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INTRODUGAO Sempre que desejamos expor nosso pensamento, nossa visdo de mundo ou um assunto que conhecemos bem, procuramos convencer nossos interlocutores. Af nal, se nao quiséssemos convencer, nao teriamos mo- tivo para expor nossas ideias; seriamos indiferentes. Ao contririo, se nos exprimimos, € porque pensamos ter razio, ou, a0 menos, consideramos razodveis nossas ideias. Assim, ao tomar posi¢do sobre qualquer tema, ¢ a0 desejar que nossos interlocutores nos deem ouvidos, tentamos mostrar como mossas conclusdes so verda- deiras, Em outras palavras, buscamos explicitar os mo- tivos pelos quais temos certos pensamentos, visdes de mundo etc. mesmo ocorre em todos os ramos do conheci mento; afinal, quando, com honestidade intelectual, um filésofo, um cientista, um historiador, um artista ete., 9 anuncia uma descoberta ou uma nova interpretacao para algum tema, eles esperam ser acreditados, pois consideram suas afirmagdes mais adequadas para com- preender nossa experiéncia. F por isso, até, que nao chamamos o “conhecimento” ou a “ciéncia” de simples “opinides”. Muitas vezes, eles no passam de interpre- tagdes diferentes do mesmo fato, mas, geralmente, tém © objetivo de corresponder a verdades sobre 0 mundo € a vida, Resumindo, 0 conhecimento e a ciéncia pro- curam certezas. Porém, mesmo quando manifestamos opiniao pes~ soal sobre um assunto qualquer, também procuramos convencer. Baseamo-nos em nossas vivéncias, em nossa visio pessoal do mundo, em nossa bagagem de infor- magdes etc. Partimos, entao, de verdades conhecidas ¢ procuramos chegar a novos dados, novas interpreta- ‘gbes, novas certezas e assim por diante. Nesse ponto, o procedimento de convencer é comum niio como ao conhecimento, a néo ser que, a0 dar uma opjnio, nao apresentemos motivos passi- veis de debate, mas queiramos convencer pela forga, pela insisténcia, ou, como dizem, “no grito’. Ao contratio, se procuramos motives para justificar 0 que pensamos, 10 adotamos uma postura muito parecida com a do conhe- cimento objetivo, da atividade filoséfica, da ciéncia ete. Esse ponto comum ¢ a tentativa de convencer, partindo de dados jé adquiridos em nossas vivencias ¢ chegando a conclusées bem justificadas. A esse procedimento tam- bém chamamos argumentagao. E a argumentacao do conhecimento, ou seja, que possui certeza e nao consiste apenas numa opiniao bem defendida, é chamada espe- cificamente demonstragio. Na atividade filoséfica, o fildsofo pode chegar a nnovas interpretagdes de nossa experiéncia do mundo, assim como pode renovar antigas interpretagdes. Mas, antes de tudo, ele € um “especialista” da argumentagao € da demonstragao. Como sua atividade ¢ sempre feita em diélogo com outros pei jentistas, artistas etc, ele desenvolve a habilidade propria de analisar a maneira como argumentamos para justificar nossas certezas ¢ 0 Certamente vem dai a imagem do filésofo como alguém que sempre duvida ou pergunta, Essa imagem € parcialmente verdadeira, pois, como dissemos, 0 fl6- sofo também pode chegar a certezas. Sua duivida nao & aquela divida infantil e gratuita, que pergunta a todo u tempo “por qué?", pelo puro prazer de perguntar ou sem ter interesse pela resposta. Ao contrrio, é uma dii- vvida que busca explicitar os motivos pelos quais pen- samos 0 que pensamos. Essa atitude evita 0 nosso fechamento num mundo egoista e autorreferente; faz-nos buscar uma comuni- cagio sincera com os outros. E sempre util perguntar, diante de tudo 0 que nos dizem: "Sera que nosso inter- Jocutor nao tem razio?” Buscando responder a essa per- gunta, interessamo-nos pelos argumentos fornecidos no didlogo ou constatamos a auséncia de argumentos. ‘Ao mesmo tempo, é preciso saber que as certezas as verdades obtidas pelo conhecimento, € nao pela simples opinidio, nem sempre so definitivas. Muitas ‘vezes, so mesmo ambiguas (como, por exemplo, quando diferentes tendéncias da Fisica divergem em suas in- terpretacdes da explosio do big bang). No entanto, ainda assim é possivel falar de conhecimento, e nao de mera opinigo, pois dados mais ou menos objetivos levam a aceitar uma teoria e a recusar outra, Nesse sen- tido, quando uit médico administra um antibidtico € obtém a cura de uma infecgao, ele nao esta lidando apenas com opinio. Ou quando um socidlogo retine 2

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