A Escrita Das Práticas: Reticências e Resistências Dos Professores

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Cariruo 6 A ESCRITA DAS PRATICAS: RETICENCIAS E RESISTENCIAS DOS PROFISSIONAIS' Escrever sobre as praticas: uma conjuntura favoravel {As priticas profissionais vao de vento em popa. Durante muito tempo relegadas a segundo plano, em consonancia om 0 esquet ? tornaram-se um objeto de 2.10 Praca a tncrn ects Nini stnlénde- Anne arte Charter descrevé-las tanto de fora, para mostrar suas forcas e fraque- as e contribuir para © crescimento de sua la a seus pares jo desempenho. Tratando- s em que ia prt mativa — 0 “professor reflexi apres escrevendo sobre um trajeto ou “hist a aqueles que tém o papel deci priticas tomar o profissional, a0 lado dos saberes académicos (0 principal, hoje, concursos para professor. Outros escritos sobre novas priticas dificeis de delimitar (por exemplo, as dos projetos espe Edu- -agao Prioritarias — ZEP)* ou funcoes em processo de re- fi s de profissio: escolas; projetos interdisciplinares \édio envolvendo professores de disci iferentes), Entretanto, nao se pode esquecer que essas is simplesmente, a informar as ini Zonas d externos inas micas identitirias. Quests onas em que a ago educacional & excolar (NR), ensificada para combater mages em curso: € necessirio estimulé-las? Orient e rompem as rotinas (preparar uma exposi¢2o, uma viagem) ou inovam Gntrodu- zir o texto livre, a correspondéncia escolar ou a imprensa, sicos) (Cuakmin, 1993, 1995, 1998).° Acredita-se que certos aspectos do ato de ensinar silo co- nhecidos de todo mundo; seria, entio, supérfluo apresenté- pais, quando a iospi- distante no espago (no te a" refere-se 40 material impresso ou mimeagra- ponivel para ser adquirde através dos canals normals de seu comtesido res de la classe: un enjew Ja recherche ct pour la formation. In: GRAFMEYER, Yves (Org). aileux ns sociaus. Lyon: Editions du Programme pluriannuel en Sci nes RbGne-Alpes, 1993, p. 177-198. CHARTIER A. M. Bnseigner o ZEP. Veprewve de la real. ZEP, patience ot passions. Aca CRDP, 1095, p. 146-159. CHARTIER A. M, expertise enseignar ts théoriques. In: Recherche et form recherche et pour la f squentemente de forma equivocada. Por exen que em 1830 os alunos s6 aprendiam a esc leitura era concebido e imposto pelas autc tar 0s equivocos de | ntropologia etc.).* Em psicologia, as das por todos e, logo, “u bes sobre as priticas nao se reduzem so- Acwcrta depron reine eresttncas dn protavnate 213 © ponto de vista dos atores, que nao sio mais considerados tos de experiéncia podem ser anali- gadis como procedimentos de justificago, que contribuem, de modo central, e no marginal, para as construgées identi- irias. Por meio deles, os individuos falam das relagdes de forca que estruturam © mundo do trabalho e suas posiges nas redes de concorréncia, de solidariedade ou de conflito” A escrita das praticas pelos que nela atuam to, ainda nao € escre- is que profissio- inte nos dispo- Numerosos profissionais experientes foram levados a colocar por escrito suas priti- cas. O que os lev de um curso, tese de doutorado) ou um morial para se tomar formador ou inspetor na rea). A dif culdade ¢ a de transformar o testemunho subjetivo e singular naterial de trabal |, com frequéncia, a realiza nse no Bspace-Ten sitica" que a8 obras de Be 214 Prases da ttara ctr hidrin a alade- Anne Hare Chron ‘Acvcrta ds prean:retictnci a resettnclas ds profiasnale ainda proximo da vivéncia subjetiva, e a and mais ise da pritica, escritas institucionais, e esses profissionais sio tio alusivos? Por que pensam que seus leitores sio bem informados? Expl seria muito tedioso? Ou muito comy contram-se outras mais enj MO as propos tantes das revistas pedagogicas" (relatos de experiencia, lies de inovagdes ta a revista do INRP, seco 5 Por outro contrariamente a0 que se possa supor singulares, como as que so- diante d tas experiéncias Perspectives documentaires en édu- permitiram-nos observar que © projeto de escrever as priti: emin de praticien onge de captar esse assentimento geral que caracteriza conselheiros pedagogicos, diretores, inspetores ¢ hoje) os pesquisadores € responsive colocar por escrito 0 que marcou suas carreiras.