You are on page 1of 9
a4 16 SR 6 Desnaturalizando identidades e diferencas da adolescéncia Neuza Maria de Fatima Guareschi “Populares, excluidos ¢ neutros. Divididos em castas, certos ado lescentes topam correr riscos e até perdér a identidade para serem reco- nhecidos pelo grupo”? Esta é a chamada que abre a reportagem da capa do caderno “Donna ZH” do dia 7 de dezembro de 2003. E, também, o que nos chama a problematizar de que forma determinadas praticas culturais cotidianas forjam marcas identitérias, e, por conta disso, mo: dos de viver. A reportagem é elaborada a partir de entrevistas com ado- lescentes de classe média do municipio de Porto Alegre, intercalada por prescrigdes e aconselhamento de especialistas (aos pais) para que estes no percam o controle sobre seus fillhos. Aos adolescentes “prescrevem: estratégias usadas hoje para chamar a atencao do grupo e virar popu- lar”. Mais que isso, “apresenta-se” a estes trés possibilidades de ser ado- lescente: ser populares, excluidos ou neutros! 1. A reportagem em questo foi publicada com o titulo: “Tudo pelo popular”. O caderno de jomal em que foi publicada ocupa-se de entrevistas, noticias, informagies sobre comportamentos ‘uldados com 0 corpo, vestuéro,tendéncias das estacées eda moda, pessoas consideradas celebri dades et, PRATIAS CTIDIANAS€ A NATURALIEAGAO a A proposta deste trabalho é discutir como estas classificagoes dos modos de ser adolescente passam a ser naturalizadas e produzem ou evidenciam formas de ser adolescente que instituem um referente e seus diferentes e, como tais classificagdes tomadas como naturais, geram pro- cessos de desigualdade social e excluem outros modos de ser, ditando aos sujeitos seu enquadramento em uma das categorias apresentadas. Embora possamos encontrar uma série de outras marcas identitérias pelas quais os adolescentes t8m-se produzido, a reportagem menciona e, por- tanto, faz existir, apenas trés, e sutilmente nos diz: se vocé é adolescente deve estar em uma delas. Assim, situamos esta discussdo na drea de estudos da psicologia social, em uma perspectiva do construcionismo social, a qual pos pressuposto te6rico uma desnaturalizagao da “realidade”.? O constru- cionismo define-se como uma forma de oposigdo ao representacionis- mo. Este tiltimo pressupée: a) estarmos separados do mundo — separa- do sujeito /objeto; b) que este mundo possa existir independentemente de nossa experiéncia; e ¢) o canhecimento coma um espelho da realida de. A fidedignidade deste espelhamento determinaria 0 valor do conhe- cimento que ele adquire. Nas palavras de Lupicinio Iniguez, autor construcionista que formula uma critica ao representacionismo: ““Tem algo que é 0 mundo, e o conhecimento é a imagem desse mundo. O conhecimento é tanto mais vidvel, mais verdadeiro, ou mais aceito quanto melhor representar a realidade” (2002: 106). Neste sistema de pensa- mento, a separacao do sujeito e do objeto faz-se necesséria para assegu- rar uma busca de uma objetividade cada vez mais acurada — que se faz no distanciamento do objeto ou da realidade em questéo. Se 0 conheci sicomo 2, Aqui a nogto de realidade e conhecimento guardam entre si estritarelagio, “O cones mento, como é visto na modemidade, sempre € representagio do mundo, Tem algo que éo mundo, vel, mais verdadeico ‘eo conhecimenta é imagem desse mundo O conhecimento& tanto mais ‘04 mais aceito quanto melhor representar essa realidad” (Inigue?, Hammoutl e Martin, 2002 106), Esse modo de relacio com realidad modifica-se na pés-modernidade, que poe em xeque | propria nogio de realidade, Esta passa a ser concebida como uma construgio do conhecimento, Como diz Veiga-Neto (1996) “(.) £0 olhar que botamos sobre as coisas que, de certa maneir, as constitu (..) Em sma, o que importa nao é saber se existe ou no wma “veaidade real”, mas, sim, saber como se pensa essa realidade” (p. 27-8), Este & ocendrio que dé condicbes de pensarmes em um didlogo entre o campo dos estudoscultuais ea produ de sentidos na producio de conhect mentos em pslcologia soca SPINK Sm mento representa a realidade, esta ¢ compreendida como natural e nao como construfda, Em contrapartida, a abordagem construcionista oferece-nos a pos- sibilidade da desnaturalizacao da realidade ao entender que a realidade € uma proposicao explicativa, ou seja, o mundo nao seria anterior A ex. periéncia que temos dele. Isso nao implica negaco da existéncia mate. rial das pessoas, eventos, fenémenos, mas que a existéncia material nao tem em si significados fixos, universais, naturais, nem mesmo de se tor: nar realidade, se nao for justamente experimentada como uma verdade. Essas “verdades” ou “proposigdes explicativas” so tomadas como aquilo que permite ao humano pensar-se de um determinado modo, como aqui- lo que constitui determinadas formas