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INTRODUCAO A trindade — As correspondéncias e a analogia — O astral A histéria nos informa que os grandes pensadores da an- tiguidade, que viram nascer a civilizagio no Ocidente, foram complementar seus estudos no conhecimento dos mistérios egipcios. A ciéncia ensinada pelos detentores desses mistérios 6 co nhecida sob nomes diversos: ciéncia oculta, hermetismo, ma- gia, ocultismo, esoterismo etc. Sempre idéntico nos seus princfpios. esse eédigo de ins- trugéio constitui a ciéncia tradicional dos magos e nés a tra- taremos como ocultismo. Esta ciéncia abarea a teoria e a pritica de um grande nimero de fendmenos, sendo que apenas uma infima parte deles constitui, em nossos dias, as matérias que compéem o magnetismo © as evocagdes ditas espiritas. Essas praticas, in- cluidas no estudo da psiqueuterpia, formavam apenas uma pequena parcela da ciéncia_oculta, que compreendia_ainda trés_grandes divis6es:_a_teurgia, a_magia_e a_alquimia. 23 © estudo do ocultismo 6 importante sob dois pontos de vista: esclarece o passado, uma época totalmente esquecida, © permite ao historiador recuperar a antiguidade sob uma forma ainda pouco conhecida. Este estudo apresenta ao ex- perimentador contemporaneo um sistema sintético de afirma- gGes a serem controladas pela ciéncia e outro de idéias sobre as forcas desconhecidas da natureza e do homem. © emprego da analogia, método caracteristico do ocul- tismo e de sua aplicagio as ciéncias contemporaneas, ou as nossas concepgdes modernas de arte e sociologia, nos permite inaugurar uma fase toda nova sobre problemas ainda inso- laveis. O ocultismo, entretanto, nzo pretende ser o tmico a dar a solugo certa As questOes que ele aborda, E um sistema filo- s6fico que d& sua solugio para questées que muito atormen- tam o espirito humano, Serd essa solugio a nica expressio da verdade? $6 a experimentagio e a observagSe serio ca- pazes de demonstré-lo. Para evitar erros de interpretagio, o ocultismo deve ser dividido em duas grandes partes: 1 — Uma parte imutavel, representada pela base da tra- dig&o, facilmente encontrada em todos os trabalhos sobre her- metismno, qualquer que seja sua época ou origem. 2 — Uma parte pessoal do autor, constituida de comen- tarios e aplicagdes pessoais. A parte imutavel pode ser dividida em trés partes: a) A oxisténcia da trindade como lei fundamental para todos os planos do universo. b) A existéncia de correspondéncias unindo intimamente todas as porges do universo visivel e invisivel. 24 c) A existéneia de um mundo invisive!, cdpia exata e {undamento perpétuo do mundo visivel A possibilidade dada a cada intcligéncia de manifestar suas faculdades na disposigo dos detalhes é causa eficiente do progresso dos estudos, a origem de diversas escolas e a prova da possibilidade que tem cada autor de conservar in- tata sua personalidade, qualquer que seja 0 campo de agio abordado por ele. 25 PRIMEIRA PARTE TEORIA CAPITULO | A ciéncia da antiguidade — O visivel, manifestagdo do invisivel — Definicado da ciéncia oculta rv EK acentuada, hoje em dia, a tendéncia a confundir a cién- cia com as ciéncias, Tanto aquela é imutavel nos seus postu- lados, como estas variam de acordo com 0 capricho dos ho- mens. Q que era cicntifico hd um século_esté_bem pesto de se_transformar_em fabula_em nosso tempo. No dominio das ciéneias, tado se transforma a cada instante, Ninguém ignora que os s&bios contemporaneos dedicam seu tempo a esses estudos particulares, embora cles atribuam a ciéncia os verdadeiros progressos obtidos em seus respec- tivos terrenos, A faldcia dessa concepeao surge quando se venta fazer a sintese da ciéncia, expressiio total da verdade eterna, Esta idéia de uma sintese, englobando em algumas leis imutaveis uma enorme massa de conhecimentos acumulados 4 mais de dois séculos, faz com que os pesquisadores de nossa época se percam em divagagées suficientemente vagas © distantes para desejar a seus descendentes um novo arna- nheeer no horizonte dos conhecimentos humanos. Parece audacioso afirmar que essa sintese existiu, que suas leis sendo verdadeizas se aplicam aos conhecimentos mo- dernos, teoricamente falando, ec que os egipcios ja iniciados, contemporiineos de Moisés e de Oxfeu, possufam-na integral- mente. 29 Afirmar que a ciéncia existiu na antiguidade & passar, na opiniio da maior parte das pessoas sérlas, por sofista ou in- génuo. Vou, no entanto, tentarsprovar meus pontos de vista, pedindo apenas aos meus contraditores alguma atengéo. Antes de tudo, vao me perguntar, onde podemos encon- trar vestigios dessa pretensa ciéncia antiga ? Que conhecimen- tos ela abarca ? Que descobertas priticas cla produziu ? Como entender essa famosa sintese de que falamos ? Tudo bem considerado, n&o séo os dados histéricos que nos faltam para reconstituir essa antiga ciéncia. Os fragmen- tos de grandes monumentos, os hierdglifos, os ritos de inicia- ¢40 de procedéncia diversa, os manuscritos, tudo se compri- me, afoitamente, para ajudar nossas buscas. Uns, porém, sao indecifraveis, sem uma descodificagio eficiente. Outros, por sua aatiguidade, nao sio acreditados pe- los s4bios contempordneos, que os atribuem apenas & escola de Alexandria. F. necessdrio, pois, recorrer a bases mais s6lidas e nds vamos encontra-las nas obras de autores anteriores 4 escola de Alexandtia, a Pitdgoras, a Platio, a Aristételes, a Plinio, a Tito Livio etc. Desse modo, nao haveré mais como argumen- tar sobre a antiguidade dos textos. Nao