® Entretan- provoca nos profissionais reagdes am! to, uma leitura desses textos “ cation. aceitam nostra que a maior parte de- mam, com boa vontade, esse projeto, Jes consegue relatar bem suas “vivéncias profissionais”, suas convencidos de mais competentes do experiéncias, seus encontros, suas bifurcagdes, as ‘em teo! ses que aque- de que foram encarregados, 0 que provocou entusiasmo e que nela atu se trata de realizar vidas, no falando (ou falando pouco) de suas priticas. A esse tipo de trabalho, recorrentemente eles se esquivam, al pritica é uma espécie de horizonte de referéncia, sempre temando-se os “no tenho tempo ¢, alii, no sou capaz” com! evocado, raramente descrito, AS alusdes que a ela se fazem ‘para que isso serve"? “Nao se aprende nada lendo as priti-| Bebe yds quai eee cas dos outros”. Sao as resisténcias ou reticEncias para escre- Tentamos fazé-lo ver as priticas que procuramos entender. por meio de um estudo de caso que nos serviu de material empirico para analisar concretamente essas dificuldades. | Estudo de caso: uma pesquisa sobre as “priticas de integracao” na ZEP Em maio de 1990, o reitor da Academia de Versalhes'* um Observatoire des pratiques de intégration (OPL itis dos es pe entdo, espectias sua peitica de ensino eveluin no decomer dos dtimos anos? Em que Em funco de quais modificagbes pessoais e de qual iflaéncas? ~ Inerenciam, nas diferentes Tegioes, «paiva ‘Cada a das 30 academ : 216 Prisca datettrn tera: hts sualnde- AnnMarie Charsar Aarti nf wht 6a prtaenits: 21°7 nanda institucional, na medida em que reconhe- dos atores e os deixava livres para decidir sobre o| sobre o que deveriam testemunhar e | aumento de informagoes “senstveis, pre o que fazem os que nela trabalham”, Sse © caso, difundir as que provara ara: para o reitor, os dados lugares. A equipe se de providenciar no os € de doc ratamento macrossoc hierdrquica, de cima para baixo, dos is izados ¢ Idos dispositivos a serem instituidos. Por razdes que atu frequentemente melhores no caso de captar am diretamente nes- \gia era amplo. Partindo de objetivos ex- jos pelos projetos, os colegas que tr Ihavam nas ZEP para conhecer m nos, de ex-alunos e de parceiros da educagao nacional. As suas ages is, complexificadas ou em dois lugares, as relagdes esc 5 por mei jas que representavan ificadas. «a posterior, a partir daquilo que os atores da pritica colocassem empirica- ente sob esse termo, contetido que deveria ser precisado ou questionado durante © desenvolvimento da pesquisa | de 25 entrevistas diferentes perfis, Este observat panhament: tucagao, 2 misso de formar que participa da educagio de eriangas de Recherche et Forma: ‘Normal de Versathes, ‘motivos, stavam intereseados nesta pesquisa de campo so- als. Exe texto que retoma certas de 1990). 218 Prisca da laitra ners hire salnde- Anne Hare Chaser pop' nos b 10 € de 15 entrevistas em instituigdes que a a tro (policia, trabalhadores sociais, associagdes, géncias de etc.). Em outro local, a pr uma classe de adaptacao para alunos nao fran- entrevistas com seus ex-alunos, buscando compreender como haviam se “integrado” na escola ¢ que nbrangas tinham dessa estrutura especializada, Em um animadores esportivos, adjuntos ao pret emprego, médicos de PMI fessora d c6fonos res, regi mos com quem tra- ovens de 16 izante, foi e: em certos casos, pe os que os conl eciam. Do mesmo modo, in- como a escola integr -se sobre a man op. ct p. 5 A certa dpa ralccias resets protons 219 Informar-se para agir ou para ‘prestar contas” Enquanto as primeiras reunides Iher os lugares € © inham permit investigacio, o inicio da pe les de método os temas d o de os profissionai informar para agir, mas no de se informar para escreve das informa; a pritica”, mas nao tém a nec protocolo explicito de coleta de dados, tituir com base neles uma mems6ri e nem ainda de cons- informacées sio recolhidas na aco € sio inte- nntinuidade do trabalho sem serem tematizadas. £ arece nos relatos de ago, sob a forma de “entio, foi mnsideragao que...”, tratando-se de parcei- 10s (pais, inspetor, politicos, colegas ou alunos) ou aconte- cimentos (resultados