You are on page 1of 9
ss, € j@ nfo tinka nada que thes pudesse ser mostrado para. que viessem, exceto um tamborim que mandet trazer'ao castelo de pops, para Ser toca- doe fazer dancar alguns jovens, pensando que eles viriam vera festa. Mas assim que viram o tamborim set tocado ¢ a danga, todos abandonaram 05 remos, tomaram seus arcos, estenderam-nos, cada um cobrindo-se com 0 escudo, e comecaram a atirar flechas sobre nés” (“Carta aos Reis”, 31.8. 1498). Estes fracassos nfo se devem unicamente a ignorancia d costumes dos fndios (embora Colombo pudesse ter tentado ve interedmbios com os europeus também nto sZo bem-sucedides. Assim, vok tando da primeira viagem, nos Agores, Colombo comete um erro apis ‘outro em sva comunicagdo com um capitdo portugués que Ihe era hostil Crédulo demais no inicio, vé seus homens éetidos, quando esperava a me- Ihor das recepgBes; dissimulador grosseiro em seguida, nfo consegue atrair © capita a seu navio, para prend&lo. Sua percepgao dos homens & sua volta ndo é muito clarividente: aqueles em quem deposita toda confianga (Como Roldén, ou Hojeda), voltanrse em seguida contra ele, ao passo que le negligencia pessoas que the sto realmente de como Diego Mendez. Colombo nfo é bem-sucedido na comunicaggo humana porque nfo esti interessado nela. Lé-se em seu didrio, a6 de dezembro de 1492, que os {ndios que hava trazido a bordo de seu barco tentam escapat e inquietar “se 0 verse longe de sua itha. “Alids ele os compreendia to mal quanto les a ele, e tinham 0 maior temor do mundo das gentes desta ilha. Assim, para conseguir falar com os habitantes desta itha, rmanecer alguns dias neste porto. Mas ele nfo. duvidando que 0 bom tempo durasse.” Tudo ‘lgumas frases: a pouca percepefo que Colombo tem dos indios, mistura de autoritarismo ¢ condescendéncia; a incompreensto de sua lingua e de Tevelm Teco A A @vesti dogo, Sel Rb : Macks 1983 Colombo e os indios \ Colombo fala dos homens que vé unicamente porque estes, afinal, também fazem parte éa paisagem. Suas mengOes aos habitantes das ilhas aparece sempre no meio de anotagSes sobre a Natureza, em algum lugar entre os péssaros ¢ as arvores. “No interior das terras, hd muitas minas de metals € fntimeros habitantes” (“Carta a Santangel”, fevereiro-margo de 1493). “Até enti, ia cada vez melhor, naquilo que tinha descoberto, pelas terras , frutos, flores e gentes” (“Digrio”, 25.11, fortes ¢ valentes” (16.12.1492): vemos claramente como sfo introduzidas 4s pessoas, em funga0 de uma comparacto necesséria & descricfo das rai- 1s. “Notaram que as mulheres casadas usavam panos de algodéo, mas nfo ad meninad, algunas ja conti GezGito anos Wain dinds fe inaditus ¢ peTur gueiros Encontraram também um homem que tinha-no nariz uma pepita de ouro do tamanho de um meio castelhano. . rBacia aos cles entre observagGes sobre as mulheres e os homens indica ‘bem o registro em que estavam inseridos. ‘A primeira referéncia aos indios ¢ significativa: “Entfo viram gentes muss...” (11.10.1492). E bastante revelador que a pilmsiracaraéteristica desta gente que chama a atengdo de Colombo seja a falta de sestimentas, 33 lose CA esse de Colombo = que, por sua vez, so simbolos de cultura (dai o inter pelas pessoas vestidas, que poderiam aproximar-se mais. Grande Can; ¢ fica um pouco decepcionado. por. gens), A mesma constatagio reaparece: “Vio com ce mulheres, como suas miles os pariram” 492). “Este rei e todo os, seus andavam nus como tinham nascido, assim como suas mulheres, sera elo menos, podertam ser squentemente, ao aspecto is apreciada na medida em mais elaros que os de ontras do brancas quanto & possivel ser corpos de mulheres” (21.12. 