de ser, pelas quais as pessoas se reconhecem de determinadas maneiras e nao de outras. Isso impée lidar- mos com a mutabilidade, com a descontinuidade, com a constante trans formagio do que seria “realidade” e dos modos através dos quais nos Constituimos na interagao com aquilo que forjamos como “realidad”, A cultura como constituinte do sujeito Situado o referencial epistemol6gico a partir do qual este trabalho 6 pensado, é necessério apontar a nogdo de cultura que sustenta essa dis- Cussdo, visto ser essa o operador te6rico que orienta a forma como foi feita a anélise, para entao discutir dois conceitos que estéo articulados & idéia de cultura e sao centrais para esta reflexao: discurso e marcadores identitérios. Inicialmente, enfatizo que nao existe uma homogeneizagao do conceito de cultura, principalmente se compreendermos que a cultu- ra pode tomnar-se diferentes objetos, mesmo no campo das ciéncias so- ciais e humanas, como, por exemplo, pelas formas como é tomada pela sociologia, antropologia, psicologia. Para situar 0 entendimento sobre esses conceitos — cultura, dis- cursos e marcadores identitérios — utilizoa discussio realizada no campo dos estudos culturais e por alguns autores* que propdem uma aproxi- 3. Alguns desses autores so: Stuart Hall, Tomaz Tadeu da Siva, Alfredo Veigh-Neto, Marisa Costa, Rsa Maria Bueno Fischer, Dagmar Meyer e Sandra Corazza entre outros, IRATICA CTTOMANAS € NaTURALZAGKO 19 magio desse campo com a perspectiva pés-estruturalista, tomando Michel Foucault como um de seus interlocutores. Acultura um dos operadores conceituais centrais para os estudos culturais por se apresentar tanto em um sentido “substantivo” quanto em um sentido “epistemol6gico”. “Substantivo” ao se localizar na es- trutura empfrica e na organizacdo das agdes, instituigdes, relagbes so- ciais. “Epistemol6gico” por transformar as formas de conhecimento conceitualizagdes que modificam a prépria experiéncia. A midia con- templa ambos os sentidos ao se constituir como uma prética “concreta”” que produz modos de pensar e conhecer. Stuart Hall (1997) enuncia que sssas duias proposigdes envolvem a nova formulacao do sentido de cul- tura a partir de uma mudanga paradigmética nas ciéncias sociais e hu ‘manas, identificada como “virada cultural” onde ela passa a ser com- preendida como posicionando o sujeito e produzindo modos de vida. A primeira proposigao refere-se a definigao antropolégica de cultu- ra em que esta é tomada como pritica. Dentro dessa perspectiva antro- polégica, a cultura é entendida como um conjunto de normas, valores, regras, costumes, artefatos de criagio e o cultivo e producao dos diver- sos modos de vida dos diferentes grupos sociais. Nessa compreensio 0 sujeito produz.e reproduz a cultura, mas é tomado como algo ao lado ou fora dela e nao como constitufdo nela A segunda questiona o significado antropolégico de universalida- de da cultura por meio dos conceitos de formagao social, relacdes de poder, dominacao e regulacdo, resisténcia e luta. Ou seja, a cultura pas- saa ser objetivada como um territério de lutas e contestacdes através do qual se produzem tanto os sentidos quanto os sujeitos que constituem 05 diferentes grupos sociais. Essa mudanga na conceituacao de cultura ampara-se na idéia de Hall (1997, p. 16) de que “os seres humanos sao seres interpretativos, instituidores de sentidos”, reafirmando, assim, que a “realidade” é uma proposigao explicativa, € uma interpretacdo que institui cédigos, siste- mas de significagao que dao sentido as nossas ages e as ages alheias. A esse conjunto de agées codificadas nomeamos de cultura, resultando que “toda a agdo social é cultural, que todas as praticas sociais expres- sam ou comunicam um significado e, neste sentido, sdo praticas de sig- a0 sean» sr nificagao” (Hall, 1997, p. 16). Desse modo, a nogio de cultura ultrapassa © dominio material, da atividade artificial da experiéncia humana para © dominio do simbélico de dar sentido, de construcao de significados Nao se quer dizer, aqui, que a cultura nao tenha sido em outros momen- tos reconhecida na sua dimensdo simbélica. O que se pretende é enfati- zat que ao se construir sentidos sobre as praticas os sujeitos produzem a cultura e a si mesmo, Ela é tomada como préticas sociais que, ao forja~ rem sentidos, ganham efeitos de verdade e instituem modos de viver, de ser, de compreender, de explicar a si mesmo e 0 mundo. Conforme Rosa Maria Bueno Fischer (2001, p. 25) Assumimos, com esse autor, uma concepgio bem ampla de cultura: cha- maremos de cultura 0 conjunto complexo e diferenciado de significagdes relativas aos varios setores da vida dos grupos sociais e das sociedades e por eles historicamente produzidas como as linguagens, a literatura, as artes, o cinema, a TV, 0 sistema de crencas, a