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DIA RIO DAS CORTES GERAES E EXTRAORDINARIAS DA NACAO PORTUGUEZA. Nom. 1. Lisboa @7 de Janeiro de 1821. SESSAO PREPARATORIA. A os vine « quatro dias do Mez de Janeiro, ¢ “Anno de 1821, nesta Cidade de Lisboa, Paco Salla das Cortes; reunidos os Senhores Deputados abaixo nomeados, ‘por convodagto do Secretario dos Negocios do Reyno; procedeo-se 4 Sesslio Prepae Tatoria de verificagko dos Diplomas, e legalizagio das Pessoas e Poderes de cada hum’ de todos os apresentados; e bem assim de expedi¢o a quanto, ‘por quaesquer tespeitos, devesse preceder 4 Installa> “io das Cértes Geraes’e Extraordinarias da Nacio, Portugueza. Tnterinamente, e por acclamagio for%o eleitos, pax ra Presidente o Excellentissimo ¢ Reverendissimo Se~ nhor D. Frey Vicente daSoledade, Arcebispo da Ba- hia, e para Secretario 0 Senhor Joo Baptista, Fel- gueiras. Nomedrlio-se duas Commissées : hhuma’ de cinco ‘Membros , para averiguar e verificar as Eleigées e. ‘Titulos de’cada hum dos Senhores Deputados: "outra de tres Membros, pata conhecer ¢ informar da lega- Iidade de Poderes dos cinco patneiros Commissiona- dos. Deliberou-se por pluralidade de votos , que fossem cleitos por escrutinio os Membros destas duas Com= amissées, ¢ por acclamigho forio nomeados Escruta- dores of Senhores Pinheiro d’Azevedo, ¢ Castello- Branco. Aputados os votos , achérlosse eleitos para a primeira Commisstio os Senhores Margiochi com 53 Yolos, Pecanha 49, Pimentel Maldonado 49, Alves do Rip 48, Soares Franco 44: e para a segunda Commissio ‘os tres Senhores Freire com 50, Pinhei- 10 d’Azevedo com 51, e Camerro com 27 Yotos. Desde logo se entrégérlio os respectivos Diplomas cada huma das Commissées , as quaes se retirdrio para differentes Secietarias fim de mais expedita- mente exeicerem suas funcgdes. Resolveo-se que a Sessio ficasse permanente, dus ante o trabalho das Commissdes; e, precedendo hus ma breve discussiio, decidio-se 4 pluralidade de vor “tos, que a Sessio se fizesse publica. Em consequencia forio admittides tantos Espectas dores quantos permittio a capacidade das Gallerias, [pata isto destinadas; eento osenhor Presidente pro~ ferio improvsado hum elegante discurso, congra Tando-se com 0 brioso Povo desta muito nobre Capi tal pela mui distineta manera com que se tem em= penliado na santa Causa d& Liberdade Nacional; agradecendo a0s que presentes erfio a boa ordem, ¢ devida yenerdgio com que attendiio e escutavio aquelle Respeitavel Congresso ; e exhortando-os 20 successive © respeitoso silencio g acatamento com qué tempre deveritopresenciar as Augustas ‘Terefas dot Deputados Representantes da Nacio: sendo assim de absoluto dever , no s6 pelas sublimes qualidades ¢ condigdes de que se elles adoro, e porque da sabe- doria de suas deliberagdes esté pendente ¢ dependen- te a futura prosperidade Nacional ; senio até pelo respeito devido a S. Magestade 9 Senhor D. Joio Sexto , cwja Efe esté presente , v pela veneragio € acatamento que exige a nossa Santa Religiio, que he hum dos primeiros e principaes objectos da augus~ ta solemnidade ¢ celebracio das nossas Cortes. Leo-se a Informagio e Parecer da Comimissio » dos tres, acerca da legalidade dos Diplomas, ¢ Pode- res dos cinco Membros da primeira Commissio , e fox como se segue: an x» A Commissio encarregada de verificar os Po- deres dos cinco Deputados incumbidos dé qualifica» do geral de todos 0 mais Deputados, a saber : os senhores Joo Vicente Pimentel, Maldonado, Manoel Alves do Rio, Francisco Soares Franco , Francisco Simées Margiochi, Francisco Antonio de Almeida ‘Moraes Pecanha :’ combmando-os