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12998 Honix. Babe “Tau eiginal The Locarin f Culture ‘uslquer elo som autorzagao ere donor Bhablis, Homi 35751 (cal da cura / Homi Kaha Belo Hovorte: Fd URNG, 1958 24 p. Celeste Humanitas “adapta de: The Lacaton of Culture cp: 620 eu: a0 (aislogeeio na Planet © Isonsa5.7041156-4 -EDITORACAO DE TEXTO ProjerocrARCO clan Gp ange PRoDUGAO GRAriCA ‘avec Bleo| Fouiaragao i cats, 8 sal 405 "tals O30 5.008 elon: Fanlaco Csr de Su Bareso Viera Ana ch Alta Goma (ules Antnio et Bando, Hetor Caputo Fh, Heloisa Maria Mung ensign Svan Aaa nod = ‘oui d Goma Rocha, Rome 0 COMPROMISSO COM A TEORIA I Existe uma pressuposigao prejudicial e autodestrutiva de que a teoria € necessariamente a linguagem de elite dos que sto privilegiados social e culturalmente. Diz-se que o lugar do critico zeadémico é inevitavelmente dentro dos arquivos eurocéntricos de um ocidente imperialista ou neocolonial. Os dominios olimpicos do que € erroneamente rotulado como "teoria pura” sio tidos como etemamente isolados das exigéncias e tragédias histéricas dos condenados da terra. Ser preciso sempre pola para polemizar? Estaremos presos a uma politica de combate ond a representaco dos antagonismos sociais e contradigoes hist6ricas nao podem tomar outra forma send 2 do binarismo teoria versus politica? Pode a meta da liberdade de conhecimento centro imagem negativa ¢ imagem positiva? Ser4 que nossa tinica safda de tal dualismo € a adogio de uma oposicionalidade implacdvel ou a invencao de um contra-mito originario da puceza radical? Deverd o projeto de nossa estética liberacionista ser para sempre parte de uma visio ut6pica totalizante do Ser e da Hist6ri que tenta transcender as contradigées © ambivaléncias que constituem a propria estrutura da subjetivicade humana e seus, sistemas de representag2o cultura? Entre 0 que € representado como “furto” ¢ distorgio da “metateorizacao" européia € a experiencia radical, engajada, ativista da criatividade do Terceiro Mundo," pode-se ver uma imagem especular (embora invertida em conteiido ¢ inten- gio) daquela polaridade a-hist6rica do século dezenove entre Oriente e Ocidente que, em nome do progresso, desen- cadeou as ideologias imperialistas, de cariter exclu eu e do outro. Desta vez, © termo “teoria critica’, getalmente no teorizado nem discutido, é definitivamente 0 Outro, uma alteridade que é insistentemente identificada com as divaga- ges do critica euracéntrico despolitizado. E possivel que a causa da arte e da critica radicais seja melhor defendida, por exemplo, por um inflamado professor de cinema que anuncia, em um ponto crucial do argumento: "Nao somos artistas, somos ativistas politicos?” Ao obscurecer o poder de sua propria pratica na rei6rica da militancia, ele deixa de chamar atengaio para o valor especifico de uma politica de produgio c como esta faz das superficies da significagao cinematica as bases da intervengao politica, ela d4 profundidade a lin- guagem da critica social e estende o dominio da *politica” em uma diregao que nao sera inteiramente dominada pelas forcas do controle econdmico ou social. As formas de rebelido e mobilizagao popular sio frequentemente mais subversivas e transgressivas quando ctiadas através de pritticas cuulturats oposicionais. ‘Antes que eu seja acusado de voluntarismo burgués, prag- matismo liberal, pluralismo academicista ¢ de todos os demais sismos” sacados a torto € a direito por aqueles que se opdem da forma mais severa a0 teoricismo “eurocéntrico” (derridea- nismo, lacanianismo, pés-estruturalismo...), gostaria de esclarecer os objetivos de minhas quest6es iniciais. Estow convencido que, na linguagem da economia politica, € leiti- mo tepresentar as relacdes de exploraco e dominagio na divisio discursiva entre Primeiro e Terceiro Mundo, entre Norte e