filosofia, os sentidos dados 4s diferentes ages humanas, sejam estas relacionadas economia, & me- dicina, as praticas jurfdicas, e assim por diante. Em outras palavras, concebemos a cultura como constituidora de sujeitos, produtora de identidades e da relagéo com o outro. Mas a com- pteensdo dessas proposicdes sobre cultura s6 se torna possfvel se assui- mirmos a centralidade da linguagem como sistema produtor disso que chamamos “realidade”. A linguagem nao é unicamente um meio de exposicao. Falar equivale a construir 0 mundo, e o uso da linguagem sempre deve ser visto como uma forma de acao” (Iiguez, Hammouti e Martins, 2002, p. 136). O imbricamento das concepgées de cultura e lin- guagem remete A nogdo de um sistema codificador, produtor de senti- dos, nao como termo abstrato, mas sim como préticas cotidianas, orga- nizadas e vividas e que ndo agem especificamente sobre a vida, mas sobre os modos de viver, de se tornar o que se é. Bi preciso ter cuidado com essa definiggo de cultura, pois facilmen- te se escorrega em uma determinacao da mesma como reprodutora das relagdes sociais assimétricas e esta seré justamente uma das criticas fei- tas pelos estudos culturais as teorias de cunho marxista. Isso por com- preenderem que quando se fala de um sistema cultural, ndo se quer fazer aluso a uma superestrutura que determina e reproduz todas as RATICASCOIOIANAS E&MATURALZACHO m relages e praticas sociais, visto tratar-se de negociagao de sentidos' em um territ6rio de lutas e contestagdes pelos quais nos tornamos sujeitos. Cultura, entao, nao é reprodugao social nem tampouco relativa tinica e exclusivamente aos bens materiais; é, sim, producao de sentidos forja dos pela atividade humana. Desta forma, a cultura deve ser analisada no proprio contexto do qual emerge. Mas é importante atentar que a compreensao do contexto histérico ndo diz respeito a descrigao e andlise de fatos e acontecimentos e, sim, de como 0 campo social produz e mo- difica fatos e acontecimentos: como esse campo possibilita 0 apareci- mento destes e como passa a se falar sobre os mesmos, Assim, a cultura é correlata de determinados campos de saber (so- ciologia, antropologia...), cuja opera discursivas, ou seja, de formagdes discursivas que inventam as catego- rias das quais se ocupam. Pode-se dizer que o discurso cria os referentes, que possibilitam operar com a “realidade” sem tomé-la como represen- taco, mas marcadores em relacao aos quais os sujeitos passam a reco- ou diterir-se. Isso Lhes possibilita posicionar-se na rede discur- siva, constituir-se como sujeitos a partir daquilo que lhes interpela como sendo dito com respeito a si onalidade se da através de redes nhecer- A concepgao de discurso utilizada aqui se faz importante e se fun- damenta, principalmente, na formulacao foucaultiana desse conceito na qual este passa a ser considerado como pratica que forja os objetos dos quais fala, O discurso é, portanto, produtor de formas de inteligibilida- de, de proposigdes explicativas e de atos de significagdo que cria ou pos- sibilita o aparecimento de seus correlatos. Estes nao sao preexistentes, ndo sao naturais, so, antes de tudo, invengoes. Tais invengoes, tais ‘emergéncias de sentido do discurso, produzem-se segundo determina- dos cédigos e convengées, segundo um sistema de regras e condigdes de formulagaio que os colocam em jogo no campo social. Ao serem to- mados como legitimos, tais discursos passam a funcionar como regimes de verdade construindo o que tomamos por verdadeiro, also, cientifico, valido ete 4. Bhabha (1996) usa o temo negociagio para propor uma articulagio entre elementos dife rentes, mas sem entendé-Ios como antagonicos. a2 Sean son Se entendermos as préticas culturais como discursos, estes colocam em funcionamento um universo proprio de praticas de significacao que se insctevem nos sujeitos e se tornam discursivamente “reais”. Portanto, como esclarece Luiz Henrique Sacchi dos Santos (1997), é importante: Explicar como 0 discurso se faz carne, como 0 corpo incorpora/encarna as marcas de uma cultura. Ou ainda, como nos reconhecemos como su- jeitos de um determinado discurso sobre o corpo. Esse discurso nomeia, hierarquiza, atribui valores, distribui significados e, dessa forma, por aquilo que ele enuncia e por seus aparatos, imprime em cada um de nés modos de nos conhecermos (p. 85). Nesta direcao, os discursos que produzem uma determinada ado- lescéncia dizem respeito a possibilidade de determinadas verdades, tais como cabelo alisado, utilizagao de maconha, perda da virgindade, tor- narem-se referentes de classificagao de pertencimento ou nao a um gru- po. Forjam identidades a partir de marcadores que culturalmente pas~ sam a ser definidos como relevantes. Ao delimitar comportamentos, modos de ser e agir, os discursos