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reportagem

vamos
rir MAIS
Quanto menos vontade tiver de rir, mais deve fazê-lo.
se lhe faltarem motivos force uma gargalhada – o organismo
não distingue o riso natural do riso falso. e porque
um sorriso genuíno irradia luz, as fotografias desta
reportagem dispensam a cor.
Texto Teresa Violante
Fotos Filipe Pombo/AFFP
http://www.gingko.pt

E se de repente um desconhecido
lhe oferecer um sorriso enquanto Luís Segadães, presidente das 7 Maravilhas
está parado no trânsito? Retribua. Ele
pode estar a responder a um apelo Com ele não há desânimo
anunciado na rádio. Foi o que acon- Há palavras que não fazem parte do cardápio linguístico de Luís Segadães,
teceu no dia 4 de Fevereiro, quando Presidente das 7 Maravilhas, responsável por eventos como a eleição das 7
as principais estações portuguesas se Maravilhas Naturais de Portugal. Desânimo é uma delas. Segadães não padece desse
associaram em torno de um desafio: mal, e é tão optimista que nem tem o padrão do copo meio vazio, copo meio cheio.
colocar o país a sorrir. Às 8:00, às Para ele está sempre meio cheio.
9:00 e às 18:00 os ouvintes foram O sorriso é o seu cartão-de-visita. “Não faço um esforço nem há o objectivo de abrir
convidados a olhar para o lado e… portas, mas a verdade é que abre. Quando as pessoas irradiam ânimo funciona tudo
rir. O Dia do Sorriso recriou uma melhor. É contagiante”. E assim tem enveredado por projectos pioneiros e de grande
iniciativa brasileira que decorreu há dimensão, que revelam o lado sorridente, e tantas vezes esquecido, de Portugal. “As
uns meses na cidade de São Paulo. nossas iniciativas têm feito o país sorrir. Ao não dedicarmos a devida atenção a esses
Mentor de projectos
Objectivo? Estimular o riso e através patrimónios, acabamos por não tirar partido do efeito positivo que trazem”.
que fizeram o país
dele melhorar o ânimo de cada um Rodeado de pessoas bem-dispostas – “é impensável ter pessoas mal-humoradas
sorrir, como o concurso
de nós. E não é cliché: rir fomenta à minha volta” – trabalha com garra e um sorriso. E não alimenta lamúrias ou 7 Maravilhas Naturais,
o bem-estar físico e mental. “Esse conversas negativas. “Quando alguém diz que lhe aconteceu uma tragédia é quase Luís Segadães não
conhecimento não é novo, mas hoje inevitável que a outra pessoa diga ‘a mim também me aconteceu’. Isso é a última alimenta lamúrias:
é cientificamente comprovado”, coisa que faço! Então é tempo de contar algo positivo”. n se alguém conta uma
história negativa,
ele responde com
uma positiva

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afirma Helena Marujo, professora da Março de 2007. Anedotas, brinca-