com a copia das ‘Actas , que foi enviada pelo Governo Supremo, acho ‘que os Titulos estio perfeitamente conformes 4 mencionada Acta, e assim os julgfo legaes. Pala~ c10 das Necessidades 24 de Jaueiro de 1881. — An tonio Pinheiro de Azevedo e Sylva— Jeronymo Jo- sé Carneiro — Agostinho José Freite. ., Apresentou depois a primeira Commissio dos cin« co oresultado das suag averiguacées, a respeito da le- galidade das Eleigdes e (Titulos dos Senhores Deputa- dos que presentes rio, e, lida pelo Senhor tel Maldonado, era do theor seguinte: [3] Relagdo Nominal dos Senhores Deputados cujos Po- eres 0 Commindo, compatta dos Membrov nomea- dos ¢ ubaixo assignados , verificou ¢ legitimou, depois de haver combinad os seus Diplomas com es Actas das Juntas Eleitoracs de, Provincia, E do os seguintes: Reyno dos Algaroes : Senhores Manoel José Placido da Sylva Negro, José Var Velho. Jeronymo José Carneiro, Provinsia do Minho. Serhores Francisco Wanzeller. Antonio Pereira. ‘José Maria Xavier de Araujo. “Francisco Xavier Calheiros. Too de Sousa Pinto de Magalhies. don Feria Borge, Irigo Ribsizo ‘elles da Sylva, Soin Baptista Felgucirasy Basilio Alberto de Sousa. ‘Areebispo da Babia. Jodo Pereira da Sylva. ose Joaquim Rodrigues de Bastos. Joaquim José dos Santos Pinheiro. “Antonio Ribeiro da Costa. ‘Manoel Martins Couto. Pravincia de ‘Traxos- Mon! ‘Bevhores Bernardo Corréa de Castro e Sepylveda. Manoel Goncalves de Miranda. ‘Antonio Lobo de Bezhosa Teixera Retveira Gitko. Provincia da Beira: Senhores José Maria de Sousa ¢ Almeida, osé de Gouvéa Osorio. Antonio Pinheiio d' Azevedo ¢ Sxlva, ‘Batio de Molcllos.. ‘Joxé Pedro da Costa Ribeiro Teixeira, José de Mello de Castro ¢ Abreu. Bispo de Lamego. oto de Piguet, ‘José Joaquim de Faria. José Ribeiro Saraiva. ‘Antonio Joss Ferreira de Sousa. Pedro José Lopes d’ Almeida, Manoel Fernandes Thomaz. José Feaquim Ferreira de Mours. ‘Antonio Maria Osovio Cabra. ‘Chomé Rodrigues Sobral. ‘Manoel de Serpa Machado. Provincia ® Alem Teo : Senhores Carlos Honorio de Gouvéa Dutio. Joao Vicente da Sylva. Joaquim Annes de Carvalho. Joio Rodhiznes de Byto. José Victorino Barreto Feyo. Agnacio da Costa Brandi. José Antonio da Rosa, Provincia da Estremadura, Senhores' Bento Pereira do Carmo. Francisco de Lemos Bittencourt. Agostinho José Freire. Luiz Antonio Rebello da Sylvs Alvaro Xavier da Fonseca Tou inho e Po- vous. Luiz Monteiro. Todo Alexandtino de Sousa Queiroga. ‘Felix Avelar Brotero. ‘Hermano Joxé Brasncamp do Sobral. Francisco Antonio dos Santos. Henrique Xavier Baeta, Jost Ferrio de Mendonga e Sousa. Toko Maria Soares Castello Branco. Franciseo de Paula Travassos. ‘Manoel Agostinho Madsira Torres, ‘Manoel Antonio de Carvalho. Francisco Xavier Monteiro. ‘Manoel Borges Carneiro. Jose Carlos Coelho Carneito Pacheco. Lisboa, 24 de Janeiro de 1821. — Francisco Simoes Margiochi — Francisco Antonio de Almeida Mo- aes Peganha — Francisco Soares Franco — Manoel Alves do Rio . — Joiio Vicente Pimentel Maldo- nado, Diacutida a materia, decidio unanime oCongrese 480, que se conformava com o parecer das referidas ‘Commisises ; declarando Tegaes os mencionados Di- plomas © Beizées, ratificando-as, e até sanando, se Preciso fowe, qualquer defeito ou irregularidade que pidesse apparecer nas Instrucgdes que servirio de nore mp-s Juntas Eleitoraes. ‘Concardon-se em que o Secretario dos Negocios do fieyno expedisse Aviso a0 Senado da Camera des- ta Cidade , para fazer publico por hum Bando no dia deqmanhan 2, que asCortes Geraes ¢ Extraor Ginatias se installariio no dia seguinte 26 de Janei« que pelas Dhoras damanban domesmodia con- eorreriio