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Lees 75 _AVIDA a AVIDA SEXUAL DOS | SEXUAL DOS Sahel ay} a SELVAGENS : ee Eee eee 0 de encaminhar-se para o casamento, prolon- ress Ts SiH 17995: : Lirelaco} M264 Lay okt 1982 1979 by Bronislaw Malinowski Publicado mediante acordo com Paul R. Reynolds, Ine. Titulo original: The Sexual Life of Savages Rovistio: Sandra dos Santos Ferreira, Maria Antonieta Fugazzola, Luis Augusto Mesquita Impresso no Brasil Printed tn Brazil 304.917 $855 M9Siv CIP-Brasil. Cstalogagdo-nafonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RI. Matinowki, Bronisaw. Mai [A Vida soxual dos sehagens do noraeste da Melanéss: descrigfo etnogrifica do mamoro, do casamento © da vide de Eanfia ete os ntivos das has Trobiand (Nova Guing Britinia)/ por Bro- nishw Malinowski; tradueio de Carlos Susskind; preficlo de Havelock Elis, — Rio de Janeeo: F. Aves, 1982, (Colesf0 Ciéncins soca) ‘Tradugfo de: The sexual lift of savages 1. Melanésia — Nativos ~ Comportamen- ‘to sexual 2. Sociedades primitives ~ Comporta- mento sexual. Titulo I, Sis DD ~ 301.4179955 5240371 DU ~ 3926 031) 1982 ‘Todos 0s direitos desta tradueto reservados & LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A. ‘Rua Sete de Setembro, 177 ~ Centro 20050 — Rio de Janeiro — RI. [No é permitida a venda em Portugal. Para meu amigo E Powys Mathers 3 5 3 z 4 é g E 3 9 i q g g : MILTON BEZERRA DA CUNHA Rua Conselheiro Tristéo 1500 - Apte. 602 » Bairro’ de Fatima ~ Fone: (605) 247-4195 6050 - FORTALEZA - CEARA - BRASUL Sumario PREFACIO DE HAVELOCK ELLIS... .. - INTRODUGAO DO AUTOR. . 1 ASRELAGOES BNTREQS SEXOS NA VIDA TRIBAL (s prineipios do dircito materno Uma aldeia das ithas Trobriand. .Avida familial... - a A dsb de propitse e jos deveres e (08 S2x08. ne dec II. O STATUS DA MULHER NA SOCIEDADE NATIVA 1. Privée responsiblidaesinerentes posi fodlll .seeeeee softest 3 2. Rituais funerdrios e festividades . 3. O papel das mulheres na magia. I, AS RELACOES PRENUPCIAIS ENTRE OS SEXOS ‘A vida fexual das criangas - 2 Divstesdeidae. + 3, Avida amorosa da adolescéncia . . 4. Acasa de solteiros....... IV. OS CAMINHOS PARA 0 CASAMENTO . 1. Os motivos do casamento 2. Oconsentimento da familia da mulher .. 3. Ospresentes de casamento 4, Noivado de criangas e casamentos de primos cruzados . 5. Aliangas matrimoniais na familia de um chefe. 6. O cerimonial dos noivados de criangas. . ¥. OCASAMENTO...... 1. O companteirisio conjugal. 2. Adultério e cies sexuais ---- 3. Tributos esondmicos pags pela fart 4. Poligamia dos chefes . . 5. Oaspecto doméstico da poligamia - Vi. ee ATO a ele ee 21k PELA MORTE . . 1. Odivércio . .. ee 2. Amorte ea familia do morto . He 3. Ceti finer crip outa 4, A ideologia do luto . . . Vil. A PROCRIACAO E.A GRAVIDEZ, SEGUNDO AS CRENGAS B OS COSTUMES DOS NATIVOS. (Crengas relativas a0 organismo do homem, da mulher 20 impulso sexual 2, Areencarmagdo eo caminho que leva vida através do mundo dos espititos . . 3. Aignorincia da paternidade fsilogica ... 4. Prova pelt quit nao justieam eu modo de 5, Fithos sem pai em uma sociedade matrilinear . 6. As singulares pretensbes da paternidade sociolégica Vill. A GRAVIDEZ E 0 PARTO. . i ¥ 1. Preparago para os ritos da primeira see ia 2, Cerimonial da primeira gravider . 3. Goltunes seams conta eine prt 4. Amfeeofilho...... IX, AS FORMAS COSTUMEIRAS DA LICENCIOSIDADE 1. Oclemento exético nos jogos. . - 2, Jogos que implicam contatofisico ....