Sul. Apesar da alegacdes de uma ret6rica espiria de "inter nacionalismo” por parte das multinacionais estabelecidas ¢ redes de inditistrias da tecnologia de novas comunicagdes, as circulagées de signos € bens que existem fica presas nos circuitos viciosos do superdvit que ligam 0 capital do Primeiro Mundo aos mercados de trabalho do Terceiro Mundo através das cadeias da divisio internacional do trabalho e das diversas classes nacionais de intermediérios [comprador] Gayatri Spivak esta certa ao concluir que € “para o bem do I preservar 0 teatro dos intermedidrios em um estado de lagio trabalhista regulamentagto ambiental relativamente primitivas”* Estou igualmente convencido de que, na linguagem da diplomacia internacional, hé um crescimento agudo de um 4“ | | | nove nacionalismo anglo-americano que cada vez mais anticula seu poder econdmico e militar em atos politicos que expressam um descaso neo-imperialista pela independéncia € autonomia de povos ¢ locais no Terceiro Mundo. Convém lem- brar que a politica de “quintal" da América com relagao a0 Caribe € A América Latina, 0 coagulo patriético e o eédice patricio da campanha britinica das ilhas Falkland ou, mais recentemente, triunfalismo das forcas americanas € bri- Vanicas durante a Guerra do Golfo. Estou ainda convencido de que essa dominag2o econémica ¢ politica tem uma pro- funda influéncia hegeménica sobre as ordens de informacao do mundo ocidental, sua midia popular ¢ suas instituigdes académicos especializados. Até ai, nenhuma davida. (© que exige maior discussio é se as "novas” linguagens da critica te6rica (semistica, pos-estruturalista, desconstrucionista © as demais) simplesmente refletem aquelas divisdes geopo- liticas € suas esferas de influéncia. Serio os interesses da teoria "ocidental” necessariamente coniventes com © papel hegeménico do Ocidente como bloco de poder? Nao passard a linguagem da teoria de mais um estratagema da elite ociden- tal culturalmente privilegiada para produzir um discurso do Outro que reforga sua propria equaclo conhecimento-poder? Um grande festival de cinema no Ocidente — mesmo um evento alternativo ou contracultural como 0 Congresso do “Terceiro Cinema” de Edimburgo — nunca deixa de revelar a influéncia desproporcional do Ocidente como fSrum cultural, em todos os trés sentidos da palavra: como lugar de exibicao e discussio publica, como lugar de julgamento ¢ como lugar de mercado. Um filme indiano sobre as agruras dos sem-teto de Bombaim ganha o Festival de Newcastle, 0 que entao abre possibilidades de ampla distribuigao na india. A primeira cobertura intensiva do desastre de Bhopal € feita para o Quatro. Um debate extenso sobre as politicas e @ do Terceiro Cinema aparece pela primeira vez em Screen, ado pelo British Film Institute. Um artigo de arquivo sobre a importante histéria do neotradicionalismo ¢ do “popular” no cinema indiano vem & luz em Frameworks Entre os principais colaboradores para o desenvolvimento do Terceiro Cinema como preceito ¢ pritica esto diversos 4s a cineastas criticos que sao exi jos no Ocidente e vivem de forma problematica, freqilentemente perigosa, as margens “esquerdas’ de uma cultura liberal eurocéntrica e burguesa. Nao acho necessirio acrescentar nomes’ou lugares individuais ou detalhar as razdes hist6ricas pelas quais o Ocidente carrega e explora o que Bourdieu denominaria seu capital simbélico. Esta situacdo é por demais familiar; além disso, nfo meu objetivo aqui estabelecer as importantes distingbes entre diferentes situagdes nacionais € as variadas causas politicas € hist6rias col cultural. Quero me situar nas margens deslizantes do deslo- camento cultural — isto torna confuso qualquer sentido profundo ou “auténtico” de cultura “nacional” ou de intelec- tual “orginico” — e perguntar qual poderia ser a fungio de uma perspectiva