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Quaestio luris vol. 10,02 Rio de nv, 2017. pp. S.S79 DO 1012957/j201722020 EQUIDADE ENTRE A JUSTIGA E A POLITICA: A VERTENTE CASUALISTA Roosevelt Arraes! Resumo artigo versa sobrea equidade, a qual éentendica como recurso do intérprete contraa lei eo precedente. A partir da investigagio de textos doutrinirios, de decisoes judiciais e de normas do direito brasileiro, a equidade ¢ apresentada sob duas perspectvas, a casualista e a abstracionista. Anaisa-se a vertente casualista, ndicando e cexempliicando as hipéteses em que as Cortes do pais aplicam-na.Alguns precedentes do STF demonstram quea equidade pode ser mais iniqua que as decisdes traicionais. No entanto, argumentos conduzidos de maneira ‘mpatcial,ustiicdveis publicamente, podem melhorar a qualidade do julgamento por equidade,tornando:o mais razoivel paraasolugio de casos difces. alavras Chave: equidade,justica, vertente casualista, ustificagio,razoabilidade. INTRODUGAO ‘A tomada de decisoes por equidade ¢ tio antiga quanto o surgimento do direito. O rei Salomio viu-se ‘numa situacio dificil ao ter que decidie sobre a maternidade de uma crianga, endo que ser criativo para encontrar a melhor solugao para caso concrete. Os pretores peregrinos, na Roma antiga, a utilzavam para construc solugdes em confltos que envalviam cidadios romanos e estrangeiros® Na auséncia de regras inovavam com. {rrmlas que se tornavam paradigmas para a decisio de outros casos, “Modernamente, com a crescente influéncia do positivismo légico jurdico, a equidade perdeu seu prestigio praticamente caiu em desuso, em razio dos pressupostos da infalibildade do legislador eda capacidade cognitva do intéxprete de desvendar enunciados normativos. Estes pressupostos alii, caracterzam os Estados de Dircito ocidentais do sec. XX, especialmente os vinculados. tradigao ei law No entanto, o funcionalismo juridco postvista passou a evidenciar suas limitagSes a partir de meados do século passado, em raxio da incorporagio de valores, principios e cliusuas gerais nas declaragSes internacionais de direitos e nas Constituigoes. " Doutorando 2016) em Flosoia Juridica e Politica pela Pontificia Universidade CatSlica do Parans. Professor pesquisadr do (Centro Universitiio Curitiba - UNICURITIBA e menbro- pesquisador do Departamento de Filosofia na Pontificia Universidade Catia do Parand E-mail: araes@azeadvbr ol 10,n°,02,Riode aneio, 2017. pp.$60-579 $60 Quaestio luris vol. 10,02 Rio de nv, 2017. pp. S-S79 DO: 1012957/j201722020 E neste espago que a equidade se reinsere, ainda que de forma timida (As vezes,implictamente), pois, hi certa relutincia na sua aceitagio, Este artigo objetiva apresentar uma das vertents (a casualista) que trata do tema, procurando mostrar ue o emprego da equidade é necessirio e que os riscos paraa seguranga juridica podem ser equacionados em parte, Néo se ignora que da equidade pode resuktar decsses arbitrrias (do campo do Politico)", mas, a opcio contrria (a insistencia na aplicagzo de uma regra ou precedente pré-existentes) pode ser igualmente polémica ¢ snadequada parao caso concreto, O texto estédividonnos seguintestopicos: 4. Apresentagio inicial das acepedes da equidade,na qual se farsa distingio entre a vertente casualista (que prioriza a construgao das solugdes a partir do contexto do aso concreto) ea vertente abstracionista (que ptiorizaaconstrugdo da solugdo a partir de uma teoria geral sobre ajustica; '. Caracterizacio dos pontos comuns deambasasvertentes; cA indicagso das hipsteses de cabimento e a exemplifcacio de casos em que as Cortes brasleras aplicaram aequidade; 4. Ponderagaes sobre a forma de produzir argumentos equitatives justifciveis publicamente. A metodologia empregada para a