os senhores Deputados na Igreja Basiliea de Santa Maria, para asistir celchragio da Missa so- lemme do Espirito Santo , e alli prestarem o devido juramepto ; -havendo, a final desta solemnidade, de uarem ao Paco e Salla das Cortes, a fim de Teax ligar a sua installago , e dar principio aos seus tra Dalhos. Discatio-se éicorea da formula do juramento , ¢ concluio esenhor Freire 5, que, qualquer quelle hous yesse de ser, deveriao juntar-se-lhe estas palavras =— que nem perigo , nem violencia, nem poder algum impediria que se désse & Nacio ajusta liberdade que dla reclama , ¢ que Ihe foi solemaemente promettida applaud ¢ approvado, para endenar © redigit formula do juramento que todos os senhores Deputa~ dos devem prestar forio nomeados em Commissio 08 senhores Menoel Fernandes Thomaz , José Ferseira Borges , ¢ Francisco Sbares Franco , os quaes apre- sentirdo a seguinte: x duro cumprir fielmente , em execugio dos Po» deres que me forio dados, as obrigagies de Deputado nas Cortes Extraordinarias que vio a fazer a Constie ‘wigio Politica da Monarchia Portugueza, ¢ 8 refor« was ¢ melhoramentes que ellas julgarem necessarios pa- [8] a bem e jidade da Nagio, mantida a Religito Gatholica Apreolica Romans, tnaatido 0 Throne do Senhor D. Join VL., Rey do Reyno Unido de Portus aly Beil '¢ Algerves, conservada a Dynastia da Sereniesiina Casa de Braganga. 5, ‘Em conformidade do Parecer da Commissio, que foi unanimemente approvado, adoptou-se a sobredicta formu. "No Archivo das Cdrtes ficko depositados os Do ‘eumentos cujo theor consta da presente Acta, "Fechou-se a Sessho 4s quairo horas e mea da tar- de — Joio Baptista Felgueiras, Secretario Interino. PRIMEIRA SESSAO. Das Cortes Geracs ¢ Extraordinarias. ‘Aos @6 dias do Mex de Janeiro de 1821, nesta Cidade de Lisboa, Pago e Sulla das Cortes , reunidoe ‘os Senhores Depitados, cujos Diplomas ¢ Poderes finkito sido verificados & havidos por Iegacs na Séssio Preparatoria- do dia 24; e, achando-se presen- te ein seus respectivos lugares’ a Junta Provisional do Governo Supremo do Reyno, e a Preparatoria ‘das Crtes, abrio-se a Sessio pelas duas horas e mea da tarde, © 0 Senhor Presidente do Governo recitou b seguinte discurso: zp Tilustres Representantes da. Nagio Portuguer Citgou em fimo dia venturoso yuo os Portuguezes tiie anciosamente desejaviin, © que vai coroar seus fardentes votes, © suas lisongeiras esperancas ; dia fara sempre glorioso e me:nyravel , qtte far a mais Brithantecpocka na Mfstoria da Monarchia, enos An naes do!teynado do nosso Pio e Augusto Monarcha 0 Seahor D. Foo Sexto; © que, apresentando & Eue ropa ad-nirada o resultado verdadeiramente prodigio= s0 de nossos energicos mas pacificos esforgos, gran geard de novo para os Portuguczes o nome ¢ a glo- Tia que nossas precedentes desgragas havitio eseureci= do ¢ quasi extiucto. ‘Em vossas miios, Senhores, est ao presente a sorte desta Magoanima Napio, a felicidade da nossa chara e commutn-Patria, O illustrado zelo e patrio- tisino dos Portuguezes a confiow & vossa virtude € sabedona® elles n ‘enganados em sua es colha, nem serio illudidos em suas esperancas. 