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c -PREVENIR SDETETARe AGIR CONTRA oO abuso sexual de menores Editado por: Desenho, ilustragao Ary Varela e layout: Carla Corsino - Fundacién Margenes no ambito do projeto ALMA y Vinculos - Miguel Bernardo Colaboram como parceiros: - Fundacion Margenes y Vinculos - Fundagdo ALMA Revisdo Ortografica: Joana Nicolau Impresso em: Fevereiro de 2021 COANE Financiado por: Este guia foi financiado integralmente por um subsidio do Departamento de Estado dos Estados Unidos. As opinides, constatagdes e conclusdes aqui declaradas sdo de responsabilidade dos autores e ndo refletem necessariamente as do Departamento de Estado dos Estados Unidos. NOTA EXPLICATIVA: Este guia foi adaptado a uma linguagem n4o sexista, cuja Unica excecdo foi a de evitar repeticdes e complexidades na reda¢ado, evitando a constante incluséo de ambos os géneros, tanto no singular como no plural, quando nos referimos a crianca/menor e a pessoa que cometeu o crime/agressor(a). Ao longo deste Guia quando se fala de menores se remete a designacdo do Estatuto da Crianga e do Adolescente. Para efeitos do presente Estatuto entende-se por: a) “Crianga", todo o individuo antes de completar os doze anos de idade; b) “Adolescente”, todo o individuo a partir dos doze anos e até que complete os dezoito anos de idade. VENDA PROIBIDA Conteudos - Apresentacao - Compromisso Social através do Projeto ALMA - O que éa violéncia e o abuso sexual de menores? - Onde se cometem os atos e por quem? - Mitos vs Realidade - Como saber/reconhecer se um menor esta sendo vitima de abuso e/ou violéncia sexual? - Sinais de alerta - Como atuar caso um menor contar que esta sendo vitima de abuso e violéncia sexual? - Prevengdo: casos de abuso e violéncia sexual podem ser evitados? - Regras de Ouro que toda a crianga deveria conhecer - Trauma - O que é e como afeta a vida de um menor. - Como ajudar e o que fazer legalmente, perante suspeita? Apresentacao O abuso sexual infantil é considerado pela Organizagdo Mundial de Satide (OMS) como um dos maiores problemas de satide publica do mundo e, como tal, ndo deve ser negligenciado. A luta contra o abuso e a violéncia sexual é um dever global, é responsabilidade de todos e todas lutarem contra este tipo de abuso. A violéncia sexual é uma violéncia invisivel que deixa marcas psicoldgicas e cicatrizes na alma das suas vitimas. Em Cabo Verde, os crimes de abuso sexual sdo perpetrados principalmente contra raparigas, no entanto, cada vez mais surgem dentincias de abuso contra rapazes. Os dados demostram que 51% dos casos sdo contra menores, com idades compreendidas entre os 0 e 12 anos de idade. A violéncia sexual compromete o desenvolvimento das criancas e adolescentes, deixando marcas que se nado forem bem apoiados e tratados, sdo perpetuados e renovados ao longo da vida. A elaboragdo deste Guia, esta enquadrado nas atividades do Projeto ALMA, uma iniciativa dos ex - Alumnis AEIF Ary Varela & Carla Corsino, financiado pela Embaixada dos Estados Unidos da América - 2020 Alumni Engagement Innovation Fund, enquanto participantes do IVLP 2018 em EUA, inserido num programa de Luta Contra o Abuso Sexual a Menores e Adolescentes. Este guia conta ainda com a especial participagdo da Psicdloga Clinica e Juridica Kika Freyre da Cereus Psicologia e Arte, um servigo especializado e centrado no cuidado a saude mental infantil, na cidade da Praia e que tem vindo a trabalhar através da Arteterapia, com criancgas e adolescentes vitimas de violéncia sexual. A Fundacao Margenes y Vinculos www.fmv.org, autorizou-nos a reproducdo do seu guia http://fmyv.es/wp-content/uploads/ 2019/02/prevencion-abuso-sexual-infancia-adolescencia.pdf, para que sirva de ferramenta de prevengdo no ambito do Projeto ALMA na luta contra a violéncia e abuso sexual em Cabo Verde. O presente guia foi complementado com informagao adicional, de acordo com a realidade Cabo-Verdiana e especificidades do projeto.Este guia, rene uma série de informacées pertinentes ndo sO para mes, pais e encarregados de educacdo, mas também para a rede de profissionais que trabalham com criangas e para aqueles que intervém de forma direta na prevencdo e identificagdo de casos. Pode, também, ser uma luz para que possiveis vitimas, com idade para entender o conteddo deste guia, possam denunciar e procurar ajuda na cicatrizacdo das feridas que o abuso tenha causado. COMPROMISSO SOCIAL através do Projeto ALMA A palavra Trauma deriva do grego e significa ferida. O Projeto Alma pretende ajudar a