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OBRAS DE MALBA TAHAN MALBA TAHAN A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR. SOR EA VIDA. MODERNA, Editéra Saraiva (Sio Paulo): ANTOLOGIA DA MATEMATICA (2 volumes) — 24 edicto. DIDATICA DA’ MATEMATICA (2 volumes). — 2° edicl. MATEMATICA DIVERTIDAE DELIRANTE — 3. edicto, A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR MATEMATICA RECREATIVA. (2. volumes) "PROBLEMA Das. DBFINICOES EM MATEMATICA. ‘A LOGICA NA MATEMAT LENDAS DO. BOM RABL OU TERCEIRO. MOTIVO. ‘ESTRELA DOS REIS MAGOS. Conquista, Emprésa de Publicagées Ltda. (Rio): ‘A ARTE DE LER E CONTAR HISTORIAS — 4% edisio, A CAIXA'DO FUTURO — 4 edi. . Em Inglés AMIGOS: MARAVILHOSOS — "48 edicto. A’SONBRA DO ARCO-TRIS (3 ‘yolumes) AVENTURAS. DO REI BARIBR — 7" edigio. CRU Dy ALLAH — 138 edie, TENDAS ‘DOCEU 8 DA TERRA. LENDAS DO DESERTO — 10 edigio, LENDAS DO _POVO DE DEUS — 3. edicto MAKTUB USTAVA ESCRITO) — 13 ediclo MIL HISTORIAS SEM FIM (2 volumes)" 9 eds MINHA VIDA QUERIDA — 15? edisto. NOVAS LENDAS ORIENTAIS — 2" dio, © GUIA CARAJA — 3." edlcta © HOMEM QUE CALCULAVA’— 22 edicto ‘igo, SOB 0 OLHAR DE DEUS — 128 edigao, 178 edigio, * edigto. Em Castelhano: EL HOMBRE QUE CALCULABA — Fd, Coppers, Montevidéa. MAKTUBI (The Book of Deniar) — Charles Frank Publications, Inc. | DIABRURAS DA MATEMATICA, | | | | | Para conseguir « grandesa de umn, po- vo aio wecetarion, antes de tudo, Bont metres Coveueto SaNcitez, BUCHON Pedugoeia, Rio, 1958, pas. 158. Se existe profisszo que extia voeasd0 profmda ¢ 4'do mestre © educador. Gone (KERscuENSTHINER In Bscole Secmdaria, M-E-C., pag. 1S. Onpane a: palacras 05 que sém owsidor: post gue 0 titume verd sompre 0 primero EPS cbemadon, poucor sds eicotbuts. Track Ds SOUZA TRLLIS Palavrat que nan morren, Rio, 1963,"pas. 76. CASA EDITORA VECCHI LTDA. Rua do Resende, M4 — Rio de Janciro L602 TT )28 av 1 OBRAS DO PROF. MELLO E SOUZA MATEMATICA FACIL B ATRAENTR. (Es) HISTOMIAS F FANTASIAS DA MATEMATICA (Tss.). MATEMATICA DIVERTIDA E CURIOSA (Fss.). MATEMATICA DIVERTIDA B FABULOSA (Ese), MATEMATICA DIVERTIDA E PITORESCA (Esa) MATEMATICA DIVERTIDA E DIFERENTE (Esg.) MATEMATICA SUAVE E DIVERTIDA (Ess.) DIABRURAS DA. MATEMATICA. DICIONARIO DA MATEMATICA — 1.7 vol — A ¢ 8. DICIONARIO DA MATEMATICA — 2° vol — C.D, Be O BOM CAMINHO (Leieita Moral © Religioa). GEOMETRIA ANALITICA — 1 vol GEOMETRIA ANALITICA — 2° vol 0 ESCANDALO DA GEOMETRIA. GeeNiCAS'B PROCEDIMENTOS DIDATICOS NO ENSINO DA ‘MATEMATICA. ALEGRIA DE LER” TABUAS COMPLETAS B FORMULARIO. MEU CADERNO DE MATEMATICA (Para 0 5.° ano pri mist). ALKARISMI (Revisea de Recreacio, Materética). AS GRANDES FANTASIAS. DA” MATEMATICA. MafeMArica PARA VOCE (Curso Ginasial — 4 volumes) TOUCLORE DA MATEMATICA. (Lendas, Hisérias © Caziosidades). MEU ANEL DE SEE PEDRAS (Leades, Mistérlas © Curisidades ‘sobre # Bensematica)- A.LUA NA PORSIA BRASILEIRA, TUDO £ FACIL (Matemitien sob forma de leieara pe ‘priméria) DIARIO DE LOCIA (Mavemética sob a forma de Jeisurn para a 4 séele primaria). ces dois didmos foram publicados em colaboracio com a Prot Irene de Albuquerque. 3 sétie Colegio de Ouro: (08 NOMEROS GOVERNAM_ 0, MUNDO. © INFERNO DE DANTE (Traducio) Direitos exclusives em lingua portuguésa (Brasil, Portugal @ Provinelos Ultramarinas!, adquirides pala Cosa Editére Vecchi Ltde., Rio de Janeiro. fecchi Printed in Brosil MCMLXVIT DEDICATORIA Aos ilustres educadores brasileiros: ADALBERTO MENEZES DE OLIVEIRA ALFREDINA Patva E SOUZA BENJAMIN ALBAGLI CARLOS ALBERTO NOBREGA DA CUNHA EUNICE POURCHET HELOIsA MARINHO Joaguina DALTRO JuRAcY SILVEIRA MANoEL BERGSTROM LourENGO Fi.Ho Maria JUNQUEIRA SCHMIDT Mario Pauto DE Briro PEDRO GouvEA FILHO Raut Jopin BITTENCOURT que sempre se esforcaram, com alto idealismo e continua energia, pelo engrandecimento da obra educacional no Brasil. HOMENAGEM DO AUTOR Marea TAHAN Caxambu, 1966. AO LEITOR Hd Weror, como se tebe, que devem toda seu txito «nm tindo Joie. As te imortaizans ¢ corm ile oF veut aut rex, imlcomente, Bem #2 pote diver, de- Video teal, ‘rmistio me AruayDR ‘0 Crisco Lverarto Rio. 1943, ase 37: Varios colegas ¢ amigos néo concordaram com 0 titulo ado- tado para éste livro “A Arte de Ser um Perleito Mau Professor”. E vio alicercar a sua opinifio no seguinte argumento que, em parte, ndo deixa de ser justo: Um professor, que, por seus atri- ‘butos negativos, mereceu 0 qualificativo de mau nfo poderé ser apontado como perfeito. O sentido real das palavras parece le- vantar um muro de antagonismo entre os dois adjetivos: mau e perfeito. ‘Aquilo que é perfeito no pode ser mau; e 0 mau nio en- contra lugar na galeria dos perfeitos. Prof. Aurelio Buarque de Holanda, em seu Pequeno Di- ciondrio Brasileiro da Lingua Portuguésa oferece-nos as seguin- tes indicacdes: Mau, adj. — Nocivo; irregular; i feito; funesto; través Perfeito, adj, — Acabado: oso (0, (cil; imper- sm defeito; primo. (2) On verhetes ao foram eranscritos aa fncegra 8 MALBA TAHAN © Iexicélogo Laudelino Freire vai um pouco além e tor- na-se até mais explicito em relagao ao sentido de perfeito: Perfeito, adj. — Que s6 tem qualidades boas; que nio tem defeitos, Na Biblia o adjetivo perfeito aparece trinta e duas vézes. Encontramos, por exemplo, em Sao Mateus (5;48): ito séde perfeitos como perfeito € 0 vosso Mas o problema apresenta outra face. Em seu excelente Diciondrio de Sindnimos, o Prof. Fran- cisco Fernandes aponta cabal, completo, rematado, integral, como sinénimos de perfeito, e transcreve um exemplo cothido em Morais: “0 pecado, sendo perfeito, gera a Morte” ‘A cada momento, na Tinguagem corrente, encontramos ex- presses nas quais 0 adjetivo perfeito é empregado no sentido de integral, completo, que é, alias, o sentido latino (2): — Era um vethaco perfeito.. = 0 assaltante nio passava de um perteito crimi- Aceitemos, pois, na expressio “Perfeito Mau Professor” 0 adjetivo perfeito empregado nesse sentido j4 consagrado pelo iblico: integral, rematado. ‘Acresce, ainda, uma particularidad A forma “Perfeito Mau Professor" nio & da nossa auto foi colhida num artigo publicado na revista Educacion y Cultura, de Montevidéu, conforme esclarecemos no Capitulo I déste livro, (2) Ni devemos enxuscer as formas vba: pretie perce preiito mais que perfeio, A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 9 E assim mesmo, contrariando a opiniao dos ortodoxos, acha- mos que o titulo A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR poderé figurar no frontispicio déste livro, pois nada tem de ilé- gico ou incoerente. MALBA TAHAN Caxambu, 1966 ABREVIATURAS Além das citagdes bibliograficas foram adotadas as seguin- tes abreviaturas: LAI. — Obra aprovada pela Igreja Catélica. CADES —- Campanha de Aperfeigoamento e Difuséo do Ensino Secundario. CE — Confira (transcrigéo textual). Cir, — Confronto (transcricto quase textual). ES, — Escola Secundaria MECC, — Ministério da Educacéo e Cultura, Pag. — Pagina. PMP. — Perfeito Mau Professor. RE. — Revista do Ensino. Rev. — Revista, Segs. — E seguintes. Trad. — Tradugio. A Escola Secundéria era uma revista publicada trimestral- mente pela CADES, sob a direcdo do Prof. Gildésio Amado, sen- do coordenador da CADES, 0 Prof. José Carlos de Melo ¢ Souza. £STE LIVRO E A VERDADE colocai om worse alma, scima de ‘amor da Verdade PADRE LEONEL FRANCA, S. J ‘Alocuries ¢ Artis, Tomo, 1954, ‘pag. 225, ~/ Queira Deus que éste livro, pelas valiosas citacdes que en- cerra, possa trazer algum esclarecimento didético aos bons & dedicados professires, isto é Aqueles que, educando e instruindo 8 jovens, fazem a grandeza de nossa Patria. Reconhecemos que, em muitos pontos, fomos extremamente severos para com os maus professéres. Mas, na verdade, s6 agimos désse modo, con- vencidos de que alertando as nossas autoridades (pais, diretores, inspetores, orientadores educacionais, chefes, etc.) podemos pres- tar bom servigo aos jovens educandos e, portanto, ao Brasil (1). ‘Mas o grande mérito do nosso trabalho vai depender de um fator que 6 no caso, de um realce que transcende todos os objetivos: a Verdade. Impée-se, portanto, que no nos afastemos da Verdade. E no decorrer de nossas criticas e comentarios a nossa preocupacio precipua foi seguir o roteiro tracado por Adolphe Thiers (1797- -1877). Declarou ésse notivel estadista © historindor francés: ‘08 © ensino como deveria ser pratieado™. Ck. PLINIO ALYARINGA, 0. insino 0 Brasil, 1940, poe 7 12 MALBA TAHAN sou nem serei, de forma alguma, detrator do mea tempo, nem do meu pais. Nio devo des- considerar minha Patria perante o mundo, fazendo-a plore colocando-a abaixo das outra devo de primir a época em que vivo, pois isso seria desalentar bs espirites © abater as consciéncias, coisas que de- Vo evitar sempre, Mas nio iludo a minha gente neni a minha Pétria: Palo a Verdade”. (De um discurso parlamentar proferido em 13 de fevereiro de 1880. Cf. RUL BARBOSA, Reforma do Ensino Primério, 18 ed., pig. 25) Em relagdo ao Perfeito Mau Professor procuramos inspira- cdo no sabio Santo Agostinho: “Condenar, com intransigéncia, 0 pecado, mas tu- do fazer para esclarecer e salvar © pecador”. fiste livro poderd ser esquecido, mas muitos de seus con- ceitos, casos ¢ episédios ficardo, para sempre, na lembranca dos Ieitores. E a sombra de uma das mais conceituadas editéras do Bra- sil — Casa Editéra Vecchi Ltda. — oferecemos, aos nossos educa- dores, um livro inteiramente original do ponto de vista didético. Bate livro “responde a uma interrogacéio” muito séria: Em que consiste a “Arte de Ser um Perfeito Mau Professor"? E seré lido com prazer, porque néle colaboram os maiores educadores do Brasil. E, co finalizar, recordemos 0 expressivo e delicado hai-kai do posta e académico baiano Abel Pereira (Colheita, 1957, pag. 126): Eu ado deixarei meu nome para renome. No pé, ficarei. MALBA TAHAN, Caxambu, Més de Maria de 1966 CONCEITOS E AFIRMACOES Nao podemos compreender uma escola sem Deus, como nao compreendemos uma familia sem Deus. Quando Deus falta, os idolos se entronizam. TristAo DE ATHAYDE Lendas do Céu e da Terra, L.AL, 178 o— Quem ousaria pretender que se pode educar as criangas sem conhecé-las? R. Dorrrens (*) A Escola sob Medida, 7 —o Cada aula que 0 bom professor da, aos adolescen- tes, com entusiasmo, alegria e amor, recebe, de seus discipulos, uma licdo de humildade. ANTONIO SERRALVO SOBRINHO Curso da CADES, Apostilhas —o— A Verdade, por sua natureza, é universal. A men- sagem de Cristo é verdade e quem possui a verdade possui a luz. GERALDO PINTO DE Souza, C.SSR. Professéra no meu Baptismo, LAL, 49 (ey A Enola s0b Medite & um tivro sbbre a doatrina de Edouari Cle. parede, News liveo colaboram Jeu Piaget, Louis Mevlan, ‘Pierre Bove. © 0 puede, Uapartde A tndurio @da autocia da. Prof Maria Licia do Birado Ree eR Ncvisio do Prot. allo vos Santor Josh ‘Temos cometido o érro de supor que quanto mais ilustrada e culta fér uma pessoa, melhor elemento sera ela para a sociedade. Mas isto nfo é rigorosamente verdade. O aviltamento do intelecto em detrimento do cultivo do coragao, tm produzido uma sitcia de findrios, em vez de uma sociedade de homens finos. CarLos A. TREZzZA A Reconquista do Homem, 358 A perfeicéo moral consiste em fazermos sob a inspiragéo do Amor o que fariamos por exigéncia do dever. WLADIMIR GHIKA Lendas do Céu e da Terra, LAI. a O professor é, abaixo de Deus, o arbitro do porvir. Ruy BARsosa A Tragédia do Mestre Escola, 39 —o— Deus dé aos que dao. Deus se da aos que se dao. Wraprir GHIKA Lendas do Céu e da Terra, LAL. —o— Entre os direitos do ignorante ha o de ser esclare~ cido e perdoado. Epuarpo Girio Didética da Matematica, Ed. Saraiva A educacao fisica, tinica, cria o bruto; a educacéo intelectual, isolada, produz o presumido; a educacao so- cial, exclusiva, prepara o agitador. A educacdo moral, corrigindo as tendéncias maléficas, d4 ao forte bran- dura, ao culto sabedoria, ao cidadaéo devotamento FERNANDO MAGALHAES As grandes bases da educacéo nacional (*) —.— Recebei a instruggo como grande soma de prata ¢ possuireis nela péso imenso de ouro. Eclesiaste, 54, 36 Nao é possivel avaliar o bem que fazemos, quan- do fazemos o bem. EuzaseTs LESEUR Lendas do Céu e da Terra, LAI. a Se Cristo voltasse em nossos dias, ver-se-ia forca- do em certos lugares, a comecar pela estaca zero. Gm Meyer, OFM. Orar em Espirito e Verdade, LAL, 15 —.— Educar € socializar, porque a educacdo pode ser compreendida com a férca que estimula a articulacéo do individuo a espécie no seu mais alto plano. OréL1a Borsson Carposo Problemas da Adolescéncia, 26 (2) De ums conterincia proferida no Ministério da Educesio, em abil de 1956. CE Revita Brasleira ho Fitatisties, 194 ‘Acima de tudo, 0 exercicio da sinceridade. A edu- cago pelo estimulo e pelo interésse ¢ educacdo para a ambico. A educacao pelo sentimento e pela solidarie- dade é educacdo pela vocacao. De um lado o idealismo que é crenca; de outro lado, o racionalismo que é calcul, $6 a educagao pela Vocacio tem o sentido da Fternidade, desenvolve a Vontade, para nao desmerecer, desperta a Fé, para ndo vacilar. E apaga o sinal azinha- vrado dos tempos. FERNANDO MAGALHAES Ob. cit, Rev. Est, pag, 846 No Brasil s6 existe um problema nacional: A edu- cagao do povo. : MIGUEL CouTo . A Tragédia do Mestre Escola, 41 (*) —o— © primeiro objetivo da boa politica deve ser a ‘educaciio; o segundo, a educagao; o terceiro, a educacao. Jutes MICHELET A Tragédia do Mestre Escola, 97 —o— Nao ha melhor sistema de educacio do que aqué- le que prepara o jovem para aprender por si mesmo. José Martr Curso da CADES, Apostilha (a) Base livro, no qual figura essa sontenca de Miguel Couto, ¢ da aucoria do thofenor podgoar Mario Cavslesat. Colabora, também, neste Livro, © ‘ark *folclorine Luiz da Camara Cascudo, Apreseata wm prefacio de Mons Jort“Adeling (Natal, RN 1951) capiruLo 1 ‘A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR A SUA ORIGEM Goma surgi a Arte de Sor um Perfeto Mau Profesor,” Conselbos ades 4. wm Jeeem por sm elucador seuguaio, Como dere sw ton pientormosie, ilo. 0 {eho Sducador. Poderiamos tomar como epigrafe para éste capitulo um pensamento famoso de Santo Agostinho: “Tal & a cegueira dos homens que até da propria cegueira se gloriam” (Contissdes, 33). Narremos 0 caso. Um didata uruguaio, com larga experiéncia s6bre questies de ensino, ¢ que se oculta discretamente sob a mascara de um pseudénimo — Domine, — publicou na revista Educacion y Cultura (Montevidéu, dezembro, 1944) uma série de vinte & cinco ou trinta conselhos dirigidos especialmente a um jovem, bisonho e inexperiente, que pretendia ingressar no magistério secundario. (© articulista montevideano, em tom meio faceto, interpe- lava 0 incipiente colega com esta surpreendente pergunta — Gostaria vocé de merecer o honroso titulo de um perfeito mau professor? No caso afirmativo, segundo a douta opiniso do esclarecido Domine, deveria o candidato tomar certas atitudes, sequir fiel- mente certos preceitos, no se afastar um milimetro da rotina, 2 — Peifeto mas professor 18 MALBA TAHAN pois s6 assim poderia dominar, e de maneira brithante, a Arte de Ser um Perfeito Mau Professor. E a0 praticar, com a maxima eficiéncia e seguranca, essa ARTE, 0 jovem teria o “orgulho” (orgulho entre aspas) de ser incluido na imensa legidio dos pés- simos cidaddos (sem aspas) que atassalham o ensino, desmo- ralizam a escola, aviltam a obra educacional nos recantos mais civilizados do mundo. Como deve agit o pseudo-mestre, o falso educador, pare ser considerado um Perfeito Mau Professor? Seguindo, em grande parte, o roteiro curioso de Domine. — 0 verdadeiro criador da nova Arte — e ilustrando-o com co- mentarios didéticos, realcando-o com exemplos bem brasileios, vamos apontar as atitudes falsas, impatriéticas e altamente con- denaveis que o auténtico Perteito Mau Professor adota, com inabalavel perseveranca, em suas atividades em classe, Com a sigla P.M. P., para abreviar a nossa exposicio, pas- saremos a designar a figura tenebrosa do Perfeito Mau Professor. No caso do plural, seguindo, alids, 0 sistema adotado na lingua- gem corrente, escreveremos, apenas, P.M.Ps, (Perfeitos Maus Protessires). Bste plural ¢ sempre profundamente lastimavel Adotando, pois, 0 roteiro do cauteloso Domine limitaremos 08 nossos comentarios & anélise serena, desapaixonada, de trinta © poucas atitudes erradas (nocivas para a obra educacional) de certos professéres secundarios e de alguns catedraticos de eseolas superiores E’ no Ensino Secundério e no Ensino Superior que proliferam, realmente, em larga escala, os auténticos PMPs © magistério primério, com sua ago altamente patriética, esté totalmente fora da flecha certeira de Domine. Ja declarou, certa vez, 0 saudoso educador paulista Sud ‘Menaucci: ‘O professor primirio o eterno incompreendido € 0 eterno sacrificado”. Os nossos legisladores esquecem esta sentenca famosa de Victor Hugo (Les Miserables, 111, 4, 1): “O futuro da Humanidade esté nas mios do mestre-escola’” A IMPROVISAGAO E 0 ENSINO DO P.M.P. & claro que 0 PMP. nao prepare antecipadamente a ligza. Nake de phe wor de ante: nada de rote previo. © PMP. “onring tempre pele velne norma a improvivarzo, Com a mesma simplicidade com que ingressa num cinema, ou num bar (para saborear um chope), entra o P. MP. na sala de aula, Nao tem a menor idéia do que vai ensinar, e como devera orientar o seu trabalho. Em geral, ja refestelado na cadeira, pergunta a um aluno: Que estévamos dando, mesmo, na Gltima eula? Um dos estudantes responde prontamente: — Adjetivos! © PMP. acode, no mesmo momento, como quem procura coordenar as idéias (2) Nio se compreende, por exemple, 0 ensino do Latim sem ooo mentirio perfeito ¢ interesante’ do trecio. que lida. ‘Devers 0" professor Planejer the comesciio. “bo soesamenstio adverse 4 Prot Clarice Lourdes das Never — exige to profesior segura orientieto linia, sida formasio clases ¢ eapactanas de Gri. B aqui esti u diferenca entre @ profewor ¢'0) migico: 6 profesor ‘blo val trar Go texto coins, iusiring, val ao comirisin dexcobsi? eset ar, feviver o que ed adormecdo eine exige perceppio. profesor bs podert anatise faros que le percebe e conbece slasente pura’ alo. cortet © pevigo de favenrar comms. Nio pode ¢ profewor exibir una eruliseo,pedante mal inner CE BS mo dy page 3 20 MALBA TAHAN — Adjetivos? Entéio vamos estudar hoje os numerais! (E’ 0 tinico ponto que éle sabe, razoivelmente: fécil de ensinar) . 'E’ no decorrer da aula que o P.MLP. improvisa exemplos, inventa perguntas e engendra exercicios. Os trabalhos extra-clas- se, imaginados, assim, de momento, tornam-se nulos ou rebar bativos. O PMP. é rotineiro por exceléncia. Nao pratica jogos; nunca tentou o estudo dirigido; os trabalhos de equipe, para @le, nunca existiram, O método heuristico é um mito, uma es- pécie de disco voador dentro da Didética. Desconhece os re- Cursos motivadores mais banais e corriqueiros. Caderno dirigido? F outro mito. Lobisomem que mete médo ao professor pregui- oso e desleixado, O PMP, & semelhenca do célebre almirante Nelson), acredita nas sereias, mas no acredita em caderno dirigido "A verdade, afinal, é a seguinte: O PMP, em geral, di aula pelo compéndio ou adota, em seu ensino, o método do di- tado (ditado lido numa apostilha) ou segue religiosamente © sistema medieval da ligéo marcada (. . ‘Qual seria 0 dever do professor modemo? O Dr. Luiz Alves de Mattos, a0 salientar os cuidados que deve ter 0 professor esforcado © cumpridor de seus deveres, escreve: Incumbe, ao professor moderno, planejar cwida- dosamente suas aulas de modo a apresentar a matéri Ty amie do P.M. P. chega ao miximo, nessa hora, quando, um aluocd Joa saticnee e basiaate imparune, proces: — “Numerais age ja de- lage, fessor! © seahor ik ensinout” # claro que oP, M, P. ado havia ensina- 5 ‘ols alguma. Pura maldade do aluno. Ci No Museu de Londres existe uma. pigina do Diario de Bordo de ‘Almispore Horitio Nelson, no gual, tte heroi de Abakir ¢ Trafalgar, esreveut Naan were goals feliz de minha vida. Pela peimeira vex vi uma sereia OP Sei Michor, ne obra do St. Lauro de Oliveiza Lima, Aposilbar (prefitioy Se Saleen “igparacen ereritos, em tom muito sério, por um eee eatcase que Contririo ao sistema do caderno dirigito, Vese aus Seok ecce de Qoleads, ji via misitas sereiay nos verdes, mares bravios Uo, Ce ES Stach iu wor cudormodirigido, feito com absoluta técnica. O eae coo dicia 0 hummorisin Stanislaw Ponte Pret), fala em coisas que Siete co praticou, eunca vit e descoabece completaments, f lamentivell, fle Ome aco Prof. Tales Mello Carvalho, um dos maiores didams jotava 0. caderao dirigido. ()""Or principals, procedimentos didaticos ov) do Linketosamente studadon no livre Didatice de Matematica, Ed. Sa tive, dois volumes, A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR = 21 em térmos de objetivos valiosos ¢ de atividades in- teressantes, eapazes de aliciar a atencio dos alunos @ engajar 0 seu interésse em trabalhos fecundos ¢ proveitosos de aprendizagem. Incumbelhe, também, eriar, em suas aulas, um ambiente estimutante ¢ sadio de compreensdo, boa vontade e colaboracio. A cow: Secugdo déstes objetivos dependeré muito da atitude fundamental de compreonsio humana ¢ de simpatia com que o professor se dedicar ao seu trabalho(®) verdadeiro PMP. nao planeja a aula, ndo prepara a ligdo ¢ zomba, com refinadissimo sarcasmo, do colega caprichoso que se orienta por um roteiro. Na opiniéo do P.MLP. 0 roteiro de ‘aula é tolice, infantilidade. Para qué roteiro? Para qué? Os alu: nos séo uns bébos, nio prestam atencéo em coisa algums, O ideal mesmo 6 2 improvisagao. Ha professéres tao descuidados e tao displicentes, que néio tomam conhecimento nem mesmo do tema da aula que pretendem dar a uma certa turma, E, no entanto, a escotha do tema da aula & assunto de alta relevincia em Didética. Os ensinamentos da Irene de Mello Carvalho devem merecer a atencao dos © tema da aula, como sabemos, deve ser uma tsubunidade”, ou parte desta, isto é, uma porgio de matéria que tem, embora em escala mais redurida, os mesmos requisites da verdadeira “unidade”? a) deve ser um aspecto valioso, significativo da ma téria; ) deve constitair um todo homogeneo (signi ficagio ¢ homogeneidade) “A aula no pode ter como tema central assuntet relevantes, questiénculas bizantinas, aspectos secundé- Hos do programa, de valor meramente informative. Por outro lado, nic pode ser um aglomerado de idéi ‘sem intima relagio entre si. O aluno necessita sen- tir que valew a pena assistir Aquela aula, quer pela Te) Ch Lure ALvEs vr MATOS, Simla de Diatica, pis, 291 (OSE WAM ickotre da mprovisagao nb ensino de ume) lingua: «Wh improvisisio decorre © nlo-encadeamento,1ogico © claro de sess Tidian®S B*BERJctaboroos cm alavras, que pouco farem pela nossa expresso Hees Pir Strepeatsmo, © a improvisagio, ¢ deter o¥ alunos aot chavOet cra, Permits sacs aos lugareecomuas". Cl PROV." Manta bE LOURDES C Saanrint, Sy a 1, Dae. 39 22 MALBA TAHAN importincia mesma do assunto, quer pela forma si temética ¢ orgénica pela qual the foram apresen das as suas idéias fundamental Em alguns casos, momentos antes da aula, o PMP. passa rapidamente os olhos no livro-texto, para recapitular algumas nogies que ja esto “meio esquecidas”. Vimos, certa vez, na sala dos professires, depois do café, um P.MLP. lendo um livro. — Que é isso? — estranhamos, Respondeu-nos o PMP. com a maior naturalidade: — Vou dar, agora, uma aula de Corografia sdbre Goids. Estou relendo © Veiga Cabral (*), — Mas é uma edicio muito antiga — observamos —. Tudo, em Goids, jé mudou. — Nao tem importincia — revidou logo 0 PMP. — Na minha turma nao tenho nenhum goiano. Posso falar vontade. E, sempre de livro aberto, perguntou-nos: — Como se chama mesmo o rio que banha Goiénia? Nao encontrei 0 raio do nome désse rio neste livro. Afobacao minha. © rio que banha Goifnia ‘Ajudamo-lo com muito prazer: — EF’ 0 famoso rio Meia-Ponte. Segundo uma lenda muito interssante, o bandeirante paulista Bartolomeu Bueno, epelidado Anhanguera. ‘Nesse momento bateu o sinal e a nossa explicacéo, com a Jenda do Meia-Ponte, ficou inacabada, O P.M. pegou o seu Jivro de chamada, agarrou a sua pasta e foi para a sala assacar contra 0s miseros educandos, a sua aula improvisada! Pobres alunos! Pobre Brasil! © famoso Comenius, em sua Didética Magna (cap. XIX, v.33) recomendava: “Convém que tudo esteja preparado de antemao, para que seja menor o perigo de errar e¢ maior o tempo consagrado ao ensino”. (®)_O Prof. Veiga Cabral & autor de vitios lios didéticos elementares ‘que tiversm large divalgasio no Brasil (3). Cada profesor, tenio cm visth as suas posiblidades e ot secursos do, ambieme oade vive ® ledonay compete progrimar seus plasos de curso f¢ de usidade provendo cidas 18 possbilidades construtivas. Cl, Pro! JAMS By Viriex' DA FONSECA, Ercole Secundérioy n° 1, pas. 102 caPfruLo ur © PROFESSOR E 0 ROTEIRO DA AULA Coma deve asic 0 professor. A comulte ap. roteiro. A mancira de covtilter 0 To eo. Come ager or ‘projessres lo, rotimeiror © despreparador Algumas observacdes poderio ser feitas sdbre ésse problema do roteiro da aula. Notavel professor era o Padre Leonel Franca, 8. J. Nao ha- veria exagéro algum em aponti-lo como um verdadeiro sabio. Pois bem. Em caso algum, o Padre Leonel Franca seria surpre- endido dando uma aula, mesmo no Curso Secundario, sem ter na mio, ou sébre a mesa, o seu roteiro. E convém insistir: 0 Petre Leonel Franca era um professor de cultura excepcional. Deve 0 professor consultar com freqiiéncia o seu plano ou roteiro de aula? Eis um assunto sdbre o qual os bons didatas divergem. A professéra Irene de Mello Carvalho oferece-nos uma opiniao muito clara sdbre o problema: ‘ste atsunto é dos mais controvertidos. Pessoal mente julgamos que sémente em casos excepcionais (por exemplo: condigdes precirias de saide do mes tre; tema da aula muito complexo, que exija numero. 