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ESCOLAS E PROBLEMAS: yma politica vitalista' Os problemas sdo as proprias Ideias. (Deleuze, 2006: 233) Uma escola, na companhia filoséfica de Gilles Deleuze ¢ Félix Guattari, poderia ser tomada como uma espécie de jogo fi- loséfico. Nesse caso, seria preciso considerar que, aquilo que co- mumente qualificamos como problemas. de escola, também possa_ ymado no jogo, no qual séo agenciad rializa Tas agdes se mate! mem temporalidades variadas, convo- o-acontecimento a lidar com as for¢as de deter- minagdo e indeterminagao ali coexistentes. Abrir passagem a coe- xisténcia dessas foreas implica assumir a escola e seus problemas politica vitalista Esse posicionamento exige inventar paz de ocupar a zona de contagio aber- cdo e indeterminacao que fazem de cando o pensament como uma do de percep¢ao, © determina! yplemas uma vida. outro mot ta entre as forgas de uma escola e seus PFO! ' problematizar nossos modos de perceber quando discutimos a japlemas € um ato politico, Deleuze e Guattari (1992: juta contra os clichés perceptivos e afetivos aa maquina que os produz”. Percep¢ao escola e seus PF 194) afirmam: “Nao 8°” se ndo se uta tambem contr ita de pesauisa realizada com fomento da FAPESP, sob proces- i gpitulo resul = ste capitilo7657,2,insttuicao a qual manifestamos nosso agradecimento 165 e afeccdo sio efeitos de modos de perceber ¢ de afetar imbricados nos regimes de sensibilidade produtores da cultura. Assim, nos. \ s0s modos perceptivos e afetivos constituem modos de pensamen. \ to. Delineiam o horizonte de sentidos partilhados que nos permite atribuir valor ao vivido, ao experienciado, organizando nosso cam. po de existéncia. } Em razao disso, os pensadores franceses nos desafiam — a par. cao de envergadura ética, estética e politica vistos por nossas faculdades. Pensar + tirde uma problemati: } —aultrapassar os limites pre ‘o impossivel de ser pensado, sentir o impossivel de ser sentido, ou- > Viro nao audivel, ver o nao visivel, sentir 0 nao sensivel, erceber 0 nao perceptivel etc. Séo esses os chamados para uma luta contra u - modo dogmatico e suas producdes-cliché. oe Na trilha deleuzo-quattariana, sao os processos de reconhecl-_ mento e de recogni¢ao-que-conferem materialidade aos modos de_ z pensamento. Entretanto, o enfrentamento de tais processos poe em xeque nao somente um modo de pensar, mas um modo de sentir, dé ‘perceber, de afetar e de se.afetar Dai a inevitavel implicagao das_ faculdades de pensar, sentir, perceber etc. quando nos dispomos ¢_ discutir a escola e seus problemas. Ora, a formulagao de um problema no interior de um campo. a instauragao de perguntas e a especulag’io de respostas remetem diretamente aos horizontes de pensamento, sensibilidade, percep? etc. que conformam nossos modbs de existéncia. Por isso, discutir como um problema se arma, se legitima e se autonomiza configu uma estratégia politica impreterivel para lutar contra as maquin®> que produzem dogmatismos, tal como referido por Deleuze e Guall® ri, Problematizar os modos como configuramos os problemas imP\r caria, seguindo os rastros desses pensadores, colocarmos sub jud® os regimes de percepgao que nos sequestram no campo da educass? e imprimem valor de verdade a certos modos de existéncia da sO Para avancar, acionemos um dispositivo conceitual criad° por Deleuze e Guattari (1997): a ideia de percepcao molecular. A idel# de emcee cin cma BG sic ens. a que disporia sujeito e mund© - _ irada fenomenolégica remon!