confeegio do artigo pautou-se na investigagao de textos doutrnarios, de precedentes e de normas do dirito brasileiro, Tais elementos serviram de suporte para as consideragées formuladas sobre o tema investigado. ACEPGOES DA EQUIDADE A cequidade estinatitima fronteia do dreito, Nea encontram-se os elementos juridicos, concernentes & imparcialidade, a regularidade ¢ consisténcia argumentativa. Ou seja, quanto a forma, a equidade ostenta atribatos préprios das normas juridicas: Mas, nela também esti presentes elementos extrajuridicos, os quais ante apretensio de se fazer valera justia, a razoabildade ou 0 bor-senso, muitas vezes ocaltam o caritr arbitrério de ‘uma decisio que desvia da ei ou do precedente. Nos confins do direto, li onde © campo do Politico se arvora é que se encontra a equidade, um campo #0 dieito romano tina regs para as relages juridcasestabeecidas entre eidadios (jus cine) e regres para os exteangetos ius _gentiam). Quando se travavam relagSes entre cidadioseestrangetos,cabia a0 pretor peregrno consti soles rativas para © colt Toda deciso equitativa¢ em aiguma media poica, no sentido de ser dscricioniria Ais é dxcriciondra mam sentido expecta, pois equiale& discrcionaiedade do legisacor. Como afirma Perelman, © magistrado € 0 legilador do caso concreto. Mas, ma decisio dscrcionsia (politic), que implica numa escolha valrativa mio precisa ser aries, volando a ordem juries exstente dde mancia a tomi+lsinsuporevel como os comands de um ditador mum estado de excegio (campodo Politico) sol 10,n°,02, Rio de aneio,2017.pp.S60-579 S61 Quaestio luris vol. 10,02 Rio de nv, 2017. pp. S-S79 DO: 1012957/j201722020 duplo de juizos ¢ argumentos que flerta com o decisionismo*. Nesse sentido, o contetido do juizo de equidade nio épreviamente defnivel ou delimitive. Noutros termos, ante sua pecularidade, nio é posstvel defini-la por oposicio, contraste ou negacio. E quando cla se define internamente, nio ha nenhum critério (te6rico, objetivo, juridico ou politico) a validi-a de ‘manera absolutamente neutra Apesar dessas dificuldades,¢ possivel tragar um panorama da equidade a parti do. modelo tesrico ou do procedimento argumentativo que se emprega na solugio de casos dificeis, 0 que permite, senio uma resposta defintiva sobre © problema do decisionisme, ao menos aponta alguns limites & atuagio dos jurstas, dos administradores pblicos e dos cidadios envolvidos na discussio das regasjuriicas. ‘io duas perspectivas que aparentemente se contradizem, mas por fim se complementam. Ela nao sio totalmente independentes, mas a0 menos num plano mais abstrato é possivel distinguilas Seria possivel sugeriroutras acepgdes para a equidade, mas as apresentadas a seguir parecem organizar de ‘maneira adequada duas grandes linhas do pensamento politico, floséfico ejuridico que tata do tema. Uma lina tome a equidade a partir de casos concretos e,a partir deles procura ter uma visio maisampla da justia. Esta lin, que remonta a Arstoteles e aos jurstas do dieito romano antigo, chega a moderidade, por cexemplo, pelo pensamento de Chaim Perelman, Essa vertente & mais atenta 8s peculiaidades do caso concreto, porém, enfrenta séras dificuldades de aplicacio num plano mais amplo, sendo, por isso mesmo, acusada de falta de objetividade e imparcialidade, o que revelaria seu carstr arbitritio e excessivamente Politico. Esta € a vertente de “casuals ‘A outta vertente toma a equidade como um modelo mais geral e abstrato, que orienta as instituigdes iis relevantes da saciedade, para, entio, verifcar sua aplicabildade em casos concretos. Nessa linha, tém-se as construgées teéricas de contratualistas hiberais modernos, como John Rawls, que intitula sua teoria de “justica como equidade" Ao passo que esta vertente oferece