tedrica comprometida, uma vez que o hi- bridismo cultural ¢ histérico do mundo pés-colonial é tomado ‘como lugar paradigmitico de partida. Comprometida com 0 qué? Neste estégio da argumentacio no quero identificar nenhum “objeto” especifico de lealda- de politica — 0 Terceiro Mundo, a classe trabalhadora, a luta feminista. Embora tal objetificagio da atividade politica seja crucial e deva embasar de forma significativa 0 debate politico, ela nfo é a Gnica opgio para aqueles criticos ou intelectuais que estio comprometidos com a mudanga politica progressiva em diregao a uma sociedade socialista. # um sinal de matu- ridade politica aceitar que haja muitas formas dle escrita politica jos diferentes efeitos s2o obscurecidos quando se distin- gue entre 0 “te6rico” e 0 “ativista”. Isso nao sig panfleto utilizado na organizagao de uma greve seja pobre em teoria, 20 passo que um artigo especulativo sobre a teoria da ideologia deva ter mais exemplos ov aplicagées pra cas. Ambos sfo formas de discurso ¢ nessa medida produzem, mais do que refletem, seus objetos de refer8ncia. A diferenca entre eles esté em suas qualidades operacionais. © panfleto tem um propésito expositério e organizacional especifico, temporalmente preso 20 acontecimento; 4 teoria da ideolo- gia dé sua contribuigao para as idéias € principios politicos estabelecidos em que se baseia o direito greve. O dltimo aspecto nao justifica o primeira € nem o precede necessaria- mente. Eles existem Indo a lado — um tornando o outro possivel — como a frente € 0 verso de uma folha de papel, para usar uma analogia semidtica comum no incomum con- texto da politica Minha preocupagio aqui € com o processo de “intervir ideologicamente”, como Stuart Hall descreve o papel do *ima- ginar” ou da representagio na pritica da politica em sua reagio & elei¢ao britinica de 1987.‘ Para Hall, a nogio de hegemonia implica uma politica de identificagdo do imagi- nario, Esta ocupa um espaco discursivo que nao € delimitado exclusivamente pela histéria da direita ¢ nem pela da esquerda. Ela existe de certo modo no intervalo entre essas polaridades politicas e também entre as divisdes comuns entre teoria e pritica politica. Esta abordagem, na leitura que dela fago, coloca-nos diante de um momento, ou movimento, empolgante e negligenciado no “reconhecimento” da relag2o da politica com a teoria, assim como confunde a divisio tradicional entre elas. Tal movimento é iniciado ao vermos que aquela relacao € determinada pela regra da materia- dade repetivel, que Foucault descreve como o pracesso pelo qual as afirmagdes de uma instituigo podem ser transcritas no discurso de outra’ Apesar dos esquemas de uso € aplicagio que constituem um campo de estabilizagio para a afirmativa, qualquer mudanga nas condigdes de uso e reinvestimento da afirmativa, qualquer alteragfo em seu campo de experiéncia ou comprovagio, ou, na verdade, qualquer diferenca nos pro- blemas a serem resolvidos, pode levar 4 emergéncia de uma nova afirmativa: a diferenga do mesmo. Em que formas hibridas, portanto, poder emergir uma politica da afirmativa teérica? Que tensdes e ambivaléncias marcam esse lugar enigmatico de onde fala a teoria? Falando em nome de alguma conira-autoricade ou do horizonte do “verdadeiro” (no sentido foucaultiano dos efcitos estratégicos de qualquer aparato ou dispositif), o empreendimento teérico tem de representar a autoridade antagénica (do poder e/ou conhecimento) que, em um gesto duplamente inscrito, tenta simultaneamente subverter e substituir. Nessa complicada formulacio tentei indicar algo da fronteira ¢ do local do evento da critica tedrica que no contém a verdade (em ‘oposic¢ao polar ao totalitarismo, ao “liberalismo burgués” ou a0 que quer que se suponha ser capaz de reprimi-la). a

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