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ms = 6 Se Prop. dosé Bernarde da Silva Peleia do Cege hier Com Zé Pretinko APRECIEM meus leitores uma forte discussao que tive com Zé Pretinho um cantador do sertao o qual no tanger do verso vencia qua)quer questao Um dia determinei a sair do Quixadé uma das belas cidades do Estado do Ceara ‘ui até ao Piaui ver os cantores de 14 Hospedei-me em Pimenteira depois em Alagoinha cantei no Campo Maior no Angieo e na Baixinha de 14 tive um convite para cantar na Varzinba Quando cheguei na Varzinha. foi de manh& bem cedinho entio @ dono da ¢asa (] me perguntou sem carinho? cego, voce nfo tem médo da tama de Zé Pretinho? Eu Ihe disse: nao senhor mas da verdade eu nio zombo mande ¢hamar ésse preto qu’eu quero dar-lhe am tombe éle vindo, um de nds dois. hoje ha de arder o lombo O dono da casa disse: Zé Preto pelo comum d& em dez ou doze cegos quanto mais’ sendo s6 um; mandou um macumanzeiro chamar José do Tucum Chamou um dos filhos e disse: mewn filho, vocé va ja dizer a José Pretinho que desculpe eu nado ir 14 € éle como sem falta A noite venha por ca Em casa do tal Pretinho foi chegando vu portador foi dizendo: 14 em casa tem um cego cantador o meu pai manda dizer que va tirar-lhe o calor (3) Zé Pretinho responden: bom amigo é quem visa menino, dizei ao cego que va tirando a camisa mande benzer logo o lombe que eu vou dar-lhe uma pisa Tudo zombava de mim eu ainda nfo, sabia que o tal José Pretinho’ vinha para a cantoria as cinco horas da tarde chegou a cavalaria O preto vinha na frente todo vestido de branco seu cavalo encapotado com um passo muito trance riscaram de uma 86 vez todos no primeiro arranco Saudaram o dono da casa todos com muita alegria 0 velno bem satisfeito folgava alegre e sorria vou dizer o nome do fove que veic pra Cantoria Vieram o capitio Duda Tonheiro ¢ Pedro Galvio August6 Antonio Feitosa -* [4] Francisce Manoel Simao senhor José Carpinteiro Francisco e Pedro Aragio- O José da Cabeceira e seu Manoel Casado Chieo Lopes, Pedro Rosa. e Manoel Bronzeado Anténio Lopes de Aquino e um tal de «Pé Furado> dosé Anténio de Andrade Samuel e Jeremias senhor Manoel Tomas Manduca Jofo de Ananias e velo © vigdrio velho cura de trés freguezias Poi dona Meridiana do Grémio das Protess6ras essa levou duas filhas bonitas e encantadoras essas eram na igreja as mais eximias cantoras Foi também Pedro Martias Alfredo e José Raimundo senhor Francisco Palmeira e Joao Sampaio Segundo e€ um grupo de rapazes do batalhde vagabundo [5] Levaram 0 negro pra sala © depois para a cozinha dhe ofereceram um jantar de d6éce, queijo e galinha para mim veio um café com uma magra bolachinha Depois trouxeram o negro e colocaram no salio assentado num sofa com 2 viola na mio junto a uma esecarradeira ara néio cuspir no chao Ele tirou a viola dum saco névo de chita € cuja viola estava toda enteitada de fita osvi a8 mogas dizendo: grande viola bonita! / Eotéo para me sentar botaram um pobre caixiio ja velho, desmantelado désses que vém com sabiio eu séntei, éle envergou @ me deu um beliscao Bu tirei a Tabequinha dum pobre ‘saeo de meia uM poueo descontiado (6) por ester em terra alheia ouvi as mogas dizendo: meu Deus, que rabeca feial Um disse a Zé Pretinho: a roupe do cego 6 suja bote trés guardas na porta para.que éle nfo fuja cego teio assim de dculos sO parece. uma coruja Dissera o capitao Duda como homem mui sensate: vamos fazer uma bélsa botem o dinheiro no prate que 6 mesmo que botar manteiga em venta de gato Disse mais: eu quero ver Pretinho espalhar os pés @ para os dois cantadores tirei