de eleigdes, processos incidentes na cidade que foram objeto de matérias de jomais etc.). Ao lado dos dados pesquisas sociologicas (a composigto s¢ bairro, a distribuigio da habitagio, a rea prego, as taxas de repeténcia etc.), as pressdes d de” com as quais devem se harmonizar os que atuam na pritica se relacionam a singularidade dos individuos € & it reversibil curso, truturais bem conhecidos das de das ocorréncias Aqueles que atuam na pritica em geral no se pergunt <0 formar, antes de agi”, pois uma ago ap sempre num saber anterior (ps que seja de forma desigual) e que, na e pel {6es so construidas. Pela mesma raza constantemente, dos motivos que 08 con ‘comegar, modificar ou abandonar um projeto: € 0 que lis fe se fez que fica na meméria. Quando as ag00# Ad infor ra Para ser consensual, a d rapidamente a lembranga das pos 4o trabalhosa, iS por escrito, como pediu o eria necessirio romper com essa pritica empirico- , mas, em m objeto de entre os participantes: seri que os que atuavam na pritica tinham formagio para conduzir essa| coleta de dados? Poderiam ser a0 adas, atores e informantes? Para alguns, ¢ As pessoas encarregadas glo er is entrevis- is deverio ser recrutadas fora do campo de inve: ilo poderio, caso, manter os professores i cados diret 20" Informar-se por contato direto ou por meio do escrito A presenga de espec tados pelo reitor € pro- postos para dar apoio, com does, fez, de algui ma, surgit uma divida. Por um lado, eram os modelos da pesquisa “cientifica” ( corajadoras) que pare cort de precaugdes desen- n 08 Gnicos a Go recorrente relacionava-se a “represei os de caso: © que permitia pensar que as pi is pe frigeis, em um determina- inentes 04 m feitas em outros espacos? Por outro lado, f rover a divisto de papéis ¢ d ® Relatério, op. it p. 104 Same ‘Aserea das prea: raticncia a resatdnclas dx proirnaie 221 diretamente na pritica e os especi Em alguns momen- 3, 0s especialistas apareciam como observadores exterio- res, cujos critétios de apreciacio e de julgamento sobre as priticas profissionais nao poderiam ser aqueles dos colegas, 0 *solidarios” por sua propria condigao: 0 que at) diante deles numa reunito? Em outras situa- Ges, eles eram considerados especialistas da metodolos e/ou da escrita da pesquisa. Em todo caso, seu modo de participagao parecia mal definido ou ambiguo (estariam 14 | para ajudar os profissionais, impor uma metodologia ou para | se apropriar dos resultados?) zer (ou Como se pode ler no relat6rio de um dos lugares pes se avancem nas conclusdes, clentificas, a0 menos metod se se trata de pressoes, vis Em resumo, ou € rigoroso, mas impossivel de realizar, ou € possivel, mas sem valor infor dos pontos de litgio era (para uma das equipes) 0 guia da entrevista. Trata: va-se de um mecanismo muito banal para ajudar a meméria, mas que implicava a ida em directo As pessoas para interro- gf-las (colegas, pais, parceiros), com papel € caneta na mao. Era necessério, entio, passar dos encontros € conversas oca- sionais aos encontros € entrevistas mais formais, dizendo-se| explicitamente: 222 raven daletera nei Mitr auadde - Anne Harte Chaser exper as relagdes que ietor, a escola e de seus fi (Ora, esse procedimento pareceu incompal de relagio habitual, ocolo ese lor: esses gestos p Questionar registr no gra na pritica sair t 0 da profissio, por razdes “deontol res, a pesquis foi, entdo, abandonada, Encontrar o tempo: tarefas prescritas endo prescritas o, mas também questo de operac idade do empreendimento ‘como e quando fazer esse “trabalho suplementar sa propunha dispositivos leves, de maneira que esse traba- Iho fosse integrado a rotina jo controle. Ora, ao longo do temp i trouxeram 0 eco atenuado das re nao era contestado, mas sim sua “urgéncia”: seri que po para encontrar X ou Y, regi tradit6rios. O que se ia de benevoléncia em Ce legas para me encont [Acncren in prisca:ratictncinereattnclas des profisonais 225 aulas e ocupando postos nos CEFISEM ou nas ZEP, perce > que representava ante (eles dduas dezenas de entrevista, foi preciso sabem que sobrecarre; a pessoas ja Algo semelhante também ocorreu com uma pesq) Celes nos bre ex-alunos de CLAD”: que os que