cicatrizar as feridas da Alma, a partir de uma intervengdo de acolhimento e crescimento pessoal, disponibilizando ferramentas que serdo Uteis durante toda a vida. Existem diferentes terapias que sao aplicadas para a recuperacgéo de traumas e que ja provaram ser eficazes. O acompanhamento psicologico é essencial. Existem também outras técnicas que podem ser trabalhadas em paralelo de acordo com as necessidades singulares de cada pessoa, a sua historia, as suas dores, os seus medos e€ as suas necessidades. O Projeto Alma oferece uma intervencao integral a partir da utilizacgaéo e aplicagdo de técnicas de bem-estar, disponibilizando ferramentas que podem ser utilizadas individualmente e em qualquer situacdo - Arteterapia, a Terapia do Jogo, a Meditacao e a Atencgdo Plena (Mindfulness) - técnicas que melhoram a qualidade de vida e séo complementares no tratamento da ansiedade, depressao, ideias suicidas etc. E possivel superar o trauma vivido por mais dificil e impossivel que possa parecer. Superar é diferente de esquecer, é algo que requer muito amor, técnica e ética e isso da-se mediante um tratamento integral as feridas da alma. Gragas ao financiamento deste Projeto por parte da Embaixada dos Estados Unidos a Fundacdo Alma ao longo de 2021, serdéo atendidos, — gratuitamente e com acompanhamento especializado, no minimo 12 menores vitimas de abuso sexual, na cidade de Espargos e Santa Maria, na Ilha do Sal. Ainda serdo realizadas formag6es online com diversos profissionais das areas da satide, educacao e justica. Sera, também, langado um programa de advocacia com adolescentes/jovens no ambito de uma campanha de prevencao e reptdio a este crime. Juntos somos mais e somos mais fortes. A Fundagéo Margens e Vinculos - www.fmv.org , € uma organizacéo Espanhola com vasta experiéncia em projetos de ambito social e, em particular, no combate ao Abuso e Violéncia Sexual. Esta é um parceiro estrela deste projeto, facultando e partilhando saber e material de campanhas bem-sucedidas - “N&o se pode manter a margem deste tipo de crime. Nao ha fronteiras que nos impecam de colaborar e intervir, quando ha tantas vitimas guardando segredos que doem”. Este projeto foi idealizado com um propésito claro de servir para um bem maior e conta com a colaboracao de anjos na terra e no céu. Para conhecer melhor o compromisso social da Fundagdo Alma ou se precisar de ajuda, entre em contacto através do email: fundacaoalma@gmail.com. SN COMPROMISSO SOCIAL através do Projeto ALMA O nosso propésito ao editar este guia é chamar a atengdo para uma série de factos que ocorrem na nossa sociedade, mais frequentemente do que nos atrevemos a_ reconhecer. Pretendemos oferecer as ferramentas necessarias para, em primeiro lugar, prevenir possiveis violéncias sexuais através de informacées que facilitem a conversa e a educagdo com meninos e meninas sobre estas questdes, assim como a sociedade em geral. Em segundo lugar, como instrumento de detecado e prevencao, para que se possa reconhecer e agir em conformidade. Aqui se oferecem informagdes Uteis para os progenitores e encarregados de educagdo, docentes e profissionais de diferentes frentes, que precisam ter um cuidado especial e serem profissionais excecionais ao atenderem vitimas ou supostas vitimas de abuso sexual. Mas também, servir de guia a adolescentes que podem no momento encontrar-se numa situagao de abuso ou violéncia sexual ou conhecem alguém que o esteja a ser. Em terceiro lugar, como ajuda para empreender um caminho de agdo, no caso de ocorrer uma situagdéo de violéncia sexual, sabendo onde se dirigir para receber a ajuda necessaria de modo a enfrentar com segurancga este dificil processo e reconhecer os sinais de alerta. E importante neste momento saber manter a calma, ndo agir com angustia e medo. Nao podemos mudar o que aconteceu, mas o simples facto de se detetar o que esta a acontecer e que a crianga se sinta escutada e acompanhada, ja € UM GRANDE PASSO. O que permanece escondido dura e perdura no tempo O que 6 VIOLENGIA e ABUSO SEXUAL contra MENORES us A violéncia sexual € uma forma de abuso que ameacga a integridade fisica e psicoldgica da crianga. Pode assumir muitas formas: abuso sexual, pornografia, prostituigdo, trafico, exploracao, etc., e pode ser usado como um termo geral para se referir a este tipo de crime. Quem agride (agressor) sdo geralmente pessoas adultas conhecidas dos menores, existindo, por vezes, casos em que um menor possa ser 0 agressor de outro menor. E suficiente que o comportamento de abuso sexual aconteca