-- ‘As estagées dos amores e das festas Reunides cerimoniais: kayasa. . Festas orgisticas. Ulatile: a juventude em busca de aventuras amorosas Katuyausi — uma escapada cerlmonial das mogas. ‘Yausa — as mulheres atacam orgissticamente - Da autenticidade das priticas orgidsticas . . X, AS PRATICAS DO AMOR E.A PSICOLOGIA DA VIDA EROTICA . 1. Atragio erética. « 2. A repulsa que despertam a fei doenga -.. 3, Beleza do rosto e do corpo humano 4. Os euidados com 0 corpo - 5. EvolueZo de um caso . 6. Casos de afeicao pessoal 7 8 9. O aspecto comercial do amor. Ocitime. .... Beleza, cores e odores nas péticas amorosas 10. Sobre o que conversam dois amantes. . . 11, Investidas exdticas 12, ato sexual:... XI. A MAGIA DE AMOR E A MAGIA DE BELEZA ‘A importincia da beleza. .. 3 ‘Ocasi6es cerimoniais da magia de beleza. Magia de beleza: ritual das ablugOes. Magia de beleza: 0 situal de adornamento. . ‘A magia da seguranga e do renome nas festas ‘A magia de amor. Orito.e o encantamento a magia de amor AA parte da realidade na magia de amor. ‘A magia do esquecimento . . . XII, SONHOS F FANTASIAS EROTICOS. . 1. Sonhos ..... 2. O sexo no folelore ~ figuras ne 3. O sexo no folclore: facécias 0 4, O sexo no folelore: nda mito... . amadlegato”. + 5. Oparafso erético dos trobriandeses. . XII, MORALIDADE E COSTUMES. DecEncia e decoro . ‘A moral sexual 7 ‘A censura das aberragbes sexuais ‘Modéstia na linguagem e no Comportamento. _Exogamia e proibigio do incesto tabu supremo... .. IV, UMMITO SELVAGEM SOBRE O INCESTO . 1, As fontes da magia de amor. . 2. Otexto original do mito... 3. Casos reas de inoesto .. 413 4a 423 435 452 466 482 498 500 509 520 Lista das Tlustracdes Das mosas bonitas~ uma dafiguada pelo Ito Frontispicio 1, Appraga central de Omarakana.... ae 2, Ochefe e seus filhos. 3, Dois inimigos hereditarios 4. A-esposs favorita do Chefe e sua familia . 5. Cocpio cerimonial do taro. 6. Mulheres com “togebi” para comp ‘na cabega, 7. Familia em transito or 8, Interior nativo : 9, Uma etapa da confecgao de siotes.- 1, Soeagom das bras ings para 2 confess de stiotes. AL, Danga mortuéria . F 12, Distibuigd de stotes em ritual mortuio. 13, Mulheres com enfeites rituais. . 14, Homens usando todos os acessiros festivos 1S. Cringas fzendo demonstagfo de wma brincad eo oetndgrafo ..... 16, A Republic das Ciangat | 17. Meninos brineando de “sagali”. 18, Grupo de garotas..... 19. Meninos na roca de inhames 20. Casa de solteiro decorada - 21. Moga diante de "bukumat 22. Kalogusa,o filho do Chefe . ‘ 23, Preparago do presente de casamento 24, Exibigto do presente de casamento. . 25. Mitakata e Orayse ... 101 11 116 129 . O manto de gravidez f }. Primeiro encantamento das vestes de gravidez . Cortando as folhas brances da Liliécea - Caminhando sobre a “ponte viva”. 5. Obanho ritual ......... . Segundo encantamento do manto de gravider . Para evitar 0 contato com o chia . Volta a casa paterna |. Vigilia sobre a plataforma . Criangas em uma brincadeira de roda, . “Rats”... 5. A pesca da “kuboia’ . Cena de colheit |. “Ulatile” sobre a laguna A praia da laguna, ‘Uma familia feliz... tributo matrimonial exposto na ro¢a - Carano o presente compost de Produtos a ttima on “igo” ma adel - ‘Uma familia poligimica . : ‘Acesposa de um Chefe e seu dote anual Cadaver enfeitado Cadaver depois da primeira exumagto .. ‘Vita em luto completo Vitiva em tuto aliviado . ‘Maxilar-reliquia com adornos. ‘Tomwaya Lakawabulo, o vidente . Albino. . 