um panorama institucional orientado para um fim espectico, que no entender destes autores seria menos arbitririo, ela tem dificuldades na solucio de casos paticulares mais complexos.Fisa vertente de “abstracionist ‘Tais vertentes dividem a atengao de juristas, politicos e fldsofos de maneira inconcilével,¢, a questi parece no estar perto de ser resolvida. Todavia, conforme se argumentaré seguir, ao definir 0 Ambito da aplicagio de cada qual, é passive senio resolver o problema a patir das fundamentos, 20 menos justiicar porque podem oferecer respostas menos atbtririas aos problemas juridicos-politicos das sociedades: democriticas modernas * Nese sentido afrma Catl Schmit: “Cada decision jardicaconereta contiene un elemento de indferenca con rspecto al contenido porque la conclusi juridica no emana en su totaldade de sus premisasy el hecho de ser neces a decision se conserva como elemento determinanteauténomo” (SCHMITT, 2004,p.90). ol 10,n°,02,Riode anei,2017.pp.$60-579 $62 Quaestio luris vol. 10,02 Rio de nv, 2017. pp. S-S79 DO: 1012957/j201722020 PONTO COMUNS ENTRE A VERTENTE CASUALISTA E A ABSTRACIONISTA. ‘Tanto a vertente casualista quanto a vertente abstracionista entendem que a equidade nao éa legalidade positivada num ordenamento juridico. A equidade é uma forma de justica melhor que a justiga legal Como afirma Aristételes, a equidade nao é o justo segundo lee sim um corretivo da lei, isto porque “toda lei é de ordem geral, mas nao € possivel fizer uma afirmagio universal que seja corzeta em relagio a certos casos particulars” (ARISTOTELES, 2001, p. 109). [esse ponto faze necessiria uma abservagio, porque, a legalidade também pode ser entendica como um conjunto de comandos normativos nao positivados, ou, mesmo que positivados, fundada em principios racionais de carster moral, que estabeleceriam um parimetro para completude do direto posto (legalidade). Exemplo dessa perspectiva encontra-se em Kant para quem a equidade nao passa de um engano, isto porque, para um sistema jurdico racional, derivado de imperatives moras formais (a prio), que formatam © direito, no é possivel outra opcio de juizos de valor. © pensamento kantiano trabalha com os binémios moralidade-imoralidade,legalidade ilegalidade, licito-iicto, e,nestas dualidades nao hi espago para uma tercera categoria (do razodvel’, do equitativo). Dat a afirmagio de que a equidade nao passa de um erro, pois néo se amoldaa quaisquer destas categoria, no passando de mera opiniao subjetiva do magistrado. “A equidade (consideradaobjetvamente)nio é de modo algum, uma base para meramente intimar outrem a cumprir um deveréico (ser benevolentee bondoso). Alguém que exige alguma coisa apoiado nessa base ao contrvio, se funda em seu dieito, poréen, no possui as condigies necesiras a um juir para determinar em quanto ou de que mancia sua reivindieagio podera se satiseita (_) A aivisa (dictum) da equidade é:'0 dreto mais estrto € a maior injusiga (summun ius summa iniuria). Mas este mal nio pode ser remediado por meio do que é estabelecido como dito, embora digarespeito a uma reivindicagio aum dicito, pos esta reivindicagao pertence apenas a tribunal da conscincia (forum poi), a0 passo que toda questo do que é estabelecido como direito tem que ser apresentada ante dizeito civil (forum soli)” (KANT, 2003,p.80:1) Apesar da oposicio kantiana, no sentido de que casos particulares no devem ser tratados de maneira diferente, nio se pode negara forca e a aplcabildade da equidade, notadamente num ambiente epistemol6gico pos modemo que critica os contetidos juriicos fundados “na teologia da histéria, na constituigSo do homem ou no fundo casual de tradigées bem-sucedidas” (HABERMAS, 2003, p. 19), porque nio produzem valores uundnimes © objetivo