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2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: A EMERGENCIA DA CIENCIA POLITICA NO BRASIL: aspectos institucionais* Maria Cecilia Spina Forjaz Introdugo A intengao deste artigo nio é abranger globalmente a constituigdo da Ciéneia Politica como disciplina académica no Brasil, mas focalizar a atengio no grupo geracional e regional (incluindo instituigdes) que denomino grupo mineiro/carioca. Essa selegdo exclui importantes cientistas politicos, assim como cientistas sociais de outras regides e periodos historicos. A exclusio ndo minimiza a importincia da contribuigio desses pensadores 4 Ciéncia Politica brasileira, mas qualifica deliberadamente o grupo focalizado como ator privilegiado da autonomizagao do conhecimento cientifico da politica em relagdo a outros ramos das ciéncias sociais brasileiras AS instituig6es que considero pioneiras nesse processo de constituigdo da Cigneia Politica como disciplina auténoma sio o Instituto Universitario de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e 0 Departamento de Ciéncia Politica da Universidade Federal de Minas Gerais (DCP-UFMG), liderados respectivamente por Wanderley Guilherme dos Santos e Fabio Wanderley Reis. Foi intenso o intercdmbio de intelectuais ¢ de idéias entre clas, principalmente no sentido Minas — Rio. Um nimero respeitavel de intelectuais mineiros emigraram para o luperj, dentre os quais Bolivar Lamounier, Simon Schwartzman, Amaury de Souza, Edmundo Campos Coelho, Olavo Brasil de Lima Junior, Renato Boschi e José Murilo de Carvalho. O relativo atraso da institucionalizagao ¢ profissionalizago da Ciéneia Politica ndo ¢ fendmeno apenas brasileiro, mas pretendemos aqui deslindar as especificidades desse fato no ambito nacional. E tratando-se de estudar a emergéncia das ci is num pais subdesenvolvido, nunca ¢ demais frisar sua subordinacao aos eventos, instituigdes e liderangas intelectuais dos centros produtores do "Primeiro Mundo". A constituigo da Ciéncia Politica académica no Brasil esta estreitamente vinculada a influéncia estrangeira, especialmente 4 norte-americana, que nutriu e formou a maioria dos integrantes dessa geragdo, incias soci A inspiragdo nas fontes teéricas da Ciéneia Politica americana, de resto uma das mais precoces ¢ desenvolvidas, marcou profundamente esse grupo de pesquisadores e os distinguiu dos fundadores da Sociologia brasileira, eminentemente formados na tradi¢io européia, especialmente francesa e alema. Origens intelectuais tdo diversas e a hegemonia politico-cultural americana no p6s-64 tornaram esse proceso bastante conflituoso, como pretendemos esclarecer ao longo do trabalho. Além da diversidade tebrica que os caracterizou, esse conjunto de cientistas teve que enfrentar um campo intelectual reduzido e totalmente dominado pela Escola Sociolégica Paulista. A hegemonia e 0 cariter fechado da Universidade de Sdo Paulo tornaram extremamente competitivo 0 processo de afirmagdo desses cientistas sociais, tendo produzido um debate intelectual bastante agressivo. © artigo focaliza especialmente os aspectos institucionais do processo de delimitagio de um territério préprio da Ciéncia Politica no Brasil, sem empreender uma anilise tedrica da obra produzida por esse grupo hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him wna 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: de pesquisadores, passo seguinte ¢ necessirio para a completa elucidagdo dos argumentos aqui desenvolvidos As instituigdes e os produtores: a construgao disciplinar da Ciéncia Politica © processo de institucionalizaao, profissionalizagio, definigao disciplinar ¢ constituigio de um clenco respeitavel de produtos de Cigneia Politica, assim como a afirmagao de paradigmas tedricos proprios ¢ a autonomizagao em relago a ramos mais antigos e consolidados das ciéncias sociais, especialmente a Sociologia ¢ 0 Direito, ocorrem no Brasil ao longo dos iltimos 30 anos. Irma cagula das ciéncias sociais, a Ciéncia Politica afirma sua identidade a partir de meados dos anos 60, quando j4 se constituira no pais um sistema de ensino superior ao qual esteve estreitamente vinculado 0 desenvolvimento intelectual ¢ institucional dessas disciplinas, especialmente no eixo S40 Paulo — Rio de Janeiro. intre 1930 € 1964, no bojo dos processos mais amplos de industrializagao e urbanizagao do pais, moldaram- se importantes centros produtores de ciéncias sociais, dentre os quais exerceram papel de lideranga a Escola Sociolégica Paulista e o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB): Esse conjunto de transformagées afetando o perfil da estrutura social esti na maiz de uma gama extensa ¢ complexa de iniciativas institucionais nas dreas de ensino e produgo cultural que, por sua vez, vio contribuir decisivamente, a médio prazo, para a cristalizagdo de um amplo setor teeiério intelectual, nucleado em toro da omganizagdo universitiria e tendo como principal fiente de operagdes a Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras. [..] Ao contritio do que se passou em Minas Gerais por exemplo, onde as disciplinas juridicas e econdmicas constitufam o ceme da formagdo académica em ciéncias sociais, o curriculo da faculdade paulista se nutria de uma alentads formagdo filoséfica sobre a qual foi se erigindo progressivamente 0 predominio intelectual da disciplina sociolgica convertida em niicleo dindmico da produgdo académica em ciéncias sociais nesse perfodo. [..] © proprio insucesso dos principais empreendimentos universitirios na ento capital federal (a comegar pela Universidade do Distrito Federal) deveu-se em ampla medida & ingeréncia politica das autoridades governamentais e, por outro lado, aos obsticulos de toda ondem impostos pelo exervicio do controle confessional catélico. A maioria das iniciativas bem-sucedidas no Rio de Janciro ganhou impulso 1598 institucional sob a protegdo de liderangas e circulos govemamentais influentes. (Miceli, 1989, pp. 1 Sociologia académica em Sao Paulo, marcada fortemente pela influéncia francesa que, gragas A hegemonia durkheimiana até os anos 30, se notabilizou pela debilidade da area de politica; predominio de uma ciéncia social de cunho ideolégico e militante intervencionista no Rio de Janeiro, sio alguns dos fatores que explicam a constitui¢do tardia de um perfil disciplinar auténomo para a Ciéncia Politica no Brasil. O que estamos querendo demonstrar ¢ que a propria forma em que se estruturou o campo das ciéncias sociais no Brasil no deixou muito espago, nessa etapa inicial, para o florescimento da reflexo politica de cunho académico. Predominio de um determinado tipo de sociologia européia de um lado, ¢ da "politica aplicada", digamos assim, de outro, Tanto do ponto de vista dos modelos teéricos que influenciaram a Escola Sociolégica Paulista, quanto do formato institucional que foi montado, nao havia nessa fase condigdes que permitissem a emergéncia da autonomia da politica como objeto de investigago cientifica. As relagdes intelectuais entre a geragdo que mais tarde impulsionaria os estudos politicos e a Escola Sociolégica Paulista sero abordadas mais adiante. Porém, esse atraso relativo da constituigio da politica como disciplina cientifica nao € especifico do caso brasileiro, mas, a0 contrario, marca a trajetoria desse ramo do conhecimento nos principais centros produtores: Como os fenémenos politicos interessam a muitas disciplinas, essa ambigilidade redunda num sério inconveniente, Isso é particularmente ébvio na Europa, onde muitos estudiosos compartitham do ponto de vista de Maurice Duverger de que, “de modo geral, os dois rétulos (sociologia politica e ciéncia politica) so sindnimos”. Esse ponto de vista € muito conveniente e predomina, sobretudo, entre os socidlogos europeus vidos de expansio em detrimento dos cientistas politicos; por esse motivo, explica em