ser& f4cil, certamente, investigar pega por pega os documentos antigos dos velhos autores. Isso foi feito, em grande parte, por outros pesquisadores, aos quais devemos esse trabalho gigantesco. Entre os mais notaveis, devemos citar Dutens, Fabre d’Olivet, Saint-Yves d’Alveydre. Abrindo a obra de Dutens constatamos os efeitos produ- zidos pela ciéncia antiga. Lendo Fabre Olivet e Saint-Yves @Alveydre, penetramos nos templos onde refulge uma civili- zagio capaz de ofuscar as pretendidas civilizagSes modemas. Nao posso aqui senfo resumiy esses autores, os quais de- vem ser consultados para a devida constatagio das afirma- gdes que vou fazer, a fim de fornecer as provas necessdrias do que afirmei acima. Em_astronomia, os antigos conheciam_o movimento da Terra_em tomo do Sol, a teoria da_pluralidade dos mundos, 30 a atragéio universal, as marés produzidas_pela_atragao lunar, @ constituigao da Via Lactea e sobretudo a lei redesco berta por Newton. A propésito, nfo posso resistir ao prazer de citar duas passagens muito significativas da obra de Dutens, Uma delas, sobre a atragio universal, refere-se a Plutarco; a outra, sobre 0 teorema de Pithgoras “Plutarco, que conheceu quase todas as verdades brilhan- tes da astronomia, entreviu também a forgatreeiproca que fax gravitar os planetas uns em torno dos outros ‘e, apds empre- ender as razdes da tendéncia dos corpos para o centro da Terra, ele procura sua origen muma atragio reciproca entre todos os corpos, tal como o Sol ¢ a Lua trazem para si suas partes e por forga da atragio as retém em sua esfera parti- cular’. Ele aplica esses fondmenos a outros, mais gerais sobre 0 que se passa na Terra, ele deduz trdo 0 que deve ocorrer nos demais corpos celestes. Ele fala ainda de wma forca inerente aos corpos que faz atrair para a Terra todos os corpos a cla subordinados. e Uma corda de umn instrumento, diz Pitagoras, produz os mesmos sons que uma outra corda cujo comprimento é duplo, quando a forga que a distonde & quédrupla; ¢ a gravidade de um plancta 6 quadrupla, em relagio & gravidade do um outro que esteja no dobro da distincia, Para que uma corda musical se tore unissona de vma corda mais curta do mesmo tipo, sua tensic deve ser aumentada na mesma proporgio em que o quadrado do seu comprimento se tora maior, a fim de que a gravidade de um plancta seja igual 2 de um outro planeta mais préximo do Sol, ela deve ser aumentada & pro- porgéo que o quadrado de sua distancia ao Sol seja maior Se imaginarmos cordas musicais ligandy 0 Sol a cada planota, para que elas vibrem no mesmo so seria nevessario aumen- tar ou diminuir sua tensio na mesma proporgio que seria necessdzia para tornar ignais as gravidades dos outros pla tas”. Pitagoras tirou sua doutrina sobre a harmonia das esteras dessas nogdes de semethanga. Essas descobertas de principios gerais podem ser obtidas pela forga da inteliggncia; mas podemos encontrar nas anti- gas descobertas experimentais, dessas que cobriram de gls- Si rias o século 19, esses indicios de progresso que nos arre- batam ? Uma vez dentro da astronomia, consultemos Aristételes, Arquimedes, Ovidio ¢ sobretudo Estrabio, citado por Dutens, e veremos aparecer o telescépio, os espelhos céncavos, as len- tes para microseépios, a refragéo da Tug, a descoberta do iso- cronismo, a vibragao do péndulo ete. Ficaremos espantados ao ver esses instrumentos, que acre- ditamos tio modemos, perfeitamente conhecidos pelos anti- gos. Mas ainda nfo falei das questcs mais importantes: o vapor, a elotricidade, a fotografia e toda nossa quimica, onde esto elas na ciéncia antiga P Agatias viveu no sexto século da nossa era. Ele escreveu um livro que foi reimpresso em 1660, Nas paginas 150 © 151 de sev livro encontramos a descrigio completa da maneira pela qual Anteno de Tralle se serviu do vapor como forca motora para deslocar um telhado inteiro. Tudo ai esta: a ma- neira de colocar a Agua, de tapar as saidas para produzir vapor ¢ alta pressio, de governar_o fago ete. Saint-Yves d’Alveydre cita também o fato em sua obra, onde nos mostra que a ciéncia era coisa familiar hé muito tempo, “Nossos eletricistas ndio fariam grande figura ao lado desses magos egipcios e seus iniciades (gregos e romanos), que lidavam como raio fazendo descer ¢ cair de acordo com sua vontade”, E Saint-Yves quem nos revela esse segredo, uma das praticas mais ocultas no santudrio. “Na Histdrie Eclesidstica de Sozomene (livro IX, cap. V1) vemos a corporagiio sacerdotal dos etruscos, defendendo a gol- pes vigorosos, contra Alarico, a cidade de Narnia que nao foi tomada” (Saint-Yves d'Alveydre). ‘Tito Livio (livro I, cap. XXX1} © Plinio (Hist. Nat., tivro LL, capitulo LIT ¢ livro XXVIII, cap. IV), deserevern a morte de Tullus Holtilius, tentando cvocar a forga elétrica segundo os zitos de um manuserito de Numa o morrendo fulminado por niio saber prever todas as conseqiiéncias. 