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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHAO @ Campus Santa Inés Plano de Ensino GRADUACAO EM LETRAS Professor: Josimar Porto Disciplina: FUNDAMENTOS Da LINGUISTICA Santa Inés—MA ‘2020 Fundamentor da Lingutsice 20021 Profesor Josimar Pots UNIVERSIDADE ESTADUAL, MARANHAO. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANH PLANO DE ENSINO CAMPUS SANTA INES Cars: LETRAS Departamento: LETRAS. Disipaa: FeNDANENTOS DALINGLISTICA | Cédigo: ULETSI226 Carga Horan] Cro) rrr Profesor JOSINARFORTO ] Binrcaas | Tar | Bout Semenre Letvoraner SET Torii teria dar 5h 60m stoke Soain PERIODO: TERCEIRO erinand de Sura a Yorn Sings | sie dee ari Caro de Linguistica Geral ercraama, Prosi SServomo. 80 gemivinno, lings cnacaves, durin, a0 ons pragmitic), Oba Gen ‘Emer papel Lingua nos Cursos de Lets, be como esr inglicn air do Atipudae, prance pe vis Soc si hogar so stu 3, dt Ena no estos dh imgulien modem como uma cine (eriand de Swiss) sacando aurea da lnguagem hunara, como tambien 1 peacpa cor 6 Sompetzncnsingsics Fandamentos da Linguitia 20021 Professor Jsimer Porte 4, nent o papel de Linguistica ns cuss de Les %, Desevelver odes ingustias pare de Angin ag Séclo XIX °,Compreender a atureza da ingage buna: °,Enender a linguistea como cdc parr dos sos de Ferdinand de Saussue, Y Conteoero objet de set Lingle, bts cro sus dade es teza ‘esos Inguscon ‘Rela estuds sobre constiuigto de Linguine Semoosss Conbecer sprites competacis linguistics do dela XX Cone Progamiior [coxrmtbos: rar ‘UNIDADE I= Ligation: De Antgaiade ao Seu XIX papel a Ling no Cro de Lets ornate OrGrese oie DaRenseng sin do Sts XV FORMACKO Do METODO LINGLISTICO: Seprenmrs Bopper Pines Compa Selec, ‘Sige Linge, ono wey, OrNewpamscos Stas Pi da scl dos Neownbicon RRR RRR ARRAY SEES SS | UNIDADE A Cinguitcs come Ginca (Foinnnd deamon) —] Flinn de Susur: Formas ob ‘ADoutina de Saussure, ‘Teri do Sige Lingus Motvarie eArbicatecade | Linear do Signin, ings Fala ‘ips de Norma E Corsi Sitoniae Dison, Rete Sigma Relates Paradigms a Fundamentos de Linguistic //20021 _ProfestorJosimar Prte 7 tga 4, Competing. %, ADups Arteulote ds Linguagen (André Martin), ~ Aecepofncifora do Cus de Linguistien Ge eee; TURIDADE MI Principals rian ingaiica do alo stern incon Formals do desrtvismo so pein: am As linguists eouciaivas ‘slings docs, storie pragma ‘Carga Horira Tour om 5 Presedimentn Maio ¥, Aa xpos com wo do aud acesrio: % Unlegie dematanei Nat ogee periptivs 1 Discuss foal ral ¥, Exudo de texas Aplaso de usbls individu cr gp % Projo mutimiia de shies © Nottook % Anos 2 Tews aval ‘Avavalingto da aprendages srt realizia « parr é cbserato dea do desenpa dou endo no seu ators Reside %, Relzo de tur prvi do atria iin, ‘ Restapuran a etn ins ropa elas rs de %, Relay de atviadeseattmias Seminario) 1 ratipgto sas aul exostnasedalogata. Resse, winds, ue os acadmoosprtparto de dus avalagesescrtas com contados efrnes cade nda (pemeia © epuni), sey de sidan ect ‘loa am sls desu ou exter # sl ce sl bor como let prove doe texot [Rdeados como eo eave Por fina ercsra nota serd wm senda, sbrdundo (ratnnis qo oma eco sie Fundamentos da Linguistica 20021 Profesor Josimar Port /BENVENISTE, Emile. Problemas de inguica gral So Pal: Nacional sur, 1976 BORDA, Franctco da Siva. Introdelo aos Estudos Linguists, 16. e. Campins, SP Portes Eres, 2008, J CABRAL, Low S.tatrleste# Limite Pave Alare Oh, 1980. CARVALHO, Casta Para compreender Saussure Pepi, Voss, 2008 CAMARA JJ Matoso Pelacplos de Lingua Geral Pepi: Vous, 1971, SERIE. Likes de Ligeia Geral Ra ean EA Liv ee FIORIN, José Liz Linguist? Que € ss? Sto Paulo: Comex, 2013, FLOR, os Lai, Untrodugo Linguist 0, ‘Obes tins. Sto Palo: Content, HIELMSLEV, Lous, Proeghmenos 1995 4 twork da nguagem.SSo Palo: Pespeciva, JAKOBSON, Ronn. Linguine comunicagso Sto Palo: Calis Edur, 1989 ‘LEROY, Mauie As grandes eorrents da Lingitca Moder. Si Palo: Cli, 1971 ‘LOPES, Edward Fundamentos de Lingustiea Contemporine, St Paso: Clr, 2004 /LYONS, Jobe Introdusto agua erin Sto Pal: Haus, 1979. )MARTINET, And A Unguste sinerblea. Rio Ge Jane: Tempo bse, 1971, MARTINET, Ane. Elements de ington gral Rio eJnco: Tempo basi, 1971 J ORLANDI, En Paci © que € Linguiea? Sho Paulo: resins, 200, inguin do PAVEAU, Mai-Aane. SARFATL, Georges Bias. As grandes teri puma soapara pragmatic Soo Caos Clara 208, PETTER, Margarida Linguagem,llagua, lngusiea In: FIORIN, Jost Luiz (or) noni inguica: Objet tenet Sto Pal: Conta, 2002 WEEDWOOD, Bstra Mitra cons da Haguitin. Trad. Marcos Sapna Sto Pal Pail Eitri, 200, SAUSEURE,Fersinand de Curso de Linguies Geral Ste Pal: Cat, 2012 Fundamenter da Linguistics 20021 Profesor Jorimar Ports [ASSINATURAS DOS ELABORADORES |APROVACAO EM ASSEMBLEIA DEPARTAMENTAL ] DATA |ASSINATURAS: _APROVACAO NO COLEGIADO DE CURSO DATA: ASSINATURAS: | PRESIDENTE DO COLEGIADO: sme ‘Docenteresponsivel Fundamentos da Linguitia /20021 Professor Josimar Porto Rycrrd @ MARANH/ ‘CAMPUS SANTA INES ‘CRONOGRAMA DE AULA~20201 = Acllsmeno sademico ~ Expaacto do Pao d= Curso: jes de ciiplin esses deealsdo.O papel de Linguica no Cano ingen Gea & AREAS wo SEO NIK OF ni OF Gen OF {aor de Mas: De Renucng oes VI 70h ‘DO MIETODO LINGLISTICO: Os pesssons Bape Pinas 08 DO METODO LINGUISTIC Haabiae —Wiine OF Xe Sane eles Pp! aac or Tl "A Linguist com iets (Ferdinand de Suse): Fein Se Sms oma e ns A Dorin ce Sass Tei San Lingus Riieasas i Sigs Unga Nasends « Morais A Laas ‘Stiflowte igus Fl Tips de Nome Cos Simson Duco, rts Snntc rPenrain, 4 Na eV md rape nettoe ds Cos Lngunes Ge mans Pricpa re ngusics deo XX Feige desis 5 Sea [Fundamentorda Linguistics //2020.1 Profesor Josimar Porto LUNIVERSIDADE ESTADUAL! MARANH ‘Campus Santa Inés Apresentacao da disciplina! Prado audio () ‘Um crs de Letran postin « aendiuagem « a seleabo snes fates lingusics ¢ lisrvis,Iiiremes u pair des dicpia — Fundaments Linguinea setae expect do Ca, Esti Lingua possibita ao profesor da ing mater um conbeimesto mis extrude, cee eprofindo sobre como ingupvia& consti econe cla fincions engun insrumento de caminicaio com uma dimensto saci ¢ hisrica © profesor que domina ese conhecimento tem melhores conde de iio que €peinete abla com Ses lun como eset ides gu oF siadem 8 sting um maior domino da Iingua ter una mor © ele cempatae comunica, Eteser vconei 20 propio dma ccm Enreano, enganese aqusle que pense que est dpi € uma nova vero da (ramce Normative Trntremos sarc do pape Linguists nor Cort de Leas, bem como o estado de lingua a parr de Amigulade, perussend por vis peas tt chegar 0 steulo XX, dando fis no eso de inguin modem como ‘uma ciacis (Fetnand de Sau), dean a sarea de lingasem bumang como unbs s picigis tears © conpetncis Ungunicas Pan ese ex, ordaremas sures como: Franz