1492). E conclui, com surpresa, que apesar de nus, os indios parecem mais préximos dos homens do que dos animals. “Todas as gentes das ihas el da terra firme, embore tenham sparéncia animalesca e andem nus (..) parecem ser bastante razoéveis ¢ de intcligncia agugads” (Bemaldez). Fisicamente nus, 0s {ndios tar do, na opinitio'de Colombo, des providos de qualquer propriedade cultural: caracterizam-se, de certo modo, ‘Pareceu-me que erm gente muito desprovida de tudo”, escreve no primeiro encontro,¢ ainda: “Parevew-me que 130 per- ‘sto de nenhuma seita, nem iddlatras” (27.11.1492), J4 desp: esta nffo atrai a atengio de Colombo, nfo mais do que, anteriormente, sua -tentativa.de.compreender: observando, pela_primeira_vez, construgdes em alvenaria (durante a quarta viagem, na. ‘costa de. Honduras), contenta-se.em-ordenar-que-se quebre delss um pede 0, para guardar como lembranga, E de se esperar que todos 05 indios, culturalmente.virgens, pagina em branco & espera da inscrigdo.espanhols.«.cxist, sejam pareci estarem mus, priva Dado este desconhecimento da cultura dos indios e sua assimilagzo & natureza, néo se pode esperar encontrar nos escritos de Colombo descri- Colombo nos dé dos indios ‘0s mais belos homens ¢ as ntais belas mulheres que tinham. ‘encontrado até ent” (16.12.1492). ‘Um autor como Pierre Martyr, que reflete exatamente as impresses (ou 0s fantasmas) de Colombo ¢ de seus primeiros companheiros, pinta ‘cenas ideas, Eis que as indias vém saudar Colombo: “Todas eram belas Era como se visvemos aquelas espléndidss naiades ou ninfas des fontes, t30 Gecantadas pela Autigtidade. Tendo nas mifos feixes de palmas que segura- ‘vam a0 executar suas dancas, que acompanhavam de cantos, dobraram 03 jocthos, eos apresentaram ao adelantado” (I, 5; of. fig. 3). Esta admiragio, decidida de antemdo, estendese também & moral Colombo declara de cara_que_sio_gente boa,-semse_preocuparem_funda- entar. gua afimagio. “Sio as melhores gentes do mundo, e as mais pactf- cas” (16.12.1492). “O Almirante diz ‘ena visto gente de coragdo t80 bom’ nas quali observagBes. Além disso, no momento em que no outro extremo, o que nfo tomard sua néufrago na Jamaica, “ ,€ que nos Si0 ho rissima”, 7.7.1503). Sem_divida, o que mais chama fato de Colomba_s6.encoatrat, para carscterizar 03 indios, adjetivos do tipo bom/may, que na verdade nfo dizem nada: além de dependerem do. de. cada um, sto. qualidades. que. cossespondem a extremos, ~ cstavels, porque-relacionadss.2 apreciagio pragmé ag desejo de conhecer. Dois tragos dos indios parecem, & primeira vista, me do que 05 outros: so a “generosidade” ¢ a “covardia”. Ao ks de Colombe percebemos que estas afirmagdes infoumiam majs sobre 0 pr prio do que sobre os indios. Na falta das palavras, indios e éspanhdts tro- ‘cam, desie © primeiro encontro, pequenos objetos; e Colombo nfo se cansa de elogiar a generosidade dos indios que dao tudo por nada. Uma gemerosidade que, as vezes, parece-lhe beirar a burrice: por que apresiam ‘gualmente um pedaco de vidro ¢ uma moeda? Um moeda pequena e uma de ouro? “Dei”, escreve, “muitas outras coisas de pouco valor que lhes causaram grande prazet” (“Di ”, 11.10.1492). “Tudo oque tém, dao em de valor ou coise de baixo