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ABSTRACT
Kirsch, V. G., S. M. Kulczynski, C. B. Gomes, A. C. Bisognin, M. Gabriel, C. Bellé, and I. Lima-Medina.
2016. Characterization of Meloidogyne and Helicotylenchus species associated with soybean in Rio Grande
do Sul State. Nematropica 46:197-208.
Soil and root samples were collected in soybean from the North, Northwest and South regions of the
Rio Grande do Sul. Plant-parasitic nematodes were identified from 40 samples, and the species of root-
knot nematode (Meloidogyne spp.) and spiral nematode (Helicotylenchus spp.) were determined by both
esterase phenotype profile and morphological and morphometric characters. Nematodes detected in the soil
samples included Meloidogyne (65%), Helicotylenchus (100%), Tylenchus (72.5%), Aphelenchus (17.5%),
Paratylenchus (15%), and Pratylenchus (10%). Species of root-knot nematode identified in root samples
included predominantly M. javanica Est J3 (82%), followed by M. arenaria Est A2 (31%), and M. morocciensis
(6%). Species of spiral nematodes that were detected included H. dihystera (78%), H. pseudorobustus (11%),
and H. multicinctus (11%) in the soil.
RESUMO
Kirsch, V. G., S. M. Kulczynski, C. B. Gomes, A. C. Bisognin, M. Gabriel, C. Bellé, e I. Lima-Medina.
2016. Caracterização de espécies de Meloidogyne e de Helicotylenchus associadas à soja no Rio Grande do
Sul. Nematropica 46:197-208.
A partir de 40 amostras de solo e de raízes, coletadas em lavouras de soja provenientes das regiões
Norte, Noroeste e Sul do Rio Grande do Sul, quantificou-se a nematofauna fitoparasítica associada à cultura
e a seguir, caracterizaram-se as espécies do nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.) e do nematoide-
espiralado (Helicotylenchus spp.) pelo perfil dos fenótipos esterásicos e caracteres morfológicos e
morfométricos, respectivamente. Nas amostras de solo, detectou-se a ocorrência dos gêneros Meloidogyne
(65%), Helicotylenchus (100%), Tylenchus (72,5%), Aphelenchus (17,5%), Paratylenchus (15%), e
Pratylenchus (10%). Entre as espécies do nematoide-das-galhas identificadas nas amostras de raízes,
identificaram-se, predominantemente, Meloidogyne javanica Est J3 (82%), seguido de M. arenaria Est A2
(31%), e M. morocciensis (6%). Com relação às espécies do nematoide-espiralado, detectou-se a ocorrência
de H. dihystera (78%), H. pseudorobustus (11%), e H. multicinctus (11%) no solo.
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198 NEMATROPICA Vol. 46, No. 2, 2016
Fig. 1. Fenótipos de esterase (Est) detectados em populações de Meloidogyne spp. coletadas em áreas de cultivo de
soja nas regiões Norte, Noroeste e Sul do Rio Grande do Sul.
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Tabela 1. Ocorrência de gêneros de nematoides observados em amostras de solo coletadas em lavouras de soja nas regiões Norte, Noroeste e Sul
do Rio Grande do Sul.
Gêneros
Região Local de coleta Amostraz Meloidogyne Helicotylenchus Aphelenchus Tylenchus Paratylenchus Pratylenchus
Sul Arroio Grande 1 (AG) 69 6
Sul Arroio Grande 2 (AG) 176 3 3
Sul Arroio Grande 3 (AG) 40 12
Sul Arroio Grande 4 (AG) 7 11
Sul Arroio Grande 5 (AG) 271 14
Sul Arroio Grande 6 (AG) 207 9 1
Norte Boa Vista do Cadeado 1 (R) 101y 147 4
Norte Boa Vista do Cadeado 2 (AG) 32 343 6
Norte Boa Vista do Incra 1 (R) 2679 165 25
Norte Boa Vista do Incra 2 (AG) 78 67 16 6
Sul Capão do Leão 1 (AG) 30 19
Sul Capão do Leão 2 (AG) 3 20
Sul Capão do Leão 3 (AG) 87 43
Sul Capão do Leão 4 (AG) 2 66
Sul Canguçu 1 (AG) 224 32 4
Sul Canguçu 2 (AG) 72 4
Norte Carazinho 1 (AG) 373 274 2
Sul Cerrito 1 (R) 29 165 3
Sul Cerrito 2(AG) 17 145 4
Norte Cruz Alta 1 (AG) 28 74
Norte Espumoso 1 (AG) 163 65
Norte Espumoso 2 (R) 86 105
Noroeste Giruá 1 (R) 1113 67
Noroeste Giruá 2 (AG) 131 130
Norte Ibirubá 1 (AG) 56 142 26 8
Norte Júlio de Castilhos 1 (R) 226 24 10
NEMATROPICA Vol. 46, No. 2, 2016
Tabela 4. Valores morfométricos de espécimes do gênero Helicotylenchus coletados em lavouras de soja em diferentes municípios das regiões Norte, Noroeste e Sul do Rio Grande
do Sul.