Bopp, Jakobsoe, Joke Lyons, Blom, Sehecher, Humboit, Saussure, Melle, Coseriy, Andeé Martine, Chomsky, ‘Benveniste, Duro, Baki, ca ea, eos muta gee ove contac, asm coro seus pressposos tins. niin tem uma caren hora de 60 hres, Et vii em rs Hacor temas, sendo gus cada boc ser tatlado 20 hors. Temos mais um dso pla eae Mis, como nos io profesor Jsimar Porto “Quem eau em far, que nto etd em destin Joeimar Porte Fundamentos da Linguistics /2002.1 Prof LUNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHAO @ Plano de Ensino GRADUACAO EM LETRAS Professor: Josimar Porto Disciplina: Fundamentos da Linguistica UNIDADE I ~ Linguistica: Da Antiguidade ao Séeulo XIX Santa Inds—MA 2020 Fundamentor da Lingulstice 20021 Profesor Josimar Porte DA ANTIGUIDADE AO SECULO XIX A Lingtifstica Geral, no sentido em que a entendemos hoje, é uma ciér relativamente recente: seu impulso e desenvolvi- mento datam apenas da_primeita metade do-séculoXX; entte- tanto, sua origem encontia-se nessa renovagio dos estudos actr- ca da linguagem que resultou, no decurso do séeulo passado, na constituigéio da gramética comparada; esta, nascida no momento em que, em todos os dominios, se desenvolvia um névo método cientifico, atingiu, pelo menos em casos favordveis como o das Tinguas indo-européias, resultados notivelmente segutos, ¢ {oi neceu A nossa disciplina os fundamentos técnicos indispenséveis Nio que outrora os problemas suscitados pelo fato lingistico € pela diversidade dos dialetos falados no mundo nfo tivessem chamado jamais a atengio; pelo contrétio, numerosos pesquisa. dores por éles se haviam interessado, mas as mais das vézes desta ou daquela perspectiva particular, que nao levava a nenhu- ‘ma visio de conjunto; nfo é menos verdade que ésses precurso- res tinham aperfeigoado, pouco a pouco, a pesquisa, e es cido balizas que se revelaram extremamente preciosas, pois os primeiros comparatistas, por revoluciondtia que tenha podido pa- recer a sua doutrina, nfo foram efetivemente mais que os herde'- ‘ros, ¢ por vézes os ptisioneiros, de um passado a que convém, portanto, passar ripidamente revista aqui, Foi por razées seligiosas que os antigos hindus fo: Os Hindus “ram jinicialmente levados a estudar sua lingua. Importava, com efeito, que os textos sagrados, reunidos no Veda, nfo sofvessem alteragio alguma no momento de serem cantados ou recitados durante os sacrificios, de onde ‘0 esférgo feito para conservé-los na sua pureza primitiva, De- 15 pois, os graméticos hindus — dos quais o mais célebre ¢ Panini (séeulo IV a.C.) dedicaram-se a0 estudo do valor © do empté- go das palavras ¢ fizeram de sua lingua, com ptecisio © minticia admiraveis, descrigdes fonéticas e gramaticais que séo models- res no género; por muito tempo esquecidas, foram elas descober- tas pelos sibios ocidentais nos fins do século XVIII ¢ const tufram, como veremos, © ponto de partida indispensdvel & cria- ‘0 da’ gramética comparada, Mas etam estudos puramente esti ticos, relativos apenas ao sinscrito, efetuados, ademais, por ho- ens totalmente desprovidos de senso histético, de acérdo com © génio préprio da India, pelo que se limitavam a classficar os fatos sem procurarthes a explicagzo Os gregos no deixatam de sua Ifmgua nenbuma 08 Gregor descri¢do comparvel A dos hindus e, pot outro la do, pode parecer estranho que ésse povo tao amante da Histéria, tio apreciador de anedotas, nao nos tenha quase le gado informages vilidas, sObte os falates das populagdes com 4s quais estéve em contato; Herddoto, que nos transmitiu tan- tos pormenores preciosos sObre os mumerosos pafses por onde viajou, nfo achou necessétio fornecer a minima observacio acér ca da Tingua de seus habitantes; sdmente a titulo anedético © como que acidentalmente € que uma palavea meda aparece cita- dda no livro I de suas Histérias, uma palavea egipcia no livro TL, ‘e uma palavra cita ainda no livro IV. E, entretanto, grande nd- eto de gregos — marinheitos, colonos, soldados — tiveram de aprender Iinguas estrangciras, mas os conhecimentos transmitidos pelos intéxpretes se perderam: sobreviveram apenas algumas mes- Guinhas indicagSes, recolhidas sem ordem nem método, por um ‘ou outro excoliasta ou lexiedgrafo, E que, na realidade, os hele- nos, imbuidos de suas tradigGes e convencidos, nao sem razio, de sua’ superioridade intelectual, consideravam com desprézo essas Ifnguas estrangeiras que s6 ‘consentiam em estudar por, razdes préticas; 0 térmo “barbaro” — palavra imitativa que designa- vva, originariamente, o pipilar dos péssaros —, que apli distintamente a t6da lingua estrangeira, porque Ihes eta tio inin- teligfvel quanto 0 gorgeio dos alados, adquitiu ripidamente, en- ‘te of gtegos, valor pejorativo; a antitese heleno/birbaro, que se tomou uma das constantes do pensamento gtego, féz passar des- 16 peteebidas as semelhangas evidentes que certos idiomas vizinhos aptesentavam com 0 grego, e 0 exétcito de Alexandre Magno voltou, das fronteiras da India sem trazer consigo a tevelasio do snsctito, Se os gtegos negligenciaram completamente os idiomas “bat baros”, estudaram em compensagio sua prdptia Hfngua com grat de atercio, mas s6 no plano estético (0s procedimentos de Jo) ou no’ plano filosético (adequagio da linguagem ao pensa- mento); éste ltimo ponto de vista nos intetessa particularmen- te, pois tais especulagdes dos antigos constituem, em boa parte, © ponto de partida do pensamento lingtifstico moderno tanto nos seus desacertos como nos rumos de seus éxitos. O problema es- sencial que se colocava para os fildsofos preocupados com elabo- rar uma teoria do conhecimento, consistis em defini as relagSes en tre a nogio e a palavra que a designa; a grande questo debatida en- ttre 0s sofistas € os fildsofos antigos — ¢ que se manterd atual até a escolistica medieval — é saber se a linguagem fora ctiada pela natuteza ou por via de uma convengio: péas: 7] Oécer; em outros térmos, haveré uma relagio necessétia entre as palavras € sua significagio, entre o sigoificante ¢ o significado? Sabese como Plato, cujas preferéncias eram incontestivelmente pela teo- ria da exatidio natural das palavras, retomou, em seguimento a muitos outros, 0 problema no Crétilo, em que expde com vit- tuosidade as teses’ antagOnicas, abstendosse, entretanto, de con- cluir claramente em favor de uma ou de outra; &s¢ dislogo, cuja interpretacio pareceu amide diffel, perturbou os modernos, que deram geralmente demasiada importincia A parte central, consagtada as “‘etimologias”; parece-nos ao contrétio, que do pon- to de vista da histétia do pensamento lingifstico, 0 principal deve ser procurado no inicio ¢ na conclusto do dislogo: ali se en- contram, entrevistas, quando nio esbocadas, algumas teses (re- lagio do significante com o significado, arbitrariedade