@ yma concepcao de percepcao atada 20 horizonte do discernivel. In- teressa aos autores 0 territério de indiscemnibilidade ou de inde- terminagao instalado no campo dos encontros, ali onde ocorrem miltiplos modos de contagio. Para lidar com a condi¢ao do conté- gio, zona de imanéncia na qual o elemento discernivel se afirma em coexisténcia com o indiscernivel, Deleuze e Guattari mobilizam 0 conceito de percepcao molecula®, F) x Percepgadyaquir a0 Séria uma operacio de correspondén- cia subjetiva com uma experiéncia do vivido. “A percepcao nao transmite assim informagao, mas circunscreve um afeto” (Deleuze; Guattari, 1997; 171). Nesse modo de abordar, percep¢ao diz respei- to propria relacdo das forcas vibrateis num determinado campo, afetando-se umas as outras e produzindo efeitos nos corpos. Nes- se sentido, se trata de uma percep¢ao de natureza molecular, pois aquilo que se faz como forga diferencial néio é do ambito do perce- bido, do discernivel, determinavel por nossos regimes de sensibili- dade, e sim do dominio do indiscernivel. A percepcao molecular faz emergir 0 imperceptivel, 0 efeito de contagio das forcas em relacao. Ativar o imperceptivel da percepgdo: parece ser essa a novidade desse convite ao pensamento, incitando-o a pensar seu impensdvel. Bancar a imanéncia Seguir em companhia de Gilles Deleuze e Félix Guattari exige banear uma filosofia da imanéncia, Isso implica um modo de fazer filoséfico e, particularmente, um modo de disparar a relagao entre filosofia e educagao. Nessa perspectiva, seria impotente tomar os problemas da escola como Se escolas e problemas fossem unidades_ essenciais, abstratas.generalizaveis, totalizantes. Seria também restritivo ) validar uma ee sistémica, funcionalista, ‘ocupa, maleses ver, tais modos de abordar naufragariam: seja por apostarem que uma investida eminentemente te6rica possa ser ¢8- paz de abarcar ontologias de escolas ou de problemas e ent&o pro- rover movimentos de reflexdo ede critica, ancorados num dever set sre svaTaoua 3 co assem > oLEMS PARTE filosético, seja ele qual for; seja Por presumirem que certa categorig de real, empiricamente validada, poss contemplar a representaciy de um mundo concreto referente escolas e a problemas, express, dos cientificamente mensuraveis, capazes de promover mg por da m algum dever ser. pectiva filoséfica alinhada cor Esses modos de tratamento produzem uma plataforma de a da em principios ideais, favorecendo, dire- seracdes de controle-ou-de-gestao biopoli- ‘ontexto de uma filosofia da imanéncia, pers | transcendéncia, | taou indiretamente, opera . Ao nos situarmos no C | tic o enamciado que remete a escola e seus problemas impOe avangar qual escola?)Quais problemas? Quais critérios nos autorizam a qua- lificar dada condigao como problema? Uma perspectiva de imanén- cia obriga a problematizar nao s6 0 consenso em torno da escola a que nos referimos, mas também a prépria condicao daquilo que qualificamos como problema Isso exige que também nés, pesquisadores em filosofia da edu- cago, nos situemos a espreita, na medida em que exatamente aqui- Jo que estd em questo sfio nossos modos de pensar e pesquisar. Diremos que se trata, com Deleuze (2006), de problematizar nossas préprias imagens de pensamento em pesquisa educacional. Trata-se de problematizar a propria imagem conceitual que construimos de problema. Por em causa o valor de um problema significa interrogar as condigdes que constituem algo como sendo da ordem do problematico. sa desnaturalizar uma _pretensa conjuntura probleméttica como ‘um dado a priori, que no: mente um gesto intelectivo previsivel: fazer per icas e dar-lhes respostas assertivas. Essa lineari tas e respostas é um dos alvos combativos de Dek Evocando um enunciado de Marx — “a humanidade s6 se colo- ca as tarefas que ela é capaz de resolver” (Marx apud Deleuze, 2006: 265) —, Deleuze provoca: A solucao é sempre aquela que uma sociedade merece, que elaengen- dra em fungao da maneira pela qual soube colocar, em suas