Faculdade de Psicologia da Univer- deiras, visionamento de comédias e
sidade de Lisboa, uma das maiores leitura de livros humorísticos foram
especialistas portuguesas em psico- algumas das estratégias seguidas
logia positiva.
Quando rimos libertamos endorfinas as crianças
e serotonina, neurotransmissores que
funcionam como mensageiros do
riem entre 300
cérebro e fomentam o relaxamento, e 450 vezes por
melhoram o sono, reduzem o stresse
e a tensão. Rir tem ainda “valor
dia. um adulto
analgésico, diminuindo a dor física ri entre 15 e 30
e psíquica”, acrescenta a psicólo-
ga, co-autora com Catarina Rivero
do livro Positiva-mente. Em 2009 pelos enfermeiros para interagir com
Helena José, primeira doutorada os doentes.
em Enfermagem da Universidade Estudos concluíram ainda que um Riso catártico
de Lisboa, demonstrou na tese de minuto de riso equivale a 45 minutos “É quando alguém diz ‘não tenho
doutoramento que o humor é uma de relaxamento, e alguns budistas motivos para rir, a vida está difí-
estratégia essencial nos cuidados Zen referem que dez minutos de riso cil’ que mais precisa de fazê-lo”,
de enfermagem. E com benefícios matinal correspondem a seis ou oito sublinha Ana Banana, fundadora da
para os profissionais de saúde e para horas de meditação, diz a investiga- terapia do ioga do riso em Portugal.
os doentes, que assim reduzem os dora Helena Marujo. Além de que rir Até porque rir fomenta a criatividade.
níveis de ansiedade e angústia. O reforça o sistema imunitário, melhora “Quando rimos fazemos uma pausa
estudo envolveu 19 enfermeiros e o inter-relacionamento e estimula a e então pode vir uma ideia nova”,
77 utentes do serviço de cirurgia chamada ginástica respiratória. Só explica Ana Banana. E, quem sabe,
do Centro Hospitalar do Barlavento vantagens. Mas como rir em tempos a resolução para o problema que nos
Algarvio, entre Setembro de 2005 e de incerteza e crise? atormenta. “É urgente criar condi-
ções para rirmos e sorrirmos mais”,
defende Helena Marujo, aludindo ao
contexto de stresse em que vivemos,
Patrícia Bull, actriz e locutora assaltados pelos dramas veiculados
pela comunicação social.
De sorriso fácil O ioga do riso dá uma ajuda. As
A caminho do estúdio de fotografia para a sessão desta reportagem, Patrícia Bull parou aulas começam com exercícios de
para pedir indicações. E, claro, sorriu às pessoas com quem falou. “É-me fácil esboçar alongamentos e dança para des-
um sorriso no trato diário. Abordo as pessoas com um sorriso na cara e quase que contrair, seguindo-se actividades
espero que isso me seja retribuído. Quando não acontece penso: ‘Ai, que fui bruta a com o riso, como gargalhar ao som
falar…’”, conta. O que é impossível. Sorrir faz parte do ADN da actriz. Ela sorri para a das vogais ou rir imitando sons de
vida e espera que a vida lhe sorria de volta. “É fácil sorrir. Se calhar sou uma sortuda e animais. “Parece uma brincadeira,
as minhas dificuldades não foram assim tão traumatizantes”. uma teatralização, mas o contágio
Nos palcos e à frente das câmaras Patrícia não é um rosto de humor, mas é imediato”, assegura a terapeuta.
recentemente participou na tragicomédia Hamlet da Silva. “Surpreendi-me quando as Vistas de fora estas aulas podem
pessoas riam. Mas o humor negro também é algo que as pessoas captam facilmente, e fazer pouco sentido, mas são uma
riem à gargalhada. Riem, mas depois reflectem. É preciso sabermos rir dos problemas”, “lavagem emocional”, garante.
defende. Com os dias preenchidos entre a locução, o estudo e a representação, Patrícia Doutora-palhaça na Operação Nariz
A actriz Patrícia Bull Bull não perde o sorriso. Por si e por quem a rodeia. “Devemos um sorriso às pessoas. Vermelho, ONG que leva boa-dis-
irradia simpatia. O que se espera do outro? Que nos receba com generosidade”. n posição a crianças hospitalizadas,
Sorri com naturalidade
para os outros e espera
que lhe retribuam.
Generosidade com graça

fev / mar 11 gingko 16 fev / mar 11 gingko 17


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terapeuta familiar Catarina Rivero.