uma vez, para ser considerado como tal. Ha consenso de que sao necessarios dois critérios basicos para se considerar abuso e/ou violéncia sexual: * Que haja diferenca de poder entre vitima e agressor/a. * Que a crianca é utilizada para satisfazer sexualmente o agressor/a ou a outra/outras pessoas. Entende-se que existe uma diferencga de poder, quando a vitima esta numa situagdo de inferioridade, quer por questdes de idade, nivel de desenvolvimento, doencga ou incapacidade ou ainda quando o agressor abusa da sua _ autoridade, superioridade ou parentesco, para exercer 0 abuso. As estratégias que o agressor utiliza para atingir os seus fins vao desde a coercao, o uso da forca, a surpresa, a seducado e/ou o engano. O tipo de comportamento sexual que pode ter lugar entre a vitima e o(s) agressor(es), pode ser com ou sem contacto fisico, variando desde propostas verbais, exposic¢ao dos genitais, penetragdo anal, genital ou oral, caricias sexuais, pedidos sexuais, Sexo oral, exibicao de filmes ou imagens pornograficas e ainda manter conversas de teor sexual ou sugestiva com a crianga/menor quer pessoalmente, por telefone, pela internet ou através de mensagens de texto. A utilizagao de uma criancga para produzir, vender, distribuir, exibir, adquirir, possuir ou traficar pornografia infantil € uma forma de violéncia sexual. ONDE se cometem os atos e por QUEM a A violéncia sexual contra criangas e adolescentes é cometida em todas as classes sociais, paises e culturas. Em Cabo Verde, a maioria dos atos de abuso e violéncia sexual, sdo cometidos pelos membros da propria familia da crianga ou por pessoas proximas mesma e, em menores casos, por pessoas desconhecidas da crianca ou da sua familia. Normalmente, os agressores sdo pessoas mentalmente saudaveis, socialmente integradas e a maioria ndo padece de problemas psiquiatricos. Geralmente, quem abusa ndo tem uma caracteristica que ajuda a identificar a priori. N&o existe, portanto, um perfil de abusador/agressor, se assim fosse, seria muito mais facil a prevencdo deste tipo de crimes. A maioria dos abusadores nega a violéncia sexual e, so as vezes, em circunstancias legais o admitem, minimizando sempre os factos: "ndo foi assim téo importante", "ndo a magoei", "a culpa foi dele/dela", "s6 aconteceu uma vez". m Sabe-se que o agressor pode reincidir, por ] isso é tao necessario denunciar os factos e assim intervir judicial e psicologicamente. Quando expostos, podem lamentar e referir que nao voltara a acontecer, tendo apenas acontecido porque estavam bébados ou drogados. Acabam por ser muito convincentes, pelo que muitas vezes a familia esconde os factos, por acharem que foi um caso isolado, Deste modo, as vitimas ficam em situagdo de vulnerabilidade extrema, dando continuidade 4 situagdo de abuso ou violéncia sexual. tbl UMA VEZ CUL O1 DELE M ITOS sobre a violéncia sexual contra criangas e adolescentes M1E pouco frequente e apenas as meninas s4o vitimas. M2 E um crime cometido por pessoas que padecem de doenca mental. M3 Sao sempre pessoas desconhecidas das vitimas. M4 Ocorrem apenas nas classes sociais mais baixas. M5 A culpa é da crianga, ja que poderia ter impedido. M6 Seria facil descobrir se 0 abuso estivesse a ser cometido contra um menino ou menina da nossa familia. M7 A violéncia sexual anda sempre de maos dadas com a violéncia fisica. MB A violéncia sexual tem sempre consequéncias muito graves. M9 Abusadores sexuais sao sempre homens. REALIDADE sobre a violéncia sexual contra criangas e adolescentes R1 Dados oficiais demonstram que em Cabo Verde ha cada vez mais noticias e denuncias de abuso e violéncia sexual, sendo o ato cometido contra meninas e meninos. R2 Na grande maioria dos casos, os agressores sexuais sd0 pessoas mentalmente saudaveis, sem sinais de doenca mental. R3 A violéncia sexual contra criangas ocorre mais frequentemente no circulo da vitima (familia, amigos da familia, padrinhos, avés) e menos frequentemente por pessoas desconhecidas. R4 Pode ser cometido em todos os ambientes sociais e culturais. R5 Os menores nao sao responsaveis pelos atos praticados por um adulto. R6 O siléncio e o medo das vitimas fazem com que os abusos sejam mantidos em segredo. R7 Na maioria das vezes a violéncia sexual esta ligada a manipulagao, as ameagas e ao engano e nao a violéncia fisica. R8 A gravidade das consequéncias depende de diversos fatores. A ajuda psicoldgica imediata evita efeitos graves e ajuda a normaiizar a vida da vitima. R9 Ha casos de mulheres que abusaram sexualmente de criangas, sobretudo