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Joao Fragoso e Manolo Florentino O arcaismo como projeto Mercado atlintico, sociedade agréria elite mercantil em uma eco mis rdia = ee moc , = # edigiorevinacampliads = is? =: i a 909 193 CoPYMGHT 9 Jot Fapsoe Ml Foxrian, 20 ZAOOOYS3A IY om QUS:cADPOR he cma tees ce Deaepiaec oxrogeince ‘Bon one oft Le Sous Lee 158k 5 REINIOD2EL.K00 2 SET ORNS a ee ection, Manco, 188. "Qurna cno rfc mec dan scedade P6850 te dn ec am tna semaine tdi {Wo oe fneioy 1590 140 Manolo Foren © oo 1, _Feeo Re de nes Cota 102% ‘Agtoices Ban 8520005343 1st ~Mina—Peod clea 100: asl = Dino = Hii 3. Ba ‘Seniniae 1 Tia cop - 98105, 10480 BU 9m soon Tons oso sera. Psi 9 mp, manne 8 ‘Tanne de pes eine ne Se garogee eyo pein Sracegl po exrea. Dict det eo adgudoe pe Eoifons CvIZAGAO MRASILEIRA rte DISTRISUIDORA RECORD DE SERVIGOS TE IMPRENSA 5. [es Aang 7, ao trae sd onto, Rh, ro, 2921300 {eo a) 386300 EDIDOS PELO REEMBOLSO TOSTAL, (Cate oa 23082, ode fret RJ = 20928970 Ingen ro Bea ar para Renato Rocha Pitzer, in memoriam cwonuon — Interpretagées ‘SOBRE 0S MODELOS EXPUICATIVOS DA ECONOMIA COLONIAL Por sessenta anos, duas grandes vertentes se sucederam como paradigms para a explicagio da natureza profunda da econo- sia colonial. 14, de um lado, a chamada escola do “sentido dda colonizagio",inaugurada por Caio Prado, e que encontrou continuidade em Celso Furtado ¢ Fernando Novais. Contrapon= do-sea laestio Ciro Cardoso Jacob Gorender, que, escrevendo nos eno 70, apontaram para a categoria de “modo de produ- ‘io eseravists colonial” como 0 eixo ao redce do qual deveria sgirara apreeasio daquela aatureza. Nao deixa de impressionar a longevidade desses quadtos explicaivos, tendo em vista a radicalidade das exticas & Teoria da Dependenci, a partir dos anos 70, ¢ da rapider com que o mundo socialista foi varido do planeta em fine da década de 1980. ‘Abra de Caio Prado fincow as raizes mais profundas. Rom- ppendo com a Teoria dos Ciclos — para a qual a continuidades ‘econdmicas colonais corresponderiam a0 despontar de deter- rminados produros na pauta de exportagées —,tentava-se re agatar os fandamentos estruturais da historia brasileira, Estes snecessariamente ultrapassariam es meras conjunturas escessi- vvas hegemonias de produtos exportiveis. Daf que, no seu For- ‘magao do Brasil conterpordneo (1942), em uma parte hoje clissicae ndo gratuitamente intitulada “o sentido da coloniza io", se expliqe: ‘Todo povo ten ma ma vslugi, vies A dixanca um Sentido (2) uma links mestra ininerrupea de acontecinentos que se ‘sceder em ordem rigors sempre numa determinads oxen tas Destes pressupostos somos emetidos & Expansio Maritima Comercial européia. Apreender tal sentido implicaria tomar ‘© descobrimento ¢ a posterior estruturagio da sociedade eeco- nomia coloniis come eapituos da histéria comercial européia; (2) se vamos 3 eséncia de nossa formago versmnos que na fealidade nos constnuimos para fornecetapicar,tabaco, al {Buns cuttos géneros(.)e em sepuida eal, pars o comércio ‘exropen(.) E com tal cbjetiva, objeto exterior, voleado pars fora do pats esem senso a considergtes que nfo fossem de imerese daguele coméecio, que se ergaizacum « sodedade 4 economia bratileiras* Bis aqui 0 verdadeiro corolirio da conguista e coloniza- ‘si0 da América portuguese, ensejando um po de estrutura assentado na continua transferéacia de excedentes para a Me- ttépole, 0 que por certo s6 poderia traduzi-se numa econo- ‘mia exportadora de base agriria. O sistema exportador ‘esaltante combinariatrés varidveis,tragos definidores de todo © periodo colonial: grande propriedade, monocultivo ¢ tea- balho escravo. "PRADO JR, Cale. Formato do