setenta mil réis mas vou inteirar citenta da minha parte dou dez Me disse o capitéo Duda: €ego, vocé nao estranha éste dinheiro do prato eu vou lhe dizer quem ganha pertence ao vencedor nada leva quem apanha (7) Nisso as mocas disseram: ja tem oitenta mil réis porque o capitde Duda do parte déle deu dez; se encostaram a Zé Pretinho € botaram mais trés anéis, Ent&o disse Zé Pretinho de perder nfo tenho médo éste cego apanha logo falo sem pedir segrédo; tendo isso como certo betou os anéis no dedo Afinamos os instrumentos entramos em discussio © meu guia disse a mim: O negro parece o cio tenha cuidado com éle quande entrar em questao Eu The disse: seu José sei que o senhor tem ciéneia “parece que é dotado da Divina Providéncia vamos saudar ao povo com a justa exceléncia P--Sai daf, eego amarelo eér de couro de toucinho um cego da tua forma ewes Qe ehama-se abusa vizinho azonde eu botar os pés cego nao bota o focinho ©—Ja vi que o seu Pretinho é um homem sem acao como se maltrata outro sem haver alteragao? eu pensava que o senhor possuisse educacao P—Hste cego bruto, hoje apanha que tice roxo cara de pao de eruzado testa de earpeiro mocho eego, tu és am bichinho quando come vira 0 coxo C--Seu José, 0 seu cantar merece rico’ fulgores merece ganhar na sala ros2 e trovas de améres mais tarde as mocas Ihe dao bonitas palmas de fléres P —Cego, eu creio que tu és da raga do sapo sunga eego nao adora a Deus o Deus de cego 6 calunga aonde os homens conversam © cego chega e resmunga (9) «©.-26 Preto néo me aborrega com o teu cantar ruim o homem que canta bem nao traballia em verso assim tirando as faltas que tem botando em cima de mim P—Cala-te, cego ruim cego aqui nao faz figura cego quando abre 2 boca é uma mentira pura © cego quanto mais mente inda mais sustenta a jura @—fiste negro \foi escravo por isso € tio positivo quer ser na sala de branco exagerado e ativo negro da canela séca todo éle foi cativo P—Dou-te uma surra de cipé de urtiga te furo a barriga mais tarde tu urra hoje o cego esturra pedindo socorro gai dizendo: eu morro meu Deus, que fadiga! por uma intriga eu de médo corro ( 10) C---Se eu der um tapa num negro de fama éle come lama dizendo que é papa eu rompo-ihe o mapa The rasgo de espora oO negro hoje chora com febre e com ingua eu deixo-lhe a lingua com um palmo de fora P---No sertio eu peguei um cego maicriado danei-lhe 0 machado caiu, eu sangrei ® couro eu tirei em regra de escala espichei numa sala puxei para um beco depois déle séeo fiz mais duma mala C---Negro, 68 monturo molambo rasgado cachimbo apagado recanto de muro negro sem futuro berna de tigdo boca de purrao beigo de gamela venta de moela Ieleque ladrao ne syne [4] P—Vejo a cousa ruim @ cegu esta danado eante moderado que ndo quero assim; elhe para mim que sou verdadeiro sou bom companheire canto sem maldade; eu quero a metade eego, do dinheiro C—Nem que o negre seque # engolideira peca a noite inteira qu’eu nio lhe abreque mas éste moleque hoje dé pinote béca de bispote venta de boeiro tu queres dinheiro eu dou-te chicote P---Cante mais moderne perfeito e bonito eomo tenho escrito e4 no meu caderno sou seu subalterno embora estranho ereio que apanho e nio dou um caldo The pegv, Aderaldo reparta o ganho eee pte gn ‘ (12) O—Negro 6 raiz que apodrecen casco dé judeu moleque infeliz vai pra teu pais se nfo €u te surro dou-te até de murro te tiro © regalo cara dé cavalo , eabeca de burro P—Fale doutro jeito ¢om melhor agrado seja delicado eante mais perfeito olhe, eu n&o aceito tanto desespéro

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