32 Sabe-se que a maioria dos mistérios dos magos egipcios seriam apenas ténues véus com que recobriam as ciéncias que ser iniciado nos seus amistérios significaria estar instruido nas ciéneias por eles cultivadas, Dava-se a Jiipiter 0 nome de Elicius, ou Jiipiter Elétrico, considerando-o como 0 raio per- sonificado, que se langava sobre a terra com a ajuda de certas formulas e praticas misteriosas: Jipiter Elfcius no significa seniio que Jupiter era suscetivel de atragio, Flicius vindo de elicere, segundo Ovidio ¢ Varrao. Eliciunt coelo ie, Jupiter; unde minores Nune quoque te celebrant, Eliciumque vocant. (Ovidio, Fat, Jive IIL, v. 827 © 328). Est& bem claro? © capitulo IV de A Missao dos Judeus nos diz ainda: “O manuserito de um monge de Atos, Panselenus, revela, segundo os antigos autores idnicos, a aplicagéo da quimica na fotografia. O fato foi revelado a propdsito do proceso de Niepce ¢ de Daguene, A camara escura, o3 aparelhos de éti- ca, a sensibilizacio de placas metélicas sio descritas com detalhe”, = Quanto A quimica dos antigos, tenho sélidas razGes para crer, baseado em alguns conhecimentos alquimicos, que se- riam muito superiores, tedricu e praticamente, & nossa quimi- ca moderna. Mas como os fatos falam mais que as opintées, ougamos ainda Dutens (cap. II do tomo I). “Os antigos egipeios conheciam a mancira de trabalhar os metais, a douragito, a pintura om cores da seda, a vidraria, o modo de desenvolver 0 embrido uum ovo, extrair dleos me- dicinais das plantas © preparar o épio, a cerveja, o agiicar de cana — que eles chamavam mel de canigo — ¢ muitos un- giientos; cles ainda sabiam destilar e conheeiam os alcalinos e os Acidos. Fim Platarco (Vide de Alexandre, cap. XX1X), em Heré- doto, em Séneca (Questées Naturais, livro TI, cap. XXV), em 83 Quinte-Curce (livro X, ultimo capitulo), em Plinio (Histéria Natural, livro XXX, cap. XVI}, om Pansinias (Arcad., cap. XXYV), encontramos nossos dcidos, nossas bases, nossos sais; 0 Aleool, o éter, em uma palavra os clementos principais de uma quimica organica e inorganica cujas chaves seus autores nfo couheciam ou nio queriam revelar.” Tal € a opinifio de Saint-Yves, que vem reforgar a de Dutens. Mas resta ainda uma questéo: a dos canhées e da pél vora. “Porfirio, no seu livro A Administragdo do Império, des- creve a artilharia de Constantino Porfirogeneta. Valeriano, na Vida de Alexandre, fala-nos dos canhées de bronze dos indianos. Em Ctésias cncontramos o tamuso fogo grego, mistura de salitre, enxofre e de um hidrocarbureto empregado bem antes de Nino na Caldéia, no Ira, na India, sob 0 nome de fogo de Bharawa, Esse nome que faz alusio ao sacerdécio da raga vermelha, primeiro legislador dos negros da India, indica por si proprio uma grande antiguidade. Herédoto, Justino, Pausinias falam das minas que sepul- tazam sob uma chuva de pedras ¢ de projéte’s inflamados, os persas © os gauleses que invadiram Delfos. Sérvio, Valério, Jilio, 0 Africano, Marco Greco descrevem a pélvora segundo as tradigdes antigas; 0 ltimo parece estar descrevende a pélvora contemporanea” (Suint-Yves dAlvey- X dre). Num outro tamo_de_conbecimentos, eucontranos as_pre- tendidas_descobertas medicinais_modernas, entre outras ae culago do sanguc, a antropologia ea bivlogia ger famente conhecidas na antiguidade, s« sbretu io por i A rigor pode-se admitir que a cada nove descoberta ha- verd sempre iguém para nos mostrar que um autor antiga ja havia falado a respeito; mas haveria alguma experiencia por nés descouhecida que jd tenha sido realizada no dominio da fisica e da quimica, impossivel em nossa época ? 84 Para nfo me tornar cansativo, citarel a respeito apenas Demécrito e suas descobertas, de que perdemos o registro. Entre outras, 2 produgio artificial de pedras preciosas, a des* coberta egipcia que permitia a produgio de vidro maleavel, a conservagao perfeita das mimias, a pintura que nio se al- terava com o tempo, mergulhando uma tela com diversas tintas numa solugio, da qual safa com cores variadas, sem mencio- nar os imateriais desconhecidos empregados pelos romanos em! sna arquitetura. Por que tudo isso 6 tao pouco conhecido ? Talvez pelo habito que tém os autores classicos de his- téria de se copiarem mutuamente sem se preocupar com fon- tes estrangeiras; talvez pelo costume de sé se acreditar em alguns jornais ou em certas enciclopédias, feitas sabe Deus como; talvez, mas por que perder tempo em buscar causas que nao levam a qualquer conclusio? © fato estd ai c ele nos hasta; a_ciéneia_antiga deu mmiltiplas ‘as_de sua _exis- téncia ¢ & preciso dar testemunho dela, ou negd-ta totalmente, Tentaremos uprender agora como se adquiria essa cineia ¢ nisso a obra A Missdio dos Judets vai nos ser atil { pag, 79): “A educagio e @ instrucho clementar eram ministradas pela familia, Klas obedeciam aos ritos do velho culto dos an-, cesteais ¢ dos sexos, no proprio lar, bem como outras ciéncias que nio cabem referir aqui. A educagio ¢ a iustrugao profissionais eran dadas por aqueles qne os antigos italianos chamavam gens e os chinese jin, isto & pela tribo, no sentido arcaico e pouco conhecide da expresso. Estudos inais completos, andlogos & nossa instragdo se- cundéria, eraim as obras do templo e a parte do adulto, v se chamavam mistérios menores Aqueles que ao fim de muitos anos haviam assimilade es ensinamentos, reccbiam o titelo de filhos da mulher, de herdis, de filhos do homem, © possuiam certos paderes so- ciais, tals como a terapéutica, a mediagio junto aos governan- tes, @ magistratura arbitral ete. ess 35 Os inistérios maiores completavam esses ensinamentos numa hierarquia de ciéncias e artes, dando aos iniciados os titulos de filhos dos deuses e filhos de Deus”, FE pois no templo que se concentrava essa ciéncia que agora passaremos a cxaminar mais de perto. Chegamos entao a esses mistérios que de todos nos falam © que sao tao pouco conhecidos. tencer a_um. levendo uma _pi ser_mantida _¢ explorada em total _ignorfncia pelos iniciados recrutados numa casta_fechada, Todo homem podia se apresentar & iniciagiio, Reportemo- nos a obra de Saint-Yves para conhecer detalhes. Cito um autor bem informado a