3 Mae soiteira Dois ismtos . Pai e filho Mie e seu primogénito Jogo figurado . Cenitio tipico para a0 “esconde-esconde” Denonsraeto de danga cerimonial | A“ulatile” de Kwaybwaga . . Gat enfetdas par ura “ayant outa por 4 ‘casio da colheita.. Expedigzo “katuyausi” 210 23 nr 235, 236 239 240 247 248 235 256 263, 264 mn 272 215 276 281 282 64, Bagido’w . 65, Danga “kaydebu 166. Beldade metanésia 61. Tipo feminino néo admirado pelos nativos 68. O etndgrafo com um homem de pun 69. A folha ea veste 70. Catando piolhos « .- _ 71, Distribuigto cerimonial de alimentos. -- 72: Depois da destruiglo se eeeeee 73, Bnsaiando para uma danca “kasawag 74, Mato reo for Ga all para assistir a ma na debeleza . 75, A magia da madtepérola 76. Pintura facial magica 77. Aplicagdo ritual da “vans” « 78, Utimos retoques ne toalete dos dangarinos 79. Prontos para a danca final. 80, Mulheres dentro d’igua apanhando conchas 81, A angra de Kwabulo, 82, A danga de Inwvayia'u ..-..- 83, Bananeiras “usikela” om Kaulagu ..- 84) Acumulagdo de alimentos para um festim. . . 8. Malo reunia em uma pri par ais vesearia bemsucedida........ 5 86, Pequeno grupo comendo taro 87, Tipicaaldela de laguna... 88, Tokeda ~o cinturfo florestal adjacente & roga - 89. Ponto de surgimento dos antepassados em ume peqvens aldeia nailha de Vakuta 4 90. Mae efilho. . 91. Paie filho ‘As Ilhas Trobriand. Fig. 1 —Planta da aldeia de Omerakana Fig, 2 — Planta de uma casa de moradia. Fig. 3—Camasdegato....... Fig. 4— A praia de Kumilabwaga . . Introducao do Autor Escolhi para este limo o titulo mais natural, ou sja, o mais sincero, isto, em parte como objetivo de contribuir para a reabilitagfo do indispen- sdvel termo sexual, de que tanto se tem abusado, em parte para revelar sem rodeios © que o leitor deve esperar encontrar nos pardgrafos mais diretos, sexo nfo 6 para o habitante primitivo das ilhas do Pacffico, como para nds tampouco, uma simples questfo fisioldgica; ele implica o amor e o namoro; tomae 0 niicleo de instituigdes t#o venerdvels como 0 casamento ea famf lia; inspira a arte e constitui a fonte de suas magias e sortilégios, Domina, na verdade, quase todos os aspectos da cultura. A sexuatidade em seu sen ‘ido mais amplo ~ aquele que ela assume no titulo deste livro ~, é, mais do que a mets relagdo camal entre dois individuos, uma forsa’sociolé- fica e culturl, O tratamento cientifico da questfo, entretanto, evidente- ‘mente comporta também tum vivo interesse por set! ntcleo biologico. De modo que o antropélogo deve dar uma descricso dos contatos drstos entre dois amantes, tais como ocorrem’na Oceania moldados por suas tradigbes, pola obedigncia as suas leis ¢ de acordo com os costumes de sua tribo. Na Antropologia, os tos essencais da vida devem ser expostos com simplicidade ¢ de maneira completa, embora em uma linguagem cientifica; semelhante procedimento nada tem que possa ofender nem mesmo 0 meis Aelicado ou mais preconceituoso dos leitores. Os afiecionados da porno- srafia nfo encontrarfo aqui satisfugdo para suas inclinagdes e tampotco hé ‘otivos para recear que estas péginas despertem uma curiosidade mals nas ‘mentes jovens ainda ém formacéo, Nfo é expondo os fatos diretae simples- ‘mente que suscitamos esse tipo de curiosidade, mas sim, apresentando-os de uum modo dissimulsdo, com luzes equvocas