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Copsey Rats Data Deets munis pr ings poms ‘eunesecom chide! ‘tote ROCCOLTDA ese Pree Wan 31 adie “es (21) 3526200 — Fx (31) 383-2001 ‘een cam Pres in ringe 99 rt ati Cag mates Sei Nace esa de Ls “tonto Dolan imcee FR ssawss.s2sa1s.0 | amopoogi sa Tid T Ui inane npn i rome copa Para os meus alunse, que me fiseram professor, 4b aberto © estalistco, regido por probabilidades, No totemismo fe na magia que, como estamos vendo, alnda subsistem em algumas reas do noseo sistema, reeneontramos 0. etern faquilo que io muda , por isto’ metmo, prove wm sentido 4 coordncia essenclal 4 noseu vida, 4% precio, portanto, finalzar esta parte lembrando a. famosa advertineia felta A Antropologia ‘Social pelo grande historfador inglés Maitland, Diria ele que «a Antropologia, teria que escher entre ser Historia ou ser coisa sleumao, 1 Junto com esta adverténcia confiante de Maitland, ree posta desabussde de Rvans-Pritchard que, prevendo 0 clr os aconteclmentos © © papel roservado no futuro A Antro~ pologia Social, decretou: ou a Historia escolheria ser silo~ Antropologia, oa ela ndo seria coisa algumas, Digamos, aest- ‘mindo uma posicSo soclologicamente mala correta talvez ave 4 se pode sislumbrar uma antropologia que, num didlogo aberto @ sistanitico com a temporalidade vivida e eonceblda Delos Romene de diversas sociedades, pode relativini-la e, ‘assim fazendo, conseguir aleangar na historia tudo o que ola pode realmente nos oferecer. Foi justamente isso que pre- tendi ter agei apresentado estudando o desenvolvimento de nossa diseipling| ue TERCEIRA PARTE: TRABALHO DE CAMPO 1.0 Trabalho de Campo na Antropotogia Social |A partir do momento em que a antropologia, no limiar do siculo XX, comegou a sbandonar a postura evolucionista, ficou patente a Importdneia do trabalho de eampo ou pes” ‘quisn ‘de eampo come © modo caracteristico de coleta de novos dados para reflexio teiriea ou, como gestavam de oloear cartas'estudiosos de visko mals empiielta, como o laboratério do antropélogo social. Assim, seo clentista na- tural tinke © seu aparato instrumental conereto para repe- ‘ir experiéneias no teste de suas hipéteses de trabalho, 0 etn logo 0 experimentava de modo diverso. Na. sua diseiplina cntavn fora de questao. a expeiiencia desenads «fechas, fo tipo realizado pelo’ psiedlogo experimental na. sua pra tien, mas fleava inteiramente abetta a experimentaeéo num sentido mais profundo, qual seja: como uma vivencia longs © profunda com outros modes de vida, com outros valores © com outros sistemas de relacdes sociais, tido isso em con- Aigées especticas, Freqlentemente 0 etadlogo realzava ria fxperineia om solidio exiatoncial ¢ Jonge de sua cultura de origem, tendo, portanto, que ajustar-se, na. sua_observagio participants, nko somente s novos valores © ideologies, mas 4 todos 08 spectos prétieos que tis mudancas demandam. Enquanto o cientista natural poderia repetir seu experimen- to, introdzindo ou wetirando ‘para propisitos de ‘controle suas variéveis; no easo do antropélogo isso lo poderia ocor- ‘onforme. cham (ef. 1973, 1979), terla que ser felto pela comparagio de uma soeiedade com us tutra ¢ tambim pela convivinela com o mundo celal que se desejava canhecer cientifieamente, Em outras palavras, a Pesquiaa estava limitads, pelo proprio ritmo da vida steal, 54 que o antrepilogo social seria o iltimo busear sua alte. ‘ago como um test para as suas teorieagies, ‘és jf vinos como esza virada metodoligica que se cris- ‘alin na pesaiisa de campo e a constelaelo de valores que chega, com ela estio.profundamente astocladns. ao chamado sfuneionalismor ow a0. que denorino, pelos mativos ji men- ionados na parte anterior, revoligio funcionallsay. Tal Dortura conseguiy eerancar o pessulsador de sun confortsvel poltrons fixa.auma biblioteca ‘em qualduer ponto da. Burupa Ocidental, para langélo nas incerteras das viagens em mares ovondos’ de recifes de coral, rituals exéticor © senstumnes ievacionaiss, Tal mudanga de’ atitude, a0 fazer com que a antropologia dsixasse de colecionar e ‘classifier curiosidades fordenadas historicamente, transformou noses ciéneis, confor ‘me disse Malnowski, ehuma das diseiplinas mais’ profun- Gamente filosficas, esclarecedoras ¢ dignificantes