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30 tnmedugie & Linguini Cogeitive Sentido 4 - SUSPENSAO DE UM OBJETO LEVE, “A bandeira esta hasteada” Considerando-se 0s sentidos listados eas traduc8es apropriadas para © portugués (entre aspas, abaixo dos exemplos), 0 que se verifica & que ‘embora 0 sentido 1 do verbo fly tenhia correspondéncia em portugues, 0 mesmo nao ocorre com os outros sentidos (que, em portugués, teriam ‘que ser expressos por outros verbos). Tendo em vista essas observagdes, sobre a polissemia do verbo voar em portugués e responda as seguintes perguntas: a. O verbo voar é polissémico também em portugues? b. Identifique quatro sentidos que fagam parte da rede polissémica do verbo voar em nossa lingua, Categorizacgao A construcao do significado envolve varios aspectos que tém sido abor- dados por modelos tesricos especificos no ambito da semantica cognitiva. O presente capitulo enfocard a questdo da categorizagio ¢ suas implicagdes para a compreensio do fendmeno linguistico. O que é categorizagao? Acategorizagio é 0 processo através do qual agrupamos entidades seme~ thantes (objetos, pessoas, lugares etc.) em classes especificas. Para ilustrarmos © proceso com um exemplo tipico de nosso dia a dia, basta pensarmos nos diferentes compartimentos de um guarda-roupa, Em geral, hi gavetas, pra- teleiras, araras e outras subdivisdes, que derivam do fato de classificarmos. 95 itens do vestudrio em diferentes tipos: aqueles que devem ser dobrados & guardados, aqueles que devem ser dobrados ¢ empilhados, aqueles que deve ser pendurados ete. O mesmo jo pode ser aplicado as subdivisdes existentes em varios outros utensi cotidiano, como geladeiras, mesas de escritério e carteiras de dinheiro. As subdivisdes de cada um deles refletern tum planejamento relacionado aos objetos que serdo colocados em seu interior, também separados em categorias especificas. Com relacdo & linguagem, 0 processo de categorizagao é, de fato, essen- cial. Na verdade, para falarmos do mundo, agrupamos um conjunto de objetos, Wvidades ou qualidades em classes especificas. Assim, a um conjunto de objetos semelhantes (mas ndo necessariamente idénticos) atribuimos 0 nome rvore; fazemos referéacia a um conjunto de atividades com caracteristicas igadas similares usando expressdes como trabalhar, brincar, © assim por diante. Da mesma forma, qualificamos as pessoas que compartilham determi- nadas caracteristicas como calmas, engracadas ou tagarelas. Nossas estratégias de categorizagao esto intimamente relacionadas & nossa capacidade de meméria, Podemos agrupar objetosem categorias para falarmos do 32 tntredugie & tinguisica Cognitive ‘mundo, mas nao podemos criarum niimero infnito decategorias, poisisso acarreta- ria em sobrecarga em termos de processamento e armazenamento de informagies. Ess Borge Funes, que sofre uma queda de cavalo e passa ater uma memoria prodigiosa. Por conta disso: (.) sabia as formas das nuvens austrais do amanhecer de trinta de abril de 1882 e podia compars-las na lembranga 4s dobras de um livro em pasta espanhola que 86 havia olhado uma vez e as, remo levaatou no Rio Negro na véspera da ado de Quebrado. Essas lem- brangas ; cada imagem visual estava ligada a sensacSes musculares, témicas etc. (Borges, (1944/2007) Em virtude da espantosa capacidade de meméria ilustrada no excerto Funes considera apropriado atribuir um nome para cada uma das diferentes nuvens, das diferentes dobras de um livro, das diferentes linhas formadas pela espuma de um barco. Da mesma forma, “perturbava-lhe que 0 fo das t torze (visto de perfil) tivesse o mesmo nome que 0 cdo das a constatagao de q muitas vezes, cab por ter adquirido uma