Bratt cacempordne, Sto Pla Brats 177. p 2. Aon A primeira drivacio deste model: a preponderinda do cx pital meranti| metropolitan sobre a producioeconal, vit ser por mio dele ue et ima se realizar. Resa a prépria ‘acto de ser da América portugues, como capita mercatl nsi tan erigindo-e em instincia apropriadorae tanserdora do cxcedente gerado no Bra. Em segundo lugar, resultado légico dlamaaigoagroexportadora, tos aslimitases estates para contigo de wm mercado interno de peso na Conia (a ten Ao partir desseslineamentos, era inevitive, também a Farta- do, insistr na transferéncia de sobretabalho para a Metrépele como o fundamento da ecouomia colonial. A tal conclusto se chegou por meio da anise de dados acerca da empresa agucarcira Furtado estimava ser esta sufcientemente rentive para autof- nnanciar a duplicago de sa capacidede prodtivaacada dis nos, ‘que, contudo, x6 por vezes ocorreu, Di a indagagio: {-) mas sea plena capacidade de atofinanciamento da in- istia mio era uslizada, que destino tomavam os recursos f- snanceirossobrantes!™ "FURTADO, Gel, forma ecoutmica do ral. Sho Considerando que os recursos no eram aplicados no agi- car nem em outras rgiSes, Furtado sugere que (0) taver sia que parte sutszancal dos capitis splicados na produgio agucaeia pertencesse aos comercintes? Bis aqui claramente explicitada a subordinasio da produ- ‘io ao capital mercantil que, a0 se apropriar da maior parte do sobretrabalho, detcrminariao ritmo da acum. ‘Cabeinterroga sobre anaturezadesc capital mercanti, uma vex que o autor afirma nio existr na Colénia uma classe de ‘comerciantes de importincia, sendo os grandes empresitios agricalas 0 Gnico grupo de expressio, Sua resposa & precisa (Go) uma parte da renda, que ances atibuiamos& classe de ‘roprietiios de engentos e de canavias, seria 0 que Imodernamente se chama renda de nio residents e perma necia fora da Colénia. Explicar-se-ia, assim, a intima coordenasio existent ente ax eapas de produgio e comer- alizagio® ‘Mas Celso Furtado ndo se limita a seguir Caio Prado, Na bbasca por desvendar as flutuagées da economia colonial, ele se dcbruca sobre o comportamento dos diferentes segmentos que ‘a constiiriam, escaba por elaborar uma das melhores passa> gens de sua obra. Apéndice de sistemas maiores, a economia estar desprovida de ritmos préprios, com suas flutuages de- ‘terminadas pelas do mercado internacional. A expansio (fase [A), neste caso, seria condicionada pela alta dos pregos externos, Mees teat 924 ‘© aqueda desteslevaria&retragio (Fase B). Ressalte-se, porém, ‘que a fase B nio ensejria qualquer madanga de estrurua, vis- to que, por entio, es excravos das engenhos se veriam desloca- ddos para atividades de subsistencia nio diretamente ligadas & exportagio. Furtado conclu que as atvidades voltadas para o mercado, internacional, altamente especalizadas, cstaiam caractrizadas ‘or grande cocficiente de exportaglo. Por isso seu crescimento necessariamente implicaria o crescimento de setores coloniais ligados a0 abastecimento. Eis ai a brecha atvavés da qual ze de- senvolveria o mercado interno colonial — ou sea, ae produsées rmereants para abustecimeato, Por cert, este mercado conhe- ‘ceria limites precisos, impostos pela prépriasituagio colonial = por exemplo, os baixosfretes martimos, que faciltariam as ‘importagSes, ea determinacio mesropolitaa de impedi acon ‘corréacia de produtos colonais.” Ligado, pois, exportagto,o abastecimento interno nao es- ‘aria assentado majoritariamente na escrwvidio (veja-se 0 caso) ‘da pecuitia), e grande parte da produsio deste setor se desti- naria i anto-subsisttncia, Daf sua relativa autonomia em face das fummagGes do mereado externo, a