propo, qualquer que seja 0 obj ‘que se lhes dé em troca e qualquer que seja seu valor, ficam satisfeitos” (Carta a Santangel”, fevereiro-margo de 1493). Colombo no compreende. Que 03 ¥ selagdo 3, para ele,.a auséncia.de sistema,.c. dai conclu pelo carder bestial dos indios. O sentimento de superioridade gera-um comportamento protesionis- ta; Colombo nos diz que profbe seus marinheiros de efetuarem, trocas, pus em seu brago, e um pat 15.10.1492). “Deithe um ‘um par de calgados.verm Alegrouse muito com isso luvas que o Almirante Ihe tinha dado” (26.12.1492). Compreendese que Colombo fique chocado com 2 mudez do outro, mas huwvas, um gorro ver- para os presentes espanhéis, embora sua utilidade continue mio sendo demonstrada. “Como nio tinham vestimentas, 08 indigenas se perguntaram de que poderiam servir agulhas, e os espanhis satisfizeram sua engenhosa ‘08 espinhos que freqlentemente Ihes penetram a pele, ou para limpar os dentes; ¢ assim comegaram a fazer delas muito caso” (Pierre Martyr, I, 8). E com base nessas ob {ndios sf0 28 pessoas mais gon Duigio_importante.ao_ mito do. bon.saum tivesse, visto” (“Carta a Santangel, fevereiro-margo de 1493) “E que nao se diga, diz o Almirante, que dao generosamente porque o que davam pou- co valia, pois 0s que davam uma pepita de ouro ¢ os que davam a cabaca de gua agiam do mesmo modo, ¢ com a mesma liberalidad: 1492). ‘A coisa 6, na verdade, menos simples do que parece. Colombo pres- sente isso quando, em sva carta a Santangel, recapitula sua experiéncia: 0s"? Fernando, 0 filho, diz algo nesse sentido quando selata um episédio da segunda viagem: “Alguns indios que o Almirante tinha trazido de Isa- __ bela entraram nas cabanas (que pertenciam aos indios de tudo'0 que era de seu agro; 0s propnetiios nto Tapidamente” (51). Colombo, nesse momento, esquece sua prépria impres- s2o, € declara logo depois que os indios, longe de serem generosos, sto todos ladrdes (inversdo paralela Aquela que os tinha transformado de me- thores homens do mundo em selvagens violentos). Imediatamente, impoe- 38 Anes castigos crus, os mesmos que se costumava entfo aplicar na Esp ‘omo na viagem que fiz a Cibao, ococteu que algum indio roubou, se fosse descoberto que alguns deles roubam, castigatos cortandorhes 0 eas orelhas, pois sfo partes do corpo que no se pode esconder” e3 a Mosen Pedro Margarite”, 9.4.1494), aria para fazer fugir cem deles, mesmo-brincando” “O Almirante garante aos Reis que com dez “Nao possuem nem ferro, nem ago, nem armas, ¢ nfo so pa i80; nfo porque ndo sejam saudéveis, e de boa estatura, mas porque si prodigiosamente medrosos” (“Carta a Santangel”, fevreiro- -margo de 1493), A caga aos {ndios fo equivale a dez homens” (Bemaldez). Pe amente parte de seus homens em His ‘Ao voltar, um ano depois, & forgado a ne fr! da primera wage, ue foram todos mortos por aqueles indios medroios e ignorantes das armas. Teriam eles se organizado em bandos de mil para acabar com cada um dos espanh6is? Ento, cai no outro extremo, deduzindo, de algum modo, a coragem a partir da covardia “Nao hi gente pior do que os covardes que muzica arriscam suas vidas no quanto audacioso” (“Relatério pare Antonio de Torre que tudo indica, Colombo nao compreende o$ indios me dade, nunca sai desi mesmo. “Nao encontrei tese que mantém, 9 reve virias priticas homens pode compreen “Nenhum de nossos iavam.” Sua atencio voltae, entdo, para uma fraude: um idolo falante era na verdade