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II]. RELIGIAO E CONHECIMENTO 14. SOCIOLOGIA DA RELIGIAO E TEORIA DO CONHECIMENTO * jalmente conhecida, de um joso que ele é 0 mais ‘observar, quando preenche as duas seguint um historiador. Mas nossa tarefa nao se coloca outros problemas "Trad. por Laura Natal Rodrigues. fo mesmo sentido, demos dessas sociedsdes que clas so primitives, ¢ chama- alés, quando se tem 0 culdado de deter- ela nfo tem inconvenientes. 148 par isto é, para RRL) ‘Mas essa proposicéo nio deixa de levantar vivas dera-se estranho que, para chegar a conhect preciso que se comece por volar atrés © 5% historia, Essa maneira de proceder parece baixas, sem rebaixar as primeiras a0 nivel das segundas. Admitir que 105 cultos grosseiros das tribos australianas possam nos ajudar a compre- ender 0 cristianismo, por exemplo, nao € supor que es assente nos mesmos erros? Eis como a importancia tedrica que se tem ies primitivas péde passar por um indice de re ‘que, prejulgando os resultados de uma pes- quisa, viciou-os por antecipagio. Nao vamos pesquisar aqui se se encontram realmente estudiosos que tenham merecido esse reparo © que tenham feito da historia e da etnogratia religiosas um instrumento de guerra contra a religiio. Em todo ¢: com efeito, um postulado essencial da Sociologia que uma ins humana no poderia se assentar sobre 0 erro ¢ a mentira: sem 0 que ela nd teria podido durar. Se ni Quando pois abordamos 0 estudo das religides primitivas € com a seguranga de que elas se referem a0 real € que o exprimem; veremos retomado sem cessar no curso das andlises ¢ discussées tamos é precisamente 0 haverem-no desconhecido, Sem diivida, quando se considera apenas a expresso das formulas, essas crencas e préticas as parecem por vezes desconcertantes & pode-se ser tentado a Jas a uma profunda aberracdo. Mas sob o simbolo & preciso deiras razdes nao deixam de existir; € uma tarefa da ciéncia descobri-las 149 Nao existem pois, no fundo, religides que sejam falsas. Todas so erdadeiras & sua maneira: todas respondem, ainda que de diferentes rodos, a determinadas condiges da existéncia humana. Nao é impos- fvel, sem diivida, dispé-las numa ordem hierérquica. Umas podem ser hamadas superiores a outras, no sentido de que desencadeiem fungies nentais mais elevadas, mais ricas de idéias € de sentimentos, que incor- vorem mais conceitos, menos sensagdes ¢ imagens, e que a sistematizagio ‘eja mais sdbia, Mas, por mais reais que sejam essa maior complexi- lade e essa idealizagéo mais elevada, nfo bastam para colocar as rel correspondentes em tipos separados. Todas séo igualmente reli somo todos 0s seres vivos so igualmente vivos, des srotoplasma até © homem. Se pois nos rao € com a intenglio de depreciar a rel rorque essas religides no sio menos respeitaveis que as outras. Elas ‘espondem as mesmas necessidades, desempenham o mesmo papel, de- jem pois servir muito bem para mani- sstudo? — £ unicamente por razdes de método. ‘Antes de tudo, 6 podemos chegar a compreender as re yando na his smente. A hi de anilise explicativa que parece _pos ‘nos permite decompor uma instituigfo nos seus elemer pois ela no-los mostra nascendo no tempo e uns apés outros. Por out lado, situando cada um deles no conjunto de circunstincias em que nasceram, ela nos proporciona 0 tinico meio que temos de determinar as causas que os tém suscitado. Todas as vezes portanto que se pretende ‘explicar uma coisa humana, considerada num determinado momento do tempo — quer se trate de uma crenca religiosa, de uma regra moral, ico, de uma técnica estética, de um regime procurar descobrir os caracteres pelos quais ela se de sua existéncia, para depois ver como se desen- volveu e se