08 dados informativos, etc.) se justifica a consulta sistemitica © ostensiva, a ficha que contém o plano. Esta, porém, deve ficar ao alcance do professor, para que @le a consulte discretamente, na hipstese de 24 MALBA TAHAN ter uma fatha de meméria que posse, realmente, pre: Judicar a bea seqigneia da aula’. A ilustre educadora faz sentir que o professor nao deve exagerar ésse sistema de consultar, a cada instante, o roteiro. E apresenta outra face interessante do problema: “Contra a aula dada com excessivas consultes a0 plano, hi ainda outro forte argumento: 0 professor perde o contacto visual com a turma cada ver que otha a ficha, Isso prejudica bastante a motivasao, porque ndo favorece a comunicabilidade espontanes entre quem fala e quem ouve, como aliis se pode observar nas conferéncias ou palestras escritas pré- viamente ¢ lidas na ocasigo"(). ‘A consulta eo roteiro deve ser feita de maneira discreta € nao continuadamente, pois quando os alunos no estio escla- recidos e bem orientados sobre a finalidade do roteiro, julgam que 0 professor nao conhece a matéria, No fim de algum tempo os adolescentes percebem que os professéres mais seguros na matéria, mais eficientes © esclare- cidos, so precisamente os que mais’ se utilizam do roteiro. Os professéres nulos, despreparados, so, em geral, improvisa- dores® © professor Luis Alves de Matos, da Faculdade Nacional de Filosofia, arrasa impiedosamente 0 P.M. rotineiro © im- provisador: “Rotina ¢ improvisagio, afirmo com a maior seguranga, #0 of dois flagelos que maiores prejulzos causam as safras do sistema escolar. Sob o guante da rotina ¢ da improvisagio 0 ensino deixa de ser aquela atividade racional, metédica e conscienciosa aque deveria ser, para tornar-se uma deplorével con trafagio ou caricatura grotesca”®). (i) Gh TisNx Dx Musto Canvaino, Curso de Téenica de Prsino Pare Docenter de Escolas Superiores. Apostlhay Rio, 1958. “@)" Ensinn 0 Profesor Bafael Grist: "Nao é sconscihivel so profesor coasaltr, repetidamente, duranie a listo, fichas, apoaramentos, apostithas ou ualquer’eepecie de lembretes" E, a seguir, o professor Grisi indica as ex CETRATARL Gust, Diditica Minima, Sto’ Paulo, 1963, 5.* ed, pis. 2. GB) “Gh Mattos, 0. 37 A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 25, A Prof Maria Ferri Soares Veiga, do Instituto Fernando Costa, em suas notiveis Apostilhas, equaciona 0 problema em térmos de absoluta clareza e seguranga: “Um ponto importantissimo para a obtengio de tuma lideranga verdadeira em classe & 0 ambiente de trabalho, Uma classe em que se desenvolve trabalho ‘organizado e bem planejado € ambiente favorivel no desenvolvimento do ensino. Isto significa que o professor deve estar em classe a tempo, com o material préviamente preparado em ‘Ordem, com seu plano bem estabelecido, de sorte a poder realizar com calma um ensino eficiente’ ‘Aos seus auxiliares, recomendava 0 Prof. Lauro de Oliveira Lima: “Nao trabalhem sem um plano: até os irracionais, seguem um plano. Ter plano € ser previdente © ra: ceional” ). © plano de aula, ou melhor, o roteiro, vale para o proiessor no seu largo velejar pelos mares do ciclo docente, como um bom timoneiro: Jé disse 0 poeta pernambucano Araujo Filho: Tendo, assim como eu tenho, um bom timoneiro Nao temo as procelas dos mares do mundo (. (@), G LIMA, A, 126, Sobre a importincia do plano de aula, iadica- mos: Virginia Chries Lacerda, "Das Unidades Diddticas's Unidade da Vide", Rio, 1651, pig. 71 sens. (Se Kasvso Pino, © Péssero do Sonbo, Recife, 1955, pis. 119. cariruLo O P.M.P. E AS RELAGOES SOCIAIS cme 0 P.M. B. manter bods relaiaes tom tots seperionen Gabose be Sor'detalero rancoroo. de wiry colesar Sor ques bora, publicmente, dante Sot Siinths sombre ne tom oporhmidede Sendo, em geral, descuidado e grosseiro, nfo pode o PMP. manter relagées de amizde com os seus chefes e diretores. Esta, sempre, de ponta com dois ou trés colegns, 20s quais, por motivo Gti, deixa de cumprimentar. Em aula, sempre que tem opor- tunidade insinua, diante de seus alunos, criticas maldosas contra seus companheiros de trabalho ou faz restricdes ao preparo déste ou daquele colega. © PMP. no procura cultivar a amizade dos alunos e tem, fas vézes, com 0s jovens mais destacados e mais brilhantes, dis- cusses tremendas e profere palavras speras contra os adoles centes. E'evidente que o PMP. nao tem a menor nogio de Btica. Desconhece, por exemplo, a Etica Profissional do Professor. Havia, na antiga Escola Politéenica do Rio de Janeiro, um P.M que, em aul, diante dos alunos, sempre que havia oportunidade, emitia a seguinte apreciagao que causave péssima imptessio nos futuros engenhelros: A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 27 — 0s meus colegas, como séo profundamente ignorantes, julgam que eu ensino erradamente. Eu, porém, ndo dou a menor atencéo a essa critica imbe- cil dos incompetentes. Outro PMP. famoso, Dr. Almeida Lisboa, catedratico de Matemética do Colégio Pedro II, era totalmente insciente dos principios basicos da Btica. Em aula, falando a uma turma de adolescentes, formulava os conceitos mais depreciativos sdbre © preparo de seu colega de Congregacéo, Dr. Euclides Roxo, que éle apontava como um “primério”, um “ignorante”, verdadeiro analfabeto na ciéncia dos Némeros. Certa vez um aluno, chamado Lamartine Oberg ‘*), protestou contra a atitude indelicada do Dr, Lisboa. Bste nfo deu a menor atengio ao protesto do edu- cando, e continuou trangiiilo a dar a sua aula, como fazia ha- bitualmente, de chapéu na cabeca © charuto na béca, Sio varios, ¢ de alto relévo, os problemas de Etica Profis- sional que afetam diretamente a atividade do professor: 1 — O professor em rela¢io & sociedades 2 — O professor em relagio aos alunos; 3 — O professor em relagio a0 Colégio em que teaball 4 — 0 professor em 5 — O professor em relagdo a si mesmo. Todos ésses problemas so cuidadosamente estudados ¢ co- mentados em nosso livro: O Mundo Precisa de Ti, Professor! (1) fae jovem que nobremente tomo a defess de. sex ex-professor congra a atitude insolia do P.M. P., € hoje autor de vias obras ¢ catesritico de Deseaho Teaco, capiruLo v ASSIDUIDADE E PONTUALIDADE Aprimoradoy 40 extrema, em seus arishutot negtivos, 0 P.M. Bo mao ida e tember So pont. © PMP. desconhece os sous deveres precipuos; ¢ faltoso ¢ impontual. Entra na ala, de trabalho, alguns minutos depois de batido o sinal e, sempre que tem oportunidade, mata a aula. Havia, no antigo Colégio Pedro II, um legitimo PMP. que dizia, com muito espirito, aos colegas: — “Dizem que eu chego sempre na aula com dez minutos de atraso; em compensa- Gao (1) saio, sempre, quinze minutos mais cedo”. Bsso era, re- Almente, um legitimo P.M.P. Quando havia um sébado, por exemplo, precedido de um feriado, o nosso PIMP, na quinta- “feira dessa semane, ia de classe em classe, recomendando aos ‘alunos das diversas turmas: “— Sabado préximo, parede! Nin- guém ver!” Vamos recordar um episédio curioso que mostra bem a que extremo pode chegar 0 descaramento, 0 cinismo deseduca- tivo de um PMP. © caso passourse no Externato do Colégio Pedro II © diretor désse estabelecimento, Dr. Fernando Raja Ga- Daglia, para atender ao apélo de vérios colegas, resolveu con- ceder cos professéres dez minutos de tolerdncia, isto & 0 pro- fessor que chegasse, a classe, dez minutos depois de batido 0 A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 29 sinal, ndo levaria falta, Essa medida tinha por fim atender aos casos de demora decorrentes de motivos imprevisiveis: atraso de conducéo, acidente de trinsito, servico extraordindrio, ete. ‘Tal medida s6 deveria ser aplicivel aos professéres que che- gassem (vejam bem: que chegassem) de fora, para a sua pri- meira aula no Colégio. Muitos professires, porém, que se achavam no estabeleci- mento, e que no tinham, portanto, motivo algum para entrar fem aula depois do sinal, valiam-se da concessio especial de di- retor e ficavam dez minutos, vadiando pelos corredores, aguar- dando que se passasse o tal praso da tolerdncia. Entravam em aula, sempre, com dez minutos de atraso. Apelidavam-se, com certo orgulho, 0s decimalistas. Os decimalistas eram, sempre, P.M.Ps, © PMP. impontual em seus horérios de aula é impontual fem tédas a8 atividades de ciclo docente. ‘Aponte-nos © Prof. Imideo Nérici, em sua Diditica, varias formas de impontualidade que éle considera como um fator mu to sério de indisciplina. E escreve: A impontualidade é fator sério de indiseiplina Impontualidade na freqiléncia ts aulas, n0 inicio & término das mesmas, na corzecfo e devolucdc de tarefas e provas mensais. O adiamento de realiz de obrigagdes estabelecidas, sem raxio realmente plausivel é, também, outra forma de impentualidade que muito ‘prejudica a discipliaa) Extremamente severa é a critica que 0 saudoso Prof. Eve rardo Backheuser faz do professor impontual. Oucamos as si- bias observacdes désse antigo catedratico da Escola Politécnica do Rio de Janeiro: Se o professor € impontual, éle, que deve ser “exemplo” leva os alunos também 2 mesma incorrecio. E isso é a balbirdia. Téda vex que alunos entram na sala atrasados provocam certa desordem e paralisa- Gh Imwee Gruseere Néwict, Duditee Geral, pig. 141 30 MALBA TAHAN gio do trabatho. Téda vez que a falta se origina do professor, os inconvenientes sio ainda maiores: du- rante 0 atraso do professor a classe entra en borbori- aho (as vézes algazarra), prejudicando outras salas. E, alemais, bi um furto 20 tempo de trabalho efetivo (2). Pode acontecer, e nio raro, que certo professor lecione em dois ou trés colégics, situados em bairros diferentes. Os horérios das aulas, muitas vézes, nfo podem ser articulados com a méxima perleicio. Hé pequenos conflitos de hora. E, por isso, no Colegio ‘A, por exemplo, o professor chega a classe F, todos os dias, com lum pequeno atraso, Néo se trata, nesse caso, de um PMP, im- pontual. E’ bem possivel que 0 caso ocorra, com um étimo pro- fessor, esforcado e trabathador, que tem 0 seu horério pertur- ado por fatdres independentes de sua vontade. Mas, mesmo chegando atrasado nao deveré 0 professor prolongar a sua aula depois de batido o sinal. Haverd, nesse caso, dois erros em véz de um. A tinica solucao & a seguinte: O profes- sor, de acérdo com o Diretor, dara uma vez por més, em hora especial, uma aula extraordinaria para a classe F, a fim de in- Genisar essa classe dos minutos perdidos durante a semana, ©) Gf, Bvenanvo BacKHEUsER, 0 Profenor, pig, 115. capiruLo vr A ATIVIDADE IMPRODUTIVA DO MAU PROFESSOR Sempre que tem oportunidate 0 P.M. P. eombrega parte do tempo da aul (me imo a hora integral da ata) ton ividade Incisemonte albeit 40 ensino ¢ totslmon Te intl’ pare of shenos © PMP. tem a preocupacéo de iniciar a aula fazendo a chamada nominal da turma, E gasta, nessa chamade, dez ou quinze minutos que deveriam ser aproveitados para a motive cao inicial ou mesmo para explicagiio de um tema qualquer relativo ao assunto a ser estudado. ‘Terminada a chamada, lenta e enervante para a maioria da turma, o P.M.P. gasta, ainda, cinco ou dez minutos dirigindo aos adolescentes perguntas absolutamente inécuas ou fazendo observacées cretinas: — Muito bem, Mario Roberto! Parabéns! De cabelo cor- tado! Bem aparadinho! Ou entio: — Vocé, Clarice, esté hoje uma gracinha com ésse pen: teado névol Fica mais enxuta! Cem por cento mais broto! Quan- tos namorados jé tem? Na antiga Escola Normal do Rio de Janeiro, havia um PMP. (na cadeira de Fisica) que, para consumir, melhor, 0 tempo da aula, fazia a chamada enunciando, por extenso, com enervante ataraxia, os nomes de tédas as alunas 32 MALBA TAHAN _— Maria Clara Xavier Pereira Fontes! ‘Maria Helena Monteiro Pérto Ribeiro! Maria Julia Rolim Teles Barbosa! (© nome da aluna era proferido em voz Ienta ¢ pausada, A aluna chamada era obrigada a levantar-se ¢ responder: — Presente! E, com tudo isso, os minutos iam rolando e o precioso tempo da aula ia pasando. ‘Para algumas alunas o nosso PMP. de Fisica tinha certas perguntas (cretinas) a fazer. Chamava, por exemplo, uma aluna: — Maria Zélia Paranhos Freire! ‘A aluna, como era de praxe, respondia, muito séria — Presente! O PMP, antes de passar para a aluna seguinte, interrogava a Maria Zélia: — Como vai, Maria Zélia, a sua tia Ana Rosa? — Vai bem, obrigada, professor — respondia a aluna. — Ainda esté morando em Curitiba? — ‘sim, professor. A tia Ana Rosa ainda nfo voltou do Parané. — E quantos filhos ja tem? — Trés, professor. E em didlogo assim, do mesmo género, com varias alunas da turma, 0 PMP. consumia uma parte incomputivel do tempo da aula. O PMP. que perde, désse modo, um tempo precioso alon- gando ao méximo a chamada da turma, é em geral, um profes: sor de certo tipo que o Dr. Nérici classifica como “tipo tagarela”. © tipo tagarela & um elemento pernicioso. O Dr. Nérici re- trata-o com impeciivel exagio: TIPO TAGARELA — # 0 que fala com e sem propésito sObre tudo, em t6das as circunstincias. Tem 0 hibite, as vézes, de discutir em classe 2s opinides Ge outros professores, seus colegas, para, também, dar doua... Os alunos costumam explorar esta facitidade Ge falas do professor, pedindo a sua opiniio a respei- fo dos fatos mais bauais, enquanto que os minutos A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 33 da aula vio correndo... Bsse professor acaba ser (pre desacreditado diante de seus alunos (). Como seré possivel evitar, em parte, ésse abuso do PMP. Cumpre ao diretor proibir que o professor faca, no int da aula, a chamada nominal da turma. ‘Trés graves inconvenientes apresenta a chamada inicial: 1) Perda integral de tempo; 2°) Desmotivagao dos alunos; 3°) Oferece oportunidade para o P. M. P., pregui- fgoro e falastrio, perder grande parte do ten- po da aula. © diretor, que néo quiser ser cimplice do PMP, deve, ‘como ja dissemos, proibit a tal chamada antes da aula. (© melhor sistema, o sistema que nos parece mais pratico | @ mais didatico, é determinar que a chamada seja feita nega- tivamente. Em que consiste 2 chamada negativa? No tiltimo minuto da aula um aluno (Ider), designado, pré- viamente, pelo diretor ou pelo proprio professor, levanta-se ¢ proclama apenas, em vor alta, os nomes dos colegas que se acham ausentes. Diré, por exemplo: — Faltaram, hoje: © Pedro Paulo, 0 Roberto Jorge ¢ Maria Alice Saud. © professor, informado pelo aluno “assistente da chamada’, assinalaré na ficha a falta dos trés alunos apontados e colocaré © sinal de presenca nos restantes. Isso tudo no iiltimo minsto da aula. Pelo nimero total de alunos da turma seri facil cor- rigir qualquer engano do lider (que deve ser, alids, um aluno merecedor da maxima confianca). ‘Se 0 professor achar interessante, poder mudar o “assis- tente da chamada” de quinze em quinze dias. Essa medida € conveniente nas turmas em que se apresentam dois ou trés Ii deres de igual prestigio entre os colegas. TH) Ch Tutipro Gruseere NERICI, Didéties Geral, pix. 143. | 5 Rerfeto mia prfensoe 34 MALBA TAHAN Notem bem esta verdad: diretor que permite o sistema obsoleto da chamada no- minal, no inicio da aula, nas turmas de seu colégio, revela, em relacio & sua capacidede de administrador e de educador, trés atributos negativos: 1.9) Nao conhece Diditica (Nao sabe avaliar a agio desmotivante da chamada inicial) ; 29) conivente (ou procura ser conivente) com 0 P.M. P. falastréo; 39) # um péssimo diretor: displicente ¢ incompe- A chamada inicicl, mesmo répida (feita pelo mimero) & desmotivadora. © professor deve iniciar logo 0 trabalho do ciclo docente com palavras de estimulo, alegria e alto espirito motivador, agin- do sempre com entusiasmo (). A chamada inicial 6 sempre uma tarefa chata, chatissima, que 86 poderd interessar 0 PMP. 2) _Imeresnte obvervacko sbbre a acho motivadors, dtsse_ enrusiasmo do professor pelo cosina, fete pela Prot Belina Belo (2. S's a 15, pie. 65) "Em tédas as fases de now crabslho tum ponco 40” nowo”entuiaemo coniagia a carma ou pelo menos alguns aluncs, Convem manter sempre aceso fo ideal, mesmo que o-munde nio nos permita teulizar de todo nossas esperh fs. 0 sabor da vitor se mede pelo teor dos obsticulos superadoss "A aincre sont peal, om iniompbe sans glowre™ CAPITULO VIE PROGRAMA INCOMPLETO DA MATERIA Bm relavo. 0 programa da _matiria ‘na, apenas, sina parle derse. programa © PMP. dé as suas aulas, mes no se preocupa com programa. O seu lema 6 o seguinte: “No fim, dase um jeito! Se houver qualquer coisa, aprovo a turma inteira. O aproveita- ‘mento do aluno, para éle, no interessa de forma alguma, No Instituto de Educacao do Rio de Janeiro, o Diretor, Dr. Matio Brito, eta obrigado, em muitos casos, a pedir que 0 Prof. ‘A, fésse lecionar quatro ou cinco pontos do programa de His. téria a uma certa turma, que nfo recebera do seu professor a menor nocio sdbre uma grande parte do programa. Exemplifiquemos: Um professor, verdadeiro PMP, de Historia da Civilizacio, limitara-se, durante 0 ano inteiro, a dar aulas (e que aulas!) sébre o Exito! Esse professor que nio cumpre com o seu dever, que nao leciona a matéria que, por lei, 6 obrigado a lecionar, deveria ser Punido. E punido severamente, Mas essa puni¢fo munca ocorreu no Brasil. O PIM.P. tem “habeas-corpus” para lecionar, do programa de sua cadeira, a parte que julgar mais interessante. ‘Que péssimo exemplo dé ésse P-M.P. aos seus alunos! captruLo vir E A CORRELAGAO ENTRE AS MATERIAS Nao procure o P-M.P. coordenar, 0 ‘ontina de tag matiria com 0 ensino dat Surat masérias ocr No caso, por exemplo, do ensino da Matemitica, o PMP. ndo se preocupa em oferecer aos alunos problemas vivos, in- toressantes, que envolvam nogées de Geografia, de Fisica ou de Quimica. O PMP, de Matematica, limita-se « ensinar a Ciéncia, sem cogitar de suas aplicacdes praticas E coisa curiosa: O P.MP. nfo se sente envergonhado de perder dez ou quinze aulas desenvolvendo para os alunos uma teoria complicada, enfadonha, para a qual éle no oferece a menor aplicagio. ‘0 PMP. de Matemitica nao se preocupa, também, com ae parte histérica da Ciéncia. Fala em crivo de Eratéstenes, teo- Fema de Tales, postulado de Euclides, etc, mas silencia com- pletamente sGbre a época em que viveram ésses gedmetras, 08 seus.trabalhos e a influéncia que exerceram. (© saudoso professor Tales Melo Carvalho, matemético bra- sileiro (falecido em 1961) tendo ido, certa vez, visitar 0 Ginésio Ti, Rae uo prfonn, dasa x erste, Soe sree oe ee ee tepecover brotnire Ch Ninicl, Didatiee Geral, pas. 163. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 37 de Friburgo, da Fundagdo Getilio Vargas, teve ocasiio de pa- lestrar com varios alunos désse notavel educandério. Em dado momento um adolescente, em tom muito sério, perguntou ao Prof. Tales: — Que idade o senhor tinha, Dr. Tales, quando deseobriu ésse teorema que tem o seu nome: “Teorema de Tales"? © ilustre matematico percebeu que o infeliz adolesceate estudara Geometria com um P.M.P, de Matematica. ‘Adverte a Prof* Adolphina Portela Bonapace (ES, n° 1 pig, 20) “As diversas matérias que constituem o currictlo secundario ndo podem ser consideradas compartimen- tos estanques, tGdas clas cstio intimamen- te relacionadas, fundemse e completamse para a formacio geral do educando” © PMP, quando tem a seu cargo a cadeira de Matematica, por exemple, limita o seu ensino a um algebrismo 4rido, complica do e initil®), Nao pratica jogos, ndo apela para recursos de taboratério, silencia, em absoluto, sdbre a parte historica da cién- cia lagrangeana. ‘Essa forma, errada e criminosa, de apresentar a ciéncia, faz ‘com que muitas pessoas inteligentes tomem verdadeira ogeriza Euclides da Cunha confessou que era obscuro ¢ “teimoso” pela Matematica. em Matematica, estudo para éle, totalmente, desinteressante. Ao Fever os seus cadernos de Célculo encontrou, entre outras coisas, as tais equacées bindmias que éle fora obrigado a estudar ¢ para as quais nunca encontrou (como engenheiro) a menor aplicacéio na vida prética! E isso com o grande Euclides da Cunha, vitima de um P.MP. em Matemitica ©. Fpl) FAR 8 “letra” ves Didice de Maem, in Sania 8) Ck FucLIDES BA CUNHA, Castro Alves ¢ 0 seu Tempo, Rio, 1919. CAPITULO 1x 0 LIVRO TEXTO E A INCULTURA DO P.M.P. 0 PMP. procera conbecer, apenas, ‘oxto que 2 adetado em sia tl TE omtros eros, orfigor on se- tings. Para 0 PMP. © perda de tempo. © PMP. sé conhece (e conhece mal) 0 livro-texto por éle indicado, Nao se interessa por outros livros, artigos e revistas — embora ésses livros, artigos e revistas — contenham estudos di- retamente relacionados com a matéria por éle lecionada. O PMP. nio freqiienta bibliotecas e é incapaz de entrar numa livraria; desconhece as publicagdes mais recentes; a sua bibliografia 6 paupérrima. Os livros que possui (da matéria que leciona) fo- ram graciosamente oferecidos por certos editores generosos. O PMP. nio lé, a néo ser revistas esportivas ou romances tidos ‘como escandalosos ou imorais; no estuda, nfo procura me- Jhorar a sua cultura, Ampliar os seus conhecimentos para qué? Seria perder direito a0 titulo de um PMP. Conhecemos, no Colégio Pedro II, um professor de Mate- mética de uma incultura geral impressionante, Esse professor, por nds interrogado, confessou, com a maior naturalidade, que nunca tinha ouvido falar em Anatole France; ignorava a época ‘em que havia vivide Dante e nao soube citar o titulo do famoso poema do maior poeta da Cristandade; confessou-se incapaz de indicar uma obra qualquer de Shakespeare e declarava-se impossibilitado de citar uma simples trova de um poeta brasileiro. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 39 Besse P.M. justificava a sua impressionante incultura li- teréria com uma desculpa muito simples: — O que me interessa mesmo, de fato, é o futebol! Era a nica coisa que éle conhecia. E conhecia bem, E 0 mau professor, despreparado e incompetente, segue a regra geral: quanto mais ignorante ¢ inculte, menos se inte essa pelas coisas do saber. O fildsofo francés Barao de Gerando (1772-1842) exarou, sobre os que nio se interessam pelo estudo e cultura, famosa sentenca que encerra uma verdade irreplicével: “Em tédas as atividades, relacionadas com a vi- da, quando a privagio se faz sentir, gera a neces de, © desejo, a procura no é assim. Quanto menos sensivel nos é a preciséo de instruirmo.nos"() Bastante severo 6 0 juizo que o Prof. Alberto Rovai, em um de seus artigos, faz da falta de preparo do professorado em geral: “Podese dizer, sem temor de exagéro, que a cultura da maioria’ dos nossos professdres, desde 0 bisonho mestre de baitro até o delegado de ensino (salvo honrosas excepsdes) no vai muito além dos quatro volumes ¢ respectivas “chaves” do horrororo “Manual do Ensino Primério", de Miguel Milano"®) Revestido de alto coeficiente de otimismo o professor Irmao Leon, da Congregacdo dos Maristas, observa: “Nao se pode admitir um professor que nfo leia tas pedagégicas"() (CE, RUY Bannosa, Reforma do Enrino Primério, Rio, 1883, pig. 59 (1s eaigse). @ "Ce" Aunento Rovat, A Decadéncie do Emsino Primirio, ow sevice Formasto, n° 36, ano 1V, Julho, 1941, pag. 37. O autor é da fscola Normal de Sama ‘Cruz do Rio Pardo. (Gy CE Indo LEON, Pedaroria, pig. 8. 40 MALBA TAHAN Cumpre ao bom professor possuir sélida cultura — “pon- dera o Prof. Luciano Lopes: “Além de adquirir mui sélida cultura, deve con- inuar estudando sempre, para néo perder jamais de vista 0 progresto do espirito humano. Ja dizia Michelet, que também foi professor: “O mestre deve aperfeigoarse continuamente, sob pena de cair no tédio e entorpecer o espirito”(). © pedagogo portugués Mario Goncalves Viana toca nessa mesma tecla e acha também que o professor deve estudar sempre: “© professor deve estudar sempre; deve procurir aperfeigoar e alargar os seus conhecimentos; deve Preparar as suas ligSes e trabalhar conscientemente; 1 sua atividade e estudos essen: “se, permanentemente, com os problemas que digam regpeito A sua atividade docente”(), Estudar sempre? Eis uma atividade que parece inconcebivel para um P-M.P. Oucamos a opinido do Prof. Albert Ebert, da Faculdade Nacional de Filosofia: “Autodidata ou formado por Faculdade de Filo. sofia o professor no pode parar de estudar a fim de manter sempre atualizados os seus conhecimentos, ‘além do que tem necessidade de se aperfeigoar con tinuamente, e para isso poderdo concorrer os cursos de aperfeigoamento e de extensio realizados em pe- riodos de férias. Hé, além disso, as conferéncias, congressos e mesas redondas sObre assuntos educacio- nais, que permitem um benéfico intercimbio de idéias € pontos de vistas, tio necessérios 4 renovasio © atualizagio dos conhecimentos”®) (A) Gh LvCANo LorEs, 0 Professor Ideal, Rio 1945, pix. 21 (3 GE. Manto Goncatves Viawa, Padugoeia, pig. i6t (6). Gf. Atumar Entxt, Jo N.C.G-F., 169. 0 Prof, Tamar de Abrea Vesconcelos, em ese apreveniada 20 Primeiro ‘Congreso Nacional do. Easino Metindario "(Htecife, 1957), formala esea acusaeio contra, as Faculdades” de Filosofia: "Nos Curos de ‘Diddtion das Faculdades de Filosofia, observamos Gite dencaso pelos, awunton pedagégicos, abrangeado até mesmo, is vexes, feutranko gue baresa, os proprio protesbres do. Curso" A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 41 © estudo constante da matéria que leciona impde-se como uma necessidade imperiosa ao professor. Para ésse grave pro- blema traz o Prof. Clemem Barreto Sampaio (E.S, n° 16, pag. 19) a valiosa colaboragio da sua experiéncia: ‘Os conkecimentos evoluem a cada dia e, com isso, surgem modificagSes apreciéveis em muitos conceitos, as vézes, j4 consagrados. Hi, portanto, uma necessidade imperiosa do professor acompanhar ‘a evolugio dos conhecimentos, notadamente aquéles que se referem a disciplina que leciona’ NOTA — 0 perfeito mau professor segue a trilha de certos patuscos, vadios que nfo se interessam pela cultura. O caso nar- rado por Humberto de Campos é bastante expressivo: “Alguém falou a Paula Nei, 0 incorrigivel boémio, sobre os livros que deveria ler para alargar o campo de seus conhecimentos. Revidou prontamente o panfletario cearense: “Livros? Coisas assim? Nao! Nunca! Leio folhetins, criticas e apedidos. Que diabo, ninguém come um boi inteiro, Para nutric&o basta um bife”, Cf, HUMBERTO DE Campos, Critica, 2 série, 1933, pag. 160. Interpelado por um colega pelo fato de nao se interessar pelo estudo e nao comprar livros de sua cadeira, um P.M.P. respondeu, fingindo uma franqueza rude e descarada: — Sim, verdade. Néo compro livros. Como professor, ga- nho pouco; o dinheiro nao chega. E, no entanto, o P-MLP. que assacou tal desculpa, vai com freqiiéncia ao cinema e, depois do cinema, diverte-se nas boates ‘mais requintadas com sua amante. Em uma das suas noitadas festivas gasta mais do que se tivesse comprado cinco livros de luxo. © tal PMP, além de PMP, é um mentiroso cinico capiruLo x A CULTURA GERAL DE UM PROFESSOR Os tieros diditicos © oF profesrirer. A solucio pare inn problema. Como obyigar O prolesor a tiator sa cometer Heros Sdbre o problema do preparo, ou melhor, da cultura geral de um professor, seré interessante reler algumas linhas do gran- de educador escocés Gilbert Highet: Os assuntos mais elevados nio The podem ser desconhecides, 20 menos de um modo geral. Cumpre 20 professor saber quais sio as mais importantes & novas descobertas dos iiltimos tempos()) Perguntamos a um professor de Matematica: — Conhece 0 iiltime livro do Prof. Oswaldo as iiltimas edicdes do Carlos Galante? ‘A resposta foi imediata: — 05 livros esto muito caros. Eu nio ganho o suficiente para comprar livros. 86 leio livros quando me dio de presente. ‘Comprar nao compro. Em certos casos a desculpa 6 aceitivel, Parece-nos, porém, que a solucio seria muito simples. Todos os estabelecimentos de ensino deveriam dispor de pequena biblioteca para uso exclusi- angiorgi? Leu TA) Gh Gruner Hicuar, A Arve de Ensiner, undusio do Prof, Louren 0 Filho, pi 32. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 43, vo dos professires. O Diretor teria 0 cuidado de mandar adqui- rir todos 0s livros ¢ revistas de Pedagogia, Diditica, Metodo- logia. etc. e ésses livros seriam cedidos, por empréstimo aos, Brofessbres, Outra sugestio que devia ser oficialmente adotada no Brasil: — 0 professor do Colégio oficial ou particular 96 teria direi- to de receber o seu saldrio integral, durante as férias, se no fim do ano apresentasse um pequeno trabalho, um artigo, uma pes- guise, um inquérito, ou qualquer coisa, enfim, inédite, sobre a matéria por éle lecionada. Esses trabalhos (apresentados pelos professéres) seriam, por determinacio do Diretor, mimeografados, reunidos num vo- lume e enviados as principais bibliotecas e centros culturais, © trabatho teria a extensio minima de trés paginas com- pactas datilografades, om papel de formato oficio, espaco dois. (Cada pagina compacta deve conter trinta e trés Iinhas). Essa obrigacdo de apresentar todos os anos um pequeno ‘trabalho cultural (trés paginas, apenas) levaré o PMP. a con sultar livros, revistas etc. E isso sera de grande proveito para 0 ensino Esse PMP, no seu desinterésse pelas coisas do espirito, es- quece que deve estudar e estucar sempre. Bm quatro versos de Adelmar Tavares est contida a grande verdade: 6 Mundo! 6 Mundo! 6 meu Mestre Muito me ensinas viver @ quanto mais me ensizas mais eu vejo que aprendert®) (7) Nilo & admissivel um professor sem culmea. O edycador paulises Actonio Caetano de Campos era favorivel a0 casino eaciclopeico,.“Entcado ‘Que 0-ensino realmente ill deve ter caréter enciclopedico, por importar. 8 Vida coatingéacias, orlundas de toda sore de nogées centificss. CE. R. BRIQUEY, Hiri das Bdwces30, pig. 181. (3) "Ge “ADtEMAE "TAVARES, 100 Trovas, Preficios de J. G. de Anuj Jorge ¢ Lulz Ouivio, Rio, 1956, 2° ediglo, pig. 33, capiruLo xx A ROTINA E 0 MAU PROFESSOR 0 PMP. & imransigente @ procira ropelin, tem #° menor wacilesao, Qualaner Giaestbo de wim colega sobre nivo procede Snesto datitice, Ensiea 0. aque aprenden lame apron, Mantense sempre ro: Sincire ¢'atresado, Fala-se, por exemplo, a um P.MP,, sobre 0 método do Ca- derno Dirigido. A reacao é pronta, imediata: — “Qué? Caderno Dirigido? Essa nao! Fico, mesmo, nos apontamentos livres. Na- da de Caderno Dirigido. Estou muito habituado ao método class ‘sico do caderno livre, apontamentos livres, vontade. Assim té- nho ensinado e continuarei a ensinar. Detesto inovacées no en- sino!” E explica: — Adotado 0 Cademo Dirigido, eu vou ter mais trabalho com a turma, Procuro evitar essas amolacées. © caso do fotineiro 6 apreciado de forma bem clara pelo professor Luis Alves de Mattos: © professor que resvalou para a rotina, julga complacente que nada hd que deva ser melhorado no ‘Seu ensino; que se éle obtém um rendimento baixo ou quase alo, isso deve ser atribuido a “essa nova gerazdo, displicente, que nio presta atengio, nfo se ‘aplica 2s estudos e nio tent nogio dos deveres”. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 45 Esse raciocinio mostra quanto tal professor alheio as mais elementares preceitos da Didética moderna, O ensino sempre pode e deve ser melhora- do, quanto ao conteddo da matéria e quanto 4 técaica do trabalho. O rendimento escolar é, em grande par- te, uma decorréncia désses fatéres ¢ da atitude cons- trutiva, do dinamismo com que o acomete sua missio de estimular, orientar e controlar a aprendizagem de ‘seus alunos. A auséncia déstes elementos incentiva- dores se refletira imediatamente nos baixos indices de rendimento escolar. Ao professor cabe, pois, @ maior parcela de responsabilidade por tais indices de baixo rendimentot) Quando interpelado, por um colega mais evoluido, 0 ro- tineiro responde, de forma categérica: — Eu sigo sempre o meu: método. Com 0 meu método te- nho obtido dtimos resultados. ‘Mas o P.MP. sera incapaz de explicar em que consiste ésse método fabuloso que éle enfaiticamente denomina o meu métoro. Geralmente é um método obsoleto, j4 condenado pelos bons didatas (método da preleco simples, método do ditado, método da licdo marcada, etc.), método com 0 qual nao obtém resalta- do algum. ‘A preocupagio do PMP. é permanecer, indefinidamente com 0 seu método, o velho sistema de ensinar por meio da expli- cacao com aluno auxiliar no quadro-negro (sistema da saliva- cdo). Nada de inovagdes. A aula-prelecdo para o P.MP. é 0 ideal. ‘A aula em que 86 éle fala e os alunos fingem ouvir, Aula de salivagao do principio até o fim, Qualquer alteracdo exige esforco, estudo, observacio. © melhor, 0 mais cémodo, é ficar na velha rotina, Em uma reuniao de professéres, no Ginsio da Bahia, ocor- reu um debate sébre a modemnizagéo dos métodos de ensino. ‘Um dos catedriticos presentes, homem nulo, mas muito pre- sumido, declarou de forma categérica: Quanto ao meu trabalho, dispenso inteiramente os palpi- tos désses chamados didatas. Tenho vinte e um anos de pratica. () GE Las ALvas pe Matos, Ob. cit, pig 88. 46 MALBA TAHAN — Petdio — aperteou 0 Prof. Moura Bastos, que presidia a reuniéo — Parece-me que o senhor est enganado nessa con- ta, O colega tem um ano de pratica e vinte de repetigao @, © médo de mudar decorre, ou melhor, 6 um corolario da imaturidade do PMP. E a preocupacao do bom professor, de ano para ano, é reno- var os seus procedimentos didaticos e, assim, nem de leve, pode- ra tangenciar a deplordvel rotina. Eis o que aconselha o Prof. Fer- nando Padilha (E. S, 2.° 16, pag. 98): “Deve o professor variar os procedimentos diditi. coe a fim de nio cair na rotina. A aula variada leva © aluno a um maior interésse e conseqtientemente a um maior esf6rco na aprendizagem. A rotina colabora para que of alunos te afastem da matéria passando a encaréln como um tormento” Vamos ler 0 que escreveu s6bre o triste fantasma da rotina © professor Vicente Tapajés: Condenamse as auas em que os alunos slo, ape- nas, uma platéia que assiste — embevecida ou sono- Jenta — is evolugdes do ator, encarnado na pesson do mestre, Condenam.se as aulas “salivadas”, ditas ou nio em tom de discurso, as aulas que nfo exigem do aluno sendo um estérco de atencio, que o orientam no sen- tido de memorizar, decorar a ligho. Condenemse as aulas por demais mecanisadas, que fazem do professor e do aluno autématos que repetem, “ad infinitum”, gestos e reagées, seguindo sempre @ mesma orfentagko, sej qual f6r 0 assunto da ligio, Procurase uma aula mais viva, em que os alu nos ¢ mestres se completem, trabalhando, pesquisan- do, construindo. Uma aula em que haja, realmente, patticipacéo da classe, inteiramente motivada pelo assunto em pauta, Procura-se uma aula em que sejam os alunos, de fato, os principais elementos, 0 professor apenas um (2) CE Diddtice da Metomiticn, Ba, Sarsiva, I vol. pl. 141 A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 47 orientador, um auxiliar — um mestre. Uma aula em que os alunos dispenham dos meios de aprender — livros, gravuras, mapas, filmes. Uma aula que seia como taboratério — em que se pesquisa, em que se descobre, em que se constrdi alguma coisa) © deploravel sentido da rotina arruina e assolapa o ensino de tédas as matérias do curso ginasial. Em relagao, por exemplo, 0 ensino do nosso idioma, so severas e impressionantes as criticas do ilustre fil6logo Silveira Bueno: “Passadas em revista as mais famosas gramiticas do Brasil, chegamos 4 conclusio de que © péeo ter- rivelmente asfixiante da zotina continua a absfar ensino do idioma, Como essas trepadeiras envolven- tes ¢ deninhas, continuam as antigas regras puramen- te artificiais, ou jé sem aplicagio em nossos dias, a enredarse em tOmo do velho roble portagués im pedindo-o de frondejar a larga, a desenvolta”() Do PMP. rotineiro incorrigivel, incapaz de atilar o seu método, ja disse 0 poeta Paulo Emilio Pinto: Deus, ao criar-te, de certo distrain-se, cochifow: Ao ver o teu crinio aberto ‘encheu de vento e tampou's) GE Vicars Tavasos, Bosse Nove mo Ensino da Histiria, in Escola Secundariay 8° Vk, pag. 108 ‘Ci! SULVRIMA' BUENO, Gromitica Normative da Lingus Portugu Ch PavLo EMit10 Pivto, Cantigar que ew fie sorrindo, Preticio de Aparicio Fernandes, Bio, 1963, pig. 12. capfruLo xn A SEVERIDADE EXCESSIVA COM OS ALUNOS: 0 PMP, procure trata os alunos com asjeress ¢ bratalituae, Revelese, ont feral txiremamente severe ¢ ten 0 pra Ser tadico de dar grew sero wos stimor O PMP. é sempre grosseiro e rispido com os educandos (que nao se encontram sob sua protecdo). Aprecia muito diri- gir aos alunos que erram ou que se enganam observagées, as Wazes, até vexatérias — “Isso € muito forte para a sua inteli- zincia”, “Vocé é incapaz de compreender essa nocdo’, “Nao sei fomo vocé chegou até esta classe”, “Vocé tem inteligéncia dé débil mental”, ete. (© zero é uma nota que o P.MP. assinala com prazer na ficha do aluno. £ a sua nota ideal. No grupo dos P.M.Ps. ouvi- mos, com freqiténcia, frases e afirmages bem expressivas — Na diltima prova, em vinte e trés alunos, dei quinze graus zeros! — Aqui, neste colégio, quem da mais zero sou eu! — Zero nio foi feito para cachorro! — Em matéria de dar grau zero ninguém me leva van- tagem! ‘Embora pareca incrivel: Hé diretores tio ignorante ein Didatica, que medem o valor de um professor pelo nimero de notas baixas que ésse professor atribui aos alunos. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 49 © zero (a semethanga do que acontece com o grau der) deve ser nota conferida em circunstancias muito especiais. O aluno que destacado numa prova, com um grau zero, deve fi- car sob 08 cuidados do professor ou mesmo do Orientador Educa cional. ‘Davidas muito sérias se apresentario no espirito do educa- dor: — Qual seré a razdo do despreparo total daquele aluno? — Quais sio as dificuldades que éle esta encontrando? — Como obter o reajustamento do aluno fraco? Conversando, certa vez, com um professor de Geometria, de um grande colégio de Petrépolis, ouvi désse colega a seguin- te declaracao: — Dei hoje vinte e dois zeros na minha turma da 2 série. — Vinte e dois, nfo, meu amigo — discordamos pronta- mente. — Houve um engano de sua parte! Vocé deu, realmente, vinte e trés zeros! E como éle nos olhasse muito espantado, acrescentamos: Vinte ¢ dois nos alunos e um em vocé por incapacidade didatical Para justificar os freqiientes graus zeros, o P-M.P. declara: — Que fazer? Sou obrigado a dar grau zero! Eu ensino e @les nfio aprendem! Que fazer! ‘Sendo completamente ignorante em Didatica, o P.M. des- conhece que entre a aco de ensinar e a resultante aprender, ha uma interrelacéo perfeita. $6 hé ensino quando existe aprendizagem. Se os alunos néo aprenderam foi porque o professor no ensinow. (© famoso educador americano John Dewey é bastante cla- ro em sua argumentacao: fio se poders dizer que alguém vendeu se outa pessoa néo houver comprado, como nio se pode di zer que se ensinou, se ninguém aprendeu\) Ti) Gh JouN Daway, Coma Pensamos, pig. 4 capiruLo xar © DESRESPEITO AO ALUNO 0 PMP, sembre que se the olerece sama, oporuidadey procs Giealoe alma. ne ore Sercesmo “abroluta,, Procura Gone dos colegan © PMP. tripudia, impiedosamente, sdbre o aluno que erra, Lembrome de um colega, de turma, que em aula, distraida- mente, leu ferétro (com acento na pentiltima silaba), em vez de féretro (proparoxitona). O professor, um auténtico P.M.P., escan- carou a béca numa gargalhada homérica e, désse dia em diante, passou a tratar o nosso colega de Seu Ferétro. O rapaz, desespera- do, para nao agredir 0 PMP, no fim de dois meses pediu transferéncia para outro colégio. (?, Mas o PMP. tem a preocupacéo de achincathar com 0 adolescente, taxando de ridiculas as suas idéias, zombando de seus planos, etc. Como explicar essa atitude téo antipética do PMP? Parece-nos aceitivel a hipétese tentada pelo Prof, Nérici: (1) 0 -sareasmo do professor tem uma conseqitacia deplorivel: Torna ‘© aluna iaibido. "0 slune inibido, tmido, ow conpido, no voma. parce iva fas sicuaptes de aprendizagem,. Em clas as disciplinas escolares 0 eu end tmento baixo”. Ce. PROr* GISHLDA GUIMARAES Gowns, KE, maio, 1952, pie 43 A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 51 Essa atitude talver parta de duas possiveis con- vicgdes. Ou de que éle (professor) ¢ um sibio ¢ no admite que alguény (neste caso 0 aluno) possa saber alguma coisa como éle. Ou de que éle (professor) nada sabe e, também, nao pode admitir que alguém (neste caso, outra ver’ aluno...) venha a saber algue ma coisa... A verdade 6 que a sus teoria é um cons: tante corrosive no animo e nos impulsos mais sadios de seus alunos() Dentro das atividades do ciclo docente a norma fundamen- tal, para a maior eficiéncia da obra educativa, ¢ a seguinte: Deveré o professor respeitar os seus slunos. Sao bem claros, dentro das linhas gerais da educacio, os ensinamentos ditados pela Prof° Maria Ferri Soares Veiga, dire- tora do Departamento dos Cursos Médios do Instituto Fernando Costa, de Pirassununga: “A voz, © modo de agir, 0 vestuirio, a cortesia : fe outros traces semelhantes si muito importan- : tes para o estabelecimento de boas relacées profes sor.aluno, Entretanto, o mais importante & que 0 professor nio se esqueca de que para obter respeito de seus alunos precisa respeitar as criangas com que trabalha. iste respeito € 0 alicerce de uma escola que adota uma filosofia democritica de edueagio"() ‘Sao altamente judiciosas as palavras do Prof. Leodegario Amarante de Azevedo Filho: “Os adolescentes no perdoam aquéles que thes negam consideracées, on thet ridicularizando os pla nos por mais absurdos que sejam. Sio excessivamente idealistas, vivendo com os olhos ¢empze voltados para © futuro onde pem o methor de suas esperangas”(*), eh, & Toor Gwsiree Nina, Dikéice Gera, Sto Palo, 1959, GY treo deus ds aponiias de um cue sre Oriewacto. Pe dagégica dos Professires. “te 2 EPaeevnoo Sino, Dit pei de Porte, Rio, 1958; pi. 3. MALBA TAHAN | ‘Ha sempre uma semente boa na alma do adolescente. Como descobri-la? Responde a poetisa Nancy Guahyba Martha: Ser mestre & ter de Deus a inspiragio | para, da alma infantil, fazer brotar ‘a semente do bem nela escondida's) ‘Vamos transcrever © pequeno poema “Oragao do Educador”. da poetisa potiguar Presciliana Duarte de Almeida: Jesus, educador da humanidade ‘que disseste: "Deixai que os pequeninos comigo venkam ter! Ensina-me 2 formar os paladinos da Justica, do Bem e da Verdade! Ensina-me a ensinar a bem viver! Com palavras, exemplos ¢ carinho, da que eu conduza ao pérto desejado festas almas em flor! Que cade coragdo por mim tocado tenha 0 perfume bont do rosmaninko onde viceje teu divino amor! Que eu nunca seja pedra de tropego! Que eu munca escandalize uma crianga. Que eu saiba respeitar seu coracio! Di-me essa fér¢a poderosa e mansa Esse dom de “Educar” que néo tem prego! Talento, esférgo, amor, inspiragio. TCE NANCY GUANYBA MARTHA, Anforg Partiday Rio, 1954, pies 66 capiruLo xIV NOME DO ALUNO © PMP. sempre que tom oporime dade, procera sombar So nore to sina, ftcede trovaddbor, divendo.piadas. ‘Tivemos, no Colégio Pedro II, um colega chamado Elpidio Boa Morte, Certo professor, que era um P.MP,, todos os dias zombava désse aluno, repetindo a mesma piada: — Seu Boa Morte, se vocé quiser levar boa vida, estude!” ‘Aquéle que faz trocadilhos ou piadas, com o nome de uma pessoa, revela absoluta falta de educacao. E’ um cafajeste. A razio é simples. © nome, para uma pessoa honrada, constitui um verdadeiro e preciosissimo patriménio moral. ‘Sao comuns as expresses: — 0 Sr. F, que herdou de seu pai um nome honrado. = 0 nome do Sr. A. representa, para a nossa firma, uma gerantia. — Pretendo deixar, para os meus filhos, um nome sem mécula, de tal relévo o nome que um dos Mandamentos da Lei de Deus Criador prescreve: — Nao evocar 0 seu santo nome em vao. E, entre as petiges do Pai Nosso, podemos destacar: — ... santificado seja 0 Teu Nome. E isso traz a certeza de que o nome de Deus deve ser, nao apenas respeitado, mas também santificado. 