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Segue um maravilhoso resumo, aproveitando-me da genialidade do Astrdlogo Nuno Michaels e da sua capacidade fantastica de usar as palavras para esclarecer, canalizar e quantas vezes chocar as nossas mentes adormecidas e esquecidas com tao maravilhosa informacao capaz de libertar os nos e esquemas mentais que carregamos em nés.. Para quem ja anda na sua busca, quem ja anda de Mapa Astrolégico em punho a aprender a ler os sagrados sinais que nos vao mostrando onde anda o pote de ouro no fim do arco-iris, déem especial atengdo aos Arquétipos onde tém o Saturno, o Sol, a Lua, os Nodos da Lua, o Ascendente pois, sem nunca desprezar os outros, sao sinais Obvios de trabalho intenso na vida presente. AUTONOMIA O Dom de Carneiro Autonomia: a qualidade de se nomear a si proprio. A capacidade de se definir, afirmar e fazer vingar quem se é. Auto-nomos: nomear a sua propria regra, definir-se, depender de si mesmo. Ser independente. Ser independente, ou auténomo, é fundamental — nao s6 como condigao da dignidade e auto-respeito pela propria existéncia, mas também para que quaisquer relacionamentos, acordos, negociagées ou parcerias possam funcionar na sua vida. Eu s6 posso ceder, negociar, fazer concessées, ir ao encontro da necessidade do outro em respeito pela minha propria, depois de aprender a afirmar, salvaguardar e defender o meu proprio territorio e interesse egoistico. Uma relagao — seja de natureza pessoal ou profissional — € uma dana entre dois individuos, isto é, entre dois seres conscientes dos seus proprios interesses e necessidades e capazes de as afirmar e lutar por elas. O meu “sim” ao Outro s6 comega a ter valor quando eu sou capaz de dizer “sim” a mim préprio primeiro — mesmo que isso implique dizer “nao” ao outro. Antes de ser Capaz de dizer “nao”, o meu “sim” na verdade ainda nao tem valor. Independéncia e autonomia sao, assim, condi¢gées fundamentais para aprender a ser interdependente, isto é, aprender a partilhar, cooperar, trocar com beneficio de todos os envolvidos. Mas nao a custa do sacrificio da propria verdade — isso degenera em opressao, dependéncia, ressentimento, agressividade mal- resolvida, e resulta inevitavelmente em conflito, aberto ou dissimulado, e todos perdem com isso. O direito individual a existéncia precisa ser defendido e afirmado, em nome da forca de vida que se expressa e cumpre através de cada um de nés. Todos precisamos ser capazes de desbravar por nds mesmos 0 nosso préprio caminho, estar em paz com o facto fundamental de que em ultima analise estamos sos, € sobre os nossos prdprios pés, frente a nossa propria vida, e que cada alma tem o seu proprio caminho. Apesar de nascermos de uma relagao, em relacdo e para as relagées, também é verdade que chegamos, e partimos, essencialmente sos — e até quando somos gémeos homozigéticos precisamos descobrir a nossa propria separa¢ao, individualidade, e existéncia independente. Isto exige 0 desenvolvimento de uma espécie de “guerreiro” interno que dispde de coragem, ousadia, e da auto-confianga que nos permite avangar e afirmarmo- nos a cada passo do caminho, é a condi¢ao do desenvolvimento do egoismo saudavel e da autenticidade nas relagées Cada um de nés precisa, por isso, de honrar esse guerreiro interior que tem como fungées devolver-nos auto-consciéncia de quem somos antes dos outros nos definirem, abrir caminho para novas areas de experiéncia, e permitir-nos desenvolver a capacidade de travar as batalhas do nosso préprio destino Na medida em que este dom esteja menos bem integrado, por excesso ou por caréncia, tende a expressar-se de formas desequilibradas: como colera, impulsividade, auto-afirmagao egoista sem nenhum respeito ou contemplagao pelos outros a nossa volta, ou, no outro extremo, como desmotivacéo, depressao, medo, caréncia de energia para dar continuidade a vida; as vezes, como tendéncia a dependéncia excessiva dos outros, a incapacidade de lutar sozinho ou por si mesmo, € a atrair do exterior pessoas agressivas e/ou situagdes em que nos sentimos agredidos. Outras vezes, a nao-integragao deste egoismo saudavel manifesta-se como uma tendéncia a acidentes, a enxaquecas, ou a um forte sentimento de culpabilidade que oculta muitas vezes um ressentimento inadmissivel perante nds mesmos contra aqueles que — acreditamos — nos impedem de ser (saudavelmente) egoistas Por isso é muito importante treinar consistente e conscientemente o dom da Autonomia nas pequenas e grandes oportunidades ao nosso dispor: -desenvolva o habito de, pelo menos uma vez por semana, fazer sozinho qualquer tipo de actividade que Ihe dé prazer e que normalmente faca acompanhado (ir ao cinema, jantar fora, passear num jardim, ir a uma exposi¢ao aum evento cultural, sio pequenos exemplos) —desenvolva 0 habito de, pelo menos uma vez por més, fazer algo novo, diferente ou fora da sua rotina habitual. Isto pode passar por ir passar um fim-de- semana sozinho a um sitio completamente desconhecido, ou simplesmente passar umas horas na esplanada de uma praia onde nunca esteve. O objectivo é oferecer a si mesmo a oportunidade de estar numa situa¢gao nova, nao familiar, que represente um (ligeiro) afastamento da sua “zona de seguranca” habitual —comece a praticar (dentro das suas caracteristicas, preferéncias e limitagdes fisicas) uma actividade fisica que seja enérgica e faga transpirar, que exija contacto corpo-a-corpo, e que nao seja de equipa. Uma arte marcial seria absolutamente perfeito — afinal, sAo as artes de Marte que era, na mitologia, 0 corajoso e combativo deus da guerra. Mesmo que nao comece a praticar regularmente,experimentepelo menos uma aula durante este més e veja como se sente —treine-se em dizer “ndo” aos outros com firmeza e um sorriso, e habitue-se a reconhecer o desconforto que isso representa para si. E um treino. Para ser mais facil, comece por dizer “nao” em situagées em que a sua resposta verdadeira seja “sim”, ou aquelas coisas, pessoas ou situagdes em que seja mais facil, in6cuo ou inconsequente dizer “nao”. Este é um “ndo” temporario, ou experimental, simplesmente uma forma de ensaiar a sua capacidade de dizer “nao”. Por exemplo, se 0 convidarem na pausa do trabalho para ir tomar café ou Ihe pedirem uma esferografica emprestada, ou um amigo Ihe perguntar as horas, aproveite a oportunidade quase inécua de dizer “nao” e de observar os seus efeitos (em si e nos outros. No final pode sempre sorrir e dizer “sim”, explicando que estava a brincar ou a fazer uma experiéncia. —recorde, e explique aos outros se necessario, que aquilo que os outros tomam como 0 seu “nao” a eles as vezes é simplesmente um “sim” a si mesmo, e que é da escolha deles tomarem-no como um “ndo” pessoal. “Eu ndo quero ir ao cinema contigo hoje” nao significa que nao gosto de estar contigo, simplesmente que hoje prefiro estar comigo proprio. Habitue-se a afirmar e defender as suas vontades, escolhas, prioridades e autenticidade. E 0 que de mais valioso tem para oferecer aos outros: a sua autenticidade. O importante é treinar-se, a partir de agora, a perder o medo das consequéncias —a maior parte delas imaginadas — de dizer “ndo”. Quando conseguir dizé-lo, sentira muito mais prazer, autenticidade, e auto-respeito, isto é, muito mais capacidade de ser vocé mesmo, afirmar a sua vontade, nomear as suas proprias regras e limites. Esta autonomia, ou independéncia, fara toda a diferenga na sua vida — especialmente nos seus relacionamentos. Tenha a coragem de fazer a experiéncia, e observe