © positiva contribuigdo a ofrecer as relagies internacionais no que concerne aos temas raciais, OLHARES MULTIPLOS SOBRE 0 ArLANTICD QUE SE FEZ MEDITERRANEO Depois daqueles anos iniciais da politica africana do Brasil, 0 pri- meiro governo militar de Castello Branco reduziu a forga original da formulagio radicalmente anti- colonial da fase da Politica Ex- tema Independente de Quadros ¢ Goulart, Paradoxalmente, [oi 2° primeira governo militar que 0 PF meiro chefe de Estado africano pi- sou em solo brasileiro. O grande evento da politica africana do.pet!- odo Castello Branco foi a visita de Léopold Senghor ao Brasil seis meses depois do xolpe de 1964. 4 visita oficial do mandacdrio se~ negalés, que durou de 19 a 25 de setembto, causou estranheza em circuitos mais conscrvadores do, Estado. Mas ela nfo teve nada de cx cepcional. Senghor havia sido con- dado por Joio Goulart ¢ accitado ‘o convite. Além disso, possivel entrever a visita de Senghor na perspectiva geopolitica que pas- sou a orientar a politica exterior do Brasil para a Africa. O Senegal cocupava posigio estratégics na te- orin do “hemiciclo interior”, nas interpretagies do general Golbery do Couto ¢ Silva, Dacar era 0 outro alll 16] WUMANIDADES noveusno ss 0 continente africano passou a ser visto como uma area na qual o Brasil teria maior facilidade para obter alguma influéncia regional eimai Digitalizado com CamScanner lado do estreito que unia Natal drca de ocupasio priorititia deste Paso priorititia desc 2 Segunda Guerra Mundial. A visi, ta do primeiro presidente africa, Ro. que nunca foi um esquerdista ra a a esas feliz oportunida- ‘politicos instalados no governo fazerem aliangas no outro lado do Atlant tae Segui, espe Geimente depois de cere csforgo widade na politica afti- cana empreendida pelo Itamaraty €m contexto interno diffeil no f- nal dos anos 1960 ¢ parte da dé. cada de 1970, foram de retomada Bradual dos interesses no conti nente afticano. Os olhares, no en tanto, moveram-se em demasia para.adimensio mercantil do re- lacionamente. ragmatismo politico, a desi- (scolosizacio do rclaringamento oS interesses na 4rea comercial animaram 0 felacignamento coma” Africa: desde sualretomada nos anos 1970.2 década de 1980. O lu- oe ar da Aftica para a politica exter- fa do Brasil foi, portanto, o de uma drea de virtual interesse cco- Amico ¢ estratégico. Os novos Movimentos tornaram o Atlintico cada ver mais medicerranco. A vi- sita de presidentes afticanos a0 Brasil ¢ 0 intercimbio de diplo- matas ¢ empresirios no Atlintico aproximaram a Africa do Brasil de forma inconteste. Deu-se, afinal, consisténcia pritica a0s discursos de aproximagio gestados no inicio da década de 1960 pelo presiden- te Janio Quadros. A vulnerabilidade cnergética do Brasil nos anos 1970 e parte da década de 1980 ocupou papel ponderivel na reaproximagio a0 continente afticano. As duas cri- ses do petréleo, em 1973 ¢ em 1979, accleraram a busca de no- vas parcerias internacionais. E isso vitia explicara superagio gra- dual do comércio quase exclusive com a Africa do Sul pelo inter- cimbio erescente com outros dois. SESS SSS TSTIIIITTIIT VO SS IAIIII IIIT I STITUTE Nevewono vs HUMANIDAD, novos parceiros atlinticos: Nigéria © Angola. O continente africano passou a set visto como uma drea na qual © Brasil teria maior facilidade para obter alguma influéncia regional. ‘Quando comparados aos paises da América do Sul, onde 0 Brasil ti- nha controvérsias ¢ rivalidades com a Argentina, bem como a des- confianga de pafses como Paraguai € Bolivia, os paises afticanos apa tentemente ofereciam menos di ficuldade para receberem a pre- senga brasilcira. A distdncia de 1.600 milhas que separam as duas costas, a afficana ¢ a do Nordeste do Brasil, foi referida por Médice ‘como a dos “caminhos ffecis do oceano”. Os “cami passaram a ser descritos.como cor redores marftimos comerciais onde © baixo frete, condicionado pela pequena distincia, foi protagonis- ta das ages