mio é de aprofundar este tema (relacionado & pretensio de superagio da flosoia do sueito), 5 posivel extra da obra de Kant ideia do “raze” fo gue afma Rawls quando aponta que oimperativo categérico é uma forma dese acionar de tal maeira que o agente compatiiize os seus fins com os ins das demas pessoas Noentanto,o"razoivel” lantiano esti apenas no plano teérco, Uma vez estipulado um dever (presumidamente rzoével) nio hd espago para outta imterpretagio do quese deva (ou ndo) fier. Diferertemente a cquidadeaplicao “razivel” num easoespecico oL10,n°,02,Riode aneir,2017.pp.$60-579 S63 Quaestio luris vol. 10,02 Rio de nv, 2017. pp. S-S79 DO: 1012957/j201722020 bastando retomara discussio de Kant sobre o dirito de fant’ sobre funcio da culpa eo dieito de pani, para pereeber que o resultado de sua constragio teériea (fandada a partir da perspectiva do sujeito racional) no & incontroverso nas sociedades contemporineas, que aceitam o pluralisma moral, rligiosa efilosico. Noutros termos, a visio unitiria da moralidade (e do direito) das filosofias do sujeito (a exemplo da kantiana) nao sio suficientes para oferecer a pretendida completude ao dieita Por conseguinte, toma se inevitvel a discussio sobre aap io da equidade. Pois bem, como afirmado anteriormente, ha uma ideiageral, a0 menos entre aqueles que a defender, de que a equidade & melhor que o justo legal. Obviamente, aqueles que defendem a aplicagao da equidade mum sistema juridico nio esti sereferindo a um modelo perfeita de regras,como pretendia Kant. Ao contrio, os que admitem a aplicagao da equidade reconhecem que mesmo num ordenamento juriico, com regras clara, objtivas e vinculantes podem surgirarbitrriedades e resultados iniquos em certas circunstincias. ‘Tanto caswalistas, quanto abstracionistas pressupem um ordenamento juridico incomplete, falho, sujeito a revisdes (nao s6 pelo legislador, mas por todos os atores das insituigdes publica, especialmente os do Judicivia), que jamais alcangaré seu objetivo slim, qual sea, tomar-se um sistema de regras que, apesar de complexo, produz respostas verdadeiras sobre o que élicito/ilct. ‘Como afirma Francisco Cardozo de Oliveira: ‘A origem da insuficiéncia, portanto, nio estén conceit. (..) Os limites do conceito resultam em iltima andlise dos obsticulos que impedem a emergéncia da verdade e da justiga, na realidad socal ehistérica do presente.” (OLIVEIRA, 2006, p.269).” Esse pressuposto cauteloso sobre a forga explicativa de um ordenamento juridico nao autoriza dizer que 0 defensores da equidade negam valores como o da seguranga ca, 0 respeito aos precedentes, legalidade a separagio de poderes. Na verdade, para eles, tais valores nio sio absolutos e podem ceder espagos a consideragdes dejustiga, que implicam num desvio intepretacao tradicional da regra positvads,¢, por evidente, ‘num redimensionamento de forgas entre aqueles que se encarregam da criacio e da aplicagao do direito. A pretensio de completude do ordenamento juridico também & compartilhada pelos que recorrem 30 uso da equidade. Mas estes reconhecem que o ordenamento jurdico 6 passivel de inconsisténcias, nio restando * Segundo Kant: “Ano semua natural oor ou de acordo.com a mera natreza anima (aga fibido,vinus valiage fomicatio) ude acordo com lei A unio seal deacon com aleié casamento (matrimonim), sto & a unio de dus pessoas de sexos cleentes para a posse por tods a vida dos atrbtos senssis recfocos” (KANTT, 2003 p. 122) Tal visio do casamenta defendida por algons grupos rebigiosos a atualidae est long desea tnica forma de no protepca plo Estado, Dai polémica sobre os, cooceitsjurdicos extras da Slosofa moral kantana No mesmo sentido, tem-seo segunte comentiio do Min. ros Gray, do STF, na ADI ne 2240/BA: “A ADI que tems sob jilgamento compreende nio apenas 0 pedido de dechragio de inconsttcionaidade de uma lei, mas. também inconsitucionalidade, institucional, de um ente da federagi. Ese caso nio pode ser examinado no plano do abstracionisne ormatiista, como se devéssemos prestar contasa Kelsen eno uma ordem conereta”(p. 1S) oL10,n°,02,Riode anei,2017.pp.