a sua vida a mudar. ABUNDANCIA O Dom de Touro O Universo é abundante. Eabundare significa “vir em ondas’”. Grande parte do que chega até si é trazido pelos misteriosos e insondaveis meandros césmicos. Nao depende tanto do seu esforgo, vem até si como uma onda que ressoa, e responde, a sua propria “onda” energética. A abundancia nao se sujeita, compadece, ou € conivente com o medo, pois é, antes de mais, uma resposta da Vida a nossa propria confianga nela. E nao consiste numa batalha de puxa-empurra contra o que nao se quer, desviando-se, puxando-se a si proprio para a frente, empurrando para o lado os outros na tentativa de obter o que quer, de evitar perder o que ja tem — enquanto tenta obter todas as outras coisas que também deseja mas ainda nao tem, ao mesmo tempo que evita perder as que quer e ja tem, e tenta livrar-se, por cima disto tudo, daquelas que ainda tem mas ja nao quer, e ainda lida com todas aquelas — mais dificeis de aceitar ou reconhecer — que também deseja, ou com que sonha, e que nao admite para si proprio Nao, essa luta nado é abundancia. Alias, abundancia e luta sao termos contraditorios. Essa luta é, quanto muito, uma tentativa de obter segurancga — nascida do medo e da crenga no esforco, nascida da ilus4o da separagdo em relacéo ao todo do universo, nascida da permeabilidade a valores culturais e sociais colectivos de uma sociedade desalmada, sem espago para 0 divino, 0 mistél , € 0 milagre. A luta pela seguranga nao dignifica — antes diminui — a natureza, a poténcia criadora e a divindade do ser humano. A luta pela seguranga nasce do medo — e isso diz tanto acerca da sua qualidade essencial, e da sua capacidade de nos condicionar se lhe entregarmos esse poder. Seguranga e abundancia sao coisas profundamente diferentes. Recorde a maxima: “sé os inseguros lutam pela seguranga’”, e aceite — pelo menos como hipdtese temporaria — que a necessidade de seguranga nasce da preguiga, ou indisponibilidade, em dar um uso construtivo e pratico aos préoprios talentos, dons, valores, interesses, ou possibilidades criativas. Materialize e honre os seus talentos, dons e capacidades de uma forma pratica, e vera como a questées ligadas a “seguranca” pessoal comegam imediatamente a assumir outros contornos. Por exemplo, saiba que se esta num trabalho que vocé nao valoriza, nao gosta, nao o realiza, e se se mantém nele apenas por uma questo de sobrevivéncia ou seguranga, vocé esta a desvalorizar-se e a comunicar ao mundo a mensagem de que vocé nao merece melhor, nem ser feliz, nem realizar-se, nem ganhar dinheiro a fazer aquilo que faria por prazer, e eventualmente de borla. Pois € essa a profissdo ideal a que todos aspiramos e que um dia todos teremos: podermos ser reconhecidos social e profissionalmente, sendo pagos para fazer aquilo que fariamos de borla, por ser da nossa natureza e nos dar prazer, atendendo a uma necessidade do colectivo de uma forma que para nés seja auténtica. Por isso a verdadeira seguran¢a nasce de uma escolha: a escolha de dar um uso pratico e produtivo ao que nos da prazer e que sao os nossos dons, talentos e capacidades. A alternativa a isso é desvalorizarmo-nos e sacrificarmos 0 verdadeiro prazer em nome de prazeres sucedaneos — e que geralmente custam dinheiro, retroalimentando a prisao que criamos para nds mesmos — para nos compensarmos, na medida do possivel, da triste evidéncia de que nao vivemos a altura do nosso potencial e, por isso mesmo, infelizes. Mas abundancia vai mais longe do que seguranga. A seguranga é, neste contexto, mais facil de conseguir, porque depende de uma escolha - a escolha de pagar o preco de dar forma profissional, funcional e social aos nossos talentos, dons ¢ interesses. Viver em abundancia nao depende do esforgo, do controlo, de agir, fazer, impondo a propria vontade ao mundo num acto puramente masculino (conseguir, conquistar, lutar, provar, atingir, etc.) —e desgastando a si mesmo no processo Mas depende de si. Depende de uma escolha, de um treino, de uma auto- observagao, de uma vontade de viver de uma certa maneira. Porque a abundancia nao é tanto um resultado de um esforgo quanto um estado de consciéncia com que cada um de nés se pode sintonizar por escolha propria. Ou duvida que ha pessoas com muito que na sua mentalidade sao pobres, e pessoas com muito pouco e que na sua mentalidade sao ricas? A abundancia é, antes de mais, um estado de consciéncia, uma mentalidade, uma forma essencialmente subjectiva e auto-determinada de interpretar e sentir o real. A partir de hoje, comece a viver como se soubesse, com todas as células do seu corpo, que o universo é abundante e com recursos mais do que suficientes para Ihe proporcionar, ao longo das suas ondulagées sucessivas, tudo aquilo que vocé possa precisar ou querer. —afirme para si proprio, todos os dias e em todas as situagdes e momentos em que se lembre de o fazer: “eu sou abundante” e viva como se isso fosse a verdade, mesmo que inicialmente custe um bocadinho a acreditar. Deixe gorjetas. Empreste livros. Ofereca-se para ajudar com o seu tempo, os seus recursos, 0S seus conhecimentos. Oferega um café a um desconhecido. Dé esmolas. Oferec¢a a si mesmo esse livro que o vai enriquecer, esse curso para 0 seu desenvolvimento e enriquecimento pessoal. Viva sempre como se tivesse mais do que suficiente. Mantenha os recursos a circular na sua vida — a circulagado das energias é um dos mais valiosos ingredientes da abundancia. Ou o seu medo tem o poder de o fazer temer que 0 universo nao tenha um euro, ou quinze, para Ihe devolver mais a frente? No dia em que 0 universo nao tiver um euro para Ihe devolver, estamos mal. E pouco provavel que o universo nao Ihe devolva abundantemente o retorno da sua generosidade e voto de confianca. —recorde também que abundancia nao se esgota em termos materiais ou financeiros, mas que se expressa também através de todas as pessoas maravilhosas que tem na sua vida, de todas as coisas boas de que ja esta rodeado e que lhe proporcionam prazer, conforto, seguranga e bem-estar, da sua boa saude, da perfeicdo do seu corpo, da energia que todas as manhas tem a sua disposicao para viver mais um dia com alegria e vitalidade, e de todas as outras bengaos negligenciadas que tantas vezes esquecemos de reconhecer e agradecer. Agradeca por tudo o que ja tem na sua vida, em vez de viver apenas focado no que nado tem. Como diz uma maxima amplamente divulgada hoje em dia: “reconhecimento e gratidao geram abundancia” —leia livros sobre abundancia, inteligéncia financeira e valorizagéo pessoal, e aplique as sugestées contidas na grande parte deles. Funcionam, se vocé as fizer funcionar. Comprometa-se a ler pelo menos um livro sobre esse tema, durante o préximo més, e observe os resultados da sua experiéncia. —saiba que o universo é uma camara de eco para os seus pensamentos, e um abundante reservatorio de recursos ao seu dispor. Afirme a esséncia do que quer (os exercicios mensais da Lua Nova ajudam tremendamente neste processo) e deixe que o Universo satisfaga os seus pedidos — da forma, e no timing, sempre cosmicamente perfeitos e que ultrapassam tantas vezes a va tentativa humana de compreender os seus designios. Por exemplo, nado pega uma relagdo com uma pessoa especifica, mas com alguém com as mesmas qualidades; nado peca uma casa especifica num sitio especifico, mas uma casa e um local com as caracteristicas que deseja concentre-se no aspecto essencial, e deixe que o universo trate das formas e dos detalhes concretos. Viva como se, e lentamente a realidade comegara a mudar. Acima de tudo, deixe- se surpreender pela abundancia que existe ao seu redor, ao seu dispor. Nao aceite, nem se imponha, limitagdes. Honestamente, e aqui entre nos: prefere ter razo (no seu medo de néo ter, na sua crenga na caréncia e na insuficiéncia, na mentira de que tudo tem que ser com esforgo), ou prefere ser feliz? Esclarega a sua escolha, assuma-a, e manifeste-a. Afinal de contas, 6 com os resultados dela que vivera. CURIOSIDADE O Dom de Gémeos Conhece 0 conceito zen-budista de “mente de principiante”? “Mente de principiante” é a mente vazia e alerta, a mente que esta pronta. Pronta para novas percepgées. Pronta para observar, para ouvir, para aprender, para descobrir, aberta a novas respostas e novas perguntas. A mente de principiante 6 a mente que nao sabe, nao assume, n4o rotula e nao se fixa.