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Suzana Tavares da Silva As Taxas ea Coeréncia do Sistema Tributario Préxima Publicagio: Direito Financeiro Local Toaquim Freitas da Rocha Ey LUTE aU e N2DAL Suzana Tavares da Silva As Taxas ea Coeréncia do Sistema Tributario Outubro de 2008 ‘Titulo: As Texas ea Coeréncia do Sistema Tribuério ‘Autores Suzana Tavares daSilva Data: Outubro de 2008 ‘Raltor: CEJUR~ Centro de Estudos Juridicos do Minho Rua D, PedeoV, raga Distribuidora: Coimbra Editora ‘Rua do Arnado, Coimbra Impreseio: Fabigrfica Pi, Industrial, Lugar da Devesa, Pous, Barcelos ISBN: 978-989-95115-52 Depésito Legal: 28425008 ‘Tiragem: 750 exemplares ‘As taxas consttuem uma ona {franca onde se refugia 0 tributador ‘menos excrupuloso © onde as contri- buimtes ndo enconiram defesas apro- priadas Vieira Andrade, 1994 Nota prévia A propésito da recente publicagzo do Regime Geral das Taxas das Autarquias Locais, que veio finalmente dar cumptimento a uma imposigdo legislativa constitucional pela qual hé muito se aguardava, inicidmos a elaboragdo de um pequeno artigo no qual nos propinha- ‘mos dar destaque as principais novidades trazidas por aquele diploma. Todavia, 4 medida que aprofundémos o estudo comparado dos problemas que hoje se colocam ao nivel do financiamento das entida- des piilicas em geral e das administragdes locais em particular, fomos tomando consciéncia de muites dificuldades que ficam por resolver com aprovagiio deste diploma e, sobretudo, de novas questes que 0 ‘mesmo vem suscitar Assim, tomando como ponto de partida os trabalhos mais recen- tes da doutrina e jurisprudéncia, nacional e estrangeira, bem como a legislagao avulsa sobre taxas, tentamos deixar aqui algumas pistas de refiexdo sobre 0 recorte dogmético da taxa no actual universo tributé- rio e elaborar uma proposta de arrumarto sistematica das categorias segundo 0 prinefpio da coeréncia do sistema tribatério. © trabalho divide-se em trés partes: a primeira dedicada ao apuramento do conceito de taxa, a segunda referente aos critérios que diseiplinam a determinago do valor das taxas e a titima em que se procede 4 analise do novo regime geral das taxas das autarquias 1o- cais, O texto tem 0 objectivo de contribuir para o debate juridico dos mais recentes desafios postos ao direito tributario ¢ tem pressupostas as eituras ¢ reflexdes que fornos fazendo durante os anos em que nos ocupdmos das aulas priticas de direto fiscal, sob a coordenagio do Ex."* Senhor Professor Doutor Casalta Nabais, que nos incutiu 0 gosto pelo tema e a quem agradecemos a permanente disponibilidade para a troca de impressdes, Por tiltimo, e apesar de assumir intciramente a responsabilidade pelo contedido deste trabalho, nfo pusso deixar de salientar que ne sua elaboragio beneficiei da experiéncia, através de estudos mais inten- cionalmente praxiolégicos, colaborando com o Ex." Senhor Professor Doutor Gomes Canotilho, com quem tenho tido o privilégio de poder aprender, dia-a-dia, 0 oficio de jurista Coimbra, Maio de 2008 Suzana Tavares da Silva Assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 1" Parte O recorte dogmitico da taxa © 0 principio da coeréncia do sistema tributério 1. O conceito de taxa © conceito de taxa tem sido amplamente tratado entre nds pela doutrina ()€ pela jurisprudéncia constitucional (? e fiscal (). As mais recentes transformagdes na organizagio edministrativa ¢ no papel do Estado tém obrigado a uma constante revisitago do conceito, quase (Sobre o cones deta vide, entre nd, Acataro Xavien, Manual de Direto Fiscal, Lisboa, 194; Teerne Raia, aos jurdica de taxa in Rove de Legislagdo erp encia, Ano 117. p. 29, €wAnctapio ao Ace do STA de 2 de Nata do 1996 in Revrt de Leglgsoe Jurspraict, 1997, pp. 296 pes Canoos0 on Cosa, wAinda a ditingdo ete ‘e“imposi mjrisprudtaciaconsituconas in Livro de Homenagem «Jose Gul ‘me Xavier de Base, Coiba, 2006, pp. S47 e spe Cusseta Nadas, Dreto Pcl, 4° ed, Coimbra, 200, pp. 2D. segs; Paz Fearn «Aine a propo da iting elt poston {aso caso da texa muna pla realzago de infa-esteuura ubansticsy in idm Teeniea Pisco, n® 380, p57 e eps; Sanwa Suse Too Gata anes muncips ea acupasao do subolo,n Fiseaidoden 19:2, 2004, pp 5 eee; Prrrae Cunia/Xaneh ne BastoyLoso Xavies, «Os Conceitor de Taxa Impostos propio de Livenges Municipesn, {m Pico. 0 SUS2, pp. 3 e segs: Xavien of Basc/AN7en0 Lowo ave eAind a distnglo entre tana impos inconstiucionalidae dos erolumentos nears reitais device pa canstiuiggo de soiedadese plas modifiagtes dot respetivoncontitosm, in Revita de Dineto¢fstados Soci, Ano XXXVI, 1984, pp. 3 see, por ina, Stnzo Vasu Reg ‘me das Tar Loca. miroducdo ecomemtri, Almeding, Coimbra, 2008 (altima referencia ‘ose tia em conta na expos porte sid edad ja depois do envi de noes trabalho bar publieasdo, (Ns inposibitiénde de car aul toda urspredncia consign sobre o ems, einamos referénci alguns verdes mais recenes |) 0 AcGdio n= 36572003 conclu pela, ‘onfeemiede constitucional das tazas devides pls acypapao do rubrolo do dominio publ- co municipal com condutas de combusivel, previstas no Regulamerta © Tabele de Taxas © Licengas da Ciara Municipal de Matosinhos,afirmando qe exarceperane verdaderas ‘as sempre e quand a sua corangaresut d ulzagio de bem do dominio pio; 2) © Acérdio n° 2742004 juga incontituionis as normas do Regulamento de Tava e Lien ‘48 Municipas de Bato, na medids em oe permitam a cbranga do tibato as promotes ‘que superiem integralment os ests com eaizacdo ds infraesrturas, 3). Aceon? 10972004 juga inconstitaclonas as ormas co Regslameto de Publicidad do Muncio de Lisboa que fxam win monte a pagar pela axagto de mentagentpublictrias em move! perlercentea um partcalars4) 0 Attedson.” 