a conduziram perceberam-na co mento excepcional. Aqueles que gastaram seu tempo, ultrapassando largamente 5 es rotineiras, pensa- a pena por varios motivos a0 teresse do trabalho, dos beneficiados. Aj para encontrar seus informantes sm do processo, a” nela inves gas e \ram- no questionaram a pertinéncia do trabalho. Quase em toda parte, foram “militantes profissionais’, isto 6, profissionais superinvestidos ou “mobilizados’,® que se en- m do trabalho, enquanto seus colegas foram perden- tarefa. A pesquisa pode contribuir para formar iros, acrescentando a0 conhecimento ugares © 2S pessoas (encontro de autoridades locais e de ias em seus domiciios): mpo que julga- ost ram de for- fan Mesmo Observat6rio (OPD, ‘éncia da riqueza do nt, Une étude socologiyie TAKE le V. IsambertJamati, Paris Vy 1 op. et. 226 ricco taicrn veri: Nitra ataiade - Anne Marte Charder Essas t idas de consciéncia singulares foram proveitosas para 0 conjunto da equipe ou, a0 contritrio, tomars jor a distincia entre a ente nos n ainda noria que agia € os outros? So- | 10s seguintes seria possivel saber se, do ponto de vista dos interessados, o trabalho havia sido um bom saberes titeis para todos. Em todos 0s casos, 0 que de que era ilus6rio acredi das priticas” poderia ser durivel i que um processo mente _integrado, os procedimentos habi- na prt ia necessario regulamentar, de for- ocessos excepcionais deixam sem- teve sida? O que ele ganhou/o que nés ganhai mpo de fazer tudo isso? Do que desi coisas nao chegam , quem busca se enga procedimento desse tipo tem logo uma impressio confusa de resistencia ou de m4 vontade por parte daqueles que ele queria justamente valotizar: reacao normal dos que atuam na pritica cuja vida profi € tensa e dificilmente cede a \e6es vindas de fora. Assim, a primeira liglo que se pode tirar desse processo € «que uma volta séria as priticas, com a finalidade de explicité- las, € um verdadeiro trabalho que exige tempo e esforco, A| experiéncia desmente, assim, uma forte crenga: a de que seria | ficil “dizer 0 que se fe2”, que campo estaria para “tomar a palavra” ~ por pouc novas ori riven, ‘Avert us praccas: reine estén dos protsonais 227 de que os que atu sempre pritica “sabem 0 que fazem” deixa os saberes a de uma crenga compantilhada pelos profissionais: € apenas no uso, quando se 0", que eles comes: até que ponto os dados j4 constituidos na experiéncia de- vem ser (re)construidos, para tornarem-se comunicaveis. Dai, © duplo movimento de adesao imediata a um projeto d tipo (parece facil de conduzir e ley dos atores), seguida de um recuo, quando dificuldades nao imaginadas na pritica, na medir Sobre que representagdes apoiam-se essas crengas? Pare- que trés modelos servem a cada vex (ou ao mesmo tempo) como referéncia implicita: o modelo psicol6gico ou j0s0 das confissoes sinceras (cada um pode e deve dizer ‘© que fez, com toda confianga); 0 modelo politico da consulta (das discussées de base sairi uma verdade democritica) e, Por Giltimo, 0 modelo dos programas ao vivo da televisio (cada um fez “suas escolhas” ¢ pode manifesti-las, 0 que 0 “piiblico”). E possivel imaginar a dificuldade das © esforgo que exigem sobre si) ¢ as dificulda- as (€ 0 trabalho de negociacao para is consultas pe chegar a um acordo). O modelo comunicacional, por outro lado, coloca-se sob averia o tempo da entrevista, ao vivo em grande plano. Assim, se reforca a ilusiio de que as priticas seriam m relatadas (no microfone) quanto de s a tela) €, por que nao, de serem escritas. AZ para mostrar Os atores, SeUS BeStOS, suas palavras, suas ferramentas de trabalho no context, acabou por fazer acreditar, banalizando-se, que registrava ‘a realidade” diretamente, sem enquadramento nem mon- tagem nem preparaco, A andilse das prdticas e seus riscos prova de que iria aprender no era 0 que se pa eficécia de certos discursos em responder oui expectativas (e a “aparecer bem” ou nao). Seria, de ira de testar subordinados, revelar indiv modo, uma mat controlar forgas e fraquezas, nao prop te quando as pes igo, com 10s definidos de fe e. Como es- seguras de que o que ‘Asnrea ds pseas:rathcncin a rentdneas es protssnats 229 $ que menos se