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DOCUMENTOS E MEMORIAS PARA A HISTORIA DO PORTO — xxv ee TOY S. VERISSIMO DE PARANHOS (FREGUESIA DA CIDADE pO PORTO) SUBSIDIOS PARA A SUA MONOGRAFIA por HORACIO MARCAL _—_— PUBLICAGOES DA CAMARA MUNICIPAL DO PORTO. GABINETE DE HISTORIA DA CIDADE “EMPRESA DE PUBLICIDADE 00 NORTE Rua do Duque de Loulé, 73-1, — PORTO 1984 | PREFACIO Oliveira Martins afirmow num iugar como este (1): =~ «Considered sempre que um dos substdios principais para a histéria goral do Pats consiste nas ‘monografias locais, onde se estuda arqueologia « histéria, as diografias @ ag tradigbes, com os documentos @ vista ¢ & milo 08 arquivos municipais € particulares. Um corpo de monografias destas, relativas aos principais concelhas do reino, formaria ‘um tesouro de inestimavel valor para o esiudioso, ao mesmo tempo que servird para arraigar nas locati- dades esse amor & terra, base natural e necessdria do sentimento mais abatracto a que ae chama patrio- tismor, . Tem « cidade do Porto jé algumas monogra- fins C); 0 que ndo havia ainda eva nenhuma mono- grafia de qualquer das suas freguesias. # Paranhos @ primeira freguesia do Porto a poder-se orgulhar dessa honra, que 6 também, de certo modo, uma gléria. Ozalé tao ttil exomplo frutifique. Na verdade, da mesma forma que para a histéria geral do Pais sdo de importéncia fundamental os substdios forne- ©) Préloge da monografia sobre Oliveira do Hospital, de Adelino de Abreu. (©). A mais recente e mais completa ¢ a Nova Monogra- fia do Porto, organizada pelo st. Carlos Basto, ¢ benemérita- monte edad pela Companhia Portgee Eaitra, Lda, em 1938. . cidos potas monografias locais,—para a histéria gerat desta antiga, mui nobre, sempre teal e invicta cidade sero da maior relevéncia as monografias de cada wema das quinze freguesiaa administrativas que w com- piem. Por essa rasio 0 Director do Gabinete de Historia, Dr. J. A, Pinto Ferreira, propos ¢ Sua Exce- lencia 0 Presidente do Municipio, Sr. Engonkeiro José A, Mackado Vaz, autorizou, que nesta colegio de Documentos ¢ Memérias para a Histérie do Porto Fosse incluido o presente trabalho. # sex autor um novo que comeca como nem todos wcabam: a oua decidide vocagdo para os trabathos de investigagia hiatérica, jé patenteada em vérias revis- tas du especialidade, afirma-se mais wma vez neste conacienciaso estudlo. A suma probidade, alia a facili- dade ¢ clareza da exposigio; & paciéncia de rebus- cador de arquivos reune as quatidades de sagacidade © de senso critico, sem us quais de nada serve rebusear ‘arquivos, Ag suas observagdes in loco dito-the especial outoridade para dizer do que é; a suas investigacoex nas Fontes bibliogrifieas ou documentais, que escru- pulosamente cits, constituen a garantia de que néo inventa aceres do que foi, Quererd isto dizer que néo haja neste livre nada que nossa ser discutide? Que nele se nto encontre também wma on outra afirmagio que pudasre, ou devesse ser oorrigida ou pelo menos mais bem expli- cada? Nao, mio vamos tio longe,—embora nos areca que poucos serio eases casos. O que ndo temos qualquer diivida em asseverar que esta interessante monografia da freguesia de S. Verissimo de Paranhos, com todas as deficién- clos ow Incunas que a critica mais exigente the nossa ‘notar, constitui um bom ¢ util servigo, pelo qual dovemos.ser grates ao seu Autor—¢ que muito de desejar.