“Ha muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito”, escreveu o mestre zen S. Suzuki, referindo-se as limitagées da mente que parou de aprender, que parou de se usar a si propria para se transcender, ja nado reverencia o mistério da vida, ja nao se deslumbra nem alegra perante a imensidao da sua propria ignorancia. Amente de principiante é, antes de mais, uma atitude integral perante a vida que a permite vivenciar como uma descoberta permanente, fazendo de cada novo contacto, experiéncia, conhecimento, principio, ideia, palavra ou pessoa uma nova aprendizagem e a oportunidade de esticar os seus préprios limites e tirar partido sem fim do infinito potencial da mente humana, esticando-se de volta ao seu tamanho original — ilimitado. Curiosidade significa a vontade de saber, de ampliar a mente, de saciar a fome humana por percep¢ées, estimulos, aprendizagens; o prazer de inundar os sentidos com matéria para a mente processar e transformar em experiéncia e palavra, preencher os espagos vazios e ainda assim ganhar cada vez mais espaco com essa pratica. Curiosidade significa também o prazer, 0 alivio e a sabedoria de nao precisar de saber. De simplesmente nao precisar de saber. E por isso estar aberto a descobrir, a aprender. Desenvolver o conhecimento e a capacidade de estabelecer relagées entre diferentes ideias, palavras, pensamentos, pessoas. Cavalgar a plasticidade, a habilidade, a maleabilidade da mente. Saber dizer bom dia e obrigado em sete linguas diferentes. Estar bem informado e poder conversar sobre diferentes assuntos com diferentes interlocutores. Adaptar-se as situagdes. Manter a mente treinada, em dia, em expansao permanente. Aprender tudo a propésito de nada, qualquer coisa a qualquer um. Manter a atencao, a energia mental a circular. Sem se focar no contetido, apenas no processo. Ler jornais e livros, aprender todos os dias, ter a curiosidade de investigar a etimologia de uma palavra. Adaptar a propria comunicacgao em fungao do interlocutor, ter varios sinénimos por onde escolher a palavra melhor, dispor de recursos para dar forma e expresso a tudo quanto a mente possa gerar, oferecer palavras, ideias, conhecimentos e conceitos novos a mente para que ela gere novas coisas. Manter o movimento, mas nao perder o controlo nem o foco. Esse é 0 desafio associado ao Dom da Curiosidade. Na sua origem, curiositas provém da raiz latina “cur” que significa por qué, E também a origem da palavra “cura” que quer dizer cuidado, e da palavra curioso, que seria aquele que teria sempre 0 cuidado de saber o por qué, de descobrir mais, de saber mais. Curiositas era uma virtude, associada ao desejo da mente pelo conhecimento, e uma motivagao nobre e louvavel. Mas curiosidade também é usada, hoje em dia, para designar a sua expressao negativa: a necessidade de saber o que nao lhe diz respeito, a afa excessivo de pensar ou discutir trivialidades, a tendéncia a dividir a atengao por coisas sem importancia, a perder tempo ou energia com bisbilhotices e informagées inuteis, a perder-se num amontoado de informagées sem nexo nem dimensdo que néo sé nao acrescentam nada como s6 criam ruido mental, confusao, e dispersao. Nao é dessa curiosidade, dessa que tem efeitos opostos sobre a propria mente — e a que os antigos chamavam cupiditas — que estamos a falar. De cupiditas sofreu na mitologia Pandora, aquela que se fez esposa de Epimeteu e a quem deram os deuses uma caixa com a recomendacao de que nunca a abrisse, pois continha la dentro todos os males e desgragas do mundo. Por nao ter resistido ao pior da sua prdpria curiosidade, sucumbiu Pandora a tenta¢do de ver o que havia dentro da caixa — e libertou toda a espécie de males sobre o mundo (0 egoismo, a crueldade, a inveja, o cilime, o ddio, a intriga, a ambicao, o desespero, a tristeza, a violéncia, e todas as outras coisas que causam miséria e infelicidade). E todos os males podem ser chamados por um unico nome: Ignorancia. O ignorante sofre inevitavelmente de todos os outros males. Se a mente nao é de principiante nao aprendemos, nao mudamos de ideias, nao crescemos, nao nos ampliamos, nao conhecemos, nao fluimos, nao deslizamos, nao nos desdobramos, nao nos entrosamos, nem podemos. Para honrar a energia de Gémeos permita-se, gradualmente, saber cada vez menos. Faga cada vez mais perguntas. Esteja atento ao seu redor. Observereal/mente as coisas e as pessoas. Escute-as, nao as oiga simplesmente. Leia. Va a sitios novos. Leia paginas do dicionario. Pega indicagées a pessoas na rua ou no café mesmo que saiba o caminho. Torne-se um aprendiz, uma crianca de cinco anos que esta a descobrir o mundo, um olhar novo sobre o mesmo mundo. E isso é tudo quanto basta. “Se puderes olhar, vé. Se puderes ver, repara.” José Saramago HOSPITALIDADE O Dom de Caranguejo Qual é a primeira coisa que Ihe ocorre quando pensa em Hospitalidade? Possivelmente em qualquer coisa parecida com a atividade de receber outros, como hdspedes ou visitantes, proporcionar-lhes alojamento e alimenta¢ao, atender as necessidades especificas de quem esta deslocado do seu proprio lar e tem necessidade de se sentir confortavel e acolhido; ou ocorre-Ihe o conceito da capacidade relativa de um individuo, organizagao ou pais de bem receber quem o visita, e nesse sentido falariamos de um povo, ou de um local, ou de uns amigos, hospitaleiros. Levando um pouco mais longe a ideia, talvez possamos associar Hospitalidade com partilha (de espagos, recursos ou comodidades), com a oferta de segurang¢a, conforto e protecgao, com generosidade ou carinho a quem precisa. Abstraindo-nos das especificidades inerentes a cada exemplo possivel de Hospitalidade, poderiamos formula-la, de forma genérica, como uma atitude atenta, disponivel e aceitante das necessidades alheias e o poder de as atender, preencher, ou cuidar. E evidente e sugestiva a raiz etimolégica de hospitalidade, hospital e hospicio, ja que partilham da propriedade comum de atender a outros e as suas necessidades. E da mesma raiz também derivam hospedagem, hotel, hostel, hdspede e hospedeiro (de bordo), ou hospedeiro (de um parasita) — sendo que aquele também recebe este “em casa” e o alimenta, mas nao propriamente por escolha ou generosidade. Alberga-o mas nao o acolhe. Menos evidente, ou conhecido, é que etimologicamente hdspede significava quer aquele que recebia, quer aquele que era recebido — a mesma palavra era indistintamente usada para ambos. E que a mesma raiz também deu origem a hdstia — originalmente a vitima sacrificada para apaziguar a ira dos deuses, depois 0 pao considerado na eucaristia o corpo de Cristo. Mana, alimento, pao. O hospedeiro € héspede e hostia, oferece o pao