crepusculares. Os leitores Info de perceber que 08 nativos, com o correr do tempo, tratam a sexuali dade nfo apenas como fonte de prazer, mas como algo sério e até mesmo sagrado, Por outro lado, nfo esta na natureza dos costumes e ides deles a privar a sexualidade do seu poder de transformar os grosseizos fatos mate- rials em experiéncias espirituais admiréveis, de envolver com a auréola ro- ‘mantica do amor os dngulos excessivamente tEcnicos da aptoximagéo amoro- sa. AS instituigSes dos trobriandeses sfo feitas para permitir que a paixo brutal se purifique e se torne um amor que dure para toda a vida; sfofeitas para permitir que nela viojem e se interpenetrem as afinidades pessoals, que tla se fortalega gragas aos miltiplos lagos e vineulos eriados pela presence dos fihos, pelas angistias e esperances comuns, pelos objetives e interesses de que se Compée a vida da familia, E, talvez, na mistura de elementos puramente sensuais com elemen- ‘0s rominticos, nas amplas e importantes conseqincias sociolégicas Jo ‘que pode ser considerado o mais pessoal dos acontecimentos, é nessa riqueza e multiplicidade do amor que reside 0 seu mistéro filos6fico, 0 seu encanto para o poeta ¢ 0 seu interesse para 0 antropélogo. Essa complexidade do ‘amor, o$ trobriandeses a conhecem tf0 bern quanto nés;6 ela que nos toma mais familiar até mesmo aquilo que, 2 primeira vista, poderia chocar & ‘aioria dos civlizados, parecendo estar fora de qualquer controle. Ignorar esse ttimo aspecto, entretanto, furtarse ao estudo da base puramente material do amor, significaria em um trabalho cientfieo snve- lidar completamente todos 0s resultados. Seria cometer 0 pecedo imperdod- vel de fugit & questo propriamente dita. Quem nfo desejar encarar a sexua- lidade frente a frente ngo tem por que comprar ou ler este livio;e aqueles que 2 interessam pelo assunto com espfito nao-cientifico fiquem preve- nnidos desde jé que nada encontrarfo de sugestivo ou de tentador nos ca- pftulos que se seguem. ‘Quero deixar bem claro que as comparagbes entre as condigdesnati- vas ¢ 28 europeias que espalhei ao longo do livro, especialmente nos itimos capitulos, nf0 pretendem servic como um paralelo sociol6gico — para tanto ‘fo superficiais demais. E, sobretudo, néo vd o leitor pensar que essas com- ‘paraghes tenham qualquer propésito de ser uma pregacfo contra as nossas fraquezas ou uma exaltagfo de nossis virtudes, Recor a elas simplesmente porque, para explicarfatos estranhos, € necesséro tradu-los primeiramente fem fatos que nos sejam fafiliares. Em suas observagées, 0 antropologo deve fesforgarse para compreender 0 nativo através de sua prOpriapsicologia, precisa construir « imagem de uma cultura estrangeira com base em ele- rmentos daquela a que pertence, bem como de outras que conhece na teoria ena pritica. Toda a dificuldade ¢ a arte do trabalho de campo sociol6gico consist em partir desses elementos que sfo familiares na cultura estrangeira «ir aos poucos configurando o estranho e o diferente em um esquema com- preensivel, Nesse sentido, o aprendizado de uma cultura estrangeira asse- 2 smelha-se ao aprondizado de uma lingua estrangeira:comega por mers assi- ‘ilagfo ¢ por ume tradugéo grosseira, para terminar por um completo des- ligamento da referéncia originale pelo dominio da referéncia nova. F, como ‘uma descrigfo etnogrdfica adequada deve reproduzir em miniatura os gra- Aativos, extensos