complicou, pouco a pouco, como veio a se tomar o que considerado. Ora, concebe-se sem dificuldade qual a mediante essa série de explicagdes progressivas, bem 150 } Certamente, no seria 0 caso de s uma nogao elaborada de ma- neira cartesiana, unicamente dade concreta, que apenas a observagio hist6riea ¢ etn lar-nos. Mas se essa concepgio cardial deve ser por procedi- mentos diferentes, ¢ certo que ela é chamada a ter, sobre toda a seqiiéncia de proposigées que a ciéncia estabelece, uma influéncia considerdvel. A evolugdo bioldgica foi concebida de modo totalmente diferente, a partir do momento em que se soube da existéncia dos seres monocelulares. Do mesmo modo, 0 detalhe dos fatos religiosos se explica diferentemente, conforme se coloque na sua origem evolutiva s, Se nao se limitam a uma tarefa de pura erudicfo, se desejam tentar compreender os a obrigados a escolher uma ou outra dessas necessariamente a seguinte forma: como 0 foram determinados a assumir, aqui ou al se enriquecer ou empobrecer desta ou daqu se pode evitar de tomar partido nesse problema © posto que a solucdo que se dé esté fadada a afetar 0 conjunto da ciéncia, convém abo: Al sides primitives tem, por si mesmo, um interesse im maior importincia. de frente; & isto que nos propomos fazer. mesmo fora dessas repercussdes indiretas, 0 estudo das reli- ato, que € da cular, ste € 0 prol ‘endo sem razdo; porque ele interessa a toda a humanidade. mente, 0 método que eles empregam de ordinrio para resol puramente dial q i ser abandonado, o problema permanece inalterado € 0 grande servico que a filosofia prestou foi o de impedir que viesse a ser prescrito pelo desprezo dos eruditos. Ora, ele pode ser retomado por outras vias. Visto que tod 151 lesmente das caracteristicas exteriores ¢ visiveis que apresentam yualmente ¢ que permitem dar, desde 0 inicio da pesquisa, uma defi provis6ria; a descoberta desses sinais aparentes € relativamente porque a observagio que exige ndo ultrapassa a superficie das coisas, Mas essas semethancas exteriores supéem outras mais profundas. Na base de todos os sistemas de crengas e de todos os cultos deve hhaver, necessariamente, um certo miimero de representagdes fundamen- tais ¢ de atitudes rituais que, apesar da diversidade de formas de que lumas € outras possam se revestir, tém sempre a mesma significagio objetiva e preenchem sempre as mesmas fungdes. Esses sdo os elemen- {os permanentes que constituem aquilo que hé de eterno e de humano na religido; eles so © contetido objetivo da idéia que se exprime quando ‘se fala da religido em geral. Como € possivel chegar a atingi-los? ‘Nilo é, por certo, observando as religides complexas que aparecem nna seqiiéncia da hist6ria, Cada uma delas é formada por uma tal varie- dade de clementos que é muito dificil distinguir 0 secundério do prin- ‘© essencial do acess6rio, Que se considerem religides como as 10, da India o1 populares esto af mis pensamento nem a crengas, tal como os ritos, se manifestam de maneira diferente. so os padres, Id os monges, por todo 0 lugar 0s leigos; existem os misticos, os racionalistas, os te6logos, os profetas etc. Nessas condig6es, 6 diffe perceber 0 que € comum a todos..Pode-se encontrar uma ma neira de estudar utilmente, através de um ou outro desses sistemas, jeular que se encontre ai especialmente desenvol- , como o secrificio ou o profetismo, a vida monéstica ou os mis- térios; mas como descobrir 0 fundo comum da vida religiosa sob a ‘vegetacdo luxuriante que 0 recobre? Como, sob as disputas das teolo- sias, as variages dos ritos, a multiplicidade dos agrupamentos, a diver- sidade dos individuos, reencontrar os estados fundamentais, caracterts- ticos da mentalidade religiosa em