de rapazes. Fonte: Adaptacién de FMYV de textos originarios de Alonso, Font y Val (2000) COMO SABER/reconhecer se um menor esta sendo vitima de abuso e violéncia sexual As criangas vitimas de violéncia sexual encontram-se numa _ situagdo bastante dificil. Muitas vezes silenciadas por ameacas, mantém em segredo o que Ihes acontece, podendo também esconder por medo e/ ou vergonha, chantagem emocional ou suborno através de presentes oferecidos pelo prdprio agressor. Ha ainda criangas que, devido 4 sua tenra idade ou as caracteristicas da violéncia sexual que sofrem/sofreram, sao levadas a acreditar que o que |hes acontece é uma forma secreta de brincadeira, por isso a importancia das chamadas REGRAS DE OURO QUE TODA CRIANCA DEVERIA CONHECER. E pouco frequente observarmos sinais fisicos, mas se detetarmos les6es nas areas anal e/ou vaginal / ou mesmo sinais de infegdes na boca, devemos proceder rapidamente a uma consulta médica. Embora muitas criangas ndo mencionem a ninguém as situagd6es de abuso de que estado sendo vitimas, por vezes expressam- no através de mudancas comportamentais: disturbios do sono (pesadelos, voltar a fazer chichi nacama,.medo de dormir sozinho(a), etc.), recusa em ficar Compalguém ou ir a determinados lugares, disturbios alimentares, medos, declinio no desempenho escolar, comportamento mais infantil, fuga de casa e comportamento violento e/ou sexual improprio para a sua idade. Estes sintomas/comportamentos podem também indicar outro tipo de problemas que a crianga possa estar a enfrentar. Também existem outras criangas que relatam que estéo a sofrer de violéncia sexual. O facto de uma crianca contar 0 que Ihe esta a acontecer é um dos indicadores mais claros de violéncia sexual, pelo que é importante consultar um __ profissional (assistente social, médico ou psicélogo), mesmo que o relato da crianca pareca estranho ou infundado, o profissional tera meios para verificar a sua autenticidade. Sinais de alerta Sinais fisicos de abuso sexual ndo séo muito comuns, mas aqui esto alguns sinais a ter em conta. Recordemos, nao significa obrigatoriamente que uma situagéo de abuso tenha ocorrido. As criangas podem sofrer lesGes e magoar-se por diversas raz6es. No entanto se notar algum destes sinais, explore com o seu filh@ e dirige-se a uma consulta médica/pediatria para saber quais podem ser as possiveis raz6es. « Problemas ao andar ou ao sentar-se Queixas de dor ao urinar e ou defecar e Irritagdo, abrasées, inchago, chagas na pele, hemorragia ou infecdo dos genitais ou anus « Lesdes inexplicaveis a volta da boca e Area rugosa ou calosa entre as nadegas « Infecdes sexualmente transmissiveis (DSTs) ¢ Gravidez As criangas podem frequentemente mostrar mudancgas de comportamento por qualquer numero de razdes que lhes causam stress, por exemplo, bullying, mas notas, problemas familiares, etc. Se observar mudancas de comportamento, ndo assuma que tenha ocorrido abuso sexual. Pega ao seu filh@ para lhe dizer o que o esta a incomodar ou a magoar, ndo importa o que pensa ser a causa. ¢ Dores de cabega, dores de est6mago, ou dores cronicas e Mudanca no apetite ¢ Ganho ou perda de peso e Problemas de sono ou pesadelos e Novas palavras para partes privadas do corpo que nado foram aprendidas em casa Atividade sexual com brinquedos, bonecas ou outras criangas ¢ Mimetizar comportamentos sexuais de adultos e Pedir para nao ser deixado sozinho com um certo adulto, crianga ou familiar - neste caso pergunte ao seu filh@ o que se Passa com essa pessoa ou o que ela faz/fez para que nao queira estar perto dela. Mesmo que a crianca ndo esteja preparada para fornecer detalhes, considere seriamente acabar com o contacto do seu filho com essa pessoa até descobrir as causas. e O humor muda quando se sai com uma certa pessoa (por exemplo, passando de falador e alegre a quieto e retraido) ¢ Corte, queimaduras ou automutilagao e Comportamento suicida Extrafdo do Guia: Straight Talk about child sexual abuse. A prevention Guide for parents. COMO ATUAR caso um menor 9 contar que esta sendo vitima de abuso ou violéncia sexual a E muito chocante para qualquer pessoa descobrir que uma crianga é vitima de violéncia sexual, especialmente para a mae, pai ou cuidador. A primeira reacgado é fundamental para a vitima, uma vez que esta tem bastante vergonha e medo de nao ser acreditada. Deste modo, é essencial seguir as seguintes recomendacées: + Dar-lhe atengdo, ouvi-la com atengéo e mostrar-lhe que acredita nela. + Ha que manter a calma e nao mostrar alarmismo extremo, uma vez