um obje- to co, ligado por um tubo 2 outro comodo da casa, onde ficava 0 assis- 39 tente do mégico. O pequeno tratado de Ramén Pane (preservado na bio- grafia de Francisco Colombo, capftulo 62) é bem mais interessante, apesar do autor, que nko se cansa de repetir: “Comio 0s {ndios no possuem renhum alfabeto ou eserita, nfo dizem bem seus mitos, e me & impossivel transcrevé-los corretamente; temo colocar o inicio no fim, e vice-versa” (6). “Como eserevi as pressas e nfo tinha papel suficiente, nfo pude colocar cada coisa em seu devido lugar” (8). “Nao consegui saber mais nada acerca disso, e © que escrevi tem pouco valor ‘Seré que podemos adivinhar, das anotagdes de Colombo, ‘como os indios perecbem os etpanh6is? Dificilmente. Aqui também, toda a informagio é viciada, porque Colombo decidiu tudo de antemdo: ej que fo tom, durante a primeira viagem, € de admirag3o, os indios também de- vem ser admirativos. “Disseram-se muites outras coisas que no pude com ‘mas pude ver que estava maravilhado com tudo” (“Didrio”, apesar de nfo entender 0 que dizem, Colombo sabe que 0 ia esta em éxtase diante dele. F possivel, como diz Colombo, que 08 indios tenham considerado a possibilidade de os espanhdis serem seres de origem divina; 0 que daria uma boa explicagao para o medo inicial, « seu desaparecimento diante do comportamento indubitavelmente humms- no dos espanhdis. “Szo crédulos, sabe que hé um Deus no céu, ¢ est30 ‘convencides de que viemos de ls” (12.11.1492). “Achavam que todos os cristfos vinham do c&u, ¢ que o reino dos Reis de Castela ali se encontrava, ‘e no neste mundo” (16.12.1492). “Ainda agora, depois de tanto tempo comigo, e apesar de numerosis conversas, continuam convencidos de que veaho do céu” (“Carta a Santange!”, fevereiro-margo de 1493). Voltare- mos a esta renga quando for possivel examini-la mais a fundo; observe- ‘mos, entretanto, que, para os indios do Caribe, 0 oceano podia parecer tio abstrato quanto 0 espago que separa 0 céu e a terra. 2° O lado humano dos espanhéis & a sede que tém de bens terrestres: 0 F ouro, como vimios, desde o inicio, e, em seguida, as mulheres. Nas palavras andavam a procure de ouro ", 16.12.1492). Esta frase & verda deira em mais de um sentido. Podo-se dizer, simplificando até a caricatura, ‘que of conquistadores espanhdis pertencem, historicamente, & €poca de transigdo entre uma dade Média dominada pela reigigo e a época moder na, que coloca os bens materiais no topo de sua escala de valores. Também ta pritica, a conquista tera estes dois aspectos essencials: os cristfos vem a0 Novo Mundo imbuidos de religio, e levam, em troca, ouro e tiquezas. - ea A altitude de Colombo para com 0s indios decorre da percepedo que tem deles. Podemos duas componentes, que cont suardo presentes até todo 0 colonizador sido observadas na relagio de Colombo tamente humanos, com os mesmos direitos que ele, e af congidersos. nfo somente iguais, mas idénticos, este comportamento desembdta.n0 assimi- universo; na conviegio de que o mundo é um. For um lado, Colombo quer que os indios sejam como ele, © como os, espanhéis, 6 assimilacionista de modo inconsciente e ingénuo, Sua simpatia pelos indios traduzse, “naturalmente”, no desejo de vélos adotar seus alguns indios para a Espanha, para que espalhar o Evangelho, Sabemos que de Colombo, apesar da ida ser ‘pouco abstrata no infcio (nenhum padre ecompanha a 7 ateijdo conga a Conereizase wi Bee WE 10.1492). O “entendimento” de Colombo é evidentemente, ymada de antemfo; ¢ referee aqui aos meios que devem ser utllndos, © nfo a0 im que deve se ating, Ese dtimo nem preci st afirmado, j4 que dbvio. Colombo volta.constantemente & idéia de que a 41 conversio 6 0 principal objetivo da expedigdo, e reafirma a esperanga de que os reis de Espanha eceitem 05 indios como yassalos, sem nenhuma dis- ceriminagao. “E digo que Vossas Altezas nfo devem permitir que nenhum lagao com esse pafs ¢ nfo ponlha nele os pés , pois a expansto e gléria da religito eristl so a empress, © que no admitam nessas regides yom cristao” (27.11.1492). Este tipo de comporta- ‘mento implica entre outras coisas, 0 respeito pela vontade individual dos indios, j& que so equiparados aos ctistios. “Como ja considerava aquels gente como vassalos ndo via raz em ofendé-los, concordou em éeixél as coisas como ihe convém. Nes seu ver, dotados de qualidades E as virtudes que imagina encontrar neles sio virtudes gentes nfo so de nenhuma selta, nem idlatras, e sim mt da cruz. E Vossas Altezas devern decidir-se a fazer deles crit 11.1492). “Amam o prdximo como a si mesmos”, escreve na 1vés da suptessto de todos os tragos dos indios que poderiam contra- dizéla ~ supressio no discurso sobre eles ¢ também, se for 0 e380, na rea- Jidade. Durante a segunda Colombo comeam a converte se curve ¢ se ponham a venerar as imagens santes. xado a capela, esses homens jogaram as imagens 20 uum punhado de terra e urinaram sobre elas”; itmfo de Colombo, decide puni-los de modo bem cc ‘Seja como for, sabemos atualmente que a expansto espiritual esta indissoluvelmente ligada & conquista material (& necessério dinheiro para fazer cruzadas); ¢ surge af a primeira falha num programa que implicava a igualdade dos parceiros: a conquista material (e tudo o que ela implica) serd 20 mesmo tempo resultado ¢ condicfo da expansfo espiritual. Colom: tbo escreve: “‘Creio que se comerarmos, em breve Vossas Altezas consegul- werter & niossa Santa Fé uma multidao de povos, ganhando grandes povos da Espanha, de ouro” (121 pode tirar muito proveito 9 estavel: “Pela vontade divina, pus deste modo um do Rei e da Rainhs, nossos senhores, € ser to pobre, tornou-se 0 mais rico dos rei jovembro de 1500). re a$ duas agbes se estabelecesse um certo (0s espanhdis do a religido 2 tomam o ouro. Porém, além ds x bastante assimétrica, e ao necessariamente interessante para a ‘outro mundo sob a assim a Espanha, que politicamente, pera poder tomiblas & forg fm do ponte de visa human, oa posgto do dest idade). E Colombo nfo hesita nem um pouco em falar \s, sem perceber a contradigdo existente entre 0 ‘agbes implica, ou, pelo menos, a descontinuidade que estabelece entre divino e humano. Por essa razfo notou que eram me- 4r0s0s ¢ desconheciam o uso das armas. “Com cingUenta homens Vossas ar todos eles ¢ fariam deles 0 que quisessem” ‘ainda 6 o cristo que fala? Ainda se trata de igual- erceira vez para a América, pede permissdo para lever siminosos, que seriam por isso perdoados: ainda & 0 [luvas? gorto vermelao? Colombo no informa}, mas bem sabia que a con- eérdia nfo duraria, SGo realmente gente muito réstica {traduzindo: que ‘io desejam se submeter aos espanhéis), ¢ meus homens sto bastante im 43 portunos; enfim eu tomava posse de terras pertencentes a esse quibion leeganda capa datos ose loa, tomas ters}, Ao ver 3 ist ). A continuagso desta historia € ainda mais seguem prender a