para. pesquise cientifias” (ef, Malinowald, 1976: 875), Justamente or levar 0 ettudioso a tomar contato direto enim seus ‘pes Gguisados, obrigando-o a entrar num processo profundamente relativizndor de todo 0 conjunto de erengas e valores que he € familiar. Deste modo, a antropologin. social mio. poderia, para Malinowk ligarse" nenhunnn ‘cotmpilaghe. de. esti ‘mes exiticos ende 9 etnélogo teria como objetivo = repro- Augao de uma lista infindgvel de , txis como: «Entre cos Brobdignacianos, quando um homem encontra sia. sogra 5 dois se agridem mutuamente cada tim se relita com lum oho roxos; ou «Quando um Brodlag encontra um urso polar, cle costima fugir e, as vezes, © urso 0 pertegue>; ou, ainda, «Na antiga Caledénia, quando um nativo aciden” talmente encortra uma garrafa de ufsque pela estrada, bebe fudo de um gole, apis 0 que comers imedistamente a pro- curar outra gurrafas (ef. Bvans-Pritchard, 1978; 22) 0 aue, como disse Malinowskl, efazia com que née antropilogos a- ‘oviasemoa idistas os selvagens,rid(culos» (Bvans-Pritchand, 1918: 22) ‘Tal estilo de reprodusir a experiéncia com os nativon, implacavelmene satiriznda por Malinoweld na citagio. ante: or, lembra > modo pelo ‘qual os eveluconistas elésicas Ma ‘sereviam seus relatérios de pesquisa: como uma espécie de eatélogo telefOnico cultural, onde a in de clasificar , s0- betudo, de colosonar todos o@ ‘costumes. era uin objetivo evidente. A partir do advento do trabalho de campo siste- Iético, entretanto, tornava-se impossivel redugit time socie- ‘lade (ou uma cultura) a um conjunto de frases soltas entre Si, na Tistagem dos costumes manos dispostoe em linha histériea. Isso porque a. vivincle propriamente antropoldgiea — aguela naseida do contato direto do etndgrafo com 0 grupo fem estudo por um periods velativamente longo — dava.& Dereeber 0 eonjunto de. agdex soeale ox rstfens somo my sistema, isto ¢, um conjunto ecerente consigo mesmo, '6 como vimos, essa desccberta tio simples e tio critien ‘que permitiri 0 mascimento da visko antropol6gica moderna, como 0 Instrumento basico na transformacio da antropologia social numa diseiplina socal, como um atiténtico ponto de ista, Como disse Malinowski nom dos seus grandes momen tos de reflexio: espeifico, como também 0 ponto de vista daquele grupo, segmento, classe social ou soctedade. 1 isso pode provocar ova revelagies tebrieas, bem como revolugies nos esquemas ‘nterpretativos utiliadoe até entio, Forcado pela orlentagio mals. geral da dlscipiaa — a de ve renovar — os antropélogos ‘tim duvidado’ do. varice teonecitos considerados basicos 20 longo de muitas geraqoes. ‘Assim, duvidamos das definigdes clissicas de rligito como erenca em seres espirituaiss, come querla Tylor na ua coloeagio minima e eléssca do dominio reliioso, Iss0 ‘poraue, na. geragio seguinte, Durkheim, Mauss e outros si- fuaram a problemética da religiosidade numa. ereala muito ‘mals ampla e mais complexa, definindo; ow melhor, cancel tuando "0 fato religios» como uma relagao entre os homens © grupos humanos estabelecids por melo dos deuses que, neste contexto, nada mals representam do que a prdpria socieda- de na sua tolalidade. Assim, em ver de buscar a rellgiio como uma relaggo enize homam e Deus (00 nét os mortals © os espitites, imortais por oporigio © definigio) e classi fear © fendmeno religioso numa eseala que ia de relagies mals Simpler e tis diretas entre homens © desses, sit as ‘mals home, ettinbo qe pode tbandonar quer onamento nstorvante, para uta «nage desist, de sincroia, de cficonaltiades, do cetrutoras de Sonscienie> e evelar as tierengs ence sistem sca Goro formas expeiicn de combinagies'e do reugSes que 0 mais ou menos explisies em stuedade‘c callers sveulas ple tempo peo epage, Tas formas alo tan rmagies'uran das ontrar um enido male complex do ue auele dato Delo exo excunvo do fompo, gue’ perme ‘elas com formas derfndas tas daa otras, ‘De day a Anttopdloin sigere que estas varagies combnaloias ako ‘escolhass quo cada grupo pode realar dune de, desafes stricos coereton, mites vero do modo mela. consciente do que se oder imainar, © ndo parccas do Tuagios que "tempo ror algum capricho dex de sitmetat fun resto moiicadora, sts Dostra critce fem Permiida a Antropotgia ell reativiar a propria tn de