oferecendo a si mesmo. E de si proprio que o hospedeiro alimenta 0 hospede. Aquele que alimenta, o que é alimentado, e alimento em si mesmo — as trés dimensées aparentemente separadas de um Unico processo. E este o significado profundo do Dom da Hospitalidade: ser capaz de se receber, a si mesmo e aos outros, em “casa”, e dar de si mesmo como alimento para alimentar a si proprio. Casa, aqui, significa interioridade, 0 “sitio” onde vivo dentro de mim, onde sinto e me sinto, onde reajo as emogées e as minhas proprias necessidades, seja no centro do peito ou na boca do estémago, 0 sitio para onde aponto quando digo “eu”, Casa, antes de ser o lar fisico ou o sitio onde vivo, é a evidéncia de que cada um vive dentro de si proprio — ou tenta -, cada um esta mais ou menos confortavel consigo proprio, sente-se mais ou menos em paz consigo mesmo, sente-se (como diz 0 povo) melhor ou pior na sua pele. Quanto mais seguro, enraizado e confortavel esta alguém consigo mesmo, mais em contacto com o que sente e precisa, mais aceitante das suas proprias necessidades e oscilagées e reaccdes, mais familiarizado consigo proprio, mais seguro no manejo emocional de si mesmo. Ao mesmo tempo, menos dependente dos outros para preencher o seu vazio e tomar conta das suas necessidades, menos sujeito a criagao de dependéncias psiquicas dos outros para se sentir seguro, e por isso mesmo — misteriosamente, para algumas pessoas — com maior capacidade de partilhar a sua vulnerabilidade e necessidades mais abertamente com os outros, e mais capaz também de atender e respeitar as necessidades alheias. E que todo homem precisa de alimento, protecgao, seguranga, tranquilizagao, pertenga, calor, companhia, presenga, amor, humanidade. Todo homem transporta uma parte carente, emocional, receptiva, vulneravel, impotente, necessitada, completamente exposta, nos primeiros anos de vida, a dependéncia dos outros e marcada pela qualidade essencial da nutri¢do fisica e emocional que recebeu. Uma “crianga interior”. Por nascer completamente exposto, vulneravel, carente, desprotegido, e numa condi¢éo de impoténcia atroz para cuidar de si mesmo, 0 ser humano depende totalmente, e durante muito tempo, do cuidado do outro para sobreviver; e quando o ambiente nao é suficientemente hospitaleiro, securizante ou emocionalmente saudavel, a crianga nao se sente confiante na vida ou segura na sua propria pele. Nao confia que a vida seja suficientemente boa para cuidar das suas necessidades, nem sequer no que vem de dentro de si. A “crianga interior’ aprende a desconfiar, ou defender-se, do facto de ter necessidades por estas a fazerem sofrer — distorce-as, esconde-as ou nega-as; mas nao se livra delas. E enquanto o adulto nao for hospitaleiro para si mesmo, sem espaco para a crianga necessitada em si, vai procurar quem a contenha, a atenda, a cuide, a nutra, vai tornar-se dependente e orbitar em redor de quem a possa nutrir. E as vezes — haja ironia — encarregando-se precisamente de tomar conta das necessidades do outro, para se manter no controlo da relagao, evitar 0 abandono, e perpetuar a dependéncia. Mas porque a vida é Espelho, como reflectiremos em Balanga, o outro vai devolver-me a minha propria caréncia e mais tarde ou mais cedo ao meu proprio vazio, e a evidéncia de que ninguém, antes de mim, pode conter-me e tomar conta de mim como preciso. Enquanto nao aprendo a cuidar-me e conter-me, nao posso ter relacées adultas, livres, com outros adultos responsaveis por si mesmos e psiquicamente livres, também eles, de dependéncias. “Aquilo que define um adulto”, afirmou o psicanalista portugués Prof. Carlos Amaral Dias, “é a capacidade de sero seu proprio pai e mae, e a capacidade de ser intimo com alguém”. E o método para o conseguir, dizemos nds, € o Dom da Hospitalidade. Quantas vezes da por si a pensar: “eu nado deveria sentir isto”, “terei direito a sentir-me zangado?”, e tantas outras formas que denunciam a sua falta de hospitalidade, tolerancia ou gentileza para o que emerge de dentro? E quantas vezes da por si a corrigir os sentimentos dos outros, em vez de os aceitar e validar, através de comentarios como “nao faz sentido sentires isso”, “ndo tens raz&o nenhuma para te sentires assim”, “nado podes ter fome. Ainda ha meia hora comeste!” e tantas outras formas, mais ou menos explicitas, de invalidar o sentir e as necessidades alheias? Repita para si mesmo o mantra da Hospitalidade “aceito o que sinto. Sim. Aceito que sintas. Sim.Sinto que aceito. Sim. Aceito o que sinto.” Sim? E sim, sinta um espaco imenso a abrir dentro de si. E a sua nova casa interna a preparar-se para 0 receber — e ao mundo inteiro a seguir. BRILHO O Dom de Leao Sonha palpitando dentro de cada ser humano uma profunda necessidade de ser visto, reconhecido, admirado, de ser feito sentir-se especial pelos outros seres humanos... E so estes seres determinados que, para cada um, se tornam determinantes da capacidade individual de brilhar. Anecessidade de reconhecimento e de validacao da identidade faz parte da natureza humana e da sua sobrevivéncia desde o primeiro instante, e vai tomando formas diferentes ao longo da vida, mas nunca desaparece totalmente. Vai-se recriando e sublimando a medida que é aceite e preenchida; da mesma maneira que se vai distorcendo e impondo de forma inconsciente a medida que é negada ou rejeitada e nao preenchida. Ser visto, aceite e reconhecido é fundamental desde o primeiro minuto de vida; isso garante que temos uma existéncia no mundo, que somos aceites e amados e por isso mesmo protegidos, enquanto ndo podemos fazé-lo por nés prdprios. Chame-se a esta a necessidade de reconhecimento, significancia ou simplesmente de aten¢ao, é evidente desde o nascimento que precisamos ser amados e vistos pelos outros seres humanos, termos a nossa a identidade validada, sentirmo-nos amados, importantes, Unicos, significativos e especiais. Para o recém-nascido, sentir-se o centro das atengées e incondicionalmente amado pelos seus pais ou cuidadores é vital - para saber que existe, que é visto, que é importante, que tem valor, que a sua sobrevivéncia esta assegurada a partir do momento em que a sua importancia para o Outro esta assegurada Por isso, é absolutamente natural, correcto, e vital satisfazer, de forma assumida e declarada, este necessidade de reconhecimento, atengdo, importancia pessoal. Nao o fazer é que se torna perigoso. Nao é aquilo de que tenho consciéncia, mas aquilo de que nao tenho consciéncia, que se torna perigoso e me fecha as opgées. Existem geralmente duas grandes “linhas estratégicas” possiveis, seguidas pelos humanos, para satisfazer as necessidades de reconhecimento, atenc¢ao, brilho, amor e admiragai : uma que funciona, e outra que nao. A primeira, a que funciona, é ser criativo e auténtico, enfrentando a duvida e a vergonha e correndo 0 risco de se expér, honrando a verdade de quem se é, mesmo que isso arrisque perder 0 amor ou admiragao daqueles a quem queremos impressionar ou agradar. Se me exponho completamente, nu na minha autenticidade e transparente na minha verdade interior, corro o risco de nado gostarem de mim - especialmente se eu no recebi, na altura devida, o encorajamento e o amor necessérios para aprender a aceitar-me no que sou e confiar assim que 0 que trago dentro é absolutamente digno de valor. A segunda linha estratégica — a mais comum -, e que geralmente decorre de uma experiéncia insatisfatoria em termos de receber o amor suficiente na altura devida, mas que a longo prazo acaba por nao funcionar, é