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Uma menina e sua mae passaram por uma estétua que retratava tum homem europeu dominando um ledo com as proprias maos. ‘A menina parou, olkou intrigada e disse: “Mamae, alguma coisa std errada com esta estétua. Todo mundo sabe que um homem indo seria capaz de dominar wm ledo”, A mde the respondeu: “Mas querida, lembre-se de que foi o homem quem construiu a estdtua” Conforme relatado por Katie G. Cannon, 1985 0 feminismo negro dos Estados Unidos, em sua expressio de teoria ‘titica, reflete os interesses e 0 ponto de vista de suas criadoras. A in- o sobre a origem e a difusio do pensamento feminista negro, assim de qualquer outro corpo de conhecimento especializado, revela sua com o poder do grupo que o criou (MaNN#teiM, 1936). Uma vez que 3s brancos da elite controlam as estruturas de validacio do conhecimen- tal, seus interesses permeiam temas, paradigmas e epistemologias fabalho académico tradicional. Consequentemente, as experigncias de res negras norte-americanas, bem como as experiéncias de mulheres sndentes na esfera transnacional, tém sido distorcidas ou excluidas que € definido como conhecimento. ‘Opensamento feminista negro dos Estados Unidos, na qualidade de um yento especializado, reflete temas caracteristicos das experiéncias de res afro-americanas, ¢ seus temas centrais - trabalho, familia, politica originalmente publicado em COLLINS, Patricia Hill. Black Feminist Thought edge, consciousness, and the politics of empowerment. New York/London: itledge, 2000. p. 251-271. Diretos cedidos pela autora e pela Routledge/Taylor and cis Group LLC Books. Traducio de Ana Claudia Jaquetto Pereira, 19 sexual, maternidade e ativismo politico ~ sto derivados de paradigmas que enfatizam a relevincia de opress6es interseccionais na constituigao da matriz de dominagéo nos Estados Unidos. Entretanto, promover esses temas ¢ pa radigmas nao tem sido tarefa facil, uma vez que as mulheres negeas tém tido que enfrentar as interpretagdes dos homens brancos sobre o mundo. Nesse contexto, o pensamento feminista negro pode ser visto como ‘um conhecimento subjugado. Tradicionalmente, a supressio das ideias de ‘mulheres negras no interior de instituigdes sociais controladas por homens brancos levou as mulheres afro-americanas a usar a miisica, a literatura, as conversas e 0s comportamentos do cotidiano como espacos importantes na construgdo de uma consciéncia feminista negra. Mais recentemente, a edu- ‘cagio superior e a comunicasao social tém se consolidado como espagos cada ‘vez mais importantes para ativismo intelectual de feministas negeas. Nesses novos espacos sociais, o pensamento feminista negro frequentemente tem se destacado, e, apesar da visibilidade, tem sido subjugado de maneiras diversas (Coutts, 1998, p. 32-43). A investigagio do conhecimento subjugado de grupos subordinados - nesse caso, 0 ponto de vista das mulheres negras e o pensamento feminista negro ~ requer mais inventividade do que a andlise dos pontos de vistas ¢ do pensamento de grupos dominantes. Meu treinamento para atuar como cientista social demonstrou-se inadequado para o estudo do conhecimento stubjugado de um ponto de vista das mulheres negras. Isso porque os grupos subordinados hé tempos tiveram que recorrera formas lternativas para criar autodefinigdes e para estabelecer seus valores independentes, rearticulando-0s por meio de nossos préprios especialistas. A exemplo de outros grupos su- bordinados, as afro-americanas nao apenas desenvolveram um ponto de vista caracteristico, como também o fizeram utilizando formas alternativas para produzir e validar 0 conhecimento, ‘A epistemologia constitu uma teoria geral do conhecimento (HARDING, 1987). Ela investiga padrées utilizados para avaliar o conhecimento ou o porque de considerarmos algo como verdadeiro. Longe de ser um estudo apolitico da, verdade, a epistemologia atenta para a maneira com que as relagdes de poder estabelecem quem é considerado confidvel e por que 0 é. Por exemplo, muitos descendentes de Sally Hemings, uma mulher negra escravizada e colocada, 1 servigo de Thomas Jefferson, insistiram iniimeras vezes que Jefferson era pai dos filhos de Hemings. A histéria defendida pelos descendentes afro- americanos de Jefferson foi ignorada em favor das versdes encampadas por seus ientes brancos. 0 sacreditados até finalm Diferenciar epister entender o significa contraste com epist retativas, como a in menos sociais.? Met iuzir uma pesquisa e stemol6gico ¢ import: investigadas, qua isar evidéncias ¢ que Asintelectuais negt intas ao produzirem o Unidos: uma det ra expressa preocup: ambas as epistemolog isticos que transcet ‘Muitos académicos consi ‘ivais, por exemplo, devid ‘o que é considerado verd: [pos-modernismo sejam mr “05 no interior da abrange A discussio feita em Bla: “classe, género, sexualidad: “discutizeiadiante neste ar feminista negra. “Por exemplo, metodologi: metodol6gicas quesio uti @ pelas ciéncias ocidentai “como uma determinada + Enquanto a metodologia fo ha nada inerentemen eterminada metodologia ‘01.40 masculino e, assim . 101-105). Técnicas esp questionarios, constituen Inecessariamente encontr: ie padries de utiizagis {grupos homens branco: heres negras recorre: ‘empregados para uma vat pderivados de paradigmas que descendentes brancos. Os descendentes de Hemings eram sistematicamente pnaisna constituigao da matriz, Aesacreditados atéfinalmente terem sua versio comprovada por testes de DNA. Diferenciar e para entender o significado de epistemologias antagonicas (HARDING, 1987). Em contraste com epistemologias, paradigmas abrangem abordagens in- Aerpretativas, como a interseccionalidade, que sio utilizadas para explicar te, a supressio das ideias de endmenos sociais.* Metodologia refere-se aos principios amplos de como ociais controladas por homens ‘conduzir uma pesquisa e como aplicar os paradigmas interpretativos.’ O nivel fausar a misica, a literatura, as pistemologico ¢ importante porque determina quais questdes sio dignas de investigadas, quais abordagens interpretativas sero utilizadas para ialisar evidéncias e qual seré a finalidade do conhecimento dai derivado. [Asintelectuais negras usualmente defrontam-se com duas epistemologias istintas a0 produzirem o conhecimento especializado do feminismo negro nos stados Unidos: uma delas representa os interesses da elite branca masculina, ra expressa preocupacbes do feminismo negro, Existem muitas variagSes, amnbas as epistemologias, mas é possivel resumir alguns de seus tragos ca teristicos que transcendem diferencas entre os paradigmas que cada uma temologias, paradigmas e metodologias pode ser itil fo, promover esses temas € pa gue as mulheres negras tém tido rancos sobre o mundo. negro pode ser visto como p como espacos importantes na Mais recentemente, a edu- consolidado como espagos cada ual de feministas negras, Nesses ja negro frequentemente tem se psubjugado de maneiras diversas wado de grupos subordinados ~ rnegras e 0 pensamento ferninista aanilise dos pontos de vistas e treinamento para atuar como Bilis acadtnicos consideram o positvismo e o pés-modernisneepstemologias ls por empl, devido ao fat de cada um dls tere suas prprat cols sobre jparao estudo do conhecimento Bue Sconsideradoverdade e por qut. Em cntraste acredio que o poslviao e 0 te negras. 1850 porque 0s grupos Beodernisr seam maisuns dos diversostermos Bindi, ij oposcd una rer aformasalternativasP Heasao feta em Beck Finis Thought sobre opessesintereectada de rcs, esindependentes, rearticulando-os enero, sexualidade e nagio busca esbogar um paradigma alternativo que, como ‘A exemplo de outros grupos su Bleadiante este artigo, pode consttir uma partemportantedaepistemologia .desenvolveram um ponto de vista. F erexemplo, metodologias qualitativas equantitativasrepresentam duasabordagens lizando formas alternativas para todolgica que so uilizadas com frequénca, respectivamente,pelashumanidades fps céncias ocidentais. Uma metodologia particular pode vir a ser identiicada z o uma determinada abordagem epistemolégica e sua abordagem interpretatva, eral do conhecimento (HARDING, ae nto a metodologia refere-se a uma teoria abrangente de como fazer pesquisa, jvaliar o conhecimento ou o porque Bec ncrentcrente“braneo™ ou “nego masculine” ov Patna onge de ser um estudo apolitico da teminada metodologi Algumas metodologias podem ser asociadasbranquitude masculino e, assim, operar em desfavor das mulheres negras (COLLINS, 1998, , L105), Técnicas especfcas wsadas em pesquisa, como andlise de entrevistas € jepor que 0é, Por exemplo, muitos tonirios, consituem miétodos de pesquisa ou instrumentos especificos que mio ler negra escravizada e colocada sriamenteencontram-seateladosa.algum grupo de interesse particular. Ainda adrdes de wtilizacio de técnicas especifcas possam variar entre os diferentes os - homens brancos trabalham com bases de dados de grande escala,enquanto Hefendida pelos descendentes affo= Bran cris wcctvevisa inividocs 0» Bod podem er ror das versdes encampadas por seus dos para uma variedade de propésitos. ira com que as relagbes de poder m inimeras vezes que Jefferson era delas comporta. Escolhas epistemolégicas sobre quem € digno de crédito, no es académicas neutras que acreditar e por que algo ¢ verdadero nio sio quest lamental de Pelo contririo, essas questées dizem respeito & problemética fund como sio determinadas as versbes da verdade que irao prevalecer. Processos eurocéntricos de validacao do conhecimento e relacées de poder nos Estados Unidos Nos Estados Unidos, as instituigées sociais que legitimam o conhecimes as epistemologias ocidentais e eurocéntricas que elas promort to,bem como dominantes devil constituem duas partes inter-relacionadas dos processos mento. Em geral, académicos, editores e outros especial dagio do conheci tudo agi representam interesses especificos e processos de certificagio, ¢ que eles afirmam ser conhecimento deve atenderacritérios politics epi molégicos vigentes nos contextos em que se inserem (KUHN, 1962s Mute 1s de validagio refletem os interesses de homens bran 1979), Os proce + Embora teh da elite, uma vez que tal esfera & controlada por esse grupo. rocentrismo que espelha o met andra Harding oferece uma definicio de eut to social e politico ciel neste trabalho (HARDING, 1998, p. 12-15). pensamen nter-relacionadas para estab fou eurocéntrico comporta trés abordager igiasrivas. A prime ‘verdade", que usualmente sio retratadas como epistemolo} ia positivista, ha muito reivindica que verdades absoluta ex refletda na cié instrumentos cientfcos obj ‘equeatarefa académica consiste em desenvolv dlesprovidos de vieses, para medir ais verdades. Entretanto, diversas teors onceitos a epistemologia dessa corrente da ciéncia ao aaa desafiaram os ncos da elite e, pon cles representam interesses particulares de homens brat sio menos vilidos quando aplicados as experiéncias de outros iencia positivista também tem sido interpel ve igual : dle uma elite masulinaba falmente priorizam os interesses particulares nda abordagem, compost theories) que tina mas que langam mao de novos construtos. A se fas versdes das teorias do ponto de vista (standpoi primeie cialmente inverteu o suposto postivistada ‘determina qual verdade deve prevalecer ao sugerir que mais precisa da“verdade” do que seus opressores porque sua visto nio iil pelas cortinas da ideologia do grupo dominante. Contudo, esta versio dai Ponto de vista basicamente duplica a crenga positvista em uma inca ite rerdadeira” da realidade e, assim como a ciéncia positivista, esta permesdapa série de problemas, O pds-modernismo, a terceira abordagem, tem sido ‘pensamento positivsta e uma consequéncia invitinldl ‘a existéncia de grupos omo a antitese do fejeigdo. A légica pés-moderna & reticente quanto ‘04 possibilidade de eles produzirem pensamento especilizado e quant fa considerar que 0 pensamento expressado poi correntes chegam mesmo 1 forjadas para repres: dos de grande poder,: f grupo que dirigem fem que tais proces: Rovem. Mulheres bran a grupos socia rear tais conexde: Além disso, nem! ue privilegiam ocu igbes sociais c aside Dois critérios politcc Em primeiro luge dade, ela &submet por membros qu B as quais se co interseccionais,« académica esta i vem sua localizagi sse, sextalidade mico que produza anidade academic: exual e portador: Em segundo | dibilidade que! uada edo quale: facadémicas qu ‘mais ampla rec difundidas. | muito de crens de cair em de eas da objetit 16 digno de crédito, n0 forjadas para representar ¢ proteger os interesses de homens brancos es académicas neutras Buudos de grande poder, nio sao necessariamente os proprios representantes grupo que dirigem as escolas, o governo, a midia e outras instituigoes, zmitica fundamental dé 1, ou mesmo as epistemologias que eles faisem que tais processos tém lu GHovem. Mulheres brancas, homens e mulheres negros e outras pessoas que prevalecer »conhecimento fencer a grupos sociais marginalizados pelo racismo podem ser recrutados Unidos fareforgartais conexdes entre relagdes de poder 0 que se considera ser a clagdes de lide, Além disso, nem todos os homens brancos aceitam ess: egitimam o conhecimenl ferque privilegiam o eurocentrismo. Alguns se revoltaram e subverteram ricas que elas promovetl ftigiessocais as ideias que elas propalam ss0s dominantes devalig sréseoutros especialistl zrtificacao, e tudo aquill Bb erdade, ela ésubmetida a apreciagio de um conjun Dois critérios politicos influenciam os processos de validagao do conhe fnto. Em primeiro lugar, uma vez que uma formulacao seja apresentada de especialistas, por membros que trazem consigo uma série de experiéncias se ritérios politicos e epistey (KUHN, 1962; MOURA esses de homens brane grupo. Embora tenhiail 1 das Bladas, as quais se configuram segundo a localizagio, no int es interseccionais, do grupo social a que pertencem. Nenhum aca: B ou académica esti isento de ideias baseadas em culturas especificas, Buco em sua localizacio no interior de opressdes intersectadas de raga, classe, sexualidade e nado. Nos Estados Unidos, isso significa que gmico que produza conhecimento normalmente precisara convencet nosociale politico oe scionadas para estabeiag™ Bontunidade académica controlada por uma elite branca, declaradamen. cmologias rivals. A prim cc verdades absolutas ex tmentos cientficos objet Bente. Em segundo lugar, cada comunidade de especialistas precisa sas cores Bedibitidade que Ihe ¢ conferida pelo grupo social mais ample no sxual e portadora de cidadania americana, de que sua afirmacao gnifica que Hisituada e do qual extrai seu conhecimento bisico. Isso brancos da de outros grupos. Além dl flades acedémicas que questionam crengas predominantes na cultura dense mais ampla receberdio menos crédito do que aquelas que apoiam So erp poe i ordogem: compos 108 Pe idohomens brancos de elite ou qualquer outro grupo inequivoca sménico domina os processos de validagdo do conhecimento, os iuito difundidas. Por exemplo, se as comunidades académicas se gm muito de crencas recorrentes sobre a feminilidade negra, elas srgue sua visto no é limi nud esta versio da to taem uma inice a Etios politicos mencionados anteriormet itivista, esté permenda pl Pal sordagem, tem sido prom 2onsequéncia inevitvel a existncia de grupos Fpsalment ldo, e que nio hum grupo em melhor posicio de interpreta Bedo que utr, De certa forma, o pos-modernismo representa oposto das ietificas da objetividade (COLLINS, 1998, p. 124-154 .e podem atuar no sentido mento especializado. Algt rento expressado por dif de suprimir o pensamento feminista negro. Uma ver. q\ dos Estados Unidos que molda os conhecimentos de nivel mais bisil comunidade de especialistas é amplamente permeada por nocoes dei rioridade das mulheres negras, novas proposicdes que paregam questi tais construtos fundamentais provavelmente sero vistas como enol (Kurt, 1962). No mais, o pensamento especializado que coloce emai nodes de inferioridade das mulheres negras dificilmente ter origi contextos académicos controlados por homens brancos, jé que tall questdes norteadoras quanto as respostas dadas a elas espelhariam sariamente, sua falta de familiaridade com a realidade das mulheres esmo aqueles que acham que estio familiarizados podem vir rep estereétipos. Acreditando que sio experts, muitos estudiosos defendany hesitar, imagens controladoras de mulheres negras, retratando-s ‘maes-pretas, matriarcas e hipersexuais, permitindo que tais noi senso comum permeiem seus escritos. [As experiéncias de académicas afro-americanas ilustram a mil ‘como os individuos que desejam rearticular o ponto de visa das mull negras por meio do pensamento feminista negro podem ser freadosp processos de validagio de conhecimento predominantes. Analfabeli ‘educacio de baixa qualidade e falta de acesso a posicdes administraivsl docéncia limitaram a progressio de mulheres negrasa postos acedémiat ‘maior influéncia (Zinw et al, 1986; Moses, 1989). As mulheres negras hi afirmam conhecimentos que contestam a produgio de homens brancos J No entanto, como 0 acesso a posigdes de autoridade foi negado a chs frequéncia recorrem a processos alternativos de validaao do conhecin onsequentemente, as disciplinas académicas usualmente tém ret conhecimentos. Soma-se a isso 0 fato de que as credenciais controladi homens brancos académicos sempre puderam ser negadas as mulher que utilizam padrées alternativos, sob o argumento de que os trabalhos nao constituem pesquisas legitimas. 1Nés, mulheres negras, que com credenciais académicas buscamostl cer a autoridade que nossos status nos conferem para propor novos ci cimentos sobre nés mesmas, deparamo-nos com presses para quel autoridade seja utilizada para ajudar a legitimar um sistema que desl e exclui a maioria das mulheres negras. Quando um grupo excluido-1 aso, mulheres afro-americanas — constata que o grupo que esti no pode saber, homens brancos de elite - reivindica que a Sociedade em geral lhe para que uma determinada afirmacao ~ que pode ser, por exempla il ou uma teoria - seja considerada verdadeira & relevante para as intl negras, Assim como os descendentes de Hemings eram constant desacreditados, muitas mulheres negras nao sio vistas como teste confidveis de suas proprias experiéncias. Nesse contexto, as mulheres académicas que escolhem acreditar em outras mulheres negras poll vistas como suspeitas. Os critérios de pertinéncia metodolégica associados ao positivisl tram os padrdes que as académicas negras, especialmente aquelas ques ciéncias sociais, io incitadas a satisfazer para legitimar o pensament ei negro. Ainda que eu descreva as epistemologias ocidentais ou euro como um conjunto tinico, essas categorias comp paradigmas distintos entre si. Adicionalmente, meu foco no posts significa que todos 0s seus componentes sejam inerentemente problemi mulheres negras, tampouco que abordagens nao positivsts si necessariamente melhores. Abordagens positivistas buscam criar descrigdes cientficas dared por meio de generalizacdes objetivas. Levando em consideracio ofatnd pesquisadores sao portadores dos mais diversos valores, experiéncas ‘gbes, elas advogam que a ciéncia genuina sé pode ser alcancada se toi caracteristicas humanas, exceto a racionalidade, forem eliminadas do posi de investigacao. Seguindo regras metodologicas estritas, os cientstas busi se distanciar dos valores, interesses particulares e emogdes geradas pei classe, sua raca, seu sexo ou por outra situagio especifica. Ao neutralizaai contexto, eles supostamente se tornam observadores externos e manipula da natureza (JaGoar, 1983; HARDING, 1986) Diversos requisitos exemplificam as abordagens metodolégicas pi vistas. Em primeiro lugar, os métodos de pesquisa normalmente requ uum distanciamento do pesquisador em relagio a seu “objeto” de estull definindo como um “sujeito” portador de subjetividade humana intgal objetificando 0 “objeto” de estudo (KELLER, 1985; ASANTE, 1987). Um seg do imperativo é a exclusdo das emogdes do processo de pesquise (JA 1983). Em terceiro lugar, considera-se que a ética ¢ 0s valores nio deve lugar no processo de pesquisa, seja enquanto motivagao para perseguirui investigagao cientifica, seja como parte do processo (RICHARD, 1980). i fim, 0 debate contraditério, tanto escrito quanto oral, torna-se o méal preferido para se chegar a