que isso poderd preocupar e assustar ainda mais a crianga. + E essencial colocar-se no lugar da crianga e ouvi-la atentamente, evitando fazer muitas perguntas e obrigando-a a contar mais do que nos quer dizer nesse momento. + Explicar-lhe que néo é o culpado(a) pelo que lhe esta a acontecer, que o Unico responsavel é o agressor(a) e que sera protegido(a). + Mostrar-lhe que foi muito corajoso(a) em contar e que esta muito orgulhoso(a) da sua atitude. + Fazer a denuncia, mesmo que seja ita e entregar a investigagéo do caso as autoridades com es, que terdo meios de investigar e atuar perante a veraci + Consultar um profissional para orien e como agir neste tipo de situacdo, especialment crianga. E importante que os pais/mdes encontret maneira a serem orientados numa situa¢gdo tao d Ss criangas dizem que o que mais as afetou foi vere: s tio male a sofrer, depois de terem contado o que + Se a mae/ pai descobrirem que a viol Q i cometida por um membro da familia ou algué imo, sera bastante doloroso, pelo que provavel a para tomar uma série de decisGes: exar filha, denuncia do agressor e subs legais. Por isso a ajuda profissional é muito PREVENGAO Casos de abuso e violéncia sexual podem ser evitados A violéncia ou abuso sexual é uma das formas mais invisiveis de violéncia. Um dos principais problemas é 0 sigilo que cobre tudo. Muitas vezes é 0 préprio agressor que impée o siléncio por diversos meios. Enquanto outras é a propria crianga que decide permanecer em siléncio por lealdade, dado que, muitas vezes, 0 agressor € um membro da familia ou uma pessoa proxima e a crianga teme as consequéncias para essa pessoa, se ela falar. Em outros casos, a culpa e a vergonha que as criangas sentem levam-nas a ficar caladas. Educando em casa - A familia deve ter informacaéo adequada sobre este problema, conhecer os sinais que podem ser observados nos filhos, quais as situagGes de risco em que eles se podem encontrar e, sobretudo, como prevenir e procurar ajuda. A educacgéo sexual comeca em casa e deve ser tratada com naturalidade e respeito, de modo a que se possa identificar atempadamente possiveis situagdes de risco. A familia tem um papel fundamental na educagao sexual dos filhos, sobrinhos e netos. A conversa sobre este tema deve ser clara, franca e aberta para que a crianca se sinta a vontade (sem medo nem vergonha) de contar quando algo “estranho” Ihe acontecer (ou parecer que ird acontecer), especialmente dentro da familia. A escola também desempenha um papel muito importante, juntamente com a familia, explicando, reforgando e relembrando as REGRAS DE OURO QUE TODA A CRIANCA DEVERIA SABER, prevenindo casos de abuso e violéncia sexual, uma vez que, se conhecer estas regras podera diminuir os riscos. As criangas tém o direito de ndo quererem ser beijadas ou tocadas, mesmo quando se trata de alguém que elas amam. As criangas devem ser ensinadas a dizer "nado" de forma imediata e firme, perante contacto fisico inapropriado, a afastarem-se de situacg6es inseguras e a contar as suas experiéncias a um adulto de confianga. Recordar que por tras desta situacéo, ha um adulto mal- intencionado, com palavras e gestos cada vez mais requintados e com algum poder hieradrquico para convencer/obrigar e ameacar a crianga a fazer o que este deseja. REGRAS DE OURO que toda a crianga deveria conhecer Extraido do Guia: Straight Talk about child sexual abuse. A prevention Guide for parents. Devemos usar sempre o nome correto das zonas intimas - pénis, vagina, seios, nadegas ou rabinho. Se ao educar sentirmos vergonha em chamar as zonas intimas pelo nome correto, as criangas seguiréo o exemplo, e, também terado vergonha de falar nelas e contar se alguém esta a ser sexualmente inapropriado ou a abusar dele. 1. As partes intimas, que estado cobertas pelo fato de banho ou roupa interior, séo zonas privadas, que ninguém deve tocar. Ha pessoas que podem tocar para limpar ou curar. Por vezes, os médicos precisam de o examinar. Mas nunca é sem uma enfermeira ou pai na sala e nunca é um segredo. 2. Devem também saber, que nado se deve tocar nas partes intimas de ninguém, ainda que o pegam para fazer, mesmo se for alguém muito conhecido da familia. 3. Ninguém, mesmo que for pessoas da familia, deve tocar, pedir para ver, ou tirar fotografias das partes intimas. Se isto alguma vez acontecer devem contar imediatamente a pessoa que mais tenha confianca para faze-lo. 4. Devem saber que o seu corpo lhe pertence. E ninguém pode nem deve tocar, acariciar ou beijar sem a sua permissdo. Ndo, significa Nao e se isso acontecer deve contar imediatamente a pessoa que mais confia. 