tentar ser o que nao se 6, ficando refém da necessidade de impressionar ou agradar ou pelo menos de nao desagradar, e criar um falso “eu” destinado a conquistar 0 amor dos outros em detrimento do préprio auto-respeito — criando um ciclo vicioso no qual quanto mais me desrespeito mais dependo de que os outros me amem e facam sentir digno, procurando tornar-me o que eles esperam que eu seja, desrespeitando-me portanto na minha autenticidade e no meu respeito por quem realmente sou, € procurando no exterior que os outros me déem algo que eu proprio nao sei ainda fazer por mim mesmo. Em astrologués, chamamos a essas duas estratégias as dinamicas do Leao com sombra e a do o Leao sem sombra, isto €, daquele que vive preso da necessidade de reconhecimento (sombra) e aquele que por ser auténtico e criativo, acaba inevitavelmente por ser reconhecido e admirado precisamente pelo que é — e nao, como insistem os fantasmas da vergonha, abandonado, rejeitado, criticado, envergonhado, ridicularizado. Qual € 0 método (nao a forma, porque existem muitas) de prover a esta necessidade de reconhecimento de uma forma auténtica e funcional? Talvez correndo o risco da auto-expressAo criativa e da exposi¢do perante os outros, recorrendo ao armazém pessoal de memérias, a histéria de vida, a propria sensibilidade, e dando-Ihes uma forma de auto-expressao criativa. Mais ninguém pode criar o que eu crio, porque mais ninguém é eu! Mais ninguém tem dentro de si o mesmo que eu tenho, mais ninguém sente o que eu sinto, mais ninguém tem a mesma experiéncia de vida que eu, mais ninguém sorri, toca, abraga, cuida, ama como eu! Mais ninguém tem o meu sorriso, o meu tom de voz, 0 meu olhar, a minha alma, o meu coragao. Tudo isso faz de mim absolutamente Unico. E “isso” precisa ser expresso a minha propria maneira, para encontrar a minha propria voz, a minha prépria identidade, a minha propria dignidade e prazer em ser eu proprio no mundo. Sem esta necessidade preenchida, sofremos com um dos dois extremos: narcisismo ou vergonha. E nenhum deles nos devolvera consciéncia — nem da nossa criatividade, nem da nossa identidade, nem do nosso valor. Para honrar a energia de Leao, pergunte-se honestamente (e tome nota das suas respostas): — se nao precisasse do reconhecimento dos outros, se nao estivesse dependente de confirmagao narcisica, se nao procurasse admiracao ou validagao dos outros, se vocé fosse a tinica pessoa a quem agradar, ou impressionar, o que faria de diferente com a sua vida? O que deixaria de fazer? O que comegaria a fazer? O que faria menos, mais, ou de maneira diferente? Onde é que esta a trair a sua autenticidade para obter reconhecimento ou aprovacgao? — onde esta, e qual é, na sua vida 0 palco onde vocé pode brilhar? Receber aplausos? Ser elogiado? Encorajado? Admirado? Estar no centro das atengées? Porque esse palco existe, tenha ou nao consciéncia dele. Pode ser que esteja a tentar obter reconhecimento do seu companheiro, ou dos seus filhos, ou do seu patro, ou nos grupos onde se insere, e isso possivelmente nao funciona. O que funcionaria seria ter um palco onde se possa expressar criativamente. Mas isso implica enfrentar o medo — e desenvolver o Dom de Carneiro. — como é que expressa a sua criatividade? Pinta? Desenha? Danc¢a? Escreve? Ensina? Fotografa? Declama? Compete? Onde da, ou nao da, permissao a si mesmo para se descobrir a sua identidade e o seu valor, correndo riscos associados a auto-express4o criativa? APERFEIGOAMENTO O Dom de Virgem Conhece o conceito japonés de “Kaizen”? Ele pode ser traduzido, ou entendido, como a continua melhoria de tudo por todos. Tudo pode e deve ser melhorado em algum aspecto, continuamente; e cabe a cada um, enquanto procura melhorar a si proprio, melhorar também o mundo (a familia, a sociedade, a empresa, o planeta) a sua volta. Desta forma, todos sao responsaveis por criarem, para si mesmos e para os outros, uma vida cada vez melhor. Na perspectiva “kaizen’”, apanhar lixo do chao, por exemplo, nao é atribuigdo exclusiva de quem faz a limpeza, mas de qualquer pessoa que o possa recolher e deitar fora. E um conceito transversal e independente de hierarquias — imagine este conceito impregnado na cultura da nossa sociedade, nas empresas, nas escolas, nas familias, em todo o lado, por toda a gente, todos os dias. Amelhoria continua de tudo por todos requer, e oferece em troca, a continua melhoria de cada um gracas aos seus proprios esforgos diligentes. Ao aperfeigoar-me posso aperfeicoar o mundo e ao fazé-lo estou a aperfeigoar-me a mim proprio. A sinergia perfeita. No Ocidente, um psicélogo, farmacéutico e pioneiro de auto-hipnose chamado Emile Coué usou uma frase, uma Unica frase, como forma de cura para os seus pacientes. Ele dizia que nao curava os seus pacientes, apenas os ajudava a curarem-se a si proprios. E instruia-os a repetirem para si proprios, de manha e a noite, a frase que se destinava a programar a sua mente subconsciente: “De dia para dia, e sob todas as formas, estou melhor e melhor e melhor’. Amelhoria continua € a formula magica da satide, da vitalidade, e do senso de realizagao pessoal. E esse 6 o Dom que propomos para este més: comprometer- se com 0 seu aperfeigoamento diario, e aproveitar quaisquer oportunidades de melhorar as condigdes no mundo em redor — através de ages concretas que traduzam a vontade de servir e o prazer em ser util. Nao é propriamente de altruismo que se trata. Quer dizer, é, mas como consequéncia e nao como objectivo ou método. Melhorar a si mesmo e ao mundo em redor é, antes de mais, uma forma de auto-aperfeigoamento que honra o impulso natural do Homem para aproximar a realidade dos seus proprios ideais de perfeicdo e por isso a realizar a sua natureza integral. E uma questao muito mais egoista do que parece a primeira vista. E muito importante distinguir aperfeigoamento de perfeicdo para explicar que se 0 primeiro é 0 desejavel, a segunda é impossivel. Apesar de ser um substantivo como “casa”, “flor” ou “quadro”, "perfeicaéo” nao existe, nao tem existéncia propria nem sequer como estado, nao corresponde a nada que exista — é simplesmente uma abstragao da mente do Homem. Um ideal, dizemos. O que existe, sim, € 0 processo interminavel de aperfeigoamento que faz com que hoje eu seja ligeiramente melhor que ontem, e prepare as condigdes para amanha ser ainda melhor do que hoje. Mas quando dirijo para o mundo e imponho sobre ele a minha propria necessidade de perfeigdo, como se fosse possivel ou suposto encontra-la, enquanto me recuso a aperfeigoar-me a mim mesmo e ao mundo a minha volta de forma gradual e concreta, estou condenado a ressentir-me com a inevitavel imperfei¢ao das circunstancias. Vou ressentir-me porque o exterior, os outros, as coisas, enfim, nao sao perfeitas, nao estao suficientemente bem, adequadas, limpas, arrumadas, claras, definidas. Torno-me critico, exigente, insatisfeito, perfeccionista, obcecado com pequenos detalhes que me impedem de ter visao de conjunto, de relativizar os mil milhdes de pequenas contrariedades, de ter um vislumbre de unidade. A minha vida torna-se um milhdo de fragmentos sem relagao nenhuma aparente entre eles, esta tudo compartimentado, nao existe um senso de coesdo. E perante o pavor do caos pressentido, dedico-me ainda mais obsessivamente a controlar todos os pequenos pormenores na esperanga de nao ser engolido por um imenso e desconhecido momento presente. Torno-me viciado no trabalho, escravo de rotinas sem sentido nem amor, hipocondriaco, amargurado, sobreanaliso