e dolorosos processos do trabalho de campo, ese recurso 1206 elementos familiares ¢ os paralelos entre europeus ¢ trobriandeses tém de servir como ponto de partiés. ‘final de contas, para atingir 0 leitor considero indispensivel valer- sme de suas experiéneias pessoais, adquiridas em nossa sociedade. Assim co- ‘mo nfo tenho outro jeito sento escrever em inglés e traduzir para o inglés (08 termos ¢ textos nativos, preciso também, para apresentar em toda a sua realidade as condigtes existentes entre os melanésios, tomando-as com- preensiveis, “traducidas” para as nossas préprias condigoes. Tanto um pro- cedimento como outro nfo esté live de erros, mas esses eiros sfo inevté- vis. Por mais conscifncia que tenha do adigio craduttore, traditore, nfo resta outra altemativa 20 antrop6logo: nfo Ihe é possfvel exilar por dois anos 08 seus poucos e pacientes Ietores num atol de coral do Pacfficoe con seguir que vivam a vida local por experiéneia propria;infelizmente, 0 tnico ‘melo que esté a seu alcance € escrever livros sobre 0s sous selvagens e fazer ‘conferéncias& respeito dees. Hi ainda um ponto que gostaria de abordar sobre 0 método de apre- sentagfo deste livro, Todo observador cientifico consciencioso est na obri- gagH0, nfo s6 de afirmar o que sabe e como veio a sabé4o, mas também de indicar as lacunas que existem em seus conhecimentos, as falhas e omiss6es ‘no seu trabalho de campo. Jé expus longamente em outra obra (Argonauts of the Westem Pacific, capitulo 1) minhas oredenciais: duraggo de minha permanéncia nas ilhas, qualificap6es lingUsticas, métodos utilizados na co- Teta de documentos e dectarag6es. Néo repetirel 0 que jé foi dito; uma ou outra observagio que julguei neoessério acrescentar, sobre a dificuldade de estudar a vida intima dos nativos, pode ser encontrada pelo leitor no corpo desta obra (cap. IX, 9; cap. X, introduedo; caps, XII e XMM, introdugbes). O etndgrafo ¢ o antropélogo competentes e experientes ~ os tnicos ‘que possam estar interessados na margem de exatidfo, na metodologia da ‘Prova ¢ ns lacunas de informacEo — distinguirfo com facilidade, nos dados ‘que aptesentamos neste iro, onde a documentagfo ¢ insuficiente e onde cla & completa. Quando fago uma simples declaragfo sem ilustrila com ‘exemplos de minha observagdo pessoal ou sem apoita em fatos , isto signi- fica que fundamentalmente estou me valendo do que me foi contado por informantes nativos, Esta é, sem dtivida alguma, a parte menos digna de cconfianga do meu material, 23 ‘enh plena consciéncia de que sfo insuficientes os meus conheci- rmentos de fatos ligados & obstetricia, bem como da atitude das mulheres durante a gravidez e o parto. Também 0 comportamento do pai na ocasi80, do parto e a psicologia masculina com relagGo a0 mesmo no foram estu- dados tfo plenamente como deveriam ter sido. Diversos pontos de menor importincia sfo tratados de ume mancira que deixa claro para o especialis- ‘a, nfo s6 onde a informacéo se acha incompleta, mas inclusive a orientagdo de que deverfo seguir as pesquisas ulteriores para preencher a lacuna. No que conceme a maioria dos fatos de importéncia fundamental, estou convencido de que fui ao fundo da materia, ‘Uma dessas lacunas, lamentavel mas dfeil de remediar, é 0 némero iminuto de iustragdes diretsmente relacionadas com a vida erdtica. Como asta, ontrotanto, s@ processa em sombras profundas (no sentido literal