é, repetimos, seja imitado, A. DE MAGALHAES BASTO Chae don Series Culture de Chana Municipal do Pore INTRODUCAO ‘A freguesia de S. Verissimo de Paranhos, que, desde'1837; faz parte da cidade do Porto, pertencia & antiga Terra da Maia. ‘A Terra da Maia era limitada a0 norte pelo rio Ave, desde Santo Tirso até & sua foz; ao poeate, pelo Oceano Allimico, desde Azurara até Lega da Palmeiras ao sul, pela cidade do Porto, desde Matosinhos (acompaihando todo litoral) até Massarelos, eortando aqui por Cedofeita e Para- hos: ao nascente, por uma extensa linha que abrangia Rio ‘Tinto, Valongo, Exmesinde, Alfena, Covelas ¢ Bougados. Das terzas da Maia, Amaya ox (em latim) Amaga, veio 1 formar-se mais tarde 0 concelho deste nome, que, em varias mudancas, andou de julgado para comatca ¢ de comarca para julgado, até que, por tltimo, se fixou definitivamente em concelho ‘A expressio Terra da Maia entende-se, pois, ou deve ceatender-se, como o antigo concelho da Maia tal quel era quando D. Manuel I Ihe concedeu foral em 1519, ‘AME ao fim do séc. XVI. dentro dos mufos do Porto, s6 -t HORACIO MARCEOAL havia a paréquia da Sé: nas, como a populagio comegasse 2 engroscar intensivamente, © bispo D. Fr. Marces de Lisboa rion em 1583 mais 3 paréquias: Vitéria, S. Nicolau e Bel- monte, sendo esta iltima extinta, por desnecesséria, passados 9 anos. . Em volta dos muros do Porto, nessa época, com excepgio do niicleo de“Miragaia, havia apenas casais dispersos pelos campos fora. Existiam, de facto, algumas ruas, mas o que mais . 8 via cram terrenos Lavradios recortados por caminhos que valgarmente dizemos de carros. Os pomares, as hortas, of Yinhedos, os soutos € os olivedos vicejavam em redor da cerca Femandina ¢ estendiam-se, com huxiria, alé as freguesias con- términas da antiga Terra da Maia. Era uma perfeita aldeia despovoada, onde nem sequer fakavam, para complemento do quadro ristico, os montes a realgar ao largo, As estradas ow muas principais, que até ‘entio existiam, eram as que couvergiam As entradas das portas da cidade. Da Porta de Cima de Vila, safa a Rua Direita de Santo Tdefonso, que seguia para o Bonfim, e, daqui, para Valongo. Da Porta de Carros, saia a Rua do Bonjardim, que punha em comunicagio os lugares da Aguardente ¢ Cruz da Rega- teira; era a Estrada de Guimaraes. Da Porta do Olival, seguia-se para 0 Sério (Rua de Antero de Quental), pela Rua de Santo Ovidio (depois Rua da Sovela) ou para o Carvalhido, pela Rua de Cedofeita. No pri- meiro caso, tinhamos a Estrada de Braga, e, no segundo, a de Vila do Conde, Até ao principio do sée, XVII conservou-se a populacio, 2- S. VER{SSIMO DE PARANHOS rosso modo, dentro dos muros da cidade, visto que 0 espago ia sendo suficiente. Porém, no dealbar do século imediato, como a cifta da populagéo sofresse uma alta considerivel, principiou a cidade a bracejar amplamente para fora do recinto das muralhas, de forme que, como é natural, comecam a surgit nas zonas arrabal- dinas, por entre 0 macigo dos arvoredos, as quintas (1) € as vivendas. ‘Ao longo das antigas © tortuosas estradas de acesso & cidade, também se cucedia, mere® das convenincias de cada um, a construgéo progtessiva de prédios. Deu este alargamento em resultado o formarem-se mais duas pardquias: Miragaia © logo a seguir Santo Hidefonso (°). Ficou, portanto, o Porto, assim, até meados do século XVUIL (), com cinco freguesias propriamente da cidade. Cedofeita e Mastarelos ainda nessa €poca (1757) exam consideradas de termo. Sé em 1789 é que foram anexadas. Consoante ia subindo a populagio, iam-se também abrindo ©) Quintas das Virludes, do Mirante, de Massareos, do Pi- heiro, da Fonte (em Cudvteita), do Bom Sucesso, de Vilar, de Sacais, do Prado, de Santo Ovidio, da Chiria, de Campanha, do Freixo, dos Arcos, da Prelada, ete. ete. (©) A fregueria rural de Santo Tidefonso distendia-se, « poente, até Miragsia ¢ Couto de Cedofeita (abrangeado todo o Campo do Olival) ; pelo norte, ia até ao Cempo de Santo Ovidio « Couto de Parar rnhos; pelo nascente, chegiva a Campanhi; ¢, pelo sul, razava’ com # smurslha da cidade, desde Porta da Batalha até 20 Calvirio Novo. Quer dizer: queee todo o , Em superficie, ocupa Parenbos 0 2! Tuga A maior & Compan, com 720,8 hectares. ©) Dr. Rkardo Jorge, Demog. e Hig, da Cid. do Porto, 1899. 