familia do quibian e querem alguns dos indios, no entanto, conseguem escapar. “Qs prisioneiros restantes foram tomados de desespero, pois nfo tinham escapado com seus companheiros, ¢ no dia seguinte descobrivse que ue puderam, te para se ” Fernando, o filho de Colombo, que relata este epis6dio, presenciow-o; tinha spenas quatorze anos, e podese pensar que @ reagdo de seu pai foi igual a sua:“Paranés, que estivamosa bordo, a morte deles niio era uma grandi homens em terra; o quibia seus filhos, mas agora, que ‘que fizesse guerra ainda mai Eis que @ guerra substitui a paz, mas pode-se pensar que Colombo nunca tenha posto comapletamente de lado este melo de expansio, jé que rimeira viagem acaricia um projeto particular. “Parti essa mana”, 14 de outubro de 1492, “para procurar um local onde pudesse ser ” “Porque aqui hé um cabo rochoso bastante ele- deixara seus homens ‘Mas a fortaleza, mesmo que revele nZo ser particularmente eficaz, nfo seria ‘um passo em diregGo & guerra, logo & submissfo e & desigualdade? Assim, gradativamente, Colombo passaré do assimilacionismo, que implica uma igualdade de afirmagio da inferioridade dos fleas suneos que srs dele) ¢ indios belicosos, que merecem por isto sex punidos; mas o impor tante & que aqueles que ainda nfo sto cristios s6 podem ser escravos: fo ‘hé uma terceira possibilidade. Imagina ento que os navios que transpor tam rebanhos de animais de carga no sentido Europs-América sejam carre- ‘gados de escravos no caminho de volta, para evitar que retommem vazios ¢ ‘enquanto nffo se acha ouro em quantidade suficiente, e a equivaléacia im plicitamente estabelecida entre animais e homens no é, sem davida, gra- tuita. “Os transportadores poderiam sez pagos em escravos canibais, gente também brasil (madeira). Se as dizem que poderiam ser vendidos eat ‘mil escravos, que poderiam valer ‘mentos podem damente resolvido mas ndo seri sempre assim. Os negros e os canarinos titham comegado da ‘mesma maneira” (ibid). Ditige seu governo da ilha de Hispaniola nesse sen- Ado «int out cart, enderpata 28 ro, de outubro de 148, & ro Colombo, a propagagdo da f€ e a escravizag Michele de Cuneo, membro da segunda expedicfo, deixou um dos raros relatos que descrevem detathadamente como se dava 0 trifico de Iato que nao permite jusdes quanto & percepgio que se tem dos indios “Quando nosses caravelas(...)tiveram de partir para a Espana, reunimos em nosso acampamento mil e seiscentas pessoas, ma chos e fémeas desses indios, dos quais embarcamos em nossas caravelas, 8 17 de fevereiro de 1495, quinhentas e cinqlenta almas entre os melhores machos ¢ fémeas Quanto aos que restaram, foi anunciado nos arredores que quem yuisese podteris-peper taro eies qpantos desejse;o quefem feito. E, quando todos estavam servid jam ainda quatrocentos, aproximadamente, a quem demos permissio para ir aonde quisessem. Entre eles havia muitas mulheres com criangas de colo. Como temiam que voltéssemos pars pegilas, ¢ para escapar de nés mais facilmente, deixaram 05 fihos en qualquer lugar no chio ¢ puseranmse a fugir como desespera- das; e algumas fugiram para to longe que foram parar a sete ov oito dias de nosso acampamento em Isabela, além das montanhas e ars de imensos 45 ios; o que faz com que, de agora om diane, so 0s aleangaremos com graa- reram, exeio que por causa do ar ao qual nfo estavam habituados, mais frio do que o deles. Foram jogados no mar (...). Desembarcamos todos 0s