54 MALBA TAHAN Entre 0s israelitas, a profanacio do nome de Deus era apontada como o mais grave e mais nefando dos pecados. $6 ao sacerdote-maximo, conforme prescreve 0 Talmud, cabia o direito de proferir © nome de Deus (Jeovah) em determinados momen- tos. No culto da Sinagoga, em lugat de Jeovah (JHVH) diziam: Adonai (Meu Senhor) e existe uma lenda, segundo a qual ‘enunciado do Nome Inefavel era feito de sete em sete anos, duas vvézes, pelos sibios a seus discipulos Para que 0 nome de Deus nfo caisse na vulgaridade os muculmanos criaram, para Deus, (Allah), noventa e nove for- ‘mas ou epitetos diferentes. So todos os epitetos formas de exal- taco dos atributos de Deus: Arrabim, Almalik, Alqddis, Assalam, ete que significam, respectivamente: Delicadissimo ou Misericordiosissimo, Soberano, Santissimo, Salvador, ete.) Vemos, assim o valor extraordinério que é dado, nas trés grandes religides monoteistas, ao nome de Deus). O mesmo respeito, o mesmo acatamento, deve ser conferido a0 nome de uma pessoa qualquer. Convém, portanto, insistir num ponto: — Aquéle que procura pilheriar com 0 nome de uma pes- soa, esti praticando, contra essa pessoa, um ato profundamente ofensive e até injurioso. Pode ocorrer que 0 ofendido, pessoa de boa fé € limitado discernimento, nao saiba avaliar ou no Perceba a extensdo da ofensa. Mas, para uma pessoa culta ou (GE, A. Comix, Le Talmud, Col. Payor, Paris, 1933 pigs. 67 «seg, (2) Ch Auman Anon, El Sagrado’ Coram, Buenos Aites, 1952, prefaci. (GQ) Os nomes. de Deas diferem segundo” at linguas. Je. cad’ aacto 0 sais belo, e também o mais exstn quer diver” due melhor the adept, Eo que ile se deu a 31 prdprio na Sagrada ‘Escrivuen, ou seja YAHVE, auc Sipnifica “Aguile que ¢’, ou por ourraspalavrasy aguéle “gue, existe? ue tem em si avmzio ou a fogie de ext. Beode, 3y 14, 15, Cl J. BUIANDO, SJ, Manual de Teolosia Dogmtics, trad. de j. Dionisio de Oilveirs, S.J 1982, 2." ed, ‘pig. 21. Segundo 0 Prot. Antenor Nasceates, © nome de Deus velo "do ebred YHUL, o wetagrama inefével, do verbo ter. Chr NASCENTES, Dicionario Bsimoligieo, como Uh, pas. 160 A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 55 medianamente esclarecida em “public-elation’, a falta de educa- co do cafajeste ¢ bem clara e indefensavel Diante do que acabamos de expor s6 um P.M.P. desfibrado, sem carater e sem dignidade, praticard a torpeza de ofender um aluno fazendo pilhérias ou zombarias com 0 nome désse aluno. Em resumo: =O nome de um amigo, de um colega e especialmente co nome de um educando, deve merecer, da nossa parte, o maximo respeito e consideracao. © PMP, entretanto, incorrigivel e nfio deixa passar, sem atingir com uma piada cretina, o aluno que tem um nome raro, estranho ou singular. E.aprova, com intenso jbilo, os apelidos alcunhas com que os estudantes costumam mimosear alguns professires ou funciondrios do colégio. Contou-nos o Prof. Letio Magno Brasil, que leciona Mate- matica no Gindsio de Aracaju: — Tinha, no meu tempo de estudante, grande simpatia Belo meu professor de Portugués. A partir, porém, do dia em que éle procurou pilheriar com 0 meu nome (que reconheco ser estranho), passei a detestar ésse professor. A aversio pelo mes- tre criou raizes profundas em meu coragio. Nao era meu ami- go! Fazia cagoada com 0 meu nomel No cofre dos meus grandes desenganos Guardei 0 ouro da melencolia(s), (HA boa disposieso do aluso para com a discipliaa presupse cerca ote de simparia em relacio so profesor, de modo que a. simples presenca do"tmonee oe aula jh € am faror inical de mowvagio. Cf JotI0 BRUNO, Diditica Eopecial de Desenho, M. EG, Camo da CADES, pig 26. () Che tracy pe Souza TeLes, "Alaméde doy Sonbos, Sastos, 1959, pie. 38 caPiruLo xv DOIS EXTREMOS .DEPLORAVEIS DO P.M.P. 0 P.M, P. é levado « dois extremos: Pode se opresentar, 407 slunor, come ver adeina mae extrenmosa, ou como som perl Bo teprovador. Estudenos. separadaracn te, bites dois cates. Hi professdres que, por génio, por preguica e por completd falta de carter (so verdadeiros desfibrados morais) adotam 0 sistema que 6 denominado “Mae Extremosa’. ‘Como procede o PMP. nesse caso? Como devera agir para conquistar o titulo de Mae Extremosa? E muito simples, Nao ensina coisa alguma. Perde as horas das aulas contan- do anedotas e dizendo piadas. Da notas dtimas aos alunos e, no fim do ano, aprova a todos, estejam ou no preparados na matéria, ‘Figurou na Colenda Congregacéo do Colégio Pedro 1, um professor de Fisica que era apontado pela opinigio uninime dos alunos e dos colegas, como Mde Extremosa, Perdia semanas inteiras narrando aos alunos episédios inti- ‘mos de sua vida e de sua familia; discutia com os rapazes duran- te 08 cingiienta minutos da aula, sobre esportes; sugeria pelpites para as corridas de cavalo; falava dos filmes mais emocionants Para garantir o seu prestigio, ensinava as questdes que iam cair A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 57 no exame, permitia a cola e era conivente com a fraude(), E, no fim do ano, aprovava a turma inteira. Ja velho, inteirameate senil, chegava ao extremo de beijar as adolescentes mais graciosas. “= Para que arranjar amolagées e contrariedades? O mais prético é ajudar a rapaziada, e agradar as meninast E 08 alunos eram promovidos pelo PMP, do Colégio Pe- Gro II, sem saber nada de Fisica! ‘Deixemos em paz 0 Mae Extremosa, e vamos, agora, co- nhecer outro P.M:P. bem diferente na maneira de agir em relagio aos alunos. ‘Sido freqiientes os professdres relapsos que nao ensinam coisa alguma e que, no fim do ano, exigem a matéria integral do pro- grama e reprovam a turma inteira. O PMP, désse tipo é, em geral, odiado pelos estudantes. E um professor faltoso, que nfo se interessa pela classe; as suas aulas so confusas; & semelhanca do Mae Extremosa, sempre gomoso e chato, perde, as vézes, a hora inteira discutindo politica, discorrendo futebol, ou falando de suas espertezas em certos ne- g6cios escusos. ‘Os alunos que nada estudaram, que nada aprenderam, es- tao convencidos' de que 0 P.M.P. (cujo ensino foi totalmente nulo), sera benevolente, generoso nas notas, e de empla tolerdn- cia nas aprovagées dos nulos. Puro engano! Iniciados os exames, o P.M-P. enfrenta os adolescentes com rancor e reprova a torto ea direito, Reprova alguns por vingan- a reprova outros por capricho ®). 86 passam no exame, alguns, cujos pais tiveram o cuida- do de entregé-los a professéres particulares. (i) Um estudante poderia, ma preseaga désse profenor, fazer a prova de outro colegs mais Irie 12) Encreve Medeiros © Albuquerque em seu livro Tester (2.* eligio, pig. 13): "Hovera, entretano, yponha que os. fatos. de capricho OSinganca sto. raros, eogano ice, Nao ha ainguem que Sontefa de perto ov bastidores da vida, academics re houre, c ellebrey ox Facaldade de Direito "Negro. ado precisa ser doutor”, os decor press”. 58 MALBA TAHAN Conhecemos um P.ML.P, désse tipo, homem extremamente vaidoso, que chegou a ocupar cargos de alto prestigio no Estado da Guanabara. ‘Bsse péssimo deseducador caberia, sob medida, dentro de uma trova altamente expressiva do Sr. Hélio C. Teixeira: Em muita gente a vaidade & tio grande que parece aumentar de intensidade quando 0 mérito decresce!\®) Nas Escolas Superiores hé catedriticos que, nos exames fi- nais, aprovam sistematicamente todos os alunos. © Dr, Pedro Augusto Pinto, que eta justo e criterioso em suas notas, contou-nos casos bem curiosos ocorridos na Faculdade Nacional de Medicina, com professéres catedraticos que aprova- vam as mécas e rapezes totalmente ignorantes na matéria em que eram examinados. ‘Um désses “benevolentes", a0 ouvir uma observacio do Dr. Pedro Pinto, sobre a maneira descriteriosa de julgar, respon- dew com ar debochative - Aprovo todo mundo! Nao quero saber de amolagdes na 28 épocal ‘Que aconteceria a um juiz que sistematicamente, fora de todo espirito de justica, absolvesse todos os réus, incluindo os maiores bandidos ¢ assassinos? Seria, certamente, processado, condenado e demitido de seu cargo. ‘Ao catedrético que age fora da lei, que nao cumpre com 0 seu dever, que desmoralize a sua Escola, que avilta o ensino, nao acontece nada. Continua a ser um catedrittico. E no fim conta piadas sébre 0 caso, GEL Hlt10 © Teixeia, Cinco Isaerérios, Rio, 1964, pie. 38 caPituLo xvE © PROBLEMA DAS REPROVAGOES 0 PMP, « 1 reprovacier. A. quem exbe w culpa das reprovasaes. Os indices ds seprovarbes O PMP, relapso, reprovador, quando trabalha em colégio particular, e tem mais de dez anos de servico, procura sacrificar ao maximo os alunos de suas turmas, para ser demitido pelo Diretor e receber, em débro, a indenizacao. Pode acontecer que a culpa de reprovacao caiba exclusiva- mente ao aluno. Mas, em geral, a reprovacio decorre da negli= géncia e da incapacidade do professor. Vamos reler os it santes ensinamentos do Dr. Luiz Alves de Mattos: “A reprovacio & em muitos casos, indiscutivel mente, © resultado da incapacidade do aluno para aprender, da sua desfdia nos estudos e da sua vadiagem mental. Mas, esta suméria explicacio nfo satisfaz A Didatica moderna; esta procura determinar as causas dessa relativa incapacidade do aluno para aprender, dessa desidia e dessa vadiagem mental ‘Nao hé davida que, em muitos casos, fatOres estra- hos a situacio de classe © ao contréle do professor comprometem o rendimento da aprendizagem, ina. fando certos alunos para a promocio (doencas, desnutrigio, dificuldades econdmices, problemas de famflia, etc., ete.). Mas, na maioria dos casos, uma MALBA TAHAN anilise técnica mais detida das causas de altos coeficientes de reprovagio revelara que a displicéncia ¢ a inabilidade do professor contribuiram de modo decisive para eriar essa situagdo, Verificase entao que o professor: 2) desleixouse no planejamento do seu curso ¢ de ‘suas aulas, gastando o seu horério com improvisa- ges estéreis que nada contribuiram para o desen: Yolvimento da inteligéncia de seus alunos ou para (© seu enriquecimento mental; 1b) ignora, ou se os conhece, deixou de aplicar os estimulos e incentives motivadores mais aproprit @os, tornando suas aulas monétonas e cansativas; ©) nko exerceu a devida lideranca no manejo da classe ¢ na orientagio dos estudos e trabalhos dos seus alunos; d) insistin demais em prelecdes te6ricas descurando fos trabalhos, exercicios e recapitulagées neces sirios & integragio da aprendizagem dos alunos ¢) tevelouse canhestro ou sibilino na formulagio ‘ova, na extensio da prova e no dificuldades propostas para das questies de calibramento da 1) julgou com arbite provas de seus exa Por qualquer destes falhas isoladamente, ou por varias delas ow tédas conjuntamente, € claro que 0 professor se tora, em grande parte, o maior respon- ‘sivel pelo fendmeno da reprovacdo, principalmente ‘quando esta se verifica em larga escala numa mesma furma de alunos que nas demais matérias conseguem fndices satisfatérios de aprovacio. Na linguagem dos alunos, vitimas de tal professor, éle: (a) nio sabe fa matériay (b) sabe a matéria, mas no sabe en Ja; (e) € confuso; (a) & perseguidor vingativo; fo quando nio descem a piores qualificatives. Muito se tem pesquisado, escrito ¢ debatido sd.” bre o ponto a partir do qual cessa a “culpabilidade” dos alunos © comega a se configurar a do professor pelo fendmeno da reprovagdo em massa. ‘Nos Estados Unidos campeiam duas correntes (a) a dos que consideram como imputéveis a0 profes. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR —6L sor quaisquer indices de reprovagdes superiores a 3% sobre o total de seus alunos; b) a dos que ado. tam o limiar de 7% e dai pai Na Réssia, ao que consta, 0 indice de impu- tabilidade adotado € a partir de 20% de reprove gies, submetendose os professéres que o wltre passam a um inquérito administrativo(®). Nos estabelecimentos de ensino das fOrgas arma Gas do Brasil a aprovagio ou a reprovagao em alta eseala sio consideradas anomalias, submetendose 0 easo a um “inquérito pedagogico” que podera resultar na anulagio da prova, ‘A maioria dos didatas, verificando a constancia dos valores baixos no 1.° quartil da curva de freqién cia de qualquer fendmeno estatisticamente mensuri- vel, inclinase a considerar o indice de 16%, pelo me nos tedricamente, como baliza diviséria das respons: dilidades pela reprovagio escolar. Reprovages até 16%, ou em tOrno disso, podem e devem ser provivel- mente imputadas aos alunos, o que equivale a um re- provado em cada grupo de seis alunos. Reprovacdes cima de 16% ¢ quanto mais ultrapassarem esta nor ma teGrica, apontam com crescente evidéncia, para a cxlpabilidade do professor. Evidentemente, esse divisor teérico de 16% pode- ra, em casos especiais, sofrer alteragdes impostas por Ses ¢ circunstancias imediatas perfeitamente jentificdveis. Mas, mesmo entdo, o desvio para mais io deveria ser muito acentuado, Do ponto de vista da moderna técnica de ensino, reprovacées da ordem de 40, 50, 60%, ow mais, depdem flagrantemente contra a competéncia didatica do professor. Con quanto diga o ditade latino que “omnis analogis Glaudicat”, 0 que dirlamos do médico ou do enfermi Fo que se gabasse de dar em média a 50 ou 60% dos Seus pacientes alta da enfermaria para o cemitério?” Eis como o Prof, Lauro de Oliveira Lima encara o problema da reprovacao: GD Na Rissa, nos sltimor anos, 0 indice bairou a 4%. Havendo moms cura mais "de 40h de reprovardes, © Diretor deve manda abtir 62 MALBA TAHAN (© normal o aluno aprender. Reprovar & sinto ma de grave inf veniente de va professor) io pedagégica que pode ser pro- causas, inclusive do préprio Em artigo publicado na revista Formagdo, o Prof. Paschoal Leme lamenta profundamente 0 tempo em que se viu forcado f ingressar na regido indspita dos exames orais e explica os motivos que 0 forcaram a fazer, sempre, como estudante, exa- mes péssimos, abaixo de qualquer critica: ‘Mal completara meu décimo-segundo aniversé- rio, entrei na regio inéspita dos exames, onde seria condenado a viver durante os sete anos seguintes Foram uma dura provacio esses exames. Os assuntos prediletas dos professSres eram sempre aqueles que, menos me agradavam, Gostaria que me examinassem em histéria, poesia e redacio. Mas os examinadores in- sistiam em latim e gramatica, E ganhavam a partida Ainda por cima, as perguntas que me faziam sdbre fessas matériag eram quase invariivelmente aquelas ‘que eu néo estava em condicdes de responder. Gos: taria que me pedissem para dizer o que sabia. Mas Ales procuravam sempre interrogarme s6bre aquilo que eu ignorava. Enquanto eu preferia exibir mi- aha ciéneia, éles procuravam expor a minha ignoran. cia, Bre processo teve um resultado: meus exames foram péssimos”, E a reprovacio iniqua e injusta que decorre da péssima maneira de proceder do professor, ficard, para sempre, na lem- branca do aluno com um sentimento profundo. Podemos recordar aqui esta trova magistral da poetisa Maria Sabina: Nio hi nade neste mundo que mais nos faca amargar que um sentimento profundo que 56 podemos lembrar. ..(2) @) Cf Lima, A, 32 ce Simian See cairuLo xvir © MAU PROFESSOR CONTADOR DE ANEDOTAS © PMP. conta a sens aluwos ane otas maticiorar » até bistries erceninas isu jarem propesanda de ieros por ograticos, As anedotas mais chulas so narradas em aula pelo tre- mendo e incorrigivel P.M.P. Sente 0 deseducador um prazer todo especial em fazer gestos insinuagdes maliciosas, referir- -se a certos vicios @ nao hesita em descer até & degradante por- riografia. Na antiga Escola Normal do Rio de Janeiro, 0 Prof, Hemetério dos Santos, por qualquer pretexto, contava, diante de uma tur- ma de mécas (adolescentes) episédios que a censura nao per- mitiria nem mesmo num filme francés. Exercia 0 Prof. Hemetério, com inteira impunidade, a sua obra deseducadora em turmas de jovens, futuras mies de familia, Eis a esclarecida opiniao do ilustre filésofo Raimundo Teixeira ‘Mendes, um dos mestres do Positivismo no Brasil: Importantissimo 6 assegurar 4 mulher sélida edw cagio, que mao deve ser inferior 3 do homem, pois & ela que semeard, na alma dos futuros cidadios, conceitos ¢ imagens, com que mais tarde organiza rho 0 mundo inteiro), (2) Gf Ravi Briquer, Mistria da Educasdo, Sto Paulo, 1946, pis. 159. 4 MALBA TAHAN Um professor de portugués, de um grande colégio feminino carioca (Colégio Séo Paulo) pedia que as alunas interpretassem trechos de romances de escritor de renome, mas ésses romances eram imorais ¢ repletos de expresses chulas e obscenas, : ‘Bsse PMP. alegava como desculpa: — Tudo 0 que o livro conta, elas j4 sabem, e sabem muito bem! ‘Mesmo trabalhando todos os dias num colégio catélico, sob a direcdo de religiosas, ésse terrivel PMP. desconhecia 0 pre- ceito evangélic Bemaventurados sio Irmios meus, Os limpos de coragio Pois éles vero a Deus‘2) ‘A preocupacdo de expungir sua linguagem de expressdes maliciosas ou improprias deve estar latente no espirito do bom professor. ‘Tece o Prof, Nérici uma observacio que deve st lida Com relagio & expressio verbal, deve 0 professor evitar a3 expressdes de duplo sentido (double-sens) fe que déem margem a juizos maliciosos por parte dos alunos. O professor mesmo, com relagao # estas expressées, nunca deve tomé-las no seu sentido mais puro endo se dar por achado diante da classe. Esta conduta deve ser Ievada a efeito sem ostentacio, mas com simplicidade e firmeza (3). © PMP,, desligado de qualquer atitude de nobreza em sua profissio, conta, em tédas as aulas, para “distrair” a rapa- ziada, anedotas picarescas, contos tipo drolaticos balzaquianos fe chega ao extremo de insinuar aos adolescentes atitudes con- dendveis: — Vocé est perdendo tempo! Nao seja bébo! VA tirando as suas casquinhas. Aquela morena do 1.° clissico ¢ sopal (2) Gh BRant Horta, Vis Lacis, Rio, 1937, pig. 43. (3 GE Mivvo ‘Groseree “Niel, Dildiee Gard, $20 Paulo, 1959, pig. 480, A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 65 E alude, por meio de palavras gestos, de requintado pe ralvilho, a certas perversies sexuais. © professor que procede dessa forma, ndo é honesto; 130 tem dignidade; 6 um sujo. Sabre ésse problema das atitudes de honestidade e digni- dade diante dos educandos, ougamos a palavra do Prof. Anténio Sales da Silva, da Faculdade de Filosofia da Universidade do Recife: A honestidade deve presidir todos os atos de nossa vida como professdres ¢ como cidadios. Hones- tidade na preparagao cuidadosa de nossas li¢des, honestidadle na observancia do horario escolar, hones- tidade na transmis 350 de um ensino verdadeito, sim ples ¢ universalmente aceito ou defendido por alguém, cujas idéias esposemos; honestidade em nossas rela. Ges para com os alunos, quanto & remuneragdo cobra- da, quanto ao trato, enfim, no tocante 3 conduta Hamilion Nogueira, ao pronunciar sua oragio fiinebre & beira do timuto do ministro Salgado Filho, emitiu éstes pensamentos, que valem por uma adver téncia: “Em cada homem hi dois aspectos, dois lados que devem ser considerados: o lado carnal, isto é, aquéle que falece no térmo desta vida; 0 lado espiritual social — constituido pelas atitudes que sobrevivem estas ow naquelas circunstincias. & isso apenas 0 que os homens tém de eterno (*) Na Didética Magna, de Comenius, podemos ler estas se- verissimas palavras que caem como um azourrague sdbre a cara cinica do PMP. “Maldito seja o que faz errar o cego em seu caminho”, diz 0 Senhor (Deteronémios, XXVIT, 18) Maldito seja também 0 que podendo impedir 0 érr0 do vege, deixa de fazé-lo. “Ai daquele que escandali- zar as eriancinhas”, disse Cristo (Sio Mateus, XVIII, 5I1Y9). (A) Trecho de um discurso, Cf, Rev. Dosa, setembeo, 1959. pig._ 180. {3 Gi foag° Amos Conasaus, Dilaiive Maguay trad. de. Sait Fores AbuMerhy, Iti9, 1954, 5 — Pestete maw profesor caPiruLo xvi © PROBLEMA DOS TRAJES DO PROFESSOR 0 PMP, & deewidudo com seus tran ies, A sua rancira de apresenterse diante (dor alimor jaf devadacation. Porodiando Bucter da Combe, boderiamos dizer: "0 perkeito, pram professor f, wntes de fade, Quondo 0 professor & relaxado e desmazelado os alunos, realmente, observam que éle é um “sujo”. Nao faz a barba dia- riamente e deixa perceber, por pequeninos sinais, que néo tem jto de tomar banho, Fuma, durante a aula, diante dos e toma, as vézes, atitudes inconvenientes que chocam dolescentes. Tivemos um colega, no Colégio Pedro II, professor cate. dratico de Geografia, que usava a mesma camisa a semana in- teira, $6 aparecia de camisa limpa na aula de segunda-feira Prendia a calca, sempre de cér parda, téda cheia de manchas de lama e gordura, com um cinto de couro grosseiro; o paleté, sempre escuro, em matéria de falta de asseio, sobrepujava a calca. Assim se apresenta do Internato do Colégio Pedro II. Em certos colégios, o diretor obriga 0 sujissimo PMP. a usar avental, Mas isso pouco sdianta, Que faz 0 PMP? Apa- va em aula 0 catedratico de Geografia A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 67 rece sempre, em aula, diante dos alunos, com o avental desa- botoado ¢ sujo. © PMP. sente prazer especial em dar aula com a mio no bélso, de modo a tomar atitudes inconvenientes, de verdadeiro cafajeste, diante das adolescentes. Choga, as vézes, a tormar-se repelente para as mécas e mesmo até imoral. Nas escolas que se destinam a preparar o pessoal subal- temo para a nossa Merinha de Guerra os instrutores sao obri- gados a um rigoroso asseio nos seus trajes e aparéneia irrepre- ensivel. Eis como sdo redigidas as determinacées dos dirigentes do ensin, “O instrutor deve ter uma aparéncia irrepreenst vel Bem uniformizado com os distintivos de sua classe ou graduacéo, bem pregados, roupas