0 Govern, depois de render & face dos sagra- dot Altares as devidas gracas ao Soberano Auctor de todo o bem, e de rogar-lhe com instantes suppli- eas se digne derramar sobre Vos 0 espirito de Sabe- doria e de Prudencia , tio necessario para o bom ‘eumprimento de vossos sublimes e dirduos deveres , vein congratularese comvosco da vossa feliz reunitio; fe julga satisfazer hum dos seus mais importantes & nobres empenhos, recommendando ao vosso desvelo e sollicitude os interesses 08 destinos de hum Povo illustre, que deseja e merece ser feliz. s,Gravados estio nos animos ¢ coragies de todos 03 Portuguezes, ¢ altamente proclamados & face do Mundo inteiro 0s dous fundamentaes principios sobre que deve repousar a felicidade publica, e que todos iuramaos manter—Obediencia e fdelidale a EIRey 0 Senhor D. Joio VI, ¢ 4 sua Augusta Dynastia— Proto pure dncera da Santa Rligito de nbsoe ays. 390 primeiro nos assegura, nas virtudes hereditax iad da Familia de Braginga, dogura e'delicias de hum Goverso Paternal. © segundo nos offerece 0 mais firme apoyo’ e sauro penhor da nossa ventura nas maximas de huma Moral Divina, que tio perfei~ tamente se ajusta e identifica com as necetsidades e sentimentos de Homem. “Sobre estes fundamentos he que deve erigir-se 0 magestoso edificio da Constituigho Portugueza ; a qual, tendo em vista 0s sagrades direitos da Liber dade’ Civil, da Proprietade, ¢ da Seguranga indivi- dual do Cidadio, ha de tragar com mito segura firme a Tinka invatiavel de demarcagio que deve se- parar para sempre ent si—a Ley e 0 Atbitrio— D Poder e 0 Despotismo—a Liberdade Licene ga—a Obediencia e a Fscravidio. Quando esta grande obra tiver sido profundae mene meditads, ¢ sabiamente desinvolvida e execu~ tada, com a attengio que merece 0 estado e circum- stancias da Nacho, com a energia que demandio as suasinstantesnecesidaes, com pridenciae cieume specglo quecimpre & superioridade e dindependencia Choe asin o dizer) impasivel do Legisador 5 entio 05 Portuguezes , restituides aos seus direitos a sua dignidade , reassumirio o distineto lugar que Thes cohipete etre os Nagits cviiadae lives» @ inde pendente: rerio prosperar» & soba dap dafe- cidade domestica, as instituigdes politicas , que zem hum Povo grande , e respeitade : formario em roda do augusto Throne doseu Monarcha huma bare tera firme» que o torne igualmente inaccessivel as pai= xée3 internas, inimigas da ordem social, ¢ ds tentan tivas externas de qualquer poder ambicioss e usurpa- dor; e, nobremente orgulhosos da justa e preciosa lie berdade que os seus dignos Representantes souberio adquirir-the e affiancar-Ihe, transmittirio a seus vin« douros os nomes dos Pays da Patria cobertos de mil benciios, e acompanhados das mais ternas ¢ gloriosas recordagbes. ‘y'Taes tio 08 felizes effeitos que 0 Governo ane ura'e espera das vossas sabias deliberagées , do vosso Haminado 2dlo, da voua consimmada pruden das vossas eminentes virtudes, Elle vai aterminar em breve as funccaes honrosas e diffceis de que aiégora tem sido encarregado : e , dando-se por mui feliz de hhaver mantido a paz , ea tranquillidade publica, apro- yeita esta oceasiao de dirigir ainda huma ver as ex- ressées sinceras do.seu louvor, e agradecimento ato- Aas as clases de Cidadios quem , depois do favor do Ceo, se deve tio singular e inapteciavel benefici Permitta 0 mesmo Ceo , que este Povo her co dleance © goze por largos seculos a flicidade de que he digno , ¢ que 30 amplamente Ihe promettem as eminentes’qualidades de seus illustres Representantes : Que 0 nosso adorado Monarcha, annuindo aos votos pulilicos , e sanecionando com o seu Real Assenso a tra daSabedoria Nacional , venha oceupar 0 ‘Thro no de amor, lealdade , ¢ gratidio que Ihe esté pre parado nos coragées dos seus Pdvos; e que n6s todos, tunidos em fraternal concordia , eligados reciprocamen te pelos sagrados vineulos do’ amor da Patria, posta mos huin dia applaudir a nossa ditosa sorte , aben= ‘coar a epocha da nossa feliz Regeneragio , e’dar di- nos exemplos de virtude & nossa mais remota Peste= dade. 5

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