O actor Raul de Orofino fala mesmo
em humor de afectos. “O sarcasmo
afasta as pessoas, o humor aproxima.
É um caminho para o amor”, diz.
Para tal é preciso rir com o outro,
e não rir do outro. O convívio entre
pessoas bem-dispostas é mais fácil
quem ri de si Laços de humor e agradável, em trabalho ou em
próprio é mais “O organismo não distingue entre um
riso natural e um riso forçado, e os
lazer. “O riso aproxima as pessoas”,
conclui Catarina Rivero. Mais: é,
optimista em ganhos fisiológicos das gargalhadas simultaneamente, tranquilizador e
relação ao falsas são os mesmos que os das
naturais”, explica Helena Marujo.
transformador. Raul de Orofino foi o
primeiro actor a representar a bordo
futuro e mais “Assim, se precisar de relaxar e não de um avião, já lá vão mais de 30
benevolente tiver nada que o faça rir espontanea- anos. Então descobriu que “o humor
mente, ria de propósito, obrigue-se a mata o medo”. Quem tinha medo
fazê-lo”, aconselha. O importante é de voar encontrou nas suas piadas e
Ana Banana descobriu o ioga do rir. Mas não vale tudo, e os risos não encenação a tranquilidade necessá-
riso numa altura difícil da sua vida: são todos iguais. É preciso “distin- ria para viajar. Noutras circunstân-
tinha-lhe sido diagnosticada uma guir o sentido de humor positivo e cias “as pessoas transformam-se e
doença nas articulações que lhe construtivo do sentido de humor humanizam-se porque mostro que rir
limitava a mobilidade, e, além disso, destrutivo, que é o sarcasmo. Este é é um caminho para que aprendam a
atravessava um divórcio. Experimen- uma forma de agressão, de despre- ter mais auto-estima. E a partir daí
tou a terapia e ficou fã. Mas para zo”, aponta a psicóloga clínica e aprendam a respeitar as diferenças
continuá-la “precisava de pessoas
para rirem comigo, e comecei a
organizar grupos”. O sucesso foi ime- Mafalda Ribeiro, escritora
diato e surpreendente. “As pessoas
entravam em catarse de gargalhada. Cara séria? Nunca
Enquanto na acção do palhaço o Olhos verdes, pestanas longas, sorriso nos lábios. Assim é Mafalda Ribeiro. “Tenho
mais difícil é fazer as pessoas rir, no um sorriso por cima do queixo em vez de uma boca apenas”, descreve. E o sorriso,
ioga do riso é fazer com que parem”. ou a gargalhada sonora, é mesmo uma das características que mais sobressai quando
Os benefícios estão garantidos, se conhece esta jovem licenciada em comunicação social, técnica de comunicação
afiança. Ana curou-se do problema na Valorsul, que nasceu com osteogénese imperfeita. Esta doença genética dos ossos
nas articulações e até eliminou as impossibilitou que o seu corpo crescesse normalmente. A sua estatura é mínima e não
rugas do rosto. “As pessoas rejuve- consegue andar; desloca-se de cadeira-de-rodas. Apesar das contrariedades da patologia,
nescem”. E a experiência que tem como as cerca de 80 fracturas que sofreu ao longo da vida, Mafalda é uma risonha nata.
em lares comprova-o.”Na primeira “Não me lembro de ter fotografias de cara séria. Mesmo concentrada ou alheada estou a
sessão vêm com ar cansado, à quarta sorrir. Se não estou, já não me sinto eu”, diz. E poucas coisas lhe roubam o sorriso. Muito
parecem ter perdido 10 anos”. menos o desrespeito da sociedade por pessoas com dificuldades motoras. “Ao contrário,
Assim que se aprendem as técnicas acentua-o ainda mais. Sublinha-o. Gosto muito de mim como sou, com todas as minhas
o ioga do riso pode ser praticado em limitações. Logo, não é o mundo que não me conhece que me faz perder o sentido de uma
momentos cruciais, sempre que seja vida plena a sorrir”. Confiante e com impressionante auto-estima, Mafalda rejeita atitudes
necessário reencontrar equilíbrio. De paternalistas ou preconceituosas. É contestatária, bem-humorada, faladora e dinâmica.
forma discreta pode-se cantarolar o E é com essa garra que dá um “sorriso de luva branca” a quem olha para ela, sentada
riso ou fingir que se fala ao telemóvel na cadeira de rodas, com pena. “O sorriso é uma arma fortíssima para destruir o medo, a
enquanto se solta uma gargalhada. ansiedade, a preocupação e a tristeza. É capaz de curar-nos. Em mim tem esse efeito”. n Nada apaga o sorriso dos lábios de
Mafalda Ribeiro, que nasceu com
osteogénese imperfeita. Ela encontrou no
riso uma arma contra o medo