3102003 julgnnconsteucionsl a norina Ga Tobela ‘te inoluments do Nowra a parte em queserefre a emolumenie rare peers ‘Suzana Tavares da Silva sempre com o intuito de o tornar mais plastico¢ flexivel. O objectivo arquitectar um conceito de taxa moldével 4s crescentes necessidades fi- nanceiras de um Estado em processo de transformagao, que surge mi tas vezes como um “Estado multiplicado”, em competéncias ¢ receitas. problema nfo é, de resto, exclusivo do Estado portugués. Re- centemente, a Alemanha discutiu, a propésito da modernizagao do Es- tado, a necessidade de se estabelecer uma correspondéncia e coeréncia entre 08 recursos financeiros das entidades publicas e as atribuigdes {que Ihes eto cometidas, bem como a necessidade de proceder a0 reajus- tena repartig&o daqueles recursos sempre que tenham lugar alteragBes zna organizagao do Estado ou nas atribuigdes das entidades pablicas (' Em Espanha, por seu turno, os desafios originados pela privatizagao, liberalizagao e equilibrio orgamental tém promovido o debate sobre 0 publica qu tem por objeto um acto de redupt do capital social 5) Astron? $36/2008 do “TCiuigaincoratitconas as norm do Repulrmente de Texas Licaneas Munieipais deSiatra iinterpetag que permit ligedagte de atts pr epeipomenia de abastecimento de com lute liguidesintinamentnstaladon en propriedadeprivada; 6) 0 Aerio n° 3962006 Ge sequtncia des Accrdios n* 2072003 ¢ 5192003 e Aedréfor n" 3652003, 3662003, 5354/2004 © 359/200) jug no inconsttcionis as normas do Repulsrento Municipal de Liguitugsoe Cobanga de Tanase Licengas do Municipio do Barrio que havi intoduzido ‘um aumento signifeativo do valor das taxes pela ecupagao do domino pilico municipal 7) ‘ Acdrdéon® 47072002 on sequénia do Acro n*<5/2002) no sig nconetcionae as ‘ormas do Regulamenta de Obra Via Pia de Municipio de Lisboa gus previam una tv ‘de compensa de deiptas de facalizaedo;8)0 Acddio n° 36909 julgouinesostucionais ‘8 txar de pote ina ode comarciolizagbo de sino cobraés pelo ROM A (0) Ente es decisoe mais importante, qu desdram problema relacionados com «natures jordin do tebatos ligaidndos, contanse as seputes: 1) Acorto do STA de 2210212006 que considera ova de saibridodecobrae plo municipio da Pévea de Vaceim ‘uma verdadrs ta plo so de sistenar minicipais de rnesmento; 2) Arran do STA de ‘0811/2008 qe consisers tora elo acapagdo do susolo mumiipal com conde de Bos ‘obradn pelo municipio de raga aos coneesionéroedagul servga mt verdadira x3) ‘Aedrdo Ge STA de 15/1/2006 que coneder aa ox emclamenornotariaicaorados undo ‘a olsbrago de escrtra pie de cestode quatas de sociecae comercial 4) Acre Co STA de ai062003 queconsderaimposos as tas sobre comercialzgo de produtos de sa- ) Sobre principio defies no dmbto do Estado Regulaor, vide RWvEx0 ORTEGA, {1 Exado vigane, Tecnos, Mari, 999, pp 133 e098. (0) Referimo-no,essenciaiment,# anise ceondmica do eto que dove esta re sents na formulae das solugdes normative; de H Eouw iui, Efftenas Reohsprinp, 3d, Mehr Siebeck, TUbinges, 2005 (Sobre impacto dos eritvios energenes de ands econémica do dire m0 direto adminisxatve, nde Maaco D'ALatx, aDinatopubbic dei mera eal ceondmica ‘Annuaro, 206, pp. 2-2, () A proposto desta problema, vide S. Cases, al sris del gato, ovvero di smetdi allo studi del drt poblicay, in Anavarie, 2006, pp. B10 18 Suzania Tavares da Silva Locais que estipula que “o regime financeiro dos municipios e das fre- guesias respeita o principio da coeréncia com o quadro de atribuigées © competéncias que legalmente Ihes esta cometido, designadamente a0 prover regras que visam assegurar 0 adequado financiamento de no- ‘vas atribuigdes e competéncias”. Procura-se, com a consagragao legal este principio, salvaguardar a posigao dos municipios na obtencao de receitas em montante adequado aos custos que a prossecugdo de novas atribuigdes possa ocasionar. De igual forma, hi-de servir como paré- metro orientador da definigfo global da politica de financiamento das entidades infra-estaduais, revelando 0s critérios de coordenagao entre obtengao e repartigdo de receitas de forma a garantir a equidade hori- zontal do financiamento (*). Neste sentido, o principio da coeréncia destina-se, sobretudo, a regularasrelagGes financeiras entre os municipios eo Estado. Funciona- 14, certamente, como critério essencial no controlo da repartigto de re- cursos financeiros para a prossecugao de “atribuigdes partilhadas”, no Ambito do denominado ‘Jinanciamento mista” (Mischfinanzierung) (”) (09 Porn u sntese os problenas actus na repatggo das recite finances, ide Viuaers Feat, ao problemas atales de la nanan autonémicen im La manciaion el Estado dels cutonomianporspectivns de fur, VEF, Madr, 2007, p11 885 (9 A questo da needed eonsrasolugdes de “Rnanciamento mito” para @ prosseeugo de tarefee que no abe exchsivameste sum nlvel de Adminstesto tem $60 ‘epesinimenteestudadn rm Estados compostes. CEG. Wissen, «Aba von Mischinanie rongen i Zetthrft fr Gesetegebung (2G), 12002, pp. We segs Hever, eVerassungs- reehlcher Schutz der Gemeinceverbinde vor gstzishem Aufgaberenizu im dualsischen Und monisischen Auld, in Zech fr Gecetrgebing (26). V2002, pp. 72 © ‘segs Trt, poi, de um problems que também €exenivel aim sistema eam 0 0350, fem qe forma untria de Estaco& complementada ebm a existncia de RegidesAutéoomas de descentralizago adminisativaautrguea. Assim se compreende, por exemplo, que a Ie as nanas locals se ee expressamente no art. 63°, n° 3,4 necesdade J aprovags0 eum deere leisiatvn region] que sap a aplcuto aos municipios dacucas Regices da arcipapio varivel de 3% no IRS (revista nbart. 