correla” ‘ces reais, os problemas que se colocam nela e para ela nas relagoes diferenciais que encarna, O efeito dessa obviedade nos silencia. Como prosseguir diante desse pasmo? Segundo o filésofo francés, uma pergunta, uma ques- tio, uma interrogacao nao se confundem como forma de expressio de um problema, assim como uma resposta nao se traduz como sua solugao. Em Diferenga e repeticao, Deleuze (2006: 225-226) diz: UE (...)a interrogagao (...) ¢ sempre feita num quadro de uma comunida- de; interrogar implica nao sé um senso comum, mas um bom senso, uma distribui¢ao do saber e do dado em relagdo as consciéncias em- Piricas, de acordo com suas situagdes, seus pontos de vista, suas fun- 3 es e competéncias, de tal maneira que uma consciéncia é tida como J sabendo 0 que a outra ignora (que horas so? — vocé que tem ou esta perto de um relégio. Quando nasceu César? — vocé que conhece historia romana), 3 Ora, um problema configurado como um jogo de perguntas e Tespostas se funda num principio de transcendéncia, que demanda uum lugar referencial de exterioridade para sua validacao: tanto 2 modo de colocar 0 problema ji advém de uma imagem dogmatica do que é considerade como problema, quanto 0 jogo de perguntas e Tespostas ja traz subsumido 0 repositério transcendental de um sa- ber — um odsis de conhecimento — a partir do qual serao coletadas tanto as questdes quanto as respectivas solugées. E também na companhia de Nietzsche (2008: 40) que seguimos, em perplexidade. Ele nao vacil sence at) Quando alguém esconde algo detrés de um arbusto, volta a procuré-lo ld onde o escondeu ¢ além de tudo 0 encontra, nio hi muito do que se vangloriar nesse procurar € encontrar: é assim que se dé com 0 encontrar da “verdade” no interior do dominio da razio, ce ariova definigao de mamilero e, ai entdo, apés inspecionar um ca. Jaro: vela. eis um mamifero, com isso, uma verdade decerto melo, deck jena luz, mas ela possui um valor limitado, digo, ela é an- étrazida i de fio a pavio endo contém um Gnico ponto sequer que papel rh em si”, efetivo € universalmente valido, deixando de fosse lado o homem. procurar € as ironias NOS arremessam & evidéncia desconcertante a, i se dispusermos OS problemas sop uma economia de mero is e respostas, ¢ além disso, antropomorticamente or de que ato de pergunt™ do, encontraremos exatamente 0 efeito de verdade ie referenciado, : cabe, como merecimento. : ‘ \ nos cabe, ctuarmos com uma filosofia da imanéncia, Porém, g Ao pa sta 6 outra: trata-se de tomar 0 problematico nao como um dado, aposta ¢ outra: imagem de pensamento a priori, mas como um efeito singuia, ai : ee proprias circunstancias do ato de pensar. Esse modo de iman 2 vratar a questo do problema reposiciona também aquilo que ca mamos de solugao. Deleuze (2006: 57) dizs a solucdo “deve provir da forma do problema”, Ou melhor: “A solugao deriva necessariamen- te das condigdes completas sob as quais se determina o problema como problema, dos meios e dos termos que se dispée para colocé- “lo” (Deleuze, 2006: 229). Isso significa que a resolubilidade “deve ser determinada pelas condigdes do problema, ao mesmo tempo em due as solugdes reais devem ser engendradas pelo e no problema’ (Deleuze, 2006: 233), At per} um WME © Quando consideramos que as solugdes séio engendradas pelo e noproblema, explicita-se uma dindmica performativa que corrompe ualquer vontade de transcendéncia. Isso exige um posicionamen- {9 outro, que mobilize as condicdes de imanéncia, au we fazendo emergir Performativo assim se manife tancias de uma espécie de jo ha cor sta: instauram-se, in loco, as circuns- escola. Nessa instauragdo, a escola, co) Urn nee maneira de existir, ou ainda, em vir- tude de sua performance com, ra © modo e néo como um ser — se