$60-579 S64 Quaestio luris vol. 10,02 Rio de nv, 2017. pp. S-S79 7220 alternativa sendo socorrer-se de mecanismos racionais para adequislo e conformé-lo ante as. provaveis (incvitaveis) perplexidades decorrentes de complexas operagiesjuridicas Noutros termos, para ambas as vertentes (casualistas e abstracionistas) o fato de um ordenamento juridico prever (ou nao) a aplicagao da “equidade’, como se pode extrair dos arts 4° e 5° do Decreto-Lei n? 4657/42 (Lei de Introdugio as Normas do Direito Brasileiro), é indiferente, porque independentemente de previsio expressa (seja cl de carster constitucional ou infraconstitucional) 0 resultado & o mesmo, ou soja, a “equidade'” é inerente ao ordenamento juridico e tem aplicaséo, ainda que de maneira implicita.? De toda forma, 0 uso da equidade ¢ reconhecido no direito tributirio (art. 40 do Decreto ne 70.235/72), no direito administrativo, conforme se extrai do art. 2, Il, VI e XIII da Lein. 9784/99, no direito do trabalho, em razao da notéria atuagao crativa dos magistrados, especialmente em dissidios coletivos, conforme autoriza o art. 114, §2° da Constituigao e ne nove Cédigo de Processo Civil (Lein. 13.105/2015), que no art. 140, parigrafo nico, traza possibilidade de aplicagao da equidade quando houver autorizagao legal” Esse desvio as regras positivadas, e a consequente necessidade de construcio de decisdes equitativas, € cada ver mais frequente (¢ polémica) no Poder Judiciéio, o qual, invocando principio e elsusulas gerais da Constituiga, por vezes parece substitiro legistador ou o administrador pblico eleito democraticamente Sem ingressar nesta polémica, importam destacar os pontos de convergéncia entre as vertentes indicadas, quais sejam: 2. Pressuposigao da insuficiéncia do ordenamento juridico; bb, Apossbilidade deaplicagao da equidade, independentemente de previsiolegisativa; Amitigagio da forga dos institutos clssicos do ditto. A soguir seri analisada avertente casuals A VERTENTE CASUALISTA A vertente casulista, como sobredito, enfoca os casos concrets,¢, partir de circunstincias especiais * Nese send: “A equidade, que se identifica com a razoabildade, com a proporcionalidade e com a veda do excesso, pode € deve estar presente em toda deciso judicial independentemente de have autorzago expressa em Lei” (VARGAS, 2015,p. 89) ® Obviamente, que a posisio daqueles que acreditam na completude e perkeisio do sistema jurdio, afirmando que suas dculdades nao autoricam emprego da equidade,insistisio que na auséncia de positvagio da “equidade” nio poderd o -maggtrado dels se valer. Tal polémica no ¢ passive! de solugo porque ests assentada em crengas racionais de cariter pessoa em ‘categorise concitos que procaram mostrar o ero das corentes opositoras. Como ato de crena (on como "pressuposto” para cutlzarum temo mais vinculado pretensto de verdad), assume-se, para fins argumentative, que aincompletude do dieito Eu, fato, por canseguintsaequidade uma formade superi-ls.de manera menos sbi. "A previsio income em petcio de principio, porque supoe que a legalidade(incompleta) pode descrever (de maneira completa) © aso.em que aequidade poderd ser utizada No entanto,€0contzirio que sed Ou sea éjustamente em razio da incompletude dale, que se invoca a equidade. E, por iso mesmo, nfo pode ale, na sua incompletud, pretender delimitar ax hpéteses de oL10,n°,02, Rio de anei,2017.pp.