estabelecem normas, padrées, instau- ram referenciais identitarios e, a0 mesmo tempo, afirmam e constituem aquilo que ¢ diferente a esta identidade, que nao é apenas o seu oposto, mas é tudo aquilo que nao esté incluido nesta referéncia. Esta dinamica de significacao e demarcaco de diferencas, central para as teorias pés- estruturalistas, seré fundamental no processo de construgao e constitu sao de identidades. Dito de outro modo, a medida que essa discursivi- dade encontra repercussdo no tecido social, ela alimenta praticas ¢ pro- duz sujeitos que passam a agir e reconhecer-se a partir de determinadas Posigées, tais como os “populares”, os “neutros” e os “excluidos”, con forme sugere a reportagem em questdo, embora possamos pensar em uma gama de outros modos de ser adolescente que nao ganham visibi- lidade na mesma. Tais marcadores identitarios delineiam-se a partir de rela poder que transversalizam a produgao cultural das diferencas. Tém 0 poder de definir identidades, marcar diferengas e estabelecer um pa- drao de normalidade ou referéncia. De acordo com Intiguez, Hammouti Martins (2002, p. 122): "Nas conformagées convencionais do mundo, certas agéncias sociais, certos agentes sociais, tem mais poder que os PRATICASCOTDIAIAS € A NTURALIAGKO ma outros”. Quando nos referimos a uns com mais poder do que outros, estamos nos referindo a possibilidade de persuasao, incitacao e legiti- magio de determinadas “verdades” por determinados grupos sociais. ‘As relacdes de poder estdo presentes nao apenas porque determinados adolescentes impdem mais determinados modos de ser, mas também porque estes (e seus outros) sdo provocados cotidianamente por discur- 0s que circulam na midia, como telenovelas e programas direcionados ao ptiblico jovem que sugerem como vestir-se, como viver, como falar ete., e que produzem os padroes do que é belo, do que é “cultuavel” Instituem os modos de ser jovem e as referéncias para adolescentes clas- sificarem-se e classificarem os outros em categorias que operam a partir da demareagéo de diferencas. As identidades so, portanto, forjadas a partir das diferencas e estas passam a instituir desigualdades, na medi- da em que os adolescentes adotam classificagées de pertencimento que incluem alguns e excluem outros: és, os populares, temos que acabar com esses exclufdos... To boba como tem gente que acha que a gente exclui vocés sem motivo... Os porqués da ‘exclusao normalmente so 0 fato de vocés serem patéticos, ridiculos, ba- nanas... € copiarem os populares. ‘Como se pode observar nas enunciagées dos adolescentes e do pré- prio jornal que publicou a reportagem, criam-se categorias sociais den- tro de um mesmo territério, ou seja, a luta por imposicdes de sentido da-se, neste caso, no interior de uma populagio de classe média, que freqiienta escolas privadas do municipio, As categorias que surgem — populares, neutros e exclufdos — marcam a diferenga entre os modos de ser e de viver, o que consumir, de que forma consumir, naturalizando essas marcas, de modo a criar segregagées dentro de um mesmo territé- rio, Naturalizam-se os populares, os exclufdos e os neutros (os outros) como se houvesse uma “esséncia” de cada um destes modos de se viver a adolescéncia, ou mesmo como se estes modos fossem os tinicos possiveis e 86 a partir deles os adolescentes pudessem constituir-se como tais. Nao se pode esquecer que os adolescentes sao interpelados cotidia- namente por pluralidades discursivas. Sao sentidos forjados pela midia, pela pedagogia, pela psicologia, pela medicina, pelo esporte, entre ou- tros produtos culturais, que atravessam os espacos em que estes adoles- m4 sri «sen centes circulam, tais como as escolas, as festas, os bares, a internet, os clubes, os shopping centers e a prépria familia. Existe, na contempora- neidade, uma intensificagao da quantidade e da velocidade com que as informagées circulam, em grande parte em fungao da rapidez.e global zaio dos meios de comunicago atuais ¢ da sofisticagao da tecnologia. De maneira muito veloz, sussurros tornam-se eventos e acontecimentos transformam vidas cotidianamente. Os jovens so tomados por e (re)produzem discursos sobre o que comer e como comer, o que vestir € como vestir, 0 que let, 0 que ouvir, que ver, com 0 que se interessar, como viver, enfim, constituindo um modo hegeménico de ser e de se entender a adolescéncia. O contemporaneo é marcado mais por uma série de prescrigées do que propriamente pela disciplina, mesmo que essas prescrigdes acabem por impor disciplinamento dos sujeitos quan- do pensamos que, muito cedo, meninos e meninas j4 se ocupam, por exemplo, de uma alimentacdo regrada, com valor nutricional elevado e baixas taxas de gordura etc. Porém, os efeitos e os sentidos destes discursos, e mesmo os pré- prios discursos, esto