verdade: 0s argumentos que conseguem resi jem uma rel f profission espaldar ex jponto de vi fia ilustram « Tendo em v até 1970, 0cc iiciaeaimp gia enquant« ates do conhe Porem@narrat jeomointui las precisara: {quails buscaras efletem 0 us0 ¢ i, combinado lidade se ap Qroutrolado, fengloba pad jpor mulheres hentada por un fevisbes de mt fconsolidaram a ho das muth Gio do trabalho: compartilhad ide vista das mul fas reivindicaci ilham tais ex) futheres negras ¢ Wagui de epister Essa epistemologia alternativa utiliza padrdes singulares que si ce sistentes com os critérios de mulheres negras em relagio aos fundamentosd conhecimento, bem como com seus critérios para determinar a adequiil etodolégica. Sem diividas, a epistemologia feminista negra tem sido des lorizada por processos dominantes de validacio do conhecimento e denoutl ser adotada por muitas mulheres afro-americanas, Mas, se essa epistemolagl existe, quais sio suas caracteristicas? E quais sio suas contribuigoes ral tenciais para o pensamento feminista negro? Experiéncia vivida como critério de significagao Carolyn Chase, uma mulher negra de 31 anos que moraem uma tral eempobrecida de sua cidade, recorda-se:"“Minha ta costumava dizer: Mali ‘eem, mas poucos aber”. Esse ditado retrata duas formas de conhecer~ oc cimento a sabedoria—eestérelacionado primeira dimensio da epistenolig feminista negra. Vivera vida enquanto mulher negra requersabedors, ave oconhecimento sobre as dintmicas das opress6es que se intersectam éestl para asobrevivencia das negras americanas. Ao avaliar 0 conhecimento, ssi americanas conferem grande credibilidade a essa sabedoria Alusdes a essas das formas de conhecer podem ser encontradas en mi festagdes de uma ampla gama de mulheres negras. Zilpha Elaw, uma preg religiosa de meados do século XIX, explica nos seguintes termos a tenacal do racismo: “O orgulho das pessoas de pele branca é uma ninharia de gral valor em muitas partes dos Estados Unidos. Aquelas pessoas sacrificam sl inteligencias em favor de seus preconceitos e dispdem mais de conhecinell do que de sabedoria” (ANDREWS, 1986, p. 85). Nancy White recorrea uma semelhante para descrever as diferencas que separam mulheres afro-ameriaai cde mulheres brancas: “No fim das contas, as mulheres brancas pensar ques livres. As mulheres negras sabemn que nao sio livres” (GwattNey, 1980, p. Geneva Smitherman, uma professora universitiria especializada em ligula americana, sugere: “Dentro de uma perspectiva negra, os documentos ei sao limitados em termos do que podem ensinar sobre a vida e sobreviviai no mundo, Os negros costumam ridicularizar 0s tolos educados'.. Eles po tero conhecimento dos livros, mas ndo tém a sagacidade da vida nem sibel ria” (SMITHERMAN, 1977, p. 76). Mabel Lincoln resume, de forma cloquettl distingdo entre conhecimento e sabedoria: “Para pessoas negras como cull tolo ~ aquelas pessoas, voc® sabe, que adoram ter surtos de raiva, para ql ilesprovido ¢ ia €essencic jente evor Nelson, por ela: “Noss: que todas « de assun idéncia mu jimportante: (Gwar) para des: conhecimen tiva utiliza padrées singular pessoas que sio capazes de atirar com uma espingarda reres negras em relacdo aosfil guém muito esquisito™ (GwaLrner, 1980, p. 68). seus critérios para determi fhegras precisam de sabedoria para lidar com os “tolos {stemologia feminista negra te jam com uma espingarda em uma barata”. Enquanto es de validagao do conhecimel jsubordinado, as mulheres negras nio podem se dar ao afro-americanas. Mas, se es Huma vez que a sua objetificagao como “outras” as nega a icas? E quais sio suas cont (pela pele branca, pela masculinidade e pela riqueza. minista negro? cimento e sabedoria, ¢ o uso da experiéncia como a Bara, é central para a sobrevivencia das mulheres negras, como critério d ignificag fessbesintersectadas, a distingio é essencial. O conheci Gesabedoria é adequado para quem detém o poder, mas a negra de 31 anos que moraem jalpara a sobrevivéncia do subordinado. scorda-se: “Minha ta costumata i dasafro-americanas, os individuos que passaram pelas ado retrata duas formas decor ionado a primeira dimensio dal ato mulher negra requer sabeda asdas opressdes que se inters rericanas. Ao avaliaro conhed lbilidade a essa sabedoria, ddeconhecer podem ser encont nulheres negras. Zilpha Elavil X,explica nos seguintes termog vas de pele branca é uma nina Jos Unidos. Aquelas pessoas $4 fis quais dizem ser especialistas sdo mais criveis e dignos eles que meramente leram ou refletiram sobre tais ex- BB aexperiéncia vivida enquanto critério de credibilidade & Bala por mulheres negras quando avaliam o conhecimento. Brexemplo, descreve a importancia que aexperiéncia pessoal @ discurso ¢ mais diretamente pessoal, eas pessoas negras As outras pessoas negras fhios importantes, sua experiéncia pessoal é considerada ito boa. Para nds, estatisticas distant fesquanto as experiéncias reais de uma pessoa em seu juizo 1m o direito & opinido pessoal. #¥, 1980, p. 7). Igualmente, Ruth Shays usa sua experién- sconceitos e dispéem mais de 68 wa ideia de que a educagio formal é 0 tinico caminho 1986, p.85). Nancy White recom encas que separam mulheres aff contas, as mulheres brancasp Eno: “Eu sou 0 tipo de pessoa que nfo estudou muito, mas Gpaitinham bom senso, Bem, eu acho que isso é tudo o que Bosso nao saber como usar trinta e quatro palavras em uma que nio sio livres” (GwaL TNE formulada com trés, mas isso nao significa que eu nao saiba ora universitaria especializadal raperspectiva negra, os documel podem ensinar sobre a vida € 80 Blot refere-se& noo de fool que, por sua vez, alude ao significado Bjo da cultura afro-americana, Segundo Morgan, um aspecto i Becillura éa apresentacio social do individuo, que é mensurada ‘sno tém a sagacidade da vidal fapacidade de se demonstrar capaz de ser cool (atualizado, capaz ‘dicularizar os tolos educadasy fabel Lincoln resume, de formal Beis, calmo, sagaz, 2o mesmo tempo desinteressado e no controle {ieoria: "Para pose a fl oanténimo de cool, utilizado como insulto para sinalizar a am pe a nclmento de um individuo & comunidade cultural. Para mais que adoram ter surtos de raivay EeMorgan (1999). (NT) do que estou falando... Sei do que estou falando porque estou fa seamorted mesma. Estou falando sobre o que vivi". (GwaLTwEy, 1980, p. 27, 33). Implicit autoavaliagao de Shays subjaz a critica ao tipo de conhecimento que oft a verdade, as “trinta e quatro palavras” que encobertam a verdade que ple mulheres te mulher cuje tantas, mas mile, a vida ser expressa em apenas trés. ee “Mesmo que saibam usar as epistemologias dominantes de forma magi Reectheres tral, muitas mulheres negras académicas mobilizam suas préprias experiencia mais Vividas eas experiéncias de outras afro-americanas para selecionar temas investigagao e metodologias. Elsa Barkley Brown (1986), por exemplo, usa coal Embora Jordan subtitulo de seu ensaio sobre a histéria das mulheres negeas a frase "Com ela se esforca pai minha mae me ensinou a ser uma historiadora apesar de meu treinamea Algumas acadé 'sio mais incl ner (19. académico”. Igualmente, Joyce Jefende que sua experi mulher negra que cresceu no Sul dos Estados Unidos a conferiu habilidads nna elaboracii especiais para conduzir seu estudo sobre mulheres negras. desenvolvime: a como critério de significagao, combinada com o empre five — foram c Acexperi de imagens priticas como veiculos simbélicos, é um principio epistemoligin ensas a emprega fundamental dos sistemas de pensamento afro-americano (MrrcHett; Lew Beimediatas 1986). “Olhem para o meu bra¢o", proclamou Sojourner Truth, “Eu are, plat ip em vista estoquei alimentos em celeiros, e nenhum homem teria sido melhor do qa SMeornpreend eu! E eu nao sou uma mulher?” (LoeweNsERG; Bost, 1976, p. 235). Recome Siaipartilhan do a exemplos de sua propria vida para simbolizar novos significados, Tu Biplexplicar es desconstruiu nogdes prevalentes sobre o que é ser mulher, Histérias, narra Fes si0 soci principios da Biblia sio selecionados por sua aplicabilidade as experiencia Birento é ma vividas de afro-americanos e transformados em representacées simbdlicas deus Bibetratos (Cc icas sio escolhidas pela sabedora Scie socialize rico conjunto de experiéncias. As fabulas bibl que expressam acerca da vida cotidiana, o que faz com que sua interpretagionia Bieenny et al demande verificagSeshist6ricas de cunho cientifico. O método narrativorequt {que uma histbria seja contada, e nao dissecada sistematicamente; confisvel a aque tem de mais fundamental, e nao “admirada enquanto cigncia” (Mircutte Bi entre essas, LewTER, 1986, p.8) ra maternidad ensaio de June Jordan sobre o suicidio de sua mie ilustra os mil a plos niveis de significado que podem surgir quando a experiéncia vividel BS para a inc alcada a um critério de significado. Jordan descreve sua mie, uma mullet BE eo rihecime que literalmente morreu tentando ficar de pé, € 05 efeitos que a mort dé Mitidaces supe teve em seus trabalhos: ato (e nao por: vel Asvidas das mu Penso que tudo isso tem a ver com mulheres e trabalho. C tem aver comigo enquanto mulher e minha vida profissional. Nios Bee fatores: a sea morte de minha mae foi algo extraordinario. Talvez a maioria das mulheres tenha que lidar com herancas semelhantes, o egado de uma jue estou falando de mim 41980, p-27,33).1mplicita 1 que ofusea imlhercuja morte nio se pode exatamente stuar porque ela morrea conhecimet tantas, mas tantas vezes, ¢ porque mesmo antes de ela se tornar suia srtam a verdade que pode i mie, a vida dela jé havia sido roubada... Cheguei tarde demais para auxiliar minha mae a c erguer. Alids, minha eterna gratidio a todas as mulheres que me ajudaram a continuar viva, estou trabalhando para nunca mais chegar tarde (JonDan, 1985, p. 26). nites de forma magis= cas {suas proprias experi® «spara selecionar temas de 136), por exemplo, ogra a frase “COMO einament0) erigncia de uusacoma) Embora Jordan tenha conhecimento sobre o ato concreto da morte de sua eo fla se esforca para adquirir sabedoria acerca do significado dessa morte. pesar de meu tr de que sta eXP idos a conferiu habilidades AAlgumas académicas feministas afirmam que as mulheres, enquanto