respeito dessas questées, Fabre d’Oli- vet, que nos vai elucidar esse ponto em particular: “As religides antigas, sobretudo as dos egipcios, estavam repletas de mistérios. Uma multidio de imagens e simbolos compunha a série de homens — admirdvel série — encarre- gados de Jer no livro da natureza ¢ no da divindade, ho- mens divinos que traduziam em linguagem humana a lingua- gem inefavel. Aqueles_cujo olhar_atonito_se_fixando nessa’ imagens, simbolos ¢ alegorias sagradas, uada mais viam alémn das _aparéncias, corrompiamrse, 6 verdade, na ignorancia; mas sna ignordncia eza voluntaria. Se quisesscin sair disso, bastariam falar. Todos os santudrios eram-lhes franqueados; se eles ti- vessem a constincia e 2 virtude necessarias, nada impediria sua caminhada, de revclagao em revelagio, até as descobertas sublimes. Podiam até, vivos ¢ humanos, seguindo somente sua vontade, descer até os mortos, se clevayem até os deuses e tudo penetrar na natureza elementar. Porque a religiio abrangia todas essas coisas © dela nada restava desconhecido do soberano pontifice. O de Tebas, no Egito, por exemplo, s6 atingia esse ponto culminante da doutrina depois de ter per corrido todos os graus inferiores, de ter esgotado a dose de ciéncia pertinente a cada grau e de se ter mostrado digno de Nao se_prodigalizavam os_mistérios porque eles _repre- sentissem alguma coisa importante; nico _se protanava o conhe- ‘cimento_da_divindade porque esse _conhecimento _existisse, para_conservar_a_verdade para_mmitos, nao concedia a todos”, Qual era a antignidade desses mistérios ? Qual sua origem ? Nés os encontramos como base de todas as civilizagdes antigas, quaisquer que sejam as ragas a que pertengam, No caso do Egito, cuja iniciagio inspirou os maiores hebreus, gre- gos € romanos, podemos remonti-los a mais de dez mil anos, © que mostra o quanto stig falsas as cronglogias chissicas. His as provas disso: “Trata-se du Egito ? Platéo, s, nos diz que dez inil_anos antes de Men: ompleta, da_gual_ ele tinha_provas reais, Herddoto iusiste em afirmar a pwesma coisa, acreseentando ainda quando se trata de Ostris (deus da antiga sintese ¢ da antiga alianga universal), que seas libios nio nos podent revelar mais porque estio selados por jurumentos. Diodoro inutilmente nos assegurou que sacerdotes egip- cios tinham as provas de que, muito antes de Menés, havia , ali uma civilizagéo completa, que duro até Hérus, 18 mil anos. Maneton, sacerdote egipciv, fez-nos uma cronologia me- ticulosa, transportando-nos a 6 883. anos antes. Ainda inutilmente ele nos disse que antes daquele vice- rei indiano couhecido, imensos ciclos de civilizagio se suce- deram na terra e no préprio Egito. Todos esses augustos testemunbhos, aos quais acrescenta- mos os de Berose ¢ todas as biblivtecas da India, do Tibete ¢ da China, sio considerados nulos pelo deploravel espirito sec- tévio e obscurantista que se esconde sob a mascara da teo- >< logia” (Saint-Yves d’Alveydre). 37 Chegando a este ponto de nossas buscas, laneemos um olhar sobre os pontos abordados e vejamos as conclusdes a que pudemos chegar. Primeiro determinamos a existéncia, na antiguidade, de uma ciéncia tio poderosa, nos seus efeitos, quanto a nossa, de hoje, Provamos tambén que nossa ignovincia a respeito desses fatos provém da indiferenga com que sio tratados os estudos da antiguidade. Vimos em seguida que estu ciéncia esteve sempre reclusa nos templos, centros de alta instrugia e civilizagio. Descobrimos, enfim, que ninguém vive & margem dessa iniciagio, cujas origens se perdem na noite dos tempos mais yy remotos. Trés_tipos de_provas eram_propostos ao inicio de cada instrugie: provas_fisicas, provay morais e proyas_intelectuais Jambico, Porfirio © Apuleio, entre os antigos, Lenpir, Christian e Delaage, entre os modemos, dio-nos conta dessas provas, a respeito das quais crcio ser buitil insistir, O que resulta de tudo isso é a covclusio de que antes da ciéncia prevalecia a ciéncia oculta. Um estudo mesmo superficial dos escritos cientificos dei- xados pelos antigos permite constatar que se seus conheci- meutos visassem aos mesmus efeitos que os nossos conheci- mentos, ainda assim seus raétodos difeririam muito dos nossos, bem como sua teoria. ~ Para saber 0 que se aprendia nos templos é preciso pro- curar 0 resto desses ensiiamentos nos dados de que dispormes, os quais em grande parte foram conservados pelos alquimistas, Se chegarmos a descobrir um métedo para desvendar a lin- guagem simbélica dos alquimistus e, ao mesmo tempo, as his torias simbolicas do Veluciuo de Ouro, da Guerra de Tréia, da Esfinge, poderiamos sem medo ativmar que j4 dispunba- mos de uma bua parte da ciéncia antiga, Veremos primeize como os modernes tratam um fend- meno natural para melhor conhect-lo, ci eposigio av inétodo” antigo. 