$60-579 S65 Quaestio luris vol. 10,02 Rio de nv, 2017. pp. S-S79 DO: 1012957/j201722020 identifica os limites do ordenamento juridico, ou se, 0 caso em que a legisiagio e os precedentes conhecidos nao io capazes de oferecer uma resposta satisatéra, Nao é que os casualistas desprezem 2 seguranca juridica, Na verdade, eles a prezam, porém, sem hiperdimensionsla, Ou soja, enquanto as regras e precedentes oferecem respostasrazoives, eles continuario a ser utllaados. No entanto, quando eles se encontrarem em situages limites, afista se a seguranca jurdica para se construir uma nova solugio para 0 caso concreto, que também devers, doravante, ser aplicada com seguranga juridica, Acequidade é um recurso do juiz (do administrador piblic e dos demais intéxpretes) contra lei que se aplica nas seguintes hipoteses: “apelase ao seu senso de equidade quando ali, aplicada rigorosamente, em conformidade ccom a rega de justia, on quando o precedente, seguid a letra, condazem a consequéncias iniquas. sso pode se explicado por trés razSes: a primeira, aquelaa que Aristételes aude, 3 cobrigasio de aplicar alia um caso singular, no qual olegislador ndo pensara; a segunda se apresenta quando condigées externas, fais como uma desvalorzagio da moeda,uma guerra, ou catistofe, modificam tanto as condigbes do contrato que sua execugzo estita lesa gavemente uma das pares «teria se deve & evolugio do sentimento moral, do que resulta que certasditingdes, que olegiladr, ou 0 jiz que haviaenunciado o precedente hhavia menosprezado no pasado, se tomam essencais na aprecagio atual dos fatos” (PERELMAN, 1996 p. 163) Alguns exemplos podem ilustrar a maneira como se invoca a equidade para resolver casos diffceis, ou sejaaqueles em que as respostas necesstam ser construidas pelo julgador (magistrado ou administrador pblico). Una hipétese de pecularidade do caso conereto, que autoriza um desvio & regra de justia ou a0 precedente, pode ser identificada na decisio proferida na Apelagio/Reexame Necessirio n° 612631 do TRF da 2+ Regio’, na qual se discutiu a possbilidade de somente candidatas do sexo feminine participarem de concurso publico parao cargo de psicéloga para atendimento a mulheres vitimas de violncia A comsiderat as disposigbes do art, $9, e Il e/e 37, 1, Ie XXI da Constituigio a resposta a ser dada a0 caso concreto era de que, inexstindo regra especifca, deveria prevalecer a isonomia entre homens e mulheres, de ‘maneita que também os homens poderiam partcipar do concurso piiblico. No entanto, invocando a razoabilidade”, o Tribunal Regional Federal da 2 Regido entendeu que, diante da peculiaridade do caso concerto aplicaio da eqidade, Seria o mesmo que dar por resolvidoo paradox de Zeno, de supor que ofinito (a previsio legal) pues apreender oinfrito (os casos concreos nos quis se fr necesiria a equidade), "TRF, Apeassoy/ Reexame Necesiro 612631, Rel Des. Carmen Siva Lima de Arenda,6# Turma, E-DJF2R 07042014 "0 precedente analisado referee ao: "(.) evtro bastante razosvel dada as pecularidaces do cargo destinado a complerentar cstutura do Centro de Referéncia de Atendimento 4 Mulher em Situagio de Viena, drgio interante da referida ‘Coordenadora, nostermas do reerido diploma legal sen forgoso recnhever nesta hipstes, tatamento diferencado, sem que sso impliqueofensa ao principio dasonomia 6 Fm que pes a Lei nio ser explta no que lange 3s especifiidades do cargo de psicélogo mormente em relagio 20 atencimento a mulheres vitimas de violénca, ce andise sstestica de seu texto, € possvel depreender que 0 objetivo do leisador fi criar uma estraura organizacionl administrativa lgada a Prefitra para preiago de atendimento e auxio a mulheres er situacio de rico, especialmente quanto a questo urdicas, psicolfgiase socas”. Hd uma severa dscussio sobre qualifcar-se a razoablidade como equidade, ox, como proporcionaldade (em sentido extit, como oL10,n°,02,Rio de aneio, 2017. pp.