fempo cons Cebido histritaments,sogerndo oltas Yves abe aut telco nor um noi de ceampon onde cincnacenes: she ne todas a porbiidades © fons a telasbes"huranan Serlan seonradns deforma ‘virial A hist, porate feria ‘0 movimento pelo qusl'© inonscienteetritural sera us realizado @ limiteds e nfo somente s zona de sua invencio eriagao. ‘Tals problomas tim ocorrido om quase todos 0s dom! ios tradicionalmente estudados pelos antropéloges sociais « So variadas as suas respostas, Nossa intengéo.aqul no é Eos, mas indicar como na. antropologia — provavel ‘mente muito mais do que em qualquer outra diseipline social Mh ume longa, saudavel o tradicional base pluralist, pela ‘qual o fenémeno humane estudado, E aqui nfo se trata, Sibviamente, de um pluralismo politico, de cunho liberalizan- te, mae de time. vardaAimn pactira (osiflen, gerala. pela contradigho basiea da discipina: 0 fato doa, antropologia Social ser 40 mesmo tempo una e miltipla. Assim, se ela 6 ma em cous objetivos e na sua posicio de respelto extre- ‘mo por todas ss formas de sociabilidade diferentes (por ‘mais selvagens> que possum parecer), ela miltipla na busea de seus dados o reflexio. Btiltipla'jus- famente no sentido de no se prender a neniuuma doutrina social, moral ou filosficn. preestabeleida, a no ser_aquela ‘wwe constitai talver o sen prvprio eaqueleto e que diz que fée sabemoe apenas que nfo stbemos! A antropologia socal, ‘wero erer, ¢ wma aigelplina sem {dolos ou herdis, sem mes- sas e teorias indiscutivese patenteadas, muito embora tenha lum enorme coracéo onde cabom todas ue sociedades e cultu- ras. Em parte, assim. essa multiplicidade da antropotogia diz Pespelto A sua substincia, Js que ela é uma tia dieta do Colonializmo oeldental e é também uma eléncis multo bem rmareada pelos ideals do cintificsmo europe. Mas, no bstante isso, ela tom ereceldo ao sabor das lg6es spren- fidas em outras sociodades, cultures o elvlizagies, pols, ‘muito importante constatar como a antropologia social, so- bretudo pela pritiea das viagens, tem levado muito a sério fo ave dizem cs eaelvagenss, como pensam 08 «primitives, ‘qal a raclonalidade dos grupos tribais, Pois fot reslizando fice trabalho de aprender a «ouvir> © a «ver» todas as rea- Tidades realzaghes humanas que ela péde efetivamente Juntar a pequena tradipdo da aldela perdida na floresa ama 4oniea, deseonbecida e ignoraia no tempo © 0 espago, sub Imetida 2 todas as exploragies politicas e econémieas, com grande tradigio. democratica, Tundada ‘na comprensto na“‘olerancia que forma a base de uma verdadeira perspec- 149 tia da soetde oman, Io fers que antrosaga ‘att“aSemnene umn tengo Ott dag one toe Samm psc ls soe a poulade Se ee see ena is eh prs am geen, se ee Sines, Tiferetomnt, no, da Soko, do Hits, de Guogafa Honan da Plog du Eada Patient de Stee, mer at fico triangle n antropbele Scti"ame com pont fe pari pos 0am So Sit drt, eaten fr toe lr dipont Se Mice Se Stace soeee et Soni toe tan ara an ny mh aera SOU Sao em ao fora, Nata Gere ar exe do mae Se ereatinerto aa ton do vide oid ae socom aempre scent dente da permet sud il 2 imate enim emeen'c alae ply proprio nate seas dels Eons snes mgt vse lel do Sr smartness Taegear gue sia sm aprender oe {Ree idbtlpecdescohicer © freqiitemente = dee tits, e's "advagens fom tn tee ume dgidade ef minha sign emunto atone, doa forint, prs shgar wa pte pra eat ars ss gn cre © REG psd camp, Bos a avo te pode vimneiar an insect sitet homste Se tn eine tow sem eng protemar e prsan mtn enfin, re pednts Pirce's ain ern pean de Wane SGRTTS thm hme vradoranents human 2.0 Trabalh> de Campo como um Rito de Passagem [Nas crises secalmente programadas para dar sentido & ma- ‘danga de posigho dentro de um sistema, existem ocasiges ‘specinis quando ot navigos s40 tirados do suas casas e se- fguem para a florerta ov zona marginal com seus instruto- oa T4, nesta espago intermediro. e longe dos olhares ini- Bidores © protetores de seus pals e parentes, eles. poder faptender a ser chomens» ¢ , no naseimento, na amamentagio e-em ‘outros processas semelhantes, situados entre © corpo naturalmente dado ¢ 0 corpo como’ algo a ser instrumentalizado e legitimado pela coletividade, ‘Tudo, enfim, que os jovens devem saber para ‘que possam ter 0° sentimento do