boa parte o persistente atraso da Ciéncia Politica na Europa, (Sartori, 1972, pp. 106-107) hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him ana 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: 0 texto citado foi redigido no final dos anos 60, por ocasido da preparagdo do encontro de 1967 da American Political Science Association, ¢ o objetivo mais geral desse ¢ outros artigos reunidos mais tarde em livro era exatamente avaliar 0 estado das relages entre a Ciéncia Politica e as demais ciéncias sociais. Mesmo nos Estados Unidos, onde 0 desenvolvimento académico da Ciéncia Politica foi mais intenso e precoce, esse processo significou uma longa batalha intelectual de construgao de identidade disciplinar.2 Tal como no Brasil, durante muito tempo a politica foi encarada naquele pais como um "ramo" da ciéneia-mie, da ciéncia sintese, a Sociologia. Tratava-se, entio, de afirmar a independéncia da Ciéncia Politica num ambiente intelectual em que ainda cram vigorosas as correntes de cientistas sociais tendentes a encarar a politica como uma se¢do da Sociologia, ou da Economia. A analise comparativa do desenvolvimento da Ciéncia Politica permite constatar que as décadas de 60 e 70 foram extremamente favordveis ao florescimento dessa disciplina tanto na América Latina quanto em alguns paises europeus carentes de institucionalizagdo cientifica na area. ‘A decolagem do processo de institucionalizagdo da Ciéncia Politica no pais nos anos 60 est vinculada 4 constituigo de um sistema de pés-graduagio na Universidade brasileira, por um lado, ¢ & montagem de agéncias de fomento vinculadas a um sistema nacional de desenvolvimento cientifico e tecnolégico, crescentemente vinculado As politicas de planejamento e desenvolvimento econémico, por outro. As grandes agéncias governamentais, principalmente CNPq, Finep, CAPES e FAPESP, passam a carrear recursos orgamentirios para financiar a pesquisa cientifica, que antes dependia apenas das verbas do Estado destinadas a Educagiio. Em outros termos, "queremos dizer que houve uma duplicagao dos locais, dentro do aparelho do Estado, de onde fluem recursos para a pesquisa cientifica. No entanto, se houve uma ampliago das fontes de recursos financeiros, passou a existir um novo centro de poder sobre a pesquisa cientifica: as agéncias de fomento, que so independentes do sistema educacional." (Forjaz, 1989a, p. 72). ‘A "maioridade" intelectual das ciéncias sociais em geral, ¢ da Ciéneia Politica em particular, foi sendo conquistada aos poucos no interior dessas agéncias, & medida que ampliava e se profissionalizava cada vez mais a comunidade de cientistas sociais. Mas, € s6 a partir de meados dos anos 70 que se configura plenamente o reconhecimento das ciéncias humanas nos organismos financiadores da ciéneia brasileira, sistema nacional de pés-graduagdo implantado pela Reforma Universitaria de 1968 ampliou enormemente © mercado de docentes universitatios, pesquisadores, bolsas de estudo, bibliotecas, laboratorios ¢ todos os outros aparatos necessérios ao desenvolvimento cientifico num leque bastante diversificado de areas do conhecimento, expansio com a qual as ciéncias sociais em geral, e a Ciéncia Politica em particular, também foram beneficiadas Embora nao fossem o alvo especifico do impulso modemizador propiciado pelo regime autoritario, e tenham sofrido profundas perdas com a repressio, as ciéncias humanas também foram caudatérias de um processo ‘mais geral de expansdo da pesquisa cientifica ¢ da indistria cultural no pats: Durante muito tempo pensamos a existéncia do regime militar como uma exerescéncia frontalmente antagénica A sociedade que o gerou, Nos deixamos assim impressionar pelos atos repressivos, esquecendo-se que foi esta a via encontrada para 0 capitalismo mais avangado se implementar no Brasil. Olhando com maior cuidado, pereebemos que entre 1964-1980, a contradiedo entre censura e cultura no era na verdade estruturel, mas conjuntural, ¢ se definia em termos taticos, O ato censor ndo se caracterizava exclusivamente pelo veto; aluava como repressio scletiva que impossibilitava o florescimento de determinados pensamentos ou de obras artisticas, Sio censuradas as pegas teatrais, os filmes, o8 livros, mas nfo o teatto, 0 cinema ou a industria editorial, que cresceram vertiginosamente nesse periodo. O Estado repressor & também incentivador de uma politica cultural: Embratel (1965), Conselho Federal de Cultura (1966), Instituto Nacional de Cinema (1966), :mbrafilme (1969), Funaste (1975), Coneine (1976), Fundagdo Pri-Meméria (1979). Algo semelhante se passa com a Universidade, Paralelamente as cassagSes, temos o desenvolvimento da Pés-Graduagao, resultado de uma politica deliberada dos govemos militares. (Ortiz, s/d., pp. 18-19) Na mesma linha de raciocinio, escrevemos 0 seguinte: Se 0 regime militar, por um lado, golpeou e reprimiu setores da comunidade cientifica ¢ académica mais ativamente oposicionistas, por outro lado, possibilitou a ampliagio de uma rede de instituigdes ligadas & Cigncia e Tecnologia nas quais diversos grupos de cientistas sociais conseguiram se insinuar. Além disso, é preciso considerar que 0 movimento de 64 no constitui um bloco monolitico e que ao longo do regime hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him ana 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: autotitatio diferentes faegdes militares detiveram a hegemonia, Se no periodo de 1969 a 1974 predominaram os grupos de "linha dura", com perspectivas nitidamente repressivas (8 a fase de grande desenvolvimento da comunidade de informagdes e seguranga), a partir do govemo Geisel e do processo de abertura politica aumentou a influéneia dos militares sorbonistas. Esse "partido militar’, mais intelectualizado © mais comprometide com a modemizagio do pais, manifestou posturas favoriveis ao desenvolvimento cientifico ¢ conviveu de forma menos contflitiva com a comunidade cientifica brasileira, Foi nesses espagos institucionais abertos pelo regime que a crescente comunidade de cientistas socisis (enormemente ampliada com 0 desenvolvimento da pés-graduagdo a partir de 1968) inseriu-se e conquistou posigdes (Forjaz, 1989a, p. 82) Mas além desses fatores intemnos que possibilitaram a emergéncia de uma Ciéneia Politica académica a partir de meados dos anos 60, foram fundamentais os investimentos feitos por agéncias internacionais, dentre as quais se destaca a Fundagdo Ford, que foi, e em alguns casos continua sendo, o esteio financeiro essencial de alguns dos principais empreendimentos na area: 0 Instituto Universitério de Pesquisas do Rio de Janeiro, 0 Departamento de Ciéncia Politica da Universidade Federal de Minas Gerais, o Cebrap, 0 Cedec 0 Id Na segunda metade dos anos 60, © envolvimento norte-americano na guema do Vietnd havia alterado drasticamente as condigdes de oferta e sobretudo de recepedo da chamada “ajuda intemacional" prestada por agéncias govemamentais e privadas norte-americanas, [,..] @ Ford modificou sua atitude em relagio as . Museu Nacional/UFRJ - Universidade | 9 otogia 1968-1988 5 Federal do Rio de Janeiro Anttopolog c = Centro de Estudos de Cultura | Ciéncia Potica | 1.097.079 qo79-1989. Cedee - Centro de Bstudos de Cultura | Cigncia Pol Contemporines ~ Sio Paulo Sociologia 19781989 = “Anpocs - Associagio Nacional de Pés- | Antropologia, | 922.032 hipikwwwanpocs.orgbriportalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him ang 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: Graduaglo © Pesquisa e Ciéncias | Sociologia Sociis GGéncia Potten UFMG/DCP - Univenidade Federal de 800477 1966-1984 © MinasCieris/ Departamento de Ciencia | Ciéncia Politica Politica 1982-1990 e Fundasio Cais Chagas/Sio Paulo | Estudos sobre | 585,200 UED/Pimes - Universidade Federal de | Mestrado em | 558782 1970-1984 * Pemambueo /Programa Integrado, | Feonomia “Mestrado em