de intercdmbio com 0 continente africano. Os objetivos diplomaticos do -na Africa foram, principal miente, o de projetar a imagem de um poder tropical ¢ industrial, que um dia fora coldnia, ¢ ode convencer os Estados africanos de que as relagies hist6ricas do Brasil com Portugal, Gltima metrépole colonial na Africa, nao inibiriam o desenvolvimento de relagdes com 08 paises da regiio. No plano bila- tera, esses objetivos organizaram-se e de quatro grandes cixos: a de.tratados de coope- ragio comercial ¢ técnica; 0 aye mento de rotas de coméscia.no Atlintico; a abertura de investi- mentos para projetos de desenvol- vimiento ¢ a retomada do discurso cuturalista do infeio dos_anos 1960. Os olhares mais significativos Ros cruzamentos transatlinticos desenhados nas décadas de 1970 ¢ Digitalizado com CamScanner 1980 foram certamente aqueles voltados para as possibilidades co- merciais entre afticanos e brasilei. ros. As relagées econdmicas con temporancas do Brasil com a Africa ndo cram novas, mas haviam sido insignificantes quando compara- das com as demais éreas de inter. cambios brasileiros. Até o inicio dos anos 1970, a Africa representa- va apenas cerca de 2% dos inter cambios comerciais brasilciros. Em meados da década de 1980, esse percentual j4 correspondia a cerca de 10%. A determinagao do Estado em desenvolver projetos econdmicos para a Africa ocupou papel central na ativagao dos fluxos atlinticos. Foi o tempo em que a economia se orientou para a exportagio, de- mandando maior diversificagio de parceiros no comércio internacio- nal. Qs esforgos brasileiros para as- segurar mercados consumidores ehcontravam Testrigoes protecio- nistas impostas peTos ie senyolvides-Dai a necessidade de se estender aos mereados do Sul, Attica produziu resultados, como 0 estabelecimento de uma série de acordos bilaterais de comércio ¢ a instalagio das primeiras compa- nhias brasileiras na Africa negra A. ‘contrapartida africana foi a amplia- 0 das suas representagées diplo- © modelo de desenvolvimento brasileiro ¢ explorar as potencia- lidades. Cerea de quinze embaixa- das africanas estavam em funcio- namento cm Brasilia em 1974, enquanto 0 Brasil mantinha seis cembaixadores acreditados em de- zesseis paises africanos. Aqueles foram os anos dourados da politica africana do Brasil. Ao traduzir em pritica as formulagées do inicio da década de 1960, os animadores do relacionamento Brasil-Africa das décadas de 1970 ¢ 1980 criaram um espagoseléntsn otimista ¢ carregadd de significadi cpt de saniicaee 3 le estratégicn no Adlintico com um pals que oferecia tecnologia tro cal ¢ adaptada 3s circunstinciag afticanas. Ao Brasil convinha a par- ceria comercial africana pelo aces, $0 a0 petroleo © a0s mereadlos de consumo que se imaginava de al. uma releviinei Varios paises africanos, como a Nigéria © 9 Gabio, nio escondiam @ oportunidade criada pela parce- tia estratégica com o Brasil, A Nigétia, em certa medida, imagi- Aava-se um Brasil na Africa, ao tentar Id construir um modelo de desenvolvimento tropical asseme- Ihado ao Brasil, No plano politico, o Brasil avan- sou, Aaqueles anos, em posigoes consideradas por Setores da opi- Ato pubtiearm pais come de rele civaimpradenicia, Foi o caso do re- conhecimento precoce do MPLA — Movimento Popular de Liberta- gio de Angola ~ como legitimo governo em Angola. Posigio que custaria ao Brasil reprimenda dos Depois de ano: s de anos de - operagao mutua. dimentos comun Babinetes de Washington ¢ tecri- minagio de alas mais conservadoe "48 do regime militar no pais. O re- Conhecimento do novo governo angolano em 1975 foi garantia de Porta aberta em Angola para inves- timentos brasileiros que estio I Presentes até hoje, inesmo no con- texto da terrivel guerta civil que sola 0 pats desde a independléne Unt ounan sonovenro As relagdes do Brasil com a Africa nos anos 1990 foram de grande so- noléncia. Um olhar triste ¢ desani- mado voltou-se para o contexto atlintico. Depois de anos de ativa Sooperagio mitua ¢ empssendi- mentos comuns, as rotas do selacio- formas sem_conteddo. O comércio perdeu sua forga. Os percentuais da participagdo dos africanos na ba Janga comercial do Brasil retor- naram aos nimeros anteriores a dé- cada de 1960. As relagécs politicas do Brasil com a Africa, quando comparadas ao surto integracioni: ee ativa'co- ys Sy do relacionamento transfor: maram-seem’ formas sem contetido. 