pertencer exclusivamente a tuma dada socledade e dela se orgulhar, Tals momentos sto cruciais © 0 trabalho classieo de Arnold ‘Van’ Gennep, bem ‘como us elaboragées modernas ¢ derlsivas de. Vietor Turner (cf. Van Gennep, 1978; Turner, 1974), revelaram sua Importance ‘Aqui desejo simplesmente observar que a iniisglo na antropologia social ‘polo chamado. trabalho. de campo fica muito prixima deste movimento altamente marcado e cons ciente que caracterisa ot rituals de passagem, Realment, em, ambos 0¢ casos, antropslogo e novigo ato retiradon de’ sua Ssoeledade; tormam-se a. seguir invisivels.secalmente, real zando uma viagem para os limites do seu mundo diério ¢, fm pleno izolamento num tniverso marginal ¢ perigoso,ficam Individvalizados, contando multss vezes com seus priprios recursos, Finalmente, retornam soa aldeia. com uma nova Derspectiva @ os novos Iagoa socials tramados na. distancia no individualismo de uma vida longe dos Parente, poden o aasim triunfelmente assumir novos papéis sociie pos ‘et polities, Vivendo fora da sociedate por elgum tempo, faeaharam por ter 0 direlto de nela entrar de modo mais profunde, para perpetué-la com digmidade © firmena, Antropélogos e iniciandos atuslizam um pads lfssico de cmortes, climinaridades ¢ eressurreigior social num novo papel, tudo de acordo com w férmola eldasiea dos ritos de fransigio e pastagem. E ambos atualizam, como ja indicou ‘Turner (em 1967), aquele processo de redugio, pelo qual em lena timinaridade ficam ‘como que transformados ‘numa ‘matériaprima: wm estado pré-socal, extremamente propiclo ng novos aprendizados que precedem mudanea. de status Tolados de suas relages substantivas e individualiados, no= vigos ¢ antropélogos ficam predispostos a ser soelalmente 161 ‘moldados, ante do seu renasclmento scclal, Nesta fase, apren- dem ‘novos fatos. ¢ adquirem um conhecimento.socioligico mals aberto e horizontalizado, quando deseobrem que a dig- fidade do mundo pode tambim ser encontrada ne amizade © no compantelrismo. Assim, o que antes era dado exclusi ‘vamente pela familia, pode agora cor realizado pelos seus contemporiness de idade ¢ de sexo, na unifo etiada pela Viagem ritual, na crise do isolamento edo renascimento saclolégie.. (Com 6 antropdlogo ocorre algo semelhante, quando des- ‘que recrlar nto 06 todae as relagdes socials, mas sobretudo aprender o sai sentido profundo, pelo isolamento e pela res- Socilizegio voluntiria, O.trabalho de eampo, como. 08 ritos Se passagem, implica’ pois ma porsbilidade’ de redescobrir novas formas de rolaclonamento social, por mele da uma £0- Calizagio controlada. Neste sentido, 0 processo & uma busca fo controle dos preconceites, 0 que 6 fuclitado pala viagem pars um outro universo social ¢ pela distinela das relagses Sociais mais reconfortantes. Mas, devese notar, 0. novico passe por tudo isso eereado por uma ideologia nfo raro ontendo elementos religiosos @ erengas mégicas; 20. atso fave 0 antropélogo engloba soa experiéneia inicatéria. pelo ‘so conscients da razio, da experimentagio e das hipiteses de trabalho, devenvolvidos anteriormente no seu campo, Alem fisso, se cdo o novigo tem um de iniiagao, 0 lantropdlogo ceve descobriclo na forma de um amigo, infor rmante, instretor, professor © companheiro. Alguém que the tcsinard ae saminhos © desvios encontradigas na sociedad fque pretende estudar © que deverd socalizilo como uma flange multo eepocal, E tanto o inieiando quanto 0 peaqui- sidor devem realizar 0 esforgo para retornar a um estado Infanti, de olena potencialidade individual, nico modo de volta? & eondigio de seret dispostas sofrer um novo pro- ‘eseo. de aprendizado, ‘Finalmente, depois deste periodo dificil @ marginal, ambos podem retornar uo sistema do qual partiram, all asu- mindo ‘uma nova posigio, status que normalmente decorre precisamente desta vivéncia de provagio onde puderam forjar ows couedientos do Gaiverso ey dialeticamente, de sua propria ocedade, Como observou em 1800 Degérando, um oe plonelros da etaologia. moderna: 152, «Esta gliria, a mais doce, « mals verdadeita; ou melhor: 4 tiniea © verdadeira gléria, o espera e jé 0 abrange, Voeé conhecers todo’ seu rth no dia’ de triunfo’ alegria no qual, retornando 20 nosso pais sendo bem= indo no nosso melo com delete, voce