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i cr $i | ticouenct » IM leitor das revistas desta Editdra, o jovem Tercitio Goes da Silva, da Av. Joana Angélica, Salvador, Be., esctevenos para protestar contra a publicagio que certa revista de sclegoes estrangeiras f€z, no més de setembro, de um artigo intitulado “Roteiro para a aelingiiénci “Imagine 0 prezado diretor — diz 0 Tercilio — que 0 csctitor é norte-americano © cita casos em que as histérias em quadrinhos transformaram jovens em mulfeitores. Diz fambém que nenhum mening que lea um elissico em quadrinhos, se interessou, mais tarde, ‘em ler 0 proprio romance. Eu acho que 0 autor désse artigo pode estar certo 14 nos Estados Unidos, mas aqui oo Brasil as boas revistas em quadrinhos desenvolvem o interésse pela leitura ¢ até pelos estudos. Acho também que-o autor de “Roteiro para 2 delingiiéncia” munca pegou tuma revista da Editdra BrasilAmériea”, Sx freqiientes os ataques, em todo o mando, as historias em quadrinhos. A acreditar ‘no que dizem delas muitas pessoas, so as historias em quadrinhos as tinicas respon Siveis por todos os roubos, todos os crimes de morte, todos os suicidios; pelos assalos & mao armada, ¢ até pelas guerras. Esquecem-se essas pessoas (que as vézes se fizem passar gratui tamente por “autoridades” no assunto) de que, antes da existéncia das histérias em quadrinhos id havia Toubos, crimes de morte, suicidios, sssaltos a mao armada, fumadores de dpio, e, até mesmo, guertas. .. ‘Um dos fatos ‘mais curiosos ¢ que as histérias em geral — “as historias em quadrinhos nao prestam’ hist6rias em quadrinkos fazem mal ‘as criangas’; “as historias em cuadritihos desedu Tso dizcm aguéles que jamais pensatiam em dizer: “Os remédios vicitm” (pois nio ¢ 0 épio um remédio, assim como a penicilina ou o iodo?) ou “a pintum € imonl” (no hd quadmos de grande imonlidade? ) bu “a literatura deve ser'abolida, por ser indecente” (quantos livros altamente imorais tém Sido publicados? ). Realmente, hd remédios que, usadot indevidamente, viciam. Hi quadros imorais. Ha livros indecentes. E também hd historias em quadrinhos que ndo prestam ¢ que podem, realmente, exercer md influéncia em quem as ler — seja 0 leitor crianga ou adulto E sio justamente essas mds histérias em quadrinhos que langam sbbre tOdas as outras a pecha de “perigosas”, “imorais”. ow “preindiciais 2 infincia” Hi muito 2 EDITORA BRASIL-AMERICA LIMITADA vem fazendo uma rigorosa selecio dis historias que publica; primeiro, damos grande atencio ao contetido da historia, ata nos assegurarmos de que nada haja nela que posse, de qualquer forma, ser considerado exaltagio do Mal e diminuigio do Bem; nenhum transgressor da lei é jamais apresentado pot hos como personagem heroito ou digno de respeito. Pelo contrério, fazemos sempre questo de frisar a verdade, chamando a atengio para a sordider e o futuro negro daqueles que nao Se -enquadram na Sociedade e nao Ihe respeitam as leis e a orzanizacio. Depois — em se tratando de narrativas de fundo hist6rico-— procuramos sempre conservar-nos estrictamente Aentio da verdade histérica. E'sc, por caso, publicamos algum romance de fundo histérico, maz que nio seia veridico em sua totalidade, chamamos a atencio pan ésse fato, a fim de que os leitores nio julguem que uma obra de ficcio sea uma narrativa fiel de fatos realmente passados. ‘Alem de tudo isso, dimos grande importiincia 4 questio da linguagem usada nas nossas publicagdes — no s6 no que diz cespeito so uso de palaveas menos. delieadas (que nfo entram, em absoluto, em qualquer dis nossas revistas), como também no uso do portugues, que fazemos questio seja 0 mais corto possivel. Tnfelizmente, nem todos os editores de histérias em quadrinhos pensam como nés, € por isso muitas vézes somes acusados de erros cometidos por outros. quadrinhos sfo, sempre, atacadas EY oo Neo 95 (EXTRA) 4% NOVEMBRO DE 1954 & CrS 5.00 EDIGAO MARAVILHOSA (Revista Mensal) 2 Publicada pela Editéra Brasil-América Limi- tada, Bspecializada em Revistas para Rapazes, Mocas ¢ Criancas. 