You are on page 1of 6

1

6 Reflective teacher: conceito, considerações pertinentes à prática pedagógica.

INTRODUÇÃO

Quando comecei a preparar-me para escrever este texto, o assunto, que é


instigador de questionamentos por natureza, fez-me lembrar de uma propaganda sobre
um canal de televisão na qual, após apresentar uma série de perguntas que, de alguma
forma, marcaram a história da humanidade, é feita a seguinte afirmação: Como você vê,
não são as respostas que movem o mundo. São as perguntas!
Decidi, então, começar apresentando uma pergunta, a feita por Richards na
introdução de seu artigo intitulado Towards Reflective Teaching, que é a seguinte:
“Como os professores avançam para além do nível de respostas automáticas e
rotinizadas para as situações da sala de aula, e alcançam uma compreensão mais
ampla sobre como ensinam, sobre os tipos de decisões que tomam e sobre o valor e as
conseqüências de determinadas decisões?”
Não somente Richards, mas também Brown, Moita Lopes, Nunan e
Freire, entre outros, recomendam as práticas reflexivas como um dos caminhos para se
chegar a essa imprescindível compreensão. Eles recomendam que cada um de nós se
torne um professor reflexivo, ou seja, um professor que coleta dados sobre o ensino,
examina suas atitudes, crenças, suposições e práticas pedagógicas, usa as informações
obtidas como base para a reflexão crítica sobre a própria prática, e então utiliza as
conclusões advindas desta reflexão como base para tomada de decisões e para a
implantação de ações que possam implicar mudanças e implementação do processo de
ensino e aprendizagem.
Nunan sugere que nós, professores de línguas estrangeiras, precisamos
sistematicamente observar e investigar os problemas com os quais nos confrontamos em
nosso trabalho diário, a fim de entender as realidades de nossas salas de aula.
É interessante, portanto, que, cada vez mais, o professor de língua estrangeira
assuma-se como um professor reflexivo, envolvolvendo-se com a investigação crítica de
sua própria prática e incorporando suas próprias teorias às informadas pelas pesquisas
realizadas por pesquisadores externos.
2

A IMPORTÂNCIA DA REFLEXÃO SOBRE A PRÓPRIA PRÁTICA


Como observa Brown, o processo de refletir sobre a própria prática é visto
como um componente essencial no desenvolvimento de conhecimento e de teorias sobre
o ensino, e é consequentemente, um elemento fundamental no próprio desenvolvimento
profissional.
Tornar-se um professor reflexivo é uma decisão que exige compromisso,
disposição e coragem, e que traz benefícios, tais como: nos tornarmos mais conscientes
sobre nossas crenças, atitudes, suposições e práticas pedagógicas, e mais dispostos a
reavaliá-las e reformulá-las; identificarmos nossos pontos fortes (o que nos ajuda a
melhorar nossa auto-confiança); identificarmos os aspectos que precisam ser
melhorados; á medida que vamos crescendo profissionalmente vamos oferecendo um
ensino de melhor qualidade para nossos alunos; e, consequentemente, vamos dando
passos em direção á satisfação profissional e pessoal.
Zeichner sugere que os docentes dos cursos de formação devam estar
comprometidos em ajudar os futuros professores a internalizar as disposições e
habilidades para estudar seu próprio ensino a fim de tornarem-se, com o passar do
tempo, cada vez mais preparados para ensinar.

TÉCNICAS PARA LEVANTAMENTO DE DADOS

Para reunir informações sobre o que acontece na sala de aula e auxiliá-lo na


investigação de sua própria prática, o professor pode utilizar as seguintes técnicas:
• Journals: constando de registros das experiências significativas de
aprendizagem que se concretizaram, proporcionam aos participantes uma
oportunidade de expressar seu auto-desenvolvimento e fomentar a interação
criativa entre o participante e processo de auto desenvolvimento, e entre o
participante e o facilitador;
• gravação das aulas, cuja meta é captar ao máximo a interação dos alunos
entre si e com o professor, para que detalhes importantes não passem
despercebidos, tais como clareza das explicações, o comportamento do
professor e dos alunos, a participação dos alunos, etc.
3

• autobiografias de professores em formação nas quais os relatos que


contemplam as experiências educacionais são desenvolvidos por etapa, e
após a conclusão de cada etapa são compartilhados com o professor e os
colegas para que sejam comentados e cada autor receba feedback;
• relatos de reação escritos pelos estudantes ao término de uma atividade de
aprendizagem, nos quais eles expressam o que a atividade significou para a
aprendizagem deles e o que deixou como legado para o trabalho deles como
professores. O relato de reação pode constar de perguntas tais como as
utlizadas por Richards em uma de suas turmas, que pediam informação sobre
as atividades mais eficazes, as menos eficazes e sobre aspectos da aula que
os professores em formação teriam ensinado de modo diferente.
• Inventários nos quais os professores informam as práticas de ensino que
foram usadas na aula ou durante um determinado período de tempo e a
freqüência com a qual elas foram empregadas. Estes instrumentos permitem
que os professores façam uma avaliação regular do que eles estão fazendo na
sala de aula como por exemplo até que ponto suas suposições estão refletidas
em sua prática, os tipos de atividades que tem sido mais empregadas, as
metas do programa que estão sendo consideradas e as que estão sendo
negligenciadas, os tipos de atividades que estão funcionado bem e as que não
estão surtindo o efeito esperado
• Observação de aula: As observações feitas por colegas proporcionam aos
professores analisar as aulas uns dos outros a fim de expô-los a diferentes
estilos de ensino e promover oportunidades para reflexão crítica sobre suas
práticas
• Pesquisa-ação: investigação realizada pelo professor sobre problemas que
ocorrem em sua própria prática pedagógica e que visa a solução de tais
problemas. Esta investigação inclui: identificação do problema; realização da
coleta de dados; formulação da hipótese; realização das mudanças
necessárias; avaliação dos efeitos das mudanças; divulgação de suas
conclusões com os colegas; planejamento de outras intervenções.