5. Se alguém lhe pedir para guardar segredo de algo que a faca sentir mal, deve contar a uma pessoa adulta de confianca que a podera ajudar. Ha segredos que doem e que fazem mal. As criangas ndo devem guardar este tipo de segredos. De que maneira a violéncia e 0 abuso sexual afeta a vida de um/a menor O QUE E ISSO DE TRAUMA 9 f Quem sofreu violéncia na infancia ou na adolescéncia esta em maior risco de desenvolver problemas psicoldgicos do que o resto da populacdo. Alguns destes problemas podem incluir depressdo, ansiedade, dificuldade em relacionar-se com os outros, problemas sexuais futuros, diminuigéo da autoestima, ddio ao prdéprio corpo, sentimentos de culpa, medo de intimidade, problemas de comportamento graves, tentativa de suicidio, tornar-se um abusador, ou novamente em vitima de relacées abusivas, mesmo em idade adulta. As caracteristicas pessoais da crianga/adolescente agredid@, o tipo de violéncia sexual, a frequéncia e duragdéo da mesma, a forga com que foi realizada e a relacéo emocional entre o agressor e a vitima, desempenham um papel importante no impacto da violéncia sexual na vida da vitima. Mas, sobretudo, tera um impacto bastante positivo, a forma acolhedora como a familia responde quando se descobre da situacao de abuso e ou violéncia sexual. O trauma esta ligado aos efeitos fisicos, emocionais, cognitivos, sociais e comportamentais resultantes da situagdo de violéncia sexual vivenciada, podendo implicar em graves prejuizos de varias ordens, que afetam a pessoa envolvida, a sua familia, a sua qualidade de vida que, se nao forem apoiados e tratados, podem tornar-se irreparaveis. E aquilo que a lembranga da situagdéo traz, como sentimentos dolorosos (vergonha, medo, raiva, arrependimento, tristeza, culpa, etc.), pensamentos negativos, disfuncionais e repetitivos (a culpa é minha, nunca mais vou gostar de ninguém, nunca mais ninguém gostara de mim), comportamentos compulsivos (isolamento, falta de apetite, comer compulsivamente, silenciar, comportamentos promiscuos e desprotegidos sexualmente, entre outros). 57 E possivel superar o trauma vivido por mais dificil e impossivel que possa parecer ee De que maneira a violéncia e 0 abuso sexual afeta a vida de um/a menor O QUE E ISSO DE TRAUMA 9 a A forma de lidar com o trauma ira variar de pessoa para pessoa, tendo em conta a sua idade e duracdo da situacao de violéncia sexual vivenciada, a sua personalidade, a relagdo com a pessoa (ou as pessoas) que cometeu o abuso, A situagdo torna-se mais dificil quanto maior a proximidade com essa pessoa, a forma como a situagdo ocorreu, se houve intimidacao, violéncia fisica, historias falaciosas relacionadas, o desfecho da situacao, a forma como os pais reagiram a revelacaéo do abuso e a condenacao do abusador. Os tratamentos para o trauma passam obrigatoriamente pela atengdo de profissionais que irdo apoiar e tratar os traumas relativos a situagdes de abuso sexual. O papel do/da profissional psicolog@ é chave, pois deverdo estar munidos de sensibilidade, cuidado, técnica e ética e, assim, ser possivel oferecer um ambiente terapéutico capaz de recompor a Alma em sofrimento e regular emocionalmente onde havia o desamparo. O profissional necessita de ser o abrigo, despertar o sentido perdido de protecdo e seguranga, agir com atengdo, empatia, gentileza, firmeza e acolhimento. Precisa de auxiliar a crianca/ adolescente a dar novo significado a situagdo vivida, sendo necessério revé-la, de modo a recompor-se perante o sentimento de solidéo e abandono que esta situagdo provoca/ provocou. — —_ Um profissional CUIDADOSO E EFICIENTE é 0 primeiro passo paraa eficacia do tratamento MUITO I IMPORTANTE « + E essencial que a familia reaja de forma responsavel, isto é, com serenidade e demonstrando um apoio inabalavel a vitima. + Recomenda-se procurar ajuda profissional para reduzir os sintomas, compreender a experiéncia vivida, prevenir novas situagdes de violéncia e enfrentar a vida com firmeza e otimismo, fortalecendo-se justamente a partir do que aconteceu. * Cada situacdo é diferente, pelo que as possibilidades de tratamento também sdo diferentes em fungdo da idade e das circunstancias individuais de cada criancga/adolescente. * Muito mais que cumprir 0 protocolo de denunciar e supor o sequencial de ocorréncias, o Terapeuta precisa oferecer um espaco de confianga, de cuidado e liberdade para que a crianca/ adolescente possa entrar em contacto com o que sente de forma a