Economia ¢ Sociologia | Sociologia ov2.49 , UnB — Universidade Nacional de |, ecpotogia | 436315 1972-1988 ° Pe Antropologi +1978 . UFRGS/Universidade Federal do Rio ttiea | ee 1967-1975 we Grande do Sul ‘Toul Fundagao Ford 1.558.145 (12%) 73988 Coneusos de Demais dotagdes 2.296.749 (17%) Total geral/dotacdes Ford 13.393.109 (100%) Fonte: Fundagdo Ford, Nova York, 1988, reproduzido de Miceli (1990, p. 72). Sbvio que os interesses dessa ¢ outras agéncias norte-americanas, publicas ou privadas, estiio vinculados a uma politica de hegemonia cultural na América Latina, propésitos que se intensificaram claramente depois da Revolugio Cubana. Os investimentos feitos possibilitaram a abertura de canais de intercimbio académico-intelectual através dos quais os modelos tedricos da ciéncia social anglo-sax penetraram um campo intelectual até entio dominado por padrdes europeus. Mas, pode-se dizer que a Fundagdo Ford exerceu uma espécie de "imperialismo cultural ilustrado", bastante pluralista, que admitiu e abriu espagos para liderangas intelectuais latino-americanas dos mais variados matizes politico-ideolégicos. Muitos intelectuais brasileiros punidos pela Revolugo de 1964, e em especial varias liderangas intelectuais da ica nacional, como Fernando Henrique Cardoso, Wanderley Guilherme dos Santos, emergente Ciéneia Poli Bolivar Lamounier, Simon Schwartzman e muitos outros encontraram abrigo no seio de institui patrocinadas pela Fundagdo Ford. ies ‘A atuagdo das agéncias nacionais e internacionais de fomento cientifico e a moldagem de um sistema nacional de pés-graduagio significaram um enorme incremento nas atividades de pesquisa e docéneia, assim como a diversificagao dos espagos institucionais onde a Ciéncia Politica passou a ser praticada: Na verdade, a Ciéncia Politica brasileira é produzida em trés tipos bisicos de instituigdes: os programas de pis- ‘graduaglo ligados a Universidades publicas e privadas, um programa de pos-graduacdo privado sem vinculos com o sistema universitirio (Iuper)), niicleos de pesquisa universitarios ¢ centros de pesquisa privados, [..] a diversidade institucional tem permitido uma variagdo benéfica de modalidades de trabalho, tipos de pesquisa e estilos de lideranga. A maior flexibilidade organizativa permitiu a alguns centros privados e niicleos univeritérios, no contexto da montagem de projetos de grande escala, acima mencionada, a reunifio de profissionais de formagdo académica diversificada e a exploragdo de teméticas multidisciplinares, que dificilmente encontram abrigo nos departamentos estruturados ao redor de disciplinas. Na dirego oposta, esta mesma flexibilidade possibilitou @ reunifo, em uma Gnica instituigfo, de um nimero significative de pesquisadores dedicados a uma linha de pesquisa determinada — estudos leitorais, politicas sociais, ‘movimento operitio ¢ sindicalismo etc, —, dando origem a projetos de maior fBlego, em termos de pessoal, recursos ¢ escopo da investigagdo. (Almeida, 1989b, pp. 8 ¢ 17-18) contexto macro-histérico que eria as oportunidades e os estimulos para a emergéneia da Ciéneia Politica como campo especifico do conhecimento a partir de meados dos anos 60 esté vinculado, no nosso entend: hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him sia 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: duas ordens de fatores. Em primeiro lugar, o papel essencial que o Estado assume como condutor do processo de desenvolvimento ¢ modernizagao da sociedade brasileira, Embora essa seja uma caracteristica tradicional da historia brasileira, isso ndo elimina o fato de que no p6s-1964 tenha havido uma acentuagdo dessa tendéncia histérica em novos moldes. A necessidade de entender os novos padrdes de atuagdo do Estado, esfera do conhecimento da politica, revitaliza e impulsiona a reflexio nessa drea. Em outros termos, a dimensio politica do pensamento social toma-se mais urgente no bojo de um proceso de "modemizagdo conservadora" que maximizou a intervengao estatal. Em artigo publicado no final dos anos 70 ja teciamos algumas consideragdes sobre fenémeno: [Le aos poucos a "primazia do Estado", a "preeminéncia" do Estado, passaram a ser a tOnica da produgdo sociolégica e politica no Brasil. E & por volta dos anos sotenta que esse "estatismo” tomou-se plenamente dominante. Exatamente por essa época, tomou-se moda no Brasil estudar Gramsci, que justamente critica 0 dcterminismo cconémico ¢ busca a autonomia da esfera do politico. Ou entio Poulantzas, que também se tomou "estrela" no cenério das cineias sociais "no lado de baixo do Equador”. (Forjaz, 1979, p.12) Num momento em que o paradigma teérico marxista era dominante nas ciéncias sociais brasileiras, gragas & hegemonia intelectual da Escola Sociolégica Paulista, as tentativas de explicagdo sobre os novos papéis do Estado nas sociedades contemporineas so buscadas inicialmente nos quadros de um arcabougo teérico carente de respostas a essas questdes, dadas as fragilidades, ou mesmo inexisténcia de uma teoria politica no interior do marxismo clissico. Dai a proliferagao das leituras ¢ interpretagdes baseadas em novas correntes do pensamento marxista, como o estruturalismo ou o historicismo de Gramsci, © fato & que a faléncia do Estado Liberal, tanto no mundo desenvolvido quanto na periferia capitalista, desafiava a imaginago dos cientistas sociais e atualizava o debate sobre o Estado e sobre a esfera da politica em geral. Criticando a abordagem sistémica de David Easton ¢ reafirmando a relevéncia e modemnidade do conceito de Estado, o cientista politico weberiano Simon Schwartzman declara: Nao me parece que a critica feita por David Faston as dificuldades do coneeito de Estado em Poulantzas, ¢ ‘mesmo no marxismo em geral, embora bem-sucedida dentro destes limites, seja suficiente para exorcizé-lo da anilise politica madema. A forga do conceito de Estado é que ele se refere a um aspecto muito concreto e ‘generalizado das sociedades modemas — 0 desenvolvimento de grandes © complexas estruturas ‘omganizacionais que concentram o poder, tendem a manter @ monopélio do uso da forga, organizam-se em linhas burocriticas, t8m um limite territorial definido, e assim por diante, Além disso, 0 Estado no é uma simples fungi! istema politico", uma vez que, de acordo com suas diferentes historias, cada sociedade tem seu tipo peculiar c, como diz Nettl, seu grau especifico de "estaticidade” (stateness). (Schwartzman, 19823, p.153) © autoritarismo, a faléncia da democracia na periferia capitalista, 0 "Estado Burocritico-Autoritério", a ascensio dos militares ao poder na América Latina e alguns paises europeus provocam a reflexdo politica e abrem novos espagos ¢ exigéncias intelectuais para 0 ramo até entdo menos desenvolvido das ciéncias sociais. As explicagdes predominantemente economicistas ou "sociologizantes" no dio mais conta da nova realidade histérica e é preciso fundar a "autonomia da politica”. segundo fator que nos parece ter privilegiado a emergéncia de uma abordagem especifica da politica diz respeito 4 extrema politizagdo do movimento estudantil no Brasil e na América Latina ao longo dos anos 60, periodo formativo de uma nova geragdo de cientistas sociais, concretamente afetados em suas biogratias pela ascensio dos militares ao poder: "A politica ganhava prioridade como pratica, mas também como ‘campo de conhecimento™ (Loyo, 1982, p. 337), diz a cientista politica mexicana tentando perceber os caminhos percorridos por essa disciplina no México. Mais diretamente afetados pela repressfo, estudantes ¢ professores de cigneias sociais tiveram suas trajetérias truncadas ou alteradas pelo exilio ou pela prisio, cassagao, aposentadoria e outras formas de constrangimento. Muitos depoimentos apontam a influéncia da Revolugo de 64 nas carreiras de toda uma geragdo de cientistas sociais ‘A outra coisa importante que aconteceu foi a crise