geral? re mas sociedades inferiores, des, a extensio mais a Completamente diferente € 0 4 menor desenvolvimento das indivi jo grupo, a homogeneidade das circuns reduzit a0 minimo as diferencas je maneira regular, uma uniformidade intelectual e moral de que en- contramos raros exemplos nas sociedades mais avangadas. Tudo € co- mum a todos. Os movimentos sio estereotipados; todas as pessoas executam © mesmo nas mesmas circunstincias e esse conformismo da conduta traduz 0 do pensamento. Todas as consciéncias acham-se en- tranhadas nas mesmas ondas, o tipo individual quase se confunde com © tipo geral. Ao mesmo tempo 2 ISTE ‘Nada 6 desgastado como esses mitos inico e mesmo tema que se repete sem fim, como esses ritos feitos de um pequeno mimero de gestos retomados a saciedade. A imaginagio popular ou sacerdotal ainda nfo tiveram tempo nem meios de refinar e de trans- formar a matéria-prima das idéias e das priti as; estas se mostram pois a nu ¢ se oferecem por si mesmas & observacio, que s6 las. O acessorio, 0 se- ainda esconder 0 também 0 essencial, qui porta conhecer antes de tudo, ituem pois casos privilegiados, por- 8 de fatos, as ages que reno- igdes humanas. Por exemplo, antes do meado convencido de que o pai era o elemento essencial da familia; néo se concebia mesmo que pudesse haver uma organizacdo familiar cujo poder paternal ndo fosse 0 ponto capital. A descoberta de Bachofen veio inverter essa velha concepcao. A\ recentemente, considerava-se evidente que as relagdes morai 153 fez crer, durante muito tempo, de tudo que é religioso. Ora, a religi nogio de deus era que estudamos mais adiante 6, joda idéia de divindade; as forgas a que se dirigem os rtos so af muito diferentes daquelas que ocupam 0 pri- meiro lugar nas religides modernas ¢, por conseguinte, elas nos ajudario certo, a0 contrério, que a etnografia tem muitas vezes deter- ‘minado, nos diferentes ramos da sociologia, as mais fecundas revolugbes. E pela mesma razio, aliés, que a descoberta dos seres monocelulares, de que falamos ha pouco, transformou a idéia que se fazia corrente- mente da vida. Como entre esses seres s, a vida se reduz a tragos essenciais, estes podem ser mais dificilmente desconhecidos. r le fi 65 wr as explicagdes. Porque os fatos so af mais simples, as relagies entre os fatos so também mais aparentes. As razGes_ pelas quais os homens explicam seus atos nfo foram ainda elaboradas © Jas so mais proximas, mais ligadas aos méveis compreender_ um 1 foi o ponto de partida. Ora, esse acontecimento é tanto mais facil de discernir, se se pode observar esse delirio num periodo mais préximo do seu ‘Ao contrério, quanto mais tempo se deixa para a doenga se dese ver, mais ela se esconde & observacio; & que, durante esse tempo, todos os tipos de interpretagées foram feitos, tendendo a repelir no incons- te 0 estado original ¢ substituf-lo por outros através dos quais é por vezes reencontrar 0 primeiro, Entre um delfrio sistematizado f¢ as impresses primeiras que Ihe dio nascenga, a distincia é freqiien- temente considerdvel. © mesmo se d4 com o pensamento religioso. Na superpuseram, 08 que, considerando 154 de percorrer. ficagdo desta sa pesquisa no interessa apenas & ciéncia das religides. Jado por onde ela ultrapassa o josas e, por ele, 0 estudo dos fend- 80s fornece um meio de renovar os problemas que, até 0 foram debatidos entre os filésofos. sa. Nio,que a teligiéo néo seja uma cosmologia, ao mesmo tempo no. Se a filosofia e as cigncias nas i0, por sua vez, comegou por ocupar ‘Mas 0 que tem sido menos observado tempo que os primeiros sistemas de caag }s homens nao Ihe devem apenas, por um: » Por uma parte notével,| ‘matéria de seus conhecimentos, mas também a forma