e racionalizo; tenho uma capacidade imensa de provar — ingloriamente — que a vida nao tem razao ou direito a fluir como flui. Também consigo provar que os sentimentos dos outros estao errados, enquanto lido com a minha propria revolta contra a imperfeigao alheia, e com o meu medo de perder o controlo perante um imenso desconhecido. Mas este esfor¢o todo nao me serve de nada, porque a realidade imperfeita insiste em intrometer-se na minha bolha de insatisfagao e perfeigao idealizada. Até que mais tarde ou mais cedo somatizo, o corpo manifestando a dolorosa fragmentagao do espirito. Resisto, nao fluo. Sao trés os meus bloqueios: criticismo em vez de diligéncia, julgamento em vez de discriminagao, anélise em vez de sintese. Conhece a historia “O Tesouro de Bresa”? Procure-a, vale a pena. Leia-a, encontra-a provavelmente na net — google it up! E a historia de um alfaiate que compra um livro com o segredo de um tesouro. Mas para descobrir o segredo, ele tem que decifrar tudo o que vem escrito no livro. E o que aprendemos com a sua aprendizagem é surpreendente. A historia acaba bem... 0 alfaiate acaba préspero e rico, mas nao bem da forma que imaginava... Todos os anos, durante a passagem anual do Sol pelo Signo de Virgem (ou pela sua Casa VI, caso conhe¢a e saiba identificar estes posicionamentos no seu Mapa Astrolégico), quando se for deitar, evoque e recapitule o seu dia. Reserve trés minutos para recordar e se deter um instante nos principais acontecimentos, situagées e interagdes do seu dia. Identifique os momentos e as situagées que Ihe pareceram erradas ou injustas, e as pessoas que deu por si a julgar durante o dia. Este exercicio vai diverti-lo mas acima de tudo surpreender. Por momentos, suspenda 0 seu juizo. E assuma que essas situagdes ou pessoas que vocé julgou, durante o dia, estéo absolutamente correctas -isso nao faz com que vocé esteja completamente enganado, é s6 um exercicio. E se o que eu julguei como errado estiver absolutamente correcto? Assuma consigo mesmo o compromisso de se inscrever, antes que esse més termine, num curso de desenvolvimento pessoal, artistico ou tecnico que o enriquega, Ihe dé novas ferramentas para trabalhar, servir ou criar, conhecimentos com que possa dar forma a um talento, dom ou interesse latente. Um curso em finangas pessoais, pintura, astrologia, fotografia, técnicas de massagem ou cura, criacdo artistica, expressao corporal, comunicagao, danga, criagao de bonsais ou manutengao de aquarios — a escolha é sua. E recorde, sempre que ouvir falar de perfeigao, que € de aperfeigoamento que se trata. “Se eu ndo morresse nunca, e eternamente buscasse e conseguisse a perfeigéo das coisas” Cesario Verde ESPELHO O Dom de Balanga —— — . = = = -— — — = 4 —- Nl Ny A Vida é magica. Esta sempre a revelar-nos pistas e sinais que nos ajudam a tornar mais conscientes, a detectar 0 que nao estavamos a conseguir ver, e a viver de forma cada vez mais fluida e desperta para a ordem oculta do Universo. Basta saber “ler”, ou descodificar, os seus sinais. Quando descodificamos o significado dos sinais, ou lhes atribuimos sentido através da sabedoria intuitiva de que dispomos, a sensac¢ao é genial. Insights. Revelagées. Rasgos de simbolismo surpreendente e claro. lluminacgées. Epifanias. E a visdo interna que se ilumina, e ilumina como um farol 0 caminho e os desafios do momento, independentemente do que seriam as nossas preferéncias, medos, gostos ou desejos. E facil ver claramente nestes momentos de insight, e mesmo que sejam instantes passageiros, a evidéncia e a forg¢a com que o seu significado se impée a nossa consciéncia sao suficientes para um salto na consciéncia e um enquadramento diferente das experiéncias. Uma epifania, um insight, e a percep¢ao das situagédes muda para sempre. No entanto, nem tudo sdo insights subitos, nem nds dependemos exclusivamente da intuigdo para ampliar a nossa consciéncia. As vezes as respostas esto mesmo a frente dos nossos olhos, desde que estejamos dispostos a aceitar que 0 que atraimos como experiéncia “de fora” tem algo a mostrar-nos sobre nos proprios. Por que é que nos vemos ao espelho antes de sair de casa? Porque s6 um olhar “de fora” nos mostra como estamos e aparecemos perante o mundo. Sem um espelho, ou o reparo do outro, é dificil — para nao dizer impossivel — ver 0 cabelo desgrenhado, o resquicio de chocolate junto ao ldbio, a remela ao canto do olho. Esta é a aprendizagem que propomos para a energia de Balanga: que aprenda sobre si mesmo observando, e aceitando — ao menos como hipotese temporaria —as circunstancias da sua vida como um reflexo especular de si mesmo, especialmente daquelas partes menos conscientes de si. A ideia de que o inconsciente pessoal encontra maneira de se manifestar na vida, através das circunstancias e das pessoas que atraimos para 0 nosso campo de experiéncia, nao é exclusiva de uma visdo mistica da Vida; a propria Psicologia o reconhece e admite, através do conceito psicanalitico de projec¢do ou do conceito de Carl Jung deSombra, por exemplo. Diz Jung: “A psique sempre luta pela totalidade” e “o Destino é o retorno do recalcado”. O que isto significa é que, de certa forma, estamos “condenados” a estar em contacto com a totalidade do que somos; e enquanto nao reconhecemos “dentro” a complexidade paradoxal e contraditéria de tudo o que somos, atraimos “de fora” 0 que nado reconhecemos “dentro”. Se nao reconheco a minha agressividade, ou nao a aceito em mim, é provavel atrair situagdes ou pessoas agressivas que rejeitarei com a mesma veeméncia com que rejeito a minha prépria; mas curiosa e ironicamente, posso - em simultaneo, ou paralelo —- encantar-me com aqueles que expressam os atributos dea coragem, combatividade, e audacia. Ou seja, com as expressées “positivas” da mesma qualidade fundamental. Neste sentido, um “defeito” nado é mais do que a expresso exagerada, distorcida ou descontextualizada de uma “qualidade”. E na medida em que eu nao tenha ainda integrado essa qualidade — e eu nao posso integrar nenhuma qualidade que rejeite -, 6 o proprio movimento psiquico de recusa em aceitar a consciéncia esse “defeito” que faz com ele aparega espelhado nos, ou pelos, outros e nos incomode. E 0 lado obscuro daquilo a que Jung chamou de “Sombra”. Mas a “Sombra” tem também um lado /uminoso que consiste em todas aquelas qualidades que, nao as tendo eu desenvolvido ainda em mim mesmo, dou por mim a admirar nos outros: a sensibilidade poética que eu proprio tenho, mais ou — provavelmente — menos desenvolvida (ou nao a valorizaria nos outros quando a encontro); a coragem e a capacidade de auto-afirmagao (perante a repressdo da minha propria agressividade); a imaginacao e a fantasia (quando nao me permito, eu proprio, sonhar). E esse é o lado apaixonante da Sombra. E essa é precisamente uma das caracteristicas fulcrais da Sombra: nao nos deixa indiferentes, existe sempre uma reacc4o emocional forte, positiva ou negativa. No extremo, paixdo ou ddio. Isto sugere que, perante uma emogao forte perante o exterior, podemos estar na presenca da nossa propria Sombra. Mas esta nao é a Unica expressdo das dinamicas que fazem da Vida um Espelho. Ja pensou, por exemplo, que a sua relacdo com figuras de autoridade espelha a sua relagao com a sua propria autoridade interna, e eventualmente a sua experiéncia com o seu pai ou as primeiras figuras de autoridade na vida? E que o seu relacionamento com mulheres, de uma forma geral, pode espelhar o seu relacionamento precoce com as mulheres mais