PROCEDÊNCIA
Medida Arroio Grande Canguçu Capão do Leão Cerrito Pelotas
CEz 24,804t 25,005 25,179 22,225 24,355
(24,263 – 26,318) (24,904 – 26,988) (24,033 – 26,533) (24,208 – 26,716) (24,087 – 26,495)
Cy 40,549 41,182 39,771 40,382 42,489
(35,585 – 48,228) (35,851 – 49,267) (35,105 - 46.519) (35,709 – 45,757) (35,085 – 48,037)
Ox 40,175 40,054 39,755 40,047 39,505
(35,675 – 44,744) (35,554 – 44,326) (35,255 - 44,876) (35,547 – 44,844) (35,565 – 44,002)
Vw 60,184 61,276 60,712 63,961 63,350
(58,750 – 68,192) (59,140 – 67,245) (59,041 – 68,995) (58,784 – 67,965) (58,212 – 67,286)
Lv 589,513 623,162 555,958 573,404 589,691
(536,202 – 666,629) (560,825 – 691,445) (536,343 – 693,027) (538,242 – 657,998) (533,354 – 686,401)
DEGOu 10,541 9,960 9.704 9,977 9,620
(9,171 – 11,425) (8,742 – 11,698) (8,658 - 11,777) (9,036 – 11,953) (8,924 – 11,658)
Espécie H. dihystera H. dihystera H. dihystera H. dihystera H. dihystera
PROCEDÊNCIA
Medida B. Vista do Cadeado B. Vista do Incra Carazinho Cruz Alta Espumoso
CE 25,606 25,701 25,503 25,155 25,561
(24,194 – 26,906) (24,904 – 26,988) (24,002 – 26,974) (24,002 – 26,284) (24,434 – 26,629)
C 42,236 38,763 39,368 42,596 38,439
(35,063 – 46,986) (36,613 – 45,743) (35,629 – 46,761) (35,040 – 48,511) (35,288 – 48,934)
O 41,200 40,654 39,234 40,235 39,505
NEMATROPICA Vol. 46, No. 2, 2016
(36,708 – 45,003) (35,345 – 45,000) (35,111 – 45,002) (35,706 – 44,765) (35,987 – 44,005)
V 60,910 65,151 61,310 61,317 60,871
(59,076 – 64,565) (58,195 – 68,520) (58,010 – 65,479) (58,134 – 67,909) (58,413 – 64,182)
L 639,825 593,582 624,898 634,211 629,235
(552,053 – 703,810) (532,197 – 719,908) (542,124 – 711,941) (561,180 – 778,987) (539,730 – 692,374)
DEGO 10,551 10,623 10,107 10,147 9,962
(9,038 – 11,936) (9,134 – 11,923) (8,736 – 11,548) (8,696 – 11,503) (9,099 – 11,387)
Espécie H. dihystera H. dihystera H. dihystera H. dihystera H. dihystera
Tabela 4. Valores morfométricos de espécimes do gênero Helicotylenchus coletados em lavouras de soja em diferentes municípios das regiões Norte, Noroeste e Sul do Rio Grande
do Sul. (Continua)
Medida PROCEDÊNCIA
CE 24,976 25,377 25,556 25,809 23,359
(24,359 – 26,550) (24,353 – 27,001 (24,005 – 27,001) (24,351 – 26,562) (22,563 – 24,405)
C 40,364 43,191 41,610 41,358 45,744
(35,212 – 49,368) (37,497 – 49,644) (35,858 – 48,986) (35,002 – 45,961) (43,324 – 47,435)
O 40,520 40,968 40,043 39,603 38,635
(35,465 – 45,001) (35,968 – 44,768) (35,543 – 44,578) (35,103 – 44,289) (34,429 – 39,879)
V 60,814 60,134 61,981 60,805 67,791
(58,046 – 69,060) (58,799 – 67,216) (58,964 – 65,418) (58,331 – 67,840) (66,108 – 72,393)
L 639,549 625,660 616,177 644,837 543,604
(532,843 – 748,621) (589,720 – 706,879) (543,229 – 750,270) (585,775 – 735,510) (489,073 – 616,092)