19% n* Iliad, eno ae. 20°). Proear= “Se ublinhas que, pie enbor vercagto de uma aplicaro unis do regi das anes loess, como se mp num Estado unit, ams deve ser deviamestewclada eam 0 reconecimento consitcional do pode de xs Repibes AutOuomas adpiarem o sistema fiscal ‘ecinal 4 suas especiidades ar. 227", 1° Ivana J, da CRP), de forma aneatelizar mo mbit regional no dbo de sxe de nsnciamento miso ede cooperae26 Rance ae scminsratva nr etadl efits dagela medida queers ence, anda que v= Tadareot, uns dose sufcente de Federalsine fiscal pondo em elev as devidos quanto asus ‘conformidadeconstucional, No seni da iaeonstituronalidade da reid, vide, entre ms, por todos, Vnia be Axon, wfinangas LocaiseCidadaniaFscels, Comeatito wo Acird80 oT n° 7102006 (Lei das Finangas Loci) Revita de Leislagaoe urisprdeeta, Jan) [As Taxas e a Coeréncia do Sistema Tributério Segundo esta acepeZo, o principio da coeréneia servirs, também, para impedir situagdes em que o Estado subordine os sujitos passivos uma dupla tributagao. ‘Veja-se 0 caso da recente taxa de gestio de residuos, prevista no art, 58° do Decreto-Lei n.° 178/2006, de 5 de Setembro, ¢ regu- Jamentada pela Portaria n.° 966/2006, de 8 de Junho de 2006. Trata- se de uma “taxa” destinada a compensar os custos administrativos de acompanhamento das actividades de gestao de residuos e estimular 0 ccumprimento dos objectives nacionais naquela matéria que é devida pelas entidades gestoras de sistemas de gestio de fluxos especificos de residuos, individuais ou colectivos, de CIRVER, de instalagbes de in- cineragdo e co-incineragdo de residuos e de aterros sujeitos a licencia- ‘mento da Autoridade Nacional de Residuos (ANR) e cujo valor pode, posteriormente, ser repercutido nas tarifes e prestagdes financeiras co- bradas pelas entidades devedoras, de modo a garantir 0 curnprimento do principio da hierarquia das operagGes de gestio de residuos. Nesta ‘medida, esta “taxa” que constitui, na verdade, uma contribuigio finan- ceira a favor da ANR para financiar os respectivos servigos de ambito feral, acabard por ser suportada pela populagao em geral, colocando lum problema de dupla tributagdo face a jé existente taxa municipal de residuos sélidos. 1.2.4. Instrumento de responsividade da politica tributdria Por itimo, o principio da coeréncia impor-se-4, também, como lum instrumento de responsividade da politica tributdria nesta fase de construgéo do novo modelo administrativo (, assente na “adminis- ‘Fe. 2007. De igus modo, anova a dae mangas reionsis ei orginien* 1/2007, de 19 Fe ‘erie contemple importante precios que sfentaram um cero federalism fea regions que ‘everficnaenirende Sobre o fra, vide Acdos do TC 1/2007, 282008 « 4162008 (Os autres eerem-s,prticularment, d emergéncia de um nov dieito wba « fnaneiro (eat fica, decorrente da epieaqo de solbesinegradas na corrente do New Poblie Management. Soe» tema da reforms do dict stminitraiva, vide AxoxEAS Vor ‘tunic, eNeve.Verwaltngeeshtwisentchaft, fn HorrusiRicu/Scunin-Aesnssn/Vos- ‘Skuiue) Grndlogen der Vermaltungsrechi, I, Beak, MUnchen, 2006, 9p. The, etre nS, Prono Goncatvis,Enidadesprivadar com podees ploy, Amedie, Comb, 2005. Sobre 2 emerpcia de um novo divetobutirio em eonsegudnea desta erm, vide, por todo ‘A Sova, «Dimensionen des Aquivlenapinspe im Rect der Stastefinanzerungo, in Zeit Schrift fr Gesergebury (26), 22005, p. 238. Sobre 9 contol da lepalidede Snancira no mbts do novo ciretoadministrativo, vide, etre ns, por todos, Goss Canario, «buna 20 Suzana Tavares da Silva taco de resultado”. Referimo-nos, sobretudo, & implementagdo do critério de eficiéncia alocativa no controto das novas solugdes no “agir administrativo” ("), Nesta acepgo, o principio hé-de exigir a verifica- {40 de um beneficio individualizado a favor do sujeito passivo da taxa, de uma contraprestagao efectiva a favor do sujeito passivo de uma con- tribuigdo especial e, em ambos 0s casos, a limitago do valor do tributo a0 custo do servigo. Assim, se explica, por exemplo: a) 4 piuibiyao de jnsteumentos de financiamemo cruzado () para construpdo de novas infra-estruturas (®), em que se incluem as no- ‘vas modalidades de financiamento de obras piiblicas baseadas em con- tratos de concessio de obras, que, por seu turno, assentam em project finances radicados no principio do utente pagador. A proliferacio des- tes tipos contratuais, promovidos, sobretudo pelo direito comunitério, como se verifica nas directivas a que 0 Cédigo dos Contratos Publicos pretende dar transposigo, suscita, em muitos casos, dividas fundadas sobre a legitimidade dos alegados “auto-financiamentos” (%), tendo j& de Comas como instnca dinamizadora do principio repblcanoy, comunicato apreseteda no Portoa 8 de Abril de 2008, em pubicagio ra Revista do Tribunal de Cons ()Parnuma perspectvasudria da “adminsrgto de resuads”, vide Rowavo Tas: ove, nai eondmea el aint e“amministanione di iat", n Anni. 2005, pp. 23-46, CCEA desisto do TICE no prosesso C2058, Cmissto 7 Austria car da auto- -exrada de Bremer O buna eoasietoa gus o metodo de elul da portage vielva os alin), da Diseetiva98/89/CE, 2 medida em que as portagens na principal aute-steda susiiaea eam cobradas pels concesioniradaquela, vcd Alpen Strafen AG, ie n80 SG afecava ests recea a manueaglee conservst0 J via, como ainda eneegava valor ex- eden sociedade de nanclamento fine, concoads pelo Esado federal, pra custear Ssusfacdo das deapens de crédito com as estanesabresrovirie Nesta eda, tribal ousderou que “ao nto te plicad as tferidaspertagenswhicamerte com vss & cobrie oo ‘anos igados 8 consruo, 4 explorsaoe 4 desenvolvimento da suto-estrada do Benny, Replies de Austin nde compra as suas obrigapes que resulan, espectvamente, dart. 7%, linea ed art. 2, ane id dretive” (©) Para.uma visto global dos problemas acta rciadosbconcesso de obra pb <8 vide, por dime, Rute Otto, La concern de bra publica, Cita, Masri, 2007, (9) Iecuissed este case a eee a ple Lei n* 5572007, de 31 de Agosto, destnade fnaniar ns actividades desenvolvids elt empress Enradss de Portgsl, S.A, eoncessoniria do franciment, cneepglo, pro: Jeeta, consagSe, conserva, enplrari,requliesrao e alargamente