10 — s. VER{SSIMO DE PARANHOS de Sousa, do Nogueira, da Alianga, Travessa ¢ Rua de Serpa Pinto, Travessa de S. Dinis e correndo o longo da Rua da Natiria vai ao Largo do Carvalhido. Neste ponto faz flexio para a Rua do Carvalhida até & Casa dos Pobres e continua pelos lugares do Tronco (na confluéncia das ruas da Senhora do Porto, de Santa Luzia e da Telheira), do Marco, do Amal (nos limites de S. Mamede), da Azenha, da Asprela (uns 200 ou 300 mettos para aléim da Cixcunvalagio), da Arroteia (nos Timites de Matosinhos), da Areota, mete & Rua Diamantina, Carrais (até & linha de Cintura), Rua Largo da Cruz, Rua Diogo Cio, atravessa a Avenida dos Combatentes, vai a Rua do Lima, corta de novo a Rua da Constituicdo (a nascente de Conta Cabral), ¢ vem a fechar a dita linha demarcativa na Praca do Marqués de Pombal, apanhando todo o angulo norte dexde a Constituigio até & Rua do Bonjardim (*). ©) Relativamente aos limites da frequcsia, temos a declarer que znem sempre se tém mantido os mesmos. Tém sofrido algumat mutilages ‘que, conforine nota o Dr. Ricardo Jorge (op. cit.), sio de pequena in- portincia. Diz ele: «Paranhos também foi aparado de novo, perdeu a norte em favor de S, Mamede e ganhou a leste & custa de Aguas Santas'e Rio Tinto, nodificagées aliés de pouca mostas, sto esereve o Dr. Ricardo Jorge, mas nés, sem devprimor para 5. Ext, afirmamos que os cortes sofridos foram enormes, se atendermor a que o Lugar da Pévoa de Cima (hoje ligado a freguesia do Bonfim) ia foi de Paranhos, polo menos em 1672, assim como desta fregusia foi jambém ¢ Lugar das Antas que actuslmente pertence a. Campanhi. Para autenticar 0 primeiro caso, temos 0 mage 1° 502 de documen- tos do Cantéria do Cabido du Sé, fl, 167; ¢, para 0 cemuind, temos os Livros do Registo Paroquial, a comegar no ano de 1697. HORACIO MARCAL Clima — Por esta freguesia estar localizada em ponto elevado ¢ distante do litoral, é,:na maior parte do ano, ameno ¢ temperado, Os nevociros so zaros e as humidades pouco frequentes. Geologia — © sub-solo de Paranhos & constituido, na generalidade, por uma massa de arcia mais ou menos grosseira, bastante argilosa ¢ limonitizada, & qual chamam de Modivas, (@) Vid. Estradas volhas entre Lega e Ave, art.? do Dr. Eugé- nig de Freitas, in «Douro-Litoral) .** 1-1I (4.* trie), 1950 ¢ As pontes sobre a Ave, enite Azurara ¢ Vila do Conde, art.? do Dr. Bertino Da- ciano, in Douro-Litorals n.t* 3-4 (4.* sétie), 1951. - 2% HOoRACIO MARCGAL Sobré a Estrada ‘de Braga (4), que passava (¢ passa) pela Arca d’Agua eS. Mamede de Infesta, temos a dizer que foi constraida em meados do séc. XIX. aproveitando-se. uma grande parte do leito da via romana do Iinerdtio Antonini. "7+ Resta‘nos informar, quanto &:Estrada de Guimaries, que a parte compreendida nesta ireyuesia, era conhecida por . (Dr. Anténio A. F. da Cruz, © Porto Seiscentisia, 1943 pigs. 152-153). -2 woRActra MARGAL mentos das Sisas; além dos imil cruzados oferecidos pelo povo (+). A gua das trés fontes chegou, enfim, a cidade néo muito tempo’ depois do. alvaré de D. Filipe. ‘A Agua seguia, nesse tempo, da Arca (?) das trés fontes, depois de atravessar a Estrada de Braga, pela devesa do Agueto até ao Lugar do Regado; dali, caminhava

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