do signo, ‘valor social da linguagem) que constituem posigées essenciais da LLingifstica contemporinea, ‘Mas as pesquisas de Avist6teles dariam margem a reflexdes sbbre a linguagem em outza dizegio: a constituigio da gramética, Considerando que conhecemos 0 mundo exterior, ra edypara, fornecido pela natureza, poet, pelas impresses que provoca 7 «em nossos sentidos, e declatando que as palavras so os simbolos, aipfoka ou anpcia, © nfo as imagens exatas das sxedypare, “Atistdtelesfilisva-se,-na linha da disputa acétca da exatidio das palavras, & tese ‘“‘convencional”, mas seu métito essencial € ou- ito: 0 de ter sido 0 primeito a tentat proceder a uma andlise precisa da estrutura lingiistica. Sem ckivida, a gtamitica_geral it le, apenas uma parte ou aspecto da I al, ‘cuidado de elaborar — como-aplicacio da teoria das pro- pposigdes ¢ dos juizos — uma teoria da frase, a distingzo que fz entre as partes do discurso, enumeragio que props das cx- tegorias gramaticais, fazem de Aristételes e dos aristotélicos os iniciadores de uma longa tradigio: sua apereepsio dos dados lin- silfsticos, assim como 0 vocabulétio por éles.sistematizado nesse campo, vigoraram até ha bem pouco tempo ¢ exercem ainda hoje opressiva influéncia sébre a pedagogia e a metodologia de. nossos estudos, Os alexandrinos aperfeigoaram, nos pormenotes, as teorias stamaticais, que agruparam em um corpo coerente de doutrinas; 8 Téymn yoauuatiny, de Dionisio da Tricia (sées. IIe T a.C.) tomouse, durante séculos, 0 modélo constantemente citado, O fato de existirem na lingua, ao lado das manifestagées de uma estrutura regular, aspectos que contradizem essa regularidade ha- via sido muito bem obsetvado pelos antigos, mas tal observa foi utilizada num sentido doutrindtio, para opor os que queriam consttuir um sistema gramatical fundado nas analogias aos que, pelo contrétio, se baseavam nas anomalias: 0 resultado foi uma série de disputas estéreis entre os defensores das duas doutri- inas, sendo que os analogistas professavam uma doutrina essen- cialmente normativa, enguanto os anomalistas se apresentavam antes como letrados ciosos de respeitar 0 uso, Os latinos que, em todos os aspectos da atividade in- 0s Latinos telectual, desejaram vivamente mostrarse bons dis- cipulos dos gregos, seguiramlhes as pegadas no to- cante as Iinguas estrangeiras (com excecio do grego, bem enten- dido); 0s seus gramiticos, assim como os seus fildsofos, nio ti- vveram consciéncia do interésse que poderia apresentar, para o €s- tudo de sua prépria ngua, 0 exame dos falares yizinhos, Mes- 18 mo_a confrontacio constante do grego ¢ do latim (em Roma, a sociedade culta era, em grande parte, bilingiic) foi estéril, esfor- cando-se os latinos em adaptar servilmente estudo de sua lin- _gua As “regras” formuladas pelos teéricos gregos, cujas idéias nada mais faziam senfo retomar e propagat; é justo, entretanto, destacar 0 nome de Varrio, que féz grande esf6rco pata definir a Gramética ao mesmo tempo como ciéneia e como arte, € que vis- Iumbrou, com mais lucidez que os gregos, o valor da oposigo de aspectos no sistema do verbo, ‘As concepgées da Antigitidade vio continuar’ a ‘A lade Média dominar 0s estudos acérca da linguagem, Poder- sela crer que o contato estabelecido pelo Crise tianismo com povos de lingua “bérbara” inia alargar o campo das pesquisas; que a tradugéo da Biblia em gético no século IV, em arménio no século V, em eslavo no século IX, iria suscitar 0 pro- blema das relagdes entre as linguas: nada disso aconteceu, entre- tanto, porque os evangelizadores consideravam as linguas dos gen- tos como instrumentos de propaganda e nao como assunto de re- flexio e de estudo, Permanece intacto 0 quadco gramatical tragado por Dionisio da Trécia (e assim permaneceré até o Renascimento ¢ bem depois), enquanto a Escolfstica faz. reviver, no estudo da Gramética (um dos trés ramos do trivium, 20 lado da Retérica eda Logica), a velha controvérsia acérea da exatidio das pala vtas sob a forma da oposicio entre realistas (para os quais as palavras sio apenas 0 reflexo das idéias) e nominalistas (que créem que os nomes foram dados arbitririamente as coisas). Foi entdo também que os modistae (nome que lhes vem do titu. To Demodis significandi dado a numerosos tratados) considers. ram que existe uma estrutura gramatical una e universal, ineren- te a todas as linguas, e que, por conseguinte, as regras de gramé- tica so, como regras, perfeitamente independentes das linguas particulates nas quais encontram sua realizacio, Todavia, em pleno perfodo medieval, um homem se inte- ressou de modo original pelos problemas da linguagem e da rela- «fo entre os dialetos, um homem verdadciramente excepcional, um 86 tempo sabio e poeta de génio, a quem a Itélia deve ndo sdmente a unidade de sua lingua, mas também o fato de terse dedicado muito cedo as discussées, apaixonadas mas freqtiente- 19 _mente iteis ¢ penettantes, sobre os conccitos de dialeto, de lin gua literétia, de agua vulgar (a famosa “Questione della lin- gua"). Muito avancado em relagio a seu tempo, Dante, no seu De oulgari eloquentia, escrito sem diivida em 1303, conside- rava, efetivamente, as Iinguas de si, de oc ¢ de oi! como perten- centes a um mesmo grupo (c ilustrava sua tese com exemplos), fenquanto distinguia, com uma exatidéo notivel, catorze formas de dialetos italianos: os romanistas atuais podem, pois, reveren- ciélo como um ilustse precursor. A propésito, todavia, da re- patticio das outras Iinguas da Europa, dedicava-se éle a conside- tages muito menos seguras, inspiradas no mito da Torre de Babel e da dispersio que a ela se seguiu. Mas Dante foi um cas0 isolado e as idéias que langou & éssc respeito nio tiveram eco, Foi mister esperar o século XVI para ver, a Renasconga ao fim na intensa fermentagio intelectual que « do réculo XVI racteriza essa época, sutgit um clima mais favordvel a um estudo lingifstico sério, fervor teligioso dos reformados provoca a tradugio dos livros sagtados em numerosos dialetos , se o latim continua sempre Iingua universal, o desprézo por longo tempo testemunhado no tocante 3s linguas “vulgares” atenua-se e desaparece diante do desenvolvimento de ricas ¢ vigorosas literaturas nacionais, Por outro Indo, as controvérsias teolégicas tomam indispensével 0 conhecimento do hebtaico, Iingua semftica de uma estrutura die ferente da das linguas européias, o que suscita forgosamente com- paragdes de ordem lingiistica, E, finalmente, viajantes, comer- Ciantes e diplomatas trazem, de suas experiéncias no estrangeito, ‘lgumas nogées sdbre idiomas até entfo totalmente desconhecidos, ‘A abundancia dos materiais assim recolhidos causa admira- fio € desperta 0 interésse: sente-se necessidade de classificar 08 fatos © oferecé-los, comodamente