REFLTINDO
4

A reflexão pode se processar tanto no desenrolar da ação, que é quando


respondemos rápida e, muitas vezes intuitivamente, às situações de sala de aula no
momento em que elas se apresentam, quanto após o episódio de ensino (a aula, a tarefa,
etc.) que é quando o professor tem mais condições para refletir mais profundamente,
discutir, observar, reunir informações, adotar soluções para os problemas detectados e
reformular suas teorias.
O professor pode sentir a necessidade de refletir sobre a própria prática
principalmente quando ele estiver enfrentando problemas ligados á falta de motivação,
falta de atenção, resultados insatisfatórios, indisciplina, gerenciamento de sala de aula,
uso de estratégias instrucionais, uso de materiais, etc. .
De posse das informações sobre o que acontece na sala de aula, o professor deve
refletir sobre os aspectos de sua aula sobre os quais ele não tinha consciência, sobre o
feedback dos alunos e sobre tudo mais que lhe surpreendeu ou lhe incomodou; ele deve
discutir com outros professores, tirar dúvidas com profissionais experientes, enviar
perguntas através de sites especializados e consultar a literatura pertinente ao assunto
em questão. Como resultado de sua reflexão o professor pode decidir desenvolver
algum aspecto de sua prática de modo diferente ou confirmar a sua convicção de que
está fazendo o que é apropriado.
Vale salientar, entretanto, que os objetivos de um currículo não estão limitados
aos fatores lingüísticos, e que o professor reflexivo não é, de maneira alguma, um
profissional neutro, O professor reflexivo, como propõe a Lingüística Aplicada Crítica,
é também um militante da mudança social com seu trabalho, e, portanto deve estar
engajado com a ação e a mudança social, e com o combate a injustiça e a desigualdade,
e portanto deve também refletir sobre questões como cidadania, inclusão social,
preconceito, aspectos culturais e ideológicos relacionados com o ensino e a
aprendizagem de línguas estrangeiras, etc..
Nossas próprias salas de aula de línguas são lugares excelentes para começar a
busca por um mundo mais humano, e como sinalizado por Brown (2007) elas podem
tornar-se modelos de respeito mútuo pela diversidade cultural, política e religiosa.
Brown sugere princípios orientadores para o ensino com responsabilidade social,
isto é, pedagogia crítica que respeita completamente os valores e crenças de seus alunos.
Entre eles, destacam-se:
5

1. Os professores são responsáveis por proporcionar oportunidades para os estudantes


aprenderem sobre importantes questões sociais/morais/éticas e analisar todos os lados
de uma questão.
2.Os professores são responsáveis por criar uma atmosfera de respeito para com as
opiniões uns dos outros, crenças, etnias e diversidade cultural. A sala de aula torna-se
um modelo do mundo como um contexto de tolerância e para a apreciação da
diversidade.

DESAFIOS

Para que a inserção de professores nas práticas reflexivas seja uma realidade
cada vez mais frequente, parece necessário que os cursos de formação abram um espaço
maior para a investigação da prática de ensinar e aprender línguas, e envolvam o
professor em formação na reflexão crítica do seu próprio trabalho desde cedo. Os
professores que já estão graduados e em exercício carecem de oportunidades e
incentivos para envolverem-se em auto-educação contínua e adotarem uma atitude de
pesquisa capaz de gerar reflexão crítica e construção do conhecimento sobre a sala de
aula. Á medida que mais e mais reflexões forem realizadas por professores de línguas
estrangeiras, contribuições significativas poderão ser feitas para a geração de novas
teorias sobre o processo de ensino e aprendizagem de línguas e para a reafirmação do
compromisso do professor com a mudança social e com o respeito pelas diferenças.
E, como parece que são as perguntas que movem o mundo, concluo sugerindo que
os professores que ainda não se encontrem engajados nas práticas reflexivas, façam para
si próprios as seguintes perguntas:
• Até que ponto estou comprometido (a) com a qualidade do ensino que
proporciono aos meus alunos e minhas alunas?
• Até que ponto estou interessado (a) em desenvolvimento profissional?
• Até que ponto estou aberto (a) às críticas?
• Eu estou atualizado (a) com as questões relevantes da minha área de atuação
profissional?
• Até que ponto estou aberto (a) às possibilidades de mudança e inovação?
• Quão eficaz é o meu trabalho?
6

• Meus alunos e minhas alunas estão atingindo as metas de aprendizagem que


foram traçadas para eles e para elas?
• Meus alunos estão sendo educados para respeitar uns aos outros?

You might also like