pela qual esses mnhecimentos foram elaborados. Na raiz dos nossos julgamentos nnciais que dominam toda a vida intelectual; so aquelas que os , chamam de categorias do entendiment correspondem las sio como os marcos sélidos que encerram o - meno; exte nfo parece poder lierarse sem se desir: pot nie parece que possamos pensir nos ojetos que nlo stjam no tempo on bo espapo, gue no sejam entmerveis ele. As cular nogdes sae cons fngentes ¢ mei; concebemos que els possam fall © umn homeos a uma soiedae, a uma pcs; aus nos paecem quaseineparivls do fanconsmesto normal do epi Ele sfo como a osu ts éacia. Ors, quando se anlsam metodiamente ax cregun relist Primitives, eacontram-senaturalmente no seu caminho as pris don, luma constatagao que iremos fazer ‘numerosas vezes ao longo desta obra, 155 Esta observagdo tem jé um interesse em si; mais eis o que the dé sua verdadeira dimenséo. fo nasceram senio no seio de grupos reunidos que esto destinados a suscit mentais desses grupos. Ma clas devem partcipar da natureza Se os tone rege deve er, ls prpsaEBSISRBEM produios do pensamento cl tivo. Pelo menos — porque, no estado atual de nossos conhecimentos nessa matéria, deve-se precaver contra toda tese radical ¢ exclusiva imo supor que elas sio ricas de elementos socias. (...) ) © prinefpio da identidade domina hoje 0 pensamento 1as de representagdo que desemper onde ele é freqientemente js rudimentares até as mais Trata-se, sem des jeamente os atributos rios, que so ao mesmo ‘tempo uns e varios, materiais e espirituais, que podem se subdividir indefinidamente sem nada perder do que 0s constitui; trata-se, em mito- logia, do axioma de que a parte vale o todo. Essas variagdes pelas quais passou na historia a regra que parece governar a ldgica atual provam que, longe de ser inscrita para a etemidade na constituicéo ‘mental do homem, ela depende, pelo menos em parte, de fatores hist6- ricos ¢, portanto, sociais. Nao sabemos exatamente quais sejam; mas podemos presumir que eles existem. * ‘Uma vez admitida essa hipétese, 0 problema do conhecimento se coloca em termos novos. |Até o presente, apenas duas doutrinas podem ser encontrs xra uns, as categorias 86 podem ser derivadas da experiéncia: elas Ih (0 logicamente anteriores ¢ a condicionam. Elas sio representadas po! lum mesmo néimero de dados simples, irredutiveis, imanentes ao espirito Essa hipotese jé havia sido emitida pelos fundadores da Véikerpsychologie. Encontra-se notadamente indicada no curto artigo de WINDELRAND. “Die Erkennt- nisslehre unter dem vélkerpaychologischen Gesischtspunkte.” In: Zeitch. f. Vl. Kerpsychologie. p. 166 et segs. Cf. sobre 0 mesmo tema uma nota de Sremernat. Ibid. p.'178 et segs. a. porque se di elas sio a priori. Para outros, ao contrério, seriam construfdas, fe de pecas © pedagos, ¢ 0 individuo é que seria © operirio dessa cons- trugao. * (++) Eis af dois tipos de conhecimento que sio como que dois pélos contritios da inteligéncia. Nessas condigées, reduzir a razio a experiéncia é fazé-la esvanecer: porque é reduzir a universalidade ¢ a necessidade que a caracterizam a puras aparéncias, ilusBes que podem ser cSmodas do ponto de vista pritico, mas que ndo correspondem a nada nas coisas: consiste, por conseguinte, em recusar toda realidade objetiva & vida logica que as categorias tm por fungio regular e orga nizat. O empirismo cléssico conduz a0 irracionalismo; talvez mesmo seja por este altimo termo que conviria designé-lo. Os aprioristas, apesar do sentido ordinari tas, so mais respeitadores dos fatos. Porq) ente ligado a etique- eles ndo admitem como is de todo contetido 8 verbais, Eles Ihes deixam, a0 contréti especificas. Os eréem que o mundo tem um as mais alto grau. Mas, que