reunidos, a observagio atenta dos lettados ou 2 curiosidade divertida dos diletantes, “Uma ma- neira simples de apresentar os espécimes de Ifnguas, que uma ‘observagio cada vex mais extensa permite recolher, consiste em agtupélos segundo os dados espaciais, na ordem em que se apre~ sentam ao observador, Tal método ofetece a vantagem, negativa talvez mas aprecisvel, de colocar o leitor a salvo de qualquer espe- cculagio attiscada quanto aos catacteres que unem ou separam as 20 IHiguas, assim como quanto 40 eventual parentesco que se pode: ria deduzit de sua comparagio. FE 0 tipo de classificagio geogeé- fica que se encontra aplicada desde 0 sfc. XVI, quet nos di- cionétios em varias linguas, quer nas colegdes que apresentam tum texto, geralmente 0 Pater Noster, traduaido em diferentes inguas. imais antigo (1502) diciondtio poliglota é o do italiano ‘Ambrosio Calepino: alcangou tanto éxito que foi vétias vézes re- feito e entiquecido; déle surgiu meso 0 substantive comum “calepino”. Por outro Iado, o eélebre humanista e tedlogo Guil- Jaume Postel que, tendo sido enviado em missfo por Francisco 1, percorrera a Gréeia e 0 Oriente Préximo, iniciando-se nos virios falares dos paises pelos quais passava, publicou, em 1538, um pequeno livro Linguarum duodecim characteribus differentium alphabetum, onde utiliza 0 procedimento do Pater Noster. Mas foi em 1555 que apareceu em Zutique a primeira compilagéo itm- pottante désse género; intitulava-se Mitbridates e seu autor era Contad Gesner. Por que ésse tftulo? E que no primeito século antes de nossa era, 0 rei do Ponto provocara a adiniragio de seus contemporiineos por suas faculdades, pouco comuns na Antigti- dade, de poliglota: Aulo Gélio (XVII, 17) nos informa, de fato, que éle era capaz de conversar sem intérprete e com faclidade com todos os stiditos de seu reino, os quais, entietanto, se tepar- tiam em vinte e duas comunidades lingifsticas! E para no des- mentir seu titulo, era em vinte ¢ duas versGes diferentes que Gesner apresentava 0 texto do Pater Noster em félhas dobradas, no fim do volume. ‘A idéia teve éxito; em 1592, Jerénimo Megiser pu- blicava um reperi6tio que apresentava ‘exemplares de quaren- ta Iinguas, ntimero que foi elevado para cingienta numa reedigio feita no ano seguinte e a cérca de quatrocentos no seu ‘Thesaurus Polyglottus, de 1603, onde j& estéo recenseados diale- tos do continente americano descoberto cem anos antes. E nos séeulos seguintes, mumerosas obras procurarain sintetizar 0 co- nhecimento das linguas do mundo, reunindo espécimes de escri- tas, colecionando pequenos textos, estabelecendo vocabulétios com- patados; 0 coroamento désse género de estudos foi a edicio, em- preendida em 1806 por J. Chr. Adelung e continuada, depois de sua morte, por J. S. Vater, de uma imponente colegéo, intitula- a nrabede ye ete eo da também Mithridates, cujos quatro volumes inventariavam, se jgundo un plano puramente geogeafico, quinhentas linguas apro- ximadamente, Desde o inicio da pesquisa no séeulo XVI, entretanto, sur- gia_um outro principio de método que deveria racionalizar 0 es tudo da relagio entre os dialetos: 0 da comunidade de origem, classificar as linguas ém familias. Todavia, e tativas foram infelizes, pois os eruditos que assim 1 classificar as Hinguas, transcendendo © ponto de vista geogréfico, partiam nao do exame dos documentos, mas de uma concepgio aprioristica, a saber: a preeminéncia do hebraico; pot tazdes teligiosas, consideravam efetivamente 0 hebraico, lin ‘ia do Velho Testamento, como a lingua primitiva a pattir da jual-convinha explicar tédas as outras, seguindo nisso uma tra cdo crista, que patece remontar as especulagdes do judafsmo alexandrino, Esta opinia, & qual Sio Jerénimo dera autorida- de e que reencontramos em Isidoro de Sevilha, sera retomada ¢ defendida por numerosos sibios, entre os quals G. Postel, que publicava, a0 mesmo tempo que seu Alphabetun, acima citado, tam pequeno volume com um titulo bastante sugestive: De orig: nnibus seu de Hebraicae linguae et gentis antiguitate, deque varia rum linguarum affinitate, “Tal concepgio levava evidentemente a tum impasse, pois s6 mesmo torturando a forma e o sentido das palavras é que se chegava a encontrar certas semelhangas entre as linguas européias e 0 hebraico, dieleto semitico de um. tipo completamente diferente Mais inspirado estava José-Justo Escaligero_que, limi tando-se a apresentar, na sua Diatriba de Europacorum Linguis, ‘© quadro das linguas da Europa, distinguia onze linguas matrices ide que provieram propagines, sendo, pois, as tltimas aparent das entre si; as quatro principais “linguas-troncos” eram designs das pela forma do nome de “Deus”: Boge, Godt, Deus € @eds. isto é, de modo assaz exato, as linguas eslavas, getminicas, 10- minicas e 0 grégo. Certamente, subsistiam erros de apresenta: <¢i0 e lacunas mas, no conjunto, havia uma visio lcida dos pro- bblemas, um bom senso e uma prudéncia insdlitas para a época © tum embrido de método correto, sendo justficadas por exemplos asi aproximagées propostas, 22 Infelizmente, foram as pegedas de Postel que, de modo ge- ral, seguitam, darante mais de dois séculos, os tedticos ansiosos de sistematizagio: apegavam-se, contra a evidéncia, & explicagio pela monogenia, sendo um dialeto — mais fregiientemente o hebraico — considerado como uma lingua-mae que deta otigem a tédas as outras. Coisa curiosa: © malégro evidente da pesquisa, a precatie- dade dos resultados obtidos, a impossibilidade de definir com clateza os vineulos que uniam o hebraico — ou qualquer outro dialeto arbitritiamente escolhido como “primitive” — as lin- ‘guas que pretensamente déle derivariam, nada disso desanimava 0s estudiosos de boa vontade, de tal forma eram poderos0s 0 con- formismo e, no que se refere & monogenia pelo hebraico, 0 cuida- do de petmanecer nos limites de uma interpretagio, aliés abusi- vva, dos textos sagtados. No coméco do século XVIII, Leibniz combateu vigorosamente e com bom senso a hipé origem hhebraica, mas seu protesto no encontrou eco € nem tampouco ‘seus conselhos avisados sObte a maneira de estudar a linguagem humana: pois no recomendava éle reportar-se tos monumentos escritos das épocas antigas a fim de compar-los as Iinguas mo- ddernas no seu estigio mais recente? IE bem verdade que, como {que para enfraquecer os sios principios metodolégicos que aca- ava de enunciar, Leibniz construfa a0 mesmo tempo, sem base séxia, um sistema genealégico segundo 0 qual as Ifnguas da Euro- pae dz Asia — ¢ mesmo as da Aftica e da Amética — deriva- vam de um protétipo comum, Um outro pesquisador original, mas euja obra ficou isolada ¢ quase desconhecida até época recente, é o italiano Giambattista _Vico-cuja Scienza nuova data de 1725; le ptopde uma