politica, O impacto do golpe sobre as escolas e a Universidade. F artiscado 0 que eu vou dizer, mas me parece que uma das conseqiiéncias importantes, no plano universitario, do golpe de 64 foi precisamente que os centros mais atingidos foram os centros onde se produzia a sociologia. O caso da USP é conhecido, No caso de Minas Gerais, 0 que que aconteceu com o golpe de 647 hipikwwwanpocs.orgbriportalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him ara 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: Esse sistema de treinamento de pessoas na graduago com bolsas foi extinto, grande parte dos alunos suas bolsas ¢, inclusive no final, esse curso de sociologia que existia na Faculdade de Ciéncias Econémicas, também importante, foi deslocado para a Faculdade de Filosofia, e praticamente © curso desapareceu por um longo periodo, perdeu substancia ete, ‘Vio no mesmo sentido as declaragdes de Bolivar Lamounier numa entrevista concedida a Maria Arminda do ‘Nascimento Arruda em 10 de abril de 1987: — Mas, seri que o fato de que o curso tinha os olhos voltados para a Administrago Piblica no encaminharia cesses estudantes para a Ciéncia Politica? o. A questio da Ciéncia Politica tem ver com a mudanga de 64. Quer dizer, 0 colapso dos sonhos da ‘geragdo inteira, De repente todo mundo viu que a Sudene era bobagem, que o Ministério do Planejamento era ‘uma bobagem, que dar aula em Brasilia era bobagem, entende? Que tudo isso estava em colapso. Era uma _goragio intcira em colapso.$ Um dos efeitos da revolugdo foi a politizagdo das ciéncias sociais, a busca de novos modelos explicativos que permitissem a compreensio das especificidades de um novo tempo histérico em que a politica assumia tal relevancia. Foi a oportunidade, ou a fatalidade de abandonar o pais e conviver com outras concepsdes tedricas, incorporar técnicas ¢ métodos de investigagéo gerados em sistemas universitdrios mais profissionalizados, vivenciar experiéncias académicas bastante diversificadas, enfrentar diferentes padroes de concorréncia intelectual, internacionalizar 0 intercdmbio cultural e académico, Cariocas e mineiros na constituigao da Ciéncia Politica no Brasil © Departamento de Ciéneia Politica da Universidade Federal de Minas Gerais (DCP-UFMG) e o Instituto Universitério de Pesquisas do Rio de Janeiro (Juperj), no por acaso os programas pioneiros de pés- graduagdo em Cigncia Politica, constituem, a nosso ver, o micleo central de institucionalizagao da disciplina no Brasil. Foi um grupo de cientistas politicos vinculados a essas instituigdes que assumiu a lideranga desse proceso. Graduados e pés-graduados ao longo dos anos 60 ¢ 70, essa geragdo de cientistas sociais inclui, segundo depoimentos dos proprios participantes, os seguintes nomes: Wanderley Guilherme dos Santos, Fabio Wanderley Reis, Bolivar Lamounier, Antonio Otavio Cintra, Simon Schwartzman, Amaury de Souza, imundo Campos Coelho, Eli Diniz, Olavo Brasil de Lima Jr., Renato Boschi, Teotonio dos Santos, Vinicius Caldeira Brandt, Herbert José de Souza, Ivan Ribeiro, Elcio Saraiva, Mauricio Cadaval, o historiador José Murilo de Carvalho ¢ o sociolégo Vilmar Faria. Resumimos aqui a biografia intelectual das duas principais liderangas do grupo, na avaliag3o de seus proprios componentes, chamando a atenco para algumas convergéncias na trajetéria intelectual desses dois cientistas politicos, partilhada, em linhas gerais, pelos demais membros do grupo. Wanderdey Guilherme dos Santos nasceu no Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1935 e graduou-se em Filosofia na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1958. Especializou-se em Problemas do Desenvolvimento Econdmico no curso da CEPAL/BNDE em 1963 ¢ foi professor do ISEB até a sua extingZo violenta pela Revolugdo de 64. Tomnou-se professor do Tuperj no ano seguinte e no fim da década ganhou uma bolsa da Fundagdo Ford para realizar seu doutoramento na Universidade de Stanford, onde defendeu a tese The calculus of conflict: impasse in Brazilian politics and the crisis of 1964. Foi professor visitante no Departamento de Ciéneia Politica da Universidade de Wisconsin em 1974 ¢ na Universidade de Stanford em 1980. Dirigiu o Iuperj durante alguns anos, foi presidente da Associagio Nacional de Pés-Graduago e Pesquisa em Ciéncias Sociais (Anpocs) e atualmente dirige o Laboratério de Estudos Experimentais das Faculdades Integradas Candido Mendes. Fabio Wanderley Reis é mineiro ¢ graduado no Curso de Sociologia e Politica da Universidade Federal de Minas Gerais em 1959, Fez a pés-graduaeao na Faculdade Latino-Americana de Ciéncias Sociais (FLACSO) no inicio dos anos 60 e o curso da CEPAL/BNDE em 1964. Bolsista do convénio Ford-Minas, doutorou-se na Universidade de Harvard em 1974, com o trabalho Political development and social class: Brazilian authoritarianism in perspective. Leciona desde meados dos anos 60 no Departamento de Ciéncia Politica da Faculdade de Filosofia e Ciéncias Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, da qual tomou-se professor titutlar em 1981, apresentando a tese Politica e racionalidade: problemas de teoria e método de hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him ma 2017-520 [AEMERGENCIADA CIENCIA POLITICA NO BRASL: uma sociologia “critica” da politica, publicada em 1984 pela UFMG/PROED/RBEP e vencedora do Prémio Anpocs 1985 de melhor obra cientifica. Chefiou durante muitos anos Departamento de Ciéncia Politica da UFMG, foi presidente da Anpocs e fellow do Helen Kellog Institute for International Studies, University of Notre Dame, em 1983. Fabio é um dos poucos mineiros que ndo "emigrou" para outros centros intelectuais. Varios tragos comuns caracterizam a trajetéria intelectual desse grupo de pesquisadores: a graduagio no Curso de Sociologia e Politica da Universidade Federal de Minas Gerais, a pos-graduagdo na FLACSO e nas grandes universidades americanas,® o pertencimento a instituigdes patrocinadas pela Fundagao Ford, a “io do marxismo como paradigma teérico, a militincia politica dos anos 60, a incorporagdo de modelos tedricos norte-americanos, mas acima de tudo 0 que unifica 0 grupo & a construgdo teérica da autonomia disciplinar da Ciéncia Politica. Conceber a politica como uma esfera auténoma da realidade social, com determinagSes proprias nao subordinadas as esferas econémica, social ou cultural, foi a grande contribuigao Os vinculos entre as duas instituigdes foram bastante fortes, e na verdade o [uperj foi o abrigo institucional de muitos mineiros apés a faléncia do Curso de Sociologia e Politica e as dificuldades de consolidagao do DC © Iupes) consegue estabelever um programa com a Fundagio Ford que envolviamandar para 0s Esiados Unidos 4 ou 5 pessoas. estavam Ido Amaury e o Wanderley Guilherme. Surgiu entio a necessdade de o lupertizer uma pessoa de volta pare assumira rtaguarda e © Candido Mendes me procurou nos Estados Unidos (Fol uma revolugio de jovens tucos estabelecer um programa de mestralo em Cigncia Politi. Fui para Belo Horizonte e trouxe 0 Simon, © Edmundo Campos Coelho, o Olavo e 0 Renato Boschi. Muro Veio bem depois Z Mas, 0 momento inicial de constituigo do grupo foi o Curso de Sociologia e Politica da UFMG, especialmente as turmas do periodo entre 1959 e 1964, que apresentava uma inovagao importante em relagéo 05 outros cursos de cigncias sociais do pais, ou seja: ndo estava inserido numa Faculdade de Filosofia, mas na Faculdade de Ciéncias Econémicas: As diretrizes do projeto de eriagio da nova Faculdade de Ciéneias Beon6micas nfo deixam margem a davidas: seu objetivo na area de Ciéncias Econémicas era formar economistas voltados para a macroeconomia, seguindo a tendéncia francesa da época, Os cursos de Cincias Contabeis e Administragio deveriam manter relagdo com ‘empresas e entidades ligadas de alguma maneira a drea, em especial a industria, Aos formandos em