bem cuida- das, limpas ¢ bem passadas, calgas ajustadas a cintu- ra, camisa dentro das calgas ¢ nio sobrando demasia- damente na cintura, gola abotoads, mangas arriadas, gravata com laco bem feito, atopetada no colarinhe sem estar muito comprida, sapatos brilhando de bem engraxados, meia na _cér regulamentar, bonée bem arrumados, casquetes limpos, chapéu alvo e imaculado, barba bem feita t8das as manhis, cabelo cortado no regulamento e bem penteado. Enfim, o instrutor deve dar sempre uma impres: sdo agradivel de LIMPEZA, ARRUMACAO, HIGIENE E SAODEU) Se um professor descuidedo, relaxado, da aula aos alunos ‘em mangas de camisa (sem avental) é porque 0 diretor permite essa atitude cafajeste do PMP. © culpado, no caso, € 0 diretor que niio procura advertir 0 seu auxiliar e obrigé-lo a ter atitude decente, de verdadeiro edu- cador, diante dos adolescentes. E! claro que o professor pode ser um poco de sabedoria; pode ter a erudicio de um Poincaré; mas, com tudo isso, perder © respeito, a simpatia ¢ admiracao de seus alunos se andar como misero pé-rapado, malacafento e suj () GE Comte, Fanias M110, Apostithas 68 MALBA TAHAN Eis 0 que escreveu o Dr. Luciano Lopes em seu livro 0 Professor Ideal (Rio, 1945, pig. 34 “Fui inspetor do ensino por algum tempo e sou professor hha vérios anos, de sorte que as minhas observagées nesse sentido jé se apresentam credenciadas. Ainda neste momento, surge-me cha meméria a figura de mui erudito professor, que falhou éom- pletamente num dos melhores colégios desta capital, sé porque sistematicamente se apresentava em aula com tal desalinho que fazia lembrar um mendigo. Vulgarmente chamam a isso “filoso- ‘Nao desprestigiemos, porém, a Filosofia, identificando-a com tio deplordvel falta de cuidado. Isto s6 para aquéles tempos idos em que se confundia sabedoria e santidade com a falta de higiene”. Devem ser lidas, em relacio a do Dr. Nérici ese problema, as observacdes “Tmpdese a0 professor apresentarse decentemen te vestido, Iimpo e barbeado, Quanto & professora, principal rias, deve ter bas. tante cuidado com o seu vestudrio: que no seja ex. Cessivamente justo, decotado ou curto (2). Nao deve fia estar carregada demais de pintura e de adornos. ‘A professora, antes de ir para a classe, deveria mirar- ae em um espelho e perguntar a si propria: — “serd que estou bem para ir auma sala de aula ou a ume Boate?” E a resposta certa viria imediatamente” (>) GB) Veja can noms livto O Professor wa Vida Moderna, 0 artigo: mosivador Sa Protesore Dau GCE Niner, ob. cit pis. 181 capiruLo xn A CLASSE E A VIDA {NTIMA DO PROFESSOR 0 PALP. tra para a sus sale de sala Yadas at amofinatoen, contrariedades, 0% froblemes de tua vide particular. ‘No dia em que o P.MP. tem um aborrecimento grave com a espésa, ou com a sogra, os alunos sofrem as conseqiiéncias: repreende o estudante pela menor falta, pe o aluno para fora da classe, etc. Confidenciou-nos, certa vez, um P.M) — Hoje briguei, em casa, com minha mulher e com minha sogra, Estou com a “macaca’. Vou dar zero na turma tide! (© problema educacional, dentro désse setor, assume aspec- tos muito graves. Ougamos 0 que escreveu o Prof. Lauro de Oliveira Lima: © professor desajustado usaré, fatalmente, 2 classe como campo projetivo de sua personalidade Ineurética, quer encontrando .nela o veiculo de des- cargas e frustragdes, quer utilisando os alunos como platéia para suas manifestagdes de narcisismo (). ‘Vamos reler o que escreveu o Prof, Amaral Fontoura sdbre © espirito de bom humor que deve existir no professor: WG Live ve ouvama Lunes, A Escola Secomdsris, M, me ME C, 70 MALBA TAHAN Outro requisite fundamental do educador é a alegria, 0 bom humor. No que o educador viva # dar gargalhadas nem 2 contar anedotas mordazes. E a alegria suave de quem tem um objetivo na vida e sabe que esté caminando para éste objetivo. & a alegria de quem se sente em paz consigo mesmo, ¢ com 03 outros. A alegria do dever eumprido ©) Sio altamente judiciosas as obs Emilia Alves Saltiel (na E.S,,n. 2, pag. vagées da Prof Maria 45) “Bxistem, na realidade, professOres intransigen- tes, irasciveis, nervosos, hesitantes, inibidos, ete. cujas reagdes emocionais vio se projetar sdbre 0 aluno. Assim, muitos problemas do escolar sio con seqiiénciss das atitudes erréneas do professor que Tanga sdbre seus educandos, os seus préprios com plexos. Muitas vézes o professor reflete na escola ‘os desajastamentos emocionais, conjugais, econdmi. cos, sociais, ete. de sua vida particular. 8, pois, de suma importincia 0 ajustamento do mestre, mas ndo é tudo” () GE. Amanat, FONTOURA, Metodologia do Emsino Primirio, Bdithra Aurora, Rio, 1935, pax 3 capiruLo xx O PROFESSOR SABATINEIRO 0 PMP. pode exquecer de tale, mee nor de’ parcar sabes para ot sont dhe fos. 'A Sabatina d, em feral, wm simpler reiesto para nie ar aula Para o PMP, dia de sabatina é dia em que éle no se mola, no dé aula. Passa a prova e, em geral, vai ler o jornal ou distrair-se, num ligeiro papo com o colega da sala mais pré- Essas sabatinas, em geral, éle nfo 1é ¢ néo julga. Joga fora. ‘Vamos ler pequeno trecho do livro Histérias da Vida Perdida, “Professéres ha que no vacilam, Pelo menor pretexto, ou ‘mesmo sem pretexto algum, submetem seus alunos a uma prova cléssica, ou a um teste, para verificagéio da aprendizagem, Alguns assim pro‘edem por comodismo: querem fugit ao trabalho da aula, pela ampla janela da prova objetiva — simples de cor- rigir, facil de julgar. Se 0 Regulamento recomenda uma prova (Sabatina) por més, éles triplicam ésse niémero, © nosso professor de Geografia, apelidado o Dr. Bagaco, dentro do circulo das suas atividades docentes, aperfeicoou 0 sistema, Era radical em matéria de sabatina para descanso. As suas aulas, sempre péssimas e deploréveis, de acdrdo com 0 hhorério oficial, eram trés vézes por semana (segundas, quartas 2 MALBA TAHAN € sextas), mas a aula de sexta-feira era sempre cancelada, ou melhor, era substituida por uma sabatina de Geografia, Dirdo os bons didatas que o Dr. Bagago, com essa preo- cupacio de verificar semansImente 0 aproveitamento da turma, atirava voluntariamente sObre seus proprios ombros, uma so- brecarga imensa de trabalho: a leitura atenta e correcio se- manal de trinta e sete provas! Puro engano. Descobrimos, ca- sualmente, que 0 professor nio lia, no corrigia e nfo julgava as sabatinas das sextas-feiras. A prova era, apenas, 0 recurso legal de que éle dispunha para nao dar aula. © caso que ocorreu, na aula de desenho, foi obra da fe talidade, Depois da prova de Geografia, na sexte-feira, seguia-se, para a nossa turma, na mesma sala, a aula de desenho do Dr. Benedito ("), Ora, o Luiz Vilela, o espertissimo Luiz Vilela, que se achava na janela da sala, apontando um lapis, viu, casual- mente, 0 Prof. Bagaco que, tendo deixado 0 Internato, descia apressado (como fazia sempre) pela calcada, do lado dé Co- égio, para ir tomar o seu bonde, para o Caju, na Rua Figueira de Melo, Por simples curiosidade, pés-se o Vilela a acompa- nhar a marcha, meio acelerada, do professor ge6grafo. Em dado momento 0 Dr. Bagaco parou, tirou de sob o braco esquerdo o rélo das nossas provas ¢ atirou-o bem alto, por cima do muro, para um terreno baldio, sujissimo, velho depésito de lixo, que havia pouco depois do jardim do Internato. O Vilela viu, tes- temunhou tudo, perfeitamente. O rélo, descrita a cléssica p. rabola (como ensinava em aula o Dr. Costinha ), foi cair s6- bre um Himalaia de sujidades e incluido no monturo das ne gras imundicies. Que féz o Vilela? Deu o alarme. Levou 0 caso a0 conhecimento dos coleges. — Eu vi — contou indignado — eu vi o Bagaco atirar, no lixo, as nossas provas de hoje. Ele nao 1é coisa alguma; nem sequer leva para a casa, Est provado, Manda logo para o lixo. (1) Referese a0 Dr. Benedito Raimundo da Silva, catedsitico de Desenho, Foi um grande colecionador de borboletes. 2)" Dr. Conta. — ‘Tratase do. Prof, Hearique César de Oliveira ona (1885-1949), lustre matemético brasileiro, que exerceu a citedra a0 Ioternato do Coléglo Pedro TL Era navural de Pindamoohangabe. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 73, Até a nossa prova vira bagaco. Isso é um desaféro! E’ uma infamia! Na segunda-feira que se seguiu ao episédio da espionagem involuntéria do Vilela, um dos colegas, — o Agobar — so para experimenter e apurar a verdade, interpelou o professor num tom de natural curiosidade: — E as nossas provas de sexta-feira, professor? Foram boas? — Péssimas — declarou logo o Bagaco, mentindo, com dogmético entono —. Péssimas! Resolvi anular aquela prova Na proxima sexta-feira, darei outra prova; seré outra oportu- nidade para vocés. Estudem. Estudem e vocés verao. E falava aos alunos com um ar protetor que irritava os mais calmos. Descoberta a fraude torpe do professor, muitas coisas, ocor- ridas na classe, pareciam plenamente justificadas. O Bagaco, alegando sempre desculpas mirabolantes, nunca devolvia as nos- sas sabatinas depois de julgadas. E havia colegas, estudiosos, que em provas, tidas como faceis, s6 obtinham nota baixa. A razao era simples. As notas de aplicacao, do Dr. Bagaco, em Geografia, eram dadas por simples palpite. (© Hélio Azevedo tinha sempre oito; ao Agobar, ao Vilela, a0 Mendonca e ao Lamartine, 0 professor atribuia grau seis; vinha, depois, 0 grupinko do grau cinco (o Emanuel, o Nascimento, © Pedro Rui, 0 Bruce, 0 Nazareth e varios outros). Eu ia, em geral, com o resto da turme, para a nota minima: grau quatro. © Amorim, magrinho e pilido, meio nervoso, com fama de afe- minado, era mimoseado com grau sete. Esse Amorim tinha, realmente, cara de grau sete. E, désse dia em diante, ninguém mais, na turma, tomou a sério, a sabatina do Dr. Bagaco. — Que adianta caprichar numa prova que vai para o lixo © que o professor nao é TG) Freche do livros HistSriae da Vide Porsida 74 MALBA TAHAN © professor sabatineiro, em geral, nfo 1é as provas de seus alunos, nao as corrige, nem as julga. Alguns, como fazia o Prof. Bagaco, citado nas "Histérias da Vida Perdida”, dio as notas por palpite; outros, mais co- modistas, nao levam as provas para casa e corrigem as sabatinas em classe durante a hora destinada a ligio. No dia da corregio de provas 6 claro que o sabatineiro nfo dé aula, e, assim, prejudica o ensino, ¢ provoca a desmoti- vacéio completa dos alunos. Em muitos casos, enquanto 0 professor corrige © anota a Prova de um aluno, o resto da turma conversa em voz alta e entra a praticar atos graves de indisciplina (Num colégio em Botafogo os alunos jogavam roleta enquanto 0 professor corrigia as provas). Em certos colégios os alunos vio ao diretor e fazem queixa: — 0 professor F, corrige as provas em aula! Estamos per- dendo tempol Infelizmente (¢ isso ocorte freqitentemente) o diretor sendo totalmente ignorante em Didética, concorda com a atitude errada do professor; em muitos casos o diretor nio tem meios de evitar ésse inqualificével abuso do P-M-P. Sio dois dias perdidos para © ensino, isto é para os alunos: o dia da prova e 0 dia da cor- regio das provas! Nota — O diretor, em geral, nada pode exigir do professor. Sabe, de consciéncia, que page maf e como paga mal é maf servi- do. Alega o P.MLP. que ganha pouco: a sua vida é um pula-pula didrio, continuo, de um colégio para outro, A falta de tempo & absoluta. S6 mesmo corrigindo as provas em aula, Nao hd outro CAPITULO. xx1 O DESPRESTIGIO MORAL DO P.M.P. le coustante. gue dd em ans Os alunos reconhecem, perfeitamente, quando um professor pertence a legiio dos péssimos educadores e faz juz a0 titulo de um perfeito mau professor. Os adolescente nao respeitam, nem estin Ieram-no, apenas. O PMP. conta, em geral, com o desprestigio completo, Perante a turma. Em certos casos, sem que o P.MP. perceba, os adolescentes zombam das suas atitudes, comentam suas le viandades e riem-se de suas cafajestadas Sobre o grave problema das inadequacdes entre alunos e professéres, ser interessante reler os comentarios da Prof* Riva Bauzi o PMP. To- "As deficiéncias © inadequagdes de alunos ¢ professOres devem ser corajosamente reconhecidas e analisadas com franqueza, pois que s6 assim poderdo ser vencidas ou corrigidas. Jamais deverio ser oculta das, disfarcadas ou transformadas em objeto de zomba- Jo das pessoas. Os trabalhos reali para professores revelam que 0 idade de com zados em seminiti individue ao experimentar a post 76 MALBA TAHAN preender e de ser compreendido vé diminuidas suas préprias resistencias, que cedem diante de evidencias essenciais, SOmente as qualidades ¢ os fatdres posi- tives passam a ser explorados para beneficio do grupo” (0) Nao pode o verdadeiro educador ignorar a nobreza de sua missio. E a professéra Maria Helena Prestes Barra Teixeira focalizn 0 problema em térmos bem claro: “OQ que se faz necessirio hoje, mais do que nunca, é dar aos professéres a consciéncia da res. pontabilidade que Thes cabe como orientadores das Faturas geragdes. Que éles descubram a nobreza de gua missio © recebam a formacdo profissional in- Gispensivel para ensinar de acdrdo com as neces dades da crianga, aliando a esta formagio moral a aptidio para transmitir"(2). Deve o professor revelar decidido interésse pelas técnicas pedagégicas modernas. Em artigo publicado no Estado de Sao Paulo (9-6-62) escreve 0 Prof. Florestan Bernardes: “Ninguém ignora que o principal fater da inércia de nosso sistema escolar esta no alheiamento do pro- fessor em relagfo aos ideais ou as técnicas pedagégi- Nota — A revista Formacdo, de indiscutivel interésse para 0s professéres, citada em nossa bibliografia, foi mantida, orienta da e publicada durante varios anos, pelo saudoso educador, jorna- Tista e socidlogo Djalma Cavalcanti, Formacéo era uma excelente revista, animada sempre de alto espirito de patrictismo.” () Gh RIVA Bauzan, Rev. Formario, n° 195, 1954.n48, 42, (3) GE Mi incaa Pussras Banks Teia1m, Orientapdo. Merodo- Nigics pars Envine ta Linguagen do Corso Primaria, Rio, 1987, pig. 1M. capiruLo xx, 0 P.M.P. E A CRITICA MOTIVADORA Nao, procure o PMP. sens limos, elogian 05 trabatbos ker ssom procurer cativar a wmizade dos mais Jracon, OPAMP. doteda 0 aime. fravo © PMP, em geral, néo adota 0 método do caderno diri- gido, DA aula de pura salivacdo no quadro-negro e permite Geploravel sistema dos apontamentos livres. Quando exige dos educandos um trabalho de classe ou extra-classe 0 P.MP. nao 1%, nem comenta o trabalho, a nao ser quando deseja zombar dos erros ou fazer pilhérias com os alunos mais fracos. Critica, realmente motivadora, 6 tarefa que o PMP. ja- mais seria capaz de praticar. ‘A verdade é a seguinte: © P.M.P. nio cosrige nenbum trabalho escrito ¢ nio se interessa pelo aproveitamento dos alunos. Como desculpa, 0 PMP. alega que, sendo mal pago, vé-se forcado a dar muitas aules, por dia, em varios estabelecimentos. ‘A vida de um professor particular é um corre-corre permanente ‘de um colégio para outro. © P.M, nio tem tempo para corrigit cademos, nem tranqiilidade de espirito para se interessar pelo aproveitamento de seus alunos. E, abordando ésse grave pro- Blema, escreveu a Professora Irene Melo Carvalho: 8 MALBA TAHAN © trabatho do professor falha no que € essencial, ou seja na orientacdo das atividades discentes — centro Jegitimo de ensino — porque as condigées econdmicas, reflexo das do pals, obrigamno 2 reali zat outros trabalhos além de suas aulas ou exigem que éie dé um mimero exeessivo de aulas (1). Eo PMP, sem a menor parcela de idealismo, alegando sempre dificuldades econdmicas (“no sou pago para isso”, “te nho vida de mendigo”, “no ganho para ser explorado”) desin- teressa-se, em absoluto, de averigiiar a situagéo econdmica.so- cial de cada um de seus alunos, o porqué das faltas ou as difi- culdades que os jovens tém e vencer para cumprir as suas obri- gacbes de estudo. HG, entretanto, uma face negativa no caso: © P.MP. sente um prazer especial em fazer referéncias depreciativas aos alunos mais humildes, E fere alguns dos educandos com expresses. grosseiras: — Voeé parece filho de lixeiro aposentado! — A sua linguagem 6 de lavadeira bocal! Aos filhos de estrangeiros, procura o P.MP. ofender com apelidos pejorativos: — Otha o Galeguinho! Bsse tureo nfo vale nada! Vou dar zero nesse Gringo idiota! Criticas e sarcasmos — observa Hermanns — devem ser evitados, pois desanimam e a sala de aula é um santuério no qual as criancas entram para render culto a esperanca @) O Prof. P. do C, catedritico de Histéria do Colégio Pedro 1, quando se dirigia a um aluno que era filho de portugués, dizia, com a maior desfacatez: — Vocé, que fitho de um Iusitano, deve ser, com cer teza, tio burro como seu pail (1), De ama tese apresentada i 1 Conferéncia Nacional de Estudos sébce 4 Articulacdo do Easino Madio © Superior @) CE MWILLIAN Tiewneanns, Ph.D, Principios Bésicos do. Easino, Rey. Formardo, a 35, ano 1V, junbo de 1941, pag. 13, Vraduside de Bducoros, setembro de 1939, Boston, Mase A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 79 E essa chalaca grosseira era recebida com uma gargalhada bajuladora da turma © Dr. P. do C, era um homem culto; muitos colegas 0 apon- tavam como um orador brilhante, Deixou varias obras publi- cadas; mas nfo sabia respeitar seus alunos. Néo era um edu- cador. Era um perfeito mau professor. Eo PMP. é inalteravel. Uma vez PMP, continuaré sem- pre PMP. A sentenca do pocta Araujo Filho é bastante expressi Ninguém pode mudar a noite escura em dia azul, sem nuvens, eristalino (). facitis, 20 Beasl, convém let: Faris Ancdaio S. Pie 172. (H)” Ch"ARauyo FILHO, "O° Paisero do Sombo, Recife, 1955, pix. 107. capiruLo xxnr 0 P.M.P. E 0 PROBLEMA DA DISCIPLINA 0 PMP, nao sebe, om muitos caios mentor st ditcpling ma classe estima Cone atitudeindiferente ou com sorrvor Complacentes, 0 bibvo da desorderm dow ‘yo da aula. Como o PMP. no ensina, nfo ocupa a turma com uma atividade interessante, a turma cai logo em vadiacdo mental. ‘Dessa vadiagdo mental decorre a indisciplina que o PMP. no sabe e no consegue evitar. ‘Vejamos como o problema da disciplina em classe é apre- ciado pelo Prof. Luis Alves de Matos: A indisciplina e a desordem so sempre os frutos inevitaveis da vadiagem ¢ disponibilidade mental. O ‘aluno mentalmente desocupado & sempre um fator de indisciplina, se nio ja atual, pelo menos potencial. (0 ‘rabalio © a atividade mental séo sempre as me- Inores garantias de boa disciplina () Na opinitio do Prof. Aquiles Archéro Jinior, a indisciplina decorre da falta de autoridade do P.M.P.: Ty GE Els ALVES mE MATOS, Manejo de Classe, in Escoke Secumdérie, no 1, Junto d6'1987, bag. 23 io A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 81 A. disciplina em nossas escolas constitui ver. dadciramente um problema. O que vemos, em reali- dade, 6 2 falta de disciplina. Nao hi ordem, nio hi diregdo, 6 liberdade desenfreada, a independéncia de todo 0 freio moral, enfim, a confusio e a anarquia. E isto ndo é s6 na maioria das escolas particul res, mas nas oliciais também. Nao hi mais a rele gio de professor ¢ aluno, superior ¢ inferior, pois vonde falta a autoridade ndo hé mais quem mand nem quem obedeca Bem diz Monsenhor Pedro Anisio: “Nio se com- preende, pois, magistério sem autoridade, educac' Sem disciplina, Os pais ¢ os mestres devem intervit ba obra educativa para regular ¢ dirigir o desenvolvi- mento, para cortigir as inclinagdes desordenadas, ex- Citar.e ordenar as boas, para iluminar a inteligéncia forealecer a vontade com as verdades sobrenaturais ¢ 03 auxilios da graga@). © professor consegue, facilmente, a disciplina da classe im- pondo-se na amizade de seus alunos © procurando tornar suas aulas movimentadas, alegres e com boa aprendizagem. ‘Adverte, com seguranca, o Prof. Theobaldo Miranda: “0 professor deve fazer tudo para tornar suas ligdes atraentes ¢ agradiveis. Todos os meios ¢ cursos possivels devem ser empregados para isso. Mat a motivagao do trabalho escolar nao depende apenas do atsunto das ligdes e da maneira de desenvolvé-las, mas também do ambiente da classe e, sobretudo, da personalidade do professor. E o professor deve man- fer, no trabalho escolar, uma atitude permanente de simpatia, de entusiasmo, de bom humor, de otimismo, Ge bondade e de compreensio” (). @)_ Gf, Aguitas Axcutxo Jowiox Biggs « Publicactes Brasil, a/dy pis. 70. PEG). itonntoe Akash Susios, Nosder de Diatca Gor, So Ligées de Pedagosia, 3° ano, 14 od, = Pereito mau profensor CAPITULO xxIV LINGUAGEM GROSSEIRA DO P.M.P. Inespax de dominar os sent impulios © PMP. quando se exali, profere S70! Serie pela monor coisa. Com a crepilao i sas frasts ofende até a joven! que se ‘ham’ presente. © caso ocorreu num grande colégio em Botafogo (Rio). Naquele dia, precisemente 2 nossa turma, do 1.° ano classico, estava resolvendo problemas s6bre areas e volumes, quando ouvimos brados e zuadas que partiam da sala vizinha. Houve, em nossa classe, en‘re os adolescentes, uma certa expectativa e curiosidade. Que teria acontecido? Cheguei até a porta e olhei para 0 corredor. O nosso colega, da cadeira de latim, havia se sentido melindrado por um aluno (que fora por éle observado), expulsara o rapaz da sala e de pé. junto & porta, berrava como um possesso: — Comigo nao! Eu sou macho! Sou homem em qualquer terrenol () (1) Eis a judiciosa observagio do Prof. Rafael Gris, em seu lirro iddtica Minima," (Sto Paolo, 1963, pag. 5% func se. iguale o mestre ao. aluno. malcriado. Nem de seas libios sain palavea que alo poss’ ser repetia. Explicese que ma. crops oa ador Tesceme cseandalize © profesor, mas nto ha escusa para 0 ue, tendo 0 offeio de educar, 0 profesor excandslize 0 adolescents ou a ctiange, fo exemple, foo mest, & grande tocen formadorn”. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 83 Eram essas, precisamente, as expressées grosseitissimas que © PMP. usava com 0 intento de ofender o adolescente que tentara reagir contra a sua forma indelicada de se dirigir aos alunos. ni Sentia-se que 0 professor, por ser violento e impulsivo, n&io soubera dominar-se, tet calma e serenidade, para forcar 0 jovem a ser obediente e correto. Recordemos estas palavras sentenciosas de um auténtico educador: Se & func precipua do ensino secundézio, como diz a Lei Organica, formar x personalidade integral do adolescente, e se esta atividade confunde-se com 4 prépria atividade docente, o professor deve, precisa ser éle mesmo uma personalidade ber ajustada, emo- cionalmente equilibrada e, sobretudo, madura, Sem esta condiedo nio poderé ser um orientador, wm guia, vale dizer, um educador (). ‘Muitos professéres conhecemos que dirigem aos alunos ex- Presses indelicadas e até insultuosas, Os diretores, quando in- formades dessa falta de compostura de seus auxiliares, néo to- mam a menor providéncia. Eis os epitetos que certo professor de Matemética, homem Pouco educado e bastante genioso, dispensava aos seus alunos de uma turma do 2° ano ginasial — Estipidos! Cavalos! Cretinos! Imbecis! Eis os casos que deram origem a essas expresses grosseiras: © Professor, ao entrar, apressado, na sala, j4 depois de batido © sinal, tropecou, sem querer, no pé de um estudante, O jovem foi logo agraciado com éste tratamento do educador: — Estépido! Dois alunos, chamados ao quadro-negro, nfo soubetam re- solver um problema proposto pelo mestre, Enfureceuse 0 pro- fessor com o despreparo dos jovens ¢ bradou colérico: — Vo se sentar, seus cavalos! Ambos vo levar grau zero! (2) GF Pavio Cavatcawtt €. Moura, 0 Professor como wm lider, Revinea Secuadaria, a 10. 