fev / mar 11 gingko 18 fev / mar 11 gingko 19


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uns dos outros”, explica o actor. -nos mais com o outro quando rimos
Raul de Orofino é conhecido, sobre- com ele, quando é bom estar com
tudo, por levar teatro às empresas, ele”, afirma Catarina Rivero.
abordagem que desenvolveu no
Brasil e trouxe para Portugal há 11 Rir… de nós
anos. “O humor está ligado à produ- “O homem que não sabe sorrir não
tividade. A peça Mário, o teu humor deve abrir uma loja”, diz um ditado
está no armário fala de dificuldades chinês. E aquele que não ri de si
em lidar com mudanças, de como o mesmo terá mais dificuldade em
o humor
humor dá entusiasmo para enfrentá- enfrentar o dia-a-dia. “Tomarmo-nos aproxima
-las. Com humor pensa-se e produz-
-se melhor”. E aos poucos cai o pre-
a sério, e aos outros, sempre e em
todas as circunstâncias, aumenta o
as pesssoas
conceito de que quem ri é insensato stresse e diminui a capacidade de e fomenta a
ou pouco profissional. “Cada vez desdramatizar as coisas diárias da auto-estima
mais há empresas a proporcionarem vida, deixando que cresçam e ga-
aos funcionários programas de bem- nhem dimensões que não deveriam
-estar. Porque sabem que tornam as ter”, considera Helena Marujo. Rir mais benevolentes com os próprios
pessoas mais criativas. Envolvemo- de si mesmo alivia a tensão e confere erros e com os dos outros”, acres-
novas perspectivas às situações. As centa.
pessoas que o fazem não se entre- Rir ajuda a superar obstáculos.
gam ao extremo do perfeccionismo “Pessoas bem-humoradas têm
e da exigência, “o que as torna mais vitalidade e entusiasmo para
mais optimistas face ao futuro, mais enfrentar dificuldades”, observa Raul
aceitantes de quem são e como são, de Orofino. Mas “olhar com humor
não é dar gargalhadas o tempo todo”,
esclarece. Ser optimista não é negli-
David Santos, professor de filosofia genciar as dificuldades, mas antes
integrá-las no quotidiano. “É neces-
Rir aos ombros de gigantes sário evitar os pensamentos ruminan-
O que é que a filosofia tem a ver com o riso? Tudo. “Não se consegue construir algo tes”, aconselha Catarina Rivero, “e o
de novo sem rir do passado”, opina David Santos, doutorado em filosofia e professor riso ajuda a desdramatizá-los”.
na Universidade da Beira Interior. “A filosofia disse muitos disparates e conseguiu Nas acções que desenvolve, Raul
progredir porque determinados autores riram de tudo o que tinha sido dito”. de Orofino ensina a “comer humor”,
David ri quer na vida quer na universidade. Por isso justifica-se abrir um parêntesis para doses de boa-disposição que podem
explicar que ele cresceu num ambiente duro. “Toda a minha família tem de fazer muito ser usadas ao longo do dia, sempre
pela vida”. Ele não foi excepção. Aproveitou sempre as férias escolares para trabalhar, que preciso. E alimentar o bom
e entrou na faculdade com um objectivo: ser o melhor. Até chegar à docência fez um humor depende apenas de si. Uma
pouco de tudo: trabalhou numa livraria, prestou apoio informático num ministério, e foto do seu filho, a recordação de
esteve numa associação de táxis, fase que recorda como um “período negro”, vítima de um momento cómico partilhado com
terror psicológico. Nunca desistiu. E não perdeu a capacidade de rir. amigos, a anedota que um colega lhe
Na sala de aula David Santos não incita à piadinha fácil nem desdenha os caminhos contou ao almoço podem ser gatilhos
do saber trilhados por nomes como Aristóteles ou Platão. Pelo contrário. Mas só com de boa-disposição. Também a dieta
humor é possível, parafraseando Isaac Newton, colocar-se aos ombros de gigantes e ver alimentar influencia a vontade de rir.
mais além, fazer diferente e progredir. É quando se pensa fora da caixa, com base em “Um bom equilíbrio dos neurotrans-
Professor de filosofia, tudo o que já foi dito e experimentado, que se arriscam novos modelos e pensamentos. missores, derivado essencialmente
David Santos incentiva Apaixonado por leccionar, David atenta nas reacções dos alunos às suas aulas. E há da comida, propicia boa saúde
o riso na sala de aula.
uma que gosta especialmente. “Quando olho para um aluno e vejo aquele sorriso muito mental, pois influencia sentimentos
E há um sorriso que
particular, espécie de milagre e revelação”. O sorriso do entendimento. n de alegria e ansiedade, memória e
gosta particularmente
de ver nos alunos: o do
entendimento, espécie
de milagre e revelação

fev / mar 11 gingko 20 fev / mar 11 gingko 21


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Palhaça por feitio, e a
trabalhar com crianças
por vocação, Beatriz
Quintella nasceu a rir e
vai morrer a rir