definicio “de uma storia ideal eterna concebida como uma histéria cfclica do_género humano em ttés etapas: teocrética (temor religioso” diante dos fenémenos naturais, donde a renga num set todo-po- deroso), herGicn (sociedade avstorétca) e democtitica (esti gio racional em que florescem ao méximo a justica e a io); mas, chegada dessarte ao seu apogeu, a Humanidade se corfompe ¢ retoma A barbatie, pois sua evolugio € marcada por uma série de fluxos ¢ refluxos, Dessa concepcio da Histétia, ¢ também do principio gnoseolégico que constitui a base de sua teoria do conhecimento (0 espitito conhece apenas 0 que faz; 23 portanto, 0 mundo social, cujas causas estéo em nds, & passfvel de conhecimento; a0 contrétio, dos fendmenos naturais, de que ‘Deus € 0 autor, podemos ter apenas consciéncia), Vico faz as dedugées no que se refere & linguagem. A lingua da época pri- mitiva foi muda, sendo que os homens se comunicavam entie si ‘por meio de sinais; mas a primeira linguagem articulada foi sim- bélica, vale dizer, poética, ¢ os homens se exptimiram natural. penis on veo (5 3 enfim, 0 terceito estigio de lingua é a lin. de vocdbulos, cujo sentido os povos po- fe. Dat se segite que a interpretagio das ss é de capital importincia pata 0 co- ento das sociedades antigas, assim como o estudo do sim- {stico (figuras de estilo, metéforas, designages por imagem...) € essencial pata fazer a histéria das linguas; estas, tuma vez atingido © apogeu, so, do mesmo modo que as socie- dades hutnanas, atingidas pelo processo da decadéncia, como 0 testemunha a nossa Idade Média, em que se_vé a poesia domi- har a prosa ¢ a5 linguas “vulgares”, nfo escttas, substitufrem a bela otdenacio do latim literdtio da época eléssica, Esta visio poética da linguagem humana sala, por certo, de caminhos jé trilhados, assim como testemunham um espfrito hnovo os miltiplos trabalhos que assinalamos ripidamente © que procuravam classificar, com maior ou menor sucesso, as linguas faladas do mundo; comegava-se, pelo menos, a tomar conscién- ia do grande nimero delas, de sua infinita diversidade © dos problemas criados por essa mesma diversidade, Em compensa- Gao, as reflexes sObre « natureza da linguagem, que vemos sut- fitem nos séculos XVII ¢ XVIII, assim como as tentativas de fnalisar a estrutura lingiistica, sfo apenas o prolongamento © a (2) Vico fot o primeiso — depois de Aubignac, cujas Conjectures (1715) nfo conbeceu — a emitir a opinizo de que, sob o nome de Home- to,se ocultam em realidade numetosos rapsodos caja atividade se escalona Ing curso de vitios séculos, FrvAug. Wolf, nos seus {amosos Prolegonena ‘ad Homerun (1795), a0 cita Vieo, mas’é pouco verossimil que tivesse fido conhesimento dx’ obta do siblo apolitano, entfo quase ignorado fora ‘ds peninsula, Salvo erro, nfo parece que Vietor Bérard, mesmo nos seus ¢8- trtes polzmicos contra a obra de Wolf, tenba mencionado a opinito de ‘Vico: 0 ‘ctlendério homérico”, que colocou no principio de sua Résurrection: @'Homdre (Paris, 1930) ignota, em todo caso, o autor da Scienze mova 24 continuagéo das preocupagies dos Antigos, A petsisténcia do prestfgio aristotélico encontra uma ilustragio notével no prodi- gioso éxito alcangado, desde sua primeiva edigio em 1660, pela Grammaire générale et raisonnée de Port-Royal, que, durante ais de dois séculos e em todo o Ocidente, iria servir de vade- mécum gramatical, O préprio titulo & tevelador da concepgéo que tinha Arnauld (como bom I6gico ¢ fervoroso disefpulo de Descartes) do estudo da linguagem; como seu mestre, éle vai da causa 20 efeito, isto é do raciocinio & lingua. Expurgendo as sensatas observages que Vaugelas emitira alguns anos antes, em suas célebres Renrarques sur 1a langue francaise, enjo objetivo era verificar e deserever — seria mister esperar dots séculos para voltar a éss¢ método sadio —, a gtamdtica de Port-Royal quer ex- plicar os fatos, demonstrar que @ linguagem, imagem do pensa- mento, se funda na Razio, em suma consttuit, de acdrdo com a Jogica, uma espécie de esquema da linguagem ao qual, de bom fou de mau grado, as miltiplas aparéncias da lingua real devem fotcosamente submeter-se. 2 Tanto por suas reimpressdes como por seus inumerdveis st cedineos, a Grammaire générale dominaré, por muito tempo, 08 estudos gramaticais, até mesmo um Condillac, que, ao examinat, na linha dos fildsofos empitistas, a origem da linguagem (o que no fazia Arnauld) e ao investigar como as linguas se haviam cons- tituido em sistemas, acaba por voltar, nessa anélise, aos procedi mentos Iégicos de PortRoyal. Sdmente no século XIX € que @sses raciocfnios de tipo absttato desapatecem pouco a pouco diante do alargamento de horizontes provocado pelo conhecimen- to de linguas cada vez mais mumerosas, do interésse que nasce pelos falates vivos e, sobtetudo, do desenvolvimento de um mé- todo histético que, rejeitando qualquer aptiotismo, toma cons- cigncia das realidades e trabalha com os fatos tais como se nos apresentam & observagio; porque foram a formagio e 0 progtes- so da_gtamética comparada que permititam a elaboragio, em novas bases, do pensamento lingiifstico contemporineo, cujo es- tudo, portanto, deve comecar pelo exame das condigées tio te- centemente ctiadas, 25 Capitulo 1 A gramatica comparada 1. AS ORIGENS Esta denominagao consagrada pelo uso designa tradicionalmente os desenvolvimentos da lingiistica durante 0 século XIX, especificamente no periodo que vai de 1810.4 1875, Ela recobre, de fato, dois momentos distintos da disciplina que, para definir suas especificidades, convém expd-los separadamente. Estritamente falando, ‘a gramitica comparada concerne tanto a um domfnio de estucdos quanto a uma orientagao da lingtiistica que consistiu em estabelecer as ligagdes de parentesco existentes entre dois ou varios idiomas separados no tempo e, mais freqitentemente, no espago, Foi somente a partir de 1860, aproximadamente, que @ gramética comparada orientou-se para a lingtistica histérica, com 0 programa explicito de reconstituir com detalhe o intervalo ¢as linhas de evolugao, inacessiveis, que, em principio, ligam numa relagao de dependéncia (ou de “filiagio”) uma lingua B — atual ou tardiva ~ a uma lingua A que the & cronologicamente e culturalmente anterior ulsiio ‘A abertura do que serd o principal canteiro cientifico do séeulo XLX em matéria de reflexiio ¢ de pesquisa sobre a linguagem e sobre as linguas atribuida a “descoberta” da lingua brahmi (sAnscrito) por eruditos ¢ tradutores ingleses, no final do século XVIII. W. Jones (1746 ~ 1794), promotor da Sociedade Asiética (1784) ¢ iniciador dos estudos sobre 0 sAnscrito, destaca a importancia dessa descoberta. Ele, com efeito, evidenciou o fato de que o sanscrito, o latim e o grego apresentam “afinidades tanto nas raizes dos verbos quanto nas formas gramaticais, que hilo podiam ser atribuidas somente ao acaso;afinidades tais que nenhum fildlogo saberia Ihes examinar, mesmo superticialmente, sem ser convencido de que cessas linguas derivam de uma origem comum, que talvez.nnem exista mais” (qpud LYONS, 1970, p. 22), Essa mesma constatacdo, recuperada por numerosos estudiosos, esti na origem de um desenvolvimento imprevisivel dos conhecimentos sobre a linguagem e a formagao de linguas. 