38 Que dirfamos de um homem que descrevesse assim um livro: “O livre que me foi dado para estudar esté colocado s bre a lareira, a 2 metros e 49 centimetros da mesa onde estou. Ele pesa 545 gramas e 8 decigramas. Ele 6 composto de 342 pequenas fothas de pape! sobre as quais existem 218150 ca- “racteres de impressio, tendo sido usados ncle 190 gramas de tinta preta”. Eis a descrigto experimental do fendmeno. Se o exemplo é chocante, basta_abrir os livros modemos de_ciéncia para constatar o mesmo fato. Eles nfio fazem com 4 astronomia, por exemplo, outra coisa, atribuindo ao Sol _e Sakuno peso, vohime, densidade, aspecto, mimeo de raios_ etc. © que nos interessa no exemplo do livro nao é son as- pecto material, fisico, mas u que o autor quis exprimir com a ajuda das palavras, aquilo que esté oculto sob sua forma, seu lado metaffsico, afinal. . Esse exemplo basta para mostrar a diferenga entre os mé- todos antigos e os métodos contemporaneos. Os primeiros, tudando um fenémeno, ocupam-se sempre do aspecto geral da questo, os iltimos mantém-se @ priori isolades do fato. Para mostrar que esse 60 espirito do método antigo, quero reproduzir uma passagem bastante significativa de Fabre Olivet, sobre duas maneiras de escrever a historia. “Pois ¢ necessiirio lembrar que a histéria alegérica desses tempos _re nv irito di ¢ storia _po- Sitiva que a suceden, mio se th smetha de maneira alguma Be per teas coufundida gpae_tantos.e_graves cxros foram cometides, F uma observagio muito importante a que aqui fazemos novamente. Esta histéria Higada apenas & meméria dos homens on conservada entre os arquivos sacerdotais dos templos em pedagos destacadios de poesia, apenas considera: va_as coisas do_ponto.de vista mgral, nfo se ooupando jamais dos individuos. Ela designava os povos, as corporagdes, as Seitas, as doutrinas, as artes e as ciéncias por um-nome ge- nérico, 39 As massas podiam ter um chefe que desse diregio aos seus movimentos, mas esse chefe, visto como mero instrumento do espirito, seria deixado de lado pela histéria, A sucesso de chefes néo era mencionada na histéria alegérica. Apenas os fatos morais eram examinados e deseritos, do scu surgi- mento até o fim. A sucessio dos fatos substituia a sucessio dos individuos A histéria_positiva, a dos nossos dias, segue_um_método inteiramente diferente: os individuos séio tudo para ¢la._Os Tmodemos _ridicularizuriam 9 método alegérica dos antigos, demos, se cles pudessem_prever_o futuro, Mas como aprovar % que se desconheco ? Aprovamos aquilo que apreciamos e pensamos sempre conhecer tudo 0 que devemos amar.” Retomamos agora esse livro que serviu para estabelocer nossa comparagio, obscrvando bem que ha duas manviras de consideré-lo: Vendo o gue hd nele de material, o papel, a tinta, os caracteres. Ou a outra coisa, as idéias do autor, apresentadas com a ajuda desses sinais materiais. O_que vemos revela_aquilo que nao vemos. Q_vistvel_ 6 a manifestagiio do invisivel, Esse prinetpio, verdadeiro no caso desse fendmeno particular, é real tam- bém para todos os demais fendmenos da natureza, como ve- remos em seguida. Observaremos ainda mais claramente a diferenga funda- mental entre a ciéneia dos antigos e a ciéncia dos modernos. A primeira se ocupa do visivel unicamente para deseo- brir © invisivel que ele representa. A segunda dedicase do fendmeno ein si mesmo, sern se envolver com seu aspecto metafisico. A ciéncia dos antigos é a cignoia do oontto, do evotérics. A citncia dos modemos é 2 ciéneia do visivel, do exo- térico. 40 Aproximemos desses dados a obscuridade na qual os an- tigos niantinham voluntariamente seus simbolos cientificos ¢ poderemos entao estabelecer uma definigao aceitdvel da cién- cia da antiguidade: A ciéncia oculta — scientta occulta A ciéncia do oculto — scientia oceultati A ciéncia que oculta o que descobriu — svientia occul- tans. Essa é a tripla detinigio da Ciéncia Oculta. 41 CAPITULO II O método da ciéncia antiga — A analogia — Os trés mundos — O terndrio — As operagdes teoséficas — As leis ciclicas Ass haver determinado a existéncia, na antiguidade, de uma ciéneia real, sen modo de transmissio, seus temas gerais, tentemos levar avaute nossa andlise, determinando os métodos empregados na ciéncia antiga (scientia occulta). © fim em vista ser a determinagio do invisivel pelo visivel, da idéia pela forma. A primeira questio a resolver é saber se existe a relagiio entre 9 visivel e 0 invisivel e se essa idéia n@o é expresso de um conceito puramente mistico, Creio ter esclarecido, com 0 exemplo do livro, paginas atrés, de que trata o csiudo do visivel, do lenémeno, com- parado ao estudo do invisivel. Como saber 0 que um autor quer dizer 20 ver os signus emprogados por ele para exprimir suas idéias ? Porque sabe- mos que existe wna rclagio constante entre 9 signoe water, que cle tepresenta, isto & entice O visivel oo invisivel Assim como ao ver o signo deduzimos imediatamente a idéia, do mesmo modo, vendo, podemos deduzir o invisivel pelo percebimento do visivel, Para desvobrir a idéia oculta no tipo impresso, precisamos aprender a ler, isto é, a empre- gar wm metodo especial. Para descobrir 0 invisivel, 0 oculto 43 num fendmeno, é preciso também aprender a ler por um mé- todo especial. © método principal da ciéncia oculta ¢ a analogia. Pela analogia determinamos as relagdes existentes entre os fend- menos. Quando se processa o estudo do homem, trés métodos principals conduzirdo ao tim: Pode-se estudar 0 homem pelos seus érgaos, pelas suas fungdes: é o estudo do visivel, estudo por jndugsa. Pode-se estudar 0 homem pela sua vida, pox sua inteli- géncia, pelo que se convencionou chamar de sua alma: € 0 catudo do invisivel, estudo por deducio. Pode-se, enfim, reunindo os dois métodos precedentes, es- tabelecer as relagdes existentes entre os drgios e a fungao, ou entre duas fungdes, ou entre dois orgaos: 6 0 estudo por analogi Assim, se considerarmos 0 pulmao, a ciéneia que detatha nos informard que esse drgio recche ar do exterior, o qual sofre certa transformagiio. Se considerarmos o estémago, a mesma ciéncia nos ensinard que esse érgio transforma os ali- mentos recebidos. A ciéncia do fendmeno niio passa dai, ela nao vai além da constatagio do fato. A analogia, apuderando-se desses dados ¢ tratando-os pelo método oposto ao do detalhe, formula do seguinte modo os fendmenos: © pulmao recebe de fora algo que cle transforma. © estémago reccbe de fora algo que ele transforma. Logo, se 0 pulméo ¢ o estomago exercem fungées andlo- gas, eles siio andlogos entre si. Fssas conclusdes pareceréo estranhas, aos homens da ciéncia oficial, Mas cles precisam lembrar-se dese novo ramo da anatomia que se chama anatomia filosfica. E se se lem- brarem da analogia evidente estabelecida entre mos e pés, pemas ¢ bragos, veréo que as conclusdes acima jé existiam na anatomia filosdfica. 