Beatriz Quintella, doutora-palhaça,


presidente da Operação Nariz Vermelho

Gargalhadas no ventre
Beatriz Quintella é uma humorista precoce: “Descobri o riso na barriga da minha
mãe”. Descendente de uma família bem-humorada – “o que faz de nós um grupo
bastante coeso” – Beatriz soube desde cedo que queria trabalhar com crianças.
Ser palhaço não é uma opção, mas uma característica. “Nasci assim”. Presidente
da Operação Nariz Vermelho, Beatriz Quintella é a Doutora da Graça que visita
crianças hospitalizadas e distribui piadas e gargalhadas pelos doentes, familiares e
profissionais de saúde. “O palhaço está no hospital para que as pessoas riam dele e
de si próprias”. Porque, considera, o riso não cura, mas ajuda. “Não é levanta-te e ri”,
diz. Por isso Beatriz prefere o trocadilho “levanta-te rim!”. Consciente de que a vida é
dura – “se quer moleza, senta no pudim” – esta brasileira a viver em Portugal há 20
o riso anos procura manter um sorriso mesmo nas adversidades. “Se consigo sorrir, consigo
desdramatiza sobreviver” é o seu mote. E não tem dúvidas: “Nasci a rir. Vou morrer a rir”. n

problemas
e desperta promovem o riso e o bem-estar físico, falta de energia para sorrir. Mediante
soluções emocional, mental e espiritual. Há
18 anos a colocar aparelhos e a
cada caso entram em acção as téc-
nicas da ortodontia e do coahing. É
inovadoras mudar o sorriso às pessoas, percebeu “alinharmo-nos com a vida”, resume
que um sorriso bonito é um desejo Cristina Baptista. Por reconhecer que
funções cognitivas”, explica Mada- de muitos, mas que não se confina à o conceito é novo e complexo, a smi-
lena Muñoz, nutricionista na Clínica imagem estética de uma boca com le coach publicará este ano um livro
R’Equilibrius, em Oeiras, e através dentes brancos e alinhados. sobre esta abordagem. Os resultados
do site www.madalenamunoz.com. “Um sorriso perfeito tecnicamente são evidentes, em especial quando
E há nutrientes que potenciam o não é necessariamente um sorriso “mexemos no sorriso externo”, reco-
humor. A saber: hidratos de carbono belo”, diferencia. A sua beleza nhece. “Construímos sorrisos desde
complexos (pão integral, arroz, massa resulta também da vibração da que a pessoa permita construí-los
e leguminosas), ácido fólico (iscas, energia vital de quem ri. Então dentro de si mesma”.
amendoins, brócolos, alfaces, espina- Cristina Baptista enveredou por áreas
fres, bacalhau), ácidos gordos ómega complementares à medicina con- Remédio ou cura?
3 (salmão, atum, sardinhas), e zinco vencional e tornou-se smile coach. A crença de que o riso dá saúde
(ostras, carne de aves e marisco). Ela defende que é preciso trabalhar existe há milhares de anos. Na
Atenção ainda às vitaminas B3 e C. as três dimensões da boca (vertical, Grécia Antiga, em Atenas, tratava-se
transversal e sagital) mas também doentes com espectáculos musicais,
Gargalhada interior uma “dimensão mais espiritual ou peças de teatro e actuação de come-
“As crianças riem 300 a 450 vezes holística”. Afinal, “a energia é o diantes. Mais tarde, no século XVI,
por dia. Um adulto ri de 15 a 30”, motor do sorriso”, sublinha. E um eu Rabelais, escritor, padre e médico,
aponta Raul de Orofino. Para o bem- desequilibrado não produz um sor- receitava o riso como tratamento para
-estar de todos é urgente rir mais. riso bonito. Uma consulta de smile aliviar o sofrimento. “A alegria, de-
Em Lisboa, na zona de Belém, há coach assenta em trabalhar as duas fendiam os sábios da época, dilatava
um lugar onde se constroem sorrisos. vertentes do riso: física e interior. Há e aquecia o organismo, enquanto a
Cristina Baptista é médica dentista, quem precise de ordenar os dentes tristeza contraía e esfriava o corpo”,
especializada em ortodontia, e mem- com recurso a aparelho, mas tenha aponta Helena Marujo.
bro da direcção da Associação Sorrir, as questões internas bem resolvidas; Experiências mais recentes compro-
que disponibiliza actividades que outros têm uma boca perfeita, mas vam os beneficios das gargalhadas.