da rege rodviris ‘aciona, conform art. 1° do Decteto-Lein® 3802007, de 13 de Novembre. A conribugso Ae tervigoroloviro sproxima se do Monighiiron imposto na Alemanba como iat ‘mente de foaniamento das earadt, embora, no nots cae, ributotenba sido conebido refute de servigo rdw xl ‘As Taxas ea Coeréncia do Sistema Tributério dado origem a um apuramento de critérios pelo Eurostat em matéria de combate a desoreamentagao da divida pliblica (*); 8) a imposi¢do do principio da transparéncia ¢ extensio do re- gime juridico das sociedades comerciais aos casos de gestao de tarcfas aadministrativas por sociedades de capitais exclusivamente piiblicos (*), impedindo a “desorgamentaga0” de despesas como consequéncia do re- curso a formas de privatizagao formal, concessdes no Ambito da gestio in house, casos de arrendamento operativo e parcerias piiblico-priva- Uday e1n que nfo exista efectiva privatizagdo do financiamento (") () 1.3.4 bilateralidade A bilateralidade das taxas tem, a nosso ver, consagracio constitu- cional expressa a partir de uma interpretago ab contrario sensu do n® 1 do art, 103° da Constituicao. Esta norma estipula que o sistema fiscal visa a setisfagdo das necessidades financeiras do Estado e outras entid- des piblicas ¢ uma repartigdo justa dos rendimentos e da riqueza. Dela decorre a caracterizagao do Estado portugués como Estado fiscal por oposigdo a Estado tributério, ie, do Estado portugues como um Estado que assenta 0 financiamento para a satisfagao das necessidades colec- ‘como um impostoespcil sobre oeonsume de combustive Sobre aca lemto, vide Susanne Scisir',Bou, Erotang, Betieb un Pinanserin von Bundaxonsressen durch Private nach sden Fea Prot Fi. Reri, 199,64 (VCE Eurostat, Memo do SEC 95 sobre odie ea ide des admins pic cas (0 Smennco Oxrz VaaNonDe levantomienio del velo on el Derecho Amina ‘io. Rlgimen de comvatecién de lor enter instramantale de a Admistrciin entre sy con ‘erceres, La Ley. Maid, 2004, 10) Sobre o tema, vie Goxza.se Gaci, Fenanciacdn de infrastrctraspiblicasy ‘abled prerupuettari, Tra o Blane, Vlei, 2006 () Vee o exemple espanho de eriagto de enidades piss empresarias de es- eter merameate instrumental para evr vies rodovdrias, cao objective ogi és estites ‘rgamentasimposas pelo diteto europe, uma vez que endividamentadesss empresas r80 ‘ontava como endividamento bio. Esse tania perdeyfterees com entrada em Vigor ss ocmas corals do Sector pibleo SEC 95, wma vex que o Eurostat mandou incuir ‘a cenabldade nacional esas “sociedades mandairas Fide Ana Jun Lazavoless Reo! cuez Makgucr, La colaboracin piblico-privadaen la fnanciztén de as ifoesrucaras servicios piblices. Una aproximacin dee los principe java fixanciere, VEE, Mada, 2006, yp. 39-40 21 Suzana Tavares da Silva tivas na eriagko, liquidaglo e cobranga de impostos endo de taxas (*). 6 no plano municipal, alguma doutrina mais recente vem fa zendo referéncia & existéncia de um principio de subsidariedade dos impostos na suslentagao econémica das tarefas piiblicas de dmbito ‘municipal (*). Por outras palavras, as necessidades colectivas da co- ‘munidade local sé dever ser saisfeitas com as receitas dos impostos ‘quando as receitas das taxas e demais contribuigdes nfo tenham inte resse relevante. Estas recetas bilaterais devem, a nosso ver, ser con- sideradas sem interesse relevante quando pela aplicagto de critérios assentes no principio de praticabilidade nfo apresentem capacidade de zgerar reeeta ou quando a sua imposigo se revele contra aos prineé- pios da proporcionalidade e da just repartigho dos encargos pilicos. Vale por dizer que devem ser exigidas taxas quando se trate: 1) de financiar as prestagGes divisives ¢ individualizéveis de servigos piiblicos funcionando como correspectivo das mesmas e desde que a criagdo desse servigo pUblico resulte de uma necessidade gerada, di- recta ou indirectamente, pelo sujeito passivo, e que a mesma apenas possa ser imposta 2os destinatarios do servigo, emibora se no exija que os destinatdrios sejam beneficiados por ele); 2) de remunerar umn encargo especifico ocasionado pela remogio de um obstéculo juridico a0 exercicio de uma actividade de que 0 sujeito passivo ¢ unico bene- ficirio ou beneficiério diferenciado (correspondendo o valor da texa, nesta ultima hipStese, apenas medida dessa diferen¢a); ou ainda, 3) de “compensas” a comunidade por um uso/aproveitamento individua- lizado que 0 sujeito passivo faz de um bem de dominio pablico, o qual, por forga daquela utilizaglo, deixara de estar afecto a um uso geral pela comunidade ou a um uso especial por outros interessados. No caso de (0) Em sentido prixime, por interpreta dos precets da Constuicaoslema, vide Cuasor Gran, Vor Stesersta! rum Geblhtendnanzieren Diensleistungsstaa, ci. En (0900s impostos deve inanciar ods a5 aefts pibliea da quis no resuem be- fils indvidalzavels. Sobre 0 prinipio da subsiariedade das impostes, vide ChmstOr Gras, Vom Steverstast um gebubrenfinanzierien Dienslestunstat?, m Der Sze, ‘3/1997, p. 277, Renwiann Hesoue, «Gebebrenstaat tat Stevestaat,m De Ofeniche Ver ‘wltng. T8199, p. 75, e Ene Gav, Das Sleverstansgeot des Geundgesetzesy, in Der ‘Stat 392000, 217. P)Neste sentido, Ruz Gabo, Problemas arate de las tasas, Lex Nove, Valladolid, As Taxas ea Coeréncia do Sistema Tributério se tratar de um uso comum ou geral do bem, impera a regra da gratui- tidade, devendo a taxa ter carécter excepcional, porquanto a cobranga sistematica de tributos pela utilizacio comum do dom{nio puiblico re- prosentaria uma intolerdvel restrigdo a liberdade de cada um(") Podemos, pois, afirmar que a bilateralidade des texas constitu’ uma dimenso do patriménio constitucional de um Estado fiscal (*) Assim entende também a doutrina estrangeira que caracteriza as taxas como tributos que assentam numa contraprestagdo especifica. 