DEGO 10,118 10,634 10,195 9,962 9,003
(9,057 – 11,569) (9,003 – 11,781) (8,772 – 12,058) (9,090 – 11,729) (8,233 – 9,276)
Espécie H. dihystera H. dihystera H. dihystera H. dihystera H. multicinctus
PROCEDÊNCIA
Medida Santa Bárbara do Sul Santa Rosa Sarandi Tupanciretã
CE 24,300 25,531 24,372 25,207
(23,155 – 26,335) (24,359 – 26,753) (24,051 – 26,092) (24,589 – 26,645)
C 40,243 41,371 41,469 39,073
(32,516 – 49,794) (36,233 – 46,305) (35,471 – 47,740) (35,066 – 45,158)
O 51,568 37,800 40,289 40,501
(40,787 – 56,035) (35,800 – 41,788) (35,789 – 44,989) (36,978 – 45,001)
V 61,567 63,242 60,099 61,087
(59,390 – 63,822) (58,228 – 68,220) (58,282 – 66,557) (58,693 – 68,184)
L 618,922 605,127 614,360 642,794
(585,218 – 679,637) (535,788 – 748,089) (558,997 – 718,431) (533,477 – 711,878)
DEGO 12,666 9,664 12,665 10,470
(10,344 - 13,446) (8,721 – 10,902) (10,922 - 12,975) (9,196 – 11,321)
Espécie H. pseudorobustus H. dihystera H. dihystera H. dihystera
z
CE – Comprimento total do estilete (µm); y C - L / comprimento da cauda (µm); x O - DEGO / Comprimento do estilete x 100; w V - Distancia anterior até a vulva / L x 100 (%);
v
L - Comprimento total do corpo (µm); u DEGO - Distância da base do estilete a abertura da glândula esofagiana dorsal (µm); t Variação entre os valores mensurados em 20 fêmeas
Fitonematoides associados à soja no Rio Grande do Sul: Kirsch et al.
de Helicotylenchus.
203
204 NEMATROPICA Vol. 46, No. 2, 2016
analisadas pelo autor. Castro et al. (2003) encontraram seja ampla a ocorrência de H. multicinctus em
maior ocorrência de M. javanica Est. J3 em soja no bananeira, cultura em que este nematoide tem grande
Rio Grande do Sul e em outras regiões brasileiras. importância devido aos danos causados, em soja,
Recentemente, a predominância de populações de M mesmo já tendo sido relatado em associação com a
javanica tem sido relatada em outras culturas, além cultura, este nematoide ainda é considerado praga
da soja, no Rio Grande do Sul. Lima-Medina (2013) secundária (Sharma e Loof, 1977). Helicotylenchus
e Bellé (2014) observaram este nematoide em batata pseudorobustus já foi relatado em soja nos EUA,
e cana-de-açúcar, respectivamente. no entanto, o autor não observou relação entre
A ocorrência de M. arenaria Est A2 e M. a ocorrência dessa espécie e danos na cultura
morocciensis Est A3 (Tabela 4; Figura 1) também já (Niblack, 1992). Da mesma forma, em condições
foram relatadas por Castro et al. (2003) e Mattos et brasileiras, não há registro de informações quanto à
al. (2016) na cultura da soja em diferentes áreas do suscetibilidade de genótipos de soja ao nematoide-
Rio Grande do Sul. No entanto, em outras culturas espiralado.