fev / mar 11 gingko 22 fev / mar 11 gingko 23


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Sorrisos coloridos
Também no trabalho é preciso rir mais – o riso por livre e espontânea vontade”. Quando o trabalho
estimula a criatividade, logo, a inovação. A psicóloga motiva e dá prazer o envolvimento é maior e mais
Alice M. Isen, da Universidade de Cornell, nos Estados consistente. “A felicidade transforma as pessoas em
Unidos, fez um estudo que comprovou a correlação especialistas”, diz Nuno Pires. O gosto pelo que se faz
entre riso e criatividade. Um grupo de estudantes desperta interesse e vontade de fazer mais e melhor.
recebeu uma caixa de fósforos e outra de tachas, uma Qual é o segredo da Dyrup? Sem programas de recursos
vela e um desafio: fixar a vela no quadro de cortiça humanos que estimulem o sentimento de pertença,
de maneira a que, quando estivesse acesa, a cera Nuno Pires resume-o a um princípio básico: “Tratar
não caísse para o quadro. Os alunos que antes da as pessoas humanamente. Há um cuidado extremo de
prova visionaram uma comédia resolveram o problema garantir que as pessoas se sentem bem”. Orientada para
com maior facilidade (75%), enquanto apenas 20% o cliente, a empresa está também, e desde há muito,
dos estudantes que primeiro viram um filme de orientada para os colaboradores. Todas as semanas oito
matemática tiveram sucesso. funcionários tomam o pequeno-almoço com o presidente
E há empresas onde se trabalha com um sorriso de ibérico, momento privilegiado para troca de ideias.
orelha a orelha. A marca Dyrup, que se associou a esta Também fora da fábrica a Dyrup desperta sorrisos,
reportagem de capa dada a sua estratégia de motivação não só a quem compra as suas tintas – é sobejamente
interna, é um caso paradigmático. Com o mote “Happy conhecida a influência das cores no nosso estado de
colors, happy life”, dá cor à vida dentro e fora de espírito – como nas pessoas que ajuda através de
portas. A começar pelos colaboradores. “O maior activo acções de responsabilidade social em que participa.
é termos pessoas que gostam do que fazem”, sublinha Um bom exemplo é o apoio dado à Ajuda de Berço
Nuno Pires, director de marketing da Dyrup Iberia. Os quando se soube que a associação corria o risco de
números não deixam dúvidas: mais de 99% de taxa de fechar portas. Porque vidas coloridas são vidas mais
retenção. “Temos menos de 1% de pessoas que saem sorridentes. n

O médico norte-americano Patch sidente da Operação Nariz Vermelho. Provocada por um jornalista, um dia
Adams levou o humor para dento “Mas é mais fácil a pessoa curar-se Cristina Baptista respondeu que rir
do hospital, e o escritor, também se tiver atitude positiva e optimista”, ajudava mesmo a pagar as contas
norte-americano, Norman Cousins, remata. Raul de Orofino aprendeu, no final do mês: “Imagine que está
autor de Anatomia de uma doença, graças à terapia que fez no Brasil, a desempregado. Então, ri, liberta
contrariou o diagnóstico médico com rir das suas dores. E então percebeu endorfinas, sente-se bem e vai a uma
a visualizaçao de séries televisivas que “o humor é das coisas mais entrevista. Graças ao seu bem-estar e
cómicas. “Portador de uma doença sérias da vida porque é um meio energia contratam-no para trabalhar
degenerativa que lhe atacava a colu- para chegarmos ao nosso equilíbrio nessa empresa”. Os finais podem
na vertebral, os médicos deram-lhe e auto-realização”. E nunca deixa de não ser tão risonhos, mas viver com
poucos meses de vida. As risadas rir. Assim tem superado momentos um sorriso nos lábios é uma boa
e o bom humor que auto-medicou difíceis como a última crise econó- estratégia. Para quem sorri e para
garantiram-lhe mais 15 anos de vida mica, que lhe causou um arrombo quem o rodeia. Raul de Orofino deixa
do que o estipulado medicamente”, de 70% no rendimento. “Em três um pedido: “Quem nos criou dotou-
recorda Helena Marujo. meses resolvi tudo e voltei ao mesmo -nos deste riso. Usemo-lo”. n
Será que rir é mesmo o melhor patamar”. O segredo? Viver centra-
remédio? “Dizer que o riso cura é le- do no presente, sem se preocupar
viano”, aponta Beatriz Quintella, pre- (ocupar-se antes do tempo), e sorrir.

fev / mar 11 gingko 24

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