'No caso alemao, caracteriza-se a taxa (Gebuhr) como o tributo que se distingue do imposto por corresponder a uma prestago pecuniéria de- vvida por uma contraprestago individualizada de uma entidade piblica, 1 qual se pode traduzir numa actividade administrative (Verwaltungs- , i Der Stat. 31997, p. 276, © Kishin, {Nehtseueriche Abpabens, IsusciKreciex, Mondbuch de Staats Recs, 3” ed. Bd ‘Mille, Heidelberg, 2007, p11, Em setido diferente, a Constugdo Brasilia amite cas para fnanciar serigr de policia (a. 14S, eso I da Cnstiuigho Federal cujaca- "actrisin principal reside no fatto de 0 grande benefciri desseservigo nfo se: apenas © {Seto pesivo, mas sim a coletviade,ombora, nainetamente o suet pasivo também o ‘Se. Sobre ests figura, em particular a fara de control escalzacce ambien (basilica, ‘ide por odes, Yves Ganon ba Sk ManNS, «A ta de corso fscslizago ambiental, ln tictewo Tunes, Direto Trbutrio Ambiental Mathers Edcres, SEo Paso, 2008, po. 748 ‘ees. (em especial 759). 1(°)O efit ecansraivo dss sentengs anlatiias carcterza-e pel bravo de 1 Adminseragioreconsturasituapao hipaa actual, so & a obrigaydo de recons tir & Siuapio que exitiria no momenta du anlagto do eto seo mesmo ao tvesse sid praticado ou fe acto tvese sido pratiado sm aiegalidade. CL, etre ns, or tds, Vea DE ANDRADE, A dug dminstenivg (cde), 9 e, Alzedina, Coie, 2007p 3. () Referino-nos as casos Ge reogardo src senza, excundo,potanta, anvl 40 admitativa. aal pare exe feo, deve sr eauparada anulgo jai. a 44 Suzana Tavares da Silva de modificar 0 acto administrativo, mas sim de praticar um novo acto administrativo relacionado com o primeiro, o que pressupée uma nova actuagio da Administraglo e, nessa medida, 0 direito a exigir uma nova taxa (". 14, As taxas e es contribuigdes especiais Tal como referimos no infefo, até aprovagto pela Assembleia da Repiiblica de um regime geral para as demais contribuigGes financeiras a favor de entidades pablicas, devemos considerar que, na repartigo da carga tributéria pelos cidadaios, nfo poderd deixar de ser analisado © carécter bilateral ow unilateral dos tributos, de forma a saber se 0 ‘mesmo pode ou ndo subordinar-se ao regime juridico das taxas. Recor- de-se que afastimos a qualificagao das contribuig6es como “iributos hibridos” € a consequente possibilidade de aplicago combinada dos regimes juridicos das taxas ¢ dos impostos. ‘A auséncia daquele regime geral constitui, & semelhanga do que acontecia com as taxas, uma inconstitucionalidade por omissio ("). ‘Neste caso, a inexisténcia do regime geral limita ainds mais a actuagao dos poderes piblicos, pois trata-se de um dominio novo, localizado na Intersecgao entre o direito fiscal, o direito tributério e o direito piblico «da economia (regulagdio econdmica), sem tradigio legislativa entre nds que tem tido, tradicionalmente, a resisténcia da doutrine e da juris- prudéncia ("). (0°) Por uma mthor anise destesquesbes, com excanpls da jurispradénea expa- nol, ide Son Acosts, Lar tava de las Beidades Locales (El Hecho Imponble). Arana Pampione, 1995, em especial, pp. 612 ( Versypra Ll) a considvogSes sobre manuteneo de ums situeo de incon ‘ucionlidade por ome relatvamente ao repime gerald restarts tse (©) Veinse, este propbnito,o Acérdto €0-TC n° 123996 onde ae pode ler que “es imposiees tbat (0 fvor de organemos de coordengSo ecndmics) com essa caracte isto so equiparsveis soe impose. Assim ver decidindo o TibunalConatitacional, nt ‘outros, nos Acbrdtos a" 38791, 126/02 € 10793, Diario de Republic, Série, de OP 04/1992 le 727211093, | Sei de & de Msio de 1993 Er sentido prin, propia dae con Uebuipes det gerag conbuigtes de melhoriaeconrbuies de mio despa), Casnira [Nagas WA autonome Snancera ds sutarquas acne it, p38, ‘As Taxas e a Coeréncia do Sistema Tributirio Na falta de lei da Assembleia da Repiblica que habilite, quer os municipios (", quer 0 Governo a criar contribuigdes especiais, as mes- ‘mas hio-de ser sempre, pelo menos, organicamente inconstitucionais. Sublinhe-se, contudo, que 0 esforgo que tem vindo a ser desenvolvido no sentido de se apurar o recorte dogmatico das figuras tributérias, tendo sobretudo como horizonte 0 principio da coeréncia do sistema tributétio, nao se compagina com a mera aprovagao parlamentar dos ‘ributos como garantia da respectiva conformidade constitucional. A racionalidade que deve perpassar o sistema tributério no se conforma s6 com a observancia de meros requisitos formais e procedimentais O florescimento dos tributos nao fiscais est historicamente as- sociado, como a experiéncia comparada tem assinalado, & necessidade de garantir recursos financeitos para dar satisfagdo a novas necessida- des sociais, sobretudo nos dominios da protecgio do ambiente e dos recursos naturais e da promogo do ambiente urbano ('"), Os mesmos autores assinalam as dificuldades na delimitagaio dos conceitos, que muitas vezes se apresentam como “caiegorias camatednicas” pela li- ‘gac8o intima que mantém com o nivel administrativo em que deve si- tuar-se a tarefa que visam financiar. O exemplo clissico de “categoria camaleénica” das décadas de "70/'80 encontrava-se no financiamento de infra-estruturas e servigos das grandes cidades, que pelo cardcter supramunicipal que assumiam reclemavam um financiamento que ul trapassava os apertados poderes tributérios municipais (""). Estes problemas conquistaram novamente actualidade, quer no ccontexto da reorganizagao administrativa do Estado e da respectiva in- tegragdo na Unido Europeia (europeizagao), quer no contexto da iden- tificacao de novas necessidades em matéria ambiental e de redugo do risco (), (0 Una ver que ente as reeitas muniipusprevists no ar. 10%, da Lei n? 22007 angus Loca Bose encontra qualqes referencia nests ibutos, (C) Sores origem eevoldo dos conceit, vide Peex Dovey, ebalron und Bel _ae, Mot