meméria prodigiosa, que Ihe p Ixico bem mais extenso do que aquele disponivel ara wetura cognitiva dos Fa A insatistagdio de Funes em celagao a linguagem nos leva a} ¢40: como elegemos os atributos relevantes para a inclusao de um elemento em determinada categoria? Em outras palavras, quais caracteristicas deve possuir ‘um animal para que possa ser chamado de cdo? Ou que caracteristicas deve ter um objeto para que possamos chamd-lo de cadeira? Essas questdes nao so tdo triviais quanto possam parecer e tém estimu lado iniimeras refiexde: ia do pensamento ocidental, Partindo-se das indagagses classicas do mais recentemente a inve: bajo da Psicologia Cos importante participacao da Linguist Cotegorizacse 33 © modelo classico de categorizagao De acordo com 0 modelo oléssico de categorizagao, para que um elemento pertenga & determinada categoria deve poss apresentar ‘odos esses atributos (condi¢ao necessiia) © animal apresente exatamente esses atributos (condigao suficiente). Assim, enquanto gai Imente membros da categoria AVE, 05 pinguins preci los da categoria, por possuirem asas atrofiadas com fungio de nadadeira © ndo possuirem pena. Esse modelo de categorizagio, que remonta ao pensam foi retomado e detathado Katz ¢ Fodor (1963) sua referéncia mais importante, Os autores propuseram uum sistema de tragos para definir a estrutura semantica de itens lexicais.' A definicao de écuia, nesse sistema, seria diferente da definigdo de cavato em telagao a0 trago referente a género:c tas € pardais seriam indiscu [equro}, [x {avvtr0-] De acordo com esse model e sio tratadas, de modo objet proposta, entretanto, tem atraido intimeros ques século pasado, Wittgenstein jé havia ap palavra Game (jogo) a partir de tracos necessarios € que qualquer trago eleito para a defini¢ao da categoria nao estaria associado a todos os seus membros. Atributos presentes na maioria dos jogos, como “ati- vidade co lade", n2o surgem no jogo de p de cartas denominado paciéne' cchamar determinadas a fato de cada uma delas manter alguns tragos em comum com todas as outras, ‘mas niio necessariamente todos os tragos. Para ilustrar, Wittgenstein utiliza a Jhanga observadas entre os membros de uma familia. Por exemplo, pai ter o mesmo tipo de nariz.e a mesma cor de cabelo; mie ¢ filo podem ter a 2A tara & Lnguitca Cognitive ‘mesma cor de pele; filho e filha podem compartilhar a mesma cor de olhos. Assim como nio ha um trago compartithado por todos o's membros da fa mas um conjunto de tragos que permite compartilhamentos parciais, de modo anilogo, nao hé um trago definidor das categorias em geral IImore (1975), emi estudo classico sobre 0 termo inglés Bactscon (solteirdo), argumentou que @ decomposi¢io do item lexical com base nos tragos [MacHO+], [ADU {[casao0-} nao é suficiente para des- Na verdade, a definigao do termo re- vas, como o Tarzan, ainda que esses individuos compart rados. ‘0 questionamento em relagao ao modelo clissico de categorizagio atraiu 1 a atenco de antropélogos, como B Kay (Berlin e Kay, 1969), e adquiriu contornos mais definidos com o desenvolvimento de invest va sob acoordenacao de Eleanor Rosch (Rosch, 1973, 1978; Rosch e Mervis, 1975; Rosch et al., 1976). Essas contribuigdes sero discutidas nas proximas segaes. os Termos para cores Quais seriam os principios norteadores do processo de categorizagao das cores? Nos anos 1950 e 1960, antropSlogos investigaram diferencas icas na nomeagio de cores e descobriram que os termos para \gua para outra (Brown e Lenneberg, 1954; 550 05 levou & interpretagdo de que a categorizagao das cores era arbitraria e, de um modo mais geral, favoreceu uma visio relativista acerca das linguas. Na versio mais