1.2. Os precedentes Embora a anilise de semethangas(sinscrito/grego/latim) tena sido decisiva para a abertura de um setor cientifico imenso - 0 dominio dos estudos indo- es Ae Gs Tis de Tigin europeus-, convém lembrar que o tipo de cutiosidade intelectual suscitado por esse dominio nao foi nem o éinico nem o primeiro em seu género, No decorrer dos séculos XVII e XVIII, com efeito, varias iniciativas tio notiveis quanto ambiciosas jé haviam sido concebidas ¢ logtaram resultados considerdveis, A perspectiva comparatista despertara a atengao de certos graméticos; por exemplo, H. W. Ludolf (1624 — 1704) provou de maneira conclusiva a proximidade e a continuidade existente entre 0 etiope ¢ o amharique. G. W. Leibnitz (1646 - 1716), paralelamente a seus trabalhos de matemético, encorajou a constituigao de uma vasta enciclopédia de linguas faladas nas fronteiras do Império Russo, sas iniciativas, bastante diferentes, mas patcialmente plenas do novo espirito enciclopédico, definiam, com uma certa ordem, orientagdes minuciosas de pesquisa. A idgia segundo a qual existiriam ligagdes histoticas entre diferentes grupos de linguas advém, muito mais, & verdade, da intuigao que da certeza cientifica rigorosamente fundada, Mas algumas observacoes, praticas ja esto formuladas, e por mais que nao se possa falar propriamente de um programa de pesquisa, os intelectuais de entio dispoem le provas iniciais, tangiveis e, sobretudo, de um verdadeito horizonte de trabalho. Novas iniciativas juntam-se as primeiras. Bm 1756, A, Turgot redige para a Encyclopédie! um artigo fundamental (“Etimologia”) que seré objeto de reflexiio para os primeiros comparatistas (em particular o dinamarqués R. Rask).O linguista J. C. Adelung (1732 ~ 1806) - cujo Dietionnaire® assim como os trabalhos de gramética contribuem para a normatizagio da lingua alema — pretende redigit, de um outro ponto de vista, umn tratado completo das linguas ent&io conhecidas. A obra intitulada Mighridaies (em referéncia ao soberano poliglota da antiguidade grega) & langada postumamente, mas inacabada, jé que seu autor nio pode ultrapassar o tratamento das linguas asiaticas, O empreendimento de Adelung deve ser aqui mencionado em razao da idéia que essa conduta inspira. Na falta de um aparelho filolégico suficientemente estavel ~ em fungao da insuficiéncia do saber filolégico de seu tempo —o autor fundamenta-se engenhosamente no critério empirico da proximidade geogréfica das linguas descritas para sustentar a hipétese de seu provavel parentesco, Na mesma época, P. S, Pallas (1741 - 1811) publica em Sao Petersburgo, em latim, um Vocabulaire comparé des Jangues du monde (1786 ~ 1789). Fundamentando-se nessa obra, da qual ele propde uma andlise aprofundada, C. J. Kraus afirma que a contribuigao de Pallas constitui uma orientago muito confidvel. Para fazer progredir sensivelmente a ciéncia das linguas, ele continuard a aprofundar a pesquisa sobre a reparticao geogrfica das Iinguas, interessando-se também, de maneira detalhada, pela sua or; io fonética, morfol6gica, ¢ semantica, Lembramos que é nesse ponto da historia que intervém a descoberta do sanscrito (1784) & 1 NT: Trata-se da enciclopédia francesa inttulada Bncyelopéate ou Dictionnaire Raisonneé des Sciences, des Arts et des Méiters de Diderot e de D' Alembert (1756). 2ADELUNG J. C, Dictionnaire grammatical et critique, Leipzig, 1774 -1786, 5 vo. A Gate Coors 0 ‘0 comeso dos estudos indo-europeus. Antes de considerar as grandes etapas «dessa diseiplina, € necessério precisar que 0 estudlo dos parentescos lingtiisticos foi, primeiramente, devido aos linguistas que trabalhavam fora do dominio indo- europeu, tais como: P. Sanovics, autor de uma Démonstration que le hongrois et le lapon sont une seule et meme fangue (1770), ou 8. Gyarnathi, autor de uma Démonstration de Vaffinité linguistique du hongrois et du finnois (1799). 1.3. 0 método comparativo Como destaca G, Bergougnioux: A lingtstica constitui-se como ciéncia a partir do momento no qual a deseriga cde uma lingua (sua forma fonética, sua organizagio sintatica, seu semantismo) no foi mais efetuada por uma andlise interna, imanente, mas pela comparagio ‘com diferentes linguas. (1994, p.123), ‘0 comparativismo lingiistico, assim definido em seu principio, pode ser resumido a duas orientagoes fundamentais. A partir da constatagio da analogia nnotdvel indicada pela aproximagao do sinscrito, do latim do grego (num primeiro momento) ¢ depois do sénscrito com um grande mimero de linguas européias (antigas e modernas), os primeiros comparatistas levantaram a hipdtese de que existia entre essas linguas diferentes tipos de afinidades parentesco”) as quais era preciso verificar segundo as seguintes perspectivas: __ de que as linguas (da India 4 Escandinavia) sio procedentes por “heranga” das transformagoes de uma mesma linguia-tronco (“o indo-europeu”) desconhecida mas acessivel por reconstrugio; __ de que é possivel, por meio da comparagao de seus elementos gramaticais (do que decorre a denominagio de “gramética comparada”), estabelecer as correspondéncias formais entre essas linguas, ou ainda, de restabelecer os detalhes de sua evolugao, ou, na impossibilidade disso, de estabelecer essa mesma evolugao nas suas grandes linhas (segundo o esquema: lingua mae / grandes linguas / familias de Linguas).. 2.0 ADVENTO DA DISCIPLINA Do ponto de vista terminolégico, as denominagées variaram no curso de ‘um intervalo muito breve, o que ¢ indicio de um dominio em busca de seus quadros e de suas referéncias. A expresso “indo-europeu” apareceu em inglés em 1814, concorrente, em alemao, da expressio indogermanisch (“indogermanico”), sob a pluma de A. F, Pott, a partir de 1833, Os principais artesios do dominio indo-europeu recrutam-se, com poucas excegdes, entre 08 eruditos e cientistas alemaes: Schlegel, Grimm, Humboldt, Bopp, Pott, Schleicher etc. O desenvolvimento da pesquisa do indo-europeu coincide com ‘0s momentos mais marcantes do romantismo ~ notadamente filos6fico ~, no intervalo de duas geragées: Herder (1744 — 1803) e Goethe (1749 ~ 1832) de ee As Go Tard Cage um lado, Hegel (1770 - 1831) de outro, Nesse sentido, Robins evideneia 0 fato de que: 7 Esse periodo da linghistica é quase o apanagio da erudigo germanica, aqueles que fabalham coma lingtistiea nos outros paises ou eram cientistas que avian estudado na Alemanha, como 0 americano W. D. Whitney, ou alemaes cexpattiados, como Max Millerem Oxford. (1976, p. 177). Examinemos, a seguir, segundo quais preocupagdes sto desenvolvidas as prineipais contribuigoes. 