84 MALBA TAHAN Durante a aula um garéto declarou nao ter entendido bem certa demonstracao. A resposta do P.MP, foi imediata: — Eu jé sabia disso! Vocé, além de cretino, ¢ imbecil! W. Hermanns, educador alemio, firmado na alavanca da sua Tonga experiéncia, escreveu: Educador que tem paciéncia, usa, prudentemen- te, da repreensio ¢ do elogio, do castigo @ da re- compensa, de maneira que essas armas, poderosas Guxiliares, do venham 2 se tornar imiteis. Deve achar, sempre, oportunidade para mostrar seu bom humor, como fator estimulante, © sproximarse do faluno ‘com a mentalidade semelhante 4 da crianc’, pois nio ignore que 0 verdadeiro respeito nfo é oria- Zo pelo afastamento, mas pela compreensio mitut @). FE dever do bom professor ser delicado. De forma errada procede aquéle que repreende o aluno. Eis como a atitude do verdadeiro mestre apreciada pela professéra Maria Ferri Soares Veiga: Se vocé encontrar um aluno fazendo qualquer coisa errada, aconselhe-o, se puder, com modos deli- Gados, Se éle ndo o atender, nfo insista. Comunique © fato a Direcdo, Nunez, de modo algum, ralhe ow trite com 0 aluno. Sé em caso de perigo voc deve impedir um aluno “A f6rea” de fazer qualquer coisa. ‘Respeite o aluno como pessox que merece toile a consid © dle também respeitaré vocd E tudo isso parece ter sido originado num fato muito sim- ples; O PMP, dentro das agitagdes de sua vida, esquece que P escola existe sdmente por causa do aluno, endo para propor- cionar salario no fim do més aos professéres. ‘Nessa tecla a professéra Maria Ferri volta a tocar com muita seguranca e fala ao P.M.P. com a maior simplicidade: Ty GE WILLIAM Hexwanns, Ph, ., Prineipios Bésicos do Emsino, ev, Formegiown® 35. ano IY, iunbe de 1941, pie. LL ESE ihn bi S0anEE ViNGA, Hlimantzapao da Escola, tn Eola Secundiria, 2° 16, PAE. 6. ‘A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 85 Em uma escola, 0 maior interésse & sempre 0 interésse do aluno io se esqueca de que, em uma escola, a pessoa mais importante 6 0 aluno A escola é 0 aluno. Lembrese sempre de que, se existe escolt; é porque existe aluno. ‘Se mio houvesse aluno nem vocé nem eu esta ‘mos aqui. E nio se esqueca de que. NESTA ESCOLA TODOS SAO AMIGOS \». © educador escocés Gilbert Highet afirma que um dos re- quisitos do bom ensino é 0 professor gostar dos alunos. E acres- centa éste aviso que o PMP. deveria ouvir, mas ao qual, se guramente, néo daré a menor atencio: Se realmente vocé nio gosta dos meninos ¢ me. ninas, ou dos adolescentes, abandone o ensino () © poeta paulista Gentil Fernando de Castro, em dois 508, retrata muito bem o P.MP.: Tem sempre a cara fechada Mas a garra sempre aberta (a) Gh MARIA Prat SOARES VEICA, Ob. cit. (3) Gk Gtinewr Hicuer, A’ Arce de Bovina. (2 GE GIktt Enenanbo' pe Castao, Colar Pertido, Crusciro, Sho Paulo, 1963, pig. 149. capiruLo xxv POR 0 ALUNO PARA FORA DA CLASSE 0 PMP, pelo menor protesto (sor ison ent aula, cocbichor, ume boce}oy et.) poe 0 alumo para fora da clase €° ma fe. ‘pina Dirtoria E’ possivel que um professor seja obrigado a fazer com que um aluno se retire da sala, Mas para que isso aconteca ¢ pre- ciso que o aluno culpado tenha praticado um ato de indisciplina gravissimo. E ésses casos ocorrem, em geral, de cinco em cinco fanos. Sao casos rarissimos. Mas, no caso do PMP, o problema muda de figura; diariamente 0 P.M.P. poe dois ou trés alunos para fora da classe. Sera interessante ouvir, sébre essa tio debatida questio, a opiniéo de um didate, Bis como opina o Prof. Rafael Grisi: (0 & aconselhivel dar nota zero, expulsar alunos da sala de aula ou apelar para a autoridade de outrem Gdiretor do estabelecimento, inspetor de alunos, che- fe de disciplina etc.), para manter a sua propria; sio medidas extremas @ sdmente cabiveis em casos extremos Nao 6 aconsethavel também usar de rigor ex. cessivo na vigilincia dos alunos em classe, punindo-os pelas minimas faltas com admoestacées fregiientes 0 prestigio © eficécia das medidas punitivas, se- jam estas quais forem, esto na razio inversa da A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 87 freqiténcia de seu emprégo. Nio banalize 0 professor 4 sua zanga e, sendo possivel, nio se zangue nunca. Investigacdes psicolégicas tém revelado que os atos chemados de “indisciplina” dos alunos séo, em gran- de parte, resultantes de frustragdes na aprendizagem @ na vida escolar em geral, a que se jantant as emo- gies de “médo” e de “célera”, consegitentes; de mais a2 mais, um exame de consciéneia, sincero e imparcial, do professor poderé persuadtlo de que, em muitos casos, tais frustracdes ¢ muitas de suas manifestacées — bocejos, desinterésse, cochichos na sala de aula, risadinhas @ impertinéncias dos alunos — devem ser Tevados & conta de deficléncias da escola e do prd- prio docente (1), Hi um conselho que deve ser dado pelo diretor ao PMP. que tem por habito expulsar da sala os alunos inquietos. © consetho 0 seguinte: — Sempre que o colega achar que a tinica solugio para © caso é a expulsao do aluno da classe, saia também da classe. ‘Mas saia na frente do aluno. Proceda a sua auto-expulsfio por incapacidade didatica. Se o colega soubesse cativar a amizade, © interésse do aluno, tornar a aula viva e interessante, 0 aluno nao daria motivo algum para ser submetido a um castigo téo grave e tao vexatério. Em resumo: — Sempre que um professor pée um aluno para fora da classe, deve também, sair da classe na frente do aluno. O maior culpado, no caso, foi @le préprio. ©) (DCE Rarart Guist, Didstica Minima, Cia, Bditbra Nacional, Sio Paulo, 5.0 ed, 1963, page 8 e 9, (2) 0. Prof. "Aorélio™ Morales, dis Normal Dr. Waldomire Siloti, em CAPITULO. XXvI BATEU © SINAL ‘Tanto & impontusl, incorreto ¢ dese, dunator 6 projersor ‘que entre strasedo Sm aua, como aguile qe proioned Sila ‘depois de bata 0 tinal de termine: ‘ao. Luis Atyes pe Matos Didatioe Geral, pig. 71 ‘Uma vez ouvido o sinaf deve 0 professor dar por finda, ime- diatamente, a sua aula, Nem mais um exemplo, nem mais um Crereicio; nem mais uma palavra, a ndo ser a formula delicada © usual de despedida, E? preferivel deixar inacabado um certo Gseunto, sem concluséo o enunciado de um problema ou a ex: plicagdo de uma figura — a proporcionar & turma um depio- Pavel exemplo de indisciplina e desordem. Sim, porque toque Ga campainha exprime uma ordem bem clara do diretor: — Sr. professor! Esté terminado o seu tempo! E o professor que ouve essa ordem ¢ prossegue na licio (ropreendendo 0 aluno estouvado ou passando exercicios), € um indisciplinado, 6 um deseducador. ‘Ha professires, mal orientados, que sistematicamente pro- Jongam a aula dois e até trés minutos depois de batido o sinal ‘Acham tal atitude muito correta e pretendem, com isso, deixar, tno espirito de seus alunos, a impresséo de que éles se interessam pela matéria, pelo ensino, pela turma. Péssima maneira de agir. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 89 Mais interessante, dentro da obra educacional, seria que ésses professdres revelassem maior interésse pela ordem e pela disci- plina, Educar primeiro, ensinar depois. A aula nao deve ser Gada por finda (pelo professor) nem antes e nem depois de atido o sinal. Lembre-se 0 professor, ao ouvir tilintar a sineta, que o tem- po do aluno é sagrado. Os dez minutos de intervalo so, para 6 estudante, preciosos. Ble precisa désses dez minutos na integra, sem desconto algum; € um crime privé-lo de uma fracio mi- nima désse tempo. Ora é um aluno que precisava sair © que se conteve, na certeza de que faltavam dois minutos ou trés minutos para o sinal, Em que situagao de constrangimento ficara ésse faluno delicado ao ver 0 mestre prolongando irregular e indevi- damente a licio? Outras vézes trata-se de assunto particular fe urgente a resolver na Secretaria, de um objeto a ser procurado ‘com um colega, de um recado importante a ser dado a um irmao ‘ou amigo, Em outras ocasiées — e isso é de suma importiacia — ha um desafio de “ping-pong”, que deve ser decidido, 1a fora, no patio, durante aquéles dez minutos. O professor que pro- Jonga a aula e nao se lembra désse “ping-pong”, pode ser um sdbio, um cientista de renome, mas é um péssimo educador! ‘Acresce, ainda, que a turma, por uma questo de ordem in- terna, precisa mudar de sala ou preparar-se para a aula seguinte, ( professor indisciplinado perturba, com a prorrogagio indébita de sua aula, invadindo um intervalo de tempo que nio Ihe per- tence, a boa marcha do servico, cria dificuldades para a admi- nistracdo, tumultua o andamento dos trabalhos escolares. E qual- quer nogdo explicada depois do sinal, resultard inteiramente inti- til, Nao é possivel mais controlar a atencdo dos alunos. ‘Mais se agrava o érro disciplinar do professor, quando a desobediéneia ao sinal ocorre no término da altima aula. A turma precisa sair; ¢ sair imediatamente. Nas grandes cidades avulta o problema da condugao; de dois ou trés minutos per- didos, podem advir graves transtornos. ‘Cumpre ao bom professor controlar, muito atento, pelo re- Jégio, os dez dltimos minutos da aula, de acérdo com o seu roteiro, Dois ou trés minutos antes do sinal j4 os trabalhos ex- 90 MALBA TAHAN tra-classe esto indicados, 0 estudo semi-dirigido determinado, as principais recomendagGes estio feitas, etc. Que o sinal sur- preenda a turma que esté motivada, mas ndo ao professor que esti com a sua tarefa, daquele dia, bem terminada. Em resumo: Dado o sinal, 0 bom professor, correto e aten- to, encerra no mesmo instante a sua atila; 0 mau professor, dis- ‘traido e displicente, conclui a frase, completa o pensamento ot chega ao fim do problema; 0 péssimo professor, 0 mestrago de- seducador, 0 Perfeito Mau Professor, incorreto e indisciplinado, Passa exercicio, argiii a turma, repreende os elunos Batido o sinal a aula terminou, E terminou mesmo para o bom professor. © general A. Q, catedritico de Matemitica do Colégio Mili- tar, dizia com freqiiéncia, aos colegas: — Nessa questio do sinal, para o término da aula, procuro ser corretissimo, impecdvel, E explitava: — Se por acaso estou na pedra, tracando uma circunferés cia, e ougo © toque da campainha, paro imediatamente, Nao ter- mino a curva. Fico no arco de 184 graus, 48 minutos ¢ 30 se- gundos. — Com essa preciso? — indagou, curioso, um dos ouvintes. — Sim — replicou o Prof. A.Q. — E? na precisio mate. miitica do arco que reside © meu espirito de disciplina, E tinha razio, O general A. Q. era um excelente Professor. capirULo xvi 0 P.M.P. E AS ATIVIDADES DE CLASSE O PMP. permite que ot alunos dun ante a ate se ocwpem com etvidades de ‘omtrasmattrias, post "6 aitim boderd tor ote Jornal sortegato, © sistema da liberdade em classe é, em geral, adotado pelo PMP. que o Prof. Nérici classifica de tipo instével. Qual 6 a atitude do tipo instavel? Responde o ilustre didata paulista: “B dos que um dia esti de bom humor, alegre ¢ camarada, para, no outro, se mostrar intragdvel ¢ grossciro. Passa, as vézes, momentos de ealma ¢ ou tros de nervosismo, o que transmite aos alunos um estado de permanente inseguranca. Bste tipo de pro- fetsor nio chega nunca a criar um ambiente propicio 0 trabatho continuado (1) Sob cem méscaras diversas procura o instével ocultar a sua personalidade, O adolescente recebe-o com desconfianca: Que mascaras escondem o teu rosto Que intinites perfis elas me ccultam? (2) @), CE Daiwv0 GrusmPeE NéwIct, Didética Geral, Sio Paulo, 1959, pie. 18. Pela (2) fuses versos sto do poeta portugués José Manuel ¢/figuram” eo pocma modernists. Amazon 92 MALBA TAHAN ‘A verdade é bem simples: Que poderd esperar dos alunos © professor que demonstra desamor ao trabalho e a escola? © ‘Em artigo, publicado na revista Escola Secundéria (n° 15, pig. 1), © professor Joo J. de Sales Pupo mostra como ¢ de- plorével a agdo da Escola fora da realidade da Vida: eTarefa fundamental que os professéres muitas véres descuram, € a criagho de condigées para que 0 ituno ponha em evidéncia sua capacidade intelectual, seja exercitandoa na formulagdo precisa de idéias, Seja desenvolvendo hibitos de estudo ¢ de trabalho fue preparem a autoeducagao futura ou, que pelo Gece © levers a conquistar, por esférgo préprio os Tunkecimentos. S6 assim pedera formular solucdes para problemas novos” ‘sse professor instével, que revela desamor ao trabalho © & escola, é seguramente, um professor sem ideal, isto 6, um legitimo PMP. “Vamos transcrever esta notavel apreciacio do Dr. Theobaldo Miranda Santos: gomente um ideal de vida que transcenda a con- tingéneia inclutavel da realidade terrena, © a imper- feigdo substancial dos valores humanos, poder em- prestar A personalidade do educador a energiay a tena- Pihade ¢ © heroismo necessirios, para que éle poses Gencer os obstaculos ¢ as desilusdes que encontra wtada passo, em seu caminho coberto de espinhos, ¢ cenit a meta final de sua irdua e dignificante jor- sede”, Cl, THEOBALDO MIRANDA SANTOS, Ba nas Filosificas da Educagio, S. Paulo, 1960, pag. 205. Tay Gh arnt Grist, Didétice Minima, pis. 2 cAPirULO. XXVIII CASTIGOS COLETIVOS E CASTIGOS IMPIEDOSOS o PMP, “samo lim dos cantigas coletivos, sempre dua pode, submete 30 Canlgor iopiedosos. ‘Todos os bons educadores condenam radicalmente os cas- tigos coletivos. O castigo coletivo exprime, de um modo certo, uma série de iniqiidades e injusticas. Em sua Pedagogia, o Sr. Mario Goncalves Viana vergasta ‘com sua impiedosa critica o professor descriterioso que aplica castigos coletivos: Nunca se deve aplicar qualquer castigo a um ino- conte, Quando néo se saiba quem cometen a falta, Gtreterivel deizéla impune, Diz um aforismo de Diketto Penal: “Mais vale deixar sem castigo um Gulpado do que punit um inocente”. No caso de di Mag preferivel que 0 professor se abstenha. Os Tastigos aplicados a inocentes desprestigiam 0 educa. dor, © provocam indignacio () 'A educadora catélica Consuelo Sanchez Buchon acha que o castigo coletivo, mesmo para uma turma totalmente indisci- plinada, é injusto: TD Ek Manto GoNcAtvES VIANA, Pedagosia, Porto, 1955: 94 MALBA TAHAN “Néo impor castigos coletivos — recomenda a Sra. Buchon — fester nunca sio justos; j& que todos os discfpulos nao sao culpiveis ou pelo menos © so em diferentes intensidade e forma” ©), ‘Havia, antigamente, sistemas punitivos que os professores empregavam com freqiiéncia em suas classes. ‘Vamos transcrever 9 curioso depoimento que ouvimos da professéra Sénia Maria da Rocha Alcantara, de Salvador (Bahia): “Freqtientava meu primo Lauro um colégio religioso de Salvador. Havia nesse colégio um professor que era, alifés, sa- cerdote, que recorria a uma forma muito original de castigar fs alunos. Durante @ aula éle mantinha na méo a tramela de porta ®), Quando o aluno errava 0 padre atirava no afuno, num golpe répido, a tal tramela e, em geral, acertava na cabeca ou ho rosto do gardto. © padre fizerase eximio na pontaria. Nao jathava. E, por vézes, chegava a ferir 0 aluno atingido. O aluno que levava a tramefada era obrigado a apantar a tramela e ir entregi-la 20 professor que ficava, assim, pronto para castigar outro educando” "B, agora, apontemos 0 caso de um castigo coletivo que no deixa de ser também original. Ougamos o relato da profes- séra Arlete Ledo de Amorim, que leciona na cidade de Feira de Santana, na Bahia: “Meu professor de Portugués da 1" série de Ginasio (Dr. Adolfo Tourinho) adotava 0 método da ligéo marcada, € to- mava a licdo sem ter explicado 0 assunto. Recordo-me que, a0 estudermos “metaplasmos", a maioria dos alunos nfo conseguiu decorar todo 0 ponto, e muitos deixaram de responder a vérias TH Ch CONSUELO SANCHBZ BUCHON, Pedapogis, cad. da 2% eds pela Insituigio Mersiann do Rio e Josephina Maria Lacerda Vieira, Rio, "1958, pas. 208. GS & narradora nada esclarece em telaglo ao camanbo, 3 forma € nares tram : CS tatcucao do caniter pelo regime do terror que 0 castizo implancava, 45 consttsia ama iaexgorivel fonte de morbieidade, determinando impletdsoy Circalos vicious nas geragbes sacessivas de peofesbres ¢ alunos”. renee Sounetben, Edecesd do Caraier « Persomalitade Awtoritéris, tn biotin do Iessinto de’ Pricolosia, Dez 1960, pig. 13 A ARTE DE SER UM PBRFEITO MAU PROFESSOR 95 perguntas que 0 professor fazia, tendo no lixro-texto. Resultado: tivemos que copiar, em casa, trinta vézes todo o capitulo dos “metaplasmos”, pela gramética de Eduardo Carlos Pereira, sob pena de nao podermos freqiientar as aulas. Até hoje tenho um verdadeiro horror pelo estudo da Gramatica e mem quero ima- ginar 0 que possa ocorrer”. Os castigos fisicos foram proibidos ¢, em muitos estabeleci- mentos, inteiramente abolidos A palmatéria é um instrumento que jé passou para a Historia. ‘Mas, a titulo de curiosidade, levemos ao conhecimento dos Ieitores pequeno trecho do interessante artigo do escritor e ace- démico Airanio Peixoto, publicado na revista Inféncia e Juven- tude (Setembro, 1936, n° 4): jefere DITTES que um mestreescola da Suabia, morto em 1782, teve a paciéncia de contar as manifestagdes de seu orbilismo (9) no decorrer de sua vida no magistério: 911527 pauladas; 124 010, chicotadas; 10235 bofetadas; 1115800 sopapos; 777 vézes fizera ajoelhar sébre objetos pontiagudos; 5001 aplicara nos meninos o barrete com orelhas de burro; 1707 vézes castigara os alunos obrigando a ficar de pé com as mios para cima, e tudo isto acon panhado “de um vocabulério de 3000 palavras do descompostura. Schopenhauer, ja no séewlo passado, viria a justificar sses birbaros castigos, tio natu- tais, dizia éle, quanto as mordeduras de feras © as chifradas de touros” (©), © Dr. M, Rodrigues de Mello, ilustre poeta ¢ folelorista, ‘em seu livro de Memérias, intitulado Cavalo de Pau (pig. 37) oferece-nos um depoimento muito curioso: {)_Com 0 nome de Pupilio Orbilio vives, em Roma (no a0 12 tum gramitica que foi professor de Horicio, Segundo telato de alguns bid fon, 0 tal Orbillo, em teu easing, recorria a. morencio negativa espancando 0 feast Sastifiease, dase modo, 0 aeologismo de “Afsinio Petzoto: orbdismo, Ce"Aekinio Prixoro, Norees de Hisirie da Edwcerio, S. Paulo, 1933, pig. 57 (6) Ck AreAn1o Prixoto, Nopées de Histérie da Educario, 8. Past 1933, pig. I61. " 96 MALBA TAHAN 6 depois com: as sucessivas reformas do ensino piblico foi abolida a palmatéria, permanecendo ainda carante muito tempo como instrumento 5 agoite no seio dos lares ‘Ainda hoje esta perfeitamente em voga em cer tas familias da regiio. ‘Mas, além da palmatéria © dos castigos clissicos, ha outros igualmente curiosos e tipicos, ainda pratica- tdos em pleno Século XX. O rebenque, a silha, a chi Sela a paimada, o cbicote ou bacalbau, a cords, = sole, « ligeira, todos ligados A vida rural. A peia, 0 Sind, 0 talo de carnatiba, revivers, igualmenté, trail glo milenéria do agoite Jute gem falar nos subsidiérios, tais como, as pancadas na cabega 2 cabo de faca, de garfo, collier Ge pa, mio de pilio, 0 diabo” (. © professor que se mostrava, em relasio aos seus alunos, severo © rispido (vejam bem: dois péssimos atributos), era an- tigamente, apontado como um grande educador. ‘Convém let com atengio esta surpreendente confissio do grande escritor José de Alencar, no seu livro Como ¢ por aue sod Romancista (pig. 81): : anuirio era, talvez, rispido © severo em de- masia; porém nenbum professor o excedew em 2élo TMontusiasmo com que desempenhava o seu arduo mi- Susterio. Iéentificava-se com o discipulo; transmit She suas emogées e tinka o dom de criar no coragéo seSatil os mats nobres estimulos, educando 0 espirito eres emulagdo escolistica para ot grandes certames da inteligencia” fase professor, severo e rispido em demasia, chamava-se (conta.nos José de Alencar) Januério Mateus Ferreira. 