Sociologia e Politica © Administrago Pablica, a orientagdo era no sentido de assessorar 0 govemo, dotando-o de profissionais especializados, (Arruda, 1989, p, 254) A intengio manifesta era formar a elite da burocracia piblica mineira, dai o peso dos cursos de Politica, Administragdo ¢ Economia, num equilibrio curricular totalmente distinto do modelo dominante uspiano, centrado na Sociologia ¢ voltado essencialmente para a formagio de professores secundarios. Além dessa especificidade, © curso propiciou aos alunos alto grau de profissionalizagao académica e convivio universitario, pois concedia bolsas de estudo aos melhores ¢ funcionava em tempo integral. A referéncia ao sistema de bolsas e a consciéncia de constituirem uma "elite académica" é um dos leit motifs do discurso dos mineiros sobre suas origens: [J na verdade hé que fazer uma distingo: o curso regular e a elite do curso que eram os alunos bolsistas, mais os professores jovens de tempo integral. Entio essa integragdo era sobretudo no sistema de horicio integral Depois que acabava a parte da manbi, que cram as aulas, af havia toda essa parte da tarde de intenso estudo, intensa conversa, produgdo, porque tanto os professores, como também os alunos, escreviam em jomal.{..J Entio, cram alunos assim, atipicos, porque @ gente tinha muita atividade, além da participagio pol ‘movimento eatélico, movimentos marxistas, depois a UNES A experiéneia da intemacionalizag4o comega para os mineiros e cariocas com a realizagiio do mestrado na FLACSO, no inicio dos anos 60, Criada no Chile em 1957, seu objetivo era constituir uma instituigo regional de alto nivel para a formagao de cientistas sociais, com o patrocinio da UNESCO, OEA e CEPAL. A importincia da FLACSO como influéncia intelectual é admitida pelos mineiros em geral, e especialmente por Antonio Otivio Cintra: "[...] Foi uma lavagem cerebral. [...] Muita sociologia norte-americana. Entao nds voltamos realmente muito imbufdos daquilo tudo. Sociologia, teorias de alcance médio, muito neopositivismo. Entio, essa foi uma grande influéncia."2 hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him ana 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: Na volta da FLACSO, Fabio Wanderley, Antonio Otavio, Simon, Jélio Barbosa e outros passam a empenhar- se na criago do DCP, 0 que acaba se concretizando mediante um convénio com a Fundagao Ford. Isso ocorre jé depois da Revolucdo, que inviabilizou 0 Curso de Sociologia e Politica, que acaba sendo transferido para a Faculdade de Filosofia. O DCP é pensado como uma continuidade, no nivel de pés- graduagdo, daquele curso pioneiro, Faz parte do convénio o treinamento nos Estados Unidos, ¢ no fim da década muitos deles partem para as mais prestigiosas universidades americanas com o objetivo de fazer 0 doutoramento. Mas o DCP é uma estrutura institucional fragil, que ndo abre espago para todos os mineiros, ¢ muitos deles emigram para centros mais desenvolvidos, especialmente o luper): Se a formacdo intelectual ofertada pelo curso fora dispersa e pouco consistente na area de Sociologia, onde predominava Gurvitch, espécie de vulgata sociolégica, esses minciros que se dirigiram ao exterior puderam completé-la fora, Percorreram, entdo, caminho semelhante ao das antigas geragdes dos intelectuais da sua terra, A busca de novas paragens, todavia, afigura-sc numa tentativa de tomar o sistema auto-reprodutivel. A criaga0 do Departamento de Cigneia Politica pode ser compreendida nesse caminho. O relativo insucesso da iniciativa explica-se em parte pela repressio desencadeade pelo golpe politico de 1964 ¢ pela anexagdo a Faculdade de Filosofia em 1968, e prende-se, principalmente, a problemas resultantes do descompasso do modelo frente & realidade concreta, Isto é, a iniciativa configura-se grandiosa para o ainda acanhado ambiente de Minas, (Arruda, 1989, p. 274) Sobre a influéncia de Gurvitch no Curso de Sociologia ¢ Politica, ha realmente unanimidade nos depoimentos dos mineiros. Embora a formagao tivesse sido bastante eclética, todos se referem as leituras de Gurvitch. Isso pode ter sido uma primeira influéncia que predispds os jovens mineiros para uma ciéncia social ligada 4 pesquisa empirica e familiar & dimensio institucional, dada a formagio juridica e a passagem de Gurvitch pelos Estados Unidos: ‘A third line that spread out in many directions was that of Georges Gurviteh. Bom in 1894, he was about a decade older than other members ofthe 1930's generation, although he formulated many of his ideas with them, Alter studying law in Rissia, he emigrated to Prague (1921-1924) and then to France, becoming French citizen in 1928. His works in the late 1920's grappled with German phenomenology, but in the 1930's he worked through the legacy of the Durkheimians; his earlier legal studies merged with the Durkheimian tradition of the sociology of law in a Doctorat dEtat. After spending most of the war in New York, Gurvitch brought back a mild sympathy for empirical work, retuming to Strasbourg (1945) and then the Sorbonne (1948) where, in keeping with the times, he focused on Marxian-inspired themes. He became one of the leading interpreters of the young Marx, and continued work on social class relationships and the sociology of Knowledge; in both of these latter areas he combined Durkheimian themes as well as Theodor Geiger, ‘Mannheim, and Georg Lukées. His work on social time drew on Halbwachs as well as Bergson. But despite influences from the French, like his counterpart Sorokin in América, he never became integrated into French sociology. (Clark, 1973, pp. 231-232) © "politicismo" mineiro também se vincula A existéncia de uma longa tradi¢Zo de pensamento e militéncia politicas, anterior & criago da Universidade, e que por sua vez esto relacionados com a especializagio politica das elites mineiras 12 Desde a Primeira Republica o Estado de Minas Gerais sempre se caracterizou pela forte presenga politica de suas elites, altemando-se com os paulistas na Presidéncia da Repablica, ocupando cargos ministeriais e nos altos escaldes da administragao publica federal, assim como exercendo papel de lideranga no Congresso Nacional, onde a bancada mineira sempre foi uma das mais numerosas e importantes. Essa presenga mineira no cenario politico brasileiro nem sempre foi correspondente ao efetivo peso econémico do estado, e mesmo nos periodos de decadéncia econémica Minas conseguiu preservar sua forga politica. Talvez a propria debilidade econémica das elites mineiras (em comparagio com So Paulo ¢, &s vezes, 0 Rio Grande do Sul), © fato de se constituir na "periferia da periferia", tenha estimulado historicamente, como estratégia de sobrevivéncia, a militincia politica para garantir ao estado os mais variados dividendos. Na criagdo e consolidagao da Universidade de Minas essa politizagdo esteve presente: "Para implementar a federalizagao da universidade, a hierarquia académica utilizou-se de um velho recurso, manejado com maestria pelas elites de Minas Gerais: a via politica. O tramite politico que permitiu a federalizacdo envolveu o senador do PSD Melo Viana, politico de grande significado em Minas Gerais ¢ que voltava a cena federal no periodo da demoeratizagao."