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Conto de Sereia

por Patrick Correa Pereira

era uma vez num lugar muito, muito distante daqui... numa terra longínqua habitada por fadas e
gigantes onde a magia da vida podia ser sentida no ar...

a brisa do vento soprava lentamente trazendo consigo o calor do sol e o frescor temperado do
mar...

um arco-íris sem fim reluzia no horizonte...

um dia um peregrino vindo de pradarias sem fim em busca de um pote de ouro no fim do arco-íris
acabou esbarrando naquela terra encantada...

encontrou um mago e lhe contou de onde vinha e o que buscava...

o mago muito sábio logo percebeu que aquele jovem peregrino desperdiçara anos de sua vida em
busca de algo que não lhe traria alegria. assim sendo em sua imensa sabedoria resolveu ajudar
aquele peregrino perdido...

enviou-o para uma lagoa que se formava toda a vez que a maré do mar se enchia em noite de lua
cheia e deu instruções detalhadas ao jovem...

disse que deveria aguardar no lago e fazer de lá morada, até a próxima lua cheia quando o lago se
encheria por completo...

quando o jovem ouvisse um doce canto deveria segui-lo sem titubear e ao encontrar o canto
descobriria o caminho do tesouro mais precioso que um homem poderia encontrar no mundo
todo...

o jovem ficou extremamente empolgado com a revelação do sábio mago e seguiu seu caminho tão
logo pôde...

chegou no lago e lá ficou acampado por sete dias quando finalmente a lua cheia chegou e o lago
se encheu...

ansioso aguardou o doce canto o qual deveria seguir... mas seu aguardo parecia em vão e acabou
por cair num sono profundo...

torpe daquele sono despertou ouvindo um doce canto que parecia enfeitiçar o mais profundo
recôndito de sua alma...

seguiu o canto por entre as rochas e de cima de uma grande formação rochosa contemplou a
origem daquele canto mágico...

uma bela sereia estava na margem do lago a cantar para lua, enquanto aquele luar prateado
desenhava toda sua beleza naquela noite ímpar sobre o balançar das águas...

o jovem peregrino sentiu seu corpo tremer... seu coração disparou como o galopar de um mustang
selvagem em pradarias sem fim e sentiu algo que jamais sentira em toda sua vida...

era um misto de medo e torpor, alegria e talvez algo que jamais conhecera, mas ouvira muito
falar... AMOR...
quando deu-se por si o sol lhe cegava os olhos, enquanto ele despertava muito cansado...

não sabia ao certo se havia sonhado ou não...

que loucura, pensou consigo mesmo...

por fim mais uma noite chegou e o evento se repetiu...

então ele percebeu que não era um sonho, mas que estava completamente enfeitiçado pelo
encanto da sereia...

noite após noite o evento se repetia e ele não tinha coragem de se apresentar à sereia... o jovem
peregrino morria de medo do que poderia acontecer, afinal tudo aquilo lhe era um grandioso
mistério...

porém não havia mistério mais doce que aquele...

o fim da lua cheia se aproximava, a lagoa se esvaziaria e ele sabia que talvez jamais pudesse
tornar a vê-la...

o que seria do seu viver se jamais pudesse contemplar aquilo que se tornará o motivo de sua
existência???

planejou durante todo o dia o que faria, como se aproximaria e o que diria...

caminhou pelas campinas daquela terra durante todo o dia em busca do que julgava ser uma flor
de beleza incomum e rara; tão perfeita quanto o objeto do seu amor, sua bela sereia...

vislumbrou uma flor tão linda quanto o brilho do arco-íris... julgou ser a coisa mais linda que vira em
toda sua vida, com exceção da sua linda sereia...

porém a flor encontrava-se num penhasco e o jovem peregrino teve que fazer uma escalada
arriscada para conseguir colher o que julgava ser o presente especial para sua amada....

após uma arriscada escalada que lhe custou vários cortes, arranhões e quase a vida; finalmente
estava em posse do presente perfeito...

o que lhe fazia sentir agora apto a declarar seu infinito amor a sua sereia encantada...

aquela noite parecia não chegar nunca... as horas da tarde jamais pareceram ser tão longas como
as daquele dia... a ansiedade lhe torturava a alma....

finalmente o cair da noite chegou...

seu coração batia como uma locomotiva desenfreada...

contemplou mais uma vez aquele lindo quadro onde a lua parecia derramar-se para simplesmente
cobrir a sereia encantada com aquele véu luminoso... envolvendo a dona do seu coração com um
vestido adornado de encanto e magia, como uma noiva aguardando o seu desposar...

ainda que com o temor da morte sobre ele, o amor que sentia era mais forte...

respirou fundo e aproximou-se da linda sereia....


enquanto ela cantava uma doce melodia que poderia acalmar o mais perturbado dos corações, ele
chegou... a apenas dois passos de sua amada ele estava...

não ousou interromper seu canto...

e quando ela finalmente findou sua melodia encantada virou-se para ele, fitou-lhe com os olhos e
sorriu como se o aguardasse a vida toda...

ele, em meio a uma voz embarga e tímida tentou dizer "esta flor é para você"

ela acolheu a flor com suas delicadas mãos e disse " que linda! muito obrigada gentil peregrino.
porque demoraste tanto. pensei que jamais viria."

"você me conhece? Você estava me esperando?" disse ele

“o mago destas terras a quem conheci há mais de sete primaveras, contou-me que
todas as noites de lua cheia eu deveria me chegar a esta lagoa que se formava com a
maré e aqui deixar meu coração cantar por quem ele ansioso desejava encontrar...”

“desde aquele dia todas as noites de lua cheia eu estou aqui nesta lagoa solitária
aguardando o amor, aguardando que meu amado atenda os clamores do meu
coração...”

"tenho lhe observado há dias desde a lua cheia. sempre aguardando você se aproximar. cantei
para você todas as noites e você parecia me ignorar"

o jovem peregrino ficou estupefato e não sabia o que dizer...

pensou em declarar todo o amor do seu coração. mas achou melhor antes saber quem era afinal
aquela que exercia tamanho encanto e fascínio sobre seu viver...

"quem é você?" disse ele

"eu sou sua amada, aquela que te esperou a vida toda. eu sou seu tesouro mais precioso, o
tesouro que você perseguiu a vida toda...”

sentenciado aquele sentimento o peregrino estava. ele não podia negar a chama que lhe saltava o
coração e o aquecia dando-lhe vida. pensou que o tesouro que perseguira a vida toda preencheria
todo o vazio do seu viver. mas agora ali diante do maior tesouro que um homem pode adquirir no
mundo, o coração de uma donzela, o amor...

percebeu que sua solidão encontrara abrigo e sua jornada um fim. com lágrimas incontidas nos
olhos, que revelavam a mais poderosa paixão ele disse...

“sim, sim você é...”

e nunca mais por aquelas distantes pradarias ouviu-se falar de um peregrino solitário em busca de
um pote de ouro. ou de uma sereia encantada a cantar solitária em noites de lua cheia...

...FIM...

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