proposta por Edward Sapic © Benjamin Whorf, assume qu 'srecortam a realidade de modos vista, os antropél weagdo de cores fo que 0 especteo cromitica & estruturado por U conjumto de pontos de referéncia para orientagio, as chamadas cores focais. Em uma série de experin crométicos estandardizados e aplicaram testes de el era descobrir os termos bisicos do voc: seguintes critérios: a. O termo deveria consistir apenas de uma palavra de origem nativa (fermos compostos, como verde azulado, ou de origem estrangeira, como champagne, eram descartados) icagao do termo nao dé objetos (por exemplo, exc iram-se termos usados especificamente ete.) Na primeira fase do experimento, os informantes deveriam dizer os no- mes de cada uma das cores dos cartdes apresentados pelos pesquisadores. Na segunda fase, os informantes precisavam apontar: a._todososcartdes que eles nomeariam como cor. sob quaisquercondigaes, b. osmehorese: icos exemplares dex, denominados cores focais. 3s resultados dos experimentos demonstraram que as cores focais nao cram compartilhadas apenas por falantes de uma mest cram consistentes nas diferentes linguas. Sempre termo para a cor correspond: és, seus pontos focais eram localizados zna mesma drea, E mesmo em linguas com um niimero menor de cores basicas do que o inglés, 0s melhores exemplares dessas categorias combinavam com as respectivas cores focais apontadas nessa lingua Em resumo, os experiments de Berlin e Kay com rizagdo das cores nao ¢ arbitriria, mas ancorada em po mesmo por comunidades lingui trais s4o compartilhados universal cores basicas sto, na verdade, universais perceptuais e estabeleceram que as linguas codificam, no miximo, onze cores basicas, correspondentes a pontos focais de referéncia. Sao elas: preto, branco, vermelho, verde, amarelo, azul, 36 tntrodugéo 8 Linguistica Cognitive marrom, laranja, rosa, roxo e cinza, Além disso, a ocorréncia dos termos relati- vos a essas cores basicas nas diferentes linguas obedece 4 seguinte hierarquia: PRETO > VERMELHO > VERDE > AMARELO > AZUL > MARROM > LARANIA BRANCO ROXO ROSA cNza Figura 2 — Hierorquia de cores focais. A hierarquia anterior estabelece que se uma lingua tiver apenas dois, termos basicos para cores, esses termos serdo preto e branco; se apresentar trés termos, os termos serdo preto, branco e vermetho, ¢ assim sucessivamente. izam no final da escala, no ha hierarquia ter todos os termos A esquerda e, ainda, A base psicolégica das cores focais As investigagdes iniciais de Rosch, no mbito da Psicologia, objetivaram explorara base psicolégica das cores focais. O objetivo principal era deteminar se as cores focais partiam da linguagem ou da cognicdo pré-linguistica. Ao investigar os termos para cores utilizados pelos Dani (tribo da Nova Guiné), erificou que havia apenas dois termos bisicos para cores, que poderiam termo inclui ias, como o azul, o verde, apenas dois termos bésicos ndo signifi de acordo com Rosch, que os falantes dessa lingua nao pudessem reconhecer todo 0 dominio cromatico. Na verdade, os termos basicos recobrem todo 0 espectro de cores, ¢ 0s Dani poderiam recorrer a termos compostos para indicar diferentes tonalidades como, alids, também é o caso dos falantes de portugues que diferenciam varias nuances de cores através de termos compostos (ex. azul-piscina, roxo-batata, rosa-bebe etc). ‘bm rolapdo ds peaquisas de Rosch com cores, os priacipais achados po- dem ser assien resuniidos: Cotegorizogdo 37 a. As cores focais so perceptualmente mais salientes do que as cores nko focais. Aatengao de criangas de 3 anos é mais facilmente at ida por cores fo- cais do que por cores nao focais, ecriangas de 4 anos combinam melhor cores