resignam a sua impoténcia. Qu: que seja seu zelo pessoal, sao tomados por uma culpal de difusa sobre o tema 0 que deveria fazer” mbém poderia ser traduzido como: “ha colegas que inbecosapdiextae ual colega, &s vezes citando nomes, mas certamente nao se pode escrever num relatério destinado as autoridades. n 0 que deveriam fazer if aS priticas, a pesquisar sobre as e escolares pode isagio em potencial. Ess la maior quando se sabe que a s porcentagens de fracasso esco- ira signi no preencheu as desiguald: des de fundo da escolarizagao. Entio, por que continu: pesquisar ¢ confirmar que “fazend nada muda, ou nfo se muda la grande c nao diminui De maneira confusa, os perigos p quisa sobre as priticas sto percebidos i as autoridades, que pedem ex: mente, a0 comuni concretos, um estado de coisas real pas”, Em segundo | consequéncias da pesq (© campo nao parecem menos arriscadas. Pa racionais (ou recém-chegados ez ajudaria forcosamente & experiéncia, por outro lado, medem \G0s. Para mel investir em um novo projeto, iar para trds. Parar para pesquisar, dar a volta por as ou procurar elucidar os mal-entendidos: tudo ‘um pouco de recuo e de luci- ior eficdcia; aqueles que tem 10s des- orar a autoestima de orre o risco de ter efeitos inversos aos desejados ~ ati- cerbar as tensdes, fazer com que se “cru- Acreditando em certos interlocutores, ‘todo que nao funcionaram, e nao adianta nada “colocar o preto no branco”, ao contritio, sobretudo porque é impossivel 228 Prisca datetrn mer itr sauniidde- Anne Here Charter acabou por fazer acreditar, banalizando-si ‘a realidade” diretamente, sem enquadr tagem nem preparaco, que registrava nento nem mon- A andlise das priticas e seus riscos nistraglo que propunha uma pesquisa desse género confes- , 20 mesmo tempo, do que se topo idade 10 era uma prova de que do trabalho cot onge da e, 0 que ela ava no campo, mas a eficdcia de certos discursos em responder ou nao as suas expectativas (e a “aparecer bem” ou nao). Seria, dese modo, mane! iduos, de testar subordinados, revelar indi controlar forcas e fraquezas, nao prop pilizagao de seu ps ir seguras de que o que el! ponde espera d atores ‘Acnrta dn prea: raicnciaa resattncas dx profasnais 229) jueles que menos se resignam seu zelo pessoal, sto tomados por uma cul de difusa sobre o tema “a escola no faz 0 que deveria | Isso também poderia ser traduzido como: “ha colegas que nao fazem 0 que deveriam fazer’, frase que se pode dizer a um | , AS vezes citando nomes, mas certamente nio se pode | lat6rio destinado &s autoridades. 5 pedagigicas € esc Sentida como uma acusagao em potenc inda maior quando se sabe que a lista as, 2 pesquisar sobre pode assim ser res- fragi ‘ages ZEP” no diminuiu as porcentagens de fracasso esco- xt de maneira significativa, nfo preencheu as desigual des de fundo da esc pesquisar ¢ confirmar que “fazendo-se ou n nada muda, ou no se muda lé grande coisa"? rizagao, Entlo, por que contin De maneira confusa, os perigos potenciais de uma pes- quisa sobre as priticas sto percebidos em dois nveis, Inic comunicar &s autoridades, que pedem exemplos coneretos, um estado de coisas realista, di-se “a cara a t pas". Em segundo lugar, as consequéncias da pesquisa par © campo no parecem menos arris racionais (ou recém-chegados), um pouco de recuo e de l dez ajudaria forcosamente & maior eficicia; aqueles que tm experiéncia, por outro lado, medem melhor os efeitos des- mobilizadores dos balangos. Para melhorar a autoestima de tum grupo, € preciso as vezes investir em um novo projeto, sem olhar para tris. Parar para pesquisar, dar a volta por im: nal-entendidos: tudo risco de ter efeitos inversos aos desejados ~ ati cerbar as n que se “cru- zem os bragos". Acreditando e sutores, “todo mundo" conhece mais ou menos as coisas que falharam ou que nao funcionaram, e nao adianta nada “colocar 0 preto no branco”, 20 contritio, sobretudo porque € impossivel mente, a \das. Para os espiritos 3 falhas ou procurar elucidar ‘car 0s conflitos, € sdes, fazer 0 certos inter! 