Upo, sio mais inclinadas do que os homens a acionar suas experiéncias fdas na elaboracao de conhecimentos, Por exemplo, em um estudo so- 6 desenvolvimento cognitivo de mulheres, 135 delas - um niimero esnegras. combinada com 0 emprego) am principio epistemol6gico yrcHeLts LEWTERS pessivo — foram consideradas “conhecedoras conectadas”, revelando-se sas a empregar o tipo de conhecimento que emerge de observagbes, Gprias e imediatas (BELEN et al., 1986). Tais mulheres consideravam tendo em vista que o conhecimento deriva da experiéncia, a melhor ricano (Mi : tamer Truth, “Eu arei, planta em teria sido melhor do que 501%, 1976, p.235)- Recortets rar novos significados, Truth her. Historias, narrativ ia de compreender as ideias de outra pessoa seria desenvolvendo em- ecompartilhando as experiéncias que a levaram a formar tais ideias. fando explicar esses padrdes, algumas tedricas feministas sugerem que fnulheres sio socializadas em nexos relacionais complexos, nos quais 0 Bportamento & mais influenciado por regras contextuais do que por prin Bsabstratos (CHODOROW, 1978; GILLIGAN, 1982). Acredita-se que esse smulh aplicabilidade 8s experiénel presentagdessimbelicas deum ssio escolhidas pela sabe fess0 de socializacao estimule formas particulares de saber (HARTSOCK, com que sua interpretagso ma Be:Betenxy ct al, 1986). As tebricas sugerem que as mulheres si0 mais jco, O método narrativo requ fnadas a experimentar duas formas de saber: uma localizada no corpo sistematicamente; confiavel ‘ocupa, ¢ outra que vai além dele. As mulheres fazem a a” (MrtcHt enquanto ciéncia gio entre essas duas formas de saber por meio de miltiplas maneiras de era maternidade, e utilizam suas experiéncias vividas cotidianamente ‘lustra os mill lvaliar formulacdes mais abstratas (Sair#, 1987). Tais formas de saber | ua mae, uma mull Bspaco para a inclusio de aspectos subjetivos entre quem conhece e seu. fo de conhecimento, situam os saberes nas préprias mulheres (endo loridades superiores) ¢ sio experimentadas diretamente no mundo ito (e nao por meio de abstragbes). Asvidas das mulheres afro-americanas io estruturadas pela convergéncia descreve 8 4, €0s efeitos que a morted mulheres ¢ trabalho. Certaim {minha vida profissional. Na esos fatores a organizacio da comunidade negra, que reflete principios 11 dle sistemas de crengas influenciados por referéncias africanas; as tradigbes de lido para essa dime ativismo materno, que estimulam uma leitura politizada da maternidade dis heres brancas tamt ontrem o mesmo r. mulheres negras;e um sistema social de classes, que relega as mulheres negrsi uia social. Amanda King, familias de classe tras instituig6es soc pres similares. Dan stituigdes da socieds heres negras. C eres afro-americe eScomo uma forma rtunidades para fa posigdo de trabalhadoras que ocupam a base dahierarg uuma jovem me afro-americana cujasexperiéncias ilutram essas convergénci descreve a maneira como ela usa a experiéncia vivida para avaliar construas abstratos ¢ observa como a mediagio entre essas duas formas pode ser dif 3s lideres do ROC [um sindicato] também perderam seus empregos, ‘mas parecia que eles jéestavam acostumadosa serem demitidos.. ris ras e protestar era como se fosse algo que perdurava toda a vida part cles. Eles eram ~ como é mesmo que se diz? ~ intelectuais.. Existem essas pessoas que vio para a universidade e que sio aquelas de quem se Gue outras pessoas. espera que fagam discursos, as que devem liderar, sabe, comesar uma pequena revolucio; e existem as pessoas pequenas.. que vio paras Es do: fibricas todos os dias,e que so as pessoas que devem lutar, Eu tena uma crianga e pensei que nao tenho tempo para andar com ess FO dilogo impli ? : es & : : feito eo objeto. E un 6% afirma bell hoc formas de cont 1 burguesia, 0s ricos e os pobres e tudo mais, mas eu estou ocupada ‘com minha sobrevivéncia ea da minha crianga (BYERLY, 1986, p. 1%) Na formulagio de King, ideais abstratos de solidariedade de classe f Mividuos, «elas sio r as concretas como mae e as conexbes qe firos membros de un ram mediados por suas expe a maternidade envolve. gnta 0 uso do dislog Nas comunidades tradicionais afro-americanas, as mulheres negras as separacdes, sio encontram respaldo institucional consideravel para valorizar a experiénca thecimento (BrLEN vvivida. A centralidade das mulheres negras em familias, igrejas € outras org Tal erenga ni nizagdes comunitérias as permite compartilhar com irmas mais jovens, menos equagdo metodologi cexperientes, seus conhecimentos concretos sobre o que é ser uma mulher net amente subordina ‘que se define por si propria. “A sororidade nao é nova para as mulheres negrasy mesmas sociedac diz Bonnie Thornton Dill. Contudo, “|. embora as mulheres negras tenhan srmonia. “E precis, cultivado e encorajado a sororidade, nés nunca a usamos para moldar nosss gmessa de tornar-se identidades politicas” (Dit, 1983, p. 134). Embora nao tenha sido expres foca Molefi Asante ‘em termos politicos, essa relagdo de sororidade entre mulheres negras pode spoderadas prima ser vista como modelo de diversos tipos de relagdes que as afro-americanss *[.) buscam o tip: estabelecem entre si (GILKES, 1985; GIDDINGS, 1988) monia” (p. 185). O Dado que as igrejas negras e as familias frequentemente sao institu Fimitem que isso oce ges encabecadas pelas mulheres ¢ influenciadas por referéncias africanas Oso do disloge as afro-americanas tradicionalmente encontraram um suporte institucional tara afro-american ldo para essa dimensio da epistemologia feminista negra. Embora as Ibulheres brancas também valorizem a experiéncia vivida, é improvavel que JEcontrem o mesmo respaldo junto as familias brancas ~ particularmente safticanas; as tradigoes de tizada da maternidade das. relega as mulheres negras rquia social. Amanda King, iss familias de classe média, nas quais a privacidade é tao valorizada ~ e biiras instituicdes sociais controladas por pessoas brancas que promovem, astram essas convergéncias, lores similares. Da mesma forma, embora os homens negros integrem as ituigbes da sociedade civil negra, eles nao formam parte da sororidade demulheres negras, Considerando as relagdes que estabelecem entre si as mulheres afro-americanas podem ter maior facilidade de conhecer as cone- ida para avaliar construtos tas formas pode ser dificil nn perderam seus empregos, Josa serem demitidos... ras » perdurava toda a vida para liz? ~ intelectuais... Existem ‘que sio aquelas de quem se iliderar, sabe, comerar uma pequenas... que vao para as \s que devem lutar. Eu tenho) mpo para andar com essa . sobre: {es como uma forma primaria de conhecer, simplesmente porque tem mais Io e tém que se basear nelas mais frequentemente Mportunidades para fa: foque outras pessoas, 0 uso do didlogo para avaliar o conhecimento *O didlogo implica uma conversa entre dois sujeitos, nao o discurso do s coisas que elas fala mais, mas eu estou ocupada ianga (BYERLY, 1986, p. 198). ito eo objeto. £ um discurso humanizante, que desafia e resiste a domi io’, afirma bell hooks (1989, p. 131). Para as mulheres negras, raramente Bias formas de conhecer sto constituidas sem a participagao de outros fviduos, e elas sio normalmente desenvolvidas por meio do dislogo com tos membros de uma comunidade, Um pressuposto primario que funda: 1 uso do didlogo na avaliagdo do conhecimento é que as conexdes, ¢ solidariedade de classe f= omo mie € as conexdes que Das separacdes, sio um componente essencial de processo de validacao do icanas, as mulheres negras vara valorizar a experiéncia lias, igrejas e outras orga 1m irmas mais jovens, menos inhecimento (BELENKY et al, 1986, p. 18) Tal crenca nas conexdes e no uso do diélogo enquanto um critério de Biuasio metodol6gica tem origens africanas. Ainda que as mulheres sejam famente subordinadas aos homens nas sociedades tradicionais africanas, imesmas sociedades cultivam visdes de mundo holisticas, que buscam onia. “E preciso compreender que tornar-se humano, concretizar a messa de tornar-se humano, é a tinica tarefa relevante de uma pessoa”, fea Molefi Asante (1987, p. 185). As pessoas se tornam mais humanas »que ser uma mulher negt vwapparaas mulheres negra as mulheres negras ten ‘usamos para moldar noss ora nao tenha sido express entre mulheres negras pod jes que as afro-americal 988). equentemente sdo institt as por referéncias african fnpoderadas primariamente no contexto comunitario, e apenas quando J buscam o tipo de conexdes, interagdes e encontros que conduzem & Fania” (p. 185). O poder da palavra, em geral,e 0 didlogo, em particular, mitem que isso ocorra, (Ous0 do dislogo tem raizes nas tradigdes orais herdadas da Africaena am um suporte institucion afro-americana, e nao deve ser confundido com o debate adversarial (StpRAN, 1971; SMITHERMAN, 19 7; KocuMan, 1981), Ruth Shays descrevea importiincia do didlogo no processo de validacao do conhecimento empregado *Eu estava... int fafro-americanas Mequem ouve” () fom que escriton s Jones argum: lia, da comus com as narrat mo relacdes co: Telagdes signifi familia ea com lice Walker 20 |: do uso do di Mules and M. tia e dos con! lise, recorrend ido. Usando u Por afro-americanos escravizados: Eles descobriam que algo era mentira, ainda que levasse um ano...0s antepassados encontravam a verdade porque eles ouviam e faziam a essoas contarem as historias muitas vezes. Na maioria das vezes,¢ Possivel identificar uma mentira... Aquelas pessoas circulavam em ‘muitos lugares e sabiam a verdade sobre muitos confltos. Elas acre i ditavam que um mentiroso deveria sofrer a dor de suas mentiras clas tinham muitas formas de submeter os mentirosos ao julgamento (Gwatrxex, 1980, p. 32). fala © uso generalizado do discurso em formato de respostas ente afro-americanos ilustra a importincia atribuida ao didlogo. Composto de interagdes verbais e ndo verbais entre quem fala e quen nas quas todas as afirmagées de quem fala sio marcadas por expresses ou respostes de quem ouve, esse modo de discurso permeia a cultura afro-american © pré-requisito fundamental dessa rede interativa é a participagao ativa de todos os individuos (SmiTHERMAN, 1977, Quando Cujo gra 108). Todas as pessoas do grupo