Siseck, Tubingen, 1977 (©) Bose refre os exemple ds tetos, da era, dus acessibildades as eats © eno ds pitas 8 tansprtesurbanes come e mers, sussinando se deve Sr atedos te Financiados como servigos de mbit local ous, plo facto de serviem a popuagto nacional fen geal, devem ates eum aivel de egulito ede financiamento diferente ide Peex Bw 1, Geren und Berge, Mebr iebec,TUbinge, 1977, pp 169-70, (0) Vejne, sctasimens, discasso sobre o ancient 6s rade rensewopeias in Ze, Trenseuropasche Neve, Nomos, Baden-Baden, 196 (ota 45 46 Suzana Tavares da Silva Ainda hoje, @ categoria de contribuigdes especiais conhece, no Jireito comparado, em particular no direito alemao, dias de turbuléncia, que tém levado os autores a procurar sistematizar as diversas tipolo, de tributos que so susceptiveis de ser reconduzidos aquele conceito. Entre n6s, uma parte da doutrina, na esteira da jurisprudéncia do Tribunal Constitucional (), tem acentuado a ideia de que as contri- buigdes especiais sio Impostos, seguindo, por esta via, a qualificago proposta pela doutrina italiana e espanhola, bem como o disposto na prépria lei ('5). As contribuigdes especiais seriam, nesta aceps20, tri- butos especiais que assentariam na particularidade de “terem por base manifestagdes da capacidade contributiva de determinados grupos re- sultantes do exereicio de uma actividade administrativa piblica e nao, (ou nao exclusivamente, do exercicio de uma actividade do respectivo contribuinte, como acontece nos impostos”(") Esta categoria corresponde actualmente ao que podemos desig- nar como contribuigdes especiais de natureza fiscal. Trata-se de tribu- tos que impoem 20 beneficiario de um investimento piiblico o dever de suportar um encargo proporcional ao beneficio que € auferido. Consti- tuem, como a doutrina impressivamente refere, contribuigdes especiais de igualdade que visam recquilibrar as contas entre o dever € 0 haver (9) Vide, ete props, eso do TCn* 125996 onde s pode le que" impo- sighs intra [a fivor de ongatitns de eordentgio econ nica com exes carictriias So equpariveis os impsios. Assim vem deciindoo Tribunal Consttsconl ence outro, nos Aeris n> 3HVI, 52692 e202, Diino de Repco IL? Sri, de OVOA/992 ede 2DURI993, [Série ef de Mao de 1993" On 3 art. 4 da Lt Geral Thburvio refere exprestanene ue a contrib ‘ies espectaisasentam ra obten0 peo sito passive de benefcies ou aumentos de valor ‘os seu ben em rela de obras pblieas cu e rags os ampinio de erga pions (contribncoes de metho x no especial desgaste de bens piblicos ecavionaos plo exerci. ‘deumasasividaces(cntribncdes por motor desta queso cnsirad impos (8) CF Casita Ness, Drea Fiscal, ep 2B &pesivel colher estas pines 2 referdaca a inimeos exempls co noss sistema jurtico que ver ineprando 4 catepoia de ‘ontrbuigesespeciis vidios em cos grupo: 1) as cantibuiges de peimeitageragz0 onde Ss inci oencargo de mas-valas 2) a5 contributes de segunda gerpao onde se inluem 2 Contzbulso especial ineldene sabe o valet dos precios rin, terres para coneragho & seas resultantes da demoliezo de préiosurbans devido&realiagzo da Expo, esi + ‘oneal especial inegente sre over dos pedi ristios,terrenos pare consrugto € Seas esuhantes da cemalgg de predios urbanos dos concelbos beneiciades pies invstimen ‘oseonersizaos mi CREL ea CRILem Lisboa ena CREP ena CRIPo Port Para una pet epg da figura em Espa, vide Mexmo Jana, Conrbucionesexpectaes, Arana, 202, ‘As Taxas e a Coeréncia do Sisteme Tributério dos cidadios ¢ do Estado quando este ihimo, através de algumas inter- ‘vengdes — planificagdo, infra-estruturagao ou criagio de novos servi- {908 -beneficia de forma especial e anormal um determinado grupo (""). Mais recentemente, porém, alguns autores vém fazendo apelo ao reconhecimento de uma verdadeira terceira categoria tributdria au- ‘t6noma dos impostos e das taxas. A sua argumentagéo radica no facto deo art, 165, n° 1, alinea 9, da Constituigdo, referir expressamente 1s contribuigdes financeiras a favor de entidades piiblicas, categoria qual — defendem — deve ser reconhecida, por forca daquele preceito constitucional, identidade propria ("). Para estes autores, as contribui- 6Ges especiais constituem um “tertium genus” de receitas, uma “figu- +a hibrida”, em parte com caracteristicas dos impostos (inexisténcia de uma contrapartida individualizada) € noutra com caracteristicas das taxas (porque visam retribuir um servigo prestado por uma entidade piblica ou por uma entidade dotada de poderes piblicos a um conjun- to de entidades que beneficiam colectivamente da actividade daquela), qualificéveis como “taxas colectivas” ('). Tratarse-ia, no fundo, de uma espécie de tributos bilaterais devidos por um grupo de sujeitos ppassivos beneficirios de uma contraprestagaio homogénea, de cariz.¢0- lectivo, diferenciada e diferenciavel do interesse piblico geral. (7 Neste sentido, Kircnner, Nichtateverche Abgaben.» ct, p ISL segundo © ‘ual consiuem uma esplcie de conlespont da exproprigio por serif, xiginenda um neaquecimento inesperadoe ijustiicado Gs egatibuintes quem 9 dever de "devolver esse Denelica”&comuniade. (0) Neste sentido, Goes Canora! Me tuguesa nota, cit, p, 1095, Catboso & Cost, «Sobre wprnepio Aa onc pp. 80580 ‘Segundo Caroeso m4 Costa, nas piginas antes mencionsds,spuaficlidade tendida coro ceca plies que, no Send taxas em enc caso, do evade para © 8 favor de “entdades pblias de todos os tipes sins da Adminisvagsoestadual seta, regionle local par “estes ls Haanceiamens "Para cte utr, os recite parascais det, sam hoje de poder ser atads como inpoto, dina de arr sentido subrmeté las aoe Aa biltertiade, par, em time terms, reconduaas 2 regime juriic dos imponios oda texas, pois a Pelamentocabers defini um "regime goral” para cae ribuos, fcando ei bert estima erie modulagdeindvduaiznd por simples diploma