230 Prisca lacrn ners hire end - Anne-Marie Charter ‘A svrta dn prison: ecco resosncas So profasonie 231 escrever por quem ~e, jue — 08 resultados am © que fora crito, que niio tera ne- \spetor, 0 responsivel de Zona, diretor formacio ou de Jo), de que dep de traba- dem os que pesquisam. As dific 10 € que nele continuardo no ano seg dades de método nunca si Finalmente, a grande vantagem das pesquisas macrosc6pi- mas referem-se & organizagio de tral cada um o condus a margem as relagdes com os colegas ¢ com a hierarquia. No caso des 8 at6rios com os esquisadores e os que deci longe” do campo de sua presenga, quando ocorre, no € per tempo, c sgaram a set concluidos em um dos lugares, na medida em que os participantes (ou melhor, certos participantes) recusaram a metodologia, nao tiveram in- ose consideraram esse trabalho in- rios procedimentos de avaliagao da ‘© que chama a atengo, nesse caso, € 0 fato de que as abalho; no entanto, dura ‘um fator posi Quem necessita conbecer as prdticas? Avaliagdo e concorréncta de poderes el revelador porque as requeria adesio de voli equipe sem poder institucional. Para atin- gir os seus objetivos, os pesq iveram de penetrar em te ue seu trae balho encontrasse um lugar nas poli teriormente, Ainda que decidida por pessoas do a ima pesquisa pode ser fei ios e era stios de outras autorids sos imponderive' ¢ tempo, incapacidade ou uma re- cusa inconfessada de chegar ao final. As dificuldades obj Alibis perfeitos para ncia que, gera tinha a ficgio a boa vontade que foi impedida de se realizar, ¢ i880 € ¢ que foi mantido nas versoes escritas. Restava, entio © interesse ou 0 temor do responsé- te de um intermedirio ou 8 4 mente” essas reticénc de obedecer, tirando d: relagdes de poder que (di téncias ou recusas algumas consequéncias sobre as itavam suas margens de ago 232 race da tateuras merits hit stuaad- Anne-Marie Chaar Falar sobre as prdticas: explicitagao e distanciamento entre 0 de- los pest mtante. Meu conhecimer de des existentes fez deveriam ser verbalizadas Acccre as piscanreitncaneredttaie dot profsensts 233. ves (guia de entrevista, questionério tretanto, um dos g ctitos, por imbolicamente a passagem da conversa para a pesquisa. O el seu m mais ipses. En. face a tas, apesar das inevitaveis xdava, as regras de uma conversagi quanto a fita face funcionav plicagao dos m como de uticipantes. um di positive “formal” de perguntas incita expl ituais na ago, foi o tempo longo de coleta -$ que produziu o distanciamento. Em oficios m que muitas c com antecedéncia outras decididas no momento da aco, tempo permite de- em questio" em um sas sto regulada cantagdes, constitui objeto espe por exemplo, , fizeram-se pouco a pouco aproximagdes plexas. © que se su interrogaglo € perce: e discursos € agbes.™ para ir do dizer ao escrever, da palavra A sua colocai destin: em texto, No momento em que a palavra viva, 234 racic dotetcrn vere hers euniiénde- Anne Here Charver um escrito cujo destinatério € incerto an to € 0 contetido do que se pode transcrever sio subitament mas semipiiblico. O fato de redigir um escrito destinado a ser difundido, mesmo de modo restrito, logo colocou questes temiveis sobre 0s usos posteriores que poderia por diferentes leitores, mas também por diferentes Quando escrever é agir: Para quem ou sobre quem? Tratando-se de destinatirios investidos de autoridade, esse caso preciso como em outros, temores contradit6rios se expressaram: alguns temiam que 0 pouca ou muita atenglo, que mostrasse de va problemas aqui ou 14, e, nao suficientemente, asse © que causa- Is “necessi para traba pessoas isoladas demais em seu territ6rio e, as- sim, de manifestar uma prioridade, o que engajamento p 20. O que 0s profissionais tomavam como uma ferramenta para decisdes futuras teria talvez um fi si mesmo ~ 0 que significava “no ter continuidade’ de consciéncia, quando se dava, nio dis mas as acentuava: enquanto aqueles qu ncomendado a pesquisa tinham um sentimento dé engajado mais do que © usual, os participantes da pesquisa inham a impressao de terem Tratando-se do retomo para os participantes da pesqui sa, sempre prometido a diferentes informantes, uma questo se colocou de forma incisiva: relatar claramente suas de; ragdes e suas identidades era uma forma de benef ‘Acscrea ds prea: retictncia erences des profavnais 235 havia