significativas do inicio da sua vida (a mae ou uma avo, por exemplo), e que até os seus sintomas fisicos podem espelhar dinamicas emocionais, espirituais e psiquicas — conforme estudado, por exemplo, pela disciplina da Psicossomatica? A Vida é um enorme Espelho se estivermos dispostos a olhar para ela como tal, e tivermos a humildade para nos pormos em causa e aprender com ela. A maxima €: o que esta fora é como o que esta dentro. — para consciencializar estas dinamicas na sua vida, e perante qualquer situacao — especialmente aquelas onde se observe a reagir emocionalmente — pergunte a si proprio: o que é que esta situacdo pode estar a espelhar de mim? Se os outros me criticam, talvez eu me critique, ou critique os outros. Alguém me agride — talvez eu prdprio me esteja a agredir, ou agrida outros por formas de que n&o me dou conta. Atraio pessoas dependentes. Talvez eu seja mais dependente do que admito, ou tenha negado a minha préopria dependéncia em nome de uma suposta auto-suficiéncia. Os outros reagem com medo e cautela, tentam dissuadir-me — ou castrar-me, no limite - quando |hes comunico o meu novo plano para mudar de casa, de trabalho, ou de vida. Talvez estejam a espelhar a parte de mim, preocupada mas negligenciada, que quer ter a certeza de que nao dou passos em falso. Escondo 0 meu medo de mim proprio e os outros espelham-no de volta para mim. Facil de perceber, nao é? Experimente pensar as suas circunstancias e relagées como Espelho de partes “cegas’ de si, e dara por si a ver, de si mesmo, muito mais do que via antes. TRANSFORMAGAO O Dom de Escorpiao Transformacaéo é sinénimo de “Vida”, porque a Transformacao é a propria ess€éncia da Vida. Mas também sinonimo de “Morte”, que é a condigao da Vida, o seu reverso indistinguivel O mistério da vida e a morte. O milagre inevitavel, ao longo do tempo e das formas — de todas as formas -, a danga permanente entre o velho que se esgota € 0 novo a que aquele da lugar, a vida cumprindo-se através da morte das formas que permite o nascimento de outras, continuamente Ja pensou no alcance deste processo? E um processo universal, esta sempre a decorrer. O bebé transforma-se em crianga, a crianga em adolescente e este em jovem adulto, adulto, senior e finalmente em idoso, antes de mudar de forma outra vez. O primeiro olhar em primeiro beijo, namoro, casamento, divorcio ou felizes para sempre, desde que dispostos a morrer permanentemente para as velhas vers6es de si mesmos. Asemente transformando-se em rebento, caule, tronco, arvore, galho, ramo, folha, fruto e novamente em semente; a Agua mudando de forma em gelo, vapor, ou caudal de um rio... e todos os dias, milhdes de células no corpo humano. morrendo para dar lugar a outras novas e assim levar a vida adiante “Na natureza’, dizia Lavoisier no séc. XVIII, “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Os mesmos elementos constituintes (Atomos e moléculas) dao origem a diferentes formas, e é da sua reorganizagao permanente que novas formas nascem enquanto as anteriores se desagregam. Entao na verdade o que “morre” s4o as formas concretas de que a vida se reveste provisoriamente para se manifestar, porque a Vida é o eterno processo de transformagao que preside a ciclicidade das mortes e dos nascimentos de novas formas. Siddhartha Gautama, 0 Buda historico, afirmou: “Nada é impermanente, no universo, a nao ser o seu caracter de permanente mudanga”. O seu Ensinamento € uma via de libertacdo do sofrimento, da tendéncia natural do Homem - ou da sua mente nao-iluminada — a querer tornar permanente tudo aquilo de que se apega porque ama, gosta, ou precisa. Nesta perspectiva, a raiz do sofrimento é 0 apego (isto é, de querer tornar permanente) aquilo que esta condenado a mudar, a transformar-se, e a morrer. Este € o primeiro vislumbre do que € o Dom da Transformagao: reconhecer que todas as formas mudam e morrem para dar origem a outras, e que da sua mudang¢a consiste 0 fluxo de que a vida é feita. E estas formas nao sao apenas formas fisicas (coisas), mas também emocionais (sentimentos), mentais (ideias), relacionais (pessoas), espirituais (ideais), e decorrem através de todos os planos e dimensées da nossa encarnacao. Mas 0 que fazer com o impulso natural e saudavel do ser humano para exercer 0 seu proprio poder, de influenciar o exterior, de transformar aquilo com que entra em contacto, exercer 0 seu poder de vontade, satisfazer os seus desejos, envolvendo-se profundamente com o que se passa fora de si para transformar, enriquecer ou explorar os recursos e os outros a sua volta? O senso de ter controlo sobre alguma coisa — ou melhor, sobre muitas coisas - é vital para o ser humano. Mas é um pouco va, ou intitil, a pretensdo de ter poder sobre as circunstancias, 0 comportamento dos outros, e tudo aquilo que esta para la da epiderme, isto é, fora de nés. Sobre isso nao existe controlo. Influéncia, talvez. Podemos tentar seduzir, intimidar, ou manipular. Mas controlo, em ultima analise, nado temos. A vida segue o seu proprio fluxo mais além dos nossos desejos, necessidades, ideais, regras ou expectativas pessoais. E é por isto que € tao importante treinar o Dom da Transformagao. A ideia é que 0 tinico verdadeiro controlo que existe é o auto-controlo. O Dom da Transformacao propée-nos desviar 0 foco do exterior para o interior, dirigindo a nossa for¢a, desejo e vontade para dentro, com o objectivo de descobrir que o verdadeiro poder € 0 poder de nos transformarmos perante um exterior que nao controlamos; e que para nos deixarmos transformar por ele sem nos sentirmos perdidos ou destruidos no processo, a nossa identificagao deve com o aspecto essencial, intocavel e fundamental, da eternidade da vida por detras das transitoriedade e efemeridade das formas Transforma¢éo torna-se auto-transformagao, e Vida torna-se reciclagem permanente. Assim como 0 universo recicla permanentemente as suas cascas, deve o homem reciclar também a sua relagdo com a mateéria (plano fisico), com os seus sentimentos (plano emocional), com as suas ideias (plano mental), e com os seus ideais (plano espiritual). Ao nivel fisico, a reciclagem consiste em aprender a ver mais profundamente do que 0 corpo, nao confundir forma com qualidade, vibragao com aparéncia, consciéncia com aspecto. A matéria degrada e engana, embora nela se exalte também a vida; mas sofrer com o envelhecimento e a faléncia do corpo so se justifica pela auséncia de vida interior. As rugas nao sao contratempos nem os cabelos brancos, se existe um espirito que ganhou sabedoria com a experiéncia e esta em paz com as pequenas e grandes mortes que viveu — em vez de ficar preso a recusa das formas que se foram, e vao, degradando mais lenta ou rapidamente. Ao nivel emocional, a reciclagem consiste em regenerar os desejos, apegos, padrées emocionais ou traumas que impegam de viver em amor (em vez de medo) e expressar sentimentos autenticamente nobres, altruisticos e elevados Ao nivel mental, a reciclagem exige aceitar mudar a maneira de pensar e especialmente aquelas que sao as ideias fixas de estimagao, e que mais propriamente deveriam ser chamadas de obsessAo, rigidez, ou inflexibilidade que bloqueia qualquer possibilidade de mudar a propria vida, porque a vida é criada na mente. Ao nivel espiritual, permitir a morte das cascas, transformarmo-nos com as circunstancias, deixar que sejam criados os espagos vazios necessarios. Aceitar as perdas necessarias e os lutos por fases ultrapassadas, relagées terminadas, validades vencidas, colegas, amigos, sonhos