focais do que nao focais em tarefas de combinagao de cartoes. b. As cores focais so lembradas com mais acuidade pela meméria de curto prazo e mais facilmente retidas na meméria de longo prazo. ©. Osnomes das cores focais so produzidos mais rapidamente na tarefa de nomeagao de cores, além de serem adquitidos mais cedo pelas criangas. as cores focais parecem ter saliéncia cognit a particular, provavelmente de forma independente da linguagem, e parecem refleir cer- tos aspectos fisioligicos dos mecanismos perceptuais do ser humano. Esses, resultados encorajaram Rosch a estender a nogdo de foco —ou protétipo ~ para além da categoria cromatica, ou seja, para dominios como formas, 01 e objetos. A categorizacgao de objetos termos de categorias proto 1978) partiu para a investigacdo dos julgamentos de estudantes univers a respeito das seguintes categorias: FRUTA, MOBILIA, VEICULO, ARMA, LEGUME, FERRAMENTA, AVE, ESPORTE € ERINQUEDO. Os estudantes precisavam julgar se os itens apresentados eram “bons exemplos” das categorias indicadas. Os resultados da pesquisa indicaram a existéncia de efeitos prototipicos. Cadeiras, so dos como x cinzeiros, ridios, relogios e vasos foram considerades exemplos periféricos da categoria. Adotando perspectiva semelhante a de Rosch, mas objetivando testar a falta de preciso dos limites categoriais, Labov (1973, 1978) desenvolveu uma série de experimentos envolvendo xicaras ¢ obj cram, na verdade, muito simples. Os similares. Os experimentos formantes deveriam observar uma série de desenhos desses objetos e nomed-los. Os desenhos, apresentados um a um 0s informantes, etam os seguintes 98 ntradagie o Linguistica Cogoiiva gQevee’ => Figura 3 — Objetos opresentador por Labov em tarefa de nomeacéo. (Os resultados da tarefa de nomeacao foram analisados em termos de “per- fis de consisténcia", ou seja, se todos os informantes nomeassem um objeto ‘como cur (xicara), a consisténcia seria de 100%. Se a metade dos informantes ficasse em diivida e usasse outros nomes, enquanto a outra metade escol cur, a consisténcia seria de 50%. Por fim, se ninguém atribuisse a0 objeto 0 Em um dos testes, envolvendo os objetos 1 a 5,a consisténcia caiu em re- lagdo aos objetos 4 ¢ 5. No caso desses objetos, alguns informantes escolheram © nome cur, também escolhido majoritariamente para os objetos anteriores, ‘mas outros informantes preferiram o nome now. (tigela) Entretanto, os li ites categoriais assumem nova dimensdo nos expe: Fimentos subsequentes, nos quais se acrescentam as seguintes informacdes contextuais: (a) situayao envolvendo “tomar café”; (b) situagdo de mesa de Jantarna qual os objetos contém puré de batatas; (c) situago em que os objetos estdo numa prateleira com flores dentro deles. Nesses novos contextos, os resultados referentes aos limites categoriais apresentaram uma guinada sig fa. Por exemplo, no contexto envolvendo comida, os objetos 3 ¢ 4 deixaram de ser cuP para a maioria dos informantes © passaram a ser chamados de sowt (tigela). Considerando-se 03 achados de Rosch ¢ Labov, as seguintes conclusdes podem ser listadas: As categorias nao representam divisdes arbitririas de do mundo, mas surgem baseadas em capa mente humana. cotegortagse 39 Gi) Categorias de cores, formas, mas também organismos concretos, sdo ancoradas em pi s concepttialmente que desempenham papel crucial na formago dessas categorias.