qual, porém, deve ser bem centendida: apenas em épocas de alta dos pregos externos tais ‘segmentos aumentariam seus indices de mercantzagéo, Du- ‘ante as conjunturasdesfavorsveis, polo contrdtio, eles se red Ziriam, pois a propria agroesportagio recuaria a niveis de antoconsumo. Assim, 0 grau de mercantiizagéo da produgio de alimentos — e, portanto, a prépria extensio do mercado interno — dependeria dos pregosinternacionais, Nos momen= tos de crise, a produgéo colonial poderia até aumentar, mas o "em pp 36, faria de forma nio mercantilizada, isto 6, enquanto pura pro- ‘dugio de subsistenca’ “Trts décadas depois de Caio Prado haver erigido o comér- cio exterior a condigio de eixo maior da histéria colonial, Fernando Novas eforcava semelhante ida. Fo farinintegran- do de maneira mais sistemitica © Antigo Sistema Colonial ‘Mercantilsta 8 acumulagéo primitiva de captais: (0 que nos parece peculiar, historicaments especfcn, dis ormagbes colonia do Antigo Regime, € que ata menrager decor dos movimentor de acumulagio do capital merea- ‘ima foemasto do eaptalismo.* Norais retomava Caio Prado lancando mao de nog6es como “transferéacia de excedentes" "elagber centrolperiferia™, con trais para a constituicio de seu quacro explicativo.* “Mas oconceito de Antigo Sistema Colonial representa 0 ins- ‘tramento analiico maior. Em Caio Prado tal nogio aparece fn- ‘dada naquilo que se convencionou chamar de Pacto Colonial — ‘a exclusividade comercial entre as colénias e suas respectivas ‘metrdpoles. O Pacto seria aexpressio maior do capitalismo co- ‘mercial, pois reservatia aos mereadores metropolitanosoprivlé- io das transages colonia.” Novas é, a esterespeito,enfitico: iden pp fos PIER, Paolo 5 abaliarav,comomiseaciedade, Ho de Jano, Pa Tes 1984 7.77 -NCARDOSO, Cie FS. "Ar eonepe str do ‘itn coco mn ‘al eo “sng item ceo x recaps oso com 'exragio ‘drecedene™ in LAPA Jo Jo org) Modor de produ era (baa Resp, ous, 1980, 9127 PRADO fk, itr, pp. i161 O regime do comércio colonial — isto 6, 0 exclusive me- ‘wopoitano no comércio colonial — constiuiv-se a0 longo sds steulos XVI, XVIle XVIIL, no mecanismo através do qual se processva a apropragi por parte dos mercadores das retrépoles, dos hscrosexcedentergerados nas economias > loriait: asim, pois, o sistema colonial em funcionamento ‘configurava uma pesa da acunulagio primitiva de capitals nos quadzos do desenvolvimento do captalismo mereantil cesropeu* Por certo Novais nio desconhece o cariter peculiar das rmetrdpoles ibéricas. Nestas no se veificavam os resultados fintis de uma acumulagio prévia de capitals — isto 6, a indas- ‘malizagdo capitalista. Embora nfo se detenha na anilise do fe- nnémeno (0 que, segundo ele, “extravasaria nosso objetivo"), Novais, como antes o izers Caio Prado, percebe em Portugal ‘um capitalismo mercantl, porém marcado pela hipertrofia do Estado — um “capitalismo monérquico". A isto acrescenta a conjuntura internacional qu, a pacts de meados do sécalo XVII, © tornou desfavorivel 4 Metrépole, Tal fendmeno ensejaria a dependéncia porniguesa para com a Inglaterra e aquilo que © autor chama de “transferéacia das vantagens” do exclusivo ‘colonial. Dessespressupostos emergem ostrapos bisicos da economia colonial, comegando pela excravidio, Da mesma forma que em Caio Prado e Furtado, para Novais a hegemonia da plantation resultaria num mercado interno reduridissimo, dado que 0s es- «ravos produziriam grande parte de sua subsisténcia na prpria a tunidade exportadora. A economia colonial estaria, pois, dividida em dois setores bisicos: a plantation, razio de ser da colonizagio capitalist; e o setor, subordinado ¢ dependente,

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