devem participar para que as ideias sejam testadas e avaliadas. A recusaem que sao t survey po Participar, especialmente quando se discorda profundamente do que foi, esquecen nos guet« para ouvi € vista como uma forma de trapaga (KocHMAN, 1981, p. 28) A andlise de June Jordan sobre o inglés afro-americano enfatizaosig nificado dessa dimensao de uma epistemologia alternativa: de parais: Nossa linguagem é um sistema construido por pessoas que constant mente tém que insstir no fato de que existimos... Nossa linguagem pate tend a obscurecer ou apagar o fato do ser humano que est aqui e agora A centralidac lizagoes comu @Poio para o uso negra. Contu IF conhecim« Sa0 mais usuais« , 108). Todas as pessoas do grupo testadas e avaliadas. A recusa em da profundamente do que foi dito, ax, 1981, p. 28). sles afro-americano enfatiza 0 sigs uu, Usando um processo similar, Walker testa as formulacdes de Hurston: Quando li Mules and Men, fiquei maravilhada. Era o livro perfeito! Cujo grau de perfeicao eu testei imediatamente junto a meus parentes, {que sio tipicos negros americanos ¢ se adequam bem a toda forma de survey politico, cultural eecondmico. Pessoas normais do Sul, que estio esquecendo rapidamente sua heranca cultural sulista nos subirbios e nos guetos de Boston ¢ Nova York, eles se reuniram para ler o livro, ‘para ouvir a minha leitura, para ouvir uns aos outros, ¢ uma espécie slogia alternativa: de paraiso foi restabelecida (WALKER, 1977, p. xi) snstruido por pessoas que constante= ue existimos... Nossa linguagem parte abstragio, ou qualquer coisa que tenda ser humano que estd aqui e agora —a Jo ou ouvindo. Consequentement possivel no inglés afro-americano, POE alésnegro esté sendo eliminado”. Voot as brancas estio eliminando o ingle da vida governa todo o inglés negro sacio viva e ativa de pelo menos dois ouvinte (JORDAN, 1985, p. 129). ‘Acentralidade das mulheres negras nas familias, igrejas ¢ em outras Ihizagbes comunitirias proporciona as afro-americanas um grauelevado pio para o uso do dislogo como uma dimensao da epistemologia femi- hnegra. Contudo, quando as afro-americanas utilizam 0 didlogo para fro conhecimento, pode ser que estejam recorrendo a formas de saber sG0 mais usuais entre as mulheres. Estudiosas feministas argumentam que ise mulheres sio socializados para almejar tipos diferentes de autono- 6s primeiros baseados na separacao, as segundas na conectividade -, ssa variacio nos tipos de autonomia corresponde as formas distintas Jquchomens e mulheres compreendem ideias e experiéncias (CHODOROW, Keer, 1985; Beuenxy ef al, 1986). Por exemplo, em contraste com icamas relagdes e as conexdes PIO} foras visuais que os cientistas€ os fildsofos geralmente usam (como questionada sobre 0s motivos que e se dedica, Gayl Jones respondeti fro conhecimento a iluminagao, o conhecer ao ver e a verdade & luz), as mulheres tendem a basear suas premissas epistemolégicas em metéfors que aludem a encontrar a propria voz, falar'e ouvir (BELENKY ef al, 1986) a prop A ética do cuidado “Todos os pregadores brancos costumavam falar da boca pra fora sem dit nada, mas Jesus disse aos escravos que falassem com o coraglo” (Wensen, 17k p. 127). Essas palavras de um ex-escravo sugerem que as ideias ndo podem st dlivorciadas dos individuos que as criam eas compartilham. A temitica defi como coragao tangencia aética do cuidado, outra dimensio de uma aterat epistemolégica usada pelas afro-americanas. Assim como 0 ex-escravo wot sabedoria de seu coragao para rejeitar os pregadores que falavam “da boca fora sem dizer nada’, aética do cuidado sugere que a expressividade pessoa «emogées e a empatia sio centrais no processo de validagio do conhecimna Oprimeiro dos trés componentes inter-relacionados da ética do cuidal € a énfase na singularidade individual. Ancorado na tradigéo do humanismy africano, cada individuo é visto como uma expressio tinica de um espn comum, poder ou energia inerente a toda vida.* Quando Alice Walker afin que “nunca duvidou de sua capacidade de discernimento porque sua nit sempre acreditou nele”, ela mobiliza a nocio de singularidade individual at sua mae Ihe ensinou (WASHINGTON, 1984, p. 145). O polirritmo da mist afro-americana, no qual uma batida nao domina as demais, assemelha tema da expressio individual, ao fazer artesanal das colchas de retalhos pig mulheres negras. As mulheres negras artesis costuram cores e padres mara tes lado a lado, tomando as diferencas individuais nao como algo deprecing ‘mas como algo que enriquece a colcha como um todo (BROWN, 1988). A te na singularidade individual ¢ ilustrada pelo valor atribuido & expressive Em sua discussio sobre o Cosmos Sagrado da Africa Ocidental, Mechal Sobel ose {que “nyam”, uma palavra da qual derivam inimeras outras em diversos idiamusd Arica Ocidental, faz referéncia a um espitito, poder ou forma de vida, Emboraesse conceito seja muito difundido no humanism africnoad Adefinigao & bastante gelatinosa. Sobel (1928, p. 28) nota que “todas as andlises individ dos virios Cosmos Sagrados dos africanos ocidentais reconheceram a realidad da forga, mas nenhuma delas conseguiu traduair adequadamente esse conceit em tena ocidentais", Para uma discussio mais abrangente sobre espiritualidade afc ver Richards (1990) e Paris (1995). Muitos tedlogos afro-americanos, speciale ‘mulheres, guiam seu trabalho por essas nogbes de espiritualidade derivadas dead africanas, Para trabalhos sobre tradigBes do mulherismo (womanist tration Grant (1988) e Sanders (1995) [pelas comunidad Mircwet; ewer: essa énfase na sin ea gente se esfo into de rebanho. ssA0” (Gwar Um segundo comp ho didlogo. As ¢ do proprio argu ‘objetivos de seu sejam absolutar imentos e com 0 de respeito, Para 1 ide que emogées ¢ | Ahistoria de expres. jedia esse binarisr literpretacao de “s A emogio de sua pr lamentos no Sul de iklin (1967) por “re fetceiro componen dade de empatia. 1 a Seu entrevistador minha vida sio ta He Voce se sensibiliza MD) Se nao acreditas negras trabalham iea do cuidado, Por e negra escravizada, De Anne Williams, di fonagens. Depois de v Branco, Dessa fica ac tipo de rapinagem Rio sabia que os hon laquela forma, tomand WNS, 1986, p. 220). Cor Mu: “Era como se tivés: stemoligicas em metafor i (BELENKY et al., 1986). falar da boca pra fora sem di 10coragao” (WEBBER, 1978 queas ideias nao podem 3eaexpresividade pessoal, ‘validagao do conhecimento, acionados da ética do cuidado na tradiggo do humani pressio nica de um espirite i Quando Alice Walker afirma. cernimento porque sua ii singularidade individual qt 143). O polirritmo da music 1a as demais, assemelha-se, das colchas de retalhos pele guram corese padres marca indo como algo depreciativo }itodo (Brown, 1989). A crengs Hor atrbuido & expressivid acidental, Mechal Sobel obs fas outras em diversos idiomas dj der ou energia intrinsecos a to {ndido no humanismo africano, ‘taque"todas as analises individu sisreconheceram a realidade d dadamente esseconceito em term te sobre espiritualidade africans 'safro-americanos, especialmente pirtualidade derivadas de tradig6 serismo (womanist traditions), ppelas comunidades afro-americanas (SmITHERMAN, 1977; KocHMAN, MircHe11; LewreR, 1986), Johnetta Ray, residente em um bairro pobre, essa énfase na singularidade individual derivada de tradigbes africanas: da que a gente se esforce, acho que as pessoas negras nunca desenvolverio into de rebanho, Somos profundos individualistas, apaixonados pela 04s sejam absolutamente neurdticase totalmente fora de sintonia com Sentimentos e com os sentimentos de outras pessoas, ¢, mesmo assim, de respeito. Para mim, isso € distorcido... Estou tentando mudar a O de que emocdes ¢ intelecto sdo faculdades distintas” (Tare, 1983, 6). A historia de expressividade pessoal na tradicio das mulheres negras do emedia esse binarismo que separa a emogo do intelecto. Por exemplo, ua interpretacio de “Strange Fruit”, a letra da canio de Billie Holiday set emosio de sua performance eapresenta uma cortante critica social hhamentos no Sul dos Estados Unidos. Sem a emogio, o grito de Are- anklin (1967) por “respeito” seria virtualmente desprovido de sentido. O terceiro componente da ética do cuidado envolve o desenvolvimento dade de empatia, Harriet Jones, uma mulher negra de 16 anos, ex- para seu entrevistador por que ela decidiu se abrir para ele: “Algumas gS minha vida sdo tao dificeis de aguentar, e eu me sinto melhor por teque vocé se sensibiliza com elas e as mudaria se pudesse” (GWALTNEY, Pp. I). Se nio acreditasse em sua empati, seria dificil para ela falar. As foras negras trabalham bastante a expansio da empatia como parte de ia ica do cuidado. Por exemplo, o respeito reciproco e crescente entre a er negra escravizada, Dessa, ea mulher branca, Rufel, nolivro Dessa Rose, ley Anne Williams, decorre da capacidade reciproca de compreensio Personagens. Depois de ver Rufel utar para se defender do ataque de um mem branco, Dessa fica acordada pensando: “A mulher branca foi sujita mesmo tipo de rapinagem que eu; esse foi o pensamento que me tirou 0 io, Eu ndo sabia que os homens brancos eram capazes de usar uma mulher Bea daquela forma, tomando-a forga, da mesma forma que fazem conosco” HILLIANSs, 1986, p. 220). Como resultado da recém-surgida empatia, Dessa statu: “Era como se tivéssemos um segredo entre nés” (p. 220). Estes componentes da ética do cuidado ~ 0 valor da expressividade indi- fom raizes no pa: vidual, o lugar das emogGes e a capacidade de empatia - emergem em combina- expressividade ea 66es variadasna sociedade civil negra. Um dos melhores exemplos da natureza tradigao cultural, interativa da importincia do dilogo e da ética do cuidado para a anilise do ue 05 confrontan conhecimento é 0 uso do modo discursivo de fala ¢ resposta em muitas igrejas, ‘de masculinidades negras. Durante as missas, tanto o ministro quanto a congregacio usam o ritmo (Hocu, 1979), Port das vozes e a inflexao vocal para comunicarsignificados. O som do que ¢ dito eutros grupos, m earner eaten tee ae eee ne stra a identidade raci forma, um didlogo entre razao e emocio. Como resultado, é quase impossive ustentam a ética ¢ distinguir o significado estritamente