fa odie ee seaiterenga. Assim, sao ence, Mmodulagoes infinitas ite S ue fazem falar as forcas vivas que ali se compéem € se agitam, intempestivamente, Emnossas vontades de Soverno, Se faz exCessivo a ET fae see Tetidao do pensamento como problema. Mas insis~ sues © Pensamento a seu impensével, 0U se ‘0 de um modo de Pensar, levando a re" “ . Para essa tarefa, se tap so um HeS¥i0 em relacao a uma norm i a Tigatori, ‘agonismo de duas linhag Ae forgas a cesmontag idade de a disryy Cusa da ideia de problem, jem de um at” “8, 0 qual parece se impor como amvicio de nosso mundo: trata-se de focalizar e desfazer as polari- zagoes entre 05 movimentos de determinagao e de indeterminagao. pefratar esse binarismo, que dispde o existir de uma forga em detri- mento do existir de outra, é 0 nosso desafio. Perceber o imperceptivel Na perspectiva deleuzo-guattariana e também na nietzschiana, as forcas de determinagao e indeterminagao se movem em coexis- tencia, tomadas numa dinamica de composicdo, em condi¢éo de jmanéncia. Determinar e indeterminar seriam, tao somente, efeitos qualitativos efémeros, decorrentes dos modos como essas forgas se encontram, se compoem, se enfrentam... Séo movimentos compos- tos, articulados, produtivos, portanto. Vitais. Sustentar tal prerrogativa nao implica defender que os efeitos de determinagao e indeterminagao possuam valores prévios em si mesmos, numa simplista distribuigao polar entre positivo ¢ nega- tivo, criacdo e repeticao, bem & mal e assim sucessivamente. Ao conrrério: exatamente em razéo da vitalidade das forgas em dis- pates conformam modos de existéncia no mundo, puta, cujos em! .s0 de valoracao ai em curso. Eis a_ deflagra-se um complexo proces: -condigao de imanencia. : : Tuinvoquemos a sagacidade de Nietzsche trazida por Deleuze: cnauo @-noconsidade, ouejevsncererminagio.© determina—in/inio sdetumiadas oorioiuas forpessiposaurniltla cXGiisnoxA\® afir- vvminagao exige bancar uma condicao fética. Fc cao necesseriomen tacos Jogo, determi- nando um territ6rio, forjando um. CamPO contingenciado. Mas eis orto, tal instauraco, imposta como resultado de saria, indissociivel daquela arena, se dis- - - apenas mais um lance possivel de jogo. Ato con- poe também come“ ctabelecida conclama novamente 0 acaso, tinuo, a situacs0 ney de indeterminacdo que se virtualiza e se jo vivo 0 Tom nto ininterrupto do jogar. joviment’’caso uma afirmagdo", diz-nos Deleuze faz do A Pea ® caso, « indeterminacao, implica sustentar mar o acaso, a indete que, ao mesmo te uma configuragao neces atualiza nesse ™ “Nietzsche (2001; 42). Afirmar ot Sj smmmwoss a svi « eon ~ Pe} E as configurages féticas, ou seja, 0s tracados de determinacigfoy jados por esse acaso e que $6 ai se efetivam, se atualizam, Nag ha um elemento que confere a esse jogo uma diterenca radical No esforco de ultrapassar 0 impasse classico que dispée a detey tinagao e a indeterminacdo como espacialidades antagonicas ¢ qualitativamente excludentes, a verve nietzschiana nao busca saida nos recursos da racionalidade, com suas estratégias ligicas _de superacao das contradiges. O ponto diferencial diz respeito a mobilizacao de um vetor ético, tinica forga qualitativa que detém a Esse Salto qualitativo assim se efetiva: a cada afirmacao do acaso e consequentemente dos contingenciamentos faticos ali emergentes, torna-se imperativo sustentar a virtualidade das for- as que se agitam, forcas em devir, reintroduzindo uma poténcia de indeterminagao no préprio movimento de determinagao. Ora, © ato de bancar as determinacées do jogo e, ao mesmo tempo, insistir na indeterminacao do préximo lance, na virtualidade da proxima partida, € 0 gesto ético por exceléncia: implica trazer temporalidade do ato de jogar uma variavel que nao é da ordem