e figurado), o ‘nico meio de se obter Fotografias seria forj-ss, ou, namelhor das hipéteses, tentar que 0s casais posassem para elas — ¢ uma paixfo (ou sentimento) forjada ou posada néo tem valor nenhum. ‘As numerosas dividas de gratidZo que contrat no decorter do meu trabalho de campo foram assinaladzs em outra obra (Argonauts of the Wes- tem Pacific), mas gostaria de mencionar aqui ume divida muito especial para com mou amigo Billy Hancok, comerciante e comprador de pérolas nas ilhas Trobriand, que morreu misteriosemente enquanto eu escrevia este livro, Ele estava doente, esperamdo em Samarai —feitoria européie na Nova Guiné Oriental — 0 barco que devia conduzito com destino ao Sul. Uma noite desapareceu e nunea mais foi visto nem se ouviu filar dele. Era nfo $6 tum excelente informante e colaborador, mas um verdadeiro amigo, cuje compantis¢ asssténciatrouxeram boa parcela de conforto material apoio moral a minha existéncia um tanto penosa e monétona.. Fui muito estimulado a escrever este traballio pelo interesse que cle despertou no Sr. Havelock Ellis, de cuja obra sou admirador © que sempre reverenciel como um dos pioneires do pensamento honesto e da pesquisa ‘ousada. Seu prefécio em muito valoriza 0 meu livro. grupo de amigos, alunos ¢ colegus igedos, nestesltimos anos, a0 setor de pesquisas ¢ ensino de Antropologia na “School of Economics” de Londres ajudou-me bastante a por clareza nas minhas idéias ¢ preparar a apresentagSo do meu material, sobretudo no tocante & vida familial, & orga- nizagfo do parentesco e as leis matrimoniais. A Sra. Robert Aitken (Srta, Barbara Freize Marecco), o Dr. R. W. Firth (atualmente nas ilhas Salomao), o Sr. E, E. Evans Pritchard (que reside atuelmente entre os Azandes na Afi a), a Srta, Camilla Wedgwood (atualmente na Austrilia), o Dr. Gordon Brown (atualmente em Tanganica), a Dra. Hortense Powdermaker (stual m mente a caminho de Papua, 0 Sr, I. Schapera (outrora trabalhando na Afti- ceado Sul), 0 Sr. TJ.A. Yates (outrora trabalhando no Egito),a Srta. Audrey Richards, todos estes serdo sempre gratamente lembrados por mim, pela aju- dda que me deram na redagdo dos capftulos sociol6gicos mais dificeis deste livro, Minha divide maior, entretanto, aqui como na maior parte do que escrevi até hoje, é para com minha mulher, Seus conselhos e sua colaboraggo prética conseguiram transformar em uma tarefa agradavel o trabalho estafan- te de escrever Argonauts of the Wester Pacific ¢ a presente obra. Se esses dois livros tém para mim pessoalmente um certo valor e um certo interesso, isto se deve a sua participagao no esforgo comum. BM. Londres, janeiro de 1929 OPEN SEA acum) TROBRIAND LAGOGN (waooM) SEA-ARM OF PILOLU ILHAS TROBRIAND_ I aa nds (cop. I, ep 2: Cap, sp. 4] As relacdes entre os sexos na vida tribal homem ¢ a mulher nas ilhas Trobriand, suas rlapSes no amor, no casamento e na vida tribal: este seréo tema do presente estudo. ‘A fase mais dramética e mais intensa das relag6es entre homens ¢ ‘mulheres, aquela em que eles amam, unem-se no casamento e procriam fi- thos, tem de ocupar necessariamente o primeiro plano em qualquer conside- ragZo do problema sexual. Para a pessoa comum e normal, seja qual for 0 tipo de sociedade em que a encontremos, a atragto pelo outro sexo ¢ 08 epi- s6dios passionaise sentimentais que dela decorrem constituemse nos aconte-

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