a prépria experiéncia 6 & possivel em certas € talvez contornar 0 problema; mas nfo o resolve. Porque precisamente de saber por que a experiéncia nio basta, mas ‘“Mesmo na teoria de Spencer & com a experiéncia individual que so construidas Mas essa. consolidago ‘na sua composislo qualquer do individuo. Também ‘se nos impdem atualmente & josa, fortemente enraizada no organismo, mas sem fundamento na naturcza das coisas, rio The acrescenta elemento que nio 157 supée condigdes que Il {que essas condigdes .sejam realizadas, quando e como € conveniente. 1 esas questées imagina-se as vezes que existe ids do superior e perfeita de que ‘A razio smo essa imutabilidade poderia re- Tais so as duas concepgées que se defrontam hé séculos; e, se 0 que na verdade os argumentos trocados se equi- Se a razio nio passa de uma forma da experiéncia jo, reconhecendo-se-the os poderes que ela se atribui, mas sem admiti-lo, parece que ela 6 colo- cada fora da natureza e da ciéncia. Em presenga dessas objegSes opos- 0s, 08 Gnicos de que 0s te my construir a razio, so aqueles que a agdo nos nossos espftitos. Sio pois estados ramente pela natureza psiquica do individu. Ao c pensamos, as categorias so representagdes essencialmente traduzem antes de tudo estados da colet neira pela qual est ida e organizada, de sua morfol suas instituigdes etc. Existe toda a distanci d segundo do primeiro como nio ‘© complexo do simples. A sociedade ¢ uma rei ul préprios que nao sio encontrados, ou ndo séo sob a mesma forma encon- trados, no resto do universo. A$ representagdes que a exprimem t&m 158 pois um contetido inteiramente diferente das representagdes puramente individuais e pode-se ter certeza, por antecipagdo, que as primeiras acres- centam qualquer coisa as segundas. ate Sbeis noc pela qual de forram mas © outras lsvnss ¢ sve a ndo sei qual virtude miste- Tiosa, mas simplesmente ao fato de que, segundo uma férmula conhe- ida, o homem é duplo, Existem nete dois seres: @m/SERingividlal que e cujo campo de ago se encontra, por isso = i Ben gue representa em nés que a titulo de metéforas? Se elas sao feitas unicamente para exprimir coisas sociais, elas s6 seriam capazes, ao que parece, de se estender a0s outros reinos por convencio. Ass para pensar sobre 0 mundo fisico ou bioldgico, s6 poderiam ter o valor de simbolos i tteis do ponto de vista prético, talvez, mas sem relagio com a realidade. Retornariamos pois, por outra via, a0 nomi- nalismo € a0 empirismo. € esquecer que, se a sociedade é uma realidade especttica, nto tanto um império dentro do império; ela f sua manifestagdo mais elevada. O reino soci que 86 difere dos outros por sua maior complexi que a natureza, naquilo que ela tem de mais esser 159 mente diferente dela mesma, quer que seja. As relagies funda- mentais que existem entre as coisas — aquelas que as categorias tém justamente por fungi exprimir — nfo poderiam ser essencialmente diferentes conforme os reinos. Se, por motivos que vamos pesquisar, ‘se desprendem de uma maneira mais aparente do mundo social, spossfvel que elas néo se encontrem alhures, ainda que sob formas fas. A sociedade as torna mais manifestas, mas ela nfo is como as nogdes elaboradas sob 0 modelo das coisas opt sociais podem nos ajudar a pensar sobre as coisas de uma outra ma- neira, Pelo menos se essas nogées, quando sio assim desviadas de sua significagdo primeira, desempenham, num certo sentido, o papel de simbolos, so simbolos bem fundamentados. Se apenas por isso eles sto simbolos construidos, entra ai um artificio, que segue de perto a natu- reza € que se esforga por se aproximar dela cada vez mais.