chegara nos nossa ‘muros earregado com a mais preciosa carga © come por tador de felines noticias de nossos irmios espalhados nos ‘mais longinquos eonfins do universo> (Degérando, 1969). Ou seja: Desérando poresbou bem o momento recom Densador da, viagem, quando o pesquisadlor peda wnltar nesta volta ao seto do seu -mundo, truzer com ele a percep (0 de novas formas de relaclonamento socal, valores « ideo logias, de , [Em Btnologia, portanto, como noe rites de passagem, existem planos e pontos de semelhanga, Em ambos” os caste, conforme sugerimos, estamos dlante de uma pussazem maior ‘que aquela determinada por um simples deslecat-se no espa ©. Pois ela implies, realmente, num exercilo que nos, faz rmudar 0 ponto de vista e, com isso, aleanger uma nova visto ‘lo homem e da sociedate no movimento que not leva para fora do nosso préprio mundo, mas que acaba por nos trazer mais para dentro dele. Nesta narte, desojo aprotentar alguna aapectnn dn ena evistencil da pesquisa de campo, plano que € mareado pelas Dossives ligies que podem ser extrafdas do relacionamento com os chamados «informantes» no decorrer de um trabalho dle Investizagéo antropoligica. Como tenho dito repetidamen. te, essa pesquisa implica em outros paradoros, pels, mo seri possivel observar tranatila e friamente (com a roupa seem do neutraidade cienifiea) um certo panorama humano, 2 nilo nos relacionarmes Inteneamente com ele? Mas come possivel manter essa neutralidade ideal, que teorleamente ‘os permitiria ever» todas at situagdes do todos om angulos, se estamos tratando de fatoe ¢ de pessoas que seabam por hos envelver nos) seus dramas, projetot «fantasies? Ov melhor: como poderel chegar a’ captar etea realldade social 432 nfo me eoloco diante dela como um semelhante sos que ela tiram a honrader, a dignidade e 0 sentido da existen= cia Ou seja: € preciso pensar em que espago se move 0 153, ctnGlogo engsjado na pesquisa de eampo ¢ refletir sobre as fambivaléncias de um estado existensial onde nfo se est nem hnuma socledade nem a outta, no entanto estivve enfiado at6 0 peseogo numa e noutra, ‘Com a finalidade de expor alguns destes problemas, fa- larei do trabalho de campo como procesto cheio de dile- mas e problemas existencais que nfo ttm sido, acredio, sis fematicamente apresentades em nosea dissplina, sobretudo hos mandais, Com isto, espero charmar a atencio do joven. festudiogo brasileiro para a. problemitiea diffe, mas fascl~ Sante que decorre do privlgpio de viver em oun xegmento ‘social’ ou em outra humanidade, "Na quarta e dltima parte deste livro, apresentaret outros aspectos ligudos 40 trabalho antropoldgico eA pesquisa de ‘campo, focabrando a preparacio © os problemas teérleos que even informar a viagem eo trabalho de pesquisa. Agora, Dorém, estou interessado em mostrar como & 0 momento mar” final da Viagem quando ‘no estamos ‘mem envolvidos nos {abirintos ‘atelecluals Ievantados pelos problemas. teiricos, hem na difell fase em que somes obrigados 2 filtrar nossa ivéneia conereta, mama aldela distante ow bairro_préxim través de um relaliio no qual os problemas inteleetuals fio Tetomedoe num outro nivel, Numa palavra, desejo aqui dlescrever © analiaar 0 momento intermediério “da pesquisa, fase em qj a atnilogo esth As veltas consigo mesmo, pO endo surzir o que denominel — eitando uma sensivel eolega norte-americana, a Dra, Jean Carter — de «anthropological Blues». ‘Durante anos a Antropologia Social esteve preceupada fem estabelever com preciafo cada. vex maior suas rotinas de ‘pesquisa oy, como ¢ também chamado 0 exercicio do oficio ha fia pritica mals imediata, do trabalho de campo, Nos fuss de_Antropologia ‘or professores mencionavam sempre fa necessidaie abolita da coleta de um bom material, isto &, dados eltogrificos que permitissom um didlozo mais inten oe fecundo com a teorias conhecidas, pois dai, cetamente, hnasceriam novas teorias — de acordo com a velha e saudével bea de professor Robert. Merton, esse esforeo asceram alguns livros — na América do Norte‘e fora dela ensinando a realizar melhor essaa ro- tinas, Os sais famoses alo, sem divida, © notirio Notes 14 and Queries in Anthropology, produxido pelos ingleses ¢, itiga.so de passagem, britanicsmente concebido, com elo mis” ‘onitio e vitoriano; e © nde menos famaso Guia. de. In Ligagdo de Dados Culturais, livre inspirado. pelo Human Nelations Area Files, sob a égide das estudos o, como 3& disse, de “Srominticos,, desde que se esti consciente — @ nio 6 pro: ‘Sho ser figsofo para tanto — de que a Antropologia Socal Sime discolina da comutagio ¢ da medisgio. B com, isso {quero simplamente dizer que talver, mais do que qualquer: ‘Kiera matdvia devotada ao estudo do THomem, « Antropologia ejaguela onde necessariamente se estabclece uma ponte ‘hire dois tniversos. (om subuniversos) de significagio, tal fone ot madiagio é realizula com um minimo de aparato Fuuttusional oa de instrumertns de, mediaglo. Vale dizer, {de modo artesanal e pacieats, dependendo esseneialmente d@ hhumorer, temperamentos, oblae e todos os outros ingredien- tes das pestoss ¢ do contato human. ‘Se ¢ possivel « permitida uma Interpretagio, mio hé die ‘vida de que todo. ¢ anedotirio referente 2s pesquisas de ‘campo 6 um modo. muito pouco imaginative de depositar fhumm lado bacuro do offeio os seus pontos talves mais im= pormantes + mais siznficativos, & uma maneira e, quem. Ripe’, tim modo de nao assvmir o lado Human d& aise piiwa, com um temor infantil de revelar 0 quanto vai de ubjelivo nes pesquisas de campo, femor esse que é tanto Iaior quanto mais voitado esta o etnélogo para uma ideal gio do rigor nas aistplinas socials, Numa palavra, 6 um fnodo de nfo assumir 0 ofieio de etnélogo integralmente, é ‘med de sentir 0 que « Dra, Jean Carter denominoa, com farm felicilade, numa carta do campo, os anthropological ues ‘Por anthropological bluce se quer cobrir ¢ deseobri, de tum modo mule sstematic, os aspectos. interpretativos do Ueto de etndloge, Trata-te de ineorporar no campo, mesmo ‘lus rings ofielni, J legitimadas como parte do treinamen- to do antropélogo, aqueles aapectos extraordindrios, sempre Protos a emergit em todo 0 relecionamento, humane, De filo, 6 oe fem Anterpologin Social quando se tem e alum 156 ooo © exiteo, e 0 exitico depende invaiavelmente da dis inca soil, © & ntneln social tem como commponente ‘marginale (relative ou abwolita, © 2 targinalidade se inetd um sentiento de sopregact e aeereraa implica em estar 86, desembocando’ tudo — para comitar "isin esa fngn san Tina De tal modo que vestir a capa de etnédlogo & apren a reaisar uma dapia tarefa" que pode er bromiramente fonlida. nas sogulntes férmulaa: (a) tranaformar 0 exten to fami efou (9) tranaformar 0 familiar om sto. Bm {robon 00 eames, @ oecendria'& presnga, dow dole teat (ue seprenentzm.dols unlversos de signifeago). @ mals Snicamerts, uma vein ow toi dominios por tm mere ‘usta asin sin‘ apni, Numa cra per retve, esa dats transformagoesparecam seguir de pert Se mamentos eitics di histéia da props disepina, Asm Cavern prin == «untormaci de utc om falar her6i cigesico, purtida em txés momentos dis- ‘infos © interdenendentas: a saida de sua soeiedade, o encon- fo como outro nos confins do. seu mundo social e, final- ‘mente, 0 rome trlunfal (como coloca Degérando)” a seu proprio grupo, com os seus troféus, De fato, 0 etnslogo 6 a maloria dos casos, © titimo agente da sociedade colonial 3h que apée © rapina dos bens, da forva de trabalho e da terra, segue 0 pesgulsador para complotar o Inventério ea baltic: ele, portant, busea as regras, os valores, a8 iaéias * numa pulevra, os imponderdveis da\ vida social que foi colonizada. ‘Na segunda tranaformacto, a viggem & como a do rama: lum movimento dristico em que, paradoxalmente, nfo se ssi fo lugar. B, de fato, as viagens xamanisticas slo viagens Verticals (para dentro ou para clma) muito mais do. que horizons, como acontece ‘na Viagem eldssiea dos hersis Homérisose® Badia € jo outa Farae que todos aguelea ao realizam {alt viagens ‘para dentro e para cima slo xamis, ‘curadores, profetas, santos e loucos; oa seja, 08 que de alum todo se dispuseremn a chegar no fundo do poco de sua pré- ‘ria cltura, Como conseaUéncia, « segunda transformagto fonduylyusimente atm encontro com 0 outro ¢ 0 fstranhamesto, ‘As duse transformagtes esto, pois, intimamente relacio- rnadae eames sujeltas a uma edrle de residuos, no sendo ‘nunea realmente perfeltas. De fato, o exético munea. pode pasar a eer familiar; © 0 familiar nunca deixa de ser exstle. ‘Aqul, ¢ necesstrio fazer uma pansa yara examinar com mais euidado as nogGes de exotismo e familiaridade, termos 158 problemétens passivels de miltipas interpretagées, confor- ‘me assinalon j4 por duas vezes Gilberto Velho (ef, Velho, ‘9T8a e 1978), numa erition atencloea de um trabalho ante. vor em que tais expressSes foram tsadas, De fato, como ‘chama atengio Velho, ver proviso ser mais cuidadoso 40. se Uullizr os termos acima indicados, 38 que ambos implieam na nopho de dietineta — uma expresafo iqualmente complex, ald do contarom muitas eamadas de significado, Quando uset (e ainda estou usando) a nosio de exotis- ‘mo e de familiaridade, busquei exprimir exatamente isso, 04 sea, a tdi de que fat, pessoas, categorias,clasees, segmen- ‘os, aldeias, grupos sociais etc, poderiam ser parts de meu universe diirio; ow nio, 0 exitico, como termo iaverso, sig nificaria precisamente 0 oposto: um elemento situado’ forn ‘do'meu mundo dio, do meu universo social ¢ ideolilco do- minante. Mas Velho tem ratio ao indagar a que tipo de fa riliaridade estamos nos referindo, fina, co que sempre ‘omae ¢ encontramos pode ser familiar mas nko 6 necesss- riamente conhecides, sendo 9 oposto igualmente verdadeiro ols <0 que néo vemos © encontramor pode ser exdtico mas, ls certo ponto, eonhecidos (ef, Velho, 1978a: 39). Estou inteiramente de acordo com Velho, maa isso so- mente se fizermos como ele, ou seja: equacionarmos 0 fa ‘niliar como ronherie, mom ventido direto, sontinvands nossa equasio para fazer ‘com que ela tambim englobe ¢ fntimo e © prézimo. Assim, terfamos: tudo 0 que & familiar © conhecido, ¢ préxime, ¢ tntimo, o que, sem dGvida, & um fexagero e tim engano, "A equagao simétriea inverea, a liza ‘© exitico com o desconhecido, também seria exagerada, pecan- do pela mesma abrangéncia, Minha intenglo 20 utilizar os termos em pauta, porim, fot'no sentido apontade seima. Mes ‘objetivo nto foi o de fazer eom que cles sugeriatem extn iia do conhecido, do intimo ou do priximo, eonforme chama aten- io Gilberto Velho nos eltados trabalhos, De fato, ¢ uso que ago dos dois termes é no sentido de evitar exe empreso Imecinieo das nogées de. familiaridade e exotieme, molto embora tena delxado de elaborar melhor ss minhas pala ‘ras. Sa peal, como talver tanh senrride, pequel Dor cris: ‘io e nfo por imputar a estas palevras uma extensio der. rmesurada de significado. 159 Posso mesmo argumentar que o sentido do familiar @ do exétieo ¢ eomplexs, precisamente porque os. doin termat io. devem ter uma implicacio semantics autométics.. Dal a necessdade de realizar sua transformagao pare poder fazer rmergir a postura antropol6giea. Conforme indiguel scima, ‘mas no eutta elaborar um pouco mais, & preciso transfore tat 9 fetllar 00 exdtico (ou acja; 6 tecmirio questionayy ‘como faz Velho, 0 que é familiar, para poder situar o& even” tos, pestoas. categorias elementos do. nosso mundo didlo distancia) do mesmo modo que 6 preciso questionar 0 ex. teo (9 farendo tase, conforma sugore igualmente. Velho, DO ‘demos muits bem sli descabrir o conhecido eo familiar), ‘Mas, devo cbservar, tals questionamentos nto ato reallzados pelo eenso eum, mas pelo investigedor mumido de um con Junto de problemas que deseja submeter ao escrutinio da tanto, Mas, alim disso, existem outros problemas relevantes, O Drineipal dees a consideracio de que em toda sccieda- isto 6, em toda tolalidade, existem coisas que me aio amiliares’ no. sentido de serem slementos do sistema de lassifieagao e coisas que sio estranhas a este sistema. ‘ai coisas poden ser vistas de trinta em trinta anos, camo 08 fometas, mis nem assim deixam de eer famillares, Fantas- mas e deuses também slo familiares para n6s, mvito embora ejam imatoriin, morem no eepage astral ou olimpice e 26 Aparecam para. umas poueas pessoas. O mesmo pode ser dito fem relagio ao sistema de transports de Niter6, com o qual tenho plena famillaridade ¢ em relagio ao sistema. politico nacional. Cum todos estes elementos eu tenho familiridade, no sentido de que eles fazem parte do meu esquema de clas” siffeagdo, di minha visio de mundo, do meu universo socal feovdgico Nordestinos trabalhando e surfistas queimados de praia também me sio familiares, muito mais comune na ‘minha vida do que natives. das tribos J6 do