44 Se escolho para exemplo a analogia entre estémago e pul- mao é para alertar contra um erro que se comete freqiiente- mente e que impede para sempre o entendimento dos textos herméticos — 0 de crer que duas coisas andlogas stio seme- thantes. Isso € totalmente falso: duas coisas andlogas nfo sio miais semelhantes do que o estémago e 0 pulmao, do que a mao e 0 pé Repito que esse detalhe é fmdamental para a compreensio das ciéncias ocultas, © método analégico nao é pois a indugio ou a dedu- go: é o uso da claridade que resulta da uniao desses dois mnétodos. Se queremos conhecer um monumento, dois meios nos slo possiveis: 1 — Dar a volta ao monumento, estudando seus minimos detalhes, conhecendo a composigio de todas as suas partes, as relagdes entre elas ete. N&o haverd, no caso, uma idéia geral do conjunto do monumento, Assim acontece com a indugio. 2 — Subir a uma grande altura c olhd-lo atentamente, fazendo uma idéia geral do conjunto, embora sem a menor preocupacao com os detalhes, Assim acontece com a dedugao. Ambos os métodos tém suas falhas, Um tem o que falta ao outro. Se reumirmos os dois, a verdade surgira: estudamos os detathes, depois observaremos 0 conjunto, e 0 monumento sera totalmente conhecido. Unindo os métodos do fisico e do metafisico tera nascico 0 métedo analégico, verdadeira expressio da sintese antiga. Usar a metalisica, como o tedlogo, ¢ usé-la com exelu- sividade, & téo falso quanto usar exclusivamente a fisica. So- mando a percepgiio eo fendmeno, a verdade_aparecers. “Que coneluir disso ? © livro de Kant demonstra a inutilidade dos _métodos filosdficos no que diz respeito aos fendmenos da alta fisica e a necessidade de fazer ceminhar lado a lado a abstragéo ¢ 45 a observacdo dos fenémenos, condenando tudo o que se ba- seava no racionalismo puro” (Louis Lucas). Apés determinar a existéncia desse método especial, surge naturalmente nova pergunta, Nossa finalidade € a cx- plicagio, rudimentar que soja, de todos as simbolos ¢ de todas as historias alegérieas reputadas tio misteriosas. Existirio diferentes graus entre os fendmenos e aquilo que é apreendido pelos sentidos ? Podemos observar que um grande pimero de fatos ¢ govemado por um _pequeno numero, de leis, E no estudo dossas Icis, chamadas causas segundas, que se baseiam os trabalhos cientificos. Mas essas causas segundas sio, elas mesmas, governadas por um nfimero muito restrite de causas primeiras. O estudo destas 6 ustalmente desdenhado pela ciéncia contemporanea Relegadas ao dominio das verdades perceptiveis, clas sto dei- xadas nas mos dos sonhadores de todas as escolas ¢ de todas as religiécs. Mas é 14 que reside a cidncia. Nae vamos discutir aqui quem tem ra: tatar a existéncia dessa tripla gradacao: Zio. Basta cons- 1 — Dominio infinitivo dos fatos. 2 — Dominio mais restrito das leis ou das causas se- gundas. — Dominio mais restrito dos principios ou das causas primeiras. Resuniindo tudo isso numa figura (Missdo dos Judeus, pag, 82): Intelectualismo Soutid superlative cientifico Sintetismo WY " cientifico fe Leis Sentide comparativo Elementarismo ‘ifico Tatos Sentidy positive 46 Essa gradagao baseada no ntmero trés desermpenha um papel importante na ciéncia antiga, E nela que se apdia a analogia, razio pela qual é necessdrio prestar atengao aos seus desenvolvimentos. Essas trés divisées se encontram no homem, no corpo, na vida, na vontade. Uma parte qualquer do corpo, um dedo por cxemplo, pode ser subtraido & influéncia da vontade sem que cesse, por isso, de viver (paralisia parcial), Ou pode, como no caso da gangrena, ser subtraido a influéncia da vida sem que cesse de se mover. Assim, temos trés dominios distiutos: 0 dominio do corpo; o dominio da vida, exercendo sua acto por meio de uma série de condutores especiais (o grande simpatico, os nervos vasomotores); 0 deminig da vontade, por meio de condutores especiais (nervos voluntérios) e nao tendo influéncia sobre os drgios essenciais da vida ~ Se uma coisa é andloga a outra, todas as partes de que essa coisa é composta sio andlogas As partes cozrespondentes da outra, Desse_modo, os _antigos estabeleceram que o _hamem era andlogo a0 universo. Por isso eles chamavam o homem de microcosmo _(pequeno mundo) ¢ 9 universo de macrogosmo t geaale, mundo). Dai se conclu’ que para bem se conhecer a Vida no universo é bastante estudar a vida no homem e, reciprocamente, para conhecer os detalhes do nascimento e da morte de um homem basta estudar os mesmos fendmenos no mundo. A medida que avangamos, nada deve ficar sem ser pio- vado. Assim, faremos agora duas citagdes interessantes, uma sobre as és hierarguias (faos-leis-prineipios}, dosignadas pelos affEGes como os tris tmundos, autso sobre 0 inicrocosmo ® macrocosmo, Os trechos sfo tirados da doutina de Pita- goras, exposta por Fabre dOlivet: “Essa aplicagao (do niimero 12) av universo nao foi uma invegdo arbitréria de