2.1. F. von Schlegel (1772 — 1829); a idéia de “gramatica comparada” ‘A acio dos irmios Schlegel mostrou-se decisiva tanto para a propagaciio das idias romanticas quanto para a formulagao de perspectivas, tanto cruciais quanto novas, no dominio comparatista, Eles foram co-fundadores do Circulo Romintico de Iéna’e participantes fervorosos do movimento Sturm und Drang CFempestade e Paixdo) que atrairé toda uma geragdo, durante as duas décadas, de seu desenvolvimento (1770 — 1790). Sob a influéneia de Rousseau dos Réveries du promeneur solitaire (Devaneios de um caminhante solitirio), e do Essai sur Vorigine des langues, 0 romantismo exalta a sensibilidade (Empfirdlichkeit) contra 0 racionalismo das Luzes (Aufkldrung). E notadamente nesse clima intelectual e cultural que os dois autores ~ a0 mesmo tempo que os irmaos Grimm ~ instauram as primeira balizas da disciplina, O proprio termo de gramética comparada (vergleichende Grammatik), atribuido a F. von Schlegel, apareceu numa publicagdo da qual o titulo indica o interesse que seu autor, nos rastros de Herder, atribui a reflexiio das linguas enquanto expresso de culturas. O titulo dessa obra € De fa langue et dit savoir des Indiens (1808), na qual Schlegel valoriza a andlise morfolégica e sublinha a importéncia dessa andlise pata a elucidagao das relagdes genético-lingtisticas, ‘No contexto romantico, a reflexto lingtistica e filologica permanece, por outro lado, indissocidvel da exasperagao da ideologia nacional. Assim a tradugao das grandes obras do patrimdnio literario europeu e sua “anexagao” a cultura alema participam desse impulso que ultrapassa os limites da filologia, Essas preocupagdes ressaltam claramente na Histoire de la littérature ancienne et ‘moderne (1815), na qual F. von Schlegel expde seus pontos de vista sobre a fungi da literatura c da filosofia da linguagem, Os mesmos temas pereortem igualmente os escritos de seu irmdo A. W. von Schelegel (1767-1845), que 3 NT. O Romantismo alemo divide em trésperfodas: “Romantismo de na”, "Romantisto «de Heidelberg” e “Romantismotardio”, sendo o primeiro o mais eonhecido e mais importante, comipreendendo o perfodo de 1797 a 1801 e orgunizou-se em torno dos imaos Schlegel e da revista Athendiun. A Groton Compa oi expde em La Litiérature et I’Art (1801-1804) sua concepeao dos mitos (analisados como formagoes inconscientes da imaginagao) ou ainda da poesia e da linguagem. E também A, W. von Schlegel que propde uma tipologia tripartite das linguas a partir de entio , “afixantes” renciadas em “isolantes”, e*“flexionais”. Essa classificagdo sera posteriormente retomada por Humboldt, Por meio dessa primeira descrigdo da organizagao formal das linguas, fixa-se ‘uma hierarquizagao filoséfica implicita que consiste em observar as linguas flexionais (curopéias) como provenientes das mesmas formagdes culturais €, considerando que elas atingiram win grau mais acabado de constituigio, presume-se que tenham maior aptido expressiva, E sobretudo no quadro da lingilistica historica que esse ponto de vista einocentrista prevalecera de maneita mais explicita 2.2. J. Grimm (1785 ~ 1863): a idéia de “lei fonétien” Considera-se que o verdadeiro comego da gramitica na Alemanha deu-se a partir da publicacao, por Jacob Grimm, tla Grammaire Germanique (1819 ~ 1837). E igualmente a ele que a critica atribui a lei lingtistica que porta seu nome (“Lei de Grimm”). Na verdade, ¢ depois da leitura do primeio trabalho de Rask (1818) que ele introduziu, na segunda edigdo de seu tratado de gramitica (1822), observagées que sistematizam certas conclusdes do lingtista dinamarques, Sintetizando, Grimm afirma que as linguas germanicas eomportam regularmente um “f” onde o grego ¢ 0 latin comportam um “p”; um “p” no lugar do “b”; uma transcrigo andloga ao “th” inglés no lugar do“t”, enfim um “t onde outras linguas empregam um “a” ete. Para explicar a regularidade dessas correspondéneias, Grimm postulava uma mutagio advinda do periodo pré-histérico do germénico, Como o resume Lyons: As consoantes aspiradas indo-européias (bh, dh, gh) tomaram-se ndo aspiradas (b, d, g); as consoantes sonoras (b, d , g) tornaram-se surdas (p, t, k); € as cconsoantes surdas (p,t,k) tornaram-se aspiradas(F, th, h). (1970, p. 24), De fato, essa série de corespondéncias (sanscrito/grego/latim/gotico) atesta um mecanismo de mutagao consonantica (lautverschiebung), que 0 proprio Grimm esclarece, afirmando que “a mudanga fonética é uma tendéncia igeral” e que “nao & seguida em todos os casos”. Nos veremos mais adiante de que maneira a “lei de Grimm?” foi em seguida completada, no decorrer dos lltimos 30 anos do século XIX. As pesquisas comparativas de Grimm tragaram a via por meio de importantes contribuigaes, tais como as Recherches étymologiques dans le domaine des langues indo-ewropéennes (1833 ~ 1836) de Pott, ou ainda a Histoire de la linguistique et de la philologie orientale en Allemagne (1869), de T, Benfey (1819 — 1881). Com seu irmao W. Grimm (1786 ~ 1859), J. Grimm leva a cabo ainda, ‘além de muitos outros trabathos em filologia e lexicografia, a Histoire de la Ws Ae Ges Tear igor Tangue allemande (1852.— 1859), assim como 0 Dictionnaire allemand (1852 1859), O entusiasmo stiscitado pelo romantismo, paralelamente a exumagao do passado indo-europeu das linguas germanicas, esteve também na origem de tum importante trabalho de consagragio do folclore alemo. E dese modo que, com a cooperagio do escritor nacionalista J.J von Gdtres (1776 ~ 1848), os irmios Grimm transcreveram ¢ tornaram acessiveis 03 contos ¢ as lendas veiculados pela cultura popular, tais como os Contes d'enfants et du foyer (1812) e as Légendes héroigques allemandes (1829). 