o risco de prejudicé-los, colocando-os em uma situa- 0 dificil com seus colegas? Tratando-se, enfim, dos entr vistadores, as retomadas exteriores possi na imprensa regional ou redagio para re ta) colocaram questées classicas referentes & propriedade intelectual ¢ a apropriagdes e/ou confiscagio por alguns para seu proprio uso profissional (os especialistas). Por exemplo, uma das participantes da investigaglo estava a ponto de fazer uma monografia universitéria: seri que ela poderia utilizar os dados que ela mesma coletou para 0 Observat6rio? E 0s dos 0 afirmativo, como deveria cité-los? Os espe- Esse tipo de experiéncia provoca, entio, toda uma série de inquietagdes, geralmente ausentes dos meios escolares, em que as escritas publicas, mesmo sindicais, vem de cima para baixo. Na verdade, dominar uma escrita informativa que supere as armadilhas, 20 mesmo tempo técnicas e deontol6- picas desse “género literfrio", resulta de um verdadeiro trei- namento profissional. Nao se trata absolutamente de um registro de escrito que esteja disponivel espontaneamente, mesmo que todo mundo “faca como se” (em particular a adh ministragao), subestimando as dificuldades a serem resol o ao mesmo tempo formais € conceitwalsy icas e teoricas. Os registros do oral ¢ 0s registros da escrita ides poderiam decorrer do filo da_nas representagdes, que traz de simplificagdes \alografado, 236 Priester enero hitdvin a ande- Anne Mare Charer , "gente de escrita’. Ora, existem evidentemente priti- € priticas populares da escrita.* as da escrita (a correspond clo) no causa espontaneamente o domt- al, a relaglo profissional). Tam- walmente a tomar a pa apresentam um leque de dificul dominadas de forma muito diversa. A situago mais fa todos os entrevistadores, © dominio de certas pi privada, ia descrever oralmente uma ago ou rece que isso s6 quem dele di inda indefinido, incomodou poder-se-ia diante deles dar certas magdes que corriam o risco de serem mal-interpretadas de reperc 4 tica qualquer etc.) poderia provocar certa em auditério era ecida € sabia 0 que ela sal enquanto uma banca examinadora, por definigio, supde-se sempre que sabe. E preciso preparar (é uma exposicio oral lembrete escrito pre} n plano, antec r Saber que esse tempo seri sempre cons mais, Essa pritica nao tem nada a ver com a exposigo sco! z parte de uma cultura supostamente comum. Descobs se, assim, que € ma iguém disse do que o que ele fez, mai sua propria, contrari 10 que se acredita. | -m exteriormente? Expor numa re proceso. quando que se apoia sobre u Imente que f O que se diz ¢ 0 que se escreve: 0 estilo “relatorio” Fixar as coisas no papel nio exige mais do que fazé-lo, se deve proceder de outra maneira. Uma di- 238. racic da lecra ener: Nitra atuinde-AnneHarle Charter [Acre as pric reetncas reuatncla exata fronteira entre 0 que se diz € 0 que se pode escre- ™ a do Observ ‘ rntologias prof ver. Na experiéne ante de interven de escrita, ret formag intranspc Os professores encontrar-se-iam, assim, colocados em dificuldade por es relata concepcio escolar de escrita, que os leva rio. como se tratasse de uma dissertaco. As dificuldades concernentes a forma e ao contetido (“o que novo, mas nao se pode escrever"), sen nham podido ser sempre claramente ex} |, enuncia-se com clareza’... impedem que se pressdes sociais da comuni- Aqueles que dizer mais nada para escrever as lades percebidas e as representagdes daqueles que fo- n interrogados sobre suas priticas, de maneira respeitosa denunciar (situagdes), que faz cor ture a todo n 9, mas nao pelos pais d regra de “geometria va suas certezas de Essa prudéncia nao 6, ent de preservagiio do segredo prof certos parceiros da educaga0 nacional, como profissionais da satide, da justiga ou dos servigos sociais. Segundo eles, Contriio, os professores ignoram const Por escrit saparecem todos esses iados. Reconst nente o que as criangas pareceram dificilmente 0 se pode ler nos relator crita que apaga todo aspecto anedético ¢ reconstréi de 0 ® Relaéri, op. elt, p. 24-25 Apenas pessoas pod ts pice tices tesnseas en tieeset' 24 idade, esvaziada de seus atores que se tornam. A wecriaa come bubltidasde'prefis ‘O reitor