esoravos, ametade deles doentes.” Mesmo quando no se trata de escravido, o comportamento.de Co- ie, 8 considera, em suma,, de naturalist, sempre qu de todos os géneros: drvores, passaros, at {déia de pedir a opinigo deles. “Diz que gostaria de prender uma meis di zia de indios, para levé-los consigo; mas diz que ndo pode pegi-los porque todos tinham partido antes do anoitecer. Mas no dia s lores (nfo por lubricidade, mas pare ter uma amostra rio”, 12. )-automaticarnente, no mesmo nfvel que o gado. ‘As mulhores: se Colombo s6 se interessa por elas enquanto naturals: ta, o mesmo aifo acontece com 08 outros. Vamos ler 0 relato que Michele de Cuneo, fidalgo de Savona, faz de um episédio da segunda viagem — uma 1 mer ter wonegua. PoE: ). peguel uma corda e amarrel gritos inauditos, tu nfo terias acreditado em teus 3 Faalment, chegumos «um tal cord que poso dlerte que a sido educada numa escola de prostitutas.” to & revelador om varios aspectos. 0 europeu scha es mulhe- tas; nfo Ihe. ocomre, evidentemente, a idéia de pedir a ela to para “por seu desejo em execugdo”, Dirige esse pedido a0 1492). Ser indio, e ainda por cima mulher, significa svisto de Longe), € 0 outro onde é um “edo imundo”, Almirante, que ¢ homem e europeu como ele, ¢ que parece dar mulheres a pois, para ele, colt no papel dul de macho humhad; may fx 0 uicanete me ondom fina ret eabelaia com. nfado omen banc. Ga hae plioe: nosso fidalgo omite a descrifo da “execugZ0”, mas faz com que seja dedurida a partir de sous efeitos, aparentemente além de sua expectativa,¢ sta: surpreendente, pois aquela que recusava violeata.. io sexual se vé assimilada & que faz desta solicitagao.sua o & esta a verdadeira natureza de toda a mulher, que um yulheres, ou indios 20 quadrado; nesse sent ‘to de uma dupla violentagao. ‘mente contraditérios, um onde 0 outro é umn “b ‘Toda a hist6ria da descoberta da América, primeiro epis6dio da con- ‘quista, 6 marcada por esta ambigiidade: a alteridade humana é simultenea- ‘mente revolada e recusada. O ano de 1492 ja simboliza, na histéria da Espa- nha, este duplo movimento: nesse mesmo ano 0 pafs repudia seu Outro interior, conseguindo a vitéria sobre 05 mouros na derradeira batalha de Granada ¢ forgando os judeus a deixar seu teritério; e descobre © Outro Vorsas alters (.-.) pen imim, Cristévio Colombo, as ditas paragens da Indis Vossas Altezas nesse mesmo més de janeiro ordenaram-me que partisse com armada suficiente as ditas terras da India”, escreve no inicio do diério da primeire viagem. A unidade destes dois movimentos, onde Colombo 47 tonde a vor « intervenglo divina, estd na propagapfo da fé crist8. “Espero em Nosso Senhor que Vossas Altezas se decidirdo a enviar rapidamente tigiosos] para unir & Igreja tao grandes povos e convertélos, asim como estrufram aqueles que nfo queria confessar 0 Pai, o Filho ¢ o Espf- Santo” (6.11.1492). Mes também podemos ver as duas aghes como crientadas em sentidos opostos, e complementares: uma expulsa a hetero- geneidade do corpo de Espanha, a outra a introdus inremediavelmente. ‘A seu modo, Colombo. patticipa deste duplo movimento. Nao per eebe 0 outro, como vimos, e impde a ele seus prdprios valores; mas o tex- ‘mo que usa mais freqilentemente para referirse a si mesmo ¢ que é util: zado também por seus contempordneos &: 0 Estrangeiro;e se tantos paises ‘buscaram a honra de ser a sua pitria, & porque ele nfo tinha nenhuma. 0 CONQUISTAR

You might also like