$60-579 $66 Quaestio luris vol. 10,02 Rio de nv, 2017. pp. S-S79 7220 (concurso pablico para atendimento de mulheres vitimas de atos violentos), impunha-se desviar da regra de justiga (isonomia) para aceitara diferenga excepcional entre os géneros.> {Uma hipétese de catistrofe, ou, momento de abrupta crise que pode ensejar a modificagao da regra de justiga, € encontrada no julgamento do Recurso Especial n° 437660, que enfrentou a discussio sobre a possibilidade de revisio de clusula de contrato de easing que previa a variagdo cambial para fins de correo das, prestagoes No mesmo sentido, tém-se os seguintes precedentes do SJ, todos envolvendo a necessidade de se reconstruir as regras contratuais: AGA 449.457, AGA 446464 e REsp 343.617. Em alguns destes precedentes hi a invocagio do Cédigo de Defesa do Consumidos, o que poderia levar a crer que a Corte nao teria aplicado 2 equidade. ‘Todavia, o que ha de destaque nos referidos precedentes & que, diante da grave crise inanceira pela qual passou o pais em 1999, os contratos indexados pelo dolar (esta era a regra de justia que; aids, até aquele ‘momento, era favordvel ao consumidor) deveriam ter suas regrasalteradas. Ou seja,a Corte reconhece“A sibitaakteragio na politica cambial, condensada na maxidesvalorizaga0 do real, ocorrda em janeiro de 1999° que “criow a drcunstincia da onerosidade excessiva, a jusificar a revision judicial da cltusula quea insti’ Daf decorreuaatuagao da Corte,a qual substituiu a vontade das partes, erceba se que se nao houvessea crise, e,algum consumidor inadimplisse suas obrigagbes,é provavel que inexistisse discussio sobre o seu dever de hhonrar 0 contrato na forma pactuada, a qual, repitase lhe era fivorsvel ‘Mas, diante do evento excepcional, a Cort foi obrigada a ponderar que nio sera justo exigi que uma adequasio e como necessidade da providéncia concreta). Alguns ass negam que os conceitossejam uma mesma coisa. Os julgados anasados valem-se da equidade ora sob 0 signo “azoabiidade’, ora valendo-se do termo ‘proporcionalidade’, n30 havendo uma conclsio dfintiva sobre a nomencatura " Embora para alguns paeca desnecesiriaadiscussio aerca da possibilidade (e das limites) de aplcagio da equidade, nao se pode gnorar que sua reigdo pode justice slugtesjrdicas no mirimo polémicas. Bo que se verica nos precedents ababo colaionades, que aplicaram rgras arbitra (sem qualquer consideragio de equidade) para imped que mulheres (no século XX) paricipassem de concuso pablico. Ou sea as mulheres nio eevindcavam uma vaga especial ou um tatamento dlerencado (mais vantsjoso) no concurso.Elas gusiam, simplesmente, patipar do concurs. No entanto, embora pudessem volar © participa a vida pba (ainda que de maneira not intens, tlie hes fi negado em azo da aplcago da ei (ra fe, sed ie), Ness sent, tes se 0s seguintes precedente: STF, RE 89534/PR, Rel Min, Décio Miranda, 2+ Turta j.2904 1980, DJ 1605.1980, p. 3486, Ement. VOL 0117-02, p. 405, (STF RMS 8783/SP, Re Min. Antonio Vilss Boss, Tabunal Pleno,j 30081961, D] 6.101961, Ement. vo. 479-01, p. 262), Por outro ldo, na linha dos precedentesanterormente apresentados, também encontram se decises interessante sole o tipo de profissio que poderia ser exercido somente por um dos eros sto cm razio de aplicago literal dae: “Partita ptca So pessoa do sexo feminino pode exerce essa profs, pode inscreverse em, provas pablicas de habiitao para obter 0 certfcado, o diploma de referénca, Consitucionalidade dos ars 1,7, 12¢ 13 do decretolei a? 8778, de 1946" (STE, RMS 9963/PR, Rel. Min. Gongales de Olivera, j 2811.1962, Tribunal Pleno, DJ 17.12.1963, p. 4448, Ement. Vo. S66-02,p. 702). © que importa persber nesta reflexdes€ que ale tanto num caso, quanto outro, éapicad sem consierasdes de equidade. ST), REsp 437660 Rel Min Savio de Figuscedo Tetra, 4"Turna, D} 05052003, p 306, RDDP vol 6 p. 111, ST vol 168, 40. oL10,n°,02, Riode anei,2017. pp.