sempre em transformagao. A utilizagao da maco- nha e a perda da virgindade que nos anos sessenta ¢ setenta marcaram uma forma do que se nomeava de contracultura, atualmente se caracte- rizajustamente como um modo de tornar-se padronizado. As vestimentas hippies, que eram sinénimos de resisténcia aos valores capitalistas, hoje se encontram & venda em lojas de griffe e sto chamadas de hippie-chic. Além disso, esses dois vetores de subjetivagio: 0 uso da maconha entre outras substincias e a perda da virgindade, sio considerados por estes adolescentes como a mostra da falta de controle dos pais, o que acaba por recrudescer os investimentos pedagégicos, juridicos e psicolégicos nas familias, considerando-as como responsdveis pela formagao dos jovens. Dessa forma, algumas produgées culturais dos jovens, bem como da criagéo de determinadas classificagdes e formas de resisténcia, sa0 entendidas a partir da noo de cultura enquanto um territério de lutas e negociagdes de sentidos que implica, inevitavelmente, em relagdes de poder, compreendido como forca; um poder extensivo a todo o tecido social e as de formas de viver. Para aprender o poder como forca, ¢ importante consideré-lo como positivo, como produtivo, visto nao im- pedir a acdo alheia, mas, ao contrério, incité-la. Assim, para se falar em PRATICAS COTOIAAS Ex waTUeALZACAO cy poder como positividade ¢ indispensével que o “outro” sobre 0 qual 0 poder se exerce seja reconhecido como sujeito da acdo, pois é sobre essa possibilidade de acd que a outra ago incidiré. O estabelecimento de categorias como os populares, os neutros e os excluidos, nao deixa de constituir-se em formas de reconhecimento destas alteridades, ainda que fundadas em relacdes de desigualdades e nao apenas de diferencas. praticas culturais que constituem esses jovens adolescentes sao formas de dar sentidos em que se tenta fazer valer significados particulares, proprios de grupos sociais, sobre os significados de outros grupos, Praticas de significagao e a construgao de modos de viver que se observa na reportagem que tomamos para essa discussao sobre jovens adolescentes é, justamente, o que podemos chamar de uma tentativa de obliteracao da diferenca, na medida em que a classificacao por grupos a que se pertence tem como meta a caracterizagio do que vem a ser “popular”. AAs trés categorias — popular, excluido e neutro— sao criadas a partir de préticas cotidianas como: alisar o cabelo, perder a virgindade, fumar maconha, usar determinadas roupas que poderiam ser tomadas como possibilidade de produgao de diferenga, mas que aca- bam por estabelecer um referente do qual partem — o ser popular — mesmo nao o sendo. A classificagdo parte desses critérios e nao de ou- tros que marcariam justamente outras formas de produgao de si. Os marcadores identitérios, considerados critérios de pertencimento, recru- descem um proceso de normatizagio desses adolescentes: Eu tava observando: vocés nao conseguem parar de falar da gente nio?? A-C-O-R-D-E-M, seus excluidinhos... Vocés nao se enxergam? (...) O meu natural é de chapinha e unhas feitas e da‘? Algum problema? Patty é um estilo, uma maneira pink de ver a vidal! (..) Porque no fundo é o que vocé queria ter garota... (..) sua inveja é meu ibopell. Podemos, também, pensar sobre as politicas de identidade que nascem das lutas por imposigdes e negociagdes de sentidos. Ao se cons- truir sistemas de significado que pretendem expressar os modos de viver dos grupos de acordo com critérios ditos como reais, como mate- 16 rank «sme riais, como anteriores & experiéncia que se faz deles, essas classificagdes dos adolescentes categorizam os modos de viver como se estes fossem naturais: “0 colégio nao tem uniforme oficial, mas tem o uniforme dos alunos. Sea lider vern de chinelos de dedo num dia, no outro todo mun- do viré assim também, mesmo que ache ridiculo”. Essas imposicdes negociagbes de sentidos so muitas vezes desconsideradas ou ignora- das, na medida em que aquilo que é tido como “normal” e “natural” nao é percebido como construfdo pelos adolescentes, ao mesmo tempo em que os conforma. Isso, no entanto, ndo anula os movimentos de re- sisténcia. Assim, as politicas de identidades surgem neste cenério em que 0s adolescentes tentam impor determinadas praticas culturais como categorias universais, naturais e preestabelecidas. Desta forma, consis- tem nos processos de grupos sociais ¢ culturais como forma de resistén- cia em relagao a universalidade dos sentidos e as desigualdades sociais produzidas culturalmente pelos sistemas de significag4o que pretendem expressar 0 humano e 0 social em sua totalidade: “Acho que todos os exclufdos devem dar a volta por cima e fazer como eu fiz: levanto a cabeca e sigo em frente. Se houver pedras no caminho eu chuto e conti- nuo seguindo o meu caminho!”