* AAs fronteiras das categorias cognitivas slo imprecisas, de modo que eategorias vizinhas ndo sio separadas por limites rigidos, mas hi uma zona de intersecgo. Niveis de categorizacao As pesquisas também demonstraram que a categorizasao apresenta niveis, de incluso, de modo que um dos niveis funciona como o nivel basico de especificidade Berlin et al., 1973; Rosch ct al., 1976). Observemos: ) (a) Veiculo — carro — jipe (b) Fruta — banana ~ banana-prata (©) Ser vivo ~ animal ~ edo — pastor-alemio (@) Objeto ~ item do mobi io — cadeira ~ cadeira de balanso egorizagdo apresenta caracter us especial, ¢ pode ser definide como o ni maximo no qual: (i Os individuos usam padres de comportamento motor semelhantes para interagir com os membros da categoria. ‘Uma imagem mental nica pode representar toda a categoria. Os membros da categoria tém formas globais percebidas como ares, ior parte das informagdes uteis e d sobre os membros da categoria so ihecimento dos falantes rados. memos como modelo a categoria basica canxo, Veremos que ela abe que podemos imaginar alguém fazendo uma mimica de carro. A possibilidade de imaginar algo desse tipo nos ‘mostra padres motores de comportamento relacionados 20 objeto carro. O ‘mesmo nio acorreria se a categoria imaginada fosse veicuto, tendo em vista 40 treads & Lingvitca Corie que os padrdes de comportamento motor si0, uum carro, uma moto ou um barco, por exemplo. O eritério (ii) também pode ser facilmente contemplado, ja que é ple- ‘namente possivel estabelecer uma imagem mental tnica de cazno (mas nao de veicuto). Do mesuto modo, é possivel reconhecer um carro por sua forma ilar a outros cartos, mas ndo é possivel reconhecer a categoria la similaridade de forma entre seus membros (crtério (ii)). Por fim, € mais fécil para os falantes reunir um conjunto de informagées titeis sobre canto do que sobre veicuto (critério (i As pesquisas apontam também a existéncia de dois outros niveis rele- vantes: 0 superordenado € 0 subordinado. O nivel superordenado apresenta as seguintes caracteristicas: to diferentes quando se dirige @ A semethanga entre os membros € baixa, em contraste com a se- melhanga entre os membros da: On do que nas categorias de nivel bisico. Os nomes das categorias superordenadas so nomes no veis, enquanto os nomes das categorjas de nivel basico costumam ser contaveis. Observemos o seguinte didlogo: lades de resposta, os termos carro, -ulo poderiam ter sido usados pelo int B para indicar Entretanto, Mercedes (categoria subordinada) ou veiculo ada) tornariam a resposta menos neutra, Se optasse por fercedes, B permitiria inferéncias adicionais associadas a especificagao do ipo de carro, como a suposiedo de que a situagao financeira de Joao amar mais elevado. Por outro lado, a escotha do termo veic 0 mesmo refer (categoria superor poderia e agora de um meio de transporte préprio, mas no tem certeza se é uma bicicleta, uma moto ou um. carro, por exemple. Yomemos, agora, a categoria superordenada touca. De fato, a semelhi Pe indicar que o interlocutor sabe apenas que Joao di enire seus membros (travessa, prato, copo etc.) & menor do que a sem thanga entre os membros da categoria basica eRaro (prato raso, prato fundo, O niimero de at de atributos definidores dos membros das categorias basicas. A categoria Louca pode ser definida a partir do atributo [utensilio utilizado nas refeigies]; ja a categoria eRaro apresenta também os atributos (utensilio onde é colocada a comida) ¢ [uter J; por fim, de acordo com a caracteris- tica nomes contéveis, como ilustra o enunciado a seguir: (10) Depois da festa, lavei a louga: cinco travessas, vinte pratos € vinte copos. A impossibilidade de pluralizar louga confirma seu si superordenada, a0 passo que a pluralizagao de travessa, prato e cope reflete 0 fato de esses termos designarem niveis bisicos de categorizagao. No que se refere a0 ubordinado, as categorias diferem minima- tus de categoria situada imediatamente acima na bierarquia