quer” vira “a s professoras da en Da mesma forma que as situagdes de tomada de palavra silo variadas, 0s registros de escrita sio miltiplos. Nao sio as mesmas estratégias enunciativas que funcionam quando a questio escrever uma carta pessoal ou uma carta trans da por via hierdrquica, um relat6rio destinado a pe: confidencial (como um relat6rio individual de inspegio) ou um relat6rio suscetivel de ser difundido, um texto de “lite inza” ou um artigo destinado a revista ou livro, No caso prese: Uma marca formal dessa escrita é a le complementos rio nos prazos fixad pelos pro e para permitir que o trabalho efetuado jonas encontrasse, assim, uma traducio pablica 1 tureo, que entrou de o depois do incidente, ele dar e que alguns colegas formar num do-se nos uum texto de sintese prece- ¢ de um resumo de infor- responsivel pela 10 ele pode ser transformado pela escrita de setor sul, um verdadeiro pessimismo sobre a evolugio dos fatos se faz presente entre os professore: mente acusados de ra senga das como alvo tos 6 podem ser decifrados pelos conhecedores dos lugares € dos individuos, os Gnicos capazes de captar 0 subtexto e de c lusio. trabalhada | 242 Prise da ira. nro hire aaniede- Anne Here Chrer unr hsts hese ssbeberb stoma” JAS mediagdes, mesmo que tenha havido a ten flo so neutras: quem redige ass le da escrita, com o qu de relacionais, rotinas institucionais ¢ presses materiais.* Nas Fespon- margens do jogo finidas, cada profissional (seja que desenvolve trabalhos na ZEP, professor, pesquisador ou reitor) faz escolhas, marca seus investimentos pessoais, cons- lerpretagdes € manifesta 4s vezes certo estilo. ne z uma triagem entre 0 que é secundirio, estabelece uma hiera Quem quiser escrever as priticas deve se resignar a fa cortes claros nessa complexidade: quando nao se pode re- signar a isso, o mais simples é ser globalmente alusivo, Quan- do € pressionado a passar escrita, o mais seguro é se instalar s de “géneros lit entre di entes acdes, pontua a recorrente de uma decepgao. Frus- enfermidade de uma escrita que se tora opaca quer “dizer demais” e que s6 fica transparente & custa de rentincias os que atuam na pritica podem ver af uma negagao da realidade: nada € falso, entretanto nto € ¢ desenvolva coerent que se sustente, que ente entre a introdugio € a concluso. Quer se trate de 1a apr ‘exatamente” isso. prende a escrever sobre as pi Conclusées iF POUCO a PoUCO © cAnone (nao escrito) do} pesquisa, que se manifestaram ao longo da pesqui- s de integracdo nada tém de espect ponto de! organizadas ¢ 1ando nao esquece frustrado ou traido por escritos que nai mente” 0 que fez. o, quaisquer que sejam as formas ret6ricas las, as l6gicas discursivas devem construir seu objeto de maneira homogenea e niio devem transcrever as modalida- des da a rias, mesmo que a maneira eo. Para fefeto de verdade’, que seduz os 10, que se movem sempre no heterog prioridades 244. rice da laitara onert: hitria auld - Anne Mara Chrtor > € escrita de pri —. _Certos mi resi maneira clara a0 quadro in: fessor nao explicita suas priticas da mesma mane’ jordem vem das autoridades de bretudo quando a ord remente”, O que wutoridade “esquegam” tao re sos dessa fa sobre a exp! ticas, em particular na formagdo dos professore: © quando Parece ig éncias dos profissio sate necessitio di is para expl clas ou resistencias para escrever sobr ransparente pop 's de conheci de simples “processo de con nen quando se trata de “testemunhar voluntariamente como profission: wz com que as instincias wwOes para se res situagdes programaveis com antecedénc de dados objetivaveis etc. Nem todas a5 pra iment ® Se se deseja que os profissio- rivel nao thes esse caso, como escrevam so npor d m outras situagdes, exis ‘mento raramente podem tornar-se ref los aos novatos sto frequentemente re 0 “tesricos”, isto é, “inu= ‘Aveis”. Por outro ram na pritica, que se apo brangas de com plexas situagdes vividas, pode ter mais Peninéncia cognitl: va (e ni mais legitimidade corporativa). S6 que esiit pertinénc’ s palavras necessé decorre somente da excel jonal dos © bom momento, fle) pritica. Por essa euHl0y

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