expressar, narrar, fantasiar, imitar e até calar e, ainda assim, ser possivel curar as marcas e feridas da alma. * Esclarecer a vitima do que aconteceu é primordial. Isso de forma acolhedora e cuidadosa, de modo que ela possa compreender o seu corpo e perceber quando os limites foram ultrapassados e invadidos, j4 que muitas vezes a vitima é levada a acreditar que tudo era uma brincadeira ou demonstragado de amor e preferéncia por ela. * Tendo em conta a gravidade do trauma para cada vitima, o acesso as lembrancas e palavras podem bloquear-se pelo sentido natural de autoprotegdo. Ela ndo consegue lembrar-se do que aconteceu, ndo sabe explicar 0 que se passou e, assim, a Arteterapia apresenta-se como uma ferramenta necessaria no acesso a sentimentos como raiva, ddio, asco, medo, culpa, vergonha, vinganca. Quando a vitima consegue tornar visivel este sentimento a partir do desenho, da colagem, da pintura, escrita, montagem, narrativa, dramatizacdo, isso possibilita que concretize o que sente e construa a compreensao e enfrente a situagao. + Na Arteterapia cada imagem é reveladora, dando voz a quem vive em siléncio, vivenciando restrigées, angUstias, dominagdes e impossibilidades, possibilitando falar e dar um novo significado a situacdo vivida de violéncia sexual, agora em ambiente seguro e, de alguma forma, protetor. + Ea partir do cuidado terapéutico que sera possivel construir outro significado ao que aconteceu e prevenir novas situacdes de violéncia, principalmente se esta foi vivenciada dentro da familia. + A familia também precisa de apoio terapéutico para processar o sentimento de culpa e acompanhar a criancga/adolescente na recuperacgao. E possivel superar o trauma vivido por mais dificil e impossivel que possa parecer. Superar é diferente de esquecer, requer tratamento as feridas da alma. Requer fortalecer as prdprias possibilidades de construir lagos, ser feliz, vincular-se a outras pessoas, voltar a amar e confiar e encontrar o modo de viver e conviver de cada um, com este capitulo da sua historia. Perante suspeita, 9 COMO AJUDAR «0 que fazer legalmente passoapasso 1. Proteger a vitima do agressor e da exposi¢do social. 2. Evitar abordagens agressivas e conclusivas com a vitima ou questiona-la sobre o sucedido. 3. Para a preservacdo de eventuais vestigios na vitima, esta devera evitar os seguintes comportamentos: i. Ndo comer, beber ou fumar (cientes de que ha adolescentes que fumam); Nao lavar a boca nem os dentes; . Nao tomar banho nem lavar os orgaos genitais; iv. Nao lavar as maos, nao limpar nem cortar as unhas; v. Ndo se pentear; vi. Ndo mudar de roupa e, se ja 0 tiver feito, preservar a roupa que usava a data da ocorréncia (incluindo pensos higiénicos), se possivel em sacos de papel (ndo usar sacos de plastico); N4o urinar ou defecar e, caso o tenha de fazer, conservar esses produtos numa embalagem adequada, por exemplo, num frasco limpo e com tampa, usado normalmente para exame bacteriologico de urina; viii. Nao tocar no local onde decorreu a agressdo, nado limpar ou arrumar, nao esvaziar baldes do lixo nem puxar o autoclismo. 4. Dirigir-se imediatamente a Policia Judicidria ou a Policia Nacional para apresentar dentincia* ou queixa“ de tal facto, ou ao ICCA da sua area de residéncia, devendo sempre este Ultimo encaminhar a vitima as entidades policiais referidas. Podera ser necessario a realizacdo de um exame médico-legal? de imediato® (ou em momento muito proximo da ocorréncia dos factos’) na Delegacdo de Satide/Hospital local para a recolha de vestigios fisicos® (no corpo ou na roupa) ou biolégicos? (no corpo ou na roupa), bem como de lesdes ou sequelas da violéncia ou abuso sexual de que se suspeita ou que a crianca/adolescente tenha relatado. 3 Os crimes de natureza sexual perpetrados contra criancas ou adolescentes menores de 14 anos so de natureza publica, pelo que qualquer pessoa pode dar inicio ao processo-crime denunciando a situagio de que tem conhecimento. 