da racionalidade técnica, e sim do mundo dos valores. Cada ato, cada lance afirmado guardam em si os processos genealdgicos de va- loragao que compdem os modos de existéncia e, no limite, afetam qualitativamente a propria vida. “Saber afirmar 0 acaso é saber Jogar’, alerta-nos Deleuze (2001: 43). Isso nos permite considerar 0 inverso, portanto: para jogar bem € preciso afirmar as condigées de indeterminagao ai implicadas. Afirmada a imanéncia, 2 emergem as seguintes perguntas: qual € 0 jogo? Como jogar? Qual : 0 préximo lance? Quando disparar @ Proxima partida? So essas interpelagdes que ndo se respondem nem pela instrumentalizagao técnico-cientifica, nem pela grade de fundamentos cientificos ou filoséficos. Taig perguntas jamais podem Ser consideradas questdes-totem, que guardariam sentidos a Pri" 1f,em simesmas. Diferehtemente; elas. nascemmaiocaaisomovell® do proprio ato de jogar e s6 ganham sentido ali, enquanto se jog# Cpe enone intent Rom cossamosimesayentreitnmionl gessas questdes vivas exige levar em consideragao uma avaliacao, in loco, dos valores que ali vibram, conformando as tais determina- oes e, por isso mesmo, incitando as indeterminacdes Assim, somente uma disposigao problematizadora frente aos yalores que investem e atualizam as forcas em jogo pode abrir pas- sagem as linhas do virtual que ali também vivem, convocando a ou- tros modos de vir a ser. Somente um modo de percepcao, uma dispo- sido perceptiva que acione seu elemento imperceptivel, molecular, pode dar conta da coexisténcia vitalista das forcas de determinagao ¢ indeterminacao que se atritam em condi¢ao de imanéncia. Perceber o imperceptivel. Mobilizar nosso modo de perceber até.a linha limite em que tal ato possa se encontrar com 0 impercep- is a culminancia de uma abordagem que nos perm! discutir 1a e seus problemas do ponto de vista de uma filosofia da ima~_ néncia, prestando atencio aos movimentos intempestivos,.os quais— ressaltam a dinamica dos modos de existéncia em detrimento das _ ontologias. Em virtude disso, falar de problemas de escola é, antes, falar do vit: ‘alismo que ai se encontra implicado. Tomamos vitalismo no sentido nietzschiano: um modo de pensamento que afirma a vida como medida irredutivel de valor. Isso significa admitir a vida como Getentora de valor em si mesma, nao podendo ser reduzida a qual- “quer condigao que Ihe seja alhela. Foderfamos objetar que trazer a vida para a cantralidadercto jogo é, sim, um ato de valoracao e que, por isso, haveria uma prer- rogativa de traté-la como pedra fundamental de todas as coisas predisporia transcendéncia, e nao a uma — condigéo que nos PrécisPo? a Ticcotia aa tmanéncia. & preciso seguir com vagar, em busca de sncial uma sutileza essel " Perguntamo-nos: mas a vida... de que se trata? Ou, “que signi- ‘or tal como interpela Nietzsche (2001: 77). Responde ele: jnuamente afastar de si algo que quer morrer; viver € veyel e implacavel com tudo 0 que em nés, eno apenas em nés, re eornafraco evellio” (2001: 77) sone por mais surpreendente que nos possa parecer, a despeito de parfimetros fundados pela modernidade ocidental, a vida ‘da em si seu préprio salvo-conduto. A defesa da vida nao ser certos nao guar sme 354 = a ares © awsortsan FS) | se dé como um jogo ganho a priori. Defender @ vida demanda exige uma disposigao combativa in loco, em meio a tantas g disputas, movidas por tantos outros valores. Assim, adefesa incgy dicional da vida carrega uma pergunta imposta como inevitiver, imediata: que vida? Qual vida? Estamos diante de uma probiems, tica aguda, que nos impulsiona agora em outra diregéo. O valor a, vida (ou a vida como valor radical) nao se justifica por uma funds. mentagao transcendental; a vida como valor justifica-se partir de outras