lingu{stico-cognitivo abstrato do signif cado sociocultural psicoemotivo (SMITHERMAN, 1977, p. 135, 137). Conquanto A ‘ideia apresentada pela pessoa que esté falando deva ter validade (ou seja estar alinhada ao corpus de conhecimento geral compartilhado pela congregacio Uma ética de negra), 0 grupo também examina a forma com que as afirmagies sio feitas aminista negra, Na A Enfase na expressividade e nas emogdes das comunidades afro: meio do didlogo americanas guarda marcante semelhanga com as perspectivas feministas sobre fagao com as prp a importancia da personalidade no conhecimento conectado. Belenky et al que afirmam, A (1986) constata que duas orientagdes contrastantes caracterizam o conheci- SAnogiO de queas ‘mento: uma de separagao, baseada em procedimentos impessoais que visa levante. “Ah, asaby estabelecer a verdade, e outra de conexio, na quala verdade emerge do cuida jortao quao bran do, Embora essas formas de conhecer nao sejam especificas dos géneros, um um opressor, un ntimero desproporcional de mulheres langa mao do conhecimento conectado. IW, definigdes abst ‘Conhecedores isolados tentam desatrelar a personalidade dos individuos de Petpetradores e suas ideias, uma vez que acreditam que a personalidade introduziria viesese 18 individuos ten geraria distorgdes. Em contraste, conhecedores conectados vem a person assumam a respons lidade como uma vantagem para o desenvolvimento de ideias individuais, ¢ Aapreciagio di acreditam que a personalidade de cada um dos membros do grupo enriquecea izida simultaneame compreensio do todo, O significado da singularidade individual, da expressi ividuo. Seguindo vidade pessoal e da empatia nas comunidades afro-americanas, portanto, tém inante de que ex: similaridades com a importancia atribuida por algumas andlises feministas extrapola os limit “voz interna” das mulheres (BELENKY et al., 1986). Visdes expressas e ‘A convergéncia de principios inspirados em tradigdes africanase fem: clais que sio, ne nlstas quanto A ética do culdado parece ser particularmente acentuada. Ag Aretha realmente mulheres brancas tém acesso a experiéncias femininas que fomentam a emogio ela 86 diz isso da | ‘ea expressividade, mas poucas instituigdes sociais brancas norte-americanas, temologia feminis ‘com excegao da familia, validam essa maneira de saber. Em contraste, as mu: itados por sua sir Iheres negras hé muito contam com o apoio das igrejas negras, uma instituigio #0 do que aquele det da expressividade indi- - emergem em combina: esexemplos da natureza tidado para a andlise do sposta em muitas igrejas ongregacio usamo ritmo dos. O som do que € dito aaconformando, de certa Itado, € quase impossivel ritivo abstrato do signifi p.135, 137). Conquanto tervalidade (ou seja, estar ilhado pela congregagao safirmagoes sio feitas. das comunidades afro- spectivas feministas sobre conectado. Belenky etal. caracterizam 0 conheci- tos impessoais que visam verdade emerge do cuida- pecificas dos géneros, um. conhecimento conectado. alidade dos individuos de dade introduziria vieses € nectados vem a persona to de ideias individuais, e sbros do grupo enriquecea deindividual, da expressi- americanas, portanto, tém gumas andlises feministas 5). tradigoes africanas e femi- cularmente acentuada, As tas que fomentam a emogio brancas norte-americanas, saber. Em contraste, as mu: jas negras, uma instituigdo ‘com raizes no passado africano e em uma filosofia que aceita e incentiva a expressividade e a ética do cuidado, Os homens negros compartilham dessa {radicdo cultural. Mas, ao mesmo tempo, eles lidam com as contradigdes {ue os confrontam na redefinigéo da masculinidade negra frente as nodes demasculinidades abstratas, desprovidas de emogdes, que Ihes sio impostas (Hocus, 1979). Portanto, adiferenca entre mulheres negras dos Estados Unidos outros grupos, mesmo aqueles proximos a elas, estd menos estruturada em. sua identidade racial e de género do que no acesso a instituigdes sociais que sustentam a ética do cuidado em suas vidas. A ética da responsabilidade pessoal ‘Uma ética da responsabilidade também caracteriza a epistemologia Feminista negra. Nao somente os individuos devem produzir o conhecimento pormeio do didlogo e recorrera um estilo de apresentagdo que demonstre uma Tigagio com as préprias ideias, mas também se espera que se responsabilizem pelo que afirmam. A descrigao da escravidio elaborada por Zilpha Elaw reflete fe5sa nogio de que as ideias tem autoria e que aidentidade do autor é um fator felevante. “Ah, as abominagdes da escravidao!... Cada caso de escravidio, nfo Jmporta o quao brando tenha sido o fardo e qudo atenuadas as atrocidades, in- ica um opressor, um oprimido e uma opressio” (ANDREWS, 1986.98) Para has, definicdes abstratas da escravidao enredam-se as identidades pessoais dos perpetradores e das vitimas. Os afro-americanos consideram essencial ueosindividuos tenham opinides bem-definidas sobre questdes importantes {assumam a responsabilidade por defender sua validade (KocuMAN, 1981), ‘A apreciagao de um construto apresentado como conhecimento é con: Guzida simultaneamente a uma avaliacdo dos valores, da ética edo cariter do Individuo. Seguindo essa légica, muitos afro-americanos rejeitam a crenga dominante de que examinar 0 ponto de vista pessoal de um individuo €algo {que extrapola os limites da discussio, Pelo contriio, considera-se que todas As visdes expressas e as acées realizadas derivam de um conjunto de ideias Essenciais que sio, necessariamente, pessoais (KOCHMAN, 1981, p. 23). “Seré {que Aretha realmente acredita que as mulheres negras devam ser respeitadas tu ela s6 diz isso da boca para fora?” é um questionamento vilido para a eqistemologia feminista negra. O conhecimento apresentado por individuos Tespeitados por sua sintonia moral eética com suas préprias ideias ter mais eso do que aquele defendido por figuras menos respeitadas. 159 Um exemplo extraido de uma aula de graduagao, na qual todas as estu iss do conhecin antes eram mulheres negras, ilustra a singularidade dessa etapa do processo de validagao do conhecimento, Durante uma discussio em sala de aula, pedi ro-americanas, pass 4s estudantes que examinassem a andlise de um conhecido académico negro BP eiro-america sobre ofeminismo negro. Em ver de remover oacadémico de seu contexto para scam promovero pen verifcara racionalidade de sua tese, minhas alunas pediram informagées sobre istemoldgicos conti a biografia do autor. Els se interessaram particularmente por detalhes de sua samento feministar Vida, como sua relago com mulheres negras, seu estado civil e sua posisio em smuuns que, nas palav termos de classe social. Solicitando dados sobre dimensbes de sua vida pessoal undo onde quanto ma que comumente sio excluidas nas abordagens positivistas de validagio do conhe 1980, p. 7). Para ter crec cimento, elas mobilizaram a experiénciavivida como um critério de significagio. ggras devem defender Flas usaram essa informacio para avaliar se ele realmente se importava com sdestes, ter vivencia a tematicae se basearam nessa ética do cuidado para produzir conhecimento bordam e se disporem sobre seu trabalho, Além disso, se recusaram a avaliar a racionalidade de seus Historicamente,< escritos na auséncia de indicagées de sua credibilidade pessoal enquanto um fada, uma vez que o: ser humano ético, Tal debate s6 poderia ter lugar entre membros de um grupo totalmente controla rganizacionais especi rias autodefinicde: yra~ a experinciav tia da responsabilid imeiro plano. Quan conhecimento das n sminista negra, uma ri Tradicionalment olitico eram cantoras tia € oradoras. Blas s trabalho intelectua sgras comuns. As mu lerir ao feminismo n iainstream académico. tidianamente a maic io capazes de desafia istemologia feminist igo de Alice Wall consolidado enquanto comunidade e capaz de empregar uma epistemologia alternativa para apreciar a validade de construtos enquanto conhecimento. (0s cultos nas igrejas negras tradicionais também ilustram a natureza interativa das quatro dimensdes dessa epistemologia alternativa. O culto repre senta mais do que didlogos entre a légica usada para examinar textos biblicos C historias de um lado e a emogao inerente a0 uso da razao para tal finalidade de outro. Tais didlogos existem para proporcionar a anélise das experiéncias, vvividas na presenca de uma ética do cuidado, Nema emogao e tampoucoa ética sio subordinadas 8 razo, Na verdade, emogio, ética e razao sio usadas de fr ma interconectada, como componentes essenciais na busca do conhecimento. Nessa epistemologia alternativa, os valores so situados no centro do processo de validagao do conhecimento, de maneira que as investigagdes sempre apontam para um objetivo ético. No mais, quando essas quatro dimensbes sio politizadas ¢ atreladas a um projeto de justiga social, elas conformam um arcabougo que orienta o pensamento e a priticafeminista negra ‘As mulheres negras como agentes do conhecimento (Os movimentos sociais dos anos 1950, 1960e 1970 impulsionaram mu: dangas no clima intelectual e politico nos Estados Unidos. Em comparagio Para mim, Zo ‘mam umaespe com o passado, muitas mulheres negras estadunidenses tornaram-se agentes Fie cantoras ne 160 aduagdo, na qual todas as estu= ridade dessa etapa do processo discussio em sala de aula, pedi smico negro Iegitimas do conhecimento. Deixando de ser objetos passivos manipulados los processos dominantes de validaga0 do conhecimento, nés, mulheres o-americanas, passamos a reivindicar nossa propria voz. Asafro-americanas na academia e em outras posigées de autoridade que im promover o pensamento feminista negro agora deparam-se com padres stemolégicos conflitantes de trés grupos principais. Em primeiro lugar, 0 insamento ferninista negro deve ser validado pelas mulheres afro-americanas euestado civil e sua posigao em uns que, nas palavras de Hannah Nelson, tornaram-se mulheres “em um, ‘dimensoes de sua vida pessoal indo onde quanto mais si vocé for, mais louca fardo voce parecer” (GWALINEY, ‘stivistas de validagdo do conhe- 1380, p. 7). Para ter credibilidade frente a esse grupo, as intelectuais feministas hegras devem defender seus trabalhos, se responsabilizarem pelas