3k Direcao de Adolfo Aizen. ritorios, Redagao ¢ Oficinas em Edificio Proprio: Rua General Almério de Moura, 302 : Telefone 48-6391, 2 Rio de Janeiro (D. F.), Brasil. { Eserit . (Antiga Rua Abilio), Sao Januari Esta imenda campina, que de dilata por hori- zonted infindod, é 6 dertde. de minha tena natal. Ai campeia o destemide vaqueiro ceanrende, que a unha de cavalo acodéa o towra indémite no. cerrado. maids espésde, e o derriba pela cauda com admirduel destrera, Ai, ad morrer do dia, reboa entre o4 mugides dad reded a vax daudosa e plangente do rapar que aboia o gada para 6 recabhen aas currais no tempo da dena. Quands. te tormmarei a ver, setda da minha terra, que atravedcel hd mulled anod na aurora serena e ¢eliz de minha infancia? Quando tornanrei a redpirar tuas auras im pregnadad de perfumed agredted, nad quatd 0 ha- mem comunga a dea dedda natrera podsante? Jats. NOVEMBRO 1954 & PAGINA 4 eo ‘No fim do sécnlo XVII, quando af apenas travam de longe extensas fazendas, 0 viajaate tinha de alravessat grandes distincias sem encontrar habitacao ‘que he servisse de pousada. \ nao ser algum afoito tanejo & escotcira, eta obrigado a munirse de todas providies necessities tanto 4 comodidide como 1 Seguranga. Assim fizera o dono de um comboio que wo de dezembro de 1764 seguia pelas margens do Sitié buscando as faldas da sera de Santa M: sertio de Quikeramobim. Era 0 capitio-mor jes Campelo que, em companhia de sv Gemarche de tos Ube. Wr, ¢ de mumerons coal ‘estayam a chegar & sua fazendz da Citicica, onde pre: | ¢ tendiam entrar antes de uma hora ‘esse momento chegavam of viajantes a uma pequena elevagao de onde se avista- va a0 Tonge a copa verde e frondosa da oiiciea exis tente no texeio da faren daa que dava_o nome Um dos subordinados do capitio-mor que traza a trombeta a tiracolo levou-a Dee 4 béea € focou uma alvo- tadaeujos. sons. festivos, encheram 2 solidao, Q sdftego baio de D. Flor mastigava o frcio e espumava, impaciente desde que aspirara as emanagots dos. campos NOVEMBRO 1954 & PAGINA 5 N° 95 (EXTRA) x ANO VIl_* EDICAO MARAVILHOSA ( fogoso cavalo | em que-montava sobre don — if cexcitado por ter aie ‘ambiente em que ascera — 20 ouvir Nisso, levantowse no. mato um fortis: simo estrépito que rolava como o bo botio de uma torrente; © a moca via, tomada de espanto, um twrbilhio de fogn ¢asomar Tonge ¢ prepare contra ela. cada pl, ; 3 ride. Fl Spenas pide murmurar_wma palavra que the resumia toda a sua sflicao 0 toque da tombeta se arremessott ‘impetuoso lo caminho ia fazenda D. Flor deixowo correr livremente, «, breve, desaparecew encoberta pelo mato ai mais fechado. De repente, © ‘brioso cavalo sstacou espavorido, com 0 pélo hispido as ventas inslfladas pelo tenor! Lee © corpo desmaiado resvalou pelo flanco do baio, mas nio \| chegou a cair. Um brago robusto o susperdeu quando jé a fralda 49 roupac de montar arrastava pelo chao. E que, 20 ver 0 petigo fem que etava 4 jovem, um Sertanejo que caminthava a escoteia = a par com a comitiva, mas por dentro do mato — logo galo- para em stia diregio. No mesmo instante achavase perto da fapariga, a quem tomara nos bragos. Para salvi-la era precio volar antes de fecharse 0 erento de fogo, que ja 0 cingia por todos os lados, com excegéo da ‘seita nesga de tera por onde acabava de pasar: ara rodent ecu de fogo que Ihe cortara 0 eaminho da fazenda, teve 0 sertancjo de dar grande velta que-o levou fos fundos da habitisao, completamente deserta nesse momento, pois tordos os moradores, avi sados pelo toque da trombeta, haviam_scor: fido pars 0 terrein da frente a receber or do- nos ¢ fertejar a chegada déles. Saltou 0 seit nejo em terra, som cs: perar ancl, ¢, ataves Sando a varanda N.