demandas, ou seja, de um tipo de interpelacao ou de proble. matizagdo de cunho ético e politico. Deflagra-se uma espécie de batalha em doi faz-se necessdrio pautar e bancar a afi mo valor Central, segundo, faz-se necessério, imediatamente, sustentar oem bate de valoragdo dai decorrente. Nesse en : ha imanéncia da arena, distintos modos de vida e ula por existéncia. Modos de vida disputando existéncia, ou sei Ostend qu] ida alo, qual vida efetvameni, vida 7 quando deparamos com nosso maior empreendimento, tra- balhando numa seara filoséfica de imanéncia: somos irremediavel- mente Tangados a uma condig&o arredia, na qual néo dispomos de métricas de valores lastreados de véspera uta, tras que possam nos conduzir assertivamente @ agio-mestra em relagao aos supostos problemas, ‘mesmo que esses problemas remetam a vida mesma. Mas é exata- mente esse viés de indeterminagao, de vag aquilo que chamamos de problemas existéncia, possibilitando outras mag Um problema assim 0 é nao a.um fundamento, isto 6, por rem \cilagdo, que faz com que aqui adquira outro valor de juinagdes, Por dizer de um desvio em relagao ‘0, como uma entidade referencial, ontologica: manifesta, isto sim, a prépria problemdtica que alimen- 1 as lutas em jogo, em todas as suas variancias ¢ intona Jades. Tal Contorgao é estratégica e funciona como um aguilhdo para que pos- Samibe, Como Pesquisadares, suspeltar de'uma abordagem trans- cendental acerca de problemas em favor de uma perspectiva de ima- néncia em relagio, agora, & prépria vida de uma problematizagao. Consequentemente, bancar uma perspectiva vitalista em rela- cao as forcas permite-nos assumir que uma escola é uma vida, uma forma de vida. Ao tomarmos a escola ndo como um ser, mas como um modo de existéncia, assumimos que sua vida ¢ feita do gradiente intempestivo de suas forgas, situacdo que faz engendrar os modos de existéncia de seus préprios problemas. Dizer do vitalismo das forgas supde assumir que elas disputam espacos politicos de existéncia, com todas as derivas éticas e esté- ticas af conjugadas. Isso é da ordem de uma escolha estratégica, € nao de uma fé epistemolégica no templo do fundamento. Trata-se de cunho estratégico, na seguinte chave: combatemos melhor quando reconhecemos no adversario sua forga e suas taticas. Assumir, bancar 0 vitalismo dos problemas da escola é, em igual medida, bancar a zona de indeterminacao instaurada quan- do os enunciados assertivos escapam e fazem escapar, nao res- pondendo mais as atmosferas contempordneas, as quais exigem lidar com um mundo no qual valores dispares disputam a condi- 308 cao de coexisténcia. Para nés, pesquisadores educacionais, as discussoes que reme- tem a escola e seus problemas convocam, necessariamente 4 questao da vida como valor. Ha uma vida naquilo que nomeamos como os problemas. da éscala. Tals problemas poderlam san.tomadias'como signos em movimento, que dao a ver a vida intempestiva das forgas constitutivas de uma escola. as ‘ Numa escola, onde na muitas e distintas vidas, se disputa vide, se disputam possibilidades de modos de vida, se disputam modos Si ppacsoda mania peblemas wontania, sdo a materialidade oa aessas vidas eavconiungeo e/0u disjungao, dessas histérias ‘com seus marcadores singulares. yo tae Ie ceria necessério retomer a companhia do deménio nietzschia- ae interpela: Sa suneous a 6 para/além-de qualquer reconciliagdo racional que buscaria a correspondéncia entre problemas e solugdes, @ Provocacao demo. niaca nos coloca diante de uma interpelagdo ética, estética e pol. tica, Trata-se de, em vez de conformar um problema ao mero jogo -de perguntas e respostas, bancar sua existencia ¢ sua tragicidade, extraindo-Ihe suas forgas vitais e mobilizando-as em composicio com outras, fabulando, assim, outros