Assim, os individuos tendem a listar praticamente os mesmos atributos para PRATO € PRATO DE SoPA (em geral esse iltimo) ista-se apenas uma propriedade a mais para interessante notar que os falantes normalmente percebem os termos de nivel basico como os verdadeiros nomes do referente. Esses termos costumam, ser mais curtos do que os termos em outros niveis (normalmente monomor- femicos) e nao costumam ser criados como extensBes metafSricas a partir de outros dominios. Protétipos e efeitos prototipicos Entre protétipos ¢ fronteiras categoriais ha membros intermedidrios, organizados em termos de uma escala de prototipicidade. A organizacao cate- gorial envolve desde representantes mais centrais, com suficiente similatidade a0 protétipo, até representantes muito periféricos, que constituem efeitos do protStipo ¢ apresentam poucos trapas em comum com o alicleo categorial. E ‘© que se observa em relagdo aos membs tragos da categoria avE S20 05 seguintes: iz © pinguim, cujos 42 tnteodugdo a Linguistica Cognitive Tabelo 1 —Tiocos de membros de categoria ait A tabela ing ca que apenas 0 sabid, entre os tr8s animais selecionados, ‘ocupa.o nicleo prototipico da categoria ave. O avestruz apresenta quase todos 0s tragos definidores da categoria, com excegao de um (“poder voar"),¢ fica, Portanto, um pouco afastado do prot6tipo. O pinguim, por sua vez, apresenta apenas ts tragos, ficando mais prdximo a fronteira categorial® A figura se- guinte ilustra essa distribuicao: Figura 4 ~ Categoris ead E preciso ressaltar,entretanto, que nem sempre a avaliagde de similari- dade toma o protétipo como referéncia, posicionando os demais membros em fungdo do grau de compartithamento de atributos abstratos e independents do clemontn contra). Rosch (1900) saliontou que hd vieias outras Cormas pelas 'yuths 2s eategorias prototipicas podem ser formadas. Algumas slo baseadas Cotogertzacse 43 em frequéncia estatistica, calculada em termos do niimero ou média de varios atributos (em estruturas do tipo semethanca familiar). Outras categorias 330 formadas em tomo de ideais salientes por forca de Fatores fisiolSgicos (ex. boa forma, cor focal); de objetivos especificos (ex. a categoria “c para dieta” ‘tem como ideal a proximidade a zero caloria) ou de experiéncia individual (0 ideal se torna saliente em fungao do significado emocional). O papel do contexto e dos modelos culturais Como a pesquisa pioneira de Labov jé havia demonstrado em relagio categoria cur, varios estudos posteriores confirmaram que 0s individuos representam certas propriedades categoriais de forma diferente em diferentes contextos. Consideremos as seguintes sentencas: (1) Eles decidiram enfeitar a arvore do jardim para 0 Natal, (12) Os meninos passavam tardes inteiras trepados na arvore, colhendo mangas (13) A brisa balaneava as drvores na orla baians, Em fungao do cont 0, € natural que em cada uma das sen tengas formemos uma di imagem mental das arvores denotadas. No contexto de Natal, contexto no exer um pinheiro. J4 no contexto (12) mangueira, Por fim, no exemplo (1 Esses exemplos sugerem que o exemplar mais prototipico de uma categoria também pode depender do contexto. E os membros centrais de- pendentes do contexto podem ser completamente diferentes dos prot ndo contextualizados, a colhida remete-nos a uma Mas 0 que é contexto? Tendo em vista que 0 contexto pode promover a reestruturagao cate- io desse conceito. Embora a 1 seja 0 ponto de partida para goral, ¢ preciso compreender melhor a defini ccaracterizagdo de contexto como fendmeno me 4A. tcodaxte & ingvistice Cognitive diferentes definigoes, as pesquisas em Linguistica Cognitiva tém descartado a nogio de representacdo