(Arruda, 1989, p. 248) hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him ana 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: Nesse ambiente fortemente impregnado pela politica, nada mais natural que os intelectuais mineiros, especialmente os cientistas sociais mineiros, tivessem uma especial sensibilidade e predilegao pela politica, ¢ que sua obra refletisse essa tendéncia regional. A inclinagao para a politica dos mineiros, que os transforma em atores importantes do processo de afirmag’o da Ciéncia Politica brasileira, encontra eco na tradigo intervencionista e militante das ciéncias sociais no Rio de Janeiro, imensamente marcada pela experiéncia iscbiana. O intercambio ¢ a comunicagdo fluem facilmente entre esses dois grupos de intelectuais ancorados numa concepgao de ciéncias sociais na qual a esfera da politica é extremamente valorizada. Embora constituam geragdes diferentes, e a critica ao nacional-desenvolvimentismo isebiano seja uma das aracteristicas da obra produzida pelos cientistas politicos que estamos analisando, indubitavelmente o ISEB € uma das referéncias intelectuais da qual partem os mineiros ¢ cariocas. O jovem isebiano de esquerda no comeco dos anos 60, Wanderley Guilherme dos Santos, torna-se posteriormente a principal lideranga intelectual do Iuperj e um dos mais respeitados cientistas politicos do pats. As aproximagées iniciais entre o grupo mineiro e o ISEB é clara no depoimento de Bolivar Lamounier: "Os nossos contatos intelectuais, que procuravam acentuar mais a andlise politica, eram no Rio de Janeiro. O eixo era Minas — Rio. As revistas de Minas, a Brasileira de Estudos Politicos e a Brasileira de Ciéncias Sociais tentavam publicar gente do pais inteiro, mas quem atraia mais a atengo era o pessoal do ISEB. Como Guerreiro Ramos ¢ Hélio Jaguaribe, que tinham muito o que dizer enquanto cientistas politicos” 1+ Porém, apesar das influéncias isebianas na fase inicial, 0 grupo mineiro/carioca tentou se afirmar e construir uma identidade intelectual propria enfrentando trés correntes distintas do pensamento social brasileiro: a Escola Sociolégica Paulista, 0 adversario principal; 0 ISEB, e a Ciéncia Politica mineira tradicional, vinculada 4 Faculdade de Direito e liderada por Orlando de Carvalho. Nesse enfrentamento, a Ciéncia Politica buscava se autonomizar simultaneamente da Sociologia e do Direito, ao mesmo tempo invocava para si um estatuto de ciéncia na rejei¢do ao cariter "ideolégico" da producao isebiana. Queremos dizer que a constituigo de uma cara propria e uma presenga especifica da Ciéncia Politica académica significou, para esse grupo, confrontar essas trés tradigdes anteriores das ciéncias sociais brasileiras. Manejando metodologias e técnicas de pesquisa da Ciéncia Politica anglo-saxd, os mineiros e cariocas confrontam a tradig&o jurisdicista da gerago mineira mais antiga ¢ a auséncia da politica na produgdo paulista: "...] no que diz respeito a tradigdo paulista, o aspecto principal a registrar & que o crescimento das cigneias sociais se deu até certo ponto contra a Ciéncia Politica, entendida como disciplina especial. [...] era visivel a preocupagio com a ‘realidade’ subjacente, contrapondo, tal como o fizera a gerago anterior, o Brasil real ao Brasil Jegal, a infra superestrutura, a vida social ‘concreta’ as 'meras formas politico-institucionais’." (Lamounier, 1982, p. 417). A ambi¢do do grupo mineiro/carioca & exatamente destacar a autonomia das “meras formas politico-institucionais", que nio so apenas reflexos da vida social e econémica. A fragilidade da anélise politica em So Paulo originou-se da convergéneia de duas influéncias teéricas distintas, ambas caracterizadas pela condigao subordinada da esfera da politica: a Sociologia francesa ¢ 0 marxismo. Com énfase em momentos diferentes, essas duas escolas de pensamento obstacularizaram 0 desenvolvimento da Ciéncia Politica na USP até o fim dos anos 70. A orientagdo dominante até meados dos anos 60, através da lideranga intelectual de Florestan Fernandes, eram os ensinamentos da missdo francesa que veio constituir 0 Departamento de Ciéneias Sociais da USP na década de 30. Embora alguns dos professores franceses fossem socialistas, a influéncia mais marcante esta vinculada ao funcionalismo de Durkheim, conhecidamente avesso & Ciéncia Politica: Se & verdade que a Faculdade de Filosofia da USP cresceu sob a hegemoniafiancesa, no se pode esquecer que esta ascendéncia remontava a uma sociologia dos anos 20, momento em que a geragdo de professores que veio a0 Brasil se fomou. Period em que a escola durkheimiana & hegemGnica eos estudosculturas lrescem. Basta Jembranmos as obras de alguns colaboradores de Durkheim: Mareel Mauss — Bssaysur le don; Bouglé — Bssay sur les castes, Maurice Halbwachs — La mémoire collective. Com a fundagdo da L'Année Sociologique, os estudos de Durkheim se voltam sobretudo para religitoe 0s povos primitives. Talvez porisso as iemaicas que inaoguram o pensemento socioldgico académico no Breil tenham um qué de "fane®s", ou melhor, de “dukheimiano”, Como na range, assuntos como Estado, classes traalbadoras, poder, so desconsiderados em detimento de objetos "nas culrurais’ (Ortiz, sd, p. 92 hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him to19 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: No entanto, a partir de meados dos anos 60 os paradigmas franceses vdo sendo abandonados e gradualmente se impée 0 predominio do marxismo, para o que muito contribuiram os "Seminirios de Marx". Organizados por Femando Henrique Cardoso e José Arthur Giannotti, esses semindrios de leitura e debate da obra de ‘Marx reuniram durante anos jovens professores de ciéncias sociais, Historia, Filosofia e Economia, dentre os quais Octivio Ianni, Juarez Brandio Lopes, Ruth Cardoso, Leéneio Martins Rodrigues, Fernando Novais, Paulo Singer, Bento Prado Jinior e Roberto Schwarz. A partir desse periodo, que também significa a ascensio dos herdeiros de Florestan Fernandes na hierarquia académica, 0 marxismo passa a comandar o desenvolvimento da Escola Sociolégica Paulista, ¢ dada a antiguidade ¢ maior consolidagdo das ciéncias sociais em Sao Paulo, a influenciar de maneira geral 0 pensamento social brasileiro. Juntamente com a entronizagio do marxismo como paradigma teérico dominante impée-se a tendéncia crescente de explicar o desenvolvimento histérico-social brasileiro a partir de categorias econémicas, utilizando abusivamente das determinagGes infra-estruturais, das necessidades do proceso de acumulagao capitalista, que acabaram redundando, em muitos casos, num reducionismo economicista no qual nao havia espaco para a politica: [1 dissolugdo dos atores sociais ¢ da questde politica ¢ inerente a esse hiperfuncionalismo marxista. Esses autores podem eventualmente manifestar a maior preocupago para comaas classes sociais. Em matéria de classes sociais encontramos apenas posigdes abstratas deduzidas das “necessidades do processo de acumulagio", O triunfo desse marxismo nao & priprio apenas do Brasil, Ele também conheccu sua hora nas margens do Sena, (Pécaut, 1989, p. 267; tradugdo nossa) A esfera politica tende a se transformar em epifenémeno das transformagdes econémic: Dependéncia, uma das mais elaboradas tentativas de explicagdo da modernizag3o capitalista no Brasil, gerada com a contribuigdo importante de liderangas intelectuais da Escola Sociologica Paulista: [.] se a teoria da dependéncia pretendia restaurar a importincia das interagSes politicas dos diversos grupos sociais (ou somente dos grupos dirigentes?), ela deixava de fato paradoxalmente na sombra tudo aquilo que tinha © caréter de reconhecimento da especificidade do politico. Ela s6 concedia valor explicativo aos "interesses" de classes ou fiagdes de classes, como se o politico se resumisse as suas expresses diretas. Ela usava c abusava das determinagdes "estruturais", (Pécaut, 1989, p. 225; tradugdo nossa) Na USP se acumulam, portanto, duas tradigdes intelectuais convergentes na subordinagdo dos fenémenos politicos a outras esferas da sociedade, ¢ a relegagao tedtica do politico teve implicagSes priticas na configurago débil da area de Ciéncia Politica dentro do Departamento de Ciéncias Sociais até os anos 70. Nos anos 60 a rea contava com poucos professores, com um mimero reduzido de cursos, centrados prineipalmente em temas ligados 4 historia das idéias politicas. O fortalecimento da area a partir dos anos 70 vincula-se ao processo de expansdo da pés-graduagdo. Além das motivagdes