Pitégoras, mas era conhecida dos cal- deus, dos egipeios, dos quais ele a recolheu, Essa aplicugio de origem ao zodiaco e existin desde tempos imemoriais. -l 47 A distingZo dos trés mundos ¢ seu desenvolvimento em um minero mais ou menos grande de esferas concéntricas, ha- bitadas por inteligéncias de diferente pureza, foram igual- mente conhecidos antes de Pitagoras, que nada mais fez senio repraduzir o que se ensinava em Tiro, Ménfis e Babi- lénia. Essa foi a doutrina dos indianos. Para Pitagoras 0 homem e 0 universo podiam ser enqua- drados na mesma divisao; por isso ele deu ao homem 0 nome de microcosmo, ou “pequeno mundo”. Nada miais comum na antiguidade que a comparagio entre 9 homem eo universo. O universo, considerado como um grande todo animado, composto de inteligéncia, de alma e de corpo, foi chamado Pan ou Fanés, O homem, microcosmo, era composto do mesmo modo mas de maneira inversa, de corpo, alma e inte- ligéncia; © cada uma dessas partes era vista sob trés modifi- cagdes, de maneira que o terndrio, reinando no todo, reinava também sobre a menor de suas subdivisdes. Segundo Pita. goras, cada terndrio era compreendido na sna unidade abso- luta ou relativa, formando assim o quatemério, ou a tétrade sagrada dos pitagéricos, Esse quaterario podia ser universal ou particular. Pitdgoras nfio foi o autor dessa doutrina: ela era conhe- cida na China e, em toda a Escandindvia. Um ordculo de Zoroastro expressou-a de modo elegante: O terndrio brilha em cada canto do universo Ea ménada é sew principio Assim, de acordo com essa doutrina, o homem, conside- rado como uma unidadé relativa contida na unidade absoluta do_grande todo, aparecia, como_0 temario_universal, “sob_as trés_modificagSes principals do corpo, da_alma ¢ do ‘espirito ‘ou_inteligéncia. A alma, como sede das paixGes, apresentava- s¢_sob_trés Taculdades: razoavel, irasctvel_ou_cobigosa. Se- undo Pitagoras, o viel da cobiga caracterizava-se pela ava~ ieza_ou_pela intemperange, 0 da wascbiidade ova_a_vilania ou a negligénoia_¢ o da sadionalizagio eza a Toucura. Todas 48 estas faculdades eram tocadas pela injustiga Para evitar esses ¥icios, 0 filésofo réecomendava quatro _principais virtudes a seug_discfpulos: a temperanga para a cobiga, a coragem para a irascibilidade, a prudéncia para racionalizagao e para as iS faculdades juntas_a justiga, a mais perfeita das virtudes, se- imdo ele, mas virtude da alma — uma vez qué 0 corpo © a inteligéncia também so Sujeitos a vicios e virtudes proprios.” Novas dificuldades surgem & nossa frente. Agora sto. os nimeros que exigem esclarecimentos. De onde vem 0 uso do nimero trés, tao difundido desde a mais remota antiguidade ? Qs livros arcanos, a antiga metafisica e até um escritor moderne, como Balzac, estao impregnados desse uso, tendo conhecido uma linguagem quase esquecida hoje, a dos niimeros. ’ - “Platio, que via na méisica alguma coisa mais que os mu- sicos de hoje, via também nos néimeros um sentido que nossos matemdticas parecem ignorar completamente. Ele aprenden de Pitagoras, que por sua vez aprendeu dos egipcios, esse outro sentido misterioso dos niimeros. Em todo o Oriente, entio, as mesmas idéias reinavam sobre esse assunto” (Fabre Olivet, in Lang. Herb. Rest.) Seria dificil reconstituir aqui essa linguagem dos ntimeros em sua totalidade, mas podemos ter uma nogio geral di Vejamos entao um fendmeno qualquer da natureza onde pos- samos encontrar 0 niimero trés © conhecer sua significagio, Ve-~ jamos se a fémula gera! dos alquimistas (“tudo esta concebido em tudo”) 6 verdadeira em suas aplicagées. Tomemos a luz do dia como exemplo. O dia se opde A noite para constituir os perfodos de ati- vidade e repouso da natureza, Logo, hd oposigae entre luz © sombra. Mas essa oposigio é real? Entre Inz e sombra, descobrimos, existe a penumbra, a qual participa de uma e outra. A luz depende de maior ou menor quantidade de sombra e vice-versa, A sombra é uma modificagio da Inz. Esses so fatos e podem ser constatados. 2 49 Resurmindo: luz e sombra nao sic completamente sepa- rados; a sombra é a Inz reduzida. Mas 6 preciso agora partif dos fatos para descobrir as Teiy que os determina, Duas cgisas_opostas aparéncia_tém sempre um ponto comup intexmediario entre elas, Esse intermedidrio resulta da agao Feciproca dos opostos ¢ participa de ambos. As duas coisas gpostas_na_aparénoia n&o sio_sengo_graus diferentes de uma mesma coisa. Se as leis sto realmente gerais, elas devem se aplicar a uma grande variedadc de fendmenos. O que caracteriza uma fei & cxatamente o fate de ela explicar uma grande soma de fenémenos. Tomemos outro exemplo, o da existéncia de dois sexos na natureza, ¢ pensemos a seu respeito 0 que foi cons- tatado em relagio & luz c¢ A sombra. E tudo mais, como calor-frio, sélido-gasoso, positivo-negativo. - LEI Qs opostos tém_entre_si_um_intermedidrio resultante_exatamente_deles, FATOS 1° fato 2. fato 3° fato Macho-Fémea Sdtido-Gasoso Pai-Filho intermedidrio intermedirio: intermediario: resultante: estado liquido Espirito Santo crianga, Acrescentei aqui um fendmeno de ordem intelectual, a concepeao crist? de Dens, para mostrar a aplicacio dessa lei em &reas mais amplas. 