. Diante disso, podemos pensar as politicas de identidades como movimentos de contestagao que nao se fazem pelo igual, mas pela dife- renca, ndo sao lutas pela imposigao da supremacia de uma identidade, ou categorias, mas constituem-se justamente na diferenca, naquilo que no so, ndo em termos materiais, mas em termos discursivos (Guareschi, 2000). As diferencas nao implicam apenas ou necessariamente o fortale- cimento de uma ou outra identidade, o que resultaria na naturalizagao das mesmas, mas no continuo proceso de desestabilizagao dos marca- dores identitérios: abalam as identidades descentrando-as constantemen- te e engendrando novas posicdes de sujeitos, uma multiplicidade de posigdes que se articulam com o diferente, 0 que nos leva, também, a pensar a identidade nao como uma unicidade, idéntica, mas como flui- da e descontinua, Da mesma forma, nos leva a entender que nao existe ‘uma identidade de adolescente enquanto tinica ou fixa. Silvia Duschatzky e Carlos Skliar (2001), ao problematizar nossas formas de relagdo com a identidade e a diferenga, apresentam trés ver- ses discursivas sobre como 0 outro diferente tem sido tomado em nos- - RAICASCOTIOIANAS €&HATURALIAGHO 3 sa sociedade: como fonte de todo mal, como sujeito pleno de um grupo cultural ou como alguém a tolerar. © primeiro sentido, 0 outro como fonte de todo mal (ou de todo bem), implica tomar as identidades como fixas, centradas, homogéneas e estdveis, e opera uma légica de binarismos, ou seja, o que ndo é bom é mau, o que nao é popular é excluido, 0 que nao é negro é branco, 0 que nao é homem é mulher. A segunda forma, o outro como sujeito pleno de uma marea cultural indi ca uma concepgao em que as diferencas culturais sao absolutas e as iden- tidades constroem-se em referenciais tinicos, sejam étnicos, de género, de raga, de classe social, entre outros. A terceira forma de tomar 0 outro, que os autores chamam de “o outro como alguém a tolerar”, é uma ver- sdo que por vezes obscurece que as culturas “sao lugares de sentido e de controle”, que a tolerancia “pode materializar a morte do vinculo social sempre conflitivo”. “A tolerancia despoja os sujeitos da responsabilida- de ética frente ao social e libera o Estado da responsabilidade institucio- nal de encarregar-se da realizacdo dos direitos sociais” (Duschatzky e Skliar, 2001, pp. 135-136). Em relagao ao primeiro modo de posicionarmos 0 outro, fonte de todo bem ou todo mal, podemos pensar que tanto os adolescentes po- pulares quanto os exclufdos podem ser posicionados como fonte de todo bem ou de todo mal. Esse proceso de marcago de identidades fixas pelas préticas cotidianas em relacdo ao grupo dos populares e excluidos € apontado por uma menina de 15 anos entrevistada da reportagem: Sempre fiz parte da turma dos conhecidos, porque sempre fui diferente. ‘Sempre tive algo para chamar a atencio, porque sempre tive necessidade de chamar a atencao. Existe, sim, isso de ser popular, porque se tu andar em um colégio sempre vai ter a turma dos excluidos. Desta forma, o que € diferente aos bindrios é também 0 que nao faz parte da maioria e a maioria é homogeneizada, pertence ao que ¢ igual or ser idéntica Se pensarmos a partir da segunda verso proposta por Duschatzky Skliar, veremos que as categorias populares e exclufdos sao formas de caracterizacao de um sujeito pleno na medida em que se utilizam de um referencial tinico, tal como as vestimentas e 0 comportamento. Ou seja, - ne stank som © outro, tanto no caso do exclufdo quanto do popular, conformado a partir do que veste e dos modos de viver: transar, fumar maconha, ma- tar aula, consideradas diferencas absolutas que definem 0 outro em sua suposta totalidade. “A radicalizagio desta postura levaria a exagerar a identidade do outro ou a encerré-la em pura diferenca. Desse modo, permaneceriam invisiveis as relagdes de poder e conflito e se dissolve- riam os lagos de vinculagao entre sujeitos e grupos sociais” (Duschatzky e Skliar, 2001, p. 128). A terceira forma de tomar o outro ganha visibilidade pela afirma- Gao de que os neutros so aqueles que “nao despertam nem desprezo nem admiragao”. Neste caso, a categoria neutro é tanto um grupo que é tolerado pelo popular quanto um grupo que tolera os outros. Para ser neutro o adolescente deve chamar a menor atengao possivel, a diferenga nao deve ser uma marca, pois no momento em que esta se torna fonte de ocupagao, deixa de ser neutro e tolerado, para tornar-se exclufdo ou popular. Porém, como o referente é 0 popular, mesmo 0 neutro sendo tolerado e tolerando os outros, ha sempre a iminéncia de deixar de ser o que é para tornar-se popular ou excluido, pois, como é escrito na repor- tagem: “A divisao de castas é dinamica” De acordo com Duschatzky e Skliar As culturas nao sao