consequeén. as destes ter vivenciado ou experienciado de alguma forma as temiticas que tbordam e se disporem a dialogar sobre seus achados com pessoas comuns. Historicamente, a vida das mulheres afro-americanas failitava essa em itada, uma vez que os processos de validacio do conhecimento parcialmente Oi totalmente controlados por mulheres negras tinham lugar em contextos Diganizacionais especificos. Quando as mulheres negras elaboravam suas, prias antodefinic mconbecido aca académico de seu contexto para nas pediram informagoes sobre cularmente por detalhes de sua omo um critério de significagao. Je realmente se importava com Jo para produzir conhecimento javaliar a racionalidade de seus: Iibilidade pessoal enquanto um’ Jprentre membros de um grupo: le empregar uma epistemologia {tos enquanto conhecimento. is também ilustram a natureza s, estas quatro dimens6es da epistemologia feminista ~ a experiéncia vivida como critério de significagao, 0 uso do didlogo, titica da responsabilidade pessoal ea ética do cuidado ~ eram colocadas em meiro plano. Quando os temas principais e os recursos interpretativos b conhecimento das mulheres negras eram informados pela epistemologia minista negra, uma rica tradigdo do pensamento feminista negro florescia, Tradicionalmente, as mulheres engajadas nesse projeto intelectual e lico eram cantoras de blues, poetas, autobidgeafas, contadoras de his- Bria e oradoras, Elas se tornaram intelectuais feministas negras tanto por @ trabalho intelectual quanto pela validacao que recebiam de mulheres ras comuns. As mulheres negras da academia, a seu turno, nao podiam frir ao feminismo negro sem que fossem seriamente penalizadas pelo logia alternativa. © culto repre {a para examinar textos biblicos uso da razio para tal inalidade jonar a anilise das experiéncias Jem aemogioe tampouco atica ds ética e razao sio usadas de fore ciais na busca do conhecimento, )situados no centro do processo as investigacées sempre apontam ‘quatro dimensdes sao politizadas {conformam um arcabougo que gra fnstream académico. Em ambientes racialmente segregados, que excluem fidianamente a maioria das afro-americanas, apenas algumas poucas fo capazes de desafiar as normas dominantes e aderir explicitamente & temologia feminista negra. Zora Neale Hurston foi uma delas. Veja a tes do conhecimento rigio de Alice Walker sobre Hurston: 1960¢ 1970 impulsionaram mis Para mim, Zora Neale Hurston, Billie Holiday e Bessie Smith for ‘mam uma espécie de profanissima trindade. Zora pertence a tradigao stados Unidos. Em comparagi dunidenses tornaram-se agentes de cantoras negras, ¢ ndo aos literatos... Assim como Billie e Bessie, 161 cla seguiu seu proprio caminho, acreditou em seus préprios deuses, perseguiu seus proprios sonhos e Se recusou a se separar das pessoas “comuns” (WALKER, 1977, p. xvii-xvil). Zora Neale Hurston foi uma exceco para sua época, ja que, antes dos anos 1950, poucas mulheres negras cursavam ensino superior, e a maioria do das que o logravam, aderiam aos processos dominantes de validac: conhecimento. ‘A comunidade de académicas negras constitui um segundo grupo cujos padres epistemolégicos devem ser observados. A medida que o grupo de académicas negras cresce, essa coletividade heterogénea compartilha de uma posigdo social semelhante no ambito do ensino superior, e, ao mesimo tempo, encontra novos desafios na construsao de grupos de solidariedade académicas afro-americanas atribuem graus varia através das diferenca dos de importancia & promogo do feminismo negro na academia. Todavia, apesar dessa nova diversidade emergente, que se consolida com o aumento de afro-americanas no ensino superior, o escopo do feminismo negro académico expandiu-se. Historicamente, as afro-americanas trouxeram sensibilidades adquiridas via epistemologia feminista negra para seus trabalhos. Mas a conquista da legitimidade com frequéncia teve como prego a rejeigao dessa epistemologia. O simples fato de estudar a vida das mulheres negras colocou muitas carreiras em risco, Mais recentemente, um ntimero crescente de aca démicas afro-americanas optou por estudar experiéncias de mulheres negras, cempregando elementos da epistemologia feminista negra em seu trabalho. Por cexemplo, o estudo de Valerie Lee (1996) sobre parteiras afro-americanas no Sul apresenta uma fusio inovadora entre ficgo de mulheres negras, método etnogratfico e narrativa pessoal, com bons resultados, Um terceiro grupo refere-se ao estrato dominante que ainda con trola escolas, programas de pés-graduagio, processos de titulag de publicagao e outros mecanismos de legitimagdo do saber. Académicas afro-americanas que almejam promover o pensamento feminista negro nor- malmente precisam empregar epistemologias eurocéi tricas para persuadit esse grupo. As dificuldades que tais mulheres negras enfrentam referem-se menos em demonstrar que poderiam ser especialistas em epistemologies masculinas brancas do que em resistir 4 natureza hegeménica desses pa drdes de pensamento de modo que possa ver atribuir valor e utilizar formas, alternativas de conhecimento feminista negro. Para as mulheres negras que sio agentes do conhecimento no interior da academia, a marginalidade je acompanha + strag3o quant fre o contexto. das instituice comportame IPO, 0 peso des ssaberes acumu interesses 20 con do grupo domins Imas o fazem de r “4 sua localizagio ‘gue tais mulheres do conhecimente algum ponto voc oct 0 é, inevitav Hansberry (1969, Damesmaf algumas questoes, Comunidades inte Tolégicas semelt enfrentados por ac elaboraro pensan ao lidar com miilt gortesponde aos.cr aceitavel, pode nic © exemplo do ing entre diferentes er Nio sey abstraga para it ditério f Em vez ideiasco negro (Jt Apesar de a vocabulirio, as ide em seus proprios deuses, 1a se separar das pessoas época, ja que, antes dos no superior, € a maioria nantes de validagao do itui um segundo grupo ss, Amedida que 0 grupo srogénea compartilha de ro superior, e, ao mesmo grupos de solidariedade nasatribuem graus varia- ro na academia. Todavia, asolida com 0 aumento de ainismo negro académico trouxeram sensibilidades ra seus trabalhos. Mas a mo prego a rejeicdo dessa mulheres negras colocou nnimero crescente de aca sncias de mulheres negras, negraem seu trabalho. Por teiras afro-americanas no mulheres negeas, método los, yminante que ainda con: essos de titulagao, canals gio do saber. Académicas aento feminista negro nor rocéntricas para persuadir gras enfrentam referem-se ialistas em epistemologias za hegemonica desses pa- buirvalore utilizar formas ara as mulheres negras que cademia, a marginalidade que acompanha seu status de outsider within pode ser tanto uma fonte de frustracio quanto de criatividade. Na tentativa de minimizar as diferengas ‘entre 0 contexto cultural das comunidades afro-americanas eas expectat was das instituig6es sociais hegeménicas, algumas mulheres dicotomizam seu comportamento e se tornam duas pessoas distintas. Com o passar do Hempo, o peso dessa atuacio pode ser enorme. Outras, por sua vez, rejeitam gssaberes acumulados pelas mulheres negras e operam contra seus proprios Interesses ao contribuir para a manutencéo do pensamento especializado Ho grupo dominante. Outras, ainda, conseguem habitar os dois contextos, Inas o fazem de maneira critica, usando as perspectivas adquiridas gragas igsua localizacao enquanto outsider within como insumos ¢ ideias. Ainda ue tais mulheres possam fazer contribuigdes substanciais enquanto agentes Mo conhecimento, frequentemente o custo para a vida pessoal é alto. “Em algum ponto vocé percebe que as coisas que te tornam excepcional, sé que Moet o é, inevitavelmente sio as que te tornam solitiria’, observa Lorraine Hansberry (1969, p. 148) Da mesma forma que o transito entre familias brancas e negras colocava algumas questdes para as trabalhadoras domésticas negras,acirculagdo entre somunidades interpretativas diferentes e rivais impoe preocupacd Inoldgicas semelhantes para as pensadoras feministas negras. Os dilemas Infrentados por académicas negras, particularmente por aquelas engajadas em thaboraro pensamento ferinista negro, ilustram as dficuldades que surgem Aolidar com miiltiplas comunidades interpretativas. Um conhecimento que s episte- sresponde aos critrios de adequacao de um grupo eé portanto, considerado Aetivel, pode ndo ser aceito nos mesmos termos por outro grupo, Utiizando fxemplo do inglés negro, June Jordan ilustra as dificuldades de transitar re diferentes epistemologias: Nao se pode “traduzit” formulacoes do inglés padrio que denotam abstragio ou que nao incluem coisas ou pessoas evidentemente ativas para o inglés negro, Isso deformaria alinguagem em um uso contra- ditdrio frente aos principios orientadores da comunidade de usuarios. Em ver disso, é necessirio converter as frases do inglés padrio em ideias compativeis com a centralidade das pessoas assumida pelo inglés negro (JORDAN, 1985, p. 130) Apesar de ambas as visdes de mundo compartilharem um mesmo buldrio, as ideias em si desafiam uma traducio direta. Uma ver queas académicas negras tenham aceitado o fato de que, para St irncricana certas dimensées do ponto de vista delas a tentativa de tradugao de verdades como uma pers} validadas pela epistemologia feminista negra para outras abordagens pode orio as ser infértil, outras opgbes emergem. Em vez de tentar descobrir verdades ae universais que possam ser traduzidas de uma epistemologia para outta (a0 Sites ponto de ‘menos & primeira vista), as intelectuais negras podem vir a constatar que Bee peritncias 0s esforgos para rearticular um ponto de vista de mulheres negras sio es ida cotidian: pecialmente frutiferos. A rearticulagio de um ponto de vista das mulheres de caracteristica negras redesenha particularidades e revela uma dimensio mais universal da Betericanas: vida cotidiana delas. “Dato todos os meus trabalhos", conta Nikki Giovanni, tificam como sen ‘outros escritos sio reflexos de um considervel com ). Lorraine Hansberry “femininas”, Ess; “porque eu acho que poesia ou quaisqu ‘momento. O universal deriva do particular” (1988, p expressa uma nogdo similar: “Acredito que uma das ideias mais s6lidas na intersectadas