0 autor de Iracema acrescenta: THis came iapodin a oe poe Ra, ie sad) cai, Gare SEES 59 Steanaae oyun, Snfelaments oe ‘mais empregadas do que encorajamento ¢ ‘cstimulo, por si 36s de asda taut mais empewsiae $0 aut, core orgee scab por cat um babi TES a ae adore A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 97 “Usava sapatos rinchadores; nenhum dos alunos de seu colégio ouvia de longe aquéle som particular, fna volta de corredor, que nio sentisse involuntari sobressalto”. (Ob. cit.). ‘A ameaga do castigo era de tal ordem que a simples apro- ximacdo do professor (que devia ser motivo de jabilo) causave “sobressalto” nos alunos! Citemos outro depoimento bastante expressivo. Em seu romance Memérias de Um Sargento de Miticias o romancista Manuel Antonio de Almeida oferece-nos o perfeito retrato de um professor carioca em pleno Século XI “Bra éste (0 professor) um homem todo em proporgées infinitesimais, baixinho, de carinha estret- ta e chupada, excessivamente calvo; wsava de éculos Gie), tinha pretenses a latinista e dava bolos nos Giscipulos por dé 14 aguela palha. Por isso era um dos mais creditados da cidade” Quais eram os titulos positives que ésse mestre-escola apre- sentava para merecer 0 alto conceito social: usava éculos (sic), tinha pretensdes a latinista e aplicava bolos nos alunos por dé 4 aquola palha. ‘Os bolos apareciam sempre como complemento da obra edu- cativa. Essa educacdo antiga (pelo terror) a rotina insiste em man- ter latente no espirito de muitos maus professdres. Os bolos fo- ram por muitos abolidos. Mas 0s carées, os castigos e privacdes permanecem. Recordando a vida dos meninos que eram, na antiga cidade do Recife, torturados pelos maus professéres, escreveu Mario Sette: Qualquer bichano careta abre hoje uma escola fe de palmatéria em punho nos alunos bate sola. E os coitados dos meninos por nfo saberem a I Perteto mau protessor 98 MALBA TAHAN vivem sofrendo o desta nova Inquisic: Pois que sio inquisideres fos mestres que por af hi ‘que julgant que mais ensina quem mais nos alunos dé (). stigo Pata evitar os castigos a educadora catélica Consuelo Can- chez Buchon aconselha, como solucio mais prética e mais segura, a disciplina preventiva, Era o sistema adotado por So Joao Bos- co. A disciplina repressive nio é aconselhavel. “A fungio da disciptina preventiva, como © seu préprio nome indica, consiste em pér o educando em condigdes tais que Ihe seja mais dificil desviar-se que conduzir-se bem. Podemos dizer que € fungio essencial de t8da disciplina, e que a diretiva ¢ a repressiva se devem orientar para ésxe fim, ja que a disciplina preventiva trata de evitar as perturbagdes, afastando obsticulos, reforgando os meios, fortificando a von- tade do disefpulo ete.” Apesar de todos ésses ensinamentos e adverténcias a disci- plina repressiva ainda é adotada, com freqiiéncia, em muitos estabelecimentos religiosos. Ao visitarmos, certa vez, um grande Colégio Catélico, de Pocos de Caldas (MG), vimos quatro adolescentes de “castigo”, no recreic. Estavam de pé, junto ao muro, de costas para os colegas que brincavam. Os quatro condenados eram obrigados a manter 0 rosto, isto é a ponta do nariz, encosteda no paredao. Os professéres désse Colégio sao dedicados seguidores da obra de Sao Joao Bosco. (8) Ck Manto Serm-Aunuan Histéria Ploresce do Recife Antigo, Rio, 2 ed pig. 291 capiruLo xxix DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS © PMP. & fraco dinate der alunos de pais iniuenter e severe com os deem bparador de tae’ proferse Os alunos percebem as injusticas praticadas com freqiiéncia pelo PMP. E? todo cheio de atengdes para um aluno cujo pai é gener: banqueiro ou ministro. E’ rispido e grosseiro com os que de origem modesta. © Prof. Luciano Lopes reconhece que, em certos casos, 0 professor é levado a praticar injustiga a0 julgar os seus alunos. E escreve em seu livro O Professor Ideal (pie. 60): “Como ser humano, sujeito a fraquezas, 0 pro. fessor pode deixar-se levar da excessiva simpatia por alguns alunos, cumulando.os de atengdes ¢ até de protecio mais ou menos escandalosa; pode, eo invés, ser tomado de antipatia para com outros alunos, com 8 quais usa de rigor excessivo e até de perseguigio. A injustiga pode produzir ressentimento que hi de perturbar a vida do aluno pelo resto de sua exie- téncia”. Mas hé, nesse capitulo das injustigas, episédios revoltantes. © Comandante Hélio Leite, quando vice-diretor da Escola 100 MALBA TAHAN Naval, referiu-se a um antigo catedratico de Geometria Deseri tiva daquele notavel estabelecimento militar de ensino. Bese catedratico (chamava-se Prof. Sussekind) ao julgar fas provas finais dos aspirantes tinha um critério muito singular — contou-nos 0 Comandante Hélio Leite. ‘Durante o julgamento chamava um aluno, mostrava a ésse aluno a prova, ou melhor, a épura que o aluno havia feito, dizia com a maior franqueza: — 0 seu trabalho est bom; est’ mesmo bem feito, A so- lucso esta certa, Voc® merecia, sem favor algum, grau sete. Mas ‘como eu sou inimigo pessoal de seu pai, vou Ihe dar grau um. Vou reprovi-lo. E reprovava o infeliz aspirante. Outro aluno, com trabalho idéntico ou pior, era aprovado com plenamente oito. Era filho de um almirante, amigo do Dr. Sussekind. !) (Os julgamentos désse professor tornaram-se famosos na an- tiga Escola Naval. ‘Adotava 0 Prof. Sussekind 0 critério matemético indicado, ‘em versos, pelo Sr. Domingos Carvalho da Silva: Cinco mais quatro sio sete Cinco mais quatro sio oito 2). Ti), Em certos casos as sander alegadas pelo Dr. Sustckind cram “graves, Reechia a prova do srpirante, olhava para o tragado da épura, verti Braves ido eitava cero © eatin 0 scq Darecer, com «maior rudez: i oe prova, Merece grau sete. Mas eu elo vou com a sua cara, Acho ‘oct mite anripatico, Vou dar grau dois nesia prova. We reprovava 0 fapaz Tpebolmento do Comic. Hlio Leite, vicediseror da, Escola, Naval) . (Bere Beastncos Caxvato DA SILVa, Poesias Escolbidas, pig. 30 ADB Loe enn CAPITULO xxx DISPLICRNCIA ABSOLUTA DO P.M.P. 0 PMP. somba de todos os coleges que tomem 4 trio. 2 tsroja de educa ¢ Wcimar! soma dor que. proceram meib~ Jae tens ctodes ds entino: combs dat TSeomondapses do divtor’ samba dos ane “Greditem que e. obra edacacional pose Mrelborar 6. Brand; zombe ite todor que, Ms eocole, procera cxmpris com 0 dover. Essa atitude do PMP. € condendvel, mas o P.M.P, mes- mo advertido de seu mau procedimento, nao se corrige. E’ imu- tavel. Citemos um exemple: Sendo rotineiro e atrasado, o PMP. nio usa avental. E, por isso, tem sempre uma piadinha cretina quandé vé um colega vestir o avental e preparar-se devidamente para o seu trabalho de classe. E com suas observacées, de verdadeiro cafajeste, pretende o PMP. salpicar o colega com picuinhas do ridiculo. ‘A adverténcia do Prof. Imideo Giuseppe Néri dosa sdbre 0 PMP. maldizente: cai impie- & conduta condenivel a de ridicularizar colegss, seja por que motivo fér. Néo devem ser feitas se- feréncias desairosas a colegas, em classe. Incidentes ‘com colegas néo deve ser criticados negativameste junto aos alunos, Isto pode formar um ambiente de “mexericos”, do qual os alunos sabem muito bem se aproveitar, jogando um professor contra 0 outro() Ti) Gh Tonwwx0 Giuserre Niaici, Diddsica Geral, S. Paolo, pis, 183. capiruLo 20cK1 O P.M.P. E O IMEDIATISMO © PMP. mio procura ensiner nem ruito menos oducer. A sue provewbopao nice, om ceror casos, 8 breparar 0 limo pera grove ou pare’ exami: Em certos casos, para atender ao diretor, preocupa-se 0 P.MP. com 0s resultados dos exames. ‘Ao ensinar um Ponto qualquer declara, com muita énfase: — Atengiio! Isso que eu vou ensinar, agora, vai cair na Prova! Ou ainda: — Vou ensinar agora a questio tipo que vai cair na prova parcial. © aluno, sob tal orientacio, no estuda pelo prazer de estudar; nao estuda pelo interésse de adquirir cultura e preparo para a vida: estuda tinicamente para a prova, para 0 exame. Memoriza uma série de nomes, datas e definigées que iro (de- pois das provas) para o mais completo e total esquecimento. Esse deplorivel sistema de preparagao para exame é ado- tado nos “cursinhos’, que adestram alunos para o exame ves- tibular, Nesses cursintos a aula 6 em geral, ditada, e o professor 86 ensina aquilo que poderd cair em exame, (A preocupacio do exame é um dos mais graves males da_ nossa ‘qxola. secandirin. “CE Contos PueDERiCo “MAcitt, Problema: Wo Enrino Secumaério, Recte, 1987, pig. 33 A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 103 Em muitos casos, um bom professor, ao desenvolver com entusiasmo uma aula bem orientada, é surpreendido com uma pergunta de um alun — Professor, isso que o senhor esta ensinando, agora, vai cair na prova? Explica-se © assunto ensinado era interessante, de natureza cultural, © aluno, porém, que j4 havia sido deseducado pelo imediatismo grosseiro de um P.M, habituara-se a s6 estudar 0 que ia cair na prova, Fora da prova, nada mais podia interessé-lo. O set objetivo nao era aprender para a vida; era tirar a nota para passar. Passar e ficar livre daquele colégio, daquela vida, da- queles professéres. © PMP, com sua atitude imediatista, comete um verda- deiro atentado contra a obra educacional da mocidade. © verdadeiro educador nao pode ser um imediatista. Em quatro ou cinco linhas a Prof." Maria Junqueira Schmidt chama a atencao de seus colegas para o ideslismo: E nds, educadores, sentimos que o adolescente 56 se aguieta quando se integra apaixonadamente nos ideais que o levam a entrever a grandeza do seu des. tino, Com efeito, o adolescente empolganse por aqué- les que cultivam 0 desejo de aperteigoamento (), Oucamos esta grave adverténcia de Paul Foulquié Do ponto de vista intelectual, 0 essencial nio é aprender coisas, mas formar o espirito, aprender a ver, a pesquisar, a pensar, aprender a aprender. Ora, praticamente, para muitos escolares ¢ estudantes, 2 Preparacdo de um exame se reduz a armazenar na meméria 0 conteiide de certo mimero de manusis aca semtenga figuta no livto Pare Melbor Ensinay, trad. do" Tetko. Ea. stato Damo (2) "CE MRA JUNQUEIEA SCHMIDT, A Orientasio Bducectonal do Ado lescenies, in Cadernos de Orioptarao Educational, n° 1, CADES, Das. 26 104 MALBA TAHAN que itio vender num “sebo” Jogo apés 0 resultado: titos aparelhados para a vida, libertados dos cuids Goo de iastruirse, Findos 0s trabaihos forcados de preparagae dos concursos, findas as vigilias prolongs- tas, vaise poder viver, isto é, divertirse,.. ou aborrecer-se (). fisse Iamentével ensino imediatista em nossas escolas so- freu, em 1941, critica muito adequada do ilustre sociélogo Dunshee de Abranches: A triste verdade € que as criangas saem das es- coles primérias abominando as letras. Nos cursos secundirios 56 pensam os estudantes em acabar de- pressa os mal-alinhavados preparatdrios, que Thes Gbram as portes para as carreiras liberais. Nas faculdades superiores, finalmente, de ano a ano, $e yao tornando os diplomas académicos os troféus baratos da incompeténcia laureads. Néo pode haver sintese mais dolorosa, nem mais verdadeira Nao contente em ser imediatista, o P.M.P, vai além. Quan- do sente que a turma, por sua culpa, por seu desleixo, ndo se facha preparada para exame, éle indica ¢ explica as questées Gque vo eair na prova; mostra, com requintes de puro cinismo, Gomo & possivel colar nas provas e ensina a arte de apagar as- Sinaturas alheias para recolocar a propria em trabalhos j& apro- vados. © PMP. imediatista faz com que os alunos detestem a escola, O certo seria fazer com que brotasse no espirito dos ‘alunos amor pela escola, simpatia pelos mestres. Mais tarde teriam os exalunos saudade de seu tempo de estudantes. E a verdade estaria integralmente contida numa encantadora trova da poetisa Lilinha Fernandes: (Hy Ch Pavk Foutouit, Ar Excolas Novas, Comp. Bditdra Nacionil, sto Paulo, 1952, pags. 98/99. (ce Dosen De ABeancints, pig, 1164 da Revise Brasieirs de Buatbbice, Out, 40 A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR — 105 Saem da escola as criancas felizes, na sua idadé "Um batalhio de esperancas Imarchando para a Saudade (©) © imediatismo, no ensino, 6 um crime que muitos profes: sbres cometem: uns por ignordncia, outros por incapacidade mo- ral para o maxistério. “WO objetivo constante de todo professor deve ser o de vax Jorizar © aspecto moral do trabalho escolar ¢ induzir o aluno fa eatudar para satisfazer a necessidade de saber ¢ encontrar Pra- zer nesse trabalho” >, (© professor sem idealismo — afirmava o Dr. Raul Bitten- court — é um elemento profundamente nocivo a seciedade. Escreveu o Dr. Nérici: “0 professor cético nfo acredita na matéria que eciona ¢ muito menos na Educagio. Para éle tudo «sta fracassado; nada presta e nenhum esférgo encontra jostificativa de sua parte”, Cir, IMIDEO GIUSEPPE N#RICI, ob. cit. pag. 318. 0 PMP, sem idealismo, sem capacidade para educar, cria turmas e turmas de jovens desajustados, impudicos, anti-religosos e descarados. ‘A revelagio feita por Gilbert Higuet (ob. cit. pag. 48) € mut to grave: “xistem escolas em que as alunas nio persam senio om sexo e o8 alunos, senio em sexo e brigas; e todos odeiam os professéres, a Excola € a Educasao”. Toy Eh, LINHA FERNANDES, Cantizas que ow 16 canto, Com prio de Zslkind Piatigorsky, Rio, 1963,’ pag. 5: Zao itiO BIUNO, Didalica Eipecie! de Detenbo, pis. 25. capiruLo xxi MOTIVAGAO NULA O vertadeiro PMP, nio se. interes 24 om verificor 10 0f alunos extio moti Que se chama metivacdo? ‘Como definir ésse conceito de emprégo tio freqiiente em Didatica? No livro da Prof Virginia Cértes de Lacerda (Das Uni- dades Didéticas & Unidade de Vida, Rio, 1951, pig. 86) encon- tramos a seguinte definicd “Motivasio 6 x agio desenvolvida pelo professor bate prover © aluno de motivor impuaores, orendo Sin Stata oes ‘ancients vlanemen ea umn produto Ge aprendiagem vist por tee por tie desehdo e realieador Attar © manter a engio, internat © sluno e farblo viver a materia de ening a's tin terman concreros, moter” __Em outra passagem de sua obra (pig, 73) @ Sra. Virginia Cortes de Lacerda poe em relévo o importante papel que a mo- tivaciio desempenha, quando, agindo sobre o espirito do edu- cando, subordina os interésses inferiores, sos ideais superiores da vida A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 107 “Cabe a0 professor apresentar, de maneira atraen- te, 208 alunos, as vantagens do conhecimento da ma- téria que ensina, suas conseqiiéncias benéficas; des- pertarihes a vontade de estudar, fazendo-os compre- fender a beleza e ag vantagens da matéria, pois moti- var é, em ditima anélise, despertar ¢ alimentar idéias de cultura, hierarquizar valores, subordinando os in- teréases inferiores aos idesis superiores da vida’ © PMP. néo se preocupa em motivar os alunos, isto é em despertar néles a menor parcela de interésse pela matéria a ser lecionada. Ha um principio que € apresentado como um verdadeiro postulado de Didética: Nio aprendizagem sem motivacéo. ‘Mas o P.M, é de uma ignorancia absoluta em Didatica. Desconhece inteiramente os recursos a empregar para motivar fa classe. "0 adolescente — escreve a Prof" Maria Junqueisa Schmidt —, Nao estuda sé com suas faculdades mentais. Estuda com seu corpo que cresce e se transforma, e se agita, e se perturba com 08 fenémenos misteriosos da puberdade. Estuda com sua sensibilidade, revolucionada com as fantasias dos scus sonhos, com seus anseios de aventura, de gléria, de amor! Estuda com seu pasado, conflitos de infancia que se reavivem na aurora da adolescéncia. Estuda com seu presente, cheio de ressentimen- tos, porque nao encontra, em geral, a consideracéo ¢ a com- preensio que almeja, Estuda com suas tradicdes, seu ritmo per- sonalissimo, suas idiossincrasias, suas respostas emocionais tio varias quanto inconsistentes O fendmeno da preguica escolar nio existe, diz Buck, A fadiga 6, quase sempre, fruto do desin- terésse” Exalta o Prof. Carneiro Leo, o papel do interésse para a aprendizagem: (i), Gh MARIA JUNQUEIRA ScUSUDE, O Adolesceme ma Eucla, ia Ce demos de Orientapae Réostional, 2° 17, CADRS, MB. C-, Dag. 6- 108 Contentam-se alguns professére com a motivacio inicial, A Prof. J MALBA TAHAN B’ ficil concluir que o interésse é tudo. E’ éle que provoca 0 esférco criador. B ésse interésse (nunca demais repetir) nio pode existir senio em cor- respondéncia com as necessidades individuais. Se nao se ouve 0 individuo, ndo se perscrutam suas neces- sidades, suas possibilidades, a educagio 6 inexisten te. A imposigdo que a substitui, ao invés de formar, de constituir, de acomodar, desintegra, desadapta, desajusta. Os planos rigidos de ensino constituem mons. truosidades cientificas, verdadeitos atentados aos in terésses legitimos da juventude. A escola secundétia mais prépria seré entio aquela cuja flexibilidade f6r maior. Quanto mais ‘numerosos planos ela possuir, acordes as capacidades, 20s interésses individuais e as imposicdes do meio social, mais valioso seré seu poder educative (), em seu trabalho de classe, Brito de Paiva e Souza estabelece outras exigéncias didéticas em relagéo a motivacio, E escreve: @. Nacioaal, §. Paulo. 1950, o A motivacio néo consiste, apenas, num interésse inicial, que, no rare, é simples curiosidade momen- tinea, Ela deve trazer em si o necessério impulso, ditado por um interésse real, que torna motivada toda ‘4 aula, Os processos, técnicos ou recursos didéticos manterio acesa aquela chama que deve animar téda ividade; mas aio podem ser tomados i conta de fatéres de motivacio; seu cardter geral, que Ihes permite adaptaeio a diferentes motivacdes ¢ a di ferentes atividades, corrobora a assergio de que si0 @les a propria motivagio. £ por isso que muitas au- las, desenvolvidas através de recomendaveis recursos, técnicos e procedimentos didaticos, nio conseguem interessar 0 aluno por muito tempo; na verdade, a motivacio nfo chegou a criar um estado interior de interésse () GA, Camntno Lako, Adolrcncia ma Beucur, Comp, Batis &, Sobtt Butte’ be Paiva 4 Souza, Aposilbes de Diddtice de Portuguds, ME. Co, Rio, pag. 52 A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 109 Reconhecem os bons didatas que 0 problema da motivagae 6 sem davida, 0 problema nfimero um no ciclo docente. Em que consiste a verdadeira motivacao? A Prof. Irene de Mello Carvalho enfrenta o problema com um brilho e uma seguranga invulgeres: “A verdadeira motivacio consiste em demonstrat objetivamente 0 valor do tema da aula para o enti quecimento cultural do aluno, ou a aplicabilidade de tal tema na vida pritiea. Em muitos casos a aule apresenta ésse duplo valor: te6rico ¢ pritico. Tai contribuigdes deve ger captadas pelo estudante, para ‘que efetivamente o impulsionem a realizar o esforgo implicito em t8da a aprendizagem. B ébvio que o ve. the chavio: “a aula de hoje & muito importante...", nio mais surte efeito © mestre tem de demonstrar claramente 0 por qué de tal valor. Deveré entio reforgar seus argumentos com: exemplos retirados da vida real; citagdes expressivas; apresentagio de objetos, fotografias, gravuras, filmes, ttc. que ilustrem bem © que se quer comunicar; pre- por trabalhos de aplicasfo, e assim por diante. io sio, porém, ésses recursos secundarios 0 por- to bésico da motivacio, ¢ sim a idéia que os anima ¢, sobretudo, a pessoa que transmite tais idéias. Dai o papel preponderante da personalidade docente na mo- tivagio da aprendizagem. (© prestigio do mestre, o valor que se atribui & sua cultura, a £6 que merecem suas afirmagies, do tum lado; e, de outro, a forca que comunica aos argu. mentos, e 0 préprio valor daqueles argumentos é fque constituem a auténtica tessitura da motivagio (# Exerce © professor grande influéncia sdbre seus alunos, tanto pelo saber como por suas atitudes. Sua atuacao sera meis eficaz se usar para atingir o méximo da agéo motivadora, ma- (Ch Cuno de Técnica de Ensino pare Docontes das Escoles Superion ree (rob ox wnpicion da Cabie)™ Apoetitna, 1058 110 MALBA TAHAN terial de ensino adequado, tanto a classe como A matéria de ensino (5, ‘A. motivacdo exige o concurso da atencio, do esférgo, da auto-disciplina, da férca de vontade, do interésse, ete, NOTA 1 — Nio deve o mestre forcar a atengio do aluno pela imposicéo ou mesmo, exasperactio, mas pelo interésse que deve despertar a matéria a desenvolver. Uma tonalidade de voz mais suave, uma enedota ocasional, uma referéncia a um fato que seja do conhecimento geral, sic recursos que, com minimo de esf6reo, do étimos resultados para atrair a atencGo da classe. Para ser professor & preciso ser pro- fessor sob todos os angulos; & preciso possuir conhecimentos, fe também conhecer a arte de transmitir com eficiéncia ésses conhecimentos. © aluno deve se manter atento a palavea do mestre pelo interdsse que essa palavra desperta e no pelo temor que a presenca do mestre possa inspirar. Cf. CELY ARAUJO e CECY P, DOMNELLI, R.E,, maio, 1952, pég. 40. NOTA 2 — Eis trés interessantes conceitos sébre motivacio — Qualquer motivacio, mesmo a negativa, é preferivel ao tegime da nenhuma motivacio (Luiz Alves de Mattos). — Hi sempre motivos, em estados latente, na alma do ‘educando, A tarefa do bom professor sera descobrir ésses motivos, avivéclos, dirigi-los ¢ aproveité-los com maior eficiéncia (Jamil El-Jaick). — 0 fator mais importante da motivacie: O Professor (O. A. Penteado Jiinior). + 1p eG HF © stigo do ofenien Matin Nodye de Frcs, B.S. (6) Cl. NAZARETH SUTINGA, Psicologia de Aprendizazem, Rio, 1964, pig. 92 capiTuLo xxxIH FUMAR EM AULA O PMP. rente reser em jumar em sla dianie dos alunos. Essa questo do professor fumar, ou nfo fumar, tem sido largamente debatida nos meios educacionais. Para aquéles que colocam a educacio dos edolescentes abaixo da instrucéo, & claro que © professor teré ampla liberdade de acender o seu cigarro, ou saborear o seu charuto, diante dos educandos, com a maior desfacatez do mundo. ‘Acham alguns que a proibiciio do fumar s6 deve atingir os professéres dos Cursos Primério ¢ Médio; nos Cursos Supe- riores a liberdade de fumar seria completa, no s6 para 0s prov fesséres como para os alunos. Ha professéres catedraticos que fazem as suas erudites prelegdes de cachimbo na béca \), Nesse ponto sentimos discordar integralmente da opiniio dos mestres rotineiros e deseducadores. Somos apologistas da toibicio radical: O professor, sendo antes de tudo um educa- (i) Para muits pessoas o fumar consticui um héblto. Hé fumantes que fumam, incoascientemente, sem parar- Que € um hibito? Easing « Protessors Inn Waisherg (Elomentos de Psicologia, 1956, 28 ed, pig. 48): °O.abito ema reapio astomivien sdauisida ¢ exerectipads pelas repetiches de situs: 80s iéateas com feforcamento. da mesma sede de fotegracio nervosa’, Mas © famar, mesmo seado um habito, € mau; campre a0 bom edicador cortiginse Sesie ma babito, 112 MALBA TAHAN dor, nao deverd, em caso algum, praticar a aco desprezivel de fumar diante de seus alunos e nao devera permitir, sob pretexto algum, que os alunos fumem durante os cingiienta minutos da aula. Se um desbriado P.M.P, no Curso Médio, fuma em aula 6 porque o diretor, no sendo um educador modelar, permite que seu auxiliar tenha, na presenga da turma, ésse procedimento incorreto. (© fumar, em aula, é atitude de verdadeiro desrespeito, de absoluta irreveréncia & fungao, Pode ser muito elegante, bossa nova, mas foge aos ditames da boa educacéo. Negar essa as- sertiva seria prova, néo de candura, mas de integral parvoice. Pode ser cOmoda ¢ agradavel para o fumante, mas nao é cor reto, nem admissivel, dentro dos principios da Etica Profissional do Professor. Esse mesmo PMP. displicente, que nao trepida em fumar no decorrer de sua aula, na presenca até do diretor, seria incapaz de acender o seu cigarro, ¢ soltar algumas baforadas, dentro de uma igreja, durante a Santa Missa. Ele sabe muito bem que 03 catdlicos presentes nao tolerariam aquela atitude de achincalhe do desclassificado cafajeste. © fumante seria expulso do recinto sagrado e correria o risco de receber o merecido castigo fisico, alguns trancos e bofetdes. Qual © motivo da expulsio? Nao hé outro: O ato desrespeitoso Sabemos que em muitos carros, nibus, elevadores, cine- fumar. mas e em varias ceriménias ou solenidades civicas o fumer 6, totalmente vedado. Por que nao estender essa proibiciio mora- Tizadora & sala de aula? O diretor de um gindsio, eversivo das normas educacionais, que permite ao PMP. fumar, com total descsramento, diante dos adolescentes, nao ser, com certeza, um Perfeito Bom Di- retor. Sem receio de errar podemos aponté-lo como um Perfeito Ma Dirotor. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 113 Em Uberaba, durante um Curso da CADES ©), sob a nossa orientagéo foi designado para lecionar Portugués um catedré- tico, auto-didata, sem concurso, da Faculdade de Filosofia da- quela préspera cidade mineira. Professor com trinta anos de ro- tina e meio século de atraso em Didética, ésse catedratico tinha atitudes deploraveis: 1) Lecionava pelo método da prelecéo simples, sem vi- sualizagio no quadro-negro (pura salivacio); 2) Dava aula sentado (um aluno escrevia no quaciro-negro ); 3) Achava que, para éle (catedratico), seria uma indig- nidade 0 uso do avental; 4) Fumava, durante a aula, diante dos alunos-mestres. Em prévio encontro com ésse eminente colega, fizemos sen- tir, com arguments irrespondiveis, que o seu procedimento di- datico (digno de um P.M.P.) era totalmente errado, € pedimos que 0 ilustre fildlogo uberabense, durante 0 curso da CADES, sob a nossa orientacio, ndio adotasse os métodos obsoletos ¢ an- ti-didéticos que éle punha em pratica com tanto brilho na Fa- culdade de Filosofia, Fizemos sentir que éle se abstivesse de fumar diante dos alunos-mestres (explicamos os motivos). B’ Jaro que batido o sinal, terminada a aula, o erudito mestre ja para a sala dos professdres ¢ ali, em companhis dos colegas, refestelado numa poltrona, depois do classico cafézinho, poderia famar, a vontade, vinte cigarros e dez charutos. O orientador nada teria a ver com isso. ‘Durante a aula, porém, declaramos, o fumar no seria per- mitido, Aconselhamos, também, que adotasse, no ensino, om: todo eclético, com visualizagéo no quadro-negro. Nada de dar aula sentado com aluno auxiliar no quadro-negro! Esse método 6 obsoleto, condenado pelos bons didatas. ‘Prometeu o insigne mestre da Filosofia que de atender as nossas justas e razoaveis recomendacées. S6 nic concordava (declarou logo), com o uso do avental, pois éle (2) Campanha de Aperieigoamento © Difasio do Ensine Secundirie = Perfeite mau professor 4 MALBA TAHAN era professor hé mais de trinta anos e nunca havia dado aula de avental. Achava feio © desclegante. Principalmente descle- gante. (O preclarfssimo filélogo tinha em muita conta a sua linha impecével de cingtientio enxuto!). Um dia, porém, sem que 0 conspicuo filélogo uberabense esperasse, fomos observa-lo em trabalho de classe, e tivemos 0 desprazer de surpreendélo dando aula sentado, com o eigarro aceso na béca e um aluno-mestre, no quadro-negro, escrevendo frases. Era assim que éle estava habituado a lecionar os ado- lescentes da Faculdede de Filosofia, O flagrante deixou-o per- turbado. A sua vergonhosa quebra de Etica era evidente. O insfgne auto-didata, num gesto répido, tirou 0 cigarro da bica fe escondeu-o na gaveta da mesa e levantou-se. Teve a mesma atitude pueril, que teria um adolescente, imaturo, ao ser apa nhado em falta pelo inspetor escolar. Nesse mesmo dia lavramos a demissio do erradissimo ca- tedrético que nfo mais trabathou na CADES, sob nossa orien- tacao. E' muito dificil, ou quase impossivel, vencer a rotina, Citemos, a tal respeito, um fato muito curioso. No dia 7 de maio de 1965, fomos ao Externato do Colégio Pedro II noite, assistir a uma conferéncia do Prof. Newton Sucupira, da Faculdade de Filosofia do Recife, © tema da conferéncia envolvia os problemas fundamentais da Educacéo. Ao passar por uma das salas do venerando ¢olégio, sala téda ituminada, na qual se achava uma turma de adolescentes em ‘ule, vimos uma cena surpreendente: Um professor dava aula, ou melhor julgava ensinar e educar os jovens, da seguinte maneira: 1) estava sentado, na cétedra, com a perna direita do- brada e 0 joelho levantado e apoiado na mesa; (2) A conferéncin do, ilustre catedrético peraambucaso foi lida, sums toadn monérons, do principio a0 fim Ao deitarmer 0 salto de’ hoari, ouvi- fos um caredritico fo Colegio Pedeo Il comentar:, — "Confertacin lida? Incrivel! Base homem inca esté no periodo prleolitico da'conferéacia tide! file nfo seme, mio perteme, que iso. € chatssimo ‘Mas, ao terminar a tal coafertacia (lida), 0 ofador fol akamente eloglado Wandick de Nobeega, Diretor do Pedro. Hl pelo A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR — 115 2) estava de mangas de camisa (a camisa sujfssima); 3) tinha um cigarro na béca; 4) ditava aos alunos, a matéria da aula, lendo um livro; 5) no dava a menor atengdo aos educandos; 6) agia contra todos os preceitos da Didética e da Stica Profissional do Professor. No fundo da sala, jovens adolescentes (mécas e rapazes) inteiramente indiferentes aos “elevados” ensinamentos ditados pelo mestre, namoravam descaradamente, Alguns pares estavam de miios dadas e trocavam as mais ternas e encantadoras jures de amor. De amor eterno, é claro! ‘Bsse fato foi observado no Externato do Colégio Pedro II, que 6, alias, apontado como um Colégio Padréo, o estabeleci. mento que, na obra educacional, deve servir de exemplo a todos 08 educandérios do Brasil. Observa a Prof.® Juracy Silveira, a0 enalisar a obra nefasta dos rotineiros: ‘Bnsinase como se ver fazendo hé muito tem- po. Ensinase como se aprendeu ou como se supie ‘que se tenha aprendido” (4) ACY SULVEIRA, A. Litera ma Escola Primiria, Com preticio on 10, 1960, pig. 33, ao Prot. Lowreago Filho, capituLo x000v © P.M.P. E 0 ENSINO SUPERIOR Onde podomos encontrar grande mire: rode witinticor BuoM. Pe. 6 mas e1colss Soperione oy eipectalmente, mes Pachldades 22 Faorofia Tomemos, por exemplo, o caso de um médico. Para exetcer a sua profissio de médico, 0 Ministério da Satide obriga‘o a tirar o Curso de Medicina, Esse médico in- gressa depois, na Congregacéo da Faculdade de Medicina, passa ser um professor, um catedratico, e entra a exercer 0 magis- tério sem estudar as nogées mais elementares de Didética. ‘© Ministério da Educagdo deixa-o exercer um cargo téenico (0 de professor) para o qual éle (0 médico) nao se habilitow Bie vai ensinar 0 que aprendeu de acérdo com os métodos mais rotineiros, isto 6 como aprendeu. (0 que dissemos, em relacio ao médico, poderiamos repetir, ‘mutatis mutandis, em relagao aos engenheiros, aos bacharéis em Direito, aos quimicos, aos farmacéuticos, ete. (0 Prof. Everardo Backheuser (que foi um auto-didata) observa: Apenas para o professor superior no se exige, no Brasil, preparo pedagégico especializado. Reque- ‘remrse, tdo sdmente conhecimentos profundos da ma- A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 117 téria a cujo lecionamento os candidatos se propéem, @, quando muito se Ihes pede no concurso de provi lima prelegio sdbre ponto sorteado, a que dio 0 no! de prova didética. Cifra-se a essa “prova didétic fa uma preleedo, 4 que uns regulamentos concedem 24 horas de preparo prévio ¢ outros exigemr seja realiza- da imediatamente apés 0 sorteio do ponto‘. Assegura Dr, Backheuser que para o ingresso no Magis- tério Superior é exigida do candidato uma prova a que dao © nome de prova didética, Essa tal prova didética, nos con- cursos para ingresso no magistério, é uma vergonha, um verda- deiro escdrneo assacado impunemente contra a Didatica. ‘Na nossa opiniao, essa pseudo-prova didatica devia ser cha- mada “prova de prelecao” ou “prova de exposigao” ou ainda, “prova de erudigéo”. Mas nunca prova didética, pois de Di tica ndo apresenta nem o mais leve traco. ‘Ja tivemos ocasido de assistir a dezenas de provas didéticas em varias Faculdades ¢ no Colégio Pedro II, ¢ tédas elas eram vergonhosamente anti-didéticas. ‘Na Faculdade Nacional de Filosofia, fomos, certa vez, con- vidados a assistir a prova didética de um concurso para cate- drético. ‘0 candidato a0 desenvolver © ponto, sorteado com vinte fe quatro horas de antecedéncia, apresentou uma aula, pelo mé- todo da prelegdo simples, com visualizagéio no quadro-negro (Meio século de atraso em Diditica) Cometeu, no decorrer dos cingiienta minutos, erros gravissimos de Didatica — erros que © Prof, Luis Alves de Matos considera imperdodveis, Um colega, que estava a nosso lado, acompanhando a cha- tissima. prelecdo, perguntou-nos em vor baixa: Que nota o senhor, como professor de Didatica, daria a ésse candidato? Respondemo: — De acérdo com os ensinamentos de Lourenco Filho, Fernando Azevedo, Luis Alves de Matos, Imideo Giuseppe Né- Ti) Gh EVEMANDO DACKHEUIER, O Profesor, Rio 1946, pis. 78. 118 MALBA TAHAN rici, Rafael Grisi, Teobaldo Miranda Santos, e outros luminares da Didatica, ésse candidato deveria ter, no maximo, grat quatro ‘e meio nessa prova, sendo oito em contetido © um em Didatica, ‘A média final é quatro e meio. Nao pode ser outra, Esse can- didato deve ser reprovado em Didatica. Pois bem, ao terminar a prova, o secretério escreveu 0 re sultado no quadro-negro. Ficamos, realmente, assombrados! candidato, na deploravel prova de Didética, havia tirado grau dez undnime da banca examinadoral A tal banca exami- nadora era constituida por cinco catedréticos que nunca haviam ouvido falar em Didatica, mas que se julgavam competentes Para avaliar do métito de uma prova didédtica. Cinco nulos, em Didética, julgando um nuliesimo. E com aquela note dez (em Didatica negativa) 0 Perfeito Mau Professor ingressou na Colenda Congregacao da Faculdade Nacional de Filosofia. Que futuros mestres poderé éle formar? “Dir-se-4 — acrescenta o Prof, Backheuser — que, apesar dessa caréncia de nogdes de Pedagogia, hé excelentes professd- res no ensino universitdrio. Sem divide. Aos dotados de étimos indices vocacionais, isso acontece, mas nao é licito argumentar com as excesses” (, © Prof. Backheuser também ingressou no Magistério Su- perior sem saber coisa alguma de didatica, Estudou e tornow-se, mais tarde, um excelente professor. Em_muitas de nossas Escolas Superiores (oficiais) e no Colegio Pedro TI, a situacdo do professor muda bastante depois do concurso. © candidato obtém a catedra e é efetivado, e a partir do decreto que o efetivou, deixa de dar aula. Encarrega dessa delicada tarefa os seus assistentes ¢ vai tratar da sua vida, A cAtedra, para éle, 6 um “bico”. Sob o titulo Vitaliciedade de Catedra, publicou 0 Diério do Noticias (em 18-3-64), um artigo do qual destacamos 0 se- guinte trecho: (2) Gh Evanaxoo BackHEuseR, O Proferrr, Rio, 1946, pés. 31. A ARTE DE SER UM PERFEITO MAU PROFESSOR 119 “Catedr: que, na condigio de as para obt@ a, valendo-se de recursos de todo incomp: tiveis com o decéro magisterial e a dignidade do i dividuo. Obtida a cétedra, de pronto dela se esquece- ram, isto é: jamais atuaram em pro! do discipulado, da pesquisa, da técnica, do progresto, enfim, da sua disciplina, Por éles dio aulas esforcados assistentes andnimos, mal pagos. Poderiamos nomear, se fésse © caso, professdres que, obtida a catedra, nunca, mas nunea ‘lecionaram, ocupando indevidamente o Iugar © impedindo com a sua presenca decorativa 0 desen: volvimento do ensino. Até no mais velho educand: federal no Rio os hi, aboletados no cargo simboli mente e ocupando-se de outros misteres rendosos em diferentes setdres piblicos ¢ particulares” (9) icon ha, e em quantidade apreciével, intes a ela, tudo fizeram Poderiamos apontar varias escolas superiores, onde hé mui- tos catedriticos que os préprios estudantes desconhecem intei- ramente, pois nunca foram vistos pela turma. O ensino, em mui- tas cadeiras (como ja dissemos), é feito, exclusivamente, pelos assistentes, A nossa conclusio é a seguinte: A prova de Didatiea nos concursos para catedréticos nas escolas superiores, nfo passa de uma blague, de uma escandalosa mentira atirada contra o renome da Pedagogia. E, como escreveu o filélogo paulista, B. Sampaio: “Mentira, 6 mentira com tédas as letras — sete — que é conta de men- tiroso?" Nota — A revista N.$. (Nosso Século) publicou um artigo do Sr. M. F. do Nascimento Brito, sob o titulo “Viajei pela Rissia”, no qual o autor estabelece paralelo, profundamente chocante, entre o ensino universitirio na URSS e o “deploré- io no Brasil, vel" ensino univers (3) Referese, como evidente, 20 Coléxio Pedro 1. Nesse Colégio of catedraticos em Beraly tio RO avian. (4) CEB, Samrato, Polémica Alegre de Gramisice, 8. Paulo, 1944, pi 106, 120 MALBA TAHAN Esereve 0 Sr. Nascimento Brito: “A Universidade de Mos, cou é infinitamente superior a essa fragil e infeliz Universidade do Brasil, que nao chega a ser uma Universidade, porque esté fora da reslidade brasileira, porque os seus responsaveis estéo atentos, apenas, as posicdes que ocupam ¢ a satisfacdo de suas vaidades pestoais, porque os responsiveis esto superados pelos proprios estudantes’. E 0 colaborador de V.S. acrescenta: “Hé, realmente, na URSS um sistema universitario. Ha seriedade no comando universitirio ¢ os estudantes realmente estudam, pois conforme textualmente declarou-me 0 Vice-Reitor que nos recebeu, na Unio Soviética estudante tem de estudar”. E na sua critica profundamente pessimista em relagao ao Brasil, 0 Sr, Nascimento Brito chama a atencdo para a inc pacidade do nosso professorado: “Nas grandes democracias ocidentais a Universidade tam- bém é coisa séria ¢ das mais sérins para 0 govérno € para 0 povo. Por isso é que na URSS o brasileiro & inevitavelmente assaltado por um sentimento que ndo tem nome, lembrando-se que o ensino universitario no Brasil é o produto desastrado de uma burocracia inepta, da incompeténcia de professéres em grande parte relapsos e desinteressados e por que néo dizer, até gente de honestidade duvidosa”. Chamamos a atengdo dos nossos educadores para os con- ceitos formulados pelo colaborador da revista N.S. em relagio aos catedraticos das escolas superiores do Brasil Incompetentes. Relapsos. Desinteressados. E gente de honestidade duvidosa ‘As acusagées gravissimas foram feitas. Q Conselho Univer- sitério no deu a menor importancia. A desatencio pelas coisas sérias, em nosso pafs, ¢ completa, caPfrULO XxxV A OBRA PERNICIOSA DO P.M.P. Com 4 sma atitude aniisdiditice » de. seducaiva, por vires auiliante, 0. PAP. Zi eraadar do sip que denominator Fo mat limo" Sob a agio do PMP, 0 adolescente que entra, cheio de ‘Animo, para o colégio, perde, inteiramente, o entusiasmo pelo estudo, pelos trabalhos escolares, e torna-se radicalmente desin- teressado pelas coisas do saber. . ‘© mau aluno com o caréter desintegrado, com a miéscara do cinismo, 6 sempre obra de um P.MP. (© dano causado & Sociedade, nesse sentido, pelo PMP. 6 incaleulével. Sio bastante expressivas as palavras da Prof* Maria Jun- queira Schmidt: (© mau aluno é um frustrado. Mais do que isso. £ um humilbado, um envenenado, um marginal, iro nizado pelo professor, desvalorizado pelo colega, te- primido pela familia, Quanto sofrimento na slma do Feprovado! O mau aluno & candidato as aventuras dos bandos de desordeiros. Sera também, quantis vé~ es, 0 mau profissional, o mau cidadio. Enquanto se revolta contra a nota baixa, pede revisio de prova, protesta contra supostas injusticas, ha esperanca de 122 MALBA TAHAN ai do conformista! Tenhamos mé. fo cinismo que encobre a amargura da insatisfacao, a tragédia da insegurangal © insucesso repetido traz deformagao mental ¢ desintegra o caréter. A plasticidade do jovem é gren- de, mas tem seus limites (0, Pela sua agdo perniciosa 0 mau professor afasta 0 aluno da escola. E o papel que a escola desempenha, na vida de uma nacdo, é de um valor incalculavel. Meditemos sdbre estas pa- lavras de Fernando Azevedo: “Se a escola, por si, nao faz a nacido, ela no serve, apenas, Para aumentar a riqueza material e moral do pais e despertar consciéneia nacional, mas também para unir, como um po- deroso foco de assimilagao, em que as diversas classes de po- pulacdes vém atenuar ou dissolver as suas diferencas. E? por ela — se nao perdeu a consciéncia do seu papel nacional — € sobretudo por ela que se guardam as tradigées morais, a mi- sica e as cang6es que sio transmitidas de uma geracio a outra e em que palpita a alma de um povo; é por la que se man- tém a continuidade de tradigao, na historia viva de todos os acontecimentos de nosso passado que faz a férca nacional e a curva de cuja evolugio se podem encontrar as diretrizes de uma politica verdadeiramente nacional; & por ela, sobretudo, que 0 Estado pode edificar, em bases cada vez mais sélidas, @ consciéncia comum da nagio, fazendo concordar a voz da escola com a voz da Patria e preparando-nos para justificar ‘as palavras de MAZZINI: “um povo que guarda as lembrancas, a esperanga e a fé, dorme o sono do leao” ©), E escreveu Jorge de Lima, 0 grande poeta alagoano: — B tais coisas néo hé quem as defina (2) (5), GE Manta Junqueing Scustion, O Adolescente me Eicte, in Ce demos He Grienterso Educacional, 7, Capes, M. EC, pigs. 8/5 G 3) _L Fusnanno Avevt00, 4 Unidade Nathan! ¢'s Sheets vite Doni de Estatistica, Out., 1941, pig. 879. " 3°" (GE Joror pn Lina, Jeomsa0 de'Orfen com preticio de Joto Gaspat SimBes, Rio, 1952, pig. 186. " on io de Joto Gaspa in Re {NDICE DE AUTOR! S, PROFESSOR’ POETAS E EDUCADORES CITADOS (Os nfimeros indicam as paginas) Anovp (Ahmed), 5% “Ammancnts (Dunche de), 106 ‘Ano Meeny (Naie Fortes), 65, ADELINO (Moos. Jose), 14. Acosrinno (Banta). 1 ‘ALBUQUERQUE (Medeiros F), 57. Atcantana (SOnia Maria. da Rocha), 94 Atancan (ioxé de), 96, 97, ‘Atrewtens (Dante), 38 Austrina (Manvel Antonio de), 97. ‘Arsirios (Privcliany Daaree de), 52. Arvanrwen (Plinin). 15 Abves (Covent. 47.79, ‘Amav0. (Gildésio).” 9 Amon (Arlee Leto. do). 94 Awtsto (Mane. Pedro). 8 Ananvo (Cele), 110, Anavio Fito, 79 Ancntro JOxton (Aquilles). 80, 81, Armevoe (Tristin de Uy 13 ‘Arevro0 (Rernedo),. 122, Azeving FINO. (Leodegseio “Ammaraate). 5 BacMttUsEN (Fverardo), 29, 30, 116: Banposa (Ray). 14. 39, 79, Bastos (Moura), 46: Bauzen (Riva), 75, 76 BuLo (Belinha), 34 Brexaspes (Florestan), 76 BILAC’(Olevo), 79. BrrreNcouRr (Raul), 108. Bonaract (Adoiphina Portela), 37. Bosco (Sto Joie), 98 Baastt (Leio Magno), 5. Bnigurr (Real), 43, 63. Baio. (Mario), 3, Barro (M. F. do Nascimento), 119, BRUNO (Jatiod. 55, 105. BUCHON (Comuelo’ Sancher), 93, 94, tor. Cammat (Veiga), 22 Canvas (Antinio Castano de), 41 Campos (Humberto de), 41 Campos (Ofelia Boisson), 15, 96. Caentett (Andrew), 7 Caevauso (irene de’ Mello), 21, 23, 24, 77-78 108, CARVALHO (Thales Mello) 20. Cascono. (Lair da Chmar Casteo (Gentil Bersardo de), 85 Cavarcanti (Djalma), 76, CAVALCANTR (Matio), 14 Conn (A), 56 Cominns Goto Amén), 22, 65 Costa (Hearique Cesar de Oliveira), 2. Covr0 (Miguel), 16. GUNA (Battider 48), 37, 66, 79. DAMIAO (Irmio Evaénio) 103. DYAVIEA (Aniiaio) Dewey (John), 49. Divas, 95. Donne, 17, 18. DomNrtn (Ceey), 110, DorTaens (R.), 13. EDERT (Albert) 40. EL-Jaick (Jail), 110. FEanaNpss (Aparicio), 47. Fuaanpes (dina), 104, 105. FERNANDES (Francisco), 22 FIRIETRA (Januisio Maieus), 96, 97 FONSECA (Jaime B. Vieica da), 22. FoNTOURA (Amacal), 69, 70. FOULQUIE (Peal), 103, 104 FRANCA, 8. J. (Padee Lioel), 15, 23. BRANce’ (Anatole), 9 Fanims (Laudelino} 12 FREitas (Maria Vaidys de), 110. Fuisiro (Eduardo), 12. Prout. Gamaciia (Fernando Raja), 28. Gavanre (Carlos), 2 GERANDO (Barto. de), 39. GauKa (Wladimir), 14 Ginko (Eduardo), i Gomes (Giselda Guimaries), 50. Guist (Rafael), 24, 82, 86, 87; 118. HERMANNS. (Wiliam), 78) 84. Hauer (Gilberr), 142, 85, 165. HUG (Views), 18 HoLANDA (Aurelio Buarque de), 11, Kenscnensrein. (Geors LacexbA (Virginia Cartes de), 25, 106, 107. Lxko (Carneiro), 107. Late (Helio), 99, 100, Lime (Pascoal), 62. LEON (rmdo), "29, 103, isto (Blizabeth), 15. Lima (Jorge de), 79, 122. Lima (iavro de Oliveira), 20, 25, 61, 62, 69. Liso0a" (Alsneida), 27. LoPEs (Luciano), 40, 68, 99. Lovsrnco Fitwo, 115, 117. MaciEL (Carlos Frederico), 102. MacALUixs (Fernando), 15, 16. ManuEE (José), 91. Marita (Noncy Guatyba), 52. Marri (Jose), 16 MARTINE (Matia de Lourdes G.), 21 Matos (Luis Alves de), 21, 24, 44 45, 59, 60, 61, 80, 88, 10," 117. Mazin (Gisseppe), 122 MELLO (Fariaa), 6. MrLLo (M. Relriques de), 95, 96 MENDES (Itsimundo Teixeira). 63, ‘Mantzas (Cinira Mizanda), 33, Maver, 0. FM. (Gil), 1. Micuatuis (Faris Antosio §), 7. MICHELE (Jules), 16, 40, Mitaxo (Miguel)’ 39. MINNUCEI. (Sud), "18 MoxALES (Aurelio), 7. Mouxa (Paulo Cavateanti C.), 83. NascenrES (Anrenor), 54. Nur (Apula), 4 Nason (Horacio), 20 Nésict.(Iimideo Giuseppe), 29, 32, 33, 50, 51, 64, 68, 91, 101, 105, 11, Nevis (Clarice Lourdes das), 19. Noparca (Wandick da), 114, Nocuntea (Hamilton), 68, OnEec (Lamartine), 27. Ouivains, 8. J. (Dionisio de), 54. Ounini0 (Papilio), 95. Oravio (Luis), 43. PADILHA’ (Beroando), 46. Puixoto (Afrinio), 55. PENTEADO JUNIOR (O. A.), 10 PEaEIBA (Abel), 15, 1A UBdvardo. Carlos) ski (Zaid). PINTO (Paulo Emilio), 47. * PINTO (Pedco Augusto), 58 POINCARE (Heasi), 18 Prete (Sunislaw Ponte), 20. Puro (Joio J. de Sales), 92, Ropuicues (Nina), 79. Rows10 (Silvio), 79. Rovat (Alberto},” 39. Roxo (Euclides), 27 SABINA (Maria), 62. SALGADO FILHO, 65. SALTIRL (Macia’ Emilia Alves), 70. Samparo (B), 119. SAMPAIO (Clemem Barreto), 41 SanGIOxG! (Oswaldo), 42. SANTOS (Hemeterio dos), 83 SANTOS (Teobaldo Mitana), 81, 92) 118. Scuwior (Maria Jungueira), 103, 121, 122. 107, ScuNED: ScHloPENMaUE Sreaatvo Som: (Aaonio), 13. Serre (Mario), 97, 98. SHAKESPEARE, 9. Sttva (Anmtnio Salles da), 65. Silva (Benedico Raimundo da), 72. fiva (Dosningos Carvalho. da},” 100. SLvEtHA CJaracy), 115 SimOzs (Joo Gaspar), 122. Soanis (Maria Ferri), 51 Sriva (Maria Licia do Eleado), 19. Sours, C88. K. (Geraldo Pinto de), 13. Sours (José Carlor de Mello €), 2 Souza (Judith Brico de Paiva e), 108. Souza (Paulo Jou Soares de) SPALDING. Sucurina (Newton), 114 Surinca. (Nazareth), 110. Tatts DE MILITO, 5. Tarayos (Vicente), 46, 47. ‘Tavanes (Adelmar), 3 Tenens (Helio C). 15, Terxaita (Maria Helena Prestes Barra), 76. ‘reuies (Itacy de Sour), 3, 55 ‘TuION (Gustave) ‘Tuiters (Adolphe). 15, Tourtnno (Adolto), 28. Tanzza (Carlos A.D, 14 Vasconcelos (Itamar de Abseu), 3. Vitex (Maria Ferti Soares da), 84 8s, Viana (Mario Gonsalves), 40, 95 Viana (Oliveira), 79. Vinika (Maria Lacerda), 94 Waispeng (Iva), 111. INDICE GERAL Dedicatéria . Ao leitor | ste livro e a Verdade . Conceitos e afirmagées I — A arte de ser um P.MP. e a sua origem II — A Improvisacéo e 0 ensino do PMP. TI — 0 Professor e o roteiro da aula IV — 0 PMP. e as relacées sociais .... V — Assiduidade e pontualidade . VI — A atividade improdutiva do Mau Professor ‘VII — Programa incompleto da matéria | -VIIT — © Mau Professor e a correlagao entre as | matérias : IX — 0 livrotesto ¢ a incultura do PMP... | X — A cultura geral de um Professor | XI — A rotina e 0 mau Professor . _ KI — A severidade excessiva com os alunos . * XMIT — O desrespeito ao aluno 22... +005 XIV — O nome do aluno . XV — Dois extremos deploréveis do PMP. XVI — 0 problema das reprovacées . : XVII — O mau Professor contador de anedotas XVII — 0 problema dos trajes do Professor XIX — A classe e a vida intima do Professor .... 36 38 42 44 48 50 53. 56 59 63 66 6 XX — 0 Professor sabatineiro . XXI — O desprestigio moral do PMP. XXIL — O PMP. e a critica motivadora . XXIII — O PMP. e o problema da disciplina . XXIV — A linguagem grosseira do PMP. . XXV — Pér o aluno para fora da classe XXVI — Bateu o sinal . a XXVI — 0 PMP. e a atividade de classe . XXVIII — Castigos coletivos e castigos impiedosos . ‘XXIX — e duas medidas XXX — incia absoluta do P.MP. ... XXXI — O PMP. e o imediatismo - XXXII — Motivacao nula . XXXII — Fumer em aula... ...... XXXIV — 0 PMP. ¢ o ensino superior .. XXXV — A obra perniciosa do PMP. . Indice de autores ......- . 1 8 7 80 82 86 88 on 93 99 104 102 106 uy 116 12 123 ‘Composto « impresto Run do Retende, 14 — Kio de Janeiro, OB. idams da CASA EDITORA VECCHI LTDA.

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