teéricas, a debilidade da area de politica na USP nesse periodo se deve, indubitavelmente, ao peso da lideranga do sociolégo Florestan Femandes, que carreava para a Sociologia os maiores recursos ¢ os melhores quadros da entio reduzida comunidade de cientistas sociais. Assim como no passado a escola paulista invocara para si padrées de andlise cientifica para marcar sua diferenga em relagdo ao estilo ensaista, militante ¢ "ideol6gico" do ISEB, a partir de meados dos anos 60 so os mineiros e cariocas que invocam novos padrées cientificos para se distanciar do estilo uspiano, calcado freqiientemente em longos ensaios histérico-conceituais ¢ carentes de embasamento empirico ¢ formalizagdes logico-matematicas, que os novos politicdlogos tentam introduzir apoiados na Ciéneia Politica norte-americana. A. geragao responsavel pela afirmag&o cientifica e pela autonomia da politica teve, portanto, um comportamento semelhante ao dos jovens sociolégos da USP quando se empenharam na afirmagdo da Sociologia como ciéncia, ou seja, também se empenharam na implantagdo de novos modelos teéricos que dessem suporte a producdo de conhecimento especializado ¢ académico sobre a politica Virias polémicas marcaram 0 relacionamento tenso entre 0 grupo mineiro/earioca e os paulistas, duas delas envolvendo Fabio Wanderley Reis, que polemizou com Giannotti acerca da dialética e criticou os hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him sn9 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: pressupostos metodolégicos dos trabalhos de Weffort sobre © populismo, Freqiientemente 0 alvo da critica dos cariocas e mineiros foi o reducionismo economicista da produgao uspiana e o descuido com a pesquisa: {.Jou, 0 queépior ainda, produ este marxismo de segunda classe investigagSes efetvas, sobre process ret fem que a qualidade artesanal da pesquiss 6 lastimivel. E como se zelo conceitual dspensasse maior apuro na investigagio efetiva, estando assegurada a validade das conclusdes pela veracidade eristalina dos conceitos preliminares, (Santos, 1980, p.25) Evidentemente, esse acirrado debate de idéias se insere na ardua competig&io académica e significa disputa por hegemonia intelectual, que se traduz freqientemente no controle de espagos institucionais e melhores condigdes materiais de realizago do trabalho cientifico, especialmente dificil nos paises periféricos e nas reas cientificas menos valorizadas, como so as "humanidades". Na avaliagdo de Bolivar Lamounier, por volta dos anos 70 "eu pessoalmente j4 dava a batalha intelectual como vencida, j4 néo havia aquela resisténcia obscurantista & pesquisa, & estatistica, 4 bibliografia em inglés, porque tinha gente da USP que tremia de édio sé de ver um texto em inglés.[...] para mim o significado biogréfico-intelectual desses 20 anos foi estabelecer a pluralidade do meio académico brasileiro, que nao existia na minha época e na minha experiéncia pritica" 3 A outra frente de batalha do grupo mineiro foi combater o jurisdicismo tradicional da Ciéncia Politica implantada na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, liderada por Orlando de Carvalho e veiculada na Revista Brasileira de Estudos Politicos, Aqui a politica nao era relegada, mas era concebida por um angulo juridico e presidida por uma visdo de mundo conservadora: 0 nicleo central da Revista possuia uma identidade profissional, intelectual e politica bastante nitida e pane ter articulado ¢ mobilizado um conjunte mais amplo com um perfil scmellhante, De fato, todos os membros do Conselho eram juristas de formago, em sua maioria tiveram alguma experiéncia politica seja no executivo, seja no legislativo, e poderiam ser considerados liberais de centro, tendo-se vineulado a partidos conservadores (UDN ou PSD). (Almeida, 1987, pp. 45-46) As relagdes intelectuais entre essa geragdo de cientistas politicos e 0 grupo da RBEP foram complexas porque, 20 mesmo tempo em que incorporaram suas teméticas, especialmente os estudos eleitorais, ¢ encontraram afinidades na preocupacao comum de erigir uma ciéncia da politica, divergiam profundamente tanto no plano ideolégico quanto metodolégico: "Havia uma Ciéncia Politica muito importante para os padrdes da época se desenvolvendo na esfera do Orlando de Carvalho © dos juristas. Mas nbs nao reconheciamos isso como legitimo, Nés viamos nisso um certo udenismo, um certo formalismo. Nés identificdvamos aquilo com a direita, com a UDN, com os juristas ¢ rejeitavamos" 14 Os novos © os antigos mineiros viveram um conflito de geragdes marcado simultaneamente pela rejeigdo/aproximagio, ¢ na mesma entrevista acima citada (pp. 45-46) Bolivar Lamounier reconhece a existéncia de um conflito pela delimitagao de espagos académicos proprios: [..]o Orlando era um poder universitirio, cle era o cacique universitério da Faculdade de Direito, Se ao invés de ‘© comando desse proceso estar com o Fabio ou com o Antonio Otdvio estivesse com o Orlando, a Ciéneia Politica de Minas seria de advogados muito mais do que de cientistas politicos. Entio, nesse ponto eu concordaria que hi uma luta por espago. No momento em que esse grupo venceu a luta, ele venceu sem retirar do adversério os seus instrumentos, O Orlando passou a conviver e bem. Todo o pessoal publica na RBEP, eu convidei o Orlando varias vezes para conferéncias, ¢ eu pessoalmente fiz um reexame da critica ao formalism jurisdicista e cheguei a conclusio de que nés estavamos erradas, em metade das discussdes eu acho que perdemos um tempo bastante grande combatendo moinhos de vento, ISEB foi outra referéncia intelectual importante para cariocas e mineiros, principalmente no periodo da graduagdio. Um dos mentores do Curso de Sociologia ¢ Politica ¢ principais idealizadores da Revista Brasileira de Ciéncias Sociais, Jélio Barbosa, foi um dos responsaveis pelos contatos com a instituigao carioca, onde lecionou depois do cisma que determinou a saida de Hélio Jaguaribe e, em seguida, de Guerreiro Ramos: "Do ponto de vista tematico, a caracteristica saliente da revista maninfesta-se na preocupagdo com os problemas do desenvolvimento, representados em artigos e documentos originérios da CEPAL e do ISEB, ou em trabalhos produzidos por intelectuais estrangeiros e brasileiros da mesma orientagao."(Arruda, 1989, p. 277). hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him ana m017-520 ‘AEMERGENCIADACCIENCIAPOLITICANO BRASIL A influéneia isebiana no perfodo formativo é afirmada pelo grupo mineiro/earioca em geral ¢ salientada por Vilmar Faria: "Eu vim a ler a produgao sociolégica da USP depois que eu sai de Belo Horizonte, Eu sabia que existia, mas ndo era algo que constituisse a formagdo cotidiana nossa por 14, Eu diria mesmo, sob pena de estar fazendo geral uma coisa que talvez seja particular, que pessoalmente o ISEB foi mais influente na minha formagdo nesse momento do que a produgao na USP" 1S Influéncia formadora, sem divida. Mas, posteriormente os criadores da Ciéncia Politica se empenhariam na critica do carater extracientifico, normativo e ideolégico da produgao isebiana, sendo essa critica uma das formas de afirmagdo de sua propria especificidade como abordagem pautada por critérios mais académicos € menos diretamente vinculados & militéncia politica. Conclusio © grupo mineiro ¢ carioca realiza no Brasil a delimitagdo de um objeto proprio da Cigncia Politica e a afirmago da autonomia dessa dimensio da totalidade social. A principal contribuigdo desses intelectuais & explicar os fenémenos da vida politica ndo como reflexos, conseqiiéncias, derivagdes de outras esferas da realidade social, mas como uma instncia especifica interagindo com a economia, a Sociedade e a cultura, © que se passa no plano da politica nio ¢ imediatamente perceptivel através dos fatos sociais econémicos. As transformagdes da sociedade e do sistema econémico podem também ser determinadas por