mental abstrata ¢ preexistente (normalmente adotada nas pesquisas de base psicologi izi-lo como evento mental rico, imagistico, sensorial e corpéreo. A segunda opeao se rel tese da base corpérea da cognicao (embodiment hypothesi premissa é a de que as experiéncias vividas corpos em ago fornecem a base fundamental para a cognic atividades cognitivas tis como percepeao, formagiio de conceitos, imagistica ‘mental, meméria, raciocinio, tinguagem, emopdes e consciéncia (Gibbs, 2006). As experiéncias cognitivas locais, como registros compartilhados de uma conversa em andamento (contexto linguistico) ou parametros relacio- nados ao tipo de evento de fala (contexto social) caracterizam a primeira avepeaio de cont Ocontexto ico constitui a base comum (personal common ground) ue, de acordo com Clark (1996), apresenta trés aspectos: (@discurso precedente — aquilo que foi dito imediatamente antes do termo em foco, (i) ambiente linguistico imediato ~ a expresso ou frase em que 0 termo ocorre. E 0 ambiente linguistico imediato que possibilita interpretagdes diferentes para 0 mesmo vocabulo ~ a compreen- sto da palavra manga de formas distintas em “O menino comeu a manga” ¢ “A manga da camisa est manchada”, por exemplo. tipo de discurso~0 género textual (poema, romance, liveo. informal) e 0 campo discursivo (legal, ecl de ocorréncia do termo. tem sido destacada como uma das facetas mais relevantes na intecago social (Levinson, 2000; Givén, 2005). Assume-se que o falante no apenas constedi mentalmente a realidade fisica externa, mas também os estados mentais de conhecimento, crenga e intencdo de seus interlocutores. A sequnds aeeppio de coatexte ectaciona-se & memsia permanente. Em expefimento envolvendo a cor vermetha, Halff, Ortony ¢ Anderson (1976) Cotogerizagse 45 observaram representagdes ‘mes, batatas ou vinhos. Isso intas em contexts referentes a magas, legu- que as categorias ccomiticas podem variar do vermetho prototis AS representagdes cognitivas referentes a modelos culturais também. podem influenci rrutura categorial. Em experimento realizado por Barsalou e Medin (1986), verificou-se que péssaros tipicos do ponto de vista dos americanos, robins e eagles, s20 atipicos do ponto de vista dos chineses,” ‘o que também sugere a relagao entre prototipos e fatores culturais. Portanto, no constituem, necessariamente, representagdes abstratas que emergem de inst€ncias especificas de um determinado conceito. Como exemplo do efeito dos modelos culturais no processo de catego~ rizagao, Ungerer e Schmid (1996) discutem a categoria existbika REFEICRO 00 ia, comparando os protétipos categoriais em francés e inglés. Enquanto a categoria petic déjeuner costuma apontar para uma refeicdo bastante frugal, 0 mesmo ndo ocorre com a categoria breakfast. Vejamos café ccreal eIeite croissant ché ou café, suco de laranja torradas, manteiga, geleia bacon, ovos, salsicha, tomates. Tabola 2 -Protétipos cotegorics para a primeira vesicle do dio. 10s de café da manha sio tio diferentes por reftetirem mode tos relacionados & primeira refeicao do dia. De acordo com menor importincia porque o almogo modelo inglés, por outro lado, prevé que a primeira ca iltima refeigao devem 5 enquanto que 2 refeigao intermediaria deve ser leve, 10 capitulo, a questo dos modelos cognitivos ¢ culturais serd aprofundada, a partir do detathamento das principais propostas que inter-relacionam linguagem e estruturas de conhecimento armazenadas na meméria permanente. 