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«Um dos 25 grandes pensadores do mundo inteiro.» | Daniel Innerarity Daniel Innerarity recebeu os prémios: ‘ Q 3 O NOVO - | ESPACO PUBLICO PREMIO ESPASA ENSAIO 2004 PREMIO DE ENSAIO MIGUEL DE UNAMUNO 0 : (3 PREMIO NACIONAL g DE LITERATURA (FNSAIO) i ao \ SN Z my JY \ YAN Bk es on Ph NON XO WS am / «Que significado pode ter hoje Neo ¥ SS Kc fa _4,uma cultura publica comum?» a a e VAT Suet * PAN ee el N fdernte: 1h Desennta . fal Weinrich, Harald: 189. Werle, Raymund: 230. Whyte, William Foote: 133. Willems, Herbert: 33. Wilke, Helmut: 246, Wilson, James Q.: 67. Weischenberg, Siegfried: 88. ‘Winthrop, John: 120. Wirth, Louis: 119. Wittgenstein, Ludwig: 100. Wolf, Adam: 240. Woolf, Virginia: 29, Young, Iris M.: 61-62, 85. Introdugio: um conceito para renovar a filosofia politica ...... 7 PRIMERA PARTE O cenério: os mundos comuns 1.0 fe 2 1. As transformagées do privado € do piiblico ..n.. 29 A esfera intima total 31 O espago emocional 39 A teligido no espago piblicd nen 44 2, Accrise da representagio politica .... A imediatez do populismo . A imediatez das identidades ...... safety ASB) O descobrimento deliberative dos interesses 63 O subcontrato social R 317 fim de um modelo. 3. A irrealidade dos meios de comunicagio ..... ‘Um mundo em segunda MAO ssc Um horizonte mitolégico ... site A nostalgia da realidade ... Os nossos lugares-comuns 4. Os espagos da cidade... Um lugar para os estranhos .. Medo da cidade... As transformagées urbanas .. Annova urbanidade «2... SEGUNDA PARTE Os actores: quem somos nés 5. Os limites da comunidade Unidade na complexidade social ... Auunidade paradoxal do mundo da vida. A precariedade do comum .. 6, Entre as culturas A nova heterogeneidade ... A flexibilizagio das identidades........ 318 ‘Competéncia intercultural. 7. Historia, meméria e identidade colectiva suse. A historia como contrariedade A histéria como peculiarizagao. ‘A aprendizagem da contingéncia TERCEIRA PARTE. As acces: articular 0 espago publico.. 8. A gramatica dos bens comuns... A inverosimilhanga do COMUM ......0uenn A inevitabilidade do comum......... 9. A organizagao social da responsabilidade Entre a dramatizago e a irresponsabilidade . Coneeber a complexidade... Conceber 0 FUtt20 ene A configuragio politica da responsabilidade ... 10. 0 poder cooperative snus Governar pela cooperagao Aadministracio publica: da gestio a governagio .. principio de cooperagio ‘As novas tarefas da politica e do estado... 11. O horizonte cosmopolita... Um mundo publicamente vigiado. 255 259) A imediatez abstracta do espago global .. A debilidade do poder. O mundo tomado a sério. A experiéneia europei Bibliografia..... indice onomastico a: Os espagos da cidade ‘civilizagdo. A convicgao de que a cidade € 0 lugar por exce- Ieneia da afirmagio do espago piiblico é corroborada pela his- téria do pensamento politica —a invengiin da dgora democra- tica, a figura das cidades-estado, a formagao da burguesia nas principais cidades europeias, tal como foi mostrado por, entre outros, Max Weber (1956), Fernand Braudel (1979), Claude Lefort (1986) ¢ John Pocock (2003) —, mas também se reve- la no nosso vocabulrio politico, em que tende a confundir-se com o respeitante A cidade, Em grego, «piblico» queria dizer, em primeiro lugar, exposto aos olhares da comunidade, ao seu juizo e a sua aprovagao. O espago public € 0 espago civico do, bem comum, por contraposi¢ao ao espago privado dos interes- ses particulares» Em latim, a palavra civis provinha directa- mente de civitas, A densidade deste campo semantico autori- za-nos a assegurar que a Feflexao acerca da cidade constitui um instrumento muito adequado para o exame das conquistas, dos dramas e das possibilidades da vidacomum, E légico que 107 ele constitua uma fonte metaforica dos principais conceitos do pensamento social ¢ politico. Na cidade se torna visivel 0 pacto implicito que funda a cidadania. As cidades ¢ os seus lugares piblicos exprimem muito bem a imagem que as sociedades fazem de si préprias A cidade é uma particular encenagao das sociedades. E possi- vel encontrar um eloquente resumo da nossa maneira de com- preender-nos mutuamente no modo de saudar, nos itinerarios percorridos, nas relagdes de vizinhanga ou no modo de urba- nizar esse espago. A vida politica estd ligada a formas de espa) cialidade. Ha uma correspondéncia estrutural entre a disposi- gf fisica das coisas na ordem espacial e as praticas politicas associadas, entre 0 espago fisico e 0 espago civico. Numa época em que os condicionamentos materiais perderam 0 seu velho prestigio determinista, é frequente pensar-se que o deba- te pblico é constituido unicamente pela palavra e pelas acgdes, ao mesmo tempo que se desvaloriza a importineia do espaco fisico, concreto e material em que elas decorrem. Do mesmo modo que as palavras € as acgdes geram um espaco piblico, também o espago gera determinadas formas da poli- tica. O ambiente urbano nao s6 reflecte a ordem social como constitui, na realidade, grande parte da existéncia social e cul- tural. A’sociedade € tanto constituida como representada pelas construgdes e pelos espagos que cria. As cidades que, pela sua forma e pelo estilo de vida que promoveram, foram catalisadoras da modernizagao_ social encontram-se submetidas