Brasil Central, ccuja aparigio, mesmo em Ipanems, provocaria olhares curio” 08, indagaydes e, provavelmente"piadas espiituosas. Mas, fotem bem, com tdas essas coisas deseritas cima, tenho spenas uma relagio de familiaridade. isso no significa fm absoluto que: (a) a familiridade no implique em xraus en(b) que sla implique em um automitico eanheeimento ou Intimidade, Tevho fanillaridade com a mdsiea de Bach, mas 160 Wilo tenho intimidade com tal misica: nfo sel como la & foiia, no posse repet-la num sistema de notagio. musical, io posso dizer como foi que Bach reallzot a maioria de ins composig6es. ‘Teno. também familiaridade com 0 ims de transporte de Nitersi, mas nio sei como esse Pe’ dispor para o' presente exereici, Falo e ougo falar de Fantasmas, eepiitos & entidades do mundo do alm de varios Uipos, mas isso néo me faz conkecer ou ter prorimidade com Mas esse previsamente o ponto para o qual quero amar atencio, Como todas essas coisas si0 parte do. me bistema de classificagao, eu pressuponho que a famillaridade Impliea no conhecimento e na intimidade. Iso & precisa- eo que deve ser superado quando buseamos usar 05 ‘ealos da antropologia social, Em outras palavras, quando tien 0 sentido. social da familaridade ¢ suponho que fanhego tudo 0 que esti em minha volts, eu apenas wxsimo Watftude do senso comurs, Ao fazer Isso, nfo Tealizo antro- vlogia, mas aplico as regras da minka cultura as situagies 4 cla familiares, embora, tais situagiea possamn ser Taras, tcldentais oa perlédicas, Mas, notem bem, isso j4 ¢ ums ‘lassificagto.. Velho di oom toda raaio, que ¢ noaeo conbetimento ‘ios nabitos,crengas, valores e Vidas dos nordestinos que ta buatkam naconstrugio civil ma sus rus, <é altamente dife- renciados, e arremata: «Niko e6 o meu grat de femiliatidade, hos termos de Da Matta, esti longe de ser homogtineo, exo de conhecimento 6 muito desiguals (ef. Velho, 19784: 59) Por eerto. Mas caberia perzuntar, como’ ele faz comigo, que tipo de diferenciagio e desigualdade ¢ essa? Trata-se de dl {erencinsio mental ou ideoliziea? Fisica ou educacional? Bs tition oo ética Supor que nordestinos trabalhedores marginais da cons- truclo civil sejam idénticor a ns é um erro que ninguém ‘mais comets, Mas supor que tals nordestinoe eo mal pagos porque ado ignorantes, porque sio migrantes, porque o emn- fo & assim mesmos, poraue quem cheva por ditimo na cidade lurande sofre e sew ia passsi por isto, ja dei duro também, Porque © noaeo capialiemo & selvagem e o governo & frolxe 16 nesta area ele. ¢ muito mals snstural> ¢ multo mals ico», Em outras palavras, do mesmo modo que exist sraus e modalidades de famiiaridade, como. estow busca sitar aqui, hé também grour e modoe de diferenciagao, dde dexiguaidade. Quando falo em familiaridade, estou me ferindo a esta nogio de modo ding, como algo que ser transfermado e assim transcendldo Dara que’ Dersp tive do trabalho de eampo, a postura antropoligien parecer. Nio estou dizendo quo 0 familiar possa. sor estu {ado porque © conhecemos bem. Digo apenas ave, para. ‘aie’ 0 fomilian ponss. ser pereedide_ untropelogicamente, fem que ser de” algum modo transformado no exitico, Do) mesmo moio que Insisto na transformagio do exitico em familiar pera que possamos ter uma andlise verdadeiramente sovioligica. # claro que existem difculdades em cada um leases precessos de transformagio, mas, quando falo em fa niliaridade, utllzo © nogio como um modo de conduzir a reflexio para a divide, No sentido preciso de fazer o liter se perguntar: mas, Deus meu, tudo o que me é familiar & ren conheeldo? Tudo o que me é familiar é intimot Tudo. (que me é familiar estd realmente préximo de mim? Fae vendo asi mesmo tals perguntas, encontrar ma sua reali~ dade social respostas diversas, mas, fazendo Isso, estara pra ticando de alguma forma a’ divida antropoligiea, base do trabalho de etmpe. # evident star mais de acordo com Velho — que ‘exotismo e © acordo final sobre cles & mantido por estrutu- rar que paiem ser ehamadss de s e, a partir deste mo- ments, pode ouvir claramente as intromiesdes do um rotineiro fstase de Chopin, tear por ele obsediado se abrit a tem vel descoberta de que a viagom apenas deapertava sun pré- prin subjetividade:

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