46 trode & Linguistica Cognitive Exercicios 1. Desenhe (ou recorte de uma revista) exemplos protot icos ¢ exemplos fronteirigos das categorias GARRAFA, COPO, VASO € TIGELA, € uSe-os como. estimutos para uma tarefa de nomeagao entre seus amigos ou sua f Analise os resultados em termos de “perfis de consisténcia”™ Tl, Considere as seguintes sentencas: L. (@) Todo aquele que destréi a natureza é um (b) Todo aquele que destr6i a natureza é meio. a, 2. (@)O inicio da palestra sera ds dez horas em ponto. (6) 0 inicio da palestra sera tipo dez horas 3. (a) A Franca tem exatamente a forma de um hexdgono. (b) A Franca tem aproximadamente a forma de um hexagono. ‘As palavras sublitthadas em cada par de malmente classificadas como * de suas funedes sinalizar a loc determinada estrutura categorial, Com base nessa informagao, identifique a ‘maneira pela qual as expressdes sublinhadas em (a) diferem das expressdes, sublinhadas em (b) em relago & funcio de angulacao. IIL Em relagio aos exemplos do exer: Jue possiveis pardfrases para as expresses subl Iv. indica, normalmer seguintes dados de dimini -etto, @ -ello em italiano (2) paese —_paesino “pais? ia" mamma — martina v. Cotegerizasse 47 8) @ 6) © “belo” “bonitinho? 0s diminutivos também podem ser acrescentados a verbos (0s sufixos, verbais ~icchiare e -ucchiare) (7) dormire —_dormicchiare ‘dormir’ ‘tirar uma soneca” (8) lavorare —_lavorieciare ‘trabalhar’” ‘dar uma trabalhada’ (9) parlare —parlucchiare falar’ falar lex. uma lingua estrangeira] Com base nos dados mada pelo sentidos existentes. a, identifique o tipo de categoria for- estabelecendo as relagdes entre os Kopatsch (2007) investigou as diferencas de categorizacao entre estu- dantes nigerianos e americanos. Uma das categorias analisadas foi roor (tethadovteto”), e 05 estud: deveriam apontar atributos .a nacional dos Estados Unidos e a li mo segunda ou tercei seria esperado, a p que o modelo cognitive associado ao termo RooF fosse compartillhado por ambos os grupos. Entretanto, os resultados demonstraram diferengas importantes, apresentadas no quadro iparam de um experimento n0 qual Com base nos resultados acima, responda as seguintes perguntas: (@ Que atributos foram associados & categoria kor tanto por ameri- ccanos quanto por nigerianos? Em que aspectos os dois grupos diferiram? (ii)_O que se pode concluie a respeito dessas diferengas? Frames e Modelos Cognitivos Idealizados As estruturas de conhecimento armazenadas na meméria permanente ‘ém papel decisivo na coustrugdo do significado. Na verdade, so essas es- ‘ruturas que aos permitem explicar por que a interpretagdo envolve sempre ‘mais informago do que aquela diretamente codificada na forma linguistica, ‘Como podemos saber que um estacionamento rotativo nfo é exatamente um estacionamento giratério? Ou que a expressio final de semana nfo designa literalmente os dois iltimos dias da semana? Para tratar da construgdo do significado a partir da linguagem, diferentes vertentes da Linguistica Cognitiva tem buscado desenvolver conceitos que reflitam as estruturas de conhecimento subjacentes . Langacker (1987: 147) estabelece a nogio de dominio para tratar de es- ‘truturas armazenadas na meméria semantica permanente. O autor argumenta que dominio é 0 contexto de caracterizagio da unidade semantica, destacando como dominios mais basicos aqueles que apresentam estreita ligagdo com a experiéncia corporal: espago, visio, temperatura, paladar, pressio, dor ¢ cor. O termo circulo, por exemplo, designa uma érea perfilada! no espago bidimensional, que atua como seu dominio (ou contexto). S40 termo didmetro ‘io pode ser adequadamente definido apenas com base no espago bidimensio- nal, Se assim fosse, representaria uma linka e no uma dimensdo do circulo. Assim, 0 dominio para didmetro & circulo.” A Figura 5 ilustra os dois casos:

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