ha ja algum tempo a uma série de processos que poem em questio a sua capacidade de promo- ver acidadania,A grande interrogagao que essas transforma- des suscitam respeita ao modo de pensar a urbanidade nas condigdes da globalizagao, até que ponto se pode hoje realizar 108 sos novos espagos aquela relagio entre cidade e civilizayao da ‘qual procedem o nosso conceito € as nossas préticas da cida- Um lugar para os estranhos Os soci6logos sempre definiram a cidade como um espago ‘a os estranhos, o Ambito mais adequado para desenvolver “(ima cultura da diferenga. De Simmel Bahirdt até Sennett, a “Gidade € concebida como o lugar onde tém podido conviver entes modos de vida, culturas ¢ concep¢Oes 4 efectuando ao mesmo tempo o mais produtivo intercdmbio __ que nds conhecemos. As'cidades sfo os lugares privilegiados dessa mescla produzida pelas destocagdes dos homens, que os ~ expdem a combinagao ¢ & novidade, Os seres humanos adqut- tram na polifonia da cidade a experiéncia da diversidade que) hoje temos. Descartes gostava do rufdo e da confustio de “Amsterdam (1937, 757), @ grande cidade da imigracdo, onde indo parece casualidade que Spinoza e Locke tenham escrito as primeiras teorias modernas da democracia. Em que consiste essa estranheza dos habitantes da cidade ¢ por que se produz nela to acusada heterogencidade? Em pri- ‘meiro lugar, isso depende da sua disposigao espacial. A esco- la de Chicago estabeleceu em comegos do século Xx trés caracteristicas distintivas da cidade que ja se converteram num lugar-comum: heterogeneidade, espessura ¢ grande tamanho. Na cidade, todos 0s elementos — habitantes, edifi- cios € fungdes — esto em estreita proximidade, «condena- dos», por assim di No decurso dos séculos, essa obrigacio deu origem ao conjunto de regras que 109 ( n6s admiramos como cultura histérica da cidade. © tamanho da populagio, a densidade das edificagdes e a mistura dos Pos ¢ das fungdes sociais, a descomunal j taposicao de Pobres € ricos, novos e velhos, nativos ¢ forasteiros, a sua composi¢ao intergeracional, tudo isso faz da cidade ui 1 lugar de comunicagio, de divisio do trabalho, de experiéneia da diferenca, de conflito e inovagio, em oposig&o 20 que Marx designava por «a idiotia da vida do campo», Esta heterogenei- dade relaciona-se estreitamente com © facto de na cidade o espago comum, a vizinhanga, nio se ter formado intencional mente © constituir o resultado fortuito das opgdes de muitas Pessoas. Os vizinhos nfo tém uma heranga cultural comum nem normas ou valores compartilhados (se tiverem, nao sera Porque sio vizinhos). Também nio tém especiais obtigagdes ¢ direitos como vizinhos, Pot isso ina cidade-uma pessoa se ‘admira de encontrar alguém conhecido — ao invés do que sucede nas aldeias, onde 0 normal é que todos se conhegam, Na aldeia, as pessoas viran a cabeca quando se cruzam com estranhos. O que num sitio é surpreendente é normal no outro, E por isso que, por vezes, nos admiramos ao encontrar na cidade muitas pessoas conhecidas; essa situagao dé-nos a impressao de estar a viver no campo e faz-nos dizer: «isto Parece uma aldeia». O protétipo do citadino é o estranho, o estrangeiro; a cidade & um conjunto de desconhecidos, o espa- Go onde ¢ uma rotina encontrar pessoas desconhecidas e em que a proximidade fisica coexiste com a distancia social Nesta perspectiva, compreende-se por que 6 que a cidade {01 sempre uma promessa utépica de emancipagio econémica ® politica, 0 espago proprio das liberdades civicas: do ponto de Vista civilizatério, era um espago de autogoverno; do ponto de Vista social, era — apesar de todas as tensdes © conflitos — 110 Tee ert ee he _ i TugardentearagR63c, do ponto de vista cultural, tomava | posivelssindvue irae das copes do i amir “e das regulagdes socias das comunidades locas. AS ci ks fomaram-se, por isso, centros da inovagio e assumiram 0 pro tagonismo cultural e politico nos processos de modemnizagao, ‘Acultura urbana que gradualmente se formou com 0 apareci- mento das cidades & uma mistura especifica de estruturas sociais, politicas e econdmicas. Nela se prefiguraram, com todas as suas grandezas ¢ misérias, a sociedade burguesa, 0 ideal de idan, ue ual spr con geyenncin donates, train do tbo, resis de vida rural, a férula da vizinhanga ou a estreiteza da sobrevi ‘éncia, ra possivel exstr sem o teido da familia e da vzi- nha. ss gan de mtonoia modi decisive a formas de integrago social A eidade era o lugar onde o indi iduo se libertava da vizinhanga e das formas de sujeigio social. O crescimento das cidades tornou possivel a existéncia de » AS cidades sio lugares onde os estranhos aetna se encontram de uma maneira regular e onde pessoas que se nao conhecem podem conviver de tal modo que se Lakes uma comunidade dos estranhos (Lofland, 1973). «A cidade © instrumento da vida impessoal, 0 molde no qual se a valida como experiéncia social a diversidade e a de pessoas, interesses e gostos» (Sennett, 1996, 738) e cida- de protege-nos de uma ideia demasiadamente selectiva de nés ¢ tende a transbordar das delimitagdes Adentiacless * © documento que melhor explica as consequéncias cultu- rais da vida da cidade deve ser 0 célebre escrito de Simmel a 1903, «Die Grosstiidte und das Geistesleben», elaborado a M1

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