governamental. Inesmo autor ref sada, em esti iddsic wa gue podemosealerem Gentes Cano € ‘Vinal Montna, qu este dominio nc ae resets couctivascobrades poles cides regula ores para respective fnanciameto 19) CF Genes Cavortio Vira Monza, Consinigde de Repiblce Portuguesa Ano. ad,» 1088 ,Consiig26 da Replica Por dade ds 4 48 Suzana Tavares da Silva (Ora, pela proximidade que apresentam relativamente As taxas, estes tributos t8m vindo a suscitaro interesse de doutrina e da jurispru- déncia, podendo hoje agrupar-se em trés tipos fundamentais: 1) como instrumentos de financiamento de novos servigos de interesse geral que ocasionam um beneficio concreto imputdvel a alguns destinatérios diferenciados (ex. prevengio de alguns riscos naturais) — contribuicdes especiais financeiras; 2) como instrumento de financiamento de novas entidades administrativas cuja actividade beneficia wm grupo homo ssénco de destinatirios (ex. taxas para o financiamento das entidades reguladoras) — contribuigdes especiais parafiscais ("), € 3) como ins- trumento de orientacdo de comportamentos (finalidades extrafiscais) contribuigBes orientadoras de comportamentos ou, como preferimos designé-las, contribuigdes especiais extrafiscais(") A proliferagao destas novas figuras tributérias tem, como vere- ‘mos, geraclo alguns problemas, quer na aplicagao de critérios de justiga c racionalidade na organizagdo das receitas piblicas em geral, quer na delimitagio do “poder de tributar” que o Tribunal Constitucional deve controlar. ‘Segundo de perto os ensinamentos da doutrina alem@, devemos comecar por assinalar a diferenga entre “contribuigdes associativas” (erbandlasten) "contribuigdes especiais financeiras" (finanzrechtli- chen Beitriigen), que assenta no facto de as primeiras se destinarem, sobretudo, a financiar objectivos de uma associagio, mesmo que nio tenham um contetido preciso, reforgando a respectiva autonomia ("), (©) defini, er termes persis, esta categori rbuatria peo Patiamenta & esen cial sepundes os autores, pra aceegraroinancamento das entiddesregladoas Indep tenis # constitu elemento Fundsmetal do regime juriico dak enadesadmiisratvas Independents. Neste sein, Vitas Motena/Fananon MAAS, AttoridodesRegufadoras In ‘Sopendener, Cours Editor, Coimbra, 2008, 1) Fora desta estegeriapso fram a contribuedes para a seguranga social que je deverr er reeondntfat tipo especial de contribuicesespecas de soldariedde, ‘neorporade ro qe reset as cantrbuigoes satisfzer plas entfaces emprepadors opi ‘pi da responsabilidad social das empeess eda parte dos abulhadores uns pestayzo para faciamenta da Segurnca Social com service public de sldariedade —V. Krscn, {hsteurlcheAbgabenn fn Handbuch dee taotreh, Ba V3. 159,<«Finaricruna, ‘er Sonavrscherun, i Handbuch des Statsrechs, Band V,3> ep. 152-145. (C2) Popendemos, stim, para a sulonevncapte dos categoria bute, parecendo -nos hoje desnecesirio continua defender, cm propuha entre as agama doitne, que se aa de "tipo especial de impostos, rset ul-adminintrayao de intereses que, por ‘As Taxas © a Coeréncia do Sistema Tributirio enquanto as “contribuigées especiais financeiras” procuram compen- sar um beneficio concreto imputével a um conjunto diferencidvel de su- Jeitos passivos (ex. “taxa de turismo” — Fremdenverkehehrabgab) (*) Em segundo lugar, devemos distinguir as “contribuicdes espe- ciaisfinanceiras” e as “contribuigdes especiais parafiscais" dos “im- pastos de receita consignada” (Zwecksteuer), na medida em que as primeiras assentam numa relagdo de bilateratidade, 20 passo que os “impostos de receita consignada” seguem 0 regime juridico das recei- tas fiscais do Fstado (™), © requisito da bilateralidade nas “contribuicées especiais” & porém, menos exigente do que nas taxas, pois admite-se que a contra: prestagdo seja potencial ¢ futura e beneficie um grupo homogéneo ou ‘um conjunto diferencidvel de destinatérios. Por tiltimo, a distingdo entre “contribuigdes especiais financei- ras" © “contribuicées especiais parafiscais”, que radica no facto de as primeiras se destinarem a compensar uma contraprestagao concreta (ainda que potencial e futura) de um grupo homogéneo, 20 passo que as segundas propendem a financiar entidades administrativas concretas (caracteristica da parafiscalidade) cuja actividade beneficia ou se des- tina directamente a um grupo homogéneo (*). A diferenga entre estas dduas subcategorias assenta no destino da receita, sendo as primeiras consignadas ao financiamento global das entidades piblicas responsé- ‘essa caro, se deve conser subtcigo no principio da lepaidade sea” Nest eto, CaSaL- “ANAant © deve findemenol de pagar mposis, Amedina, Coimbra, 2008p 232, (©) CE Dotzsa/Vosi/Geassie, Homer Konmenar num Grandgeres (Art. 1040), 1997, pp. 347350. () Sobre esta quest, ¢ important salietar que se sete atualment a confori- dace jrdiceonstuionl deste buts como principio do Estado de direito democtica, esgnadamente, no enide de apuar se se pode ou nioacitar a astonomirapao dem pric lo consticional de neo afc da receta dos imposes, ide, pr todos, ANDREAS M8, ‘Steuerbegiffund Now-Afektationsprinaip, n Deutsches Verwattngebat (DV, 1/2007, pp. 1526-1532, & distinc enue coaibulgdes especie inpastos de rece consignada re forga a diferenga entre categeriastibutiriase paraficalidade. Vela, ence ns, 0 e280 &8 posts (vibtos unser ea bs wes). Consist, numa deiniao element, “ra ulizag io {dos imposos ou as benefiis fica com ocbjectio principal de beng de resultados eco mics e roi, Neste sentido, e para sires desenvolvides,vde Casasra Neos, Pr um Extads Pica Syportvel.Exudos de Dirt Fiscal, Alnedina, Coimbra, 2005, pp. 14 ses. (7) Neste sentido doutrna slena quea etafisealiddehi-d lmitarse elvapso cou redugo do valor ds taxa. CF. Kit, «Nibistevertizhe Abgabens, cp 127 () Knchor ditingue ts tipos e texas entrafieae ou