° 95 (EXTRA) * ANO Vil_* EDICAO MARAVILHOSA AS Sioctou enn 0 setancp d hes do canis ¢ tenia 4o peito uma enus de pata, que aria a0 fest mufon ums oragao a Viger San BEF sxacas por haver pesmitde que J} shar aguclainocente mulher labios ja rosados de D. F soltando asi 0 td Go 8 varanda. Je proxino & porta, volena comoca 6 abalou, Dos labios da moga se desprendera em moss aueicume um nome, © Se o teu donzela; mas, como o eedio que o vento i ima um poderoso. ntamente e ecm, Inesistivel impalso o arrojou para a feclina sem atrancé-lo do salo, 0 sertancjo tinha dentro da al sentimento que Ihe encadeava os assomos da paixdo. Foi | ‘supremo esfdrgo tornando do primeiro elance, até que, an: canto que ali o prendera, desapareceu da sala ancando-se a0) ¢n- NOVEMBRO 1954 & PAGINA 7 U Fen Que desespér quando cheguei am sabia de ti! Tada a goite da farenda eperava que aparccese a ‘avalgada pata fecebi-bs com fs alvssaras, toque e acl Inagées de alegria que eram de soem ais ocatces Maz, Do Genoveva, sem slender as festas com que a saudavam, apenas entiou no tereeizo foi em altas vozes quntando, pela filha "Plot? Onde esti Flor?” Esta pergunta deixou a to- dos surpresos. Nao podiam compreender como a dona Ga: casa hes pedia noticia a filha, que deveria estar jistamente chegando com ali porto, = todos farendo ‘stremecer, Agora soseaue, gre anil etd sua filha averal Entre as mulheres | Olhem sé, gentes! ‘que eereavam — |_Como veio bonita’ adama e sia fiha, nenbuma Entdo lembrowse de mim, amide Justa? Foi um milagre Nao pode ser outra ‘uma sertaneja alta e robusta, que mostrava no semblante ride, pom, anode, uma franqueza de cativar, Ena essa a Justa, aama de D. Flor. ‘Apenas se desprenden dos bragos de sua mie, D. Flor se atirou com efasio ans de Justa A -maneira por que a donzela fora salva do meéndo fic sendo um mistério. 4 maic parte da. gente da fazenda atribuiu 0 caso a influéncia divina, © acteditava que Nos sa Senhots da Penka fizera tum milagre em favor da me- nina, © pela intereessio da Josta. Outrar, sem afimar su punham que a meniva, trazi- da a casa pela disparada do cavalo. (que foi encontrado depois atado a0 pila: da_va- anda...) apeara ainda fora de si, entrara caira desmaia- da de susio no soff, nio se recordando dessas circunstin- fas devide 20 abalo que so- frera NOVEMBRO 1954 % PAGINA 8 Quanto aD. lor, cogitan- do depois sdbre 0 aconte mento que ameagara sua existéncia, recordavase de lus grito que ouvita 20 per der os sentides, ¢ de um valto que surgira de repente a seus olhos jd anuviados Mas ssa imprest 20 despertar ealavase em um ome murmarado & flor dos da fantasia vertigem?, No 95 (EXTRA) & ANO VII HSS see - ‘A morada da Oiticica ansentava a sicio langante em uma das encostas a sera. Na frente clevavase a frondosa oiticica de que viers 0 nome A fazenda. As casas da opulent, morada construidas com solidez dispostas de maneire que se prestariam, sendo preciso, nao somente 3 defesa contra um assalto ‘como 2 resistencia Depois que passou o para o seu feitor. Pa aes gue chegara capitiomor nessa tarde de 10 de de: zembro de 1764. Tomava tle do Re. cife, onde 4 volia de cada trés anos 4 costumava fazer uma viagem. Dessa ver levara a familia, para mostrar a capital de Pemmambuco a D, Flor, que ainda 3f0 a tnbs i hhavia a donzela alguma rama ver dei ado a Oiticica, onde nascers. Ao cabo da jornada fdra 0 capitao-mor aall de chegada a tédas as ‘desde 0 capelio eo feitor B até 20 timo dos escrvos, Todos . ram saudédlo e darine as beat vin ae Desde 0 dia em due 0 tenhor capitio-mor sciu de joruda (Con tenes do wlan ois amanha hd que dle também eapitao-mor, saberd vossa senhoria \) de estar averiguado - desoparecen de que eu ude sel! Ainda ndo estou ) quem fol 0 eausador ‘em min com um caso désses!