esséncias, identidades fechadas que permanecem através dos tempos, mas sao lugares de sentido e de controle que podem alterar-se e ampliar-se em suas diferentes interagdes. Algumas culturas podem ser exclucentes. Desta forma a tolerancia pode debilitar a capaci- dade de perceber as diferencas discursivas e mascarar as desigualdades (2001, p. 135). Assim, a tolerancia esté associada ao ato de aceitar o quase inacei- tavel; € uma condicao limite. Como o neutro, o popular também é uma condigao de limite na medida em que pode deixar de sé-lo a qualquer momento mediante determinadas préticas que o tornem excluido ou neutro. A tolerancia é uma concessao e s6 a concede quem exerce 0 po- der de tolerar. As categorias criadas pelos jovens nas escolas, na inter- net, nas festas ou em outros espagos em que circulam, acabam por legi- timar determinados grupos como aqueles que ditam modas e regras, 0 que Ihes cabe decidir quem é uma coisa ou outra, quem deve ser tolera- PRATICASCOTIOIANAS €& NATURAL as do ou ndo. Isso nao é uma especificidade de adolescentes que nao tém limites por terem pais ou maes ausentes, mas, antes de tudo, de um grupo social que é interpelado pela “necessidade” de consumo e acesso a determinados bens culturais e sociais que marcam os sujeitos e seus modos de viver. Por exemplo, nos anos sessenta e setenta, liberdade era ter uma calga azul desbotada como anunciava o jingle de uma propa- ganda de jeans. J4 nos anos noventa, liberdade era transar até o final do ensino médio e usar roupas de determinadas grifes. Os sujeitos so pro- duzidos por aquilo que vestem, comem, sentem, desejam, ou, como co- loca Zygmunt Bauman (2001), ser sujeito hoje € consumir, Outro aspecto da reportagem em questao é a forma como apresen- ta os modos pelos quais os discursos pedagégicos e psicolégicos mar- cam os populares e excluidos: Para os especialistas, € facil identificar quem s4o os adolescentes com mais chances de se tornar vitimas da turma: os timidos, os de baixa auto- estima, os que nao se destacam em nenhuma érea e tém pais ausentes — principalmente a figura paterna. Nesse contexto 0 adolescente fica s0zi ho e sem limites. Ou, segundo a avaliagao de outra especialista (..) no consultério jé passaram diferentes pacientes com histérias muito pareciclas — gurias de 15 anos, com um hist6rico de mais de uma dezena de parceiros, algumas tendo, inclusive, experimentado drogas. ‘As enunciagoes sobre educagao e controle que recaem sobre os ado- lescentes e dizem respeito também a forma dos pais e maes lidarem com isso, remetem a prescrigdes de especialistas de como as familias devem responsabilizar-se pelos cuidados/educacao de seus filhos: “Com pai e mde atentos e por perto, o jovem se sente mais seguro para ser ele mes- mo, sem necessidade de imitar ninguém”. Ou: “Ha adolescentes que tém pais presentes e planos para o futuro”, Desse modo, ser popular ou ser excluido também diz respeito ao modo como os pais se relacionam. com os filhos. Estes também passam a ser considerados os responsdveis por essas categorizacdes, como explicita a fala de uma menina de 15 anos: “Mas os pais nao tém controle de nada, os meus nunca vao ter. Pai € mae nao impoem mais respeito, nao sabem educar” uo sri «sve As prescrig6es que aparecem na reportagem nao dizem respeito apenas aos Essas questées so ainda reforcadas pela producio, da reportagem, de um quadro onde indica aconselhamentos para os pais e maes: jovens, mas também aos seus pais e maes, como ja dissemos, (..) nao se esquive da tarefa de acordar de madrugada para buscar seu filho nas festas e faga questo de que ele receba os amigos em casa; fique atento se, de uma hora para outra, 0 adolescente trocar o melhor amigo de infancia por outro; repare se 0 adolescente mudar de repente o jeito de vestir; fique atento se seu filho comecar a se irritar por nada, perder 0 apetite, ou comer em demasia; jovens podem superar frustraco; seja ‘companheiro; incentive seu filho a buscar atividades que The déem pra- zer e reconhecimento. Aos adolescentes prescreve-se uma dietética para deixar de ser ex- cluido que, segundo a reportagem, segue as seguintes regras: (..) vestir roupas das marcas de moda, respeitando os cédigos do que é certo e errado. Hé regra até para o comprimento da calga — o salto do tamanco das meninas (comprado em uma das lojas de sapato mais caras) nao deve aparecer; matar aula para ficar paquerando ou batendo papo ‘com os amigos; desafiar os professores ¢ debochar dos colegas — vale humilhar e ofender; namorar ou ficar com alguém popular; ficar com muiitos caras ou muitas gurias em uma mesma festa; tomar porre na fes- ta; usar drogas, se essa for uma prética da turma. Ao se entender que os comportamentos dos adolescentes aconte- cam devido a auséncia de uma referéncia familiar