e regiões do País, M. morocciensis já foi relatada Os resultados obtidos nesse estudo são
em batata (Lima-Medina et al., 2014), videira importantes por causa da escassez de informações
(Somavilla, 2011), quivi e alface (Carneiro et al., relacionadas à ocorrência de nematoides na cultura
1996), tomate (Gomes et al., 2005), mama-cadela da soja no Rio Grande do Sul. Ainda, além de mapear
(Broximum gaudichacidii Tréc.) (Carneiro et al., a ocorrência de diferentes espécies de Meloidogyne,
2006), e em vegetação típica de cerrado (Souza et outras espécies de nematoides foram registradas
al., 1994; Silva, 2012). nas diferentes regiões do estado onde se produz o
No presente estudo, assim como observado por grão. Nesse sentido, a identificação correta desses
Castro et al. (2003), verificou-se predominância de patógenos em espécie é ferramenta imprescindível
espécies de Meloidogyne ocorrendo isoladamente. ao planejamento e manejo de uma lavoura infestada,
Apenas em três amostras (Cruz Alta, Pejuçara e Boa levando-se em consideração a escolha de plantas
Vista do Incra), foi observada a presença de mistura para a rotação de culturas e cobertura do solo, além
de populações (Tabela 3) de M. javanica Est J3 e M. da indicação de cultivares resistentes adequadas.
arenaria Est A2, com predominância de M. arenaria Informações relacionadas ao nematoide
Est A2, nos dois últimos locais de coleta. No entanto, espiralado e sua real importância para a soja e outras
em levantamento de doenças na cultura da soja, no culturas de importância econômica são necessárias
Oeste do Paraná, Roese et al. (2001) verificaram a para elucidar a usa ocorrência e seu status de praga
ocorrência de populações mistas de M. javanica e M. secundária, uma vez que já existem relatos de sua
incognita na maioria das áreas amostradas. ampla disseminação em áreas de cultivos, inclusive
Na cultura da soja, a presença de Helicotylenchus causando perdas econômicas significativas.
dihystera também foi relatada por Lehmann et al.
(1976) em coletas no Estado do RS e, mais tarde,
por Sharma et al. (2002), no Acre. Além disso, LITERATURA CITADA
diversos autores relatam que esta espécie ocorre em
maior dispersão nos diferentes agroecossistemas Almeida, A. M .R., L. P. Ferreira, J. T. Yorinori, J.
(Ribeiro et al., 2011; Dupont, 2012). Apesar de ser F. V. Silva, A. A. Henning, C. V. Godoy, L. M.
considerado um nematoide que não causa danos à Costamilam, e M. C. Meyer, Doenças da soja.
maioria das culturas, níveis populacionais elevados 2005. Pp. 569-588 in H. L. Kimati, L. Amorim,
de H. dihystera no solo podem reduzir o crescimento J. A. M. Rezende, J.A.M.; A. Bergamim
e o desenvolvimento de plantas de trigo e ervilha, Filho, and L. E. A. Camargo (eds.). Manual
bem como o rendimento de grãos, resultando em de fitopatologia Volume 2. Doenças de plantas
perdas na produtividade das culturas. Além disto, cultivadas. Ceres; São Paulo.
a presença dos nematoides associados às culturas Almeida, E. J., P. L. M. Soares, A. R. Silva, e
também pode causar danos secundários, provindos J. M. Santos. 2008. Novos registros sobre
de sua relação com complexos de doenças, estando Meloidogyne mayaguensis no Brasil e estudo
relacionados com a abertura de portas de entrada para morfológico comparativo com M. incognita.
outros patógenos como fungos e bactérias. Níveis Nematologia Brasileira, 32(3);236-241.
altos deste nematoide em áreas de cultivos anuais Antônio, H. 1992. Fitonematoides na cultura da soja.
podem ser estimulados pela presença de algumas Informe Agropecuário, 16 (172):60-65.
espécies vegetais. De acordo com Rodríguez-Kábana Baida, F. C., C. T. Stroze, A. C. Z. Machado, e P.
e Collins (1979), culturas como o milho e o algodão M. Amaro. 2015. Ocorrência de Helicotylenchus
resultaram em populações finais de H. dihystera dihystera em cultivo de soja no Paraná. Anais.
mais elevadas na época de colheita. Não obstante XXXII Congresso Brasileiro de Nematologia.
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