_) do incéndio, para the ser lancado conforme ceulbal ARI Entao € que nos pediu licenca ‘e nds lha concedemos, Agora, Manuel Abreu, chegamos € virios cachar fogo nus matas da Razenda NOVEMBRO 1954 4 PAGINA 9 : : iu tina i em De gue pou Dirigiu-se 0 fazendeito | ‘havia de conservar nossa filha, a0 portico da casa € —~ D. Genovena! nitroso sala” pintada de florbes a. fresco, ¢ guamecida de_méveis de jacarand’ forrados de moseévia com ta chas de prata. Ali tavam D, Genoveva e a filha, que se levan- taram_ para recebélo. Entao, $6 entio, quan- do todos os seus dese res de dono da propre dade estaram cumpr- dos, consentin 0 ca- pitio-mor que_afinal pulsasse 0 seu coragio Ae pai. Cingindo” com © brago 0 talhe de D. Flor, certowa ao peito. Entrementes, Amaldo procurava esclarecer as cawas do incéndio. Deu soga ao cavalo e desceu ripido a encosta rodeando para sair em uma virea a cérea de meia légua da casa da fazenda, 20 longo de uma das vestentes da serra e cabeceiras do rio Sitis. Do lado oposto creseia um arvoredo vistoso, apesar da estaséo, © que abrigava sob a rama verde- jante uma choga cnjo cdlmo era de palha de camatba, Eome do toned cram os esteion ca cumeetra. Ameldo di rigiu 0 cavalo para ls E preciso que abandones 4 cabana, J61 Vim encontrar uma elada que 70s Eu fé sabia que estavas de volta. Desde esta manha que ex te sinto ‘Nao me enganei... E 0 velho J6 corre perigo! © que te ameaca é « vingance 0 teigocio que deitou foso ‘suspeitas ‘eu vier, ninguém te ofenderd, Caminka, Amaldo. Eu te inzes de meu pail jee seguire! aonde féres “Nao saicds assim por teus és, que 0 uo, para te buscarem. = Proferinds essas palavras, 0 mancebo ‘arregou 0 velho ‘09 ombros até dentro da mata, 6 ponsot em ma cepa de gameleira Tomou entin. ates, cortou uma palma de camatba € entrou na cabana, ‘onde apazou os vestigios que ai finham deisado seus pasos. Depois saiu andando sxmpe de sot, foi apagndo os rastos deixados 120. passer, N.° 95 (EXTRA) & ANO Vil % EDICAO MARAVILHOSA. Garregou-a outta vez Amaldo, nos ombros, « dessa vez levou'o até um bamburtal expésso ¢ impenetravel, que em brenhava as fragas aleentiladis de umn grupo de yenhascos wegout de novo ao In: in 0 velho 6. ‘A poacos passos, achou-se em uma ciipta aberta na rocha viva. O sertanejo trisco fogo e acendeu um rOlo de céra amaiela guardado numa gréta da pedra, A um canto viase uma cama de couro de boi, ¢ da parede pendia lima canastrinka também de couro de boi em cabelo i Vai em paz, meu filho. ‘Mergulhando por baixo dessa espessura, em Ai estd a cama ¢ aqui v Pee Bees Gea pouta oot: rast hada fe EGAN o eal oe uae Be eee feftancjo surg a0 cabe de algumas bragas ee ee ee ace fem uma fenda de rochedo que formiava a enquanto no passar ‘Amalda nao se demorou na gata. Uma vez fora, deaudou o caminho pecorido, desfazendo todos os icios de sna passagem até o penta em que deisado seu cavalo, que o esperava sem impaciencia, Enquanto caminhava, Amaldo pensou. . SAz 175 ; (Mas \ AC Amana nos veremos, GRY Aleiso Verges! Ya NY, NOVEMBRO 1954 %& PAGINA 11 Foi ao primeiro vislumbre da alvorada que 0 sertanejo determinou acordar, para ir em busca de Aleiro Vatgas, que nao era outro senio 0 sujeito eujo rasto éle havia reconhecido no, mato préximo.a cabana do velho J6. A um tito de arcabur do lugar onde Arnaldo passara a noite estava a grota — um despenhadeiro profundo. Ali, dentre as irvores, a mais puiante gra_um angico seul, ate langava as. gross raizes a meio do. precipicio. De ex ancha sobre um dos ramos, doin ono sto 4 mem ainda mogo, de ins’- lita Sdscontone robustez: | cra Aleixo Vargas, de cu} Specie, bern como’ de fora de que era dotedo The views a alemha de Moirdo — no- me que nas fazen 6 poste onde se jungiam at reses para a fera. Salve-o Deus, Aleixo Varem! gf \ AHN? freee, See vane! na fazenda... De poleiro ‘cd pelas matas. Nio sabe que me lespedi do Cempelo? Deisei duma vee ‘o homer por ndo Voce € uma harra, Aleiso. Vargas Nao foi debalde Depois de provacar 0 Moirdo, Amaldo féz com que ale descese da drvore I( Suponha, Aleizo, que em ‘vex de companheiros BY éramos dois sujeitos B-que se trasiam de lho € que aproyeitaram esta ccasiio de se descartarem ‘um do outro De que serve Pa ligcieza, sendo para fs? NOVEMBRO 1954. % PAGINA 12

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