4 Os atos sexuais com adolescentes com mais de 14 anos e menos de 18 anos so de natureza semipublica, isto é, 0 seu procedimento criminal depende de queixa (Cfr, art’s 142°, 143°, 144°, 145°, 147° e 376° n° 2, todos do Codigo Penal). No entanto, se o/a ofendido/a for menor de 16 anos ou nao possuir discernimento para entender o alcance e o significado do exercicio do direito de queixa, cabe aos titulares deste direito (ou seja, ao seu representante legal), a formalizagdo da mesma, no prazo de seis meses a contar da pratica dos factos. Ainda assim, se tal direito de queixa nao for exercido, nem for dado inicio ao procedimento criminal nesse prazo, o/a ofendido/a pode exercer esse direito a partir da data em que perfizer 16 anos até seis meses apés completar 18 anos (Cfr. art’s 104°-A n° 6, 105° n° 1 e 110°, todos do Cédigo Penal, conjugado com o artigo 320° n° 1 do Cédigo Civil). Perante suspeita, COMO AJUDAR « 0 que fazer legalmente passoapasso gy 5 Tem como finalidade identificar vestigios, lesdes e/ou sequelas e interpreta- los no contexto do alegado contacto sexual; obter amostras bioldgicas para estudos de ADN, de microbiologia (pesquisa de DST), entre outras; obter outras amostras nao biolégicas que possam ter utilidade em termos da investigacao criminal. © Quer por questdes ligadas a prova e a protecao da crianca/adolescente vitima, quer por questées de ordem clinica. 7 Sempre que intervalo entre o contacto sexual e o exame médico-legal é igual ou inferior a 72 horas, considera-se que se trata de um contacto recente, pelo que ha possibilidade de encontrar vestigios bioldgicos e fisicos na vitima. 8 Por exemplo, lubrificantes, terra, tinta, etc., que sdo relevantes para informar sobre o local onde o contacto sexual teve lugar. 2 Por exemplo, esperma, pélos, cabelos, saliva, sangue, gravidez, doencas sexualmente transmissiveis, etc., que sao importantes por provarem o contacto fisico e revelarem a identificacdo do agressor/autor do crime. 5. As autoridades policiais devem recolher as seguintes informagées: Identificagéo completa da vitima e do alegado agressor; Data, hora e local da ocorréncia (no caso de ser num quarto descrever os mobilidrios, a cor da parede, etc.); iii. Tipo de praticas sexuais (incluindo introdugdo de corpos estranhos, existéncia de ejaculagdo, uso de preservativo); iv. Frequéncia (unica ou reiterada); v. Circunstancias (violéncia fisica e/ou emocional - ameacas verbais ou com armas); vi. Consequéncias (por exemplo: dores, sangramento, prurido, perturbacGes psicoldgicas diversas, etc.); vii. Relagdo entre a vitima e alegado agressor (Cfr. art? 151° do Cédigo Penal); viii. Comportamento da vitima apds o contacto sexual (por exemplo: lavagens, mudan¢a de roupa, procura de cuidados médicos). 6. Providenciar imediatamente apoio psicoldgico a vitima. 7. Acolheita de vestigios e de amostras, bem como o exame fisico, realizam-se em simultaneo para cada regido corporal em avaliacdo e deve obedecer a seguinte sequéncia: i. Inspecdo visual e descrigdo dos achados; Foto-documentacao; iii. Colheita de vestigios para estudos de ADN (por exemplo manchas bioldgicas como esperma, sangue ou Saliva, cabelos, pélos no corpo ou roupa da vitima); iv. Colheita de vestigios fisicos para estudos de criminalistica; v. Exame fisico detalhado, incluindo apalpacao. Cuidados Esper no que se refere ao testemunho das vitimas: Tentar que a vitima de abuso sexual seja entrevistada o minimo de vezes possivel, por isso antes de ir a qualquer consulta relacionada com o assunto, deve-se perguntar se é estritamente necesséria a sua presenga. As reacgdes de quem (diversos profissionais) ouve a historia revelada podem causar medo e vergonha, interferindo na préopria narrativa da crianca, gerando diferentes vers6es da mesma vivéncia - sobretudo quando o violador ainda permanece presente e nao descoberto, podendo fazer uso da ameaga e coacgdo para modificar o discurso da crianga a seu favor e livrar-se da queixa. + E natural que a crianca/adolescente tendo sido ameacada e obrigada a guardar segredo, quando consegue falar ou quando a situagéo é por alguma outra via descoberta, sinta medo excessivo e apresente sintomas de ansiedade e/ou depressao que podem dificultar todo o processo de escuta da sua historia de violéncia sexual. Deste modo, é importante que a crianga se sinta acolhida e acreditada, para conseguir falar acerca da situagao que vivenciou, podendo, no entanto, o seu pensamento apresentar-se confuso, contraditério e, por vezes, albergue no siléncio toda a angUstia que aquela situacao gera. * Quanto maior a crianga, maior a capacidade de elaborar a situagéo e maior o sentimento de impoténcia, de angustia, de vergonha, de raiva vivenciado. Sera, também, maior o risco desta vivéncia desencadear ideias e tentativas de suicidio, sendo o acompanhamento psicoldgico imprescindivel. CAN FUNDAGAO Espargos, ilha do Sal fundacaoalma@gmail.com + 238 9943806 NIF: 584071000 ©PREVENIR SDETETARe AGIR CONTRA o abuso sexual de menores Yo i Fundacién Margenes y Vinculos Government of the United States

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