$60-579 $67 Quaestio luris vol. 10,02 Rio de nv, 2017. pp. S-S79 DO: 1012957/j201722020 parte arcasse com encargos excessivos que a empobreceriam significativamente, isto sem que 0 credor the oferecesse alguma contrapartida, Por outro lado, o Superior Tribunal de Justiga podera simplesmente ter convertido 0 valor do contrato cem moeda nacional e determinar que o consumidor pagasse este valor sem qualquer corregio monetitia ou remuneragio pelo capital emprestado (jf que os contratos nao traziam esta sistema). OST}, porém, ponderou que nao sera razodvel impor as perdasinflaciondrias is insttuigdes financeiras, que possibilitaram a satisfacao da necessidade do consumidar por meio do fornecimento do crédito. E tal crédito, além de atuaizado monetariamente, ceveria ser remunerado (juros) isto para que houvesse- "a distibuigia, entre arrendantes e arrendatirios, das énus da modificagso sibita da politica cambial com a sgnilicativa valorizagio do dolar americano.” Assim, repitase, diante da situagio excepcional, a Corte foi obrigada a construir uma solugie (meio termo) a fim de que nena parte entiquecesse indevidamente, em detrimento da outra, ou que sofresse perdas excessivas sem que nada lhe fosse proporcionado como contrapartida. Como sobredit, trata-se de uma situagio extraondinéria na qual a legislagdo, por si s6, ndo poderia fornecer uma tnica resposta verdadeira para 0 caso concreto, de maneira que nao restava 3 Coste, senao desviar das regrasaté entio valida, para construir outrasolugio (equidade) Uma hipétese de alteragio do sentimento moral da sociedade'* sobre um tema juridico pode ser percebida no voto do Ministro Ayres Britto na ADI ne 4277 do STE, que versou sobre o reconhecimento juridico da unite homoafetiva © Ministro firma, inicialmente, que a palavra “sexo” aparece na Constituigio “para emprestara ela 0 nitido significado de conformagao anitomo-fisioldgica descoincidente entre o homem e a mulher.” No entanto, sua argumentagio evolui para evidenciar que o referido termo também tem outros sentidos que se referem aos “dominios do instinto endo raro coma prevaléncia dele no ponte de partida das relagdes afetivas” ‘Appar destas premissas o Minstro passaa desenvolvero segundo sentida do termo, para afrmar que: “se as pessoas de preferéncia heterossexual s6 podem se realizar ou ser flizes heterossexualmente, as de preferéncia homossexual seguem na mesma toada: s6 podem se realizar ou ser felizes homossexualmente.” ™ Acxpressio “sentimento moral da sociedade” é muito vagae evanta sis questaes sobre quem estaralegtimado para dizer que sociedad, como um todo, deve interpreta uma questo important de um eto ou de outro. Numa democracia seria de esperar aque tais questées fossem decididas pelos mecanismos de represetagio © de paricipagio popula. Exte era 0 objetivo, exemplifcatvamente da PEC 37. Todava também hi uma profinda polémica sobre quasassantos podem se submetidosa este tipo de conteoe social Furs seo resto da polémica «invocase exemplo da unido homoafetva, para o fim de exempliicar mais uma das hipéteses da aplcagio da equiade, sem polemizar sobre como devera ser apreenddo o “sentimento moral da sociedad’ se por mein deinstncias majoritrias (ex: Legislativo) on contramajoritrias Judicio), "ST, ADI4277/DF, Rel Min Ayres Brito, Tsloural Plenoj 08052011, DJe-198,p. 14102011, Ement, Vl 02607-03,p. 341, RT] vo. 00219, p 00212. oL10,n°,02,Riode anei, 2017. pp.$60-579 S68

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