2.3. R. Rask (1787 — 1832): a idéia de “mudanga lingitistica” O lingiista dinamarqués Rasmus Rask aparece, antes de tudo, como um herdeiro do século XVIII, e, notadamente, do racionalismo empirista marcado pela descrigao e pela classificagao dos dados. Sem diivida, é preciso também ver, nessa orientagao, a contributigdo do naturalismo de C. von Linné (1707 ~ 1778) que, tendo sido precursor em botdnica ¢ em zoologia, propos uma nomenclatura bindria, levando a classificagao dos seres vivos em género (comum a varias espécies) ¢ em espécie (prépria a cada um), assim como a influéncia do evolucionismo de J. B. Lamarek (1744 ~ 1829), A transpos desse cendrio cientifico, no cadro da gramatica comparada em formagao, permite a Rask ultrapassar os limites do comparatismo lingtifstico. Depois de tum primeiro estudo consagrado & Grammaire de 'islandais (1811), ele buscou estabelecer, nas Recherches sur Uorigine de l'ancienne langue nordique out islandaise (1818), o parentesco do islandés com as linguas eslava, baltica, grega ¢ latina, Essa pesquisa magistral apoiou-se na reflexao, ja assinalada, conduzida em 1754 por A. Turgot, sobre a preeminéncia, na evolugao das linguas, das relagdes etimologicas. Comparando a forma de numerosas palavras pertencentes aos vocabularios de linguas diferentes, Rask demonstra 0 parentesco que o “som” de uma lingua estabelece com 0 “som” de uma outra lingua, a partir do postulado naturalista da estabilidade relativa das espécies (no caso, aplicada as relagdes etimoligicas). O método entio empregado ¢ ja aquele da filologia (que sera efetivamente fundado pelos trabalhos do helenista A. E, Wolf, no fim do século XVIII), Fssa demonstragio conduz Rask a deduzir que: Se descobrimos que em duas linguas as formas de palavras indispenséveis| concordam a um tal ponto que se pode descobrir as regras das mudangas de letras que permitem passar de uma a outra, entdo existe um parenteseo fundamental entre essas linguas. (qpud ROBINS, 1976, p. 179) O lingitista recusa-se, todavia, a acreditar na hipétese de uma “lingua mae”, tendo como objetivo manifesto da pesquisa aproximar-se do tronco mais 4 Lembremos que 0s primeiros comparatistas trabalhavam com documentos escritos. Além disso, na ética da tradigio gramatical, os grafemas representam os sons. 7 Giwmitvg Cora proviivel do qual procede ~ no quadto de sua investigagio ~ a antiga lingua escandinava. Segundo Helmsley, Rask esté entre os precursores da lingitistica estrutural; ele &, absolutamente a0 mesmo tempo, * um dos que reconheceram cestabeleceram nas suas grandes linhas a familia (Iingiistica) indo-européia” “0 fundador da filologia nérdiea”. Todavia, ¢ forgoso constalar que, em seu fempo, a influéncia de Rask foi menor que a de F. Bopp. 2.4. B. Bopp (1791 ~ 1867): a idéia do “organismo lingitfstico” 0 projeto de Franz Bopp ¢ sensivelmente diferente, marcado por uma forte ambigao de totalizacao, Apesar do cientista distanciar-se da maior parte «las interpretagdes romanticas da filosofia da linguagem (natureza, origem ete.), ele continua ligado & hipétese de uma “lingua mae”. Seu interesse, marcado pela pesquisa dos irméos Schlegel e Grimm, o conduz a pesquisar o motivo comum do conjunto das linguas indo-européias. E Bopp que, na Alemanha, paralelamente a Rask na Dinamarca, orientard a gramética comparada para o exame da organizagao morfol6gica das palavras (notadamente do nome ¢ do verbo). Ele evidenciar’ numerosas regularidades historicas, por meio das quais os mecanismos das linguas atestadas so definidos e formados a partir de formagées arcaicas. Bopp é um dentre os cientistas de sua época que tomam posigao em favor da hipdtese da primogenitude do snscrito: esse idioma seria ‘ tronco inicial do qual todas as linguas indo-européias derivariam ao final de tuma longa seqiiéncia de transformagées. Essa perspectiva, proveniente do transformismo de Lamarck © de Darwin (1809 ~ 1882), tragava 0 caminho para a formulagao de uma lei da evolugo que afetaria diretamente as formagdes idiométicas. © primeiro estudo significative de Bopp ¢ 0 Systeme de conjugaison du sanskrit (1816). Propondo uma reconstrugao da gramatica original do sinscrito, ele sustenta a tese segundo a qual as linguas indo-européias sio 0 resultado de uma desintegragao progressiva do antigo sistem flexional. Oestudo de 1816 servira de matriz.e de ponto de pattida a pesquisa que Bopp publicard entre 1833 e 1852, em seis partes, sob o titulo de Grammaire comparée du sanskrit, du zend, du latin, du litunien, du vieux slave, du gothique et de allemand (Gramética comparada do sdinserito, do véstico, do latim, do litano, do velho eslavo, do gético e do alemao). A anéilise dessas linguas mencionadas no titulo da obra tende a verificar, de um lado, a cexisténcia das regularidades formais que as regulam, de outro, a caracterizar ~ por meio da investigagtio etimoldgica preconizada por Turgot e aplicada por Rask ~a origem de suas formas flexionais, Com um resultado impressionante, considerado o carter recente do método comparativo, Bopp consegue estabelecer que, de maneira prevalente, a organizagao flexional (notadamente das desinéncias nominais e verbais) das linguas detivadas do sanscrito resulta de um estado de afixagao anterior de termos auxiliares que estavamn disjuntos pelo passado, is A Gives Ter de 3. W. VON HUMBOLDT (1767 ~ 1835): LINGUISTICA Wilheim von Humboldt ocupa um lugar a parte no campo da gramética comparada, Contrariamente aos outros tedricos, suas perspectivas nao conferem 4 historia um estatuto privilegiado; bem ao contrdrio, elas desenham uma concepgao dindmica e estrutural da linguagem. A ANTROPOLOGIA 3.1.A formulagao do projeto ‘Numa carta a Goethe (07/09/1812), Humboldt expoe as grandes linhas de seu programa cientifico: Abordando as linguas, nds ndo devemos esquecer de ver nelas uma parte da histéria da espécie humana e 0 meio mais importante na economia da natureza intelectual... E por isso que os momentos essenciais de todas as pesquisas cconcementes ao cariter nacional e& distribuigao da espécie humana em grupos ‘enagties entram evidentemente nas pesquisas desse wénero... (pu CAUSSAT, 1974,p.67). enunciado desse postulado anuncia o essencial de uma pesquisa que subordinard a concepedo geral & andlise dos fatos: E todo 0 conhecimento que podemos ter do papel que desempenta massivamente as linguas sobre o espirito € a mentalidacde das nagdes apenas. tem algum interesse para a pesquisa lingistica propriamente dita, se soubermos reconhecer ao mesmo tempo sobre quais elementos Islingulares, presentes ‘nas suas parles componentes, apdia-se tal intervengdo (ibid). Por meio dessa iiltima observaciio Humboldt recusa, de um ado, toda racionalizagao a priori, e toma, por outro lado, uma deciso metodolégica que consiste em pluralizar os elementos de comparagiio: £ aqui, muito particularmeate, que as ravionalizagbes a priori lo poucas ou no operantes; pois € organizando a comparagao de um grande niimero de linguas e de suas operagdes préprias que podemos nos engajar nesse caminho com proveito ibid.) Uma segunda carta, enderegada posteriormente a Bopp (06/02/1830), formula uma proposta simétrica, Ela testemunha a constante tensio que existe ‘em Humboldt entre a reflextio sobre a linguagem e a andlise das linguas: Estou muito absorvido, tanto que na minha obra {trata-se da Introduction & Foeuvre sur: le Kavi; Introdugdo a obra sobre o Kavi] as Vinguas makisias servem-me de trampolim para pasar considderagdes de porte mais geral (ibid, p.137),

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