de exrafcaigae seas dus taxa: 1) tas por otrasae (Soumnangebibr) qo constuer aravarontos das Lakes por rho cumprimento da brigages dentro de paz 2) tanas maderadoras(Mbrauchigebidy) ‘ie procram evita o abso an uiliagao de servigs e bens pibics; 3) tavas iimiderériar UUdsclneckungsgebiren) que evtam > deteriorgso do ambiente. O sur tem, perm, oxida ‘ode salintar que estas modal unas tn sempre alguna lag coma existoci de ‘um beneficio indvidulzadoe qu elegiimided da sua wlzago radca na acionaliapto do cess a bons eservgaspblios, CE Kinonor,«ehtstenerche Abgabon, cp 1127 (°] Veja o recente can do set. 13°, 8° 3 do Repulamenta das Casts Processus aprovnd plo DeretosLsi n° 3472008, de 26 de Fevereiro, de acerdo com asutorzno legis va corsante do art 2°, I alien), ds Lain 262007, de 25 de Sn, que prov entrioe ‘e ixago da tata de jai que lonbam er cofsidrago os efitos da “guna em mass", ‘nabelecendo valores mais elevados pura as socedades que aprsester ur Yotume anual de ‘entrada em tribunal, ab ane entero, superior 200 aces, procedments ov executes. Tr teas de um agravamonto a taxa devida pea tliaapto doe servos de justia (esas) por tociedader comercine, qu tm come objective estimular aquels etiades« tlizar meios Serativesderesoluges de Igoe no que repeit eobranga de creo ‘As Taxas © a Coeréncia do Sistema Tributério Admitimos, contudo, que a referéncia legal & uilizaglo da taxa como elemento de desincentivaco de comportamentos hé-de poder al- cangar um eftito itil auténomo no Timitado Ambito de uma “porta aber- ta” para o desenvolvimento de novos “servigos de ambito local” criados em harmonia com o quadro normativo de competéncias e atribuigdes das autarquias locais em matérias como a protec¢ao do ambiente e 0 urbanism, Tais servigos, na medida em que comportem utilidades di- visiveis, podem dar origem ao pagamento de uma taxa calculada, de acordo com os pardmetros materiais antes referidos, a qual, pela sim- ples existEncia, contribuird para desincentivar os comportamentos que constituam o respectivo facto tributario, assim se alcangando, também, uma finalidade dissuasora, Jé.0 n? 2.do mesmo art. 5°, a0 referir que as autarquias locais, podem criar taxas para financiamento de utilidades geradas pela reali- zaglo de despesa piiblica local, quando destas resultem utilidades divi- siveis que beneficiem um grupo certo e determinado de sujeitos, inde- pendentemente da sua vontade, hao-de ter também como correspectivo uum beneficio individualizavel. A utilidade divisivel deve entender-se aqui como sinénimo de wtilidade individualizdvel, i. €, como beneficio mensuravel alcangado por um sujeito passivo determinado, pois se se reconduzisse a um beneficio diferenciado a favor de um grupo caberia antes na categoria das contribuigdes especiais, e, na falta de regime geral das mesmas, acabaria por ser considerado inconstitucional “ ” Suzana Tavares da Silva IIL? Parte O regime geral das taxas das autarquias locais 3. Aspectos especificos da lei que aprova o regime geral das taxas Chegados a este ponto e uma vez explanada a nossa concepgao de taxa, ¢ tempo de passarmos & andlise individualizada de alguns as- pectos da recentemente publicada LRGTAL. 3.1. Os casos de tributagao por maior despesa quando existam utilidades divisiveis: ainda taxa? Em primeiro lugar merece a nossa referéncia a alinea f) don? 1 do art. 6° que, no Ambito da determinagao da incidéncia objectiva das taxas dos municipios, inclui as taxas pela prestacao de servigos no dominio da prevengao de riscos e da protecedo civil. Trata-se, a nosso ver, de um facto tributério dificilmente deter- minével. E menos ainda se 0 quisermos reconduzit a facto gerador do dever de pagar uma taxa, entendido, segundo defendemos, como um bbencticio individualizavel para o sujeito passivo. Vejamos. A prevengdo de riscas & um conceito amplo, que dificilmente pode ser recortado como atribuigo municipal. O risco compreendido no contexto da sociedade de risco a que se refere a doutrina alema (") identifica, grosso modo, com o potencial de danosidade resultante (0) Uenen Ben, Rsibgeelchf Auf dom Wg a ine andere Moderne, Tad Expanhola La rociedad del erg, Haca una nuevo modoridad),Eaiiones Pais Ibi ‘fs 1998, Renato His, Democracy, Risk, and Community, Oxford Univers Pres, Oxford 19; Nintat Lana, Sorologe der Riser, Walter de Grate, Ber, 1991. Horruame Verahrenprivaiierang alt Modenilerang, in Verfahronsprivatistera im Uno recht (rig), Noo Verlagagselechal, Bader Baden, 1996p 0, erte nb, Cates Abs 0 Gowes, Rico « modiicagdo do acto antorizaive conereizader de deveres de proecg20 do ‘ambiente, Coimbra Editor, Coimbra, 2007 ‘As Taxas ¢ @ Coeréncia do Sistema Tributdrio das novas tecnologias avaliado num horizonte relativamente longinquo eno quadro de uma responsabilizagto pelas geragdes futuras assumida plas geragdes actuais. Trata-se, portanto, de uma atribuigdo das gera- es actuais, ndo identificével ou recortavel segundo niveis de hierar- ‘quia ou repartigao circunscricional de poderes. E, todavia, possivel isolar alguns “riscos ocasionados pelo tipo de actividade exercida” (""), 0s quais poderdo dar origem ao pagamento de uma taxa nos estritos casos em que, por forga destes riscos, a autar- uia seja obrigada a criat um servigo especial para diminuir 0 impacto dos mesmos e esse servigo origine beneficios individualizéveis ("), Veja-se, neste sentido, 0 gravamen catalin sobre instalaciones de riesgo (sibuto que incidia sobre instalagdes de risco situadas no ter- ritério catalio como centrais nucleares, barragens, aeroportos, gasodu- tos, etc) que o Tribunal Constitucional espanol néo declarou incons- titucional, tendo entendido que se tratava de um tributo nio de eardcter ccontributivo, mas antes retributivo, na medida em que o céleulo néo

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