articulam-se enunciagdes do campo da psicologia que alertam para o fato de os ado- lescentes voltarem-se de sobremaneira para seus grupos e passarem a reproduzir determinados comportamentos. Esses discursos acabam por incitar a forma como esses adolescentes pensam a respeito de si mesmo edo outro, marcando seus corpos e modos de vida. “Todo mundo fuma bebe para ser aceito” ndo é uma enunciacao do adolescente, mas da- quilo que se constitui como sendo o adolescente e a adolescente do gru- po popular. Retomando, entio, uma das propostas inicialmente apresentadas neste trabalho, proponho que possamos discutir como construgées, como PHATICAS COTBIANAS EA NATURALIAGAO ma. a destas categorias de adolescentes, mas nao apenas estas, na medida em que cotidianamente estamos construindo uma infinidade de outras formas de classificagao, podem, ao naturalizarem-se, alimentar relagbes, de desigualdade (Hiining, 2003). Digo isso porque, quando essenciali- zamos as categorias identitérias ou as diferengas, tornamos invisfveis as condigées de emergéncia das mesmas, as relagbes de poder que se dao no campo da cultura, implicadas na constituigdo das mesmas. Ao naturalizé-las, destituimos os sujeitos clasificados, ou diminufmos suas possibilidades de aco. Universalizamos marcadores identitérios e re- duzimos os sujeitos a esses marcadores. Assim, tendemos a engessé-los em determinadas posigées ¢ a instituir ou reafirmar relagdes assimétri- cas. Essa problematizacao deve estar presente em nossas reflexes para nao cairmos na ingenuidade de acreditarmos que se trabalhamos, dis- cutimos ou, as vezes, apenas mencionamos a diferenca, estamos pro- movendo 0 “empoderamento” dos sujeitos sobre os quais falamos. Pelo contrério, é pelos modos como tomamos a questo da diferenca e das identidades que criamos ou barramos as possibilidades de acéo dos su- jeitos, instituimos ou transformamos as relagdes de desigualdade social. Portanto, nao se trata de pensar que esta demarcagio de identidades/ diferencas seja boa ou ruim, mas de que se dé por relagdes politicas, relagdes de poder, ou seja, pelas politicas de identidade, em préticas cotidianas que constituem sujeitos ao mesmo tempo em que redefinem tais marcadores. Referéncias bibliograficas BAUMAN, Z. (2001). Modernidade liquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. BHABHA, Homi K. (1998). 0 focal da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, DUSCHATZKY, 8. & SKLIAR, C. (2001). O nome dos outros. Narrando a alte- ridade na cultura e na educagao. In Larrosa, J. & Skliar, C. (orgs.) Hlabi- antes de Babel: politicas e poéticas da diferenca. Belo Horizonte: Auténtica FISCHER, R. (2001). Televisto & educagéo: fruir e pensar a TV. Belo Horizonte: THI, N. (2000). Politcas de iddentidade: novos enfoques e novos de- safios para a psicologia social. Psicologia ¢ Sociedade, 12, 110-124 _ 1 Shin sete HALL $. (1997). A centralidade da cultura: notas sobre as revalucées do nosso tempo. Edueagio & Realdade, 22 2), 15-46. HUNING, S. M. (2003). Ordindrio marche! A constituigdo ¢ 0 governo de criangas} aolescentes pelo rsco-iferenca. Dissertagio de mestrado. Programa de Pos- ‘graduago em Psicologia, Pontificia Universidade Catblica do Rio Gran- de do Sul, Porto Alegre, Brasil EZ, L.; HAMMOUTI, N. & MARTINS, J.B. (orgs.) (2002). Temas em and lise institucional e em construcionismo social, S80 Carlos: Rima, SANTOS, L. H. dos (1997). “Um preto mais elarinho...” ou dos discursos que se dobram nos corpos produzindo 0 que somos. Educagio & Realidade, 22 (2), 81-115 VEIGA-NETO, A. (1996). Othares...In Costa, M. (org,) Caminhos investigative. Porto Alegre: Mediacio. INIG See 0 7 A violéncia: génese, manipulagao e ocultamento social Fernando Luis Gonzdlez Rey Introdugao No presente trabalho, que teve por base um estudo da forma em que a violéncia se apresentava no jornal O Povo de Fortaleza, publicado na semana de 8 a 14 de dezembro de 2003, e que foi a base de minha contribuigéo para a discussao do Grupo de Trabalho sobre Cotidiano e Praticas Sociais, realizada no X Encontro Nacional da ANPEPP, preten- do debater o tema da violéncia através das representacdes e discursos dominantes no cotidiano, que se recriam e reforcam de forma perma- nente pela imprensa, que representa 0 meio analisado no trabalho como momento de didlogo com as consideragées tedricas que apresentamos nele. Além disso, pretendo fazer uma discussao acerca da violéncia que permita conhecer sua dimensao de sentido subjetivo na complexa dialé- tica entre 0 funcionamento da subjetividade social e as formas diferen- ciadas em que esta se expressa na subjetividade individual. Para realizar a discussao deste problema optou-se pela perspectiva complexa da subjetividade, a qual parte de uma compreensio hist6rico-

You might also like