dinamismos préprios da vida politica. Elucidar os nexos que vinculam essas esferas & a grande questo das ciéncias sociais. Quanto aos métodos, a andlise da obra desse grupo permite perceber a diversidade ¢ 0 pluralismo. Os mineiros e cariocas ndo tém um paradigma teérico comum e nao constituem uma escola de pensamento no sentido estrito do termo. Mas, sdo todos criticos do marxismo dominante nas ciéncias sociais brasileiras nos anos 60 e 70, Sem ser empiristas, ou funcionalistas, como freqtientemente so caracterizados, eles se notabilizam pela preocupagio em coletar evi cientifica. jas empiricas ¢ histéricas que suportem a explicagio Utilizam fartamente a Histéria na elucidagdo dos fendmenos politicos mas sem derivar de modelos macro- histéricos previamente construidos as caracteristicas especificas do desenvolvimento brasileiro. Tém em comum uma obra colada 4 agenda politica, que responde e dialoga o tempo todo com os desafios colocados pelo seu tempo histérico, Divergem entre si e se envolveram em varias polémicas, mas sio companheiros na construgo da autonomia da esfera politica e na valorizagio das formas politico-institucionais, Assim como anteriormente predominava o economicismo, sua geragdo introduziu uma abordagem "politicista", as vezes extremada, ‘A énfase exagerada no politicismo tem sido apontada por participantes dessa geragdo. Ao analisar conjuntamente o doutoramento de trés cientistas politicos (Souza, 1976; Santos, 1979; Lima Jr., 1980), Fabio Wanderley Reis diz o seguinte: Os trabalhos de Souza, Lima Jr, € Santos tém em comum o fato de privilegiarem, como se disse, 0 plano institucional. De maneira mais ou menos reiterada, essa abordagem é também formulada, por todos eles, em termos de se dat a énfase apropriada aos fatores ou varidveis politicos na explicagio da historia brasileira recente, por contraposigo & dimensio estrutural, aos processos sociais, socioeconsmicos, sociopsicoligicos tc... Parte da contribuigdo que cada um deles pretende estar trazendo (com maiores ou menores qualificagdes ou reservas relativamente & articulagdo dos diferentes planos que se podem assim distinguir) tem a ver precisamente com a proposta de uma postura metodologica que se apresenta como altemativa um tanto especial, em certa medida, pela énfase dada ao "politico. [..] Naturalmente, essa questo remete, no fundo, ao problema de uma adequada conceituagio do politica, que redundaria em esclarecer suas telagdes com outras esferas, Tal problema seri retomado rapidamente, adiante, de uma perspectiva um tanto especial. Parece apropriado indicar aqui contudo, © que teria havido de falta total de clareza e conseqiientemente de abuso relativamente a idéia de “autonomia do politico”. (Reis, 1985, pp. 108-109 e 113) Alguns mais, outros menos, todos esses autores se ocupam com a autonomia do politico e variam as formas de articulé-lo com as outras instincias da sociedade, Pode-se dizer que no interior do proprio grupo surgiu hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him rang 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: uma reagdo que tenta ultrapassar o politicismo, ou seja, incorporar a contribuigdo positiva que ele efetivamente trouxe, afastando os exageros do economicismo reinante ¢ trazendo a dimensdo especifica da politica para a luz do sol, ¢ dar um passo além. E 0 caso, por exemplo, de Bolivar Lamounier, que resgata a dimensao politica da andlise sem cair nos extremos do politicismo. Sua obra relativa ao comportamento cleitoral recupera os determinantes econémico-sociais das priticas politicas sem 0 antigo simplismo. Resumindo suas constatagdes mais gerais, percebemos como sua obra retoma e qualifica uma idéia antiga e classica na Ciéncia Politica, mas que vinha sendo negada para o caso brasileiro, de que hd uma correspondéncia entre o voto e as condigdes socioecondmicas do eleitor. ‘A mesma atitude de reptidio aos modos de explicagdo baseados no economicismo marxista esté presente na obra de outro mineiro ambientado no Rio, José Murilo de Carvalho, Recusando a perspectiva tradicional que busca nas origens de classe a explicagdo para 0 comportamento politico dos militares, tema especialmente relevante quando se trata de politica brasileira, José Murilo propde uma perspectiva teérica que incorpora os aspectos organizacionais aos aspectos sociais mais amplos para compreender 0 comportamento politico das Forgas Armadas. A perspectiva organizacional e 0 repiidio da explicagao classista é ainda mais reiterada no livro de Edmundo Campos Coelho, Em busca de identidade: 0 Exército e a politica na sociedade brasileira (Coelho, 1976). Embora haja uma variagdo no grau de autonomia atribuido aos fenémenos politicos, todos os integrantes da gerago que estudamos batalharam para enfatizar essa autonomia ¢ descolar a explicag3o politica dos determinantes econdmicos e sociais, Os temas dominantes da obra produzida por eles relacionam-se 4 questo do Estado, dos partidos politicos, dos processos eleitorais, do pensamento politico e do autoritarismo no Brasil, podendo-se, portanto, afirmar a existéncia de um leque tematico comum, embora nao haja um s6 paradigma teérico compartilhado por todos os integrantes do grupo. Nao existe paradigma tedrico comum, mas todos eles rejeitam 0 marxismo e quase todos estabeleceram, polémicas com a Escola Sociologica Paulista. A critica e 0 confronto com essa corrente das ciéncias sociais brasileiras constitufram uma das formas essenciais de afirmagio da Ciéneia Politica proposta por essa getagdo de cariocas e minciros. NOTAS LA obra citada, organizada por Sergio Miceli, constitui importante referéncia bibliognifica sobre a historia das cincias sociais nno Brasil, do ponto de vista institucional, no periodo 1930-64 . Além das experiéncias pioneiras mencionadas, o livro inclui a anilise dos casos mineiro e pemambucano, da Escola de Sociologia e Politica de Sao Paulo, assim como das principais revistas ¢ editoras dedicadas is humanidades, Sao abordadas também as influéncias intelectuais fancesas e norte-americanas e a génese dos muscus brasileiros 2 Vera esse respeito Lipset (1969). 4 Ver Lamounier (1982). 4 Palestra de Vilmar Faria, A Sociologia no Brasil, mimeo, s/d,p. 27. {4 Entrevista concedida por Bolivar Lamounier a Maria Arminda do Nascimento Arruda em 10/4/1987. Idesp, mimeo, p. 22. 6 Wanderley Guilherme dos Santos fez 0 doutorado na Universidade de Stanford; Fabio Wanderley Reis na Universidade de Harvard; Antonio Otivio Cintra no MIT; Simon Schwartzman na Universidade de Berkeley; Bolivar Lamounier na Universidade da California-Los Angeles; Vilmar Faria na Universidade de Harvard. 1 Entrevista que Bolivar Lamounier me concedcu em 9/5/1989. Idesp, mimeo, pp. 19-20, 8 Entrevista concedida por Antonio Otavio Cintra a Maria Arminda do Nascimento Arruda em Brasilia, 24/7/1987, Mlesp, mimeo, pp.23. Cintra, op cit, p. 6, hipikwwwanpocs.orgbripartalipubicaccesitbes_00_S6irbes36_O6 him wna 2017-520 AEMERGENCIA DA CIENCIAPOLITICA NO BRASIL: 10 Sobre essa questo consultar Wisth (1982), 11 Ver entrevista de Bolivar Lamounies, 1989, op.cit,p.6 12 Sobre a Sociologia fancesa ea influgncia duradoura de Durkheim consular Clank (1973)¢ Lement (1981), 13 Entrevista concedida & autora por Bolivar Lamounier,op.cit,p. 31 1A Entrevista de Bolivar Lamounien op cit. 5 15 Palestra de Vilmar Faria, op. cit, p. 15, BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Maria Herminia Tavares de. (1987), A Revista Brasileira de Estudos Politicos. So Paulo, Idesp, mimeo. . (1989a), "Dilemas da institucionalizagao das ciéncias sociais no Rio de Janeiro", in Sergio Miceli (ig), Historia das ciéncias sociais no Brasil, Sao Paulo, Idesp/Vértice/Finep, - (1989b), Avaliagdo e perspectivas 1989: Ciéncia Politica. Sao Paulo, CNPq/Idesp. ARRUDA, Maria Arminda do Nascimento. 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