po escrita dramética € que, para criar o universal, vocé precisa prestar muita Beilaridades na: atengao no especifico. A universalidade, acredito eu, emerge da identidade Emo mulheres ne verdadeira do que existe” (1969, p. 128) padroes diferente agendas semelhan No caminho da verdade Boro we diz: a@relevancia dap: A existéncia do pensamento feminista negro sugere outro caminho de enriquecer nos paraas verdades universais que poderiam acompanhar a “identidade verda conbecimento qu: deira do que existe”, Em Black Feminist Thought: knowledge, consciousness re sa and the politics of empowerment, coloco a subjetividade das mulheres ne as implicagdes epi gras no centro da anélise e examino a interdependéncia do conhi mento tal visio pode nos cotidiano e tacito compartilhado por mulheres afro-americanas enquanto Brown, “todas as } ‘grupo, o conhecimento especializado produzido por intelectuais negras ¢ Validé-la e julgé-la as condigées sociais que moldam os dois tipos de pensamentos. Essa abor Btparacdes ¢ se: dagem me permite descrever a tensio criativa que conecta a influéncia das Propria” (1989, p.9 condigées sociais sobre o ponto de vista das mulheres negras e a maneira pessoa para situa: como 0 poder das ideias propiciou a muitas delas os meios para alterar eapropriadamente essas mesmas condigdes sociais, Eu abordo o pensamento feminista negro eee, como situado em um contexto de dominagio, e nio como um sistema de negras.e sua epster ideias divorciado da realidade politica e econémica. No mais, eu apresento es outras coletivi © pensamento feminista negro como conhecimento subordinado por meio tuma localizagio si do qual as afro-americanas ha muito Iutam para encontrar lugares alter miiltiplas epistem nativos ¢ epistemologias que possam validar suas proprias autodefinicdes. forma, coloca-se e Em resumo, examinei o ponto de vista situado e subordinado das mulheres que as mulheres ne sélidas na prestar muita dda identidade outro caminho lentidade verda- consciousness {das mulheres ne ido conhecimento icanas enquanto Inegras e a maneira Imeios para alterar hito feminista negro fbmo um sistema de mais, eu apresento bordinado por meio ntrar lugares alter- vrias autodefinigdes. linado das mulheres Iairo-americanas para buscar compreender 0 pensamento feminista negro eomo uma perspectiva parcial sobre a dominacao. Como as mulheres negras tgm acesso a experiéncias que acumulam o Ser negra e ser mulher, uma epistemologia alternativa utilizada para rearti lar o ponto de vista delas deve refletir a convergéncia desses dois conjuntos de experiéncias. Raca e género podem até ser analiticamente distintos, mas ta vida cotidiana das mulheres negras eles operam conjuntamente. A busca de caracteristicas distintivas de uma epistemologia utilizada por mulheres Afro-americanas revela que algumas ideias que 0s académicos africanistas iden fificam como sendo tipicamente “negras” com frequéncia guardam semelhanga onsiderivel com ideias que as académicas feministas afirmam ser tipicamente femininas’. Essa semelhanca sugere que os contornos atuais das opressdes {ntersectadas podem variar drasticamente e, ainda assim, gerar algumas regularidades nas epistemologias utilizadas por grupos subordinados. Assim como mulheres negras estadunidenses e mulheres africanas depararam-se com pudrdes diferentes de opress6es intersectadas e, no entanto, estabeleceram agendas semelhantes para seus feminismos, um processo similar pode estar em eurso no que diz tespeito as epistemologias dos grupos oprimidos. Portanto, arelevancia da epistemologia feminista negra pode residir em sua capacidade de enriquecer nossa compreensio de como os grupos subordinados criam o conhecimento que fomenta tanto seu empoderamento quanto a justiga social. Essa visio do feminismo negro permite as mulheres negras explorarem 45 implicagdes epistemolégicas da politica transversal. Em iltima instancia, fal visio pode nos conduzir a um ponto em que, como afirma Elsa Barkley Brown, “todas as pessoas possam aprender a se situar em outra experiéncia, valida ejulgi-la segundo seus préprios critérios, sem que sejam necessérias comparacoes e sem a necessidade de adotar aquela abordagem como a sua propria” (1989, p. 922). Na ogica dessa politica, ‘nao é necessério deslocar uma pessoa para situar outra, 6 € necessério que 0 centro seja deslocado constante eapropriadamente” (p. 922) Em vez de enfatizar as diferengas entre o ponto de vista das mulheres negras sua epistemologia em relacio as mulheres brancas, os homens negros es outras coletividades, as experiéncias das mulheres negras servem como ‘uma localizacio social a partir da qual se pode examinar a conexao entre iiltiplas epistemologias. Ao encarar a epistemologia feminista negra dessa forma, coloca-se em xeque anilises aditivas da opressio que reivindicam ‘que as mulheres negras tem, nesse sentido, uma visio mais apurada do que outros grupos. Tais abordagens sugerem que a opressio pode ser quantificade e comparada, e que a adico de camadas de opressio produz um ponto de vista aprimorado (SPeLMAN, 1988). Uma das implicagbes dos usos da teria dos pontos de vista & que, quanto mais subordinado for um grupo, mals pura a visio disponivel para ele. Isso ¢ esultante das origens das abordagens do ponto de vista na teoria social do marxismo, que refletem o pensamento bindrio de suas raizes ocidentais. Ironicamente, ao quantificar ¢ ranquear a opressio humana, os teéricos do ponto de vista acionam critrios de adequagio metodoldgica que se assemelham aos do positivismo, Embora seja tentador afirmar que as mulheres negras sio mais oprimidas do que todo mundo e que portanto estio em melhor posigio para compreender mecanismos, process efeitos da opressio, nao é esse 0 caso. Sustentamos, outrossim, que aquelas ideias confirmadas como verdade ras porafto-americanas,afro-americanosésbicas latinas asitico-americanis, porto-riquenhos e outros grupos com seus pontos de vista distintos ~ coms utilizagdo por cada grupo de abordagens epistemol6gicas constituidoras de seus posicionamentos singulares - tornam as verdades mais “objtivas”, Cai grupo fala a partir de seu proprio ponto de vista e compartilha seu proprio. conhecimento parcial ¢ situado, Porém, como cada grupo reconhece a par ialidade de sua verdade, o conhecimento é inacabado, Cada grupo torns-s. capaz de considerar 0s pontos de vista de outros grupos sem renunciar sin gularidade de seu proprio ponto de vista ou suprimir as perspectivas parci de outros grupos. “O que é sempre necessirio para uma apreciagao da artee da vida", argumenta Alice Walker, “é uma perspectiva ampla, que permit onde antes nao havia nada, o estabelecimento de conexdes, ou ao menos & busca das mesmas. Esta perspectiva ampla consiste também no esforgo de abranger num tinico olhar a variedade do mundo, a unificagio de um tema a partir de uma imensa diversidade” (WaLxeR, 1983, p.5). A parcialidade,e nao a universalidade, é a condigao necessiria para ser ouvido; 0s individuos «grupos que promovem conhecimentos sem reconhecer suas posig0es si considerados menos dignos de confianga do que aqueles que o fazem. Conhecimentos alternativos, por si s6, raramente colocam em xeque conhecimentos convencionais. Eles sio geralmente ignorados, desacreditados cou simplesmente absorvidos e marginalizados frente aos paradigmas existentes (Os questionamentos que as epistemologias alternativas impdem ao processo fundamental utilizado pelos detentores do poder de legitimar o conhecime e, assim, justficar seu direito de dominar, tm impactos muito mais relevant Se a epistemologi todos 0s conhecir locaclos sob susp Inhecimentos legiti 3S construtos que demas alternativa ‘das mulheres negr je € normalment 986. (manuscrito) OWN, Elka Bar Conceptualizin 14,n.4,p.92 ISSEL, Letcy M. inster Press, 1985 HODOROW, N: fornia Press, 19 SOLLINS, Patricia finneapolis: Unive HLL, Bonnie Thor sthood. Feminist INKLIN, Areth tecordiing Corp, I io pode ser quantificada io produz um ponto de agdes dos usos da teoria do for um grupo, mais origens das abordagens refletem o pensamento ywantificar e ranquear a mm critérios de adequagio o, Embora seja tentador a que todo mundo que, mecanismos, processos firmadas como verdadei- ‘as, asiitico-americanas, evista distintos - coma sgicas constituidoras de ss mais “objetivas”. Cada compartilha seu proprio ‘grupo reconhece a par- do. Cada grupo torna-se os sem renunciar & sin- as perspectivas parciais ima apreciagao da artee iva ampla, que permita, onexdes, ou ao menos a também no esforgo de \unificagdo de um tema 3,p.5).A parcialidade, € er ouvido: 0s individuos thecer suas posigdes s40 acles que o fazem. rente colocam em xeque snorados, desacreditados (0 paradigmas existentes, vvas impdem ao proceso egitimar o conhecimento ‘0s muito mais relevantes, Se a epistemologia utilizada para validar o conhecimento é questionada, todos os conhecimentos anteriores validados pelo modelo dominante sto ‘olocados sob suspeita. As epistemologias alternativas desafiam todos os co ‘hecimentos legitimados e introduzem questionamentos acerca da validade os construtos que foram considerados verdades quando confrontados com formas alternativas de validagio da verdade. A existéncia do ponto de vista das mulheres negras que utilizam a epistemologia feminista negra desafia 0 {ue € normalmente tomado como verdade e, a0 mesmo tempo, questiona 0 processo através do qual tal verdade é produzida. Referéncias ANDREWS, William L. Sisters ofthe Spirit: Thee B Whe Nineteenth Century. Bloomington: Indiana University Press, 1986 ASANTE, Molefi Kete. The Afocent Pres, 1987, BELENKY, Mary Fiel 1986. BERGER, Peter Ls LUCKMANN, Thomas... The Social Construction of Reality NewYork: Doubleday, 1966. BROWN, Elsa Barkley. Hearing Our Me 1986, (manuscrito) BROWN, Elsa Barkley. African-American Women’s Quilting: A Framework fox Conceptualizing and Teaching Affican-American Women’s History 14,0. 4, p.921-929, 1989. BYERLY, Victoria. Hard Times Coton Mills Girls, Whaca: Cornell University Pres, 1986, CANNON, Katie G.The Emergence of a Black Feminist Consciousness. In BRUSSEL, Lecey M. (Ed.). 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