0’ comércio -per- deu sua forca ““y dos homens de negocioyé na regifio platina da Amériea, mos tram claro declinio. | Razées de vitias origens justifi- cam esse olhar sonolento. Por um Jado, a Africa marginalizou-se cada eu mais no sistema internacional. Dominada por dificeis transigdes pia a vida democritica © pelo dexerédito dos centros de decisio ccondmica, as possibilidades de logo do_continense africano may ram.seduzidas, 1 depois do inicio ndéncias, o continente Sfricano encontcacse em ctise pt funda, de contornos manifestos. thas de explicagio conssavarss. Por outro indo, o Brasil envere- dou-se por outros caminhos & ridades. As novas prioridades ram 0 pais a encerrar 9 ciclo da grande participagio no desenvol- vimento africano. O processo s6rio no Brasil deixo pelo “afi Bidg Dalijcalno Drag), A fionante | Digitalizado com CamScanner rahsitgo sbl-ktticang é| + Quinto, Antonla, Brasilelros na. Atrca. uoutada em geral, pela popula- brasileira interessada pelos jssuntos internacionais. Acordos ¢ agbes entre instituigdes dos dois paises tém proliferado nos ltimos anos. O encontro entre os dois grande paises dos Angulos meridionais dos dois continentes é, além disso, de incontestavel valor estratépico. A segunda linha de agio seletiva do Brasil na Africa estd voltada para Angola, herdeira das relagdes privilegiadas que foram criadas a partir do reconhecimento da inde- pendéncia daquele pais em 1975, Angolanos c brasileiros continua- ram vinculados, nos anos 1990, por uma séric de interesses ¢ aces comuns. Desde as misses das Na- gies Unidas voltadas para a desmilitarizagio de Angola, assola- da pelos anos de guerra civil, até a participagio de empresas brasilei- ras em projetos de desenvolvi- mento que insistem em seguir 1 jtedple (Asa e Arie, Sho Pe lo: Brasiiense, 1982.5" ! Seupprojetts em campos minados, confo a ednstrusio da hidroclé tried de Chpanda, sio provas das Continuidkdes que animam o re- lacionaménto at Atlintico.ufticano esté vinculada a retomada gradual. da operacio- nalizagdo.da Zona de. Paz.¢ Coope- ragio do Adantico Sul (ZPCAS). Formalizada em 1986, ¢ relativ: mente esquecida nos anos seguin- tes,.2 ZPCAS realizou cm 1990, 1994 ¢ 1998 suas reunides. Preser- vase, gragas aos esforgos da i da ZPACAS, o Atlintico Sul como a regido mais desmilitarizada do mundo. A intensifieagio da dimen tre 0s dois ls da preser- vagio da paz ¢ do empreendl nento de projetos comuns na sirea de de- fesa do meio ambiente, é uma pro- messa para o inicio do novo miltnio: ‘A Gltima linha de agio da déca- dade 1990 leva o Brasil a Africa via (LCOS o ign da. An ae cn sHURy fersldade cf Brasil, 1994 ~ SAVTiAGo Daas dost Cs Palin oe UO GUUS Portugal. A de dos Paises de Lingua Portuguc- sa (CPLP) foi uma boa novidade dos anos 1990. Formada a partir das iddias lit de aproxima- gio das finguas, sua institucio- nalizagio recente permite imagi- nar a criagio de mecanismos de cconsultas entre os paises afticanos de lingua oficial portuguesa, Portus gal c o Brasil. Apesar de sua forma um pouco frouxa, 0 dislogo politico no interior da CPLP pode ocupar um papel importante na eventual retomada de um politica africana do Brasil com vigor de antes, # José Flavio Sombra Saraiva Professor do Departamento de Histéria da Universidade de Brasilia, PhO em Histéria da Africa pela Universidade ce Birmingham, Inglaterra, escreveu tivros sobre a Afrlea como: Formagie da Afrl- ‘ca contemporanea e O lugar da Africa, Digitalizado com CamScanner

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