antigos. E recordar que como 0 universo abomina espagos vazios, ao permitir a morte das formas e 0 vazio resultante, estou a permitir que mais a frente esse vazio venha a ser preenchido com novas formas, mas de uma nova qualidade — desde que 0 espaco vazio seja atentido e nutrido correctamente. Esse € 0 Dom da Transformagao. “Nem sempre posso controlar 0 que se passa fora. Mas posso sempre controlar 0 que se passa dentro. Wayne Dyer SENTIDO O Dom de Sagitario Qual é o sentido maior da sua vida? a Qual é 0 “quadro global”, a grande visdo, a visdo unificadora que atribui qualidade, sentido e significado ao conjunto de pecas que compéem a sinfonia — ou cacofonia — de gestos, pensamentos, acgdes, sentimentos, reacgées, investimentos, escolhas, e experiéncias didrias, momento a momento, dia a dia, ano apds ano? E de que maneira se integram ou encaixam estas no “quadro maior” da sua propria vida? No fundo: qual é 0 sentido da sua vida? Sabe, honestamente, responder? E claro para si qual é esse sentido para si? Qual é a visdo unificadora que confere qualidade, sentido e significado a sua vida? Sentido nao significa aqui explicagdo, mas direcgao — ou melhor dito, direccionamento. Nao se trata de discorrer intelectualmente sobre os comos ou os porqués, improvisar — ou insistir em — explicagées, fazer atribuigdes de culpa ou inventar justificagdes. Trata-se, sim, de ter uma visdo clara do caminho que vale a pena seguir. Para onde esta a crescer? Em direcgao a qué? Para onde se quer expandir? O que vale para si a pena fazer crescer, aumentar, multiplicar na sua vida? Em que € que vale a pena apostar? Em que é que acredita, faz fé, o que o Orienta — em suma? O Dom do Sentido consiste nesta capacidade de questionamento honesto relativamente a qualidade fundamental das suas escolhas, e a relagdo delas com as suas convicgées e crengas mais profundas. O Dom do Sentido faz apelo ao conjunto de valores, crengas e filosofia pessoal de cada individuo relativamente a vida e a sua propria existéncia. A visao particular do que é — para cada um, segundo a sua “filosofia particular”, bom, belo, util, importante, correcto, ético — positivo. Em que é que cada um acredita, onde esta a recompensa, o que é, para cada um, evolugao e crescimento em direcgao ao melhor, ao maior, ao mais verdadeiro, ao mais digno, ao mais elevado que pode conceber. Uns podem acreditar na ética protestante e no espirito do capitalismo, outros numa vida sem esforgo, outros na inteligéncia para sobreviver, outros no prazer enquanto ca andam, outros nao acreditam em nada e fazem disso uma firme crenga. Uns acreditam na consciéncia de Buda, outros no amor do Cristo, outros no acaso, outros na matematica lei das probabilidades, outros em explorar o mundo interior, outros a seguranca material, outros na vida eterna. E cada um caminha e se expande, inevitavel e irremediavelmente, no sentido daquilo em que acredita, atraindo as consequéncias inevitaveis das suas préprias escolhas. Por isso é tao importante perguntar-se, honrando assim a energia de Sagitario, qual é o Sentido de ca andar. Porque se a sua vida nao traduz aquilo que para si € 0 sentido da Vida, fica dependente do esforgo, da disciplina, da capacidade de se obrigar a fazer, e motivagées muito frageis para avangar a sua vida, como um burro tocado a chicote no lombo mas sem uma cenoura a frente para o fazer avancar. Sem prazer, fé ou confianga. Sem entusiasmo. Sabia que etimologicamente “entusiasmo” significa “em Deus”? Nao falamos necessariamente da versdo oficial, ou do conceito religioso, de “Deus”, mas da sua propria visdo particular — e a sua relagao individual - com isso a que palavra se refere. Nao Ihe sugere, esta ideia, que a fe num Sentido maior oferece a coragem (coragao) e o Animo (espirito) para encontrar prazer, dignidade, oportunidades de crescimento, cada vez mais sabedoria e pacificagao com a vida a partir —e através — das experiéncias que cria e atrai para si proprio? E somos assim chegados a dimensdo mais abstracta e filos6fica do Dom do Sentido: qual é o sentido da Vida? Nao falamos so da sua vida particular, mas da propria Vida. Existe, antes de mais, um Sentido, para si? E qual é? Existem Leis a governar a vida? Uma inteligéncia suprema? Caos absoluto? E quantos deuses, se algum? O que é que para si mais sentido faz? Existe uma ordem na Vida, mesmo que nem sempre seja possivel conhecé-la, ou tudo é mero fruto do acaso césmico? O Universo é inteligente, ou uma manifestagao aleatéria de acontecimentos sem ordem nem sentido profundo? Em que é que acredita? Que vive num universo inteligente, ou num enorme (embora diminuto perante a dimensdo dos egos humanos) e desordenado bordel cosmico? E em funcdo do que um individuo acredita que ele se expandira e encontrara as forgas para continuar. A fé, o entusiasmo, o optimismo, a confianga na vida, a convicgaéo de que a vida e todas as experiéncias tem um sentido, estao todos relacionados e aumentam na medida em que a vida pessoal se alinha com uma Verdade Maior, uma que ultrapasse, contenha, inclua e sintetize as diferentes opinides pessoais e retenha delas apenas o que de luminoso exista, e de essencial; a Filosofia Eterna, Perene, é a das Leis que subsistem enquanto os paradigmas humanos vao mudando tendo por pano de fundo a imobilidade absoluta das Leis que todo o Movimento sustentam e guiam. E isto parece ganhar importancia especialmente ante as crises, pequenas e grandes mas sempre inevitaveis, da existéncia; perante as mortes, as perdas, os acidentes, o aparentemente inexplicavel, € daquilo em que acreditamos que nos socorremos para nos ajudar a dar sentido a experiéncia e a integra-la. Um sentido maior, e que aponte para a Eternidade, é o que de melhor podemos esperar retirar da Experiéncia, de uma qualquer; e simultaneamente, o Unico que pode sustentar realmente cada um dos passos (nao coelho, nem gato por lebre) dos nosso proprio crescimento. Assim, a crenga na imortalidade da alma pode ajudar a aceitar a morte de um ente querido, a confianca que o universo é abundante e sempre me oferecera oportunidades de continuar a crescer pode ajudar-me a despedir-me de um emprego que nao me realiza, a compreensao que a vida sempre denuncia os nossos equivocos pode ajudar-me a aceitar o fim de uma relagao como uma oportunidade de mudanga interior. Ou entdo, os valores em que acredito nado me permitem inteligir o propésito oculto nas experiéncias da vida, nem aproveita-las para ganhar sabedoria, amor, consciéncia — e entao entro numa crise de sentido, numa crise de compreensao, numa crise de consciéncia. Os misticos cristéos chamam “a noite escura da Alma” a esse confronto interno com a fragilidade dos préprios valores e ao convite a buscar um senso renovado de sentido para a vida. Sem esse encontro, e confronto, embora no curto prazo e no imediato aparentemente me “safe” de mais uma inconveniéncia evolutiva, o facto é que a prazo me tornarei amargo, ressentido, sarcastico, nihilista, e nunca perceberei a relacdo entre a (minha*) vida pessoal e a grande Vida que é vivida através de mim. “Eu me rio quando oucgo que o peixe tem sede dentro da agua. E tu nado compreeendes que o que ha de mais vivo esta no interior da tua propria casa; € por isso andas de cidade sagrada em cidade sagrada, com um olhar confuso. Kabir te dira a verdade: vai onde quiseres, a Calcuta ou ao Tibete; se nado conseguires descobrir onde tua alma se esconde, para tio mundo nunca sera

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