mundos. Seria preciso tam. bém evocar e posicionar aqui o amor nietzschiano ao destino Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que € necessé- rio nas coisas. (..) Amor fati {amor ao destino}. (...) Nao quero fazer guerra ao que é feio. Nao quero acusar, ndo quero nem mesmo acusar 0s acusadores, (...) quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim! (Nietzsche, 2001: 187- 188). Atribuindo caréter afirmativo ao fatalismo, qualquer que seja essa condi¢ao qualitativa, a chamada nietzschiana reposiciona radi- calmente nosso jogo filoséfico em relagao a escolas e a problema Numa politica vitalista, problemas clamam menos por supostas s0- lucdes e mais pela agudeza de um pensamento sensivel que possa dar conta de extrair das forcas probleméticas as linhas pulsantes do tragado cartografico de uma escola. Nos rastros de Deleuze € Guattari, poderiamos afirmar que o valor de um problema est na sua capacidade delenunciar uma cartografia das forgas] Um pro- blema é uma ocasiao estratégica na qual se da 0 flagrante de uma economia politica das forgas intempestivas que ali vivem. sa ec aa , Sustentar esse campo imperceptivel. esse a i contecimento molecular dos contagios, parece-nos constitu uma das linhas potenciais des 40, abrindo outra passa filos6tico no encontro cor Sa filosofia da imanéncia em edu” ‘gem para a construgdo de um dispositiv? : mM a escola, Essas incursdes nos lan \cam a outras pai: mento. Uma vez esgotado o cine 's paisagens de pensa pela cultura, uma ver que deers pe umtas € respostas chancelat? dam em coexisténeig nn er miaGHO e indeterminagdo se cont” quanto o campo Be cntt# modalidade de interpelagao se impor ° Ncaeao suporta o vitalismo da indetermin® G80 com seus efeitos j, OS tmponderéveis? Por convocar, de largada, a" ato valorativo, essa parece ser uma das mais importantes questdes de ordem ética e politica com a qual nos defrontamos na contempo- raneidade, nao sé no campo educacional, mas nas diversas instan- cias da vida, do ponto de vista subjetivo e social. Assim o entende- mos, uma vez que bancar 0 acontecimento da indeterminacao no jogo da determinacao é gesto de risco, oferecendo resisténcia aos fluxos discursivos que insistem na consolidacao de certas verdades —e aqui mais precisamente, certas verdades pedagégicas —, como artérias das praticas de gesto da vida da escola. Ato que demanda valoragao, portanto. Mas entendemos também que se trata de uma questao estéti- ca. Suportar 0 vitalismo da indeterminagao supde manter aberto 0 campo problematico como uma espécie de zona de passagem conti- nua, Sustentar um campo problemitico, em vez de capturé-lo num jogo de recognigao, permitiria colocar um problema em fluxo de variacdo, afirmando sua atualidade e sustentando sua virtualida- de, Nessa perspectiva, um problema seria menos da ordem de uma solugdo e mais de um horizonte de maquinacdo, Maquinar um pro- blema, abri-lo em suas forgas, multiplicar as possibilidades de cone- xdes, de contagios entre essas forcas. Nesse modo de pesquisar a escola e seus problemas, hé outra estilistica: uma atencéio ao chamado intempestivo do impercepti- nndando outros modos de sensibilidade de vel da vida escolar, demal do 1 as forgas problematicas que fazem da es- pensamento em relaca\ cola, uma escola. Referéncias bibliogréficas renga e repetie. Rio de Janeiro: Graal, 2008, via Porto: Rés-editora, 2001. RL Félix, O que é filosofia? Sao Paulo: Editora 34, 1992. esquizoftenia. S40 Paulo: Editora 34, 1997, DELEUZE, Gilles. Dife __. Nietasche e a filos0 DELEUZE, Gilles: GUSTIN _ Mil platés # CAP'N TT, cjéncia S80 Paulo: Companhia das Letras, 2001 NIETZSCHE, Fred pa, Palo Heda, 208 fee me! i Sobre verdae

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