° No que diz respeito as idéias de tempo, de espaco, de género, de causa ¢ de personalidade, se sio construidas com element concluir qt corigem $0 esto na natureza das coisas. ‘A teoria do conhecimento assim renovada parece pois destinada a reunir as vantagens opostas das duas teorias rival inconvenientes. Conserva todos 0s princfpios essenciais d mas, a mesmo tempo, se inspira nesse esp qual 0 empirismo se esforca em satisfazer. Deixa & razio seu poder rio mui temente, uma coisa naturs ts representagdes que a exprimem nada exprimem da natureza. Mas a conclusfo 6 vale na medida em que este principio seja vilido também. dualidade da nossa vida intelectual, mas explica-o AS categorias deixam de ser consideradas fatos mantém no entanto a complexidade que : como aquelas com que se contentava 0 empirismo no poderiam ter validade. Elas aparecem entéo no mais como nodes muito simples, que 0 primeiro observador pode deduzir de suas im- presses pessoais © que a imaginagio popular teria desencontradamente complicado, mas, a0 contrério, como sébios instrumentos de pensa- mento, que os grupos humanos forjaram laboriosamente a0 séculos ¢ onde acumularam o ‘uma parte da histéria da humani dizer que, para se chegar a compreendé- igé-los, € preciso recor rer a outtos provedimentos que 0s usados até agora. Para saber de que so feitas essas concepgdes que néo elaboramos, seria si interrogéssemos nossa consciéncia; néo queremos dizer que € a histéria que se deve observar, 6 toda uma ci cigneia complexa, que s6 pode avancar gumas contribuigdes fragmentérias. to de nosso. estudo, apro pelo menos algumas igens, deviam entretanto todas as ocasides que se oferecam para lev dessas nogdes que, sendo religiosas por suas permanecer na base da mentalidade humana, 15, SISTEMA COSMOLOGICO DO TOTEMISMO * No trabalho a que jé fizemos alusio muitas vezes, mostramos quais esclarecimentos estes fatos trazem sobre a maneira pela qual se formou entre os homens a nogdo de género ou de classe. Com ificagdes sisteméticas so as primeiras que encon- ‘ora, acabamos de ver que elas se modelaram pela organizagio social ou, melhor dizendo, que elas tomaram como modelo 0s préprios elementos da sociedade. Foram as fratrias que serviram de géneros © os clis de espécies. E porque estavam agrupados que os homens puderam agrupar as coisas; isto porque, para classificar est ‘iltimas, limitaram-se a substitui-las por grupos formados por eles pr prios. E se estas diversas classes de coisas nao foram simple justapostas umas as outras, mas ordenadas segundo um plano & porque os grupos sociais com os quais elas se confundem mesmos solidérios e formam, pela sua unido, um todo organico, ‘A unidade destes primeiros sistemas logicos apenas reproduz a unidade da sociedade. Uma primeira oportunidade nos é assim oferecida para verificar a proposigéo que enunciamos no comego desta obra, € para nos garantir que as nog6es fundamentais do espirito, as categorias essen- ciais do pensamento, podem ser produto de fatores sociais. © que pre- cede demonstra, com efeito, que é 0 caso mesmo da nocio de categoria. Nao pretendemos todavia recusar A consciéncia individual, mesmo reduzida & tinica forga, o poder de perceber semelhancas entre as coisas particulares que ela representa para si. Esta claro, ao contrério, que as lassificacées, mesmo as mais primitivas ¢ as mais simples, j& supdem essa faculdade, Nao é 20 acaso que 05 australianos dispem as coisas ‘num mesmo cla ou em clis diferentes. Entre eles, como entre n6s, as * Reproduzido de Durxnens, E. “Le systtme cosmologique du totemisme et ta rrotion de genre.” In: Les formes élémentares de la vie religieuse. 5.4 ed. Patis, “Trad. por Laura Natal Rodrigues. PUF, 1968. Liv. 29, cap. 3.9, p. 205+

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