50 Outra lei Macho | Concepyao | Sékido Pai 1 Fémea | G® diversas 1 Gis) Materia | Fithe Deus f giaus da | Grianga | Famtlia Liquide | E. Santo Retomando o exemplo da luz ¢ da sombra, veremos que a primeira age, a sombra se opée ¢ a penumbra, neutra, flutua entre ambas. Resumindo a lei: Ativo (luz) Passive (sombra) produzent por sua ag&o reetprova 0 neutro, que participa de ambos. Para resumir os t@s futos anunciados acima, podemos dizer: 0. Ativo © Passive © Neutro Macho Perea Crianga Estado gasoso Eatado sélide Estado ligaicle © Pai © Filho O Espirito Luz Sombra Penumbra Calor Frio Mornez Positive Negative Neutro Atracdo Repulséo Equilibrio Acido Base Sal Essa lei forma, sob 0 nome de Lei da Série, a base dos trabalhades de Louis Lucas, 0 qual a aplica a todos os fend- menos quimicos, fisicos ¢ mesmo biolégicos da ciéucia mo- derma. De onde se esboga 0 conceitu geral: Lei do terndrio Do que so viv acima pode-se conetuir os trés termos cons- tituimtes dessa Tei: 1 — Um termo ativo. 51 2 — Um termo passivo. 3. Um termo neutro resultante da agio dos dois pri- meiros sobre um outro. Vejamos isso em ntimeros. Os niimeros basicos sao 1 e 2, uma vez que 1-23. O nimero | representa o principio ativo, 0 numero 2 representa o principio passivo ¢ 0 mimero 3 representa a reagio do ativo sobre o passive. A palavra ativo pode ser substituida por outros significantes, como: hornem, pai, luz, calor, considerando-se a existéncia dos trés mundos: o material, 9 moral ou natural e 0 metafisico ou arquetipico, O mesmo se aplica 4 palavra passivo © a palavra neutro. Nada disso que foi discutido acima é produto da imagi- nagao ou de divagacgées mais cu menos abstratas. Sao reali- dades que nos vém de tempos muito antigos, produto de estudos ¢ de muita experiéncia. O Séfer fetsira, um antigo livro hebraico estudada por M. Frank, desenvolve essas iddias com muita precisio. Um outro velho trabalho, Doutrina dos Pitagdricos — Viagem de Anacarse (cditado em francés em 1809), diz: gamos para caracterizi-la nfio a Jinguagem dos sentidas mas ado espirito. “Damos"&_inteligéncia, on principio _ativo do universo, o nome de ménada; a matéria, ao principio )_passivo, chamamos _diada ou multiplicidade, uma vez que ele 6 sujeito & toda sorte de modificacées; ao mundo chamamos de triade, porque cle & o resultado da inteligencia e da_matéria™, Fobre VOlivet, em Les Vers Dorés de Pythagore, afirma: “Basta dizer que Pitagoras designava Deus por 1, a matéria por 2 e exprimia o universo por 12, reunite dos dois outros”. J& vimos o sentido que os antigos davam aos mimeros 1, 2.¢ 3. Vejamos alguns outros nimeros. Qual a unidade que retine em si os tres termos examinados ? Tal como pai. mae e filho tazem uma unidade, a familia, assim também é composto o quaternario, resultado de um ternario somado aa conjunto de que ele resulta. 52 Um antigo tivro de hermetismo fala em “reduzir_o ter nario através do _quaterndrio A simplicidade da umidade”. Se judo foi devidamente entendido até agora, percebe-se que 4 é a representagfio da unidade e que deve fumcionar como uni- dade. Assim, na formacao de 3 por 1 mais 2, come é for- mado 0 2? Pela unidade que se opde @ ele proprio. Vemwos entio na progressic 1, 2, 3, 4, primeiro a unidade 1; depois a oposiggo 1 © 2; depois a ago dessa oposicio sobre a unidade: 1-} 2 ; om seguida, a volta & unidade, porém de orden diversa: 0 conjuato 1, 2, 3, resulta na uni- dade 4. Isso nao é diffeil como pode parecer ao leitor menos atento. Desenvolvendo O primeizo prinefpio que aparece na familia é @ pai, uni- dade ativa (1) O segundo principio é a mie, que representa a unidade passiva (2). A agio reciproca, a oposigéo produto do terceiro termo, 6 a erianga (3). Finalmente, tudo converge para uma unidade ativa de ordem superior, a familia (4). Essa famflia vai agir como um principio ativo, um pai, nao para dar nascimento a uma crianga mas a uma casta, de onde sair4 o grupo, unidade de ordem superior, Eis os qua- tro termos, em outra disposigio: Unidade ow Oposicao Agao da oposigio volta A unidade Antagonismo. sobre a unidade 1 2 3 4 = = - 5 6 7 8 9 10 ll 12 a) (2) (3) ete. Como vamos descobrir nessa lei uma das chaves basicas para abrir as portas aos mistérios arcanos, tomarei o desen- volvimento social do homem comp exemplo do gue foi dito, visando a um methor entendimento da lei. 53 Unidade ou Gposigas Agio da oposicao volta 2 unidade Antagonismo sobre a unidade L-a primeira molécu- 2- oposigie a essa mo- 3 - resultado: la social, home. Igeula ~ a mulher. crianca, 4-unidade de ordem 5-oposic¢io entre as 6 -disting&o entre as superior—a familia, familias, rivalidade familias, castas. resumindo os trés entre elas termos precedentes, 7-unidade de ordem 8 -oposigio entre as 9 -distingdo entre as superior, a tribo, tribos. trihos, nacionalida- resumindo os trés des. termos precedentes. 10-a nacho. 1 Essa lei 6 a férmula geval, aplicavel a uma multidio de casos particulares. O capitulo seguinte demonstraré isso. Antes vejamos o que dizem os antigos sobre esses mimeros. Duas operagdes devem ser desde logo conhccidas: 1 — A reducio teoséfica. 2 — A soma teosdfica, A primeira consiste em subtrair todos os nimeros for- mados de dois ou mais algarismos, em nimeros de um 36 algarismo, somando os algarismos que compdem o mimero até que nfo reste sendo um, nesse processo de simplificagao: WO=1+0=1 =1-++1 ~s142 © para mimeros maiores, como 321 = 342424158, on 666 = 6 +6-+ 6= 18, on IS=14-8=9. 2 3 Daf _decorte « conchisto, segundo a qual todos os_mt- meros_ nig